Almanaque Raimundo Floriano
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, um genro e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

José de Oliveira Ramos - Enxugando Gelo domingo, 30 de outubro de 2022

ZÉ OU ZÉ ALFREDO (CRÔNICA DE JOSÉ DE OLIVEIRA RAMOS, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO

ZÉ OU ZÉ ALFREDO

José de Oliveira Ramos

 

Eu “praça” em 1961

 

Amigos, hoje vou honrar o nome da coluna: Enxugandogelo. Tenho certeza que em nada vou acrescentar de proveitoso neste primeiro domingo de maio do ano de 2022.

Pois, ontem, sábado e 30 de abril, recebi a graça divina, e cheguei aos 79 anos. Como se essa graça divina por si só não fosse suficiente, Deus, na sua imensa bondade, me deu um valioso bônus: a lucidez.

Nasci no dia 30 de abril de 1943, em Queimadas, então e ainda povoado de Pacajus. Vim ao mundo através de parto normal, feito e ajudado pela parteira Raimunda Buretama, por acaso, minha Avó materna.

Comecei a andar cedo e logo após o primeiro aniversário, já subia no parapeito onde ficava o pote com água. Eu mesmo me servia, quando o cururu que meu Avô criava permitia. Foi naquele parapeito onde também tomei meu primeiro catiripapo: subi no parapeito, enfiei a caneca no pote, peguei água e bebi. Despejei o resto que ficou na caneca, dentro do pote.

– Não faça mais isso! Gritou minha Avó, ao perceber o que fiz.

Cresci em liberdade total e sempre corrigido nos momentos oportunos, sem direito a choro, mimimi, ou as atuais frescuras que os pais permitem. Esses são coniventes com os descaminhos dos filhos.

Cedo ganhei uma enxada e um par de botinas para calçar quando fosse “ajudar o Avô a limpar a roça”, evitando algum acidente de percurso ou ferimento nos pés. Meu primeiro “trabalho” oficial em meio a família, foi “colocar os grãos de milho ou feijão” nas covas preparadas para o plantio.

A bifurcação no caminho

Os períodos de seca daqueles anos, que criavam na linha do horizonte apenas miragens, acabaram ensejando nossa mudança em êxodo, para a capital, Fortaleza. Os avós, meeiros das terras de propriedade da família Albano, preferiram permanecer morando em Queimadas. Fora mantido o ponto de referência e de “socorro” numa necessidade extrema.

Era a hora de trocar o poético cântico do vem-vem nos fins de tarde, quando eu sentava na porteira para apreciar o também poético sono do sol que se deitava num céu límpido que nos dava a certeza da impossibilidade de chuvas, pelo barulho dos motores dos carros no tráfego da capital. Era a hora de esquecer a inesquecível sinfonia das cigarras e dos grilos e perder os voos rasantes dos morcegos e andorinhas pegando mariposas.

E, lá fomos nós. Na capital, a vida desestruturada e a certeza da desesperança. Só pai e mãe trabalhavam. Moradia de desabrigado foi erigida na orla marítima, mais precisamente no Pirambu.

A mudança necessária trouxe junto a adolescência e o convívio dos poucos amigos (ainda não haviam sido feitos). A escola, o Curso Primário, o Exame de Admissão e o acesso ao Liceu do Ceará.

A primeira namorada, com frequência na casa dela e a aceitação da família veio aos 16 anos. Havia uma diferença de idade de 6 anos, de mim para ela, então com 22. As irmãs dela diziam que, “ela estava me criando” – daí ela mesma me chamar de “bebê”.

Aos 18 anos, a bifurcação. Tudo poderia ter sido diferente. Fiz concurso e logrei aprovação para a ESA (Escola de Sargentos das Armas), então funcionando em Três Corações/MG.

Em janeiro de 1961, Jânio Quadros assumiu a Presidência da República. Na estruturação da sua equipe de trabalho, incluiu também alguns conceitos e fez algumas mudanças estruturais. No concurso para a ESA, fui aprovado e classificado num grupo de 40 candidatos em Fortaleza. Me submeti e logrei aprovação nos exames médico, físico e psicotécnico. Ficamos aguardando a convocação e o chamado para o embarque para Três Corações. Nunca consegui descobrir minha classificação entre os 40 aprovados. Apenas 30 foram chamados e fiquei entre os 10 para uma convocação futura possível. Nunca aconteceu.

Em 15 de maio de 1962, ingressei no Exército Brasileiro como praça. Fui servir no CPOR (Centro de Preparação de Oficiais da Reserva) de Fortaleza. Servi por um período acima do normal, em virtude da quantidade pequena dos novos praças. Ao final do período, fui convidado pelo então Comandante do CPOR, Tenente-Coronel Celestino Nunes de Oliveira, para ingressar no CPOR como aluno e me tornar Oficial R-2. Agradeci e fui cuidar da vida, continuando no caminho escolhido na bifurcação.

Trabalho na Western como Teletipista, depois de ser aprovado e rejeitar ingressar no Banco do Brasil. Fui eleito para compor a Diretoria do Sindicato dos trabalhadores na categoria, que ainda tinha a adesão dos funcionários dos Correios e, posteriormente, da recém-criada Embratel.

E o “namoro” continuava e a cada dia se tornava mais firme. Tinha mais liberdade e era quase que “o homem da casa” da namorada.

Eis que, no trabalho na Western, conheci alguém de preponderante influência no meu destino. Resolvi “terminar” o namoro antigo.

Eu hoje veím veím

 

Resolvi me envolver com o futebol. Fiz o Curso de Arbitragem e, ingressando na FCD (Federação Cearense de Desportos), hoje FCF (Federação Cearense de Futebol), me tornei um dos principais árbitros ascendentes, passando a fazer parte de uma elite que tinha ainda Gilberto Ferreira, Adelson Julião, José Felício Lopes, José Leandro de Castro Serpa, Lourálber Monteiro. Me tornei amigo pessoal de Manoel Amaro de Lima, de Clinamulte França, de Sebastião Rufino.

Por motivos que prefiro não mencionar, pedi demissão da Diretoria do Sindicato da categoria, fiz acordo com a Western, recebendo todos os meus direitos trabalhistas. Mudei para o Rio de Janeiro com a cara e a coragem. Sem profissão definida, além de ter conseguido transferência formal para o quadro de Árbitros da Federação Carioca, graças a uma indicação e o aval do General Aldenor Maia, então presidente da FCD.

No Rio, trabalhei dois anos na COSIGUA (Companhia Siderúrgica da Guanabara – naquela época em processo de privatização após a compra feita pela família Landau) e acabei me tornando “metalúrgico” tendo, inclusive, viajado para São Paulo em mais de uma oportunidade para ouvir falas em comício do líder sindical. Logo fui tocado pela mosca azul e me arrependi. Até saí da COSIGUA e fui trabalhar numa Editora Gráfica.

Casei em 1973. Separei em 1983. Me graduei em Comunicação Social – Jornalismo. Estagiei no Jornal do Brasil (curricular) e na Rádio Imprensa (curricular). Mudei para o Maranhão em 1987, onde me dediquei integralmente ao Jornalismo. Sou aposentado pelo INSS.

Sou hipertenso, o que me levou à uma “Revascularização” (Ponte de Safena). Desde então faço uso de medicação contínua.

Constituí uma nova família em São Luís, da qual nasceram três filhos – dois moças e um rapaz, todos adultos e escolarizados com ingressos em universidades.

Oficialmente sou divorciado do primeiro casamento, que me deu duas filhas nascidas no Rio de Janeiro. Hoje residem em Fortaleza – e há cerca de dois meses ficaram órfãs de mãe.

Pois, ontem, 30 de abril de 2022, Deus me conduziu pelo caminho da humildade e me permite, quando posso, servir à outrem, cheguei aos 79 anos.

Olho pelo retrovisor, vejo um caminho longamente percorrido, mas, tão digno que, se fosse necessário faria tudo mais uma vez.

Levemente escuto a sinfonia da cigarra e dos grilos; e, a cada fim de tarde me imagino sentado na porteira para olhar o pôr do sol e escutar o cântico do vem-vem.

ANALISANDO:

1 – Com certeza, se em 1961 em tivesse sido chamado para a ESA (Escola de Sargento das Armas) em Três Corações, após o curso e promovido a Terceiro Sargento, na volta para Fortaleza teria casado com a então namorada. O caminho seguido teria sido outro – e nem posso afirmar que hoje estaria aqui, vivo e lúcido;

2 – O surgimento de outra jovem na minha vida (na verdade, apenas namoricamos, viemos ter algo mais sério anos depois, mas nunca nos assumimos), mudou a rota e me colocou aqui hoje;

3 – Com certeza, Deus Onipotente foi a luz e a mão com o dedo apontado indicando o caminho a seguir. Minha vida sempre pertenceu a Ele.


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