De repente o mundo desabou. Os gozos ontem pilhados, se fizeram angústias incontornáveis de hoje. A Weinstein Company, antes poderosa, entra em processo falimentar, e a Miramax segue a mesma espinhosa trilha. Acuado, como ficavam as vítimas submetidas aos seus ataques, o todo – poderoso Harvey Weinstein vê o fim se aproximar, na forma do risco real de ser condenado a prisão perpétua.
A tragédia começou no ano passado, com três acusações de crimes sexuais. A partir dali relataram-se abusos havidos no transcurso de três décadas, contra mulheres jovens e bonitas que almejavam uma carreira na indústria cinematográfica. Desde então, as denúncias se multiplicaram, reveladas pelas atrizes Ashley Judd, Jessica Barth, Katherine Kendall, Rose McGowan, Florence Darel, Judith Godreche, Emma de Caunes, Alice Evans e Lysette Anthony. Muitas, como Dawn Denning e Tomi-Ann Roberts acabaram desistindo da carreira, e mesmo megaestrelas como Angelina Jolie, Gwyneth Paltrow, Cara Delevingne e Lea Seydoux passaram por experiências similares. Lauren Sivan, âncora de TV, contou haver sido encurralada em um restaurante de Nova York e se masturbou diante dela.
Mas por falar em Hollywood, não é de hoje que ali convivem harmonicamente o glamour, a beleza e a baixeza. Registrou-se, por exemplo, que em junho de 1937 foi denunciado um escândalo de grandes proporções. Relatava uma grandiosa festa realizada por ocasião da reunião de vendedores de produções cinematográficas que resultara na mais desenfreada orgia da história de Hollywood. Referia-se a inúmeras violências carnais (sic) a que teriam sido submetidas várias moças dos estúdios de Hollywood naquela ruinosa bacanal em que cento e vinte e cinco extras induzidas por falsos pretextos compareceram à festa e se tornaram objetos de todas as espécies de brutalidade.
Conta-se, aliás, que até James Dean, o mítico intérprete de Juventude Transviada, Assim Caminha a Humanidade e Vidas Amargas se submeteu ao teste do sofá, mas não sentado. Estava ajoelhado, atento às reações do homem à sua frente, enquanto imaginava estar executando uma ária ao clarinete. Joan Crawford, dizem, do alto dos seus 65 anos, se submetia aos testes docemente. Muito os apreciava, não vacilando em tirar a roupa.
A deusa Marilyn Monroe, por seu turno, fez da beleza sua arma incontrastável na guerra da sedução, enquanto Clara Bow, diziam, entreteve um time inteiro de futebol, ao passo que outra estrela da época, Lilian Gish foi estuprada, mas em lugar de desenvolver trauma, vomitar e ir ao divã do analista, passou a dedicar-se, com grande esmero, à prática dos exercícios sexuais.
Pois é, a verdade nua e crua, especialmente nua, é que desde o passado muitas artistas famosas passaram pelas agruras experimentadas pelas aspirantes de hoje, submetendo-se ao julgamento de diretores e produtores cinematográficos.
O que não faculta, porém, a nenhum homem, o direito de obter sexo à força.
As coisas vão mal para o senhor Harvey Weinstein.