Raimundo Floriano
Trio Paranoá: Miudinho na zabumba e Nino ao centro
Foto inédita - Acervo de Dona Sinhá, viúva do Miudinho
O Trio Paranoá foi o primeiro conjunto forrozeiro da Capital da República. Sem medo de errar, afirmo que foi o segundo a surgir no Brasil, depois do Trio Nordestino, formado por Dominguinhos, Zito Borborema e Miudinho, que durou do começo de 1957 até meados de 1959.
O Trio Paranoá formou-se no ano de 1958, na Cidade Livre – atual Núcleo Bandeirante –, que foi criada antes da construção de Brasília, como parte das obras de infra-estrutura necessárias à concretização do grande sonho de JK. A Companhia Urbanizadora da Nova Capital - Novacap abriu, no fim de 1956, as principais avenidas da Cidade Livre que, devido não contar com habitação para todos os que para cá acorriam, foi sofrendo invasões e, em 1960, já contava com 12.000 habitantes. Eram, principalmente, os pioneiros candangos que trabalhavam na construção da cidade, em sua maioria nordestinos.
E foi num parque de diversões da Cidade Livre que os componentes do Trio se conheceram e decidiram formar o conjunto. Na verdade, eram 4 os integrantes, com a denominação de Nino e Seu Trio Paranoá. Por isso, em sua homenagem, o Trio gravou o samba Cidade-Mãe, composição de Vira-Vira e Antônio Soares.
Esta era a formação do conjunto: Nino Braçanã, de Monteiro (PB), no vocal, Antônio Veles da Silva, o Seu Antônio, de Campina Grande (PB), na zabumba, Edinho Maia na sanfona e Zé do Xaxado no triângulo.
O Trio Siridó, conjunto forrozeiro mais duradouro de Brasília, do qual aqui falei no dia 9 deste mês, é filhote dileto do Trio Paranoá.
Durante os tempos pioneiros, o Trio Paranoá atuava num programa na Rádio Nacional, nas manhãs de domingo, denominado Brasília Canta para o Brasil, que, naquele período de precariedade nas comunicações, não só apresentava músicas, como enviava notícias dos candangos para todos os cantos do País.
Inicialmente, o Trio Paranoá gravou dois compactos simples, com apenas duas faixas, uma de cada lado. O primeiro trazia Baião de Cartola, baião de José Vieira, e Pirão Gostoso, rancheira de Eronides de Souza e Luiz Diana; o segundo, Quero Voltar, toada de João Alves de Oliveira Sobrinho, e O Casamento da Carolina, xote de Antônio Livino.
Embora a gravação dessas faixas tenha saído posteriormente, elas já faziam parte do repertório do Trio Paranoá desde os primeiros programas. O Casamento da Carolina era seu cavalo de batalha, tocado em todas as edições de Brasília Canta Para o Brasil. E, por isso mesmo, selecionei-a para levar ao conhecimento da Comunidade Fubânica.
Tempos depois, o conjunto gravou seu primeiro LP, Brasília Canta Para o Brasil, com estas 12 faixas:
01 - Orgulho de Uma Nação, de Ortêncio Aguiar e Teixeira Filho
02 - Meu Sonho Lindo, de João de Oliveira e Arlindo Vieira
03 - Maria Rosa, de Miudinho e Walter Pinheiro
04 - Aprendi na Capitá, de Sesse Souza e Nuninho Santos
05 - Nós Três e Meu Cavalo, de Venâncio e Zé do Baião
06 - Rosa Bonita, de Poerame de Lima e Romeu de Lima
07 - O Casamento da Carolina, de Antônio Livino
08 - Duas Flores, de João Oliveira e Arlindo Vieira
09 - Sargento Benedito, de Barra Limpa e Chico Gil
10 - Visitando o Canindé, de Antônio Livino e Joaquim Lins
11 - Tudo É Meu, de Luiz Salvador e Joaquim Lins
12 - Na Sombra do Boi, de João Thomé
Capa repaginada do primeiro LP
Em maio de 1968, o Trio Paranoá gravaria seu segundo LP, Foguete Baiano, hoje ainda encontrável no merca do virtual, cujas 12 faixas aí vão:
01 - Foguete Baiano, rojão de Aurino Sant’Ana das Neves, o Tira-Teima
02 - Sombra do Cajueiro, coco de Nino Braçanã e Antônio Bispo
03 - A Volta do Mata-Sete, xote de Fernando Silva e Cosme do Amaral
04 - Saudades de Belém, rojão de Fernando silva
‘ 05 - Mariazinha, coco de Paulo Gitirana, Josilima e Pechincha
06 - Terreiro de Fulô, arrasta-pé de Paulo Gitirana e Josilima
07 - Zé Modesto, baião de Miudinho
08 - Progresso da Bahia, coco de Raimundo Dantas
09 - Noite de São João, marcha de Bruno Linhares
10 - Cidade-Mãe, samba de Vira-Vira e Antônio Soares
11 - Uma Prece Para os Homens Sem Deus, rojão de Gordurinha
12 - Pagode Alagoano - baião de Venâncio e Januário
Capa original do LP Foguete Baiano
Paralelamente a sua atuação na Rádio Nacional, Nino inaugurou e manteve por muitos anos primeiro espaço forrozeiro noturno do Distrito Federal, o Forró do Nino, na cidade-satélite de Taguatinga. Era ali que se congregavam todos os curtidores do Forró, com danças, espetáculos, apresentação de conjuntos e cantadores nordestinos, verdadeira curtição para uma região com poucas opções de lazer.
Permitam-me contar lance acontecido no Forró do Nino. No início dos Anos 70, em certa noitada, presentes o amigo e escritor Luiz Berto – que ainda não era Papa – e eu, casa lotada, começou tremendo bafafá, com dois brabos do pedaço se pegando, um corre-corre danado. Mas não havia perigo de facada nem de bala perdida. Os cabras usavam para se agredirem armamento do mais inusitado: uma porta! E era portada num, portado noutro, até que chegou o Freitas, cearense baixinho, forte e invocado, segurança competentíssimo, que não quis nem ouvir conversa: lascou sonora chapuletada no pé do ouvido de cada um dos contendores, os quais desembestaram na carreira, acabando-se o rebu. Com o Freitas era assim: primeiro a porrada, depois, a apuração dos fatos.
Trio Paranoá em festa na Granja do Torto
Foto inédita - Acervo de Dona Sinhá, viúva do Miudinho
Hoje, o Trio Paranoá é saudade. Assim como Forró do Nino, que não sobreviveu á onda avassaladora que varreu cenário artístico brasileiro, com o rock, a jovem guarda e a TV comandando tudo isso.
A música que lhe apresento aqui, O Casamento da Carolina, não é a mais bonita do repertório do Trio Paranoá. Foguete Baiano, por exemplo, de nosso amigo Tira-Teima e já disponibilizada aqui pelo Papa Berto, seu compadre, é gostosa interpretação. Mas o xote O Casamento da Carolina, além de caracterizar o início da vida candanga, é peça raríssima, só disponível mesmo aqui, a partir dagora, neste furo de reportagem. É uma citação. Veio no rastro de O Cheiro da Carolina, xote de Zé Gonzaga e Amorim Roxo, gravação de Luiz Gonzaga, o Rei do Baião, no ano de 1956. Ouçam-no, com outros sucessos do Trio:
O Casamento da Carolina, xote de Zé Gonzaga e Amorim Roxo:
A Volta do Mata-Sete, xote de Fernando Silva e Cosme do Amaral:
Foguete Baiano, rojão de Arino Sant’Ana das Neves, o Tira-Teima:
Noite de São João, arrasta-pé de Paranoá Bruno Linhares:
Quero Voltar, toada de João Alves e Oliveira Sobrinho:
Sombra do Cajueiro, coco de Nino de Braçanã e Antônio Bispo:
Raimundo Floriano
Luiz Wanderley de Almeida, compositor e cantor, nasceu em Colônia de Leopoldina (AL), a 27.01.1932, e faleceu em Rio Tinto (PB), a 19.02.1992, aos 61 anos de idade.
Teve despertada sua vocação pela Música Popular Brasileira aos l6 anos, quando via e ouvia o sanfoneiro de oito baixos João Luiz, famoso em sua terra natal, tocando no Fuá da Véia Dina. Entusiasmado com as melodias dos oito baixos, e inspirado pela originalidade da música nordestina, Luiz Wanderley rumou para o Rio de Janeiro, a fim de tentar a carreira artística.
Na Cidade Maravilhosa, dentre outras atividades, foi também alfaiate, mas sua verdadeira profissão era a vida artística, participando de espetáculos em circos e shows em parques de diversão.
Antes de firmar-se na carreira, enfrentou muita ralação e passou por severas dificuldades, até o dia em que o Maestro Ubirajara dos Santos o convidou para crooner de sua orquestra no cabaré Novo México, no bairro da Lapa, onde cantava todos os gêneros musicais, sem, contudo, deixar de interpretar os que mais apreciava: coco, xote, baião e até samba de breque, pois era fã incondicional do consagrado Moreira da Silva.
Depois de um ano de permanência na orquestra, o próprio Maestro Ubirajara levou-o à Rádio Tamoio, apresentando-o a Zé Gonzaga, que o aproveitou em seu programa Salve o Baião. Foi o pontapé inicial na mídia.
Dotado de grandes qualidades no gênero interpretativo nordestino, não encontrou obstáculos e foi logo convidado para fazer uma série de programas na referida emissora. Em l954, o radialista Carlos da Rocha levou-o para fazer um teste na Organização Victor Cintra e, entusiasmado com seu talento, não vacilou em contratá-lo para uma temporada de 6 meses na Radio Mundial e na Rádio Mayrink Veiga. No término desses contratos no Rio de Janeiro, Luiz Wanderley rumou para São Paulo, em 1958, onde fixou residência.
Atuou em várias estações de rádio paulistas e cariocas, inclusive na Rádio Nacional do Rio de Janeiro, e apresentou-se constantemente por todo o Brasil, tornando-se um dos artistas mais populares do país. No Carnaval, deixou sua marca com vários sucessos, notadamente em 1961, quando estourou a banca com a marchinha Brigitte Bardot, composição de Miguel Gustavo.
Estreou em disco em 1952, pela gravadora Star, com o samba O Palhaço Chegou, de Rosângela de Almeida e Enzo Passos. Em 1955, gravou, na Polydor, o xote Moça Véia, de sua autoria e Portela, e o baião Pisa, Mulata, de João do Vale, José Cândido e Ernesto Pires. Em 1956, ainda na Polydor, gravou o baião Bebap do Ceará, de Catulo de Paula e Carlos Galindo, e o rojão O Segredo da Dança, de João do Vale, Onaldo Araújo e Vicente Longo Neto. No mesmo ano, atuou na TV Paulista. Estes foram seus primeiros trabalhos, cuja discografia ultrapassa a casa das 60 gravações, das quais possuo 52 em meu acervo.
Eis algumas capas dos fonogramas que nos deixou:
Estes quatro encontram-se à venda em sebos virtuais. Chama a atenção o detalhe que o primeiro deles, Baiano Burro Nasce Morto, alcançou a cotação máxima de R$380,00:
Luiz Wanderley participou de vários programas de TV, nas emissoras de São Paulo, do Rio de Janeiro e do Nordeste. No cinema, atuou em duas chanchadas da Atlântida, Vai Que É Mole e Só Naquela Base, ambos em 1960, tendo como companheiros de elenco Jô Soares, Otelo Zeloni, Renata Fronzi, Dercy Gonçalves, Ronaldo Lupo, Grande Otelo, Ankito e outros famosos da época.
Em 1959, lançou, de sua autoria e João do Vale, o coco Matuto Transviado, que se tornou, de imediato, grande sucesso em todo o Brasil. Incorporei-o logo a meu repertório de farra, pela beleza da melodia, pelo ritmo fortemente nordestino e pela hilaridade da letra, que assim dizia:
Coronel Antônio Bento
Quando fez o casamento
De sua filha Mariá.
Ele não quis sanfoneiro
E foi pro Rio de Janeiro
E contratou Bené Nunes pra tocar
Oi lêlê, Oi lálá
Nesse dia Bodocó
Faltou pouco pra virar
Oi lêlê, Oi lálá
Nesse dia Bodocó
Faltou pouco pra virar
Todo mundo que mora por ali
Nesse dia não pôde arresisti
Quando ouvia o toque do piano
Se alegrava e saía requebrando
Inté Zé Macaxera que era o noivo
Dançou a noite inteira sem parar
Que é costume de todos que se casam
Ficar doido pra festa se acabar
Oi lêlê, Oi lálá
Nesse dia Bodocó
Faltou pouco pra virar
Oi lêlê, Oi lálá
Nesse dia Bodocó
Faltou pouco pra virar
Meia noite o Bené se enfezou
E tocou um tal de rock and roll
Os matutos caíram no salão.
Não quiseram mais xote nem baião
E que briga se falasse em xaxado
Foi ai que eu vi que no sertão
Também tem uns matutos transviados
Em 1970, quando esse bonito coco estava praticamente esquecido, o cantor e compositor Tim Maia resolveu regravá-lo, relançá-lo, mas com outra roupagem. E que roupagem!
Pra começo de conversa, mudou o título para Coroné Antônio Bento. Não satisfeito, modificou o ritmo e a introdução, tirando-lhe a feição nordestina e forrozeira. E bagunçou a letra, que ficou assim:
Coroné Antônio Bento
No dia do casamento
Da sua filha Juliana
Juliana? Mas que Juliana? Será que o Coronel Antônio Bento tinha mais essa filha? E a rima, onde a rima foi parar?
Pra completar a “parceria”, cortou a segunda parte, a que fala nos matutos!
A partir de então, uma enxurrada de intérpretes, como Cássia Eller e Trio Virgulino, passou interpretar o coco, que não era mais coco, dessa deturpada forma.
Inconformado diante desse descaso, lancei-me na garimpagem, procurando resgatar para vocês a gravação original. Só agora, depois de muita persistência, consegui o registro, extraído de um disco 78 RPM.
Vamos ouvir, então, com Luiz Wanderley, dele e do maranhense João do Vale, o coco Matuto Transviado, lançado em 1959:
Outros sucessos com Luiz Wanderley:
Baiano Burro Nasce Morto, baião, de Gordurinha, lançado em 1959:
Bibape do Ceará, baião, de Catulo de Paula e Carlos Galindo, lançado em 1956:
Carolina, xote, de Cláudio Paraíba e João Barone, lançado em 1960:
O Boi na Cajarana, baião, de Venâncio e Corumba, lançado em 1959:
O Casamento do Cauby, marchinha, Luiz Wanderley e Waldir Ferreira, lançado em 1963:
Raimundo Floriano
Sempre fui amarrado num som, pouco ou nada representando para mim a imagem, especialmente a televisiva. Quer ver-me puto dendascalças, com cara de quem recebe presente de grego, amarelo de sem-jeitismo, então me oferte um DVD. Nem que seja de sacanagem, nem que seja de mulher pelada.
Quando comecei a ganhar meu dinheirinho, isso no início de 1958, lá em Belo Horizonte, tratei logo de comprar uma radiola – mistura de rádio com vitrola – e iniciei a hoje respeitável e propalada coleção de registros sonoros. Ao chegar a Brasília, em dezembro de 1960, morando no alojamento de meu quartel, adquiri um radinho de pilha, do tamanho duma rapadura, da marca Hitachi, valente pra caramba, que pegava todas as estações locais de dia, e, à noite, muitas do resto do país e do exterior.
E foi aí que conheci o Meira Filho.
Ele tinha um programa na Rádio Nacional de Brasília, que ia das 5 às 9 horas da manhã, denominado O DIA COMEÇA COM MÚSICA, cobrindo todo o território nacional e ouvido igualmente em diversas partes do mundo. Seu prefixo, que também entremeava sua fala e os comerciais, era um samba forrozado instrumental pra lá de arretado que, pelo fato de representar muito bem a Capital recém-nascida, foi batizado e consagrado pelo povo nordestino com o nome de Nacional de Brasília.
Diariamente, eu tinha duas oportunidades de ouvir o Meira: pela manhã, em seu programa campeão de audiência, e, à noite, às 19 horas, no A HORA DO BRASIL, hoje A VOZ DO BRASIL, da qual ele foi, durante 35 anos, um dos mais atuantes locutores, sendo também o locutor oficial da Presidência da República.
O DIA COMEÇA COM MÚSICA era, em sua essência, um programa de recados, funcionando como o telefone de que dispunham os nordestinos que vieram construir a Nova Capital e suas famílias distantes, para se comunicarem. Recebeu mais de 6 milhões de cartas, a maioria das quais era respondida no ar. Houve até o caso de um fazendeiro abonado, que um dia chegou de motorista particular à casa do Meira, lhe beijou as mãos e se ajoelhou a seus pés, agradecendo-lhe por ter localizado sua filha que, desmemoriada, se achava perdida em Brasília.
Por tudo isso, Nacional de Brasília, ficou para sempre incorporado a minha memória musical, mas foram debalde minhas gestões no sentido de conseguir sua gravação. Meira Filho, que poderia me fornecer uma dica, quando a ele, já no Senado, recorri, não se lembrava mais o nome do intérprete, nem do título exato da música.
E o tempo foi passando!
Em 2006, o amigo Francisco Cândido, natural de Timon (MA), aposentado do Banco do Brasil e meu colega de Malhação, o voltar de sua terra natal, onde passara uma temporada, trouxe-me de presente o CD cuja capa encabeça esta matéria, especialmente autografado no encarte:
E lá estava a tão procurada música que, por falta de maiores informações, ficará para sempre conhecida pelo título a ela outorgado pelo povão: Nacional de Brasília.
Fazia parte do pacote a mim presenteado pelo Cândido este outro CD:
Este ano, desejando fazer homenagear esse grande sanfoneiro maranhense, consegui, por intermédio do Cândido, o número de seu telefone, para o qual liguei, sendo muito por ele muito bem atendido. Após inteirar-me de um pouco de sua biografia, solicitei-lhe autorização para enviar um fotógrafo a sua casa, com o objetivo de obter imagens suas e do ambiente onde vive.
Autorização concedida, esse trabalho ficou a cargo de outro jovem amigo, o escritor Janclerques Marinho, residente em Teresina – do outro lado do Rio Parnaíba –, sujeito fora de série, que respira Cultura Nordestina por todos os poros.
Em resumo, englobando nossa conversa telefônica, os encartes de seus discos e outras informações obtidas pelo Janclerques, aí vai sua história.
Antônio Lima Vieira, o Kariri, nasceu em Passagem Franca (MA), no dia 3 de março de 1943. Está, portanto, com 73 anos de idade.
Ainda na infância, aprendeu tocar sanfona, fazendo dela seu meio de subsistência. Em sua vida itinerante, percorreu todo o Brasil. Quando da inauguração de Brasília, onde morava uma sua irmã, tocou muito forró na região, para onde sempre viajava.
Fã de O Dia Começa Com Música, desde cedo, incorporou o samba Nacional de Brasília a seu repertório forrozeiro, continuando a tocá-lo mesmo depois que o programa saiu do ar.
No decorrer de sua profícua existência, adquiriu outra habilidade artística: recuperação de sanfonas defeituosas, compreendendo a afinação, reposição de notas, conserto e fabricação de estojos e reatas, dentre outros serviços pertinentes.
Hoje, aposentado, é muito procurado em Timon, não só para funções musicais, como também em sua oficina, onde desempenha sua habilidade artesanal.
A seguir, vemos Kariri em sua oficina e uma de suas máquinas especiais:
Não sei qual é o titulo que se dá a consertador de sanfonas. Para o fabricante ou remendão de instrumentos de corda, foram buscar uma palavra francesa: luthier! Inspirando-me, também, na Língua Francesa, diante da pobreza de nosso idioma, posso intitulá-lo como soutien – protetor – dos foles e assemelhados.
Nas imagens a seguir, Mestre Kariri com a mão na massa:
Mas esse grande artista não ficou só nisso tudo que já foi dito: inventou e fabricou um instrumento de botão, para uma só mão, a direita – não tem baixaria –, com tonalidade de viola grave, a que deu o nome de Claridion Bass, do qual só existe um exemplar no mundo, o dele, cujas fotos vemos aqui:
Para encerrar esta singela homenagem, ouçamos o Mestre Kariri em sua maravilhosa interpretação do choro Nacional de Brasília, cuja autoria, é para nós, desconhecida, mas a cara melódica da Nova Capital Federal em seu começo:
E, para que vocês conheçam mais um pouco do trabalho desse humilde nordestino, aqui vão estas faixas, gravadas com poucos recursos tecnológicos:
Nervos de Aço, samba-canção de Lupicínio Rodrigues:
Escadaria, choro de Pedro Raymundo:
Pra Não Morrer de Tristeza, samba-canção de João Silva:
Kariri no Samba, samba de sua autoria
Saudade do Meu Paraná, valsa de Saraiva:
Nacional Brasília, em vídeo:
Raimundo Floriano
Tomei conhecimento da existência de Amelinha a partir do final dos Anos 1970, quando a Música Nordestina passava por uma fase de renovação, pelo menos para quem, nestes lados do Sul, não conviviam com o cenário forrozeiro do Recife e adjacências.
Amelinha veio surgindo e conquistando meu gostar a conta-gotas. Ela já lançara, em 1977, o LP Flor da Paisagem, que não apareceu por estas bandas. Em 1979, surpreendeu-me com o LP Frevo Mulher, cuja música que o nomeou, um frevo-canção de Zé Ramalho, estourou no Carnaval, sendo a música mais tocada e cantada nos salões. Em 1980, no LP Porta Secreta, a toada Foi Deus Que Fez Você, de Luís Ramalho, enterneceu o Brasil, enquanto o arrasta-pé Gemedeira, de Robertinho do Recife e Capinam, pôs todo mundo para balançar o esqueleto.
Os três primeiros LPs de Amelinha
Mas foi no Carnaval de 1981, com o frevo-canção Siri na Lata, de Carlos Fernando, no LP Asas da América - Volume 2, de meados do ano anterior, que ela me ganhou de vez. E, a partir de então, passei a incorporar a minha coleção todos os discos que gravou.
Asas da América foi um projeto audacioso do compositor, músico e cantor Carlos Fernando, iniciado em 1979, numa empreitada que, para seu espanto, agradou por completo os curtidores da MPB, demonstrando que o frevo é um tipo de música para ser cantado e tocado o ano todo e não só no Carnaval, como alguns assim pensavam. O mais importante, a meu ver, foi que, além da nova roupagem para o frevo-canção, o projeto, que já chegou ao Volume 6, revelou ao mercado fonográfico novos talentos femininos. Foi ali que tomei conhecimento da existência de Elba Ramalho, Terezinha de Jesus, Teca Calazans e Amelinha.
Os três primeiros lançamentos do projeto Asas da América
Amélia Cláudia Garcia Collares Bucaretchi, a Amelinha, nasceu em Fortaleza (CE), no dia 21 de julho de 1950. Aos 20 anos de idade, mudou-se para São Paulo (SP), onde se formou em Comunicação Social.
Começou a cantar amadoramente, participando de shows do conterrâneo Raimundo Fagner. Em 1974, passou a atuar em programas de TV. No ano seguinte, viajou com Vinícius de Moraes e Toquinho, com os quais estrelou temporada dupla, fazendo-se notar na MPB na mesma época em que uma leva de artistas nordestinos era chamada genericamente de “Pessoal do Ceará”, dentre os quais o próprio Fagner, Ednardo, Belchior, Zé Ramalho, com quem Amelinha se casou, Geraldo Azevedo, Fausto Nilo e Robertinho do Recife.
Sua entrada individual no mercado fonográfico aconteceu no ano de 1977, na gravadora CBS, com o LP Flor da Paisagem, supramencionado. A partir de então, apontada como revelação nordestina, conheceu o sucesso e a fama.
Em 1982, lançou o LP Mulher Nova, Bonita e Carinhosa Faz o Homem Gemer Sem Sentir Dor, nome tão comprido quanto a faixa que o nomeou: 6 minutos. Essa toada, composta por Zé Ramalho com versos de Octacílio Batista, foi um dos maiores sucessos de venda de Amelinha e serviu de tema para o seriado Lampião e Maria Bonita, exibido pela Rede Globo. Em 1983, gravou o LP Romance da Lua Lua, obtendo enorme êxito com a faixa-título, canção de Garcia Lorca e Flaviola. Em 1984, Amelinha encetou nova fase em sua carreira. Separada de Zé Ramalho, que produzira três de seus primeiros cinco discos e compusera muitos de seus sucessos, entregou sua voz à produção de Mariozinho Rocha e ao acompanhamento instrumental do grupo Roupa Nova, gravando o LP Agua, Luz, com destaque para a canção Tempo Rei, de Gilberto Gil.
Em 1985, lançou o LP Caminho do Sol, enfatizando a canção Vida Boa, de Armandinho e Fausto Nilo. Deixando a CBS, lançou, em 1987, pela Continental, o LP Amelinha, incluindo o sucesso Mistérios do Amor, de Tavinho Paes, Paulinho Lima e Serge Clemens. Em 1989, montou o espetáculo Saudades da Amélia, com repertório de compositores da moda, tais como Chico Buarque, Tom Jobim e Caetano Veloso, percorrendo vários teatros do país, sob estrondosos aplausos. Após sete anos sem gravar, voltou, em 1994, desta vez com o selo Polydor, lançando o primeiro CD, Só Forró, no qual, além de gravar clássicos do gênero, revelou diversos compositores emergentes no cenário forrozeiro.
Em 1996, na mesma gravadora, lançou o CD Frutamadura, com destaque para o arraste-pé o Pra Tirar Coco, de Messias Holanda, e trazendo de volta Siri na Lata. Em 1998, lançou, pela Sony Music, o CD Amelinha, incluindo o xote Espumas ao Vento, de Accioly Neto. Em 1999, realizou turnê por todo o Brasil, com músicas inéditas desse novo disco. No ano de 2000, a Polydiscos lançou dois volumes da coletânea de seu trabalho, denominados 20 Super Sucessos.
Em 2001, lançou, pela Seven Music, o CD Vento, Forró e Folia, no qual reapresenta Frevo Mulher. Em 2002, participou, com Belchior e Ednardo, do CD Pessoal do Ceará, onde relembra o início de sua carreira. Finalmente, em 2011, pela marca Joia Moderna, especializada em cantoras e pertencente ao DJ Zé Pedro, lançou o CD Janelas do Brasil, com repertório completamente inédito.
Neste despretensioso perfil, intentei mostrar-lhes toda a iconografia dos LPs e CDs que Amelinha estrelou até agora, perfazendo mais de 180 peças da mais autêntica Música Popular Brasileira. Com um acervo de tal magnitude, e diante do ocaso que a mídia lhe reservou, só me resta, agora, modificando minha interrogação que encabeça esta matéria, perguntar a todos os órgãos de comunicação responsáveis por isso:
– Mídia, cadê a Amelinha?
E, para que vocês recordem, aí vai o frevo-canção Siri na Lata, com o qual Amelinha entrou na bem-querença de meu gosto musical:
Não poderia faltar Frevo Mulher, frevo-canção de Zé Ramalho, sucesso absoluto no Carnaval de 1979:
Raimundo Floriano
Irah Caldeira e seu CD de 2006
Irah Caldeira entrou em minha vida por artes do amigo Luiz Berto, o Papa Beto I, escritor, Editor do Jornal da Besta Fubana e atual Presidente da Academia Passa Disco da Música Nordestina, ao enviar-me a excelente e irrepreensível resenha que fizera do CD acima, para que eu desse uma olhada. Cuidadoso com seus textos de responsabilidade, nada mais natural que a mim recorresse, eis que fui revisor da maioria dos livros de sua criação. Isso é comum para quem quer sair bem na foto.
Tão o logo foi lançado o álbum, Luiz Berto me enviou um exemplar, dando início a minha coleção discográfica de Irah, com a aquisição dos CDs Canto do Rouxinol, de 2001, e Irah Caldeira Canta Maciel Melo, de 2004, então disponíveis à venda na Passa Disco.
Porém isso não era o bastante. Eu queria mais. Para consegui-lo, vali-me dos préstimos da amiga Neide Santos, minha Assessora Cultural no Recife, unha e carne com Irah, sendo ela Madre Superiora, e Irah, Prioresa da Igreja Sertaneja.
A Prioresa Irah e a Madre Superiora Neide
Estabelecido o contato, Irah foi atenciosíssima comigo, enviando-me os discos que ainda me faltavam, inclusive dois DVDs. Com o acervo completo, passei a curti-lo, na maciota.
Na noite de Natal, ela foi apresentada ao seleto público que superlotava minha sala, composto de 15 pessoas, incluídos aí meu irmão Carioquinha e um casal de convidados mineiros, com as respectivas famílias.
As horas arrastavam-se morosas, enquanto esperávamos a batida da meia-noite para saudarmos a chegada do Cristo Rei e darmos início à ceia e à troca de presentes. Lá pelas tantas, começou, no telão da TV, o show da Globo, aquele de todo ano, com a mesmice que já se conhece, marasmo total. Nossa plateia familiar e fraternal, com apenas uma criança, pareceu dar sinais de cansaço, alguns batendo as pestanas, outros cochilando, quase dormindo. Foi aí que me sobreveio um estalo iluminado. Perguntei:
– Vocês aceitariam desligar a TV e assistir a um show de Forró?
Todos concordaram. Corri lá em minha estante peguei este DVD, um dos mimos da Irah:
Ao recebê-lo para colocar no dvd-player, a Mara, minha caçula, Bióloga, que acabara de chegar da região do Cariri e adjacências, desenvolvendo estudo de impacto ambiental para uma empresa brasiliense, exclamou:
– Pai, conheço essa daí! É muito legal! Há poucos dias, assisti a um espetáculo com ela, quando passei pelo Exu!
A coisa já começou bem.
Logo na primeira música, o xote A Natureza das Coisas, de Accioly Neto, Irah justificou plenamente a opção que fiz por ela, e a maioria quis saber de quem se tratava. Expliquei-lhes que ela iniciara sua carreira artística na Década de 1990, em Minas Gerais, onde nascera, e depois resolveu viajar pelo Norte e Nordeste, a fim de pesquisar e aprender ritmos musicais do Pará, Maranhão, e Bahia, culminando por fixar em Pernambuco sua residência definitiva. Quando acabei de falar, os mineiros meus convidados estavam quase se explodindo de imenso orgulho bairrista, mais que justificado.
Na terceira faixa, o rojão desembestado Aperta o Nó, do amigo Fred Monteiro, foi o maior desmantelo! Irah, empolgou extasiou, encantou, conquistando os corações ali presentes, que ainda não a conheciam!
E eu no maior domínio, vibrando com o sucesso de Irah, tirando onda e serrando de cima, em minha condição de membro Imortal da Academia da Música Nordestina, pois naquele DVD estavam minha praia, minha quadrilha, meu labutar. E não contive, a partir de então, identificando cada compositor, cada participação especial, como membro da Comunidade Fubânica.
Para completar, peguei meu álbum fotográfico da posse na Academia e passei a exibir-me ao lado Cristina Amaral, Bia Marinho, Josildo Sá, Kelly Rosa e Maciel Mello, com quem Irah dividia o palco.
Terminado o show, que durou 1h45, senti-me, aos olhos de todos, muito mais nordestinho, muito mais acadêmico, muito mais imortal. Resta-me agora conseguir algo que me falta: uma foto com Irah, o que se realizará quando ela vier apresentar-se em Brasília. Não me custa nada esperar. Aí, acrescentarei mais um título a meu currículo: Amigo de Irah Caldeira!
Com o repertório do DVD Girassol de Desejos, Irah nada de braçada, passeando pelo cancioneiro e pelos ritmos sertanejos. Tem xote, pra dançar agarradinho; tem baião, carimbó e rojão, pra mostrar a coreografia sertaneja; tem valsinha, pra despertar a emoção; tem arrasta-pé, pra levantar a poeira; tem frevo, pra exibir a beleza da dança pernambucana; e tem ternura, muita ternura, o que se traduz nas seis toadas que o vídeo contém, uma das quais me comove de um tanto, levando-me quase às lágrimas.
Refiro-me à toada Avoante de Accioly Neto, apresentada no show com a participação de Santanna “O Cantador”, que escolhi como pequena amostra do trabalho de Irah Caldeira, no melhor momento de sua iluminada e vitoriosa carreira artística, em minha concepção, que é o DVD Girassol de Desejos.
Irah Caldeira e Santana “O Cantador”: momento enternecedor
AVOANTE
(Accioly Neto)
Quando o riacho vira caminho de pedra
E avoante vai embora procurar verde no chão
A terra seca fica só e num silêncio
Que mal comparando eu penso: tá igual meu coração
Que nem a chuva, você veio na invernada
Perfumando a minha casa alegrando meu viver
Mas quando o sol bebeu açude inté secar
Quem poderia imaginar que levaria (inté) você
Só resisti porque nasci num pé de serra
E quem vem da minha terra resistência é profissão
Que nordestino é madeira de dar em doido
Que a vida enverga e não consegue quebrar não
Sobrevivi e estou aqui contando a estória
Com aquela mesma viola que te fez apaixonar
Tua saudade deu um mote delicado
(Pra fazer mais serenado meu destino de cantar)
Que ajuda a juntar o gado toda vez que eu aboiar
Escolhi para vocês uma pequena amostra de com Irah passei à vontade por todos os ritmos forrozeiros nordestinos.
TOADA - Avoante, de Accioly Neto, com a participação de Santana “O Cantador”:
ROJÃO - Forró na Gafieira, de Silvério Pessoa:
XOTE - Vou Deixar Não, de Xico Bizerra:
BAIÃO - Borocochô, de Flávia Wenceslau:
ARRASTA-PÉ - Nos Terreiros do Forró, de Miguel Marcondes e Luiz Homero:
COCO - Cantador de Coco, de Valdir Santos:
MARACATU - Para que conheçam seu visual, aqui vai um youtube com esta linda composição A Natureza das Coisas, de Accioly Neto:
Raimundo Floriano
Marinalva no começo da carreira
No dia 07.05.12, quando lancei aqui no JBF o perfil de Marivalda, a Forrozeira da Amazônia, muitos estranharam, achando que eu me confundira, trocando o nome da Marinalva, de quem eu nunca ouvira. Só se convenceram diante das evidências comprobatórias, ou seja, das imagens de vários registros fonográficos de Marivalda. Houve um, o Augusto TM, que postara em seu blog Toque Musical matéria falando sobre uma, mas pensando que ela fosse a outra, com a única informação concreta: Marinalva era irmã de Marinês.
Depois disso, entrei em contato com alguns curtidores do Forró, e a maioria, ou também nunca ouvira falar de Marinalva, ou escutara o canto da cigarra não se sabia onde, e a informação era samba de uma nota só: Marinalva era irmã de Marinês.
Senti-me, então, desafiado a produzir algo que resgatasse a memória dessa forrozeira, postando aqui o resultado de minha pesquisa, à disposição de todos.
Raciocinando que Marinês nascera na cidade pernambucana de São Vicente Ferrer, procurei entrar em contato com o Cartório do Registro Civil daquela cidade, no intuito de conseguir qualquer documento referente a Marinalva: certidão de nascimento ou de óbito, caso ali existissem. Não foi fácil.
De cara, o número telefônico da referida repartição não consta da Telelista.net. Assim, apelei aos leitores do JBF, sendo orientado pala redação a dirigir-me ao número de um celular que obtivera não sei de que modo. Viva! Hip, hurra! Até enfim, consegui falar com alguém de lá, não sei se serventuário ou titular do órgão. Expus o problema e solicitei uma busca, mediante pagamento das custas, evidentemente. Mandaram que eu ligasse dali a uma semana.
No prazo estipulado, entrei em contato, mas o pessoal de lá havia se esquecido de minha solicitação. Alguém marcou para que eu ligasse na outra semana. O que fiz. Novamente, pediram mais prazo. Resumo da ópera: passado quase um mês, fui informado de que ali nada consta sobre Marinalva, nem sobre Marinês.
Abro aqui um parêntese para elogiar o Cartório do 2º Ofício de Balsas, Maranhão, minha cidade natal, e Maria do Socorro Ferreira Vieira, minha Assessora Cultural, que o informatizou. Seu Rosa Ribeiro, meu saudoso pai, foi o Tabelião até aposentar-se, passando a titularidade para Maria Alice, minha irmã, que admitiu a Socorro, em 1977, como escrevente. Em 1978, Socorro galgou, por seus méritos, a posição de Tabeliã Substituta. Com o falecimento de minha irmã, em 2002, Socorro assumiu o posto de Tabelião Titular e uma de suas primeiras providências foi a informatização do Cartório, onde qualquer busca, atualmente, é atendida no ato, com resposta em cima do laço.
Nessa minha mania de fuçar em Cartórios do Brasil para dar veracidade aos dados biográficos constantes dos trabalhos que lhes disponibilizo, posso dizer que são poucos, pouquíssimos mesmo, aqueles em todo o Território Nacional que dispõem dessa ferramenta, tão indispensável à correria que caracteriza o século atual.
Ironia do destino: no final de 2002, Socorro teve de entregar o Cartório, no qual empregou todos os recursos de modernização, a um Bacharel nomeado pelas autoridades da Capital, vez que ela não era concursada. Assim mesmo, com 32 anos de bons serviços, sem tchau nem bença! Fecho o parêntese.
Retomando o fio da meada, ocupemo-nos de Marinalva. Os dados biográficos de que disponho foram colhidos em duas fontes altamente confiáveis: Abílio Neto, Membro da Academia Passa Disco da Música Nordestina, pessoa altamente qualificada em assuntos pertinentes à Cultura Nacional; e Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira.
Maria Caetana de Oliveira, mais conhecida como Marinalva, nasceu em São Vicente Ferrer, Agreste de Pernambuco, em 1950. Era irmã da também da forrozeira Marinês, conhecida nacionalmente.
Durante sua carreira, Marinalva gravou 26 elepês, sempre tendo a música nordestina como temática. Outra característica em sua carreira foram canções de duplo sentido. A cantora veio a falecer em 11 de setembro de 2008, no Hospital da Restauração, no Recife, vítima de uma parada cardiorrespiratória.
Alguns vinis que deixou ainda se encontram à venda em sebos virtuais:
Na falta de textos relativos a Marinalva, transcrevo a apresentação constante do LP acima, De Rolha na Boca, de 1980, assinada por J. Garcia:
“O Nordeste, com seu povo sofrido, suas tradições imorredouras, seu fabuloso folclore, tem se constituído numa fonte inesgotável de inspiração poética.
Muitos são os que cantam o Nordeste, mas só aqueles – filhos da terra – íntimos de sua realidade, seus problemas e aspirações, podem fazê-lo com propriedade e autenticidade.
Seguindo as pegadas de sua famosa irmã Marinês, Marinalva vem se firmando, dia a dia, como grande intérprete que é, assumindo, com justiça, uma posição destacada dentro de nossa música.
Este é seu 7º LP. Nele, iremos encontrar somente músicas de compositores paraibanos, alguns veteranos famosos, como Luiz Ramalho e João Gonçalves, ao lado do estreante Calazans Sabury. As músicas escolhidas abrangem uma larga faixa da temática nordestina que vai, desde o picante De Rolha na Boca, até a religiosidade do sertanejo, tão bem retratada em Frei Damião, sem esquecer a tradicional e ingênua marchinha junina.”
Com tantos itens constantes de sua discografia, é incompreensível o fato de Marinalva ser completamente desconhecida no Nordeste, em particular, e no Brasil, em geral. O aspecto de ser irmã de Marinês, em meu entender, era mais um detalhe para dar-lhe visibilidade, como aconteceu com Zé Gonzaga, irmão de Luiz Gonzaga.
Como pequena amostra do talento de Marinalva, escolhi para vocês, escolhi estas cinco faixas de e seu repertório:
Forró de Cabra Macho, rojão de Cecéu:
Jacaré dos Homens, rojão de Elino Julião:
Frei Damião, toada de Calazans Sabugy:
Tudo Que Eu Quero, arrasta-pé de Marinalva, Arcílio e Hélia Mendonça:
De Rolha na Boca, rojão de João Gonçalves e Micena do Forró:
Raimundo Floriano
Antonio Barros e Cecéu
O início dos Anos 1980 dava a entender, pelo menos para nós residentes neste quase-sul brasileiro, que o Forró perdera sua força criativa, estava carente de compositores novos que o revigorassem, que o tirassem do marasmo em que se encontrava. E foi aí que apareceu, para a felicidade de todos os forrozeiros, o casal Antonio Barros e Cecéu, cujas composições, desde então e até hoje, são disputadas por todos os astros da Música Nordestina.
É bem verdade que Antonio Barros já era conhecido por aqui na década anterior, com o xote Procurando Tu, em parceria com J. Luna e interpretado pelo Trio Nordestino, mas apenas pela letra de duplo sentido, um filão que também começava a surgir. O lançamento dos xotes Homem com H, de Antonio Barros, em 1981, Por Debaixo doe Panos, de Cecéu, em 1982, na voz de Ney Matogrosso, e Bate, Coração, de Cecéu, no mesmo ano, gravado por Elba Ramalho, balançou a estrutura do Forró e consagrou o nome desse inspiradíssimo casal de compositores no gosto de toda a população brasileira. São mais de 30 anos de intensa visibilidade na midiática.
Faço minhas as palavras de Marcus Vinícius de Andrade, Diretor-Artístico da Gravadora CPC-UMES, extraídas do encarte do CD acima, Antonio Barros e Cecéu - Forró Número Um:
“Antonio Barros e Cecéu formam uma dupla de compositores que todo o Nordeste (melhor dizendo, todo o País) conhece, pelos inúmeros sucessos que já produziu. Gente simples e boa, cuja música fala o Português gostoso do Brasil – como diria o grande Manuel Bandeira –, eles são o exemplo mais perfeito de autores que sabem conciliar simplicidade e refinamento, picardia e criatividade linguagem popular e bom gosto. Paraibanos de raça, conseguem ser universais: não foi à toa que sua canção Bate, Coração, com o talento esfuziante de Elba Ramalho, causou o maior fuzuê em Montreaux, quando o Forró desmontou a cintura dura das suíças... Até em Israel, as canções de Antônio Barros e Cecéu são conhecidas, cantadas em Iídiche com o mais puro sotaque sertanejo.
“Autores de mais de 700 obras, das quais mais de 200 se tornaram sucesso, Antonio Barros e Cecéu conhecem a fundo a linguagem da canção, da boa e simples canção que atinge todos os segmentos do público, sendo assobiada nas ruas e cantada com naturalidade em choupanas e palácios, por gente de todas as idades e condições sociais. Esse domínio do artesanato da canção é fruto não apenas de seu talento, mas também de uma experiência de muitos anos, aprimorada junto a nomes como Luiz Gonzaga e Jackson do Pandeiro, com quem eles trabalharam e de quem são alguns dos mais legítimos herdeiros.”
Vejamos um pouco de suas biografias.
ANTONIO BARROS
Antônio Barros Silva, cantor, compositor e poeta, nasceu a 11.03.1930, em Queimadas, Região Metropolitana de Campina Grande, Paraíba, filho de Severino Barros da Silva e Luiza Rodrigues da Silva. Casado com a compositora e cantora Cecéu, fixou residência em São Paulo.
Estudou no Grupo Escolar José Tavares, e a maior parte de sua infância foi vivenciada na Zona Rural. Quando sobrava tempo para brincar, costumava pegar uma lata de querosene vazia de 20 litros, colocava a cabeça dentro, batia do lado de fora com as duas mãos, fazendo ritmo, enquanto cantava para ouvir sua própria voz com efeito reverberado.
Aos dezenove anos de idade, foi trabalhar como músico tocando pandeiro na Rádio Caturité, em Campina Grande. Por volta dos 20 anos, mudou-se para o Recife onde, na Rádio Tamandaré, deu continuidade a seu trabalho como pandeirista. Foi nessa mesma época que escreveu sua primeira música e conheceu Jackson do Pandeiro, o qual se tornou seu grande amigo, apoiando-o na vida profissional.
A partir daí, começou a gravar suas primeiras canções profissionalmente com Jackson do Pandeiro, Genival Lacerda e Zito Borborema. Logo depois, foi para o Rio de Janeiro, conquistando ainda mais seu espaço no meio musical, onde passou a gravar com Marinês, Trio Nordestino e também tocando triângulo no Regional de Luiz Gonzaga, na casa de quem morou, na Ilha do Governador.
Trabalhou como contrabaixista no navio Ana Neri, que fazia cruzeiros turísticos pelo litoral brasileiro. Em 1970, numa dessas viagens compôs Procurando Tu, a partir de lembranças da infância, e entregou a música para gravação pelo Trio Nordestino. Aceitou a parceria de J. Luna disc-jóquei baiano, que o ajudou a divulgar a música no Nordeste, tornando-se um dos sucessos daquele ano e regravada por ele mesmo, Ivon Curi e Jackson do Pandeiro, entre muitos. Outros de seus sucessos gravados pelo Trio Nordestino foram, Corte o Bolo, Cuidado Com as Coisas, É Madrugada e Faz Tempo Não Lhe Vejo. Na maioria, letras de duplo sentido que se fizeram amplamente conhecidas, mas obnubilavam o nome do compositor.
Em 1974, teve a música Vou ver Luiza, parceria com Lindolfo Barbosa gravada por Bastinho Calixto pela EMI. Um dos muitos grupos que gravaram suas composições e obteve sucesso foi o trio Os Três do Nordeste, que alcançou as paradas de sucesso com É Proibido Cochilar, Forró do Poeirão, Forró de Tamanco e Homem com H.
Em 1981 teve a música Estrela de ouro, parceria com José Batista, gravada por Luiz Gonzaga e Gonzaguinha, e Quebra Pote, pelo Trio Mossoró. No mesmo ano, conheceu a consagração nacional com, Homem com H, composta anos antes para a novela O Bem Amado, quando Ney Matogrosso a regravou, conquistando o Primeiro Lugar na Parada de Sucessos daquele ano.
Desde então, sua carreira musical se consolidou, crescendo a cada ano que passa.
CECÉU
Cecéu – Mary Maciel Ribeiro –, cantora e compositora, nasceu a 02.04.1950 na cidade de Campina Grande, na Paraíba, filha de Severino Lourenço Ribeiro e Maria Maciel Ribeiro. Morou 10 anos no Rio de Janeiro, radicando-se depois em São Paulo. É casada com o compositor Antônio Barros.
Quando menina, acompanhava o pai comerciante ao centro da cidade e lá fazia questão de comprar a Revista do Rádio. Desde muito pequena, era encantada pelo rádio. Uma das músicas que a marcaram nessa época foi o samba Iracema, gravado por Os Demônios da Garoa, ouvida na radiola de uma festinha infantil, que contava a triste história de uma moça que é atropelada a poucos dias do casamento. Aquilo a sensibilizou tanto, que não conseguiu aproveitar a festa com as outras crianças. Nessa época, tinha apenas sete anos, e fui profundamente influenciada pela música.
A característica marcante de Cecéu sempre foi a música romântica, que fala de sentimento, de coração. Apaixonada por programas de rádio, sua infância foi marcada por cantores que não combinavam com sua faixa etária como Ângela Maria, Cauby Peixoto, Emilinha Borba e Anísio Silva o Rei do Bolero. Sua mãe até que tentava convencê-la de que aquelas não eram músicas para criança, mas isso de nada adiantava.
Conheceu Luiz Gonzaga nos Anos de 1970, quando fazia gravações na CBS com os Três do Nordeste e Marinês. Ficou amiga do Rei do Baião, e sempre que este ia a Campina Grande, costumava dividir com ela o mesmo palco.
Em 1982, o cantor Ney Matogrosso gravou com enorme sucesso o xote Por Debaixo dos Panos. No mesmo ano, a cantora Elba Ramalho obteve sucesso espetacular com o xote Bate Coração, gravado ao vivo no Festival de Montreux na Suíça.
Foi a consagração no Universo Forrozeiro, o que se prolongou até os dias atuais.
ANTONIO BARROS E CECÉU
Dois paraibanos filhos de Severinos! Só podia dar no que deu! Antonio Barros e Cecéu encontraram-se em 1971, quando formaram uma parceria no trabalho musical e no amor. Passaram a compor juntos e se tornaram um casal de sucesso. Levantando a bandeira de forte expressão artística no companheirismo do dia-a-dia, essa dupla se transformou num paradigma da cultura popular brasileira, pois nesse decorrer são mais de setecentas obras gravadas pela maioria dos intérpretes brasileiros, alcançando popularidade até no exterior onde também suas músicas foram gravadas na Itália, Espanha, Portugal e Israel.
Homem Com H, Por Debaixo Dos Panos, Bate, Coração, como também as famosas Procurando Tu, Casamento de Maria, Sou o Estopim, Amor Com Café, Forró do Poeirão, Forró do Xenhenhém, Óia Eu Aqui de Novo são algumas das canções que fazem parte do acervo de músicas autorais dessa dupla e gravadas por expressivos nomes da MPB como Ney Matogrosso, Elba Ramalho, Dominguinhos, Gilberto Gil, Alcione, Ivete Sangalo, Fagner, Gal Costa, MPB-4 e os saudosos Jackson do Pandeiro, Luiz Gonzaga e Marinês.
Esses consagrados artistas, que fazem parte da realidade e da história de nossa música, conseguiram romper a regionalidade sem perder o sotaque. Na capital paulista, onde reside desde 1995, o casal apresenta shows com classe e charme através de seus inúmeros sucessos. A história e a música de Antonio Barros e Cecéu se mantém sempre em atividade. Exemplo disso é encontrar regravações e releituras de suas músicas feitas por uma nova geração de intérpretes, não somente de ídolos regionais, mas, muitas vezes, de artistas pops e DJs de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais que, constantemente, estão cultivando essa obra genial.
Estes elepês e cedês, bem como o acima estampado, são facilmente encontráveis em sebos virtuais:
É tarefa impossível selecionar uma só faixa como amostra da colossal produção desse talentoso casal, principalmente para a nova geração, que conhece a maioria de suas músicas, mas desconhece o nome de quem as compôs. Portanto, aqui vai uma pequena amostra:
PUPURRI COM ANTONIO BARROS E CECÉU:
01 - NÃO LHE SOLTO MAIS - Rojão (Cecéu), NA CAMA E NO CHÃO (Cecéu), BULI COM TU (Cecéu)
PUPURRI INDIVIDUAL COM ANTÔNIO BARROS:
02 - POR BAIXO DOS PANOS - Xote (Cecéu), HOMEM COM H (Antônio Barros), PROCURANDO TU (Antônio Barros e J. Luna)
PUPURRI INDIVIDUAL COM CECÉU:
03 - NAQUELE SÃO JOÃO - Arrasta-pé (Antonio Barros), BRINCADEIRA NA FOGUEIRA (Antônio Barros), JÁ É MADRUGADA (Antonio Barros)
ANTONIO BARROS, EM GRAVAÇÃO INDIVIDUAL
04 - NA PALMA DA MÃO - Rojão (Antonio Barros e Cecéu)
CECÉU, EM GRAVAÇÃO INDIVIDUAL
05 - BATE, CORAÇÃO - Xote (Cecéu)
Raimundo Floriano
João Batista, Hermelinda e Oséas Lopes
O Trio Mossoró habita minhas prateleiras desde 1980, quando adquiri o LP O Melhor do Trio Mossoró:
Mas é, praticamente, um ilustre desconhecido no Brasil, quiçá em sua própria terra. Há poucos dias, Beto Potiguar, o técnico de cuida dos computadores daqui de casa, natural de Caraúbas (RN), ficou surpreso ao ver um CD do Trio, que e eu montara para meu acervo, e disse que jamais ouvira falar dele, acrescentando que vai muito a Mossoró, pois tem um irmão lá residente. O fato é marcante, pois o Beto é zabumbeiro de um conjunto brasiliense de Forró.
No dia 6 de maio de 2014, foi lançado, em Mossoró, o livro Minha História, de Oséas Lopes, contando detalhes da trajetória do Trio. Tentei adquiri-lo, mas em vão:
Minha intenção é mostrar aqui um pouco do trabalho desse Conjunto, dizer algo sobre seus três componentes. Como as contracapas de seus elepês nada informam, e não querendo me valer de dados não muito confiáveis, vou ater-me ao pouquinho que consta do Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira.
O Trio Mossoró é composto pelos irmãos Carlos André Batista, o Oséas Lopes, João Batista, o João Mossoró, e Hermelinda Batista, a Ana Paula.
Foi fundado no princípio dos anos 1950, pelo sanfoneiro Carlos André Batista, que já havia atuado na Rádio Tapuyo de Mossoró. Pouco depois, Carlos André mudou-se para o Rio de Janeiro, para onde chamou os irmãos visando a dar continuidade ao trabalho do Trio.
No Rio de Janeiro, o líder e fundador já atuava nas rádios Mayrink Veiga e Nacional, mantendo contato e intercâmbio com o compositor maranhense João do Vale.
Em 1954, recebeu em cerimônia, no Teatro Municipal no Rio de Janeiro, o troféu Elderbe, o mais importante prêmio musical naquele momento.
Em 1962, gravou o primeiro disco, o LP Rua do Namoro. Depois disso, lançou, ao longo da carreira, cerca de 10 elepês, destacando-se, entre os quais, Trinta Dias de Forró e Forró do Mexe Mexe.
Participou, ainda, de inúmeras coletâneas de música forrozeira.
Em 1972, o Trio se separou, com seus integrantes partindo para autuações individuais.
Possuo em meu acervo 25 títulos de seu repertório, alguns deles garimpados no baú do amigo Paulo Carvalho, Cardeal da Igreja Sertaneja e Membro da Academia Passa Disco da Música Nordestina.
Baseado nesse cabedal, aventuro-me em dizer que o Trio Mossoró, foi, enquanto durou, o grande intérprete da dupla Antônio Barros e Cecéu. Deles são 15 peças dos 25 títulos acima citados.
Como pequena amostra, escolhi cinco ritmos nordestinos diferentes, para que vocês possam curtir um pouco as preciosidades que esses maravilhosos artistas nos legaram:
Eta Coração, rojão, de Antônio Barros;
Era Fogo, xote, de Cecéu;
São João Chegou, arrasta-pé, de Cecéu;
Carcará, baião, de João do Vale e José Cândido, ressaltando a voz de Ermelinda/Ana Paula; e
Praça dos Seresteiros, toada, de Antônio Barros e Oséas Lopes.
Raimundo Floriano
Manezinho Araújo, em charge de Nássara
Manuel Pereira de Araújo o Manezinho Araújo, nasceu em Cabo de Santo Agostinho (PE), a 7.09.1910, e faleceu e São Paulo (SP), a 23.05.1993. Cantor, compositor e artista plástico, era filho de José Brasilino de Araújo e Joventina Pereira de Araújo.
Funcionário da antiga Estrada de Ferro Great Western, desde a adolescência interessou-se por música, frequentando as rodas boêmias do bairro de Casa Amarela, no Recife, onde estudava. Numa delas, ficou conhecendo o cantor de emboladas Minona Carneiro, que o ensinou a cantá-las.
Com a Revolução de 1930, ingressou como soldado nas forças revolucionárias, mas, quando seu pelotão chegou à Bahia, o governo se havia rendido, e a tropa viajou para o Rio de Janeiro. Nessa época, Manezinho já cantava emboladas e chegou a se apresentar em cabarés do Rio.
Manezinho, em ótima caricatura
Retornando de navio para Pernambuco, na Bahia embarcaram os artistas Carmen Miranda, Josué de Barros, Bentinho e Almirante, que vinham de uma temporada em Salvador e iam apresentar-se no Recife. Em uma roda musical a bordo, Manezinho, ainda na farda, como Sargento, agradou muito com suas emboladas. Carmen Miranda, então, aconselhou-o a ir para o Rio de Janeiro, e o violonista Josué de Barros prometeu lançá-lo no rádio.
Ao chegar em Pernambuco, já desligado da caserna, ficou por ali um tempo, mas, no início de 1933, se mudou para a capital carioca, hospedando-se com Josué, no Bairro de Santa Teresa, onde ficou ensaiando. Em abril do mesmo ano, Josué levou-o à Rádio Mayrink Veiga, onde Manezinho se apresentou, sendo escalado para voltar na semana seguinte. Na segunda apresentação, Ademar Casé, que comandava o Programa Casé, na Rádio Philips, ofereceu-lhe um contrato com exclusividade. Manezinho aceitou, participando duas vezes por semana no programa.
Ainda em 1933, foi levado por Josué à Odeon, gravando duas emboladas de sua autoria e assinando contrato com a gravadora. E, daí pra frente, sua carreira deslanchou.
Flagrantes de Manezinho Araújo
Três anos depois, fez sua estreia no cinema, cantando duas emboladas no filme Maria Bonita. Atuou ainda em diversos outros filmes e participou de 22 cinejornais da Atlântida, em que aparecia na parte final cantando um verso de embolada ou contanto uma história.
De 1937 a 1940, gravou na Odeon algumas emboladas de sucesso, como Segura o Gato, Pra Onde Vai, Valente?, Quando eu Vejo a Margarida, Sá Turbina e Sordado Aburricido, todas de sua autoria.
Em 1941, deixou a Odeon, depois de gravar, além das emboladas, cocos, frevos, sambas, etc. Em 1945, obteve grande sucesso com a gravação de Dezessete e Setecentos, de Luiz Gonzaga e Miguel Lima.
Manezinho foi um dos pioneiros na gravação de jingles no Brasil, tendo participado da campanha dos produtos Lifebuoy, e também o primeiro artista a ser contratado por uma fábrica, a do Óleo de Peroba, cantando duas vezes por semana, um na Rádio Nacional, e outra na Mayrink Veiga.
Durante sua carreira, apresentou-se em todas as regiões do País, cantou em diversas casas de espetáculos gravou dezenas de discos em diferentes gravadoras, quase sempre com enorme aceitação. A seguir, capas alguns discos que gravou, incluindo um CD, lançado pela Editora Revivendo, e elepês facilmente encontráveis em sebos virtuais:
Em 1954, desgostoso com o meio artístico, que criava fãs-clubes para autopromoção, decidiu interromper sua carreira e realizou um espetáculo de despedida no Tijuca Tênis Clube, ao qual compareceram cerca de 15 mil pessoas. Com a renda obtida nesse show, inaugurou em Copacabana um restaurante típico, o Cabeça Chata, onde passou a cantar e contar causos.
No início da década de 1960, começou também a pintar.
Em 1962, fechou o restaurante e transferiu-se para São Paulo, abrindo outro Cabeça Chata.
Meses depois, deixou o negócio, dedicando-se exclusivamente à pintura, atividade em que também obteve enorme êxito.
Dois quadros de Manezinho Araújo
Como amostra de seu trabalho, escolhi duas emboladas ambas de sua autoria:
O Carrité do Coroné, toada:
Muié Muderna, embolada:
Festa no Arraiá, embolada:
Pra onde Vai, Valente?, embolada:
Cuma É o Nome Dele?, embolada:
Raimundo Floriano
Eu já falei aqui em raridade, a 25.05, com o Trio Mossoró, a 22.06, com Mister Six, o Hexadátilo do Cavaquinho, e, a 29.06, com a cantora Linda Rodrigues. Agora, volto com algo mais RARO ainda, que é este Encontro de Intérpretes Potiguares.
Há um mês, eu nem sabia de sua existência. Fui instigado pelo Maestro Antonio Gomes Sales, de Caraúbas (RN), a quem muito aqui já me referi, por seu trabalho na elaboração de partituras carnavalescas, colaborando em meu projeto de resgate da memória da MPB, particularmente no que tange ao Carnaval. Só nesta nova faze, são mais e 50º peças que, após formatadas, colocarei à disposição dos músicos do mundo inteiro.
Ele me pedia o áudio destas 13 joias de nosso cancioneiro pátrio e internacional: Devolvi, com Núbia Lafayette, Não Me Perguntes, com Ângela Maria, Cabecinha no Ombro, com Ângela Maria e Agnaldo Timóteo, Orgulho, com Ângela Maria, Alguém Me Disse, com Anísio Silva, Al Di Lá, com Connie Francis, Siboney, com Connie Francis, Diana, com Carlos Gonzaga, Quase, com Carmen Costa, Não Chores Por Mim, Argentina, com Cláudia, Iolanda, com Simone, Iracema, com os Demônios da Garoa e Praieira, com Paulo Tito.
As 12 primeiras foram moleza. Dormiam em minas prateleiras. Mas essa Praieira, meus amigos, foi pedreira pura, parada pra desmantelo. Eu nunca ouvira falar nela nem no nome do cantor. Mas resolvi enfrentar todos os obstáculos, todas as dificuldades, para não deixar de atender o amigo que, com imensa boa vontade vem cooperando na concretização de meus ideais.
Como primeiro passo, recorri ao Google, que me informou ser Praieira, também conhecida como Serenata do Pescador, uma canção com letra de Otoniel Menezes e música de Eduardo Menezes, composta em 1922 e, pelo Decreto-lei nº 12, de 22 de novembro de 1971, do governo municipal de Natal, declarada o Hino Oficial da Cidade, assim considerada por todos os norte-rio-grandenses.
Sobre o Cantor Paulo Tito, consegui as informações a seguir. Batizado Paulo Peres Tito, cantor, músico, compositor e produtor, nasceu em Natal, a 8 de abril de 1929. Herdou o gosto musical do pai e estreou como cantor aos 13 anos de idade, na Rádio Educadora de Natal.
Participou de diversos programas de calouros em sua cidade. Em 1951, assinou contrato com a Rádio Jornal do Commercio do Recife, atuando, também, como cantor, na Orquestra Tabajara.
Em 1954, foi para o Rio de Janeiro, a convite de Luiz Gonzaga, para cantar na Rádio Mayrink Veiga. Em 1955, estreou em disco na Copacabana com o samba-canção Missão de Amor, de Renê Bittencourt, e a rancheira No Meu Sertão, de Luperce Miranda e Gildo Moreno. Em 1956, gravou os sambas-canções Nossa Senhora de Copacabana, de Heitor dos Prazeres e Kaumer Teixeira e Linhas Paralelas, de Valdemar Gomes e Jair Amorim. Em 1959, gravou, na Polydor, os sambas Sai do Bar, de sua autoria e Ricardo Galeno e Compromisso Com a Saudade, de Billy Blanco.
Em 1961, gravou, na Continental, os baiões O Vendedor de Biscoito, de Gordurinha e Nelinho, e A Vassoura da Comadre, de Gordurinha. Do mesmo Gordurinha, gravou o rojão Pedido Legal, e, de Miguel Lima e Liesse Miranda, o xote Confusão em Família.
Em 1975, integrou uma caravana de artistas potiguares e retornou ao Rio Grande do Norte, fazendo apresentações em diversas cidades do interior. Em 1977, gravou o LP Balanço, pela Tapecar, interpretando músicas de Vinícius de Moraes, Noel Rosa e Chico Buarque.
Como compositor, fez parcerias, entre outros, com Roberto Faissal, Romeu Nunes e Zé Gonzaga. Teve composições gravadas por Altemar Dutra, Carequinha, Cauby Peixoto, Os Cariocas, Elis Regina, Zé Gonzaga e alguns mais.
A partir de 1978, voltou a residir em Natal, passando a lecionar violão no Instituto de Música Waldemar de Almeida, além de se apresentar em casas noturnas.
Outras composições suas: Amor de Nordestino, parceria com Chico Anysio; Canção Pra Mamãe, com Renê Bittencourt; Candidata a Triste, com Ricardo Galeno; Cantiga de Um Homem Triste, com Roberto Faissal; Domingo em Copacabana, Roberto Faissal; Gamação, com Zé Gonzaga; O bom... bardino, com Álvaro Menezes; O Importante É Ter Você, com Belo Xis; Quero Você, com Ricardo Galeno; Questão Moral, com Roberto Faissal; Samba Feito Pra Mim Só, com Renê Bittencourt; Vou Comprar Um Coração, com Romeu Nunes; Vou Me Aposentar do Meu Amor, com Ricardo Galeno, e Yê-yê-yê Baiano.
Sua discografia é extensa, com alguns títulos em discos 78 RPM disponíveis no mercado virtual.
Faltava, agora, localizar o áudio da Praieira. Valendo-me dos dados LP - PAULO TITO - PRAIEIRA, fui direcionado pelo Google para um site de vendas, o único, onde eram anunciados dois exemplares do LP Reencontro. Adquiri de menor preço, cujo valor era de R$35,00. Mais adiante, falarei dobre o mais caro.
Esta coletânea, com intérpretes potiguares, é uma promoção do Governo do Estado do Rio Grande do Norte, na gestão de José Cortez Pereira de Araújo, Governador Biônico, com mandato entre 1971/1975, sendo, posteriormente, Prefeito de Serra do Mel, no período 2001/2004. Nascido em Currais Novos (RN), a 17.10.1924, e falecido a 21.2.2004, em Natal, Cortez Pereira deixou esse grande do documento fonográfico em prol da Cultura Musical Potiguar.
Governador Cortez Pereira e Dona Aída, sua mulher
Antes de apresentar o áudio de Praieira e de outras melodias potiguares, vou falar do outro exemplar – o único restante – do LP Reencontro, ainda disponível no site de venda. Enquanto o que eu adquiri me custou apenas 35 reais, conforme dito acima, este remanescente acha-se disponível pela bagatela de 490. Vejam o reclame:
Aqui vai pequena amostra do trabalho desses intérpretes e compositores potiguares:
Praça Pio X, samba de Airton Ramalho, na voz de José Alves;
Prece ao Vento, toada de Gilvan Chaves, Fernando Cascudo e Alcyr Pires Vermelho, na voz de Ademilde Fonseca;
‘ Ranchinho de Paia, toada de Francisco Elion, com o Trio Irakitan;
Royal Cinema, valsa de Tonheca Dantas, com Orquestra e Coro sob a regência de Paulo Tito; e, finalmente, a raridade solicitada pelo Maestro Antonio Gomes:
Praieira, toada de Otoniel Menezes e Eduardo Medeiros, na voz de Paulo Tito.
Raimundo Floriano
(Pubicada em 13.10.2016)
Academia Passa Disco
Fábio Cabral, Fundador da Academia Passa Disco da Música Nordestina, sediada no
Recife, PE, enviou-me mensagem perguntando quando eu iria tomar posse na referida. Estranhei, pois nem convidado fora. Mas, logo em seguida, Paulo Carvalho, Presidente do Órgão, confirmou-me a boa nova, informando-me de que eu seria titular da Cadeira n° 10 e que deveria escolher um Patrono.
Não fui com essa de dizer não mereço, não estou à altura, etc. e coisa e tal. Não! Com mais de 50 anos nesta minha cachaça de colecionador e pesquisador da nossa MPB, em especial do Dobrado, do Carnaval e do Forró, divulgando e compartilhando os achados de minha garimpagem, principalmente no Jornal da Besta Fubana, onde ocupava um cantinho, A COLUNA DE RAIMUNDO FLORIANO, já estava mais do que na hora de que isso fosse reconhecido por alguém.
E quão grande foi a minha alegria ao constatar que esse primeiro alguém era uma instituição pernambucana, recifense, cujos dirigentes eu conhecia apenas virtualmente, pelo Orkut!
Dito isso, passo a falar sobre a escolha de minha Patrona, a cantora Elba Ramalho.
No final dos Anos 70, a Música Nordestina ressentia-se da carência de representantes femininas que a divulgassem, e também a revigorassem, num universo quase totalmente dominado pelo sexo masculino. Importantes Musas do nosso Forró, como Marinês e Anastácia, estavam praticamente aposentadas. Havia, sim, cantoras no Nordeste já consagradas nacionalmente, mas que nada fizeram por nossa Música Regional, como Alcione, Maria Bethânia e Gal Costa.
Tomei conhecimento da existência de Elba Ramalho em 1979, ao ouvi-la no LP Asas da América, num projeto de revitalização do Frevo, no qual interpretava duas faixas: Olha o Trem e A Mulher do Dia, ambas de Carlos Fernando. Gamei na hora! Despontava uma forrozeira nova que, embora no Frevo, já demonstrava a que veio, com sua voz de pastorinha e modo de cantar inteiramente novo e seu. Mas eu queria mais. Queria ouvi-la também no Forró, matando a pau.
E isso não se fez esperar. Ainda em 1979, pelo final do ano, lançou seu primeiro LP, Ave de Prata, onde Canta, Coração, de Carlos Fernando e Geraldo Azevedo, e Bodocongó, de Humberto Teixeira e Cícero Nunes, que a entronizaram no sagrado templo do Forró, além de Não Sonho Mais, de Chico Buarque, onde esganiçava a voz, num jeito desbragado de cantar.
Instalara-se ela, assim, no meu gosto e na minha preferência. Desde então, passei a acompanhar o seu trabalho e a adquirir todos os seus registros fonográficos. Em 1982, após a morte de Jackson do Pandeiro, o Rei do Ritmo, Elba passou a ser minha principal referência na Música Nordestina, eis que Luiz Gonzaga, o Rei do Baião, já se encontrava no seu ocaso artístico. De 1979 até agora, gravou uns 30 frevos e cerca de 80 forrós. Enquanto isso, as nordestinas acima citadas, somadas às novatas, porém já famosas, Daniela Mercury, Ivete Sangalo, Cláudia Leitte, Pitty, Margareth Menezes e outras passaram e passam ao largo de nossas raízes musicais.
Elba Ramalho é hoje o nosso grande ícone, e, com imensa alegria, vejo surgirem a cada dia novas cantoras espelhando-se no seu estilo, na sua voz, no seu carisma.
Elba e Elba, em outubro de 1983
Meu fascínio por Elba Ramalho solidificou-se e intensificou-se de tal forma que, em 1983, quando nasceu minha primeira filha, batizei-a com o nome de Elba. E, por pura sorte, quando a menina estava com 20 dias de nascida, a cantora, no auge da carreira, veio apresentar-se em Brasília. Com a ajuda dos meus amigos Luiz Berto e Maurício Mello, na época empresários no Distrito Federal do Forró Pisa na Fulô, consegui que a estrela tirasse uma foto com minha filha nos braços.
Feita a escolha da Patrona, e após a devida comunicação da Academia à cantora, a grande surpresa: nestes tempos de agenda forrozeira lotada, ela aceitou, marcando a solenidade para as 19h dia 27 de maio de 2009.
Assim, no dia 26 de maio, terça-feira, parti para o Recife, acompanhado de Veroni, minha mulher, e Mara, nossa caçula – Elba, a da foto, não pôde viajar, devido à sua recente posse em cargo público. Nesse mesmo dia, hospedamo-nos no Hotel Manibu Recife, em Boa Viagem, onde instalei meu Cardinalato.
Comunicada minha chegada ao Papa Berto I, meu amigo desde 1966, pôs ele à minha disposição o Papamóvel, choferado pelo eficientíssimo cinesíforo Vilaça que, à noite, nos conduziu ao Palácio Pontifício, localizado no bairro Apipucos.
No Palácio Pontifício, o Papa Berto I havia providenciado reunião com alguns clérigos da Igreja Católica Apostólica Sertaneja - ICAS, ou, simplesmente, Igreja Sertaneja, contando com as seguintes presenças, além do Papa e do meu pessoal: Papisa Aline, Papinha João Berto, Cardeal João Veiga, Padre Arnaldo Ferreira, Padre Fábio Cabral e Cila, sua mulher, Padre Ismael Gaião e o leigo Valter Azevedo, amigo orkutiano que, mais tarde, no meu Decreto Cardinalício nº 1, seria nomeado Seminarista.
O Papa lamentou que, dentre os sacerdotes convidados, três houvessem apresentado suas escusas pela ausência naquela ágape, por motivos diversos e justificadíssimos: o Cardeal Zelito Nunes, por estarem ele e Madre Lelê, sua mulher, grávidos de quase nove meses, com o ansiado Gabriel prestes nascer; o Cardeal Xico Bizerra, devido a seu assoberbamento na composição de mais uma cantiga para Elba; e o Cardeal Paulo Carvalho, em virtude de escala no hospital onde dá plantão. Felizmente, tive a honra de conhecê-los na solenidade da minha posse.
Em rega-bofe tocado a uísque, refrigerante e tira-gosto, trocamos idéias, aproveitamos para nos conhecermos e relembrarmos fatos acontecidos no passado. Nessa ocasião, o Cardeal João Veiga me presenteou com o livro Poetas do Repente, editado pela Fundação Joaquim Nabuco, acompanhado de CD e DVD, preciosos documentos para as minhas pesquisas e o meu deleite.
Lá pras tantas, o Sumo Pontífice convidou todos os presentes a comparecerem ao Escritório Papal, para a inauguração, na parede dessa dependência palaciana, de duas novas placas de logradouros públicos, com nomes de amigos seus. É um modo de o Papa demonstrar sua deferência a alguns privilegiados membros da seita. Salamaleques e rapapés papais!
Ali, em local de destaque, já se encontravam: Avenida Cyll Gallindo, Rua Vladimir Carvalho, Beco do Giba, Viela Orlando Tejo, Arruado Maurício Melo Jr. e Alameda General-Presidente Natanael. Duas novas placas encontravam-se veladas. Descerradas pelo Papa, surgiram os nomes: Esquina Raimundo Floriano e Travessa Arnaldo Ferreira.
Encerrando essa cerimônia, o Padre Ismael Gaião lavrou em livro especial a Ata do feito e procedeu à sua leitura, após o que foi ela assinada pelos homenageados.
Nada mais havendo a tratar naquela noite, eu e minha família retiramo-nos para o meu Cardinalato, a bordo do Papamóvel, quando o cinesíforo Vilaça mostrou sua eficiência, não só como chofer, mas como utilíssimo cicerone, mostrando-nos e explicando-nos belas vistas turísticas da capital mauricéia.
No dia seguinte, 27, quarta-feira, às 17h30, Vilaça nos conduziu no Papamóvel para a Academia Passa Disco da Música Nordestina, no Shopping Sítio da Trindade, Estrada do Encanamento, aonde chegamos às 19h e ficamos aguardando a vinda da estrela, que não se fez esperar.
Acompanhada do sanfoneiro Cezinha, seu namorado, Elba Ramalho deu início à comemoração, lançando e autografando seu CD Balaio de Amor, posando para fotos com todos os seus inúmeros fãs e esbanjando simpatia e simplicidade, o que nos fez admirá-la ainda mais.
Passou-se, então, à solenidade de minha posse. No palco montado ao ar livre, compondo a Mesa, Fábio Cabral, Paulo Carvalho e o Imortal Luiz Berto, que, como Mestre-de-Cerimônias, deu início aos trabalhos. Convocou a mim e à estrela para tomarmos lugar diante da Mesa e em frente à platéia. Depois da saudação feita por Luiz Berto aos novos imortais, Elba Ramalho, a Patrona, entregou-me o Disco-Símbolo da Academia e recebeu idêntico troféu das mãos de Fábio Cabral, com a explicação de que um terceiro Disco ficaria exposto em local próprio na Academia, para marcar a perenidade do ato.
Em seguida, o Presidente Paulo Carvalho deu por encerrada a cerimônia, e Elba Ramalho iniciou seu belíssimo e inesquecível show, cantando, principalmente, as faixas do seu CD recém-lançado.
A Academia Passa Disco da Música Nordestina, na época, era incipiente, embrionária, mas, dentro de pouco tempo, sua abrangência alcançou todo o território nacional. Como em meu caso, convocando-me de Brasília. A imortalidade dos seus membros se contém no fato que, daqui a uns 150 anos, quando se der a primeira vacância em qualquer das Cadeiras, os nomes do seu Membro inicial e do Patrono permanecerão caracterizando-a, como ocorre na Academia Brasileira de Letras.
Voltemos à grande festa.
Espetáculo com E maiúsculo foi o que aconteceu ali. Elba não se restringiu apenas a brindar-nos com músicas do seu novo disco ou do seu acurado repertório. Chamou ao palco para interagirem com ela não só alguns dos seus compositores ali presentes, como outros artistas que acorreram àquela maravilhosa festa: Flávio Leandro, Rogério Rangel, Eliezer Setton, Xico Bezerra, Terezinha do Acordeom, Júnior Vieira, Anchieta Dali, Luizinho Calixto, Cristina Amaral, Kelly Rosa, Hélio Donato e Conjunto Forroviário, Nena Queiroga, Bia Marinho, Josildo Sá e Targino Gondim, tendo sempre Cezinha como sanfoneiro principal. E todo esse pessoal, inclusive a estrela, se apresentando ali de graça, dando canja, sem cobrar sequer um mísero centavo.
O público era imenso e vibrante. Além de inúmeros membros do clero da Igreja Sertaneja, notaram-se ali outros nomes do mundo artístico nordestino, entre músicos, compositores e intelectuais: Fábio Simões, Arimatéia Ayres, Lourdinha Oliveira, Tostão Queiroga, Anjo Caldas, Gabriel Sá, João Cláudio Moreno, Gonzaga Leal, Valter Azevedo, Arluce Carvalho, Jeová da Gaita, Nilson Araújo, Ismael Gaião, Paulo Wanderley, Antônio Marinho, Greg Marinho, Júnior do Bode e Marinna Duarte sua noiva.
Depois de mais de uma hora em cena, a estrela se retirou, mas a festa prosseguiu até quase à meia-noite, com muitos dos artistas acima citados revezando-se no palco ou mostrando-me seus trabalhos, presenteando-me com seus CDs, falando-me dos seus planos, consultando-me.
Como último ato dessa extraordinária aventura, vi-me cercado por tietes recifenses, que me instaram a decifrar meu famoso cartão de visita. A cada definição, uma explosão de gargalhadas!
Foi a minha grande noite de fama, gravada para sempre no meu coração!
Meus mais efusivos agradecimentos ao Papa Berto I, extensivos à Papisa e ao Papinha, pelas mordomias postas à minha disposição, além da hospitalidade a mim oferecida no Palácio Pontifício. E também por ter-me inserido na sua patota e no círculo cultural da Veneza Brasileira.
Meu reconhecimento a duas personalidades recifenses que, na solenidade de minha posse, se destacaram no serviço do meu Cardinalato e da minha Imortalidade: Madre Superiora Neide, auxiliando minha filha Mara com sua máquina fotográfica, e Seminarista Valter Azevedo, que sempre me manteve abastecido, às suas custas, de Coca Cola Diet e piedosos itens mastigatórios.
Valter Azevedo, no ato da posse, e Neide Santos em evento posterior
Apagados os lampiões, novamente o cinesíforo Vilaça nos conduziu no Papamóvel de volta ao hotel.
Às 14h00 do dia seguinte, 27, quinta-feira, pegamos o avião de regresso para Brasília. A bordo, fiquei a matutar no que me acontecera da terça até à quinta, vendo as cenas vividas passarem velozmente na minha mente, como num filme. Será que foi um sonho? Um sonho que durou três dias, no dizer do frevo dos Irmãos Valença? Foi não!
O disco-símbolo da imortalidade
A seguir, imagens da grande festa:
Encerrando esta reportagem, aí vai minha Patrona Elba Ramalho, cantando o xote Se Tu Quiser, do amigo Xico Bizerra, carro-chefe do CD Balaio de Amor, lançado na ocasião:
Raimundo Floriano
Hoje 13 de dezembro, data de nascimento de Luiz Gonzaga, é o Dia do Forró, em homenagem ao seu inventor. Por esse motivo, aqui vai um youtube com a forrozeira Cristina Amaral interpretando o rojão Eu Sou o Forró, de Petrúcio Amorim:
Cecéu
Bulir Com Tu, rojão, com Cecéu