Na base de “todos por um”, Marina Silva, Ciro Gomes, Geraldo Alckmin, Henrique Meirelles, Guilherme Boulos, todos enfim capricharam no discurso pela democracia e na emocionada solidariedade ao adversário. E estão sem estratégia, de mãos atadas. Têm de confrontar o líder nas pesquisas, mas não podem confrontar a vítima de um ataque feroz.
O PSDB, aliás, deu azar. Não teve tempo de mudar suas peças publicitárias da sexta e do sábado e elas são carregadas de críticas a Bolsonaro. Contra o candidato do PSL seria legítimo, talvez até necessário, mas à vítima de um ataque brutal e covarde, no meio da multidão, gravado e espalhado aos quatro ventos?
Bolsonaro passa por momentos dolorosos, com risco de morte, cirurgias, ambulâncias, transferência para São Paulo, mas andam cuidando diligentemente de fazer uso político máximo do crime e de suas dores. Ao lado de fotos da intimidade do, afinal, paciente, seus seguidores tentam massificar a versão de que ele, “o mártir”, foi esfaqueado “por contrariar interesses inconfessáveis de ricos, poderosos e corruptos”.
Até prova em contrário, nada confirma que tenha sido isso e tudo indica que o ataque não foi obra de “poderosos”, mas de tresloucados, “por questões pessoais”, “a mando de Deus”. De doentes inconsequentes, um deles com passagem pelo PSOL e pela polícia. Transformar uma ação insana num atentado político de grandes proporções é perigoso.
Assim, o Brasil vai vivendo de solavanco em solavanco. As denúncias de Rodrigo Janot contra o presidente da República interromperam as reformas e o reaquecimento da economia, a greve dos caminheiros jogou todos os indicadores ladeira abaixo, arrastando mais uma arrancada da economia e recuperação de empregos. E, por perversidade e descaso, as labaredas do Museu Nacional acabam por incinerar o resto de amor próprio brasileiro.
E pode piorar. A eleita em 2014 foi um desastre e caiu, o segundo lugar pode parar na cadeia, o líder nas pesquisas de 2018 já está entre as grades, seu substituto na liderança foi esfaqueado e os demais estão embolados, disputando quem será a “onda” da vez para tentar o segundo turno.
A queda do avião de Eduardo Campos, antes do início do horário eleitoral, teve importante impacto sobre as eleições passadas, mas jamais saberemos como teria sido se ele não tivesse morrido. O ataque a Jair Bolsonaro, com a propaganda no ar e os indecisos começando a se definir entre praticamente todos os candidatos, tem, obviamente, impacto na eleição deste ano. Logo saberemos exatamente qual é, e em que dimensão, mas ficaremos eternamente nos perguntando: e se Bolsonaro não tivesse sido esfaqueado?
PSOL. Criado a partir de uma costela à esquerda do PT, o PSOL não anda nos seus melhores dias. Cabo Daciolo ter sido do partido (depois, expulso) é só engraçado. O esfaqueador de Bolsonaro ter sido filiado é muito mais grave, não tem graça nenhuma. Para piorar, a UFRJ, responsável pelo Museu Nacional, está nas mãos de quem mesmo?