Você não tem como contestar. Nem ninguém. O arsenal da oposição é temível, tanto quanto o estadunidense ou o norte-coreano. As ogivas que antes cruzavam os céus como mera demonstração de força, agora começam a atingir seus alvos. A crise dos caminhões, por exemplo, foi o veículo (sem trocadilho) da sucumbência do governo, uma espécie de Exército de Brancaleone a defender interesses durante uma guerra que se avizinha, o pleito eleitoral.
No filme, demonstra-se que a Idade Média não foi feita apenas de belos reis, rainhas e castelos, de riqueza e de ostentação, mas igualmente de miseráveis. Conta-se a história de Brancaleone da Nórcia, um cavaleiro fracassado, que em busca de um feudo lidera um grupo de maltrapilhos e famintos. A diferença da arte para a vida é que, na versão política, o palácio está ocupado por Brancaleone que, mesmo assim, com a arma da caneta todo-poderosa na mão, não consegue fazer prevalecer seus pontos de vista.
Negociação, por exemplo, implica flexibilidade das partes envolvidas, mas não foi o que se viu. O governo, que já fizera enormes concessões na véspera, teve que fazer outras tantas no dia seguinte. E assim iam os grevistas aceitando qualquer negociação, desde que ao final as coisas acontecessem como eles queriam.
Esdrúxula negociação!
A fragilidade do governo é evidente, e ao agir ele não impõe nem propõe, mais parece suplicar. Sem alavanca e sem ponto de apoio, a cada dia fica mais insustentável, especialmente pelo gosto de vingança, a contrapartida do impedimento da senhora Dilma Rousseff. De qualquer forma, pergunta-se: como pode um presidente que tirou o país da recessão, reduziu dramaticamente a inflação, baixou os juros e amenizou a sangria dos empregos ser tão impopular?