TEREZINHA FONSECA, MINHA PRIMA AMERICANA
(Publicada no dia 09.11.2015)
Raimundo Floriano
Terezinha Fonseca
Esta linda história, a saga dos Albuquerque Fonseca, teve início com o raiar do século passado, no sertão sul-maranhense.
Em Balsas, oriundo de Loreto, velha povoação ali pertinho, morava o casal José Bezerra de Farias e Ana Isabel Albuquerque Bezerra, a Donana, com seus filhos, Maria de Albuquerque e Silva, a Maria Bezerra, minha saudosa mãezinha, nascida em Loreto, a 5 de janeiro de 1902, Alice, nascida em Balsas, a 3 de janeiro de 1910, João e Antônio, também balsenses, dos quais poucos dados se conhecem, pioneiros na colonização, pois a cidade seria emancipada apenas em 1918.
Naqueles árduos tempos, surgiu um novo Eldorado Brasileiro, o Centro-Oeste, para onde se dirigiam os que procuravam conquistar seu pedaço de terra para prover a subsistência da família e a educação dos filhos. Nessa ilusão, Donana convenceu José Bezerra a incorporar seu povo a uma caravana de seringueiros que partia rumo à conquista desse ideal.
Era em 1915, com Alice contando apenas 5 anos de idade. Maria Bezerra, então com 13, preferiu ficar em Balsas, ajudando sua tia Maria Angélica, irmã de Donana.
Não havia estradas. Como aos velhos marinheiros, apenas o Sol, de dia, e as Estrelas, à noite, indicavam à caravana o rumo a seguir. Com os adultos viajando a pé, e as crianças, nas costas de jumentos e muares, que carregavam também o vestuário, ferramentas, utensílios de cozinha e gêneros de primeira necessidade, a jornada histórica e épica levou alguns anos. Enfrentando índios, feras, intempéries e cruzando rios caudalosos, vivendo da caça e da pesca, os peregrinos, às vezes, paravam em algum local para cultivar, em pequenas roças, os gêneros alimentícios que lhes garantissem a matalotagem no inóspito percurso.
Para ter-se uma ideia da duração dessa aventura, basta saber que o quinto filho de José Bezerra e Donana, o José, o Cazuza, nasceu no Pará, a 19 de março de 1922, e Cidalina, a última, em Aruanã (GO), fronteira com Mato Grosso, a 15 de novembro de 1923.
Ainda naquele Estado, José Bezerra, nosso avô, aceitou o emprego de capataz numa fazenda, tendo Donana, nossa avó, se rebelado contra aquela mudança de planos, motivo pelo qual o abandoou e seguiu com os filhos para Goiás Velho, então capital do Estado, naquela época centro cultural, onde ela queria educá-los. Não existindo foto do casal, aqui vai a da Matriarca:
Donana, nossa avó materna
Em Goiás Velho, negociando com couro, parte da família prosperou: Cidalina, mediante concurso publico, tomou posse no cargo de Fiscal Federal, e Cazuza, no de Funcionário da Receita Federal. João faleceu ainda jovem, e Antônio sumiu-se nos garimpos dos arredores, não dando mais notícia desde então.
Residindo ainda em Goiás Velho, Alice casou-se, em 1931, com José Garibaldi da Fonseca, telegrafista, nascido em Itaberaí (GO), a 21 de janeiro de 1910. Esse era um dos melhores empregos do Brasil. Em 1938, com o estrondoso progresso de Goiânia, inaugurada a 24 de outubro de 1933, o casal para lá se mudou, permanecendo Garibaldi como telegrafista e abrindo uma loja de confecções, a Exposição Goiana, na Avenida Anhanguera, coração da nova capital esmeraldina.
Alice, Garibaldi e Willer, o primeiro filho
Garibaldi e Alice tiveram 5 filhos: Willer, Engenheiro; Weles, Funcionário da UFG - Universidade Federal de Goiás; Terezinha, Professora, sobre quem adiante me alongarei; Wilton, Jornalista de O Século, e fundador do jornal O Sábado, em Portugal, com serviços prestados à ONU em Angola, Indonésia e Burundi; e Maria Alice, Psicóloga e especialista em Artes e Cultura.
Willer, Terezinha e Weles
Garibaldi viveu um lance muito interessante, que não pode passar em branco. Seu pai, telegrafista, ensinou aos filhos, ainda crianças, o Código Morse, de forma que a molecada vivia a se divertir, “falando” mal dos que estavam por perto, na maciota, digitando piadas ou sacanagens nos braços uns dos outros. Também pegavam eles no pesado, quando o pai, viciado em política, os deixava manipulando no Telégrafo, enquanto discutia a situação do País com os amigos.
Aos catorze anos, em 1925, certa madrugada, após levar uns tabefes, viu-se ele sequestrado, amarrado e conduzido por um tenente à Coluna Prestes, que necessitava de um telegrafista pelas cidades e vilas onde acampava – vejam só a delicadeza do recrutamento! O Chefe da Coluna gostou dele, ficou seu amigo, mas logo chegou o telegrafista efetivo, Garibadi foi dispensado, e o mesmo tenente, enciumado, pegou de uma espingarda e deu-lhe um tiro na perna esquerda, razão pela qual o menino ficou levemente mancando para sempre.
Outros filhos de Garibaldi e Alice:
Wilton e Maria Alice
No ano de 1954, Garibaldi foi designado para chefiar a Estação de Rádio do Arpoador, no Rio de Janeiro (RJ), de comunicação com navios, o que o fez encerrar as atividades comerciais em Goiânia e mudar-se com a família para a capital fluminense.
Nesta edificante história, houve um trágico acontecimento. Em 1975, Weles, funcionário da UFG, dirigia-se, com colegas de serviço para o trabalho, quando a kombi que os transportava parou num sinal vermelho, atrás dum caminhão-tanque, cheio de gasolina. Na frente dos dois veículos, um automóvel bateu no poste do semáforo, que caiu sobre o caminhão-tanque, o qual se incendiou e explodiu, tendo as chamas atingido a kombi, matando carbonizados todos os passageiros. Weles estava com menos de 40 anos.
Falemos agora da Terezinha, personagem principal desta crônica. Com a mudança da família para o Rio de Janeiro, completou, ali, sua formação universitária. Para não perder tempo com entretantos, aqui vai seu currículo.
Especializou-se em Literatura Inglesa, na Faculdade de Filosofia da Universidade do Brasil. Completou o Mestrado, com uma tese sobre as comédias de Shakespeare, na Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ, onde lecionou vários anos antes de sair do Brasil. Recebeu o Grau de Mestre da University of California (Berkley) e de Doutor, com distinção, da New York University (NYU), onde prosseguiu seus estudos de Literatura Inglesa do Período Elisabetano. Continuou sua carreira profissional na NYU (Queensborough Community College), onde se aposentou como Titular Emérita. Publicou, entre livros e ensaios, Literature Across Cultures (coautoria), introdução aos romances Mrs. Dalloway, de Virginia Woolf, e Persuasão, de Jane Austen, Pathways to College Writing e Love and Sexuality in Literature. Capa de um deles:
É mole, ou quer mais?
Terezinha iniciou a carreia internacional em 1969, quando conheceu Richard Crumb, o Dick, funcionário do Bank of America, Sociólogo, que se encontrava no Brasil escrevendo sua Tese de Mestrado sobre nosso País. Casaram-se em 1970, moraram dez anos pela América Latina – Venezuela, Bolívia, Equador, Panamá –, e, em 1980, fixaram residência definitiva nos Estados Unidos. Hoje, o casal reside em Fort Lauderdale, Flórida.
Richard Crumb, o Dick
Terezinha é irmã consanguínea de Goiânia, 6 anos mais nova. Ambas cresceram juntas, compartilhando suas experiências, qualidades e segredos. E é com minúcias que Terezinha nos apresenta sua querida mana em seu mais recente livro, lançado em Goiânia, no ano passado, 2014, nas comemorações dos 80 anos do Willer:
O livro poderia se chamar À Moda de Casa, tal é a intimidade com que Terezinha fala da cidade onde nasceu. Nunca um escritor se dedicou tanto a estudar e contar as minúcias da vida cotidiana, dos costumes triviais de uma comunidade que se formou na primeira metade do século passado. Contos Goianos é, em suma, também, a história dos Albuquerque Fonseca.
Vejamos flagrantes de seu lançamento:
Terezinha e sua Quitanda de Livros – Wilton, Maria Alice e Terezinha
A glória não se detém por aí. Em setembro deste no, Terezinha participou do III Encontro Mundial de Escritores Brasileiros no Exterior, ocorrido no King Juan Carlos I of Spain Center, na New York University, como adiante vemos nas imagens da entrega dos certificados pelo Professor Domício Coutinho, Presidente de Biblioteca Brasileira de Nova York, e Professora Else Vieira, da Universidade de Londres, a ela e a Roseli Ximanyi, escritora alemã:
Professor Coutinho, Terezinha e Professora Else – Coutinho, Roseli e Else
Para finalizar esta saga dos Albuquerque Fonseca, aí vai a imagem dos brindes – o livro recém-lançado – na festa dos 80 anos do Willer, a quem À Moda da Casa - Contos Goianos é dedicado com este emocionante depoimento: “Existem irmãos verdadeiros – de sangue, de alma e de sentimentos. Você, Willer, é um deles. Sinto-me para sempre devedora na balança de amor e carinho que lhe dedico.”
Metendo minha colher de pau na conversa, apresento-lhes, para que vocês conheçam, o bonito Hino do Estado de Goiás, de Joaquim Thomas Jayme e José Mendonça Teles, composto em substituição ao anterior que, formado por 18 estrofes, ninguém conseguia decorar:
Está de parabéns sou Keith Para os mais íntimos, conheço a família 🤗🤗🤗
Prezada Keith, Obrigado! Continue prestigiando nosso Almanaque! Um abraço!
Sou Fausto. Neto do Willer. Parabéns pela bela crônica. Muito bem escrita e com acontecimentos, dos quais a maioria, eu desconhecia. Obrigado por essa dedicação.
Prezado Fausto, prazer em conhecê-lo. Sendo assim, você é meu sobrinho neto. Continue acessando este Almanaque.
Obrigada pela dedicação que tem mostrado em preservar a crônica de nossa família, Raimundo. Muito nos orgulhados de seus dotes de cronista e o abraçamos com muito carinho.
Prima Terezinha, quanto tempo! Continue lendo nosso Almanaque e entre no Facebook, para que tenhamos um comunicação rápida e fácil..