Por favor, atente para esta frase: Se vocês quiserem encontrar um petista hoje, vão ao meu gabinete. São palavras do ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, exultante pela autoria do voto que poderá tornar o senhor Luiz Inácio da Silva presidente do Brasil pela terceira vez. Apelo popular e assessoria jurídica qualificada parecem não faltar ao ínclito candidato, possivelmente ávido por comandar a retomada da colossal obra de reformar sítios e apartamentos.
Estivessem o senhor Inácio da Silva e o juiz Sérgio Moro confinados em uma mesma sala, o ex-presidente–e-futuro-presidente, decerto exibindo aquela blasonaria que lhe é tão característica, diria ao magistrado, perdeu preibói. Lamentavelmente, no entanto, não terá sido o preibói, mas o Brasil, com sua obstinada disposição de fazer o errado enquanto houver erros a cometer.
Embora possa falhar, é enorme o poder de persuasão do senhor Luiz da Silva! Há seis anos, exatamente em maio de 2012, o ministro Gilmar Mendes revelou haver saído perplexo de uma conversa com ele, que às vésperas do julgamento do mensalão, veladamente o ameaçara de divulgar fatos desairosos para o ministro, caso o julgamento não fosse adiado para o ano seguinte. Para o senhor Luiz Inácio, naquele ano não haveria objetividade, seja lá o que isso significasse, mas o ministro redarguira ressaltando a importância do julgamento.
Ainda segundo o ministro, durante a conversa, o senhor Luiz Inácio teria mencionado, várias vezes, o tema da CPI e o domínio que o governo tinha sobre a comissão. “Daí eu depreendi que ele estava inferindo que eu tinha algo a dever nessa matéria de CPMI e disse a ele, com toda a franqueza, que ele poderia estar com alguma informação confusa, pois eu não tenho nenhuma relação, a não ser de conhecimento e de trabalho funcional, com o senador Demóstenes Torres”.
Luiz Inácio teria ficado assustado com a sua reação e perguntado: “Mas não tem? E essa viagem a Berlim?”.
“Aí então eu esclareci a viagem, que era uma viagem que eu fizera a partir de uma atividade acadêmica que eu tivera na Universidade de Granada, encontrara com o senador (Demóstenes Torres) em Praga ꟷ e isso tinha sido agendado previamente ꟷ e então nos deslocamos até Berlim, onde mora minha filha. E eu até brinquei. Eu vou um pouco até Berlim como o senhor vai até São Bernardo”, disse o ministro.
Além de revelar sua perplexidade com o encontro, uma vez que a relação com o ex-presidente “sempre foi muito franca e cordial”, o uso da viagem a Berlim por parte do senhor Luiz Inácio lhe “parecera absolutamente reveladora de qualquer outra intenção sub-reptícia”.
Poderia aproveitar para dizer por que discutir o assunto com um ex-presidente do Supremo Tribunal Federal e um popularíssimo ex-presidente da República empenhado em garantir que a Presidência ficaria, mais uma vez, ocupada por um dos seus tarefeiros.