Almanaque Raimundo Floriano
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, um genro e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas segunda, 23 de maio de 2022

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Por Eduardo Graça — Manaus (AM)

 


Cena de “Peter Grimes”, também montado na Royal Opera House e na Bavarian State Opera este ano — Foto: Cleuton Mendonça/Divulgação

Cena de “Peter Grimes”, também montado na Royal Opera House e na Bavarian State Opera este ano — Foto: Cleuton Mendonça/Divulgação

No palco do Teatro Amazonas, é impossível não fixar o olhar na enorme cabana de madeira de pescador e no bar erguido sobre palafitas, cenários centrais de “Peter Grimes”. Considerada uma das melhores óperas do século XX, a obra-prima de 1945 do inglês Benjamin Britten (1913-1976) é a principal atração do 24º Festival Amazonas de Ópera (FAO), com três récitas concorridas, a última delas amanhã. A edição marca o retorno ao formato totalmente presencial, após o evento não acontecer em 2020 e de uma experiência híbrida no ano passado.

Peter Grimes é um pescador de uma cidadezinha portuária inglesa acusado de causar a morte de seu aprendiz. O avesso da simpatia, fixado no lucro da pesca, cai em desgraça por conta do disse me disse de personagens quase sempre mesquinhos e hipócritas. A aldeia espelha o embrutecimento do protagonista e a tensão cresce em direção a um linchamento aparentemente inevitável.

O estudo da violência tem atraído encenadores interessados em tratar da polarização política atual, das fake news e do tribunal da internet com sua visão enviesada da justiça e cancelamento sumário de indivíduos. Composto durante a Segunda Guerra Mundial por um barulhento pacifista, “Peter Grimes” teve produções destacadas este ano na britânica Royal Opera House e na alemã Bavarian State Opera.

— É a antena que temos e parece captar o que os artistas desejam falar em determinado momento. Mas há algo específico sobre se fazer “Grimes” em Manaus, para o público local, em uma produção latino-americana neste momento político nos nossos países — diz o diretor colombiano Pedro Salazar, de 47 anos, celebrado por sua “Florencia en el Amazonas”, ópera do mexicano Daniel Cátan (1949-2011), apresentada há quatro anos no FAO.

Em duas semanas a Colômbia vai às urnas para escolher um presidente em eleições marcadas por episódios de violência e a possibilidade de uma vitória inédita da esquerda, com um ex-guerrilheiro, e sua vice, negra, liderando as pesquisas.

— A violência é marca central de nossos dois países e se debruçar sobre ela é vital. Contamos aqui a história de Britten sem nos desviarmos dela, mas não me interessa fazer um museu operático e sim algo que dialogue com o entorno e o público local — diz Salazar.

Os cenários do também colombiano Julián Hoyos, que tomaram forma após pesquisa em comunidades indígenas nos dois lados da fronteira, aumentam a intimidade do público local com o que se vê no palco. No papel-título, o tenor Fernando Portari, aos 54 anos, imprime o tom exato de emoção e já deve incluir o personagem como destaque em uma carreira de êxitos. E a Orquestra Sinfônica da Amazônica, sob a batuta do maestro Luiz Fernando Malheiro, diretor artístico do FAO, brilha ao criar seus próprios sons do mar, de pássaros a apitos de embarcações, das ondas à tempestade, real e figurativa.

No coro de “Peter Grimes”, é possível identificar crianças da vila de pescadores que voltam ao palco no dia seguinte em “O Menino Maluquinho”. O FAO sempre conta com pelo menos uma atração voltada para o público infantil, na busca de se formar profissionais e de trazer as crianças ao Teatro Amazonas. A se levar em conta a reação entusiasmada neste sábado da meninada, a “maluquice” de Ziraldo coube bem no prédio concluído em 1896 para a elite manauara.

— O público do teatro hoje é o avesso do da época de ouro da borracha. Temos ingressos populares, programação acessível o ano todo e chegando à marca de 25 anos de continuidade do festival. Somos a prova cabal de que ópera não é uma atividade exclusiva para as elites do Sul e do Sudeste — diz Malheiro.

“O Menino Maluquinho”: Inspirada em Ziraldo, ópera mantém a tradição da programação infantojuvenil do evento — Foto: Cleuton Mendonça/Divulgação

“O Menino Maluquinho”: Inspirada em Ziraldo, ópera mantém a tradição da programação infantojuvenil do evento — Foto: Cleuton Mendonça/Divulgação

A mais nova encenação da ópera de Ernani Aguiar, com libreto de Maria Gessy de Sales e direção de Matheus Sabbá, de 26 anos, tem elenco todo local, com muitos talentos do Coral Infantil e Infanto-juvenil do Liceu de Artes e Ofício Claudio Santoro, órgão público e gratuito estadual voltado para a formação das artes. Aguiar estará no FAO na semana que vem para as derradeiras apresentações de “O Menino Maluquinho”.

O compositor acaba de estrear outra ópera, “Aleijadinho”, sobre a trajetória do gênio mineiro (1738-1814), composta sobre libreto de André Cardoso. A primeira apresentação reuniu, no dia 29 de abril, quatro mil pessoas na plateia improvisada na praça em frente à Igreja São Francisco de Assis, em Ouro Preto, onde se encontram obras-primas do mestre barroco. A produção foi do Palácio das Artes, de Belo Horizonte, onde o espetáculo teve quatro récitas, a última delas nesta sexta-feira.

 

Parceria para 2023

 

A busca de um circuito nacional de óperas com ênfase em coproduções foi tratada no 3° Encontro de Economia Criativa e Teatros de Ópera na América Latina, realizado durante o festival. Além de números que atestam o impacto do FAO (a diretora-executiva Flavia Furtado informa que, em duas décadas, dez estabelecimentos e sete hotéis foram abertos em torno do Teatro, e pelo menos 600 empregos são gerados diretamente todos os anos), um dos resultados práticos da reunião foi o anúncio da produção conjunta, pelo Teatro Amazonas, o Theatro Municipal de São Paulo e o Palácio das Artes, da ópera “O contratador de diamantes”, de Francisco Mignone, que estreará no FAO no ano que vem e depois irá às capitais paulista e mineira. A edição deste ano já contou com uma parceria com o Theatro da Paz, de Belém (“Il Tabarro”, de Puccini) e a Orquestra Sinfônica do Espírito Santo (“O caixeiro da taverna”, de Martins Pena).

“Peter Grimes” será apresentada novamente na terça-feira e “O Menino Maluquinho” no sábado. O FAO, que é realizado pelo governo do Amazonas com apoio do Bradesco via Lei Rouanet a um custo de R$ 5 milhões, conta ainda com transmissão pela TV local. A programação segue até o dia 31 na capital e em quatro cidades do interior amazonense.

* Eduardo Graça viajou a convite do FAO


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