Almanaque Raimundo Floriano
Fundado em 24.09.2016
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, dois genros e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

Música Nordestina sexta, 16 de novembro de 2018

ALEGRIA DE POBRE, ARRASTA-PÉ, COM ABDIAS E SUA OITO BAIXOS


Música Nordestina sexta, 09 de novembro de 2018

ABDIAS, MEU PECADO, SAMBA, COM ABDIAS E SUA OITO BAIXOS


Música Nordestina sexta, 02 de novembro de 2018

VELHO JACÓ , ARRASTA-PÉ, COM ABADIAS E SUA OITO BAIXOS


Música Nordestina sexta, 26 de outubro de 2018

FANTASIA EM 8 BAIXOS, FREVO-DE RUA, COM ABDIAS E SUA 8 BAIXOS


Música Nordestina sexta, 19 de outubro de 2018

ANEL DE COURO, ROJÃO, COM ABDIAS E SUA OITO BAIXOS


Música Nordestina sexta, 12 de outubro de 2018

SERÁ QUE PRESTA?, ROJÃO, COM ABDIAS E SUA OITO BAIXOS


Música Nordestina sexta, 05 de outubro de 2018

FORRÓ DA MINHA TERRA, ROJÃO, COM ABDIAS E SUA OITO BAIXOS


Música Nordestina sexta, 28 de setembro de 2018

FORRÓ DO CAQUIADO, ROJÃO, COM ABDIAS E SUA OITO BAIXOS


Música Nordestina sexta, 21 de setembro de 2018

TARIMBA DE BAMBU, SAMBA, COM ABDIAS E SUA OITO BAIXOS


Música Nordestina sexta, 14 de setembro de 2018

NÃO POSSO LHE PERDOAR, SAMBA, COM ABDIAS E SUA OITO BAIXOS


Música Nordestina sexta, 07 de setembro de 2018

NUNCA MAIS HEI DE BEBER, SAMBA, COM ABDIAS E SUA OITO BAIXOS


Música Nordestina sexta, 31 de agosto de 2018

FRAGUEI, SAMBA, COM ABDIAS E SUA OITO BAIXOS


Música Nordestina sexta, 24 de agosto de 2018

VOU DOAR MEU CORAÇÃO, SAMBA, COM ABDIAS E SUA OITO BAIXOS

 


Música Nordestina sexta, 17 de agosto de 2018

PRA NÃO ME MATAR DE DOR, SAMBA, COM ABDIAS E SUA OUTO BAIXOS


Música Nordestina sexta, 10 de agosto de 2018

SEU DIA CHEGARÁ, SAMBA, COM ABDIAS E SUA OITO BAIXOS


Música Nordestina sexta, 03 de agosto de 2018

NINGUÉM GOSTA DE NINGUÉM, SAMBA, COM ABDIAS E SUA OITO BAIXOS


Música Nordestina quinta, 02 de agosto de 2018

ASSIS MEDEIROS, UM BURRO TALENTOSÍSSIMO

 

ASSIS MEDEIROS, UM BURRO TALENTOSÍSSIMO

Raimundo Floriano

 

Foto garimpada no Google

 

É assim mesmo que Assis Antônio Medeiros autodenomina-se em seu endereço eletrônico: burrodecarga@etc.com.

 

Assis Medeiros é cantor, compositor, músico e arranjador, tocando primorosamente os seguintes instrumentos: violão de 6 cordas, violão de 7 cordas, violão de 12 cordas, viola de 10 cordas, cavaquinho, guitarra, berimbau e percussão. Pra não dizerem que é instrumentista só de pau e corda, é exímio também no piano, no teclado e no trompete, este de bocal.

 

Conheci-o na piscina da Academia Consciência Corporal, no Lago Sul, onde praticamos atividades hidroterápicas, sob o eficiente e gentil comando da Dra. Ayda Jamal, proprietária da Clínica Reabilit - Espaço Saúde.

 

O que me leva e escrever estas maltraçadas é apenas a admiração que tenho por esse jovem artista, e nada mais. O conflito de gerações – diferença de em torno de 40 anos – faz com que nossos assuntos em comum sejam nadica de nada. Além do que, ninguém conversa com velho, ninguém conversa com surdo. Avaliem, então, qual seria o diálogo comigo, idoso e mouco!

 

Assis é homem de poucas palavras, não é desses que jogam conversa fora. No entanto, há algo em comum entre nós dois, um profundo sentimento que nos domina e nos encaminhou aos cuidados da Dra. Ayda e sua dedicada equipe: a dor!

 

Aos poucos, quando a Dra. Hoa – pronuncia-se Roá –, chinesa, uma de nossas hidroterapeutas, a quem nomeei minha Assessora Memorial, Onomástica Auditiva, me traduz, aos gritos, os diálogos dos demais hidroterapatas, fico sabendo que o Assis nasceu no Recife (PE), a 29 de agosto de 1971, e morou grande parte de sua juventude em João Pessoa (PB). Pernambucano por nascimento, paraibano por adoção, é servidor da Câmara Alta do Congresso Nacional, lotado na TV Senado, sendo colega de Maurício Melo Junior, colunista fubânico e meu amigo desde sempre.

 

A garimpagem na Internet me faz saber que Burrodecarga é seu primeiro CD a ter distribuição comercial, uma mistura de rock, samba, reggae e funk, além da música regional e eletrônica. Em suma, o roteiro é qualificado pelo músico como “um sem estilo, um depravado musical”. Entre os instrumentos que compõem as 14 faixas, estão bateria, percussão, baixo, teclado, violão, guitarra, naipe de metais, cordas e loops eletrônicos. Além da faixa-título, Burro de Carga, o CD contém É Carnaval e Banzo Beleza, pela qual o artista confessou ter um carinho maior, pois a letra remete à época em que ele morou no Maranhão. Eis a capa do Burro:

   

A ilustração deste disco é de autoria de Flora, sua filha de 11 anos. Talento e sapiência que de Assis transmite à prole.

 

Sua passagem pela Nação Timbira lhe deixou marcas indeléveis no coração. Ali, conheceu a Dra. Adriana, Arquiteta, com quem se casou. Ela, além de outros trabalhos de vulto, no Brasil e na Capital Federal, é autora do projeto da casa do Maurício Melo Junior, onde incrustou um salão medindo pra mais de 100 metros quadrados, no qual instalou a famosa Biblioteca Mauriciana, fazendo com que nós, leitores compulsivos, fiquemos a babar de inveja, por não termos onde guardar os compêndios que lemos:

Detalhes da Biblioteca, com o Maurício e o Papa Berto, que me cedeu as fotos 

Assis é formado em Jornalismo e chegou a exercer a profissão no jornal O Imparcial, integrante dos Diários Associados. Já na música, o artista conta que tocou em bares dos 16 aos 24 anos, para ganhar o dicumê. Hoje, graças ao Senado, conquistou a estabilidade, trabalhando naquilo de que gosta, atuando na área de produções especiais, editando exposições e shows.

 

Apaixonado pelo que faz, Assis Medeiros já criou várias trilhas sonoras para curtas-metragem e documentários, Cartas ao País dos Sonhos, lançado em novembro de 2007, escrito e dirigido por Renata de Paula. Anteriormente, produzira, de forma independente, dois CDs: um com músicas infantis, denominado Bandoleta, e outro feito em parceria com Hamilton Oliveira e Ana Areias, intitulado Pirata. Há poucos anos, Assis foi um dos 50 classificados no Projeto Rumos Itaú de Música 2008/2009, um dos mais importantes na área de música do país.

 

No dia 7 de dezembro de 2013, a TV Senado exibiu o documentário abaixo, homenagem a Orlando Tejo, grande amigo e guru meu e da Comunidade Fubânica, sob a direção do Maurício Melo Junior:

  

A trilha sonora original é foi composta pelo Assis. Preciso dizer mais? Pois digo.

 

Da Internet, pincei estas informações, postadas, suponho, em 2013, dando conta da versatilidade desse fabuloso músico: “O projeto Rádio Pocket Show prossegue, em sua Terceira Edição, no dia 31 de maio, sexta-feira, a partir das 21h00, no bar e restaurante L`Apero – Praia de São Marcos, São Luís (MA). Nesta versão, o músico paraibano, radicado em Brasília, Assis Medeiros apresenta o show NUAR, acompanhado de Hamilton Oliveira, baixo, Guilherme Raposo, guitarra, e Hilton Oliveira, bateria, além da participação do poeta multimídia Celso Borges e da discotecagem mundana de Pedro Sobrinho em formato de uma programação de rádio.”

 

 Para isso, suponho novamente, ele deve deslocar-se todas as semanas para aquela cidade, em cumprimento de agenda cultural.

 

Há poucos dias, eu, que falo até pelos ouvidos, tagarelando na piscina, expus minha dificuldade em localizar elepês do início dos Anos 1980, para formar um acervo das músicas de duplo sentido que dominaram cenário forrozeiro naquela época, e o Assis, magnanimamente, se ofereceu para emprestar-me alguns, como de fato o fez. Sandro Becker, Zenilton, Marinalva, Antonio Barros e Cecéu foram os mais conhecidos. Dentro da sacola, sem qualquer aviso ou promessa, veio este CD duplo, do qual passarei a falar:

  

Baiãozinho NUAR, é seu último trabalho discográfico. Contém arranjos eruditamente elaborados, mas assim mesmo agradáveis ao ouvinte. As faixas são todas de autoria do Assis, individualmente ou com parceiros, cantadas por ele, que também nelas atua como instrumentista – mágica das possibilidades tecnológicas.

 

O Volume 1 traz apenas baião, uns do tipo rojão e outros mais comportados – os baiãozinhos –, enquanto o Volume 2, no qual Assis abusa de sua capacidade de compositor, brinda-nos com baião e toada, às vezes passeando na área do foxe.

 

Ainda não posso dizer, qual de todas as músicas do CD a que mais me agradou. Tenho tempo para isso. Mas escolhi uma faixa representativa, apenas por Assis ter nela como parceiro nosso amigo Maurício Melo Junior.

 

Trata-se do baiãozinho Vento Geral, que vocês agora ouvirão na voz do Assis:

 

 


Música Nordestina sexta, 27 de julho de 2018

MOCIDADE QUE PERDI, SAMBA, COM ABDIAS E SUA OITO BAIXOS


Música Nordestina sexta, 20 de julho de 2018

PREFERIU A BOEMIA, SAMBA, COM ABDIAS E SUA OITO BAIXOS


Música Nordestina sexta, 13 de julho de 2018

MINHA EX-MULHER, SAMBA, COM ABDIAS


Música Nordestina sexta, 06 de julho de 2018

PRA NÃO MORRER DE TRISTEZA, SAMBA, COM ABDIAS


Música Nordestina sexta, 13 de outubro de 2017

MULHER RENDEIRA, BAIÃO, COM OS DEMÔNIOS DA GAROA


Música Nordestina quinta, 21 de setembro de 2017

MEU NETINHO, ROJÃO, COM ELINO JULIÃO

Raimundo Floriano e Neide Santos

COM AGRADECIMENTOS À AMIGA NEIDE SANTOS,  QUE ME ENVIOU ESTA PRECIOSIDADE:


Música Nordestina domingo, 05 de fevereiro de 2017

CABEÇA FEITA, SUCESSO DE JACKSON DO PANDEIRO, CANTA SILVÉRIO PESSOA


Música Nordestina terça, 13 de dezembro de 2016

DIA DO FORRÓ - 13 DE DEZEMBRO

DIA DO FORRÓ

Raimundo Floriano

  

                        Hoje 13 de dezembro, data de nascimento de Luiz Gonzaga, é o Dia do Forró, em homenagem ao seu inventor. Por esse motivo, aqui vai um youtube com a forrozeira Cristina Amaral interpretando o rojão Eu Sou o Forró, de Petrúcio Amorim:

 

 


Música Nordestina quarta, 30 de novembro de 2016

CABOCLO SONHADOR - CANTA MACIEL MELO


Música Nordestina terça, 29 de novembro de 2016

NESSA ESTRADA DA VIDA - CANTA JORGE DE ALTINHO


Música Nordestina segunda, 28 de novembro de 2016

FRED ,MONTEIRO - MÚSICO, COMPOSITOR, ESCRITOR E OSGÁFILO

FRED MONTEIRO - MÚSICO,

COMPOSITOR, ESCRITOR E OSGÁFILO

Raimundo Floriano

 

Fred Monteiro: talento multifacetado

 

                        Em minha idade – 80 em julho passado –, é muito difícil engatar novas amizades, motivo pelo qual esforço-me ao máximo para conservar as que amealhei em todo esse tempo, principalmente diante fato de ser eu pessoa de não fácil coexistência. Para mantê-las, faço de tudo: engulo cobras, sapos e lagartos, finjo-me de mais mouco que o natural, relevo, perdoo quando perdão não me é solicitado, na certeza de que o tempo aplainará todas as asperezas e arestas deixadas em momentos de cabeça quente ou diálogo exaltado.

 

                        Como eu falava, fazer novas amizades é para mim barreira quase intransponível. Quer dizer, era, pois isso se modificou desde o surgimento do Jornal da Besta Fubana, do qual fui colunista desde a primeira hora em que ele se transformou com site, isso há quase 9 anos.

 

                        O JBF teve o condão de lançar-me no cenário internáutico, publicando meus textos e comentários, e fazer-me conhecido numa coletividade de intelectuais que hoje representa a nata da Cultura Brasileira. Com cerca de 500 matérias semanais postadas ininterruptamente, incorporei-me, até pela assiduidade e persistência, aos homens que hoje, na Literatura Nordestina e na Música Regional, com seus textos e composições, resgatam nossas mais legítimas tradições culturais.

 

                        Dentre eles, o escritor, poeta, compositor, músico e produtor alagoano Fred Monteiro. Começamos tirando nossas dúvidas, trocando figurinhas, complementando nossos acervos e, quando menos percebemos, já estávamos com a amizade sedimentada, mais grudada que nem catarro na parede, da qual só venho lucrando, como vocês verão a seguir.

 

                        Com minha postagem de Música Militar na Internet, Fred revelou-me ser autor do Dobrado General Lima Verde, no que foi contestado na hora, pois de há muito eu sei que o autor da peça é Paulo Roberto Pacífico. Fred, do outro lado, teimou, fincou pé, e eu lhe pedi que mandasse o áudio de sua autoria. No que ele não se fez de rogado, até mesmo para esfregar-me sua verdade na cara, enviando-me o CD No Tempo dos Coretos:

 

 

                        O CD não só tirou minha dúvida, pois o dobrado de Paulo Roberto Pacífico é General Júlio Lima Verde, como também se me revelou um compositor nordestino de peso, até então desconhecido para mim. Depois de ouvi-lo, só me restou a manifestação de um desejo: quero mais!

 

                        E Fred satisfez esse irrefreável anseio de colecionador, enviando-me sua obra completa neste CD, Formato MP3, sob o título Memória Musical - As Músicas de Fred Monteiro:

  

                        Com 71 faixas, o disco traz-nos amostra geral dos gêneros musicais que mais apreciamos: xote, arrasta-pé, baião, frevo-canção, frevo de bloco, frevo de rua, maracatu, ciranda, marcha de la ursa, maxixe, bolero, acalanto, choro, valsa, ragtime, balada, marcha americana, dobrado e, até, uma sinfonia. Madeira de dar em doido!

 

                        Fred Monteiro, desde cedo, inseriu-se na qualidade requerida de qualquer bom colecionador juramentado: o compartilhamento. Prova disso foi sua generosidade ao presentear-me com o livro Vida de Viajante, A Saga de Luiz Gonzaga, autografado pela autora, Dominique Dreyfus, que veio, com sua magnitude, enriquecer minhas estantes literomusicais: 

 

                        Ditas estantes que, no ano passado, já se achavam sobremaneira valorizadas com as excelentes crônicas de Fred, enfeixadas no livro Caçador de Lagartixas:

 

 

                        São lembranças de infância, vividas por um menino presepeiro e aprontador. Mas quem não o foi? No capítulo-título do livro, Caçador de Lagartixas, ele conta como as capturava: usando laços com o talo de folha de coqueiro, da qual era retirada a parte verde, sobrando apenas o caniço central, em cuja ponta afinada fazia o laço. Mas Fred não matava as osguinhas. Laçava-as somente no intuito de com elas dialogar: – Lagartixa, você é uma bobona? E ela balançava a cabeça pra baixo e pra cima, em assentimento. Depois de obter todo o currículo da prisioneira, Fred a libertava, fazendo dela uma amiga, que talvez por ali aparecesse novamente para novo bate-papo.

 

                        Fred Monteiro não está sozinho em sua osgafilia – termo que ciei para definir a amizade com lagartixas –, conforme se depreende desta nota, publicada na Revista Veja de 13.3.13, na Seção Veja Esta:

  

                        Para terminar esta merecida chaleirada, e para confirmar a versatilidade deste grande amigo virtual, apresento-lhes uma coletânea demonstradora de como ele, como compositor e intérprete, nada de braçada em todos os gêneros da Música Popular Brasileira.

 

                        Vamos ouvi-lo e degustá-lo:

 

FORRÓ

                        Aperta o Nó, rojão, canta Irah Caldeira:

 

                        Barra do Dia, xote, canta Fred Monteiro:

 

                        Mais Amar, arrasta-pé, canta Fred Monteiro:

 

                        Minha Viola, baião, canta Fred Monteiro:

 

FREVO

 

                        Catabi, frevo de rua, com a Orquestra de Fred Monteiro:

 

                        Bloco da Felicidade, frevo de bloco, com Coral Meus Amores:

 

                        Coração Recifense, frevo-canção, canta Claudionor Germano:

 

MARACATU CIRANDA E LA URSA

 

                        Axé, Zumbi!, maracatu, canta Cylene Araújo:

 

                        Ciranda do Mar da Vida, ciranda, canta Fred Monteiro:

 

                        La Ursa da Antiga, la ursa, canta Coral Urso Traquino:

 

RITMOS E GÊNEROS DIVERSOS

 

                        Americando, maxixe, com A Bandinha do Fred:

 

                        Amor Antigo, bolero, canta Fernando Silva:

 

                        Canção Para Ninar Diogo, acalanto, canta Tatiana Monteiro:

 

                        De Pai Pra Filho, choro, canta Fred Monteiro:

 

                        Maria, valsa, canta Fred Monteiro:

 

                        Revelação, ragtime, cantam Edy Anselmo e Coro:

 

                        Sessenta Setembros, balada, canta Fred Monteiro:

 

                        Serenata Pernambucana, sinfonia, com o Quarteto de Cordas F Studio:

 

                        General Lima Verde, dobrado, Banda F. Studio:

 

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Música Nordestina sexta, 25 de novembro de 2016

NESSA ESTRADA DA VIDA


Música Nordestina quinta, 24 de novembro de 2016

CONFIDÊNCIAS - CANTA JORGE DE ALTINHO


Música Nordestina quinta, 24 de novembro de 2016

NÓS ERA SETE: OS SETE GONZAGAS

NÓS ERA SETE: OS SETE GONZAGAS

Raimundo Floriano

 

 

                        Esse Abílio Neto, colunista daqui do JBF, é um sujeito instigante. Toda a vez que ele escreve sobre a Música Nordestina, eu descubro que pouca coisa conheço sobre o assunto em pauta, ou, se conheço, é só aos pedaços. E aí, eu me dano a pesquisar, agarrando-me a fragmentos guardados na minha memória, para ver se formulo uma idéia completa sobre o tema.

 

                        Assim foi no dia 30 de junho passado, quando discorreu sobre Severino Januário e mencionou o programa Os Sete Gonzagas, sucesso transmitido pela Rádio Tupi do Rio de Janeiro, em 1952, do qual eu não perdia uma edição, nele atuando o velho Januário José dos Santos e seis dos seus nove filhos, dentre eles os já famosos Luiz e Zé Gonzaga.

 

                        Vieram-me à memória aqueles bons tempos dos meus 16 anos. Foi em 1952, lá pro final do ano, que eu me encantei ao ouvir Zé Gonzaga, ao vivo, no Cine Teatro 4 de Setembro, em Teresina, Piauí, cantar o arrasta-pé Nós Era Sete, composição sua, tendo Antônio Maria como parceiro. Acho que a música foi feita como uma espécie de gozação pelo fato do programa ter-se acabado.

                         Aquela canção forrozeira entrou-me na cabeça, e até hoje eu sei-a de cor, embora nunca mais tivesse a oportunidade de ouvi-la novamente. Dizia assim:

 

Nós era sete

Fumo morrendo

Fumo morrendo

E só fiquemo eu

Não houve reza

Não houve nada

Fumo morrendo

E só fiquemo eu

 

José mais moderninho

Morreu de catapora

Tião endefluxado

Tossiu tanto, que morreu

Gumercino nem nasceu

Morreu fora de hora

Enfim, nós era sete

E só fiquemo eu

 

                        Mas, conforme eu declarei acima, esse Abílio Neto, lascaneta de mulesta, fez com que as minhas lombrigas não mais se aquietassem. E, aí eu me danei. Pequei meu cavalo, chamei-o nas esporas e me atirei na estrada, à procura da até então desconhecida gravação. Querem ver como é fácil? Pois tentem! Pesquisem no Google, no Brasil Vinil, na Wikpédia, na Globo.com, no Orkut.com, no Twitter.com, no Facebook.com, no Sonic.com, no Myspace.com, no Linkedin.com, no Escambau.com! Encontraram? Nem a pau, Juvenal.

 

                        Até que um dia, entrei em contato com o saudoso colecionador Roberto Lapiccirella, de Camanducaia (MG), que me disponibilizou o tão procurado registro fonográfico da música.

 

                        Portanto, é com muito orgulho que faço aqui esta pequena homenagem ao grande Zé Gonzaga e seu parceiro Antônio Maria.

 

                        Na gravação, ao cantar o forró pela primeira vez, Zé Gonzaga se atrapalha e diz: José mais moderninho morreu fora de hora. O que é consertado no bis, que ficou assim: José mais moderninho morreu de catapora. Naquele tempo, eram mínimos os recursos tecnológicos, e a feitura de um disco constituía-se em tremendo desafio. Gravou errado, tamos conversados!

 

                        Orlando Silva também cometeu engano semelhante, em 1937, no samba Pela Primeira Vez, de Noel Rosa e Christóvão de Alencar – que faz parte do meu acervo da Velha Guarda –, referindo-se à namorada, que viajara num trem: “Até sumir numa esquina o lenço dela”. Na parte orquestral, algum dos músicos cochichou no seu ouvido: “Quem dobra esquina é bonde!” Orlando, então, corrigiu, no bis: “Até sumir numa curva o lenço dela”.

 

                        Para vocês, arrasta-pé Nós Era Sete, de Zé Gonzaga e Antônio Maria:

 


Música Nordestina quinta, 24 de novembro de 2016

MANOEL SERAFIM, O MANÉ CHORÃO DO FORRÓ

MANOEL SERAFIM, O MANÉ CHORÃO DO FORRÓ

Raimundo Floriano

 

Manoel Serafim

(1941 – 2007)

 

                        Quando eu digo que tô famoso, ainda tem gente não acredita – ninguém é profeta em sua terra. Mas é só ver o que anda acontecendo no mundo para constatar essa grande novidade.

 

                        Tenho feito um bocado de armação, no cenário literomusical, nestes meus 74 anos de vida. Já nasci gritando: “óia, eu aqui!”.

 

                        Meu último livro, Do Jumento ao Parlamento, com tiragem de 2 mil exemplares, me concedeu certa notoriedade dentro do meu público-alvo: conterrâneos, camaradas da caserna, colegas do Parlamento, companheiros de malhação, hidro e fisioterapia, músicos, forrozeiros, batuqueiros, presepeiros, maranhenses, piauizeiros, amigos outros que amealhei nestes 50 anos, e, por que não dizer, até parentes, desses teimosos.

 

                        Mas o veículo que me projetou para o mundo, para o além-fronteiras, para o Universo Cultural, foi o Jornal da Besta Fubana, que me habilitou a publicar, semanalmente, matéria em A COLUNA DE RAIMUNDO FLORIANO. As solicitações que recebo constantemente, por meio do JBF ou pelo e-mail raimundofloriano@brturbo.com.br, dão a exata dimensão dessa notoriedade. E a todos venho atendendo, dentro destes três gêneros nos quais me considero forte: Dobrado, Carnaval e Forró.

 

                        Não posso deixar de mencionar aqui o Google, que se apodera de tudo o que o JBF publica, dando-lhe mais visibilidade. Duvida? Então vá lá, digite RAIMUNDO FLORIANO, dê um ENTER e pronto: tá feito o esparrame!

 

                        Até prefácio já me pediram pra fazer!

 

                        Há pouco tempo, uma forrozeira residente em Guarapari-ES, me procurou pedindo notícias de um primo seu o Manoel Serafim, do qual ela mais nada soube há mais de 30 anos. Indagava se ainda existia e onde morava, se ainda atuava na vida artística.

 

                        Sanfoneira, chama-se Maria Madalena, nasceu em Boqueirão-PB e, casada com um advogado, nunca precisou exercer profissionalmente sua arte musical.

 

                        Agora, não por necessidade, mas apenas para realizar-se artisticamente, resolveu formar seu conjunto, o MARIA MADALENA E SUA BANDA FERA SHOW. Dentro em breve, espero, vocês ouvirão falar nesse pessoal. O Forró é inesgotável, a cada dia aparecem novos intérpretes, com suas infinitas possibilidades.

 

Vejam-na aqui:

 

Maria Madalena e Sua Sanfona

 

                        Pouco sei sobre Manoel Serafim, pois a literatura existente sobre ele é que consta das contracapas de seus discos, isso no tempo do LP. O que apreendi adicionalmente foi de oitiva, conversando com amigos que o conheceram pessoalmente. Por isso, já ia orientá-la a consultar o JBF onde, a 04.08.08, eu postara seu resumidíssimo perfil.

 

                        E, aí, surgiu o nó: tudo o que eu escrevera anteriormente aqui no JBF fora deletado, a pedido meu e de comum acordo com o Papa Berto I, devido a problemas surgidos numa fase gordurosa que não queremos relembrar.

 

                        Assim, repito aqui a matéria deletada.

 

                        Taí um Ilustre Desconhecido para a mídia. Forrozou por mais de 50 anos, porém jamais alguém ouviu falar em seu nome no sul-maravilha. Seu forró é lascado, encacetado, tarrabufado. Para mim, foi o grande cantor das coisas da Paraíba, depois de Jackson, conforme consta do seu vastíssimo repertório. O conjunto Manoel Serafim & Banda Cuscuz com Leite ocupou as paradas de sucesso das noites de João Pessoa e de toda a região.

 

                        Benedito Honório, atual Presidente da Ordem dos Músicos da Paraíba, reconheceu o valor desse cabra e sempre o apoiou, conseguindo-lhe trabalhos nos tempos das vacas magras. É do Honório e de João Bosco o engraçadíssimo xote, gravado por Serafim, denominado Sou Paraíba – Resposta ao Edmundo. O motivo da música é que o jogador de futebol Edmundo andou chamando um juiz nordestino de paraíba, de modo desrespeitoso e pejorativo. Por isso, a promessa:

 

                        – Mas Edmundo, já falei pro Chico Riba, se ficar na Paraíba, leva pisa de cipó!

 

                        Ao escrever estas maltraçadas, fico imaginando a canja que Manoel Serafim está dando no etéreo forró, junto a Marinês e Elino Julião, falecidos na mesma época, certamente cantando o rojão com o qual me foi apresentado, que marcou para sempre sua voz em minha memória, e que é a sua cara:

 

                        – Não chores não, Mané Chorão! Não chores não, Mané Chorão! Se teu caso é mulher, no forró tem de montão!

 

                        Com vocês, pequena amostra do trabalho esse grande e saudoso forrozeiro.

 

                        O Inventor do Forró, rojão de Manoel Serafim e de Buco do Pandeiro:

 

                        Sou Paraíba (Resposta a Edmundo), xote Benedito Honório e João Bosco da Silva:

 

                        Forró do Serafim, rojão de Manoel Serafim e Chico Nobre:

 

                        São João em Bananeiras, arrasta-pé de Manoel Serafim e Penha Serafim:

 

                        O Puxador de Saco, arrasta-pé de Zé Catraca:

 


Música Nordestina quarta, 23 de novembro de 2016

GENIVAL LACERDA: PUPURRI COM SEVERINA XIQUE-XIQUE, RADINHO DE PILHA, MATE O VÉIO E ROCK DO JEGUE


Música Nordestina quarta, 23 de novembro de 2016

É DE DAR ÁGUA NA BOCA - CANTA NANDO CORDEL


Música Nordestina terça, 22 de novembro de 2016

GOSTOSO DEMAIS - CANTA NANDO CORDEL


Música Nordestina domingo, 20 de novembro de 2016

ZÉ GONZAGA, O IRMÃO DO REI

ZÉ GONZAGA, O IRMÃO DO REI

Raimundo Floriano

 

Foto inédita e histórica, de 1954:

Zé Minhoca, Zé Gonzaga e Passinho

 

                        José Januário Gonzaga do Nascimento, sanfoneiro, cantor e compositor, nasceu a 15.01.1921, em Novo Exu (PE), e faleceu a 13.04.2002, aos 81 anos, na cidade do Rio de Janeiro (RJ). Era filho de Ana Batista dos Santos, a Santana, e de Januário dos Santos, o Velho Januário, braço forte na lavoura, que se distinguiu como animador de bailes, músico e consertador de foles de 8 baixos.

 

                        Há poucos registros escritos sobre sua vida. Por isso, transcrevo aqui trecho do livro Gonzagão e Gonzaguinha, de Regina Echeverria:

 

                        “Ainda em 1940, bateram na porta de Dona Tereza (pensão no Rio Janeiro onde Luiz se alojava) na Rua São Frederico, Morro de São Carlos, procurando por Luiz Gonzaga. Quem chamava era um rapaz de olhos azuis iguais aos da mãe Santana, e Gonzaga não demorou a reconhecer o irmão José Januário que, a exemplo dos mais velhos – Joca e Severino, que já moravam em São Paulo –, estava no Sul para fugir da seca que atingira inclemente até o privilegiado Araripe. Luiz não gostou muito da surpresa: ‘O que você veio fazer aqui, seu moleque safado, que eu não mandei chamar ninguém, que eu estou pior que vocês?’ Não teve jeito. Gonzaga comprou um colchão para acomodar José Januário e o nomeou seu ajudante, responsável por carregar a sanfona e correr o pires no Mangue. Ele adotou o nome de Zé Gonzaga e seria o único irmão a seguir carreira no rastro de Luiz Gonzaga”.

 

                        Rastro bem perseguido e assimilado. Anos mais tarde, Gonzagão proclamava, para quem o quisesse escutar, que Zé Gonzaga era o maior sanfoneiro do Brasil!

 

                        O que vou escrever daqui pra frente, não consta em qualquer banco de dados. Na maioria, é fruto das informações que me foram repassadas por Maria Auxiliadora, a Dona Sinhá, comadre de Zé Gonzaga, memória viva do forró – a quem devo a foto rara ilustrativa desta matéria –, viúva de Zé Minhoca/Miudinho, e também de minhas observações pessoais, um tanto falhas, desde 1951, quando tomei conhecimento desse grande astro da MPB, especialmente da Música Forrozeira.

 

                        No início dos anos 50, Zé Gonzaga arregimentou dois operários nordestinos que davam murro em ponta de faca na cidade de São Paulo. A um, servente de pedreiro, ensinou a tocar zabumba e botou-lhe o apelido de ZÉ MINHOCA; ao outro, capoteiro, ensinou a tocar triângulo e pôs-lhe o apelido de PASSINHO. Formado o conjunto, saíram a fazer sucesso pelo Brasil até o final da década, e pelo exterior, em projeto cultural de Assis Chateaubriand. Falarei, agora, um pouco desses dois exímios coadjuvantes, que também o secundavam na parte coral.

 

                        ZÉ MINHOCA - João Batista de Lima Filho nasceu em Fortaleza (CE), a 22.01.1931. Foi rebatizado no Rio de Janeiro com o nome de MIUDINHO, devido à sua baixa estatura, menos de 1,50m. Formou, com Dominguinhos e Zito Borborema, o primeiro Trio Nordestino assim conhecido – denominação dada por Luiz Gonzaga, por sugestão de Helena, sua mulher –, que teve pouca duração. Fez parte do elenco da Rádio Nacional, com o qual veio transferido para Brasília. Posteriormente, foi nomeado para o Senado Federal, onde se aposentou. Faleceu aqui em Brasília, a 24.03.2005.

 

                        PASSINHO - Francisco Ribeiro Ferreira nasceu no Recife a 23.06.1925. Fez jus ao apelido porque, devido a sua pequena estatura, caminhava com passadas muito curtas, picadinhas. No início dos anos 60, mudou-se para Brasília, onde se aposentou como Chefe da Capotaria da estatal Transportes Coletivos de Brasília - TCB. Aqui, faleceu a 30.10.1977.

 

                        Zé Gonzaga, ao contrário do que se pensa e até se apregoou, jamais se ressentiu da fama do irmão, embora tenham batalhado na mesma época  e com estilos iguais. Prova disso é que um dos maiores sucesso do Rei do Baião, O Cheiro da Carolina, é do Zé, em parceria com Amorim Roxo.

 

                        Em 1951, Luiz Gonzaga sofreu grave desastre de automóvel, no qual viajava com seu conjunto, escapando todos com vida por milagre. Em agradecimento, subiu a escadaria da igreja de Nossa Senhora da Penha, no Rio,  e lá cantou o Baião da Penha, composição de David Nasser e Guio de Morais. Zé Gonzaga, por sua vez, registrou o fato no baião Viva o Rei, dele e de José Amâncio, seu mais constante parceiro, onde conta detalhes do acidente, e que eu considero sua melhor composição.

 

                        É oportuno mencionar que Zé Gonzaga dominou no Carnaval, com músicas que ficaram para sempre incorporadas ao repertório momesco. Como o samba Bebida Não Mata Ninguém e as marchinhas Cabelo Couve-flor, Disco Voador, Tô Doido Que Chegue o Divórcio e a capciosa O Cadilac do Papai, constantes deste apanhado que ora lhes apresento.

                       

Aqui, as músicas mais conhecidas de Zé Gonzaga:

 

A Fuga da Asa Branca - Arrasta-pé (Zé Gonzaga e Nélson Barbalho)

Ai, Ai, São João - Arrasta-pé (Átila Nunes e J. Mendonça)

Ai, Rosinha - Arrasta-pé (Zé Gonzaga e Silveira Lima)

Ai, Sanfona - Calango (Zé Gonzaga e Jeová Rodrigues Portela)

Alencarina Bonita - Baião (Zé Gonzaga e José Amâncio)

Baile da Tartaruga - Forró (Omar Safet, Augusto Mesquita e Jaime Florêncio)

Batendo Sola - Rancheira (Zé Gonzaga e J. Portela)

Bebida Não Mata Ninguém - Samba (Kid Pepe e Arlindo Caldas) 1951

Cabelo Couve-flor - Marcha (Diomedes Tavares, Pereira Matos e Airton Amorim) 1951

Camarão É Peixe Bom- Forró (Zé Gonzaga)

Chegou o Sanfoneiro - Arrasta-pé - sanfonado (Ruthnaldo e Alcebíades Nogueira)

Disco Voador - Marcha (Chacrinha e José Gonçalves) 1951

Encontro com Lampião - Baião (Zé Gonzaga e Zé Praxedes)

Este Ano Eu Vou Casar - Baião (Zé Gonzaga e José Amâncio)

Estrada Velha da Pavuna - Choro - sanfonado (Zé Gonzaga)

Frevo na Roça - Frevo - sanfonado (Zé Gonzaga e Zito Borborema)

Galope à Beira-mar - Galope (Zé Gonzaga e Zé Praxedes)

Januário Criou Fama - Baião (Zé Gonzaga e José Amâncio)

Moreninha do Sertão - Arrasta-pé (Ceci Viana J. Praxedes e Peter Bill)

No Casório de Irineu - Xote (Zé Gonzaga e José Amâncio)

O Cadilac do Papai - Marcha (Zé Dantas e Péricles) 1951

O Cheiro da Carolina - Xote (Zé Gonzaga e Amorim Roxo)

São João Não Gostou - Arrasta-pé (Augusto Mesquita)

Teimosinho - Baião - sanfonado (Claudionor Cruz e Mário Duarte)

Tô Doido Que Chegue o Divórcio - Marcha (Guio de Moraes) 1951

Vai Que É Mole - Arrasta-pé - sanfonado (Zé Gonzaga)

Vem Cá, Bichinha - Baião ligeiro (Zé Gonzaga e Humberto Teixeira)

Vida de Pobre - Arrasta-pé (Zé Gonzaga e J. Portela)

Viva o Rei - Baião (Zé Gonzaga e José Amâncio)

Xote Miudinho - Xote (Luiz Gonzaga e Zé Dantas)

 

                        Para o desfrute de nossos leitores, e relembrando minha adolescência, aqui vai o baião Viva o Rei, de Zé Gonzaga e Zé Dantas:

 

                        E mais:

 

                        Alencarina Bonita, baião de Zé Gonzaga e José Amâncio:

 

                        Baile da Tartaruga, rojão de Omar Safet, Augusto Mesquita e Jaime Florêncio:

 

                        Camarão É Peixe Bom, rojão de Zé Gonzaga:

 

                        O Cheiro da Carolina, xote de Zé Gonzaga e Amorim Roxo:

 

                        Nós Era Sete, arrasta-pé de Zé Gonzaga e Antônio Maria:

 

ATENDENDO A PEDIDO DE DO LEITOR CLAUDIO CANFILD:

Bebida Não Mata Ninguém, samba de Kid Pepe e Arlindo Caldas:

Cabelo de Couve-flor, marchinha de Diomedes Tavares, Pereira Matos e Airton Amorim:

 


Música Nordestina domingo, 20 de novembro de 2016

ELINO JULIÃO E O RABO DO JUMENTO

ELINO JULIÃO E O RABO DO JUMENTO

Raimundo Floriano

 

Elino Julião

(13.11.1936 – 20.05.2006)

 

 

                        No dia 20 de maio de 2016, fez 10 anos que Elino Julião tomou suas últimas providências. Desarmou a rede, arrumou a trouxa, emalou a sanfona, jogou tudo na carroceria do caminhão, entrou na boléia, ligou a ignição e deu início à última jornada, à viagem sem volta, à viagem sem frito. No caminho, outros forrozeiros da década de 50 foram pegando carona. Caso de Manoel Serafim, há dois meses, e Marinês, no dia 14 último. Trio nordestino de calibre esse daí!

 

                        Lá, na outra dimensão, foram realizar majestoso festival, comandados pelos grandes criadores do Forró, essa música que incorpora e interpreta toda a alma e todo o sentimento do povo do nordeste brasileiro: Luiz Gonzaga, o Rei do Baião, e Jackson do Pandeiro, o Rei do Ritmo.

 

                        Você, meu camarada, que vê televisão todos os dias, assistiu a algum noticiário em qualquer emissora dando conta da partida para a eternidade desses três personagens? Não assistiu? Nem o Penca, nem o Lenca! Para tentar amenizar tanto descaso, para reavivar suas memórias, aqui está o Jornal da Besta Fubana, que lhes dirá algo deles e mostrará pequena parcela do seu trabalho.

 

                        Já lhes falei de Manoel Serafim e de Marinês. Agora, chegou a vez de Elino Julião.

 

                        A grande mídia sempre passou batida para Elino. Compositor com peças gravadas pelos principais forrozeiros pés-de-serra do Brasil, a começar por Gonzagão e Jackson, passando por Elba Ramalho e outros jovens cantores, nunca teve suas obras relacionadas à sua pessoa, mas sim ao nome dos intérpretes.

 

                        Mulher de Verdade, é a meu ver, é verdadeiro hino de amor da mulher que sabe perdoar seu homem. Madre Superiora Neide, da Igreja Sertaneja, adoooora este rojão:

 

Minha mulher gostava quando eu lhe batia

E quanto mais ela apanhava, mais ela dizia

 

Bata nêgo, pode bater

Bata com força, que eu não sinto doer

 

Pode bater com as duas mãos nessa nêga que é sua

Começa dentro de casa e termina no meio da rua

Se alguém vier reclamar não dê atenção

Bata com força, nêgo do meu coração

 

Bata nêgo, pode bater

Bata com força que eu não sinto doer

 

Não se incomode que a vizinha lhe chame de biriteiro

E que você não dá dinheiro pra comprar o pão

Tenho satisfação, sou mulher de verdade

Nêgo, por caridade, deixe de bater não

 

                        Aquela bendita rede deu o que falar. Namorador inveterado, não podia ver um rabo-de-saia, que ficava peneirando no ar e caindo em cima feito gavião faminto. Mas sua rede exigia respeito. Era a garota trastejar, e ele sentenciava:

 

                        – Na minha rede, não! Arranje outra rede, ou vá dormir no chão!

 

                        Seu hipotético caminhão servia-lhe apenas de pretexto à paquera:

                        – Não há quem resista, ser motorista sem ter um amor. Me falte gasolina, mas não me falte uma menina, que eu morro de dor!

 

                        Pelo visto, lá um dia, achou a forma do pé:

                        – O pai da Grabriela tem razão. Eu vou casar com ela, é minha obrigação!

 

                        Tomei conhecimento de Elino Julião em 1976, ao ouvir pela primeira vez Rabo do Jumento, xote que me transportou imediatamente a meu sertão. Sei que todos já o ouviram, mas sei também que é bom recordar. 

 

                        Para vocês pequena amostra de seu trabalho.

 

                        Rabo do Jumento, xote de Elino e Dilson Dória, participação especial de Lenine:

 

                        Mulher de Verdade, rojão de Elino e Severino Ramos:

 

                        Tem Amor Demais, baião de Elino e Zezinho Silva:

 

                        Tamarineira, arrasta-pé de Elino e João Machado:

 

                        O Pai de Gabriela, rojão de Elino e José Jesus, na voz de Jackson do Pandeiro:

 

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Música Nordestina domingo, 20 de novembro de 2016

CRISTINA AMARAL, A RUMBEIRA DO CIRCO

CRISTINA AMARAL, A RUMBEIRA DO CIRCO

Raimundo Floriano

 

Detalhe da capa do DVD

 

                        Chegou o período junino, e eu me valho do ensejo para comentar, com grande atraso, mas com satisfação, o DVD Cristina Amaral - A Vida É Um Circo, lançado em setembro de 2010, na Passa Disco, cujo dono, nosso amigo Fábio Cabral, me enviou de presente um exemplar.

 

                        De cara, o espetáculo me levou a minha juventude, no Circo Cometa do Norte, em Teresina (PI), onde o escada Socó – este que vos fala –, e o palhaço Jatobá, de quem eu era ajudante, faziam suas patuscadas, gaiatices e presepadas, com piadas, cançonetas, paródias, charadas e gestos picantes em torno da esfuziante Rumbeira. Para quem não sabe, Rumbeira, em qualquer circo de antigamente, era aquela gostosona que, com requebros eróticos, maliciosos e enfeitiçantes, dançava ao ritmo de baiões, sambas, mambos, maxixes e até rumbas.

 

                        Como prefácio deste seu trabalho, Cristina Amaral assim se expressa:

 

“Respeitável Público! ‘Eu queria mesmo era ser artista’. Assim dizia o Mestre Luiz Gonzaga que, na infância, tive o prazer de vê-lo cantar em um circo na minha cidade: Sertânia/Pernambuco. O Circo me trouxe esse sonho: trazer sorrisos, o palhaço; representar, o teatro; cantar, o show; ser ‘rumbeira’, a dançarina; fazer malabarismo, a vida. O meu desejo era estar nos grandes picadeiros. Hoje, divido o picadeiro do meu circo com todos vocês. A vida é um circo e todos nós somos palhaços. (a) Cristina Amaral.”

 

                        Ao colocarem o disco em seus equipamentos e acionarem a tecla play, vocês se depararão com um majestoso e riquíssimo picadeiro, repleto de músicos, dançarinos, vocalistas e imenso elenco de coadjuvantes a secundarem a artista principal, a atração maior do espetáculo, nada menos que Cristina Amaral, a Rumbeira que, com inexcedível talento, graça, beleza e simpatia, empenha toda sua arte para extasiar o respeitabilíssimo público.

 

                        Cristina faz um competente passeio em torno dos ritmos que tanto curtimos: toada, xote, coco, embolada, baião, xaxado, rojão, rumba, e, para furar o chão do picadeiro, um quentíssimo arrasta-pé.

 

                        Os compositores dessas joias musicais estão dentre o que de melhor existe hoje no cenário nordestino: Petrúcio Amorim, Walmar, Bráulio de Castro, Flávio Leandro, Maciel Melo, Assisão, Nogueira, Pinto do Acordeom, Rogério Rangel, Marrom Brasileiro, Zeca Pinheiro, Xico Bizerra, Toinho Alves, Luiz Fidélis, Wilson Freire, César Amaral, Anchieta Dali, Carlos Fernando, Geraldo Azevedo, Nando Cordel, Dominguinhos, Djavan, Accioly Neto, João Silva e, reverenciando a Velha Guarda Forrozeira, os saudosos Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira.

 

                        Cristina soube muito bem dosar seu espetáculo, convidando estrelas consagradas da constelação nordestina: Maciel Melo, Petrúcio Amorim, César Amaral, Geraldo Azevedo, Cezinha e uma trupe de moças e rapazes a enfeitaram e enriqueceram o picadeiro com suas vozes e coreografias.  O clima é linear, no píncaro, no cume, do início ao fim. Mas há participações especiais que não me saem da lembrança.

 

                        Uma foi a de Elba Ramalho, minha Patrona na Academia Passa Disco da Música Nordestina. Cristina é um clone de Elba. E isso ela faz questão de demonstrar. Conheci-a quando de minha posse na Academia, e quase me confundi: o vestidinho brejeiro, bastos cabelos em penteado esvoaçante, as botinhas cano longo, tudo nela era Elba Ramalho, que a chamou ao palco, para consigo interagir no grande show daquela noite. Agora, neste DVD, Cristina é quem chama Elba ao picadeiro para cantarem Espumas ao Vento e O Chineleiro, demonstrando que é uma seguidora e também continuadora da Escola Elbiana. É tesão em dose dupla!

 

                        Outra foi a de Santana “O Cantador”, em Flor do Mamulengo. Santana pareceu-me estar na profissão errada. Devia ter enveredado pelo mundo circense, tal é a versatilidade com que se comporta no palco, fazendo um mamulengo perfeito. Não me canso de teclar replay, para rever a cena.

 

                        Em Mamãe, Quero Ser Rumbeira, Cristina se apresenta caracterizada da própria, exibindo uma lapa de par de coxas que a gente de antemão já imaginava e estava doida para conferir. Nesse quadro, relembrei meus tempos, no Circo Cometa do Norte, quando eu, escada Socó, e o Palhaço Jatobá, ao vermos a Rumbeira se desmontar no remelexo rebolativo, triscávamos – apenas triscávamos – em suas cadeiras, viravamo-nos para o galinheiro – arquibancada – e lambíamos os dedos. Quase que o circo vinha abaixo, de tanto aplauso e gritaria da patuleia!

 

                        Cristina Amaral é minha amiga no Fecebook. Naquela noite de minha posse, adquiri na Passa Disco seus CDs então disponíveis: Anjo Azul, Dois Rubis, Eu Sou o Forró e Pérola Nordestina.

  

                        Numa pequena amostra desse maravilhoso DVD, disponibilizo-lhes, de Petrúcio Amorim e Bráulio de Castro, o áudio do rojão Eu Sou o Forró.

                        E, também, este youtube, onde ela interpreta Mamãe, Eu Quero Ser Rumbeira, rojão de Wilson Freire e César Amaral:

 


Música Nordestina domingo, 20 de novembro de 2016

DILU MELO, SANFONEIRA MARANHENSE

DILU MELO, A SANFONEIRA MARANHENSE

Raimundo Floriano

 

25.09.1913 - Viana (MA) – 24.04.2000 - Rio de janeiro (RJ)

 

                   Quando cheguei a Teresina (PI) para estudar, em fevereiro de 1950, era grande a boba rivalidade entre os adolescentes maranhenses e piauienses, estes cheios de convencimento por morarem numa capital tão evoluída, enquanto que nós, os forasteiros, só tínhamos mesmo para mostrar, assim à mão, a cidade de Timom, do outro lado do Rio Parnaíba, à época um dos municípios mais atrasados do Brasil. Para chegar-se lá, só de canoa, em travessia muito perigosa.

 

                   Os teresinenses deitavam e rolavam com o progresso de sua terra: dois grandes cinemas, três imponentes igrejas, colégios, Faculdade de Direito, quartéis da Polícia e do Exército, Estação Ferroviária, Escola Industrial, calçamento de paralelepípedo, ponte metálica, seminário, convento, prédio com elevador. Nós, principalmente os sul-maranhenses, que nada tínhamos para contra-argumentar, valiamo-nos dos valores culturais de nosso Estado, citando seus famosos escritores e poetas, dentre eles: Aluízio de Azevedo, Artur de Azevedo, Gonçalves Dias, Viriato Correia, Graça Aranha, Coelho Neto, Humberto de Campos, Bandeira Tribuzi, Odilo Costa Filho, Susândrade, Raimundo Correia, Catulo da Paixão Cearense e, para arrolhar a boca de qualquer piauizeiro mais entusiasmado, nosso trunfo artístico maior: a compositora, cantora e sanfoneira Dilu Melo!

 

                   Num cenário em que todo o Brasil era dominado pelas vozes de Chico Alves, Emilinha Borba, Silvio Caldas, Marlene, Nélson Gonçalves, Aracy de Almeida, Orlando Silva, Vicente Celestino e outros, Dilu Melo disputava a fama e a popularidade pau a pau com eles. Tanto no rádio, quanto no mercado fonográfico.

 

                  Maria de Lourdes Argolo Oiver, a Dilu, nasceu em Viana (MA), a 25.09.1913, e faleceu no Rio de Janeiro (RJ) a 24.04.2000.

 

                   Criada em Porto Alegre (RS), aos 13 anos ganhou medalha de ouro num concurso de piano, atuando depois em algumas rádios.

 

                   Casou-se em 1930 com o Engenheiro Carlos Rodrigues de Melo, união que durou pouco mais de dois anos.

 

                   Em 1938, foi par para o Rio de Janeiro (RJ), estreando na Rádio Cruzeiro do Sul e, no ano seguinte, compunha, em parceria com Ovídio Chaves, a toada Fiz a Cama na Varanda, por ela gravada em 1941, na Continental, com enorme sucesso.

 

                   Essa música foi relançada mais tarde por Inezita Barroso, Dóris Monteiro, Nara Leão, Cantores de Ébano, diversos conjuntos de rock e regravada na França, em versão.

 

                   Por influência de Antenógenes Silva, começou a tocar acordeom recebendo da imprensa a denominação de Rainha do Acordeom, título a que logo abdicou, ao compor, tocar e cantar músicas que valorizavam o nome da sanfona, instrumento que ajudou a popularizar lançar, de sua autoria e de J. Portela, o xote Qual o Valor da Sanfona? e o baião Os Dez Mandamentos do Sanfoneiro.

 

                   Naquele tempo, o instrumento era chamado concertina ou acordeom. Seus grandes intérpretes da época, como Pedro Raimundo, em Santa Catarina e Rio Grande do Sul, Antenógenes Silva, em Minas Gerais, Mário Mascarenhas e Sua Escola, em Minas Gerais e Adelaide Chiozzo, em São Paulo, tocavam acordeom. Contrapondo-se a eles, havia os sanfoneiros Luiz Gonzaga, seu irmão Zé Gonzaga, Sivuca – no início da carreira chamado de sanfonista – e Dilu Melo que, com Qual o Valor da Sanfona?, sacramentou esse nome por todo o Brasil.

 

                   Em 1944, registrou em disco a valsinha brejeira Lá na Serra, de Capiba, que se tornou sucesso nacional.

 

                   Pesquisadora do folclore brasileiro, além de pianista, violonista e harpista, viajou por todo o Brasil, divulgando seu repertório. Afastou-se da vida artística depois de 25 anos de carreira, mas ainda gravou um LP na Odeon e outro na Som.

 

                   Criou uma empresa teatral que produzia peças infantis e tornou-se professora na Escola de Música Sá Pereira, no Rio de Janeiro, ensinando dicção, impostação, danças folclóricas e História da Música.

 

                   São de sua autoria, além das já citadas, Dilu compôs Alecrim, toada gaúcha, Coco Babaçu, coco, Engenho D’Água, embolada, com S. Meira, Maravia, baião, com Jairo José, Saudades do Maranhão, valsa, com Roberto Martins, Telegrama, samba, Acalentando São Luís, toada, Meu Cariri, baião, com Rosil Cavalcanti, Balada do Pranto e da Chuva, toada, com Rose Gama, Quando Durmo de Pé Sujo, arrasta-pé, Nas Águas do Mearim, toada, Viana, Cidade Magia, valsa, Coisas Erradas do Mundo, rojão, com Mardokeo Nacre, Tristeza de Juriti, toada, Cabocla, baião, com Argolio de Sá, Candelabro, valsa, Coisas do Rio Grande, polca, Meia Canha, polca, com Ovídio Chaves, Meninos dos Olhos Tristes, xote, com Ovídio Chaves, Meu Barraco, choro, Redinha de Algodão, baião, Sapo Cururu, baião, e Vida de Artista, samba-canção. 

 

                   Dentre muitas músicas que gravou de autores diversos, destaca-se o motivo folclórico com arranjo de Antônio Almeida, Serenô – Serenô, eu caio, eu caio – valsinha brejeira que até hoje é cantada em todo o universo seresteiro.

 

                   Aqui vai uma pequena amostra de seu trabalho:

 

                   Qual o Valor da Sanfona?, xote de Dilu e J. Portela:

 

                    Fiz a Cama na Varanda, toada de Dilu e Olívio Chaves:

 

                    Lá na Serra, valsa de Capiba:

 

                   Serenô, motivo folclórico, arranjo de Antônio Almeida:

 

                   Saudades do Maranhão, valsa de Dilu e Roberto Martins

 


Música Nordestina domingo, 20 de novembro de 2016

ZITO BORBOREMA E O PRIMEIRO TRIO NORDESTINO

ZITO BORBOREMA

E O PRIMEIRO TRIO NORDESTINO

Raimundo Floriano

 

Zito Borborema

 

                        Eram três cabras danados, forrozeiros de talento que, depois de baterem cabeça e darem muito murro em ponta de faca por aí, desembarcaram no Rio de Janeiro em busca de um lugar ao sol na cidade maravilhosa. Seus nomes de batismo não ajudavam nada no cenário artístico: José Domingos de Morais, sanfoneiro, João Batista de Lima Filho, zabumbeiro, e Manoel Valdivino de Souza, vocalista, triangueiro e pandeirista. Por isso, ostentavam pseudônimos pelos quais passaram a ser conhecidos dali pra frente: Dominguinhos, Zé Minhoca – depois, Miudinho – e Zito Borborema.

 

                        Como não poderia deixar de ser, acoitaram-se na proteção de Luiz Gonzaga, o Rei do Baião, que os acolheu e os abençoou. Deu-lhes a mão e, com peso de seu prestígio, arranjou serviço para os três.

 

                        Tocando nos forrós cariocas, ora isoladamente, ora reunidos, vez em quando com o próprio Gonzagão, foram se afirmando no meio musical e desenvolveram trabalhos que os projetaram para o sucesso. 

 

Foto histórica e inédita, de 1956:

Luiz Gonzaga, Miudinho e Zito Borborema

 

                        No começo do ano de 1957, Luiz Gonzaga, reuniu os três e organizou um conjunto a que deu o nome pioneiro de Trio Nordestino, inspirado por Helena, sua mulher. O grupo durou apenas dois anos com sua formação original. Mais tarde, o título, que não detinha patente oficial, foi disputado pelos trios Baiano, formado por Lindu Cobrinha e Coroné, e Paulista, formado por Xavier, Heleno e Toninho.

 

                        Depois de desfeito o Trio Nordestino inicial, cada qual seguiu rumos diferentes, cada um com sua história, que pretendo aqui apresentar de forma resumida.

 

Foto histórica e inédita, de 1957:

Miudinho, Zito Borborema e Dominguinhos

 

                        DOMINGUINHOS nasceu em Garanhuns, Pernambuco, a 12.02.1941. Aos seis anos, com seus irmãos, já tocava sanfona de oito baixos nas portas dos hotéis e nas feiras de sua cidade natal, de Caruaru e de municípios vizinhos.  Aos sete anos, foi ouvido por Luiz Gonzaga, que lhe deu seu endereço no Rio de Janeiro.

 

                         Seis anos depois, ainda conhecido como Neném, indo morar com o pai e o irmão mais velho no subúrbio carioca de Nilópolis, onde participava de forrós nos finais de semana, resolveu procurar Luiz Gonzaga, que lhe presenteou com uma sanfona. Daí pra frete, sua carreira deslanchou.

 

                        Depois da morte de Luiz Gonzaga, em 1989, passou a ser considerado o seu substituto no cenário forrozeiro, assim como o maior sanfoneiro do País.

 

                        Com a cantora e compositora Anastácia, manteve durante certo tempo parceria musical e amorosa e lançou, em 1973, um xote que foi o maior sucesso da dupla, tocado em todas as casas de forró do Brasil e também, em ritmo de marchinha, no Carnaval daquele ano, permanecendo até hoje como uma das mais pedidas no reinado momesco: Eu Só Quero Um Xodó!

 

                        Dominguinhos, mercê de Deus, ainda não é passado. Tem a agenda lotada de shows e seus discos continuam à disposição nas boas discotecas, com vendagem compensadora.

 

                        MIUDINHO foi o único zabumbeiro de que eu tenho notícia a se dar bem na vida! Esse apelido lhe foi botado por Luiz Gonzaga, devido à sua pequena estatura: pouco mais de 1,50m! No dizer de Dominguinhos, foi o maior – na acepção de melhor – zabumbeiro do velho Lua!

 

                        Nascido em Fortaleza, Ceará, em 22.01.1931, encontrava-se em São Paulo, no início dos anos 50, trabalhando como servente de pedreiro, quando conheceu o sanfoneiro Zé Gonzaga, irmão do Rei, que lhe ensinou a arte da zabumbagem e lhe deu o nome artístico de Zé Minhoca, e com quem passou a tocar nos forrós da pauliceia, num trio sem nome formado pelos dois e pelo triangueiro Passinho.

 

                        Mudando-se para o Rio, militou no ambiente musical e forrozeiro até o final de 1959, quando o Trio Nordestino se desfez. Naquele ano, transferiu-se para Brasília, integrando o elenco da Rádio Nacional como percussionista.

 

                        Aqui, ao lado do trombonista Tio João, do saxofonista Tio Nilo, de Bide da Flauta, do violonista Alencar Sete Cordas, da flautista Odeth Ernest Dias e de Pernambuco do Pandeiro, foi presença constante nas rodas de choro comandadas pelo citarista Avena de Castro, fundador e presidente do Clube do Choro. Em 1961, passou a funcionário do Senado Federal, onde se aposentou.

 

                        Conheci-o em 2004, um ano antes de sua morte a 24.03.2005, aos 74 anos de idade vítima de enfarte. Era casado com Maria Auxiliadora, a Dona Sinhá, num enlace harmonioso que durou quase 51 anos. Residia em bela casa no Guará II, aonde tenho ido constantemente aperrear Dona Sinhá na busca de informações.

 

                        Muitos dos fatos que aqui narro, desconhecidos até agora, e as fotos históricas e inéditas acima estampadas me foram gentilmente repassados por ela, a quem sou imensamente grato e a quem estarei persistentemente recorrendo em minhas pesquisas.

 

                        Dona Sinhá é a memória viva do Forró. Marinês jamais deixou de ir a sua casa quando vinha apresentar-se em Brasília. Assim como Anastácia, Guadalupe, Dominguinhos e outros que, estando por aqui, sempre arranjam jeito de dar uma chegadinha lá, para lhe pedir sua bênção.

 

                        ZITO BORBOREMA nasceu na cidade de Taperoá, Paraíba, em data incerta e não sabida. Pouco se conhece de sua biografia. Consta que foi casado com Chiquinha do Acordeom e é pai de Perpétuo Borborema, integrante do atual Trio Pé-de-serra. É muito pouco, é quase nada.

 

                        Com voz aguda e excelente ritmo, não só na divisão vocálica, mas também no triângulo e no pandeiro, viveu grandes momentos na música nordestina.

 

                        Fez sua estreia em disco no ano de 1956, apresentando-se como Zito Borborema e Seus Cabras da Peste. São seus maiores sucessos e até hoje continuam pedidos nas rodas forrozeiras: Mata-Sete, Padre Cícero, Alegria da Festa, Gente da Gente, Bebendo nos Botequins, Corinthiano de Coração, O Mestre Não Quer, e Zé da Onça, este com a participação de Chiquinha.

 

                        Conheci-o nos Anos 1980, quando ele já morava em Brasília. Certa vez, num boteco de sua propriedade em Taguatinga, acompanhei-o em animada forrozada, ele na voz e no pandeiro, e eu dando vigorosas palhetadas no meu enjoadinho banjo. Muitas vezes o encontrei com seu conjunto, nas manhãs de sábado, fazendo propaganda em portas de lojas como Ponto Frio, Casas Nordeste, Lojas Riachuelo e Fofi.

 

                        Já faz mais de 20 anos que ele faleceu, segundo Dona Sinhá. A última vez em que estive com ele foi em 1984, no quintal do poeta e escritor Orlando Tejo, no casamento de nossos amigos Maurício Melo e Yara, do qual foi padrinho o Papa Berto I. Nesse dia, ele ainda tinha um grupo organizado no esquema tradicional: vocal, sanfona, zabumba e triângulo. Depois disso, perdi o contato.

 

                        Estas são as músicas de Zito que possuo em meu acervo:

 

  1. Alegria da Festa - Arrasta-pé (Florivaldo Ferreira e Jorge Santos)
  2. Baião da Corda - Baião (Venâncio e Corumba)
  3. Bebendo nos Botequins - Samba (José Pereira)
  4. Bichinho da Goitana - Forró (Elias Soares e Antônio Vilarinho)
  5. Casamento Encrencado - Xote (Cumpadre e Elias Soares
  6. Coco Brejeiro - Coco (Zito Borborema e Antônio Barros)
  7. Corina no Frevo - Frevo-Canção (Henrique G. da Silva e Edgard Ferreira)
  8. Corinthiano de Coração - Samba (Zito Borborema e Guilherme de Almeida)
  9. Coró-có-tum - Xaxado (Venâncio e Corumba)
  10. É Só Saudade - Xote (Oséas Lopes e Luiz Guimarães)
  11. Fandango no México - Forró (Zito Rorborema e J. B. de Lima)
  12. Forró no Alecrim - Forró (Venâncio e Corumba)
  13. Gente da Gente - Forró (Antônio Brasil, Nilza Brasil e Haidée Santos)
  14. Maria do Norte - Samba (Téo Macedo e Martins Neto)
  15. Mariana - Carimbó (Valente do Agreste e Ângelo Coelho)
  16. Mata-Sete - Forró (Venâncio e Corumba)
  17. Matei a Saudade - Frevo-Canção (Zito Borborema, C. M. Koehler e M. A. Peixoto)
  18. O Bom Vaqueiro - Coco (Alventino Cavalcante e Ayres Viana)
  19. O Mestre Não Quer - Samba (Mões Filho e Carlos Gonçalves)
  20. Oito de Dezembro - Samba (Kozó)
  21. Olha o Peixeiro - Forró (Renato Araújo e José Simões Sales)
  22. Padre Cícero - Forró (José Cavalcante e Dílson Dória)
  23. Prego Batido, Ponta Virada - Forró (Luiz Vieira e Porfírio Costa)
  24. Rendeira - Forró (Zé Dantas)
  25. Sigo Meu Destino - Baião (Zito Borborema e Antônio Cunha)
  26. Tempo de Molecote - Xote (Venâncio e Corumba)
  27. Trem Vazio - Xote (Valdemar Gomes e Sebastião Fonseca)
  28. Tudo Errado - Forró (Gerôncio Cardoso)
  29. Vizinha Faladeira - Forró (Venâncio e Corumba)
  30. Zé da Onça - Baião (João do Vale e Abdias) Participação de Chiquinha do Acordeom

 

                        Em singela homenagem, e pela grande admiração que sempre tive por sua marcante voz, suas inspiradas composições e seu agradável repertório, aqui vai pequena amostra do que nos deixou:

 

                        Zé da Onça, baião de João do Vale e Abdias, com a participação de Chiquinha do Acordeom:

 

                      Bebendo nos Botequins, samba de José Pereira:

 

                        Gente da Gente, samba de Antônio Brasil, Nilza Brasil e Haidée Santos:

 

                        Mata-Sete, rojão de Venâncio e Corumba:

 

                        Oito de Dezembro, samba de Kozó:

 

                        Sigo Meu Destino, baião de Zito e Antônio Cunha:

 


Música Nordestina sábado, 19 de novembro de 2016

MARINÊS, A PIONEIRA DO FORRÓ

MARINÊS, PIONEIRA DO FORRÓ

Raimundo Floriano

 

Marinês

(16.11.1935 – 14.05.2007)

 

                        Mulher corajosa! Mulher talentosa! Mulher pioneira no Forró!

 

                        Com seu aparecimento, ainda na década de 50, deu início à era feminina na atividade forrozeira, saindo dos palcos e dos estúdios e ganhando as ruas, as estradas, o planeta.  Muito contribui para isso seu casamento com o sanfoneiro e compositor Abdias Filho. Formando o conjunto Marinês e Sua Gente, percorreu todo o Brasil, encantando, maravilhando, extasiando com aquela nova roupagem que dava a um ritmo até então quase que exclusivo do sexo masculino, onde dominavam o machismo e o preconceito.

 

                        Atuou com todos os medalhões da época, como Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro, Zito Borborema e Miudinho. Vocês já ouviram falar de Zito e Miudinho? Não? São os dois, que juntamente com o sanfoneiro Dominguinhos, formaram o primeiro Trio Nordestino, com Zito no vocal e no triângulo e Miudinho no zabumba.

 

                         Com Marinês, surgiu a malícia no forró. Peba na Pimenta, de João do Vale, José Batista e Adelino Rivera, trouxe esse tempero especial que, daí pra frente, floresceu e se consolidou. A multidão ia à loucura nas praças quando, após sua interpretação do Peba, berrava, perguntando em uníssono:

 

                        – Ardeu, Benta?

 

                        Marinês respondia, lá do palco, ao microfone:

 

                        – Ardeeeeeu!

 

                        Novamente a turba:

 

                        – Mas tu gostou?

 

                        E ela:

 

                        – Gosteeeeei!

 

                        Marinês Caetano de Oliveira nasceu em São Vicente Férrer (PE), a 16.11.1935 e faleceu no Recife (PE), a 14.05.2007.

 

                        Seu vasto repertório ficou na memória de todos os curtidores do Forró, como, além de Peba na Pimenta, Balanceiro da Usina, arrasta-pé de João do Vale e Abdias, Quatro Cravos na Lapela, rojão, de Jarbas Maria e Cátia França, Siriri, Sirirá, arrasta-pé, de Onildo Almeida, Jeito Manhoso, rojão, de Nando Cordel, Chamego na Farinha, rojão, de Cecéu, Siu, Siu, Siu, arrasta-pé, de Onildo Almeida, Forró Pé-de-chinelo, rojão, de Cecéu, Ora, Viva São João, arrasta-pé, de Antônio Barros, Forrobodiado, rojão, de Onildo Almeida, dentre outros.

 

                        Pesquisando em todas as Comunidades orkutianas relacionadas com o forró e no site 4Shared, cheguei à conclusão de que a música do repertório de Marinês mais pedida em todos os tempos é Siriri, Sirirá, que tenho o prazer de disponibilizar-lhes, para sua audição e deleite:

 

                        E mais estas faixas que a fizeram bem conhecida em todo o Brasil:

 

                        Peba na Pimenta, xote de João do Vale, José Batista e Adelino Rivera:

 

                        Jeito Manhoso, rojão de Nando Cordel, com Marinês e participação de Jorge de Altinho:

 

                        Bate, Coração, xote de Cecéu, depois gravado por Elba Ramalho:

 


Música Nordestina quarta, 16 de novembro de 2016

ANASTÁCIA, O XODÓ DO BRASIL

ANASTÁCIA, O XODÓ DO BRASIL

Raimundo Floriano

 

Dois momentos de Anastácia 

                        Anastácia, batizada Lucinete Ferreira, nasceu no Recife, PE, a 30.05.1941. O pseudônimo foi-lhe dado pelo sertanejo Palmeira, da dupla Palmeira & Biá.

 

                        Começou a interessar-se por música aos sete anos, quando costumava acompanhar um cantador de coco do bairro de Macaxeira, onde morava.

 

                        Já como profissional de, 1954 a 1960, cantou na Rádio Jornal do Comércio de Pernambuco, indo depois para São Paulo.

 

                        Participou de shows no interior paulista, primeiro com a Caravana do Peru Que Fala, chefiada por Silvio Santos, e, em seguida, com Venâncio e Corumba.

 

                        Contratada pela Chantecler, em 1960, gravou seu primeiro compacto duplo com as músicas Noivado Longo, de Max Nunes, Chuleado, A Dica do Deca e Forrofiá, estas de Venâncio e Corumba. Sua primeira composição gravada foi Conselho de Amigo, parceria com Italúcia, interpretada pelo cantor Noite Ilustrada, em 1963.

 

                        Nos anos seguintes, gravou 4 elepês pela Continental, com boa aceitação no Nordeste.

 

                        Em 1968, ao participar do programa Noite Impecável, de Luiz Gonzaga, na TV Continental, do Rio de Janeiro, conheceu o sanfoneiro Dominguinhos, com quem formou parceria musical e amorosa. Inicialmente, com Um Canto de Amor, concorreram ao Festival de Música Regional Nordestina, em 1969, promovido pela TV Bandeirantes, de São Paulo, e ainda De Amor Não Morrerei, que tirou o segundo lugar, ambas interpretadas por Marinês.

 

                        O maior sucesso da dupla foi Eu Só Quero Um Xodó que, executado e cantado em ritmo de marchinha, estourou no Carnaval de 1973, consagrando-se nos seguintes. Gravado em ritmo de toada por inúmeros cantores, dominou as paradas e se tornou item obrigatório em qualquer antologia forrozeira. Também merecem destaque suas composições com Liane, a mais recente e constante parceira.

                        Anastácia continua cantando, gravando e fazendo shows por todo o Brasil, com agenda lotada, e seus discos podem ser encontrados nas lojas do ramo ou nos sites de venda na Internet, como ameriacanas.com, submarino.com e videolar.com.

 

                        No ano passado, lançou, em parceria com a escritora Leda Dias (leda65@hotmail.com), o livro Eu Sou Anastácia, precioso documento sobre sua vida e o cenário forrozeiro em que vive. Ilustrado, com 376 páginas, é item imprescindível na estante de qualquer pesquisador da MPB.

  

                        Para vocês, um pouco de seu trabalho: 

                        Eu Só Quero Um Xodó, toda de Anastácia e Dominguinhos, na interpretação de dela e de Gilberto Gil:

 

                        Forró do Xenhenhém, rojão de Anastácia:

 

                        Arrasta-pé da Alegria, arrasta-pé Anastácia e Oscar Barbosa:

 

                        Eu Quero Você, Neném, xote de Anastácia e Liane:

 

                        Tenho Sede, toada de Anastácia e Dominguinhos, interpretada pelos dois:

 

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Música Nordestina quarta, 16 de novembro de 2016

É DE DAR ÁGUA NA BOCA, CANTAM NANDO CORDEL E AMELINHA


Música Nordestina quarta, 16 de novembro de 2016

NINO E SEU TRIO PRANOÁ

NINO E SEU TRIO PARANOÁ

Raimundo Floriano

 

Trio Paranoá: Miudinho na zabumba e Nino ao centro

Foto inédita - Acervo de Dona Sinhá, viúva do Miudinho 

                        O Trio Paranoá foi o primeiro conjunto forrozeiro da Capital da República. Sem medo de errar, afirmo que foi o segundo a surgir no Brasil, depois do Trio Nordestino, formado por Dominguinhos, Zito Borborema e Miudinho, que durou do começo de 1957 até meados de 1959.

 

                        O Trio Paranoá formou-se no ano de 1958, na Cidade Livre – atual Núcleo Bandeirante –, que foi criada antes da construção de Brasília, como parte das obras de infra-estrutura necessárias à concretização do grande sonho de JK. A Companhia Urbanizadora da Nova Capital - Novacap abriu, no fim de 1956, as principais avenidas da Cidade Livre que, devido não contar com habitação para todos os que para cá acorriam, foi sofrendo invasões e, em 1960, já contava com 12.000 habitantes. Eram, principalmente, os pioneiros candangos que trabalhavam na construção da cidade, em sua maioria nordestinos.

 

                        E foi num parque de diversões da Cidade Livre que os componentes do Trio se conheceram e decidiram formar o conjunto. Na verdade, eram 4 os integrantes, com a denominação de Nino e Seu Trio Paranoá. Por isso, em sua homenagem, o Trio gravou o samba Cidade-Mãe, composição de Vira-Vira e Antônio Soares.

 

                        Esta era a formação do conjunto: Nino Braçanã, de Monteiro (PB), no vocal, Antônio Veles da Silva, o Seu Antônio, de Campina Grande (PB), na zabumba, Edinho Maia na sanfona e Zé do Xaxado no triângulo.

 

                        O Trio Siridó, conjunto forrozeiro mais duradouro de Brasília, do qual aqui falei no dia 9 deste mês, é filhote dileto do Trio Paranoá.

 

                        Durante os tempos pioneiros, o Trio Paranoá atuava num programa na Rádio Nacional, nas manhãs de domingo, denominado Brasília Canta para o Brasil, que, naquele período de precariedade nas comunicações, não só apresentava músicas, como enviava notícias dos candangos para todos os cantos do País.

 

                        Inicialmente, o Trio Paranoá gravou dois compactos simples, com apenas duas faixas, uma de cada lado. O primeiro trazia Baião de Cartola, baião de José Vieira, e Pirão Gostoso, rancheira de Eronides de Souza e Luiz Diana; o segundo, Quero Voltar, toada de João Alves de Oliveira Sobrinho, e O Casamento da Carolina, xote de Antônio Livino.

 

                        Embora a gravação dessas faixas tenha saído posteriormente, elas já faziam parte do repertório do Trio Paranoá desde os primeiros programas. O Casamento da Carolina era seu cavalo de batalha, tocado em todas as edições de Brasília Canta Para o Brasil. E, por isso mesmo, selecionei-a para levar ao conhecimento da Comunidade Fubânica.

 

                        Tempos depois, o conjunto gravou seu primeiro LP, Brasília Canta Para o Brasil, com estas 12 faixas: 

                        01 - Orgulho de Uma Nação, de Ortêncio Aguiar e Teixeira Filho

                        02 - Meu Sonho Lindo, de João de Oliveira e Arlindo Vieira

                        03 - Maria Rosa, de Miudinho e Walter Pinheiro

                        04 - Aprendi na Capitá, de Sesse Souza e Nuninho Santos

                        05 - Nós Três e Meu Cavalo, de Venâncio e Zé do Baião

                        06 - Rosa Bonita, de Poerame de Lima e Romeu de Lima

                        07 - O Casamento da Carolina, de Antônio Livino

                        08 - Duas Flores, de João Oliveira e Arlindo Vieira

                        09 - Sargento Benedito, de Barra Limpa e Chico Gil

                        10 - Visitando o Canindé, de Antônio Livino e Joaquim Lins

                        11 - Tudo É Meu, de Luiz Salvador e Joaquim Lins

                        12 - Na Sombra do Boi, de João Thomé

 

                 Capa repaginada do primeiro LP                       

                        Em maio de 1968, o Trio Paranoá gravaria seu segundo LP, Foguete Baiano, hoje ainda encontrável no merca do virtual, cujas 12 faixas aí vão:

 

                        01 - Foguete Baiano, rojão de Aurino Sant’Ana das Neves, o Tira-Teima

                        02 - Sombra do Cajueiro, coco de Nino Braçanã e Antônio Bispo

                        03 - A Volta do Mata-Sete, xote de Fernando Silva e Cosme do Amaral

                        04 - Saudades de Belém, rojão de Fernando silva

            ‘           05 - Mariazinha, coco de Paulo Gitirana, Josilima e Pechincha

                        06 - Terreiro de Fulô, arrasta-pé de Paulo Gitirana e Josilima

                        07 - Zé Modesto, baião de Miudinho

                        08 - Progresso da Bahia, coco de Raimundo Dantas

                        09 - Noite de São João, marcha de Bruno Linhares

                        10 - Cidade-Mãe, samba de Vira-Vira e Antônio Soares

                        11 - Uma Prece Para os Homens Sem Deus, rojão de Gordurinha

                        12 - Pagode Alagoano - baião de Venâncio e Januário

 

Capa original do LP Foguete Baiano

                       

                        Paralelamente a sua atuação na Rádio Nacional, Nino inaugurou e manteve por muitos anos primeiro espaço forrozeiro noturno do Distrito Federal, o Forró do Nino, na cidade-satélite de Taguatinga. Era ali que se congregavam todos os curtidores do Forró, com danças, espetáculos, apresentação de conjuntos e cantadores nordestinos, verdadeira curtição para uma região com poucas opções de lazer.

 

                        Permitam-me contar lance acontecido no Forró do Nino. No início dos Anos 70, em certa noitada, presentes o amigo e escritor Luiz Berto – que ainda não era Papa – e eu, casa lotada, começou tremendo bafafá, com dois brabos do pedaço se pegando, um corre-corre danado. Mas não havia perigo de facada nem de bala perdida. Os cabras usavam para se agredirem armamento do mais inusitado: uma porta! E era portada num, portado noutro, até que chegou o Freitas, cearense baixinho, forte e invocado, segurança competentíssimo, que não quis nem ouvir conversa: lascou sonora chapuletada no pé do ouvido de cada um dos contendores, os quais desembestaram na carreira, acabando-se o rebu. Com o Freitas era assim: primeiro a porrada, depois, a apuração dos fatos.

 

Trio Paranoá em festa na Granja do Torto

Foto inédita - Acervo de Dona Sinhá, viúva do Miudinho

                        Hoje, o Trio Paranoá é saudade. Assim como Forró do Nino, que não sobreviveu á onda avassaladora que varreu cenário artístico brasileiro, com o rock, a jovem guarda e a TV comandando tudo isso.

 

                        A música que lhe apresento aqui, O Casamento da Carolina, não é a mais bonita do repertório do Trio Paranoá. Foguete Baiano, por exemplo, de nosso amigo Tira-Teima e já disponibilizada aqui pelo Papa Berto, seu compadre, é gostosa interpretação. Mas o xote O Casamento da Carolina, além de caracterizar o início da vida candanga, é peça raríssima, só disponível mesmo aqui, a partir dagora, neste furo de reportagem. É uma citação. Veio no rastro de O Cheiro da Carolina, xote de Zé Gonzaga e Amorim Roxo, gravação de Luiz Gonzaga, o Rei do Baião, no ano de 1956. Ouçam-no, com outros sucessos do Trio: 

                        O Casamento da Carolina, xote de Zé Gonzaga e Amorim Roxo:

 

                        A Volta do Mata-Sete, xote de Fernando Silva e Cosme do Amaral:

 

                        Foguete Baiano, rojão de Arino Sant’Ana das Neves, o Tira-Teima:

 

                        Noite de São João, arrasta-pé de Paranoá Bruno Linhares:

 

                        Quero Voltar, toada de João Alves e Oliveira Sobrinho:

 

                        Sombra do Cajueiro, coco de Nino de Braçanã e Antônio Bispo:

 

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Música Nordestina quarta, 16 de novembro de 2016

TRIO SIRIDÓ, TRADIÇÃO FORROZEIRA CANDANGA

TRIO SIRIDÓ, TRADIÇÃO FORROZEIRA CANDANGA

Raimundo Floriano

 

Mocó, Torres do Rojão e Djaci 

                        José da Silva Torres, o Torres do Rojão, vocalista, triangueiro e compositor, nasceu em Campina Grande (PB), no dia 14.06.1944.

 

                        Começou cantando em Caruaru (PE), onde fazia bicos para sobreviver. Ainda adolescente, mudou-se para o Rio de Janeiro (RJ), sempre perseguindo seu ideal de se firmar na carreira de cantor. Lá, empregou-se como operário na empresa CIB - Companhia de Carrocerias Brasileira e, nos finais de semana, cantava numa casa noturna chamada Flamenguinho, de onde tirava mirrado adjutório para seu sustento.

 

                        Bateu cabeça por São Paulo (SP) e, em 1962, aportou em Brasília (DF), de onde nunca mais saiu, trabalhando, inicialmente, na indústria gráfica.

 

                        No transcorrer da carreira, atuou com célebres nomes da música forrozeira: Jacinto Silva, Oswaldinho, Camarão, Téo do Baião, Sivuca, Jackson do Pandeiro, Joci Batista, Marinês, Dominguinhos, Anastácia, Elba Ramalho, Luiz Gonzaga, Zé Gonzaga, Abdias, Miudinho, Manoel Serafim, Elino Julião e tantos outros.

 

                        Nos anos de 1963 e 1964, aqui se engrenou com o Nino, vocalista e ritmista, líder de um conjunto famosíssimo na época, o Trio Paranoá, pioneiro do forró nordestino no Distrito Federal, não só pelo Trio, mas também pela casa noturna de sua propriedade, o Forró do Nino, na cidade-satélite de Taguatinga. O Trio Paranoá também mantinha um programa da Rádio Nacional de Brasília, nas manhãs de domingo, o Brasília Canta Para o Brasil. Torres dava canja por lá.

                       

                        A 12 de junho de 1972, Torres fundou o Trio Siridó. E já se vão quase 40 anos! Era esta a formação inicial, que foi a mais duradoura: Torres do Rojão, vocalista e triangueiro, Mocó, zabumbeiro, e Djaci, sanfoneiro. É o conjunto que domina a maioria dos arraiais forrozeiros no Planalto Central durante o período junino. No restante do ano, vira-se como pode. Apresenta-se em bares, boates, restaurantes, churrascarias e em shows de artistas de fora que visitam Brasília. Como, aliás, aconteceu em 5 de julho de 1982, no último espetáculo de Jackson do Pandeiro que, vítima de enfarte no dia seguinte, já no Aeroporto para retornar ao Rio de Janeiro, faleceu no Hospital Santa Lúcia no dia 10. Podemos afirmar, sem medo de erro, que este conjunto é filhote do Trio Paranoá e seu sucessor na Capital da República, sem rival que se lhe emparelhe.

 

                        No tempo do vinil, o Trio Siridó gravou 7 elepês, todos com boa vendagem nas casas do ramo: Progresso da Mandioca, Que Nem Sapo na Lagoa, Até o dia Amainsá, Eu Sou de Lá, Flor Mulher, Forró em Maceió e Quero Te Balançar. Na era do CD, a coisa se complicou. Seus discos passaram a produção independente, e a gravação de cada álbum é um parto com muita dor, só possível com a colaboração de seus amigos mais chegados, que nos quotizamos em vaquinha para a consecução da empreitada. Em meu acervo, possuo todo o repertório desses elepês.

 

                        Luiz Berto em muito contribuiu para essa história da sobrevivência do Trio. Em 1984, empresariou show dançante a que deu o título de Forró Pisa na Fulô, onde, semanalmente, se apresentava uma atração forrozeira nacional e global, com o Trio Siridó fazendo a prata da casa e carregando o piano.

 

                        Ainda nos Anos 1980, Luiz Berto, como Diretor Social da ASCADE - Associação dos Servidores da Câmara dos Deputados, deu uma sacudida naquele então vetusto clube, promovendo forrós semanais com a animação do Trio Siridó. Foram noites memoráveis, que se acabaram tão logo Luiz Berto deixou o cargo. Fez história e deixou saudades!

 

                        Em 1992, no quintal de Luiz Berto, na Asa Norte, num dos nossos domingos forrozeiros, que duravam por todo o dia, o Torres, a toda hora, mencionava bela senhorita, chamada Socorro, ali presente, que lhe dera a mão e outras coisinhas mais, em momento de muita atribulação financeira. Surgiu, então, o desafio de que fosse composta uma música, no ato, com o seguinte tema: Na hora da precisão, Socorro me socorreu. Foi trabalho a 8 mãos. Quase entrei na parceria, mas não me pediram a revisão gramatical. Nem precisava. No final, saiu o excelente xote Anjo da Guarda, destes inspirados gênios: Torres, Luiz Berto, Giba e Kalango.

 

Dois vinis do Trio Siridó à venda em mercados virtuais 

                        A história da autoria de Anjo da Guarda já foi melhor contada por um de seus protagonistas, o Papa Berto I, a seu modo, em duas ocasiões: no dia 05.11.08, sob o título De Como Me Tornei Compositor, e no dia 08.03.09, sob o título Conversa de Domingo, desta vez com o Trio Siridó interpretando-a.

 

                        O conjunto não se ateve só às glórias do passado. Soube adaptar-se aos novos tempos, à tecnologia, enfim, ao Século XXI. Com o atual esquema Trio Siridó e Banda, imprimiu nova roupagem ao som e à cozinha rítmica, sem, no entanto, perder a autenticidade, a pureza e a fidelidade às suas raízes nordestinas, ao legítimo forró pé-de-serra. Esta é sua composição atual: Torres do Rojão, Dico na Sanfona, Cipó na zabumba e Taciva e Valdinei nos vocais, além de outros no teclado, nas cordas e na percussão.

 

Detalhe do Trio Siridó e Banda 

Este é o repertório mais conhecido do Trio Siridó:

 

  1. Eu Sou de Lá - Forró (Cecéu)
  2. Lembrando o Nordeste - Forró (Torres do Rojão, Mocó e Djaci)
  3. A Lacraia - Forró (Torres do Rojão, Mocó e Degas Muniz)
  4. O Forrozeiro - Arrasta-pé (Cecéu)
  5. Arredonda - Forró (Tôrres do Rojão e Rômulo Marinho)
  6. Moça Bonita - Forró (Edélson Moura)
  7. O Nordeste Brasileiro - Forró (Torres do Rojão, Mocó e Djaci)
  8. Que Nem Sapo na Lagoa - Xote (Cecéu)
  9. Mariazinha - Forró (Belinho e Marcelo Reis)
  10. Festa do Vaqueiro - Forró (Antônio Bispo da Silva e Estênio Campeiro)
  11. Até o Dia Amainsá - Forró (Cecéu)
  12. Rainha do Seridó - Forró (Dosinho e José Emídio)
  13. Sonho Decifrado - Xote (Josilima)
  14. Rainha da Borborema - Forró (Antônio Barros)
  15. Comadre Zefa - Forró (Belinho e Marcelo Reis)
  16. Vivo Por Te Amar - Forró (Lagartixa)
  17. O Imbuzeiro - Forró (Lagartixa e Djaci)
  18. Flor Mulher - Xote (Djaci, Degas Muniz e Cid Maciel)
  19. Tamanco da Maria - Forró (Djaci e Osvaldo Oliveira)
  20. Progresso da Mandioca - Xote (Torres do Rojão e Damião)
  21. Balanço da Menina - Arrasta-pé (Mocó, Djaci, Luiz de Lima e Geny)
  22. Saudade da Bahia - Forró (Torres do Rojão, Araújo do Norte e Estênio Bezerra)
  23. Recordando o Nordeste - Forró (Djaci, Luiz de Lima e Geny)
  24. Vamos Tomar Quentão - Arrasta-pé (Torres do Rojão, Luiz de Lima e Geny)
  25. Beliscando a Manuela - Forró (Mocó, Otto Ribeiro e Abílio Primavera)
  26. Plano Piloto - Forró (Alceu Valença e Carlos Fernando)
  27. Rosa Linda - Forró (Torres do Rojão e Airtom de Oliveira)
  28. Esta Caminhada - Forró (Torres do Rojão e Anastácia de Oliveira)
  29. Dai a César o Que É de César - Forró (Torres do Rojão e João de Barro)
  30. Anjo da Guarda - Xote (Torres do Rojão, Luiz Berto, Giba e Kalango)

 

                        Para vocês, pequena amostra do trabalho do Trio e Banda: 

                        Lembrando o Nordeste, rojão de Torres do Rojão, Mocó e Djaci, com o Trio Siridó em sua formação original.

 

                        Eu Sou de Lá, rojão de Cecéu:

 

                        O Forrozeiro, arrasta-pé de Cecéu:

 

                        Flor Mulher, xote de Djaci, Degas Muniz e Cid Maciel:

 

                        Recordando o Nordeste, rojão de Djaci, Luiz de Lima e Geny:

 

                        Plano Piloto, rojão de Alceu Valença e Carlos Fernando:

 

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Música Nordestina terça, 15 de novembro de 2016

MARIVALDA, A FORROZEIRA DA AMAZÔNIA

MARIVALDA, A FORROZEIRA DA AMAZÔNIA

Raimundo Floriano 

 

                        Em minha vida circense – fui, por seis meses, ajudante de palhaço no Circo Cometa do Norte – e na observação dos circos que frequentei desde a infância, aprendi muitos macetes e tiradas chistosas, além de cançonetas, pegadinhas, charadas e paródias que, na atualidade, me proporcionam sucesso garantido nas comunidades a que pertenço, a Malhação e a Hidroterapia, onde disponho de plateia cativa para o palhaço que continuo teimando em não deixar de ser.

 

                        Plateia sempre renovada, pois há os que desistem das atividades logo no começo, os que só as praticam enquanto a mensalidade é custeada pelo plano de saúde, os que nelas ficam durante o prazo determinado pelo médico, enfim, por vários motivos que me asseguram sempre caras novas para se divertirem com as besteiras que falo ou com as presepadas que apronto. Nestes 10 anos de Malhação e 7 de Hidroterapia, conheci mais de 500 pessoas diferentes nessas coletividades flutuantes, dentre os que vieram, os que foram e os que ficaram.

 

                        Adiante, darei um apequena amostra dos bordões mais apreciados de meu vastíssimo repertório.

 

                        Nas festinhas de fim de ano, declamo o poema a seguir, que me foi transmitido pelo Palhaço Garrafinha:

 

O CEGO TIMÓTEO

 

Pelas tortuosas ruas de Jerusalém

Seguia a procissão

Uma multidão de homes, mulheres e crianças

Acompanhava o andor

Na frente, ia o Cego Timóteo

Tocando seu flautim

 

De repente, num raio de luz

Apareceu um anjo, que perguntou:

– Quem de vós está tocando esse instrumento?

E o Cego respondeu:

– Sou eu, senhor, o Cego Timóteo

O mais humilde dos teus servos!

E o anjo, num gesto de piedade divina

Pousando a mão sobre a cabeça do Cego

Assim falou:

– És tu, Cego Timóteo

Que enxergar as belezas do mundo

Nunca conseguiu?

 

– Vai tocar ruim assim na puta que te pariu!

 

                        Com o Palhaço Zé Gaiola, aprendi esta paródia da marchinha Querido Adão, de Benedito Lacerda e Oswaldo Santiago, gravação de Carmen Miranda para o Carnaval de 1936:

 

Adão, Adão, meu querido Adão

Que é que tu tens

Que andas bancando o inocente?

– Foi um lero-lero com a Eva

E quem pagou foi a coitada da serpente!

 

Adão no Paraíso, coitado, andava liso

Não tinha o que vestir

Adão no Paraíso andava bancando o coió

Não tinha calça e muito menos paletó

Eva de traiçoeira trepou na goiabeira

E Adão ficou debaixo esperando com a peneira

Mas foi tão grande a gulodice do Adão

Que Eva foi quem teve a indigestão

 

Veio o Anjo Vingador

Deu um chute no Adão

Pegou também a Eva

E mandou lamber sabão

– Eles não ficam aqui, Seu Noé

O Éden não cabaré!

 

                        Lá na Malhação, temos um colega alemão fogoió do olho azul, o Schiffer, casado com uma bela morena sergipana. Todos os anos, eles vão às terras natais do casal, primeiro Santa Catarina, depois Sergipe. Por isso, os aniversários, costumo largar esta quadrinha, que a todos muito diverte:

 

Schiffer vêi de Blumenau

Depois foi pra Aracaju

Tomar bãe de mar no Norte

Depois de tomar no Sul!

 

                        Essa eu adaptei do xote Viagem da Carmelita, gravado por Marivalda, minha personagem desta semana, cujo trabalho vim a conhecer no início dos Anos 1980, num desses programas culturais da TV que passam pela manhã, fazendo a Dança do Jumento. Imediatamente, me amarrei em seu visual, em sua atuação e em sua música, chegando a pensar assim: – Se eu fosse dono dum circo, Marivalda seria a estrela, a artista principal do espetáculo.

 

                        E com muita razão. Foi ela a primeira cantora a implantar o humor na música forrozeira, coisa que veio a se adequar perfeitamente com o que ela sabe fazer. Foi, também, a idealizadora da Banda e Bloco Jegue Elétrico, até hoje o maior sucesso no verão do Sul da Bahia. 

  

                        E aí comecei a adquirir seus elepês, gamadão por sua música, que tem muito da Amazônia, do Nordeste, do Brasil e da vida circense.

 

                        Maria Valníria Pinheiro, a Marivalda, nasceu na Década de 1940 no sítio Milhã Velha, município de Milhã, região central do Ceará, filha de Joaquim Luiz Pinheiro e Geralda Lopes Pinheiro, integrando-se à numerosa família de 18 irmãos, oriundos de 3 casamentos de seu genitor. Perdendo sua mãe aos 3 anos de idade, Marivalda descobriu, desde a infância, sua propensão para a arte de cantar.

 

                        Aos 14 anos, iniciou-se no cenário artístico, cantando em sua cidade natal, em festejos de igrejas, cidades e sítios de sua região. Aos 15 anos, seu pai decidiu colocá-la num colégio interno na cidade do Recife (PE), espécie de orfanato do Juizado de Menores, temendo ele pelo futuro e pela liberdade de escolha de vida de sua filha.

 

                        E foi no Recife que Marivalda optou por ser uma forrozeira pé-de-serra. A 31.05.1957, na Festa de Coroação de Nossa Senhora do Carmelo, houve um grande evento em frente à igreja da Padroeira, e lá, numa apresentação das meninas do orfanato, com Marivalda, fazendo parte do grupo, conheceu ela naquele dia Jackson do Pandeiro, que a convidou para com ele dividir o palco, na interpretação do xote Moxotó e do rojão O Canto da Ema. Era o começo de sua carreira.

 

                        No princípio, não foi fácil. Depois de perambular por várias localidades à procura de apoio artístico, e não o encontrando, pensou que seu sonho já estivesse se acabando e partiu para seu primeiro casamento, aceitando a rotina de ser dona de casa e criar filhos.

 

                        Anos depois, em 1973, desfeito o casamento e com três crianças para sustentar, Marivalda arribou para São Paulo com seus filhos, disposta e exposta a tudo, com a firme determinação de lutar pelo sonho que havia deixado para trás. Em 1974, gravou seu primeiro disco, Você Pode Ficar Rico na Zoeira, uma produção de Pedro Sertanejo, pela gravadora Japoti. No estúdio de gravação, conheceu um gaúcho de Santa Maria, o produtor Zeca Costa, com quem até hoje está casada, e o Maestro Oscar Gomes, seu padrinho artístico, que a levou para a gravadora RGE/Fermata. Desde então, entre discos de vinil e CDs, já gravou 28 álbuns.

 

                        Em 1976, quando numa turnê pela Amazônia, conheceu Luiz Gonzaga, que também fazia temporada por lá. Juntando-se à caravana do Rei do Baião, fazia a abertura de seus shows. Gonzagão aconselhou-a a ficar naquela região, que era constituída por nordestinos e seus descendentes, público consumidor do gênero, o que seria muito proveitoso, tendo ela aceitado essa abalizada opinião.

 

                        Em 1983, no auge da febre dos garimpos da Amazônia, Marivalda gravou uma fita Demo de 12 faixas com as músicas Mulher de Garimpeiro, Toco Cru, Pintinho no Galinheiro, Faisquei e Peguei Fogo, Eu Quero É Mais, Xaxazando e Rezando, Festa na Farinhada, Gavião Calçudo, Papagaio Dudu, Paixão e Desejo, Lambada Lambida e Baião de Propriá. Tendo 4 dessas faixas censuradas, Marivalda agiu independentemente, lançando a fita por conta própria, que alcançou a marca de 80.000 cópias vendidas no mercado paralelo para os garimpeiros.

 

                        Diante desse fenômeno, a gravadora Copacabana agiu depressa e, através de seus representantes na Amazônia, contratou-a, lançando a fita Demo em elepê, que ultrapassou a marca de 100.000 cópias vendidas e tirou a cantora e compositora do anonimato.

 

                        Em 1984, em outro encontro com Luiz Gonzaga na Região Norte, ele declarou que o povo amazônida já conhecia Marivalda e o imenso valor de sua obra, e vaticinou que, um dia, a mídia nacional iria descobri-la, não importa a época, e revelaria essa grande artista, pois Marivalda, por sua garra e sua luta, merecia lugar de destaque na História da Música Brasileira.

 

                         Por várias vezes, em diversas localidades amazônicas, Marivalda dividiu o palco com Genival Lacerda, por quem tem grande respeito e admiração, João do Vale, Messias Holanda, Marinês e outros consagrados forrozeiros. 

 

                               No fim da década de 1980, já na época em que o Forró tentava sobreviver ao sufoco que a mídia impôs à MPB, Marivalda viu-se compelida a valer-se de composições de duplo sentido e de arranjos mais modernos, lançando o LP Corrente de Força que, mesmo assim, tem músicas interessantes para se dançar. Este e outros produtos de sua lavra são facilmente encontrados nos sebos virtuais especializados. Basta pesquisar no Google. 

                        Para que vocês conheçam um pouco de seu trabalho, escolhi estas faixas: 

                        Toco Cru, baião de Marivalda, Lima do Norte e Renato Moreno:

 

                        Mulher de Garimpeiro, lambada de Marivalda, Célio Antônio e Osmar Vilhena:

 

                        Forró do Raimundão, arrasta-pé de Marivalda e São João:

 

                        Lamento de Um Cearense, toada de Marivalda, Pinto Costa e Nivaldo Mota:

 

                        Viagem da Carmelita, xote de João Caetano e Sandro Becker:

 

 


Música Nordestina sábado, 12 de novembro de 2016

LUIZ WANDERLEY E O MATUTO TRANSVIADO

LUIZ WANDERLEY E O MATUTO TRANSVIADO

Raimundo Floriano

 

                         Luiz Wanderley de Almeida, compositor e cantor, nasceu em Colônia de Leopoldina (AL), a 27.01.1932, e faleceu em Rio Tinto (PB), a 19.02.1992, aos 61 anos de idade.

 

                        Teve despertada sua vocação pela Música Popular Brasileira aos l6 anos, quando via e ouvia o sanfoneiro de oito baixos João Luiz, famoso em sua terra natal, tocando no Fuá da Véia Dina. Entusiasmado com as melodias dos oito baixos, e inspirado pela originalidade da música nordestina, Luiz Wanderley rumou para o Rio de Janeiro, a fim de tentar a carreira artística.

 

                        Na Cidade Maravilhosa, dentre outras atividades, foi também alfaiate, mas sua verdadeira profissão era a vida artística, participando de espetáculos em circos e shows em parques de diversão.

 

                        Antes de firmar-se na carreira, enfrentou muita ralação e passou por severas dificuldades, até o dia em que o Maestro Ubirajara dos Santos o convidou para crooner de sua orquestra no cabaré Novo México, no bairro da Lapa, onde cantava todos os gêneros musicais, sem, contudo, deixar de interpretar os que mais apreciava: coco, xote, baião e até samba de breque, pois era fã incondicional do consagrado Moreira da Silva.

 

                        Depois de um ano de permanência na orquestra, o próprio Maestro Ubirajara levou-o à Rádio Tamoio, apresentando-o a Zé Gonzaga, que o aproveitou em seu programa Salve o Baião. Foi o pontapé inicial na mídia.

 

                        Dotado de grandes qualidades no gênero interpretativo nordestino, não encontrou obstáculos e foi logo convidado para fazer uma série de programas na referida emissora. Em l954, o radialista Carlos da Rocha levou-o para fazer um teste na Organização Victor Cintra e, entusiasmado com seu talento, não vacilou em contratá-lo para uma temporada de 6 meses na Radio Mundial e na Rádio Mayrink Veiga. No término desses contratos no Rio de Janeiro, Luiz Wanderley rumou para São Paulo, em 1958, onde fixou residência.

 

                        Atuou em várias estações de rádio paulistas e cariocas, inclusive na Rádio Nacional do Rio de Janeiro, e apresentou-se constantemente por todo o Brasil, tornando-se um dos artistas mais populares do país. No Carnaval, deixou sua marca com vários sucessos, notadamente em 1961, quando estourou a banca com a marchinha Brigitte Bardot, composição de Miguel Gustavo.

 

                        Estreou em disco em 1952, pela gravadora Star, com o samba O Palhaço Chegou, de Rosângela de Almeida e Enzo Passos. Em 1955, gravou, na Polydor, o xote Moça Véia, de sua autoria e Portela, e o baião Pisa, Mulata, de João do Vale, José Cândido e Ernesto Pires. Em 1956, ainda na Polydor, gravou o baião Bebap do Ceará, de Catulo de Paula e Carlos Galindo, e o rojão O Segredo da Dança, de João do Vale, Onaldo Araújo e Vicente Longo Neto. No mesmo ano, atuou na TV Paulista. Estes foram seus primeiros trabalhos, cuja discografia ultrapassa a casa das 60 gravações, das quais possuo 52 em meu acervo.

 

                        Eis algumas capas dos fonogramas que nos deixou: 

 

                        Estes quatro encontram-se à venda em sebos virtuais. Chama a atenção o detalhe que o primeiro deles, Baiano Burro Nasce Morto, alcançou a cotação máxima de R$380,00:

  

                        Luiz Wanderley participou de vários programas de TV, nas emissoras de São Paulo, do Rio de Janeiro e do Nordeste. No cinema, atuou em duas chanchadas da Atlântida, Vai Que É Mole e Só Naquela Base, ambos em 1960, tendo como companheiros de elenco Jô Soares, Otelo Zeloni, Renata Fronzi, Dercy Gonçalves, Ronaldo Lupo, Grande Otelo, Ankito e outros famosos da época.

 

                        Em 1959, lançou, de sua autoria e João do Vale, o coco Matuto Transviado, que se tornou, de imediato, grande sucesso em todo o Brasil. Incorporei-o logo a meu repertório de farra, pela beleza da melodia, pelo ritmo fortemente nordestino e pela hilaridade da letra, que assim dizia:

 

Coronel Antônio Bento

Quando fez o casamento

De sua filha Mariá.

Ele não quis sanfoneiro

E foi pro Rio de Janeiro

E contratou Bené Nunes pra tocar

 

Oi lêlê, Oi lálá

Nesse dia Bodocó

Faltou pouco pra virar

Oi lêlê, Oi lálá

Nesse dia Bodocó

Faltou pouco pra virar

 

Todo mundo que mora por ali

Nesse dia não pôde arresisti

Quando ouvia o toque do piano

Se alegrava e saía requebrando

Inté Zé Macaxera que era o noivo

Dançou a noite inteira sem parar

Que é costume de todos que se casam

Ficar doido pra festa se acabar

 

Oi lêlê, Oi lálá

Nesse dia Bodocó

Faltou pouco pra virar

Oi lêlê, Oi lálá

Nesse dia Bodocó

Faltou pouco pra virar

 

Meia noite o Bené se enfezou

E tocou um tal de rock and roll

Os matutos caíram no salão.

Não quiseram mais xote nem baião

E que briga se falasse em xaxado

Foi ai que eu vi que no sertão

Também tem uns matutos transviados

 

                        Em 1970, quando esse bonito coco estava praticamente esquecido, o cantor e compositor Tim Maia resolveu regravá-lo, relançá-lo, mas com outra roupagem. E que roupagem!

 

                        Pra começo de conversa, mudou o título para Coroné Antônio Bento. Não satisfeito, modificou o ritmo e a introdução, tirando-lhe a feição nordestina e forrozeira. E bagunçou a letra, que ficou assim:

 

Coroné Antônio Bento

No dia do casamento

Da sua filha Juliana

 

                        Juliana? Mas que Juliana? Será que o Coronel Antônio Bento tinha mais essa filha? E a rima, onde a rima foi parar?

 

                        Pra completar a “parceria”, cortou a segunda parte, a que fala nos matutos!

 

                        A partir de então, uma enxurrada de intérpretes, como Cássia Eller e Trio Virgulino, passou interpretar o coco, que não era mais coco, dessa deturpada forma.

 

                        Inconformado diante desse descaso, lancei-me na garimpagem, procurando resgatar para vocês a gravação original. Só agora, depois de muita persistência, consegui o registro, extraído de um disco 78 RPM.

 

                        Vamos ouvir, então, com Luiz Wanderley, dele e do maranhense João do Vale, o coco Matuto Transviado, lançado em 1959:

 

                        Outros sucessos com Luiz Wanderley: 

                        Baiano Burro Nasce Morto, baião, de Gordurinha, lançado em 1959:

 

                        Bibape do Ceará, baião, de Catulo de Paula e Carlos Galindo, lançado em 1956:

 

                        Carolina, xote, de Cláudio Paraíba e João Barone, lançado em 1960:

 

                        O Boi na Cajarana, baião, de Venâncio e Corumba, lançado em 1959:

 

                        O Casamento do Cauby, marchinha, Luiz Wanderley e Waldir Ferreira, lançado em 1963:

 


Música Nordestina quinta, 10 de novembro de 2016

KARIRI, SANFONEIRO DE TIMON, E O NACIONAL DE BRASÍLIA

KARIRI, SANFONEIRO DE TIMON, E O NACIONAL DE BRASÍLIA

Raimundo Floriano

  

                        Sempre fui amarrado num som, pouco ou nada representando para mim a imagem, especialmente a televisiva. Quer ver-me puto dendascalças, com cara de quem recebe presente de grego, amarelo de sem-jeitismo, então me oferte um DVD. Nem que seja de sacanagem, nem que seja de mulher pelada.

 

                        Quando comecei a ganhar meu dinheirinho, isso no início de 1958, lá em Belo Horizonte, tratei logo de comprar uma radiola – mistura de rádio com vitrola – e iniciei a hoje respeitável e propalada coleção de registros sonoros. Ao chegar a Brasília, em dezembro de 1960, morando no alojamento de meu quartel, adquiri um radinho de pilha, do tamanho duma rapadura, da marca Hitachi, valente pra caramba, que pegava todas as estações locais de dia, e, à noite, muitas do resto do país e do exterior.

                         E foi aí que conheci o Meira Filho. 

                        Ele tinha um programa na Rádio Nacional de Brasília, que ia das 5 às 9 horas da manhã, denominado O DIA COMEÇA COM MÚSICA, cobrindo todo o território nacional e ouvido igualmente em diversas partes do mundo. Seu prefixo, que também entremeava sua fala e os comerciais, era um samba forrozado instrumental pra lá de arretado que, pelo fato de representar muito bem a Capital recém-nascida, foi batizado e consagrado pelo povo nordestino com o nome de Nacional de Brasília.

 

                        Diariamente, eu tinha duas oportunidades de ouvir o Meira: pela manhã, em seu programa campeão de audiência, e, à noite, às 19 horas, no A HORA DO BRASIL, hoje A VOZ DO BRASIL, da qual ele foi, durante 35 anos, um dos mais atuantes locutores, sendo também o locutor oficial da Presidência da República.

 

                        O DIA COMEÇA COM MÚSICA era, em sua essência, um programa de recados, funcionando como o telefone de que dispunham os nordestinos que vieram construir a Nova Capital e suas famílias distantes, para se comunicarem. Recebeu mais de 6 milhões de cartas, a maioria das quais era respondida no ar. Houve até o caso de um fazendeiro abonado, que um dia chegou de motorista particular à casa do Meira, lhe beijou as mãos e se ajoelhou a seus pés, agradecendo-lhe por ter localizado sua filha que, desmemoriada, se achava perdida em Brasília.

 

                        Por tudo isso, Nacional de Brasília, ficou para sempre incorporado a minha memória musical, mas foram debalde minhas gestões no sentido de conseguir sua gravação. Meira Filho, que poderia me fornecer uma dica, quando a ele, já no Senado, recorri, não se lembrava mais o nome do intérprete, nem do título exato da música.

 

                        E o tempo foi passando!

 

                        Em 2006, o amigo Francisco Cândido, natural de Timon (MA), aposentado do Banco do Brasil e meu colega de Malhação, o voltar de sua terra natal, onde passara uma temporada, trouxe-me de presente o CD cuja capa encabeça esta matéria, especialmente autografado no encarte: 

 

                        E lá estava a tão procurada música que, por falta de maiores informações, ficará para sempre conhecida pelo título a ela outorgado pelo povão: Nacional de Brasília.

 

                        Fazia parte do pacote a mim presenteado pelo Cândido este outro CD:

 

 

                        Este ano, desejando fazer homenagear esse grande sanfoneiro maranhense, consegui, por intermédio do Cândido, o número de seu telefone, para o qual liguei, sendo muito por ele muito bem atendido. Após inteirar-me de um pouco de sua biografia, solicitei-lhe autorização para enviar um fotógrafo a sua casa, com o objetivo de obter imagens suas e do ambiente onde vive.

 

                        Autorização concedida, esse trabalho ficou a cargo de outro jovem amigo, o escritor Janclerques Marinho, residente em Teresina – do outro lado do Rio Parnaíba –, sujeito fora de série, que respira Cultura Nordestina por todos os poros.

 

                        Em resumo, englobando nossa conversa telefônica, os encartes de seus discos e outras informações obtidas pelo Janclerques, aí vai sua história.

 

                        Antônio Lima Vieira, o Kariri, nasceu em Passagem Franca (MA), no dia 3 de março de 1943. Está, portanto, com 73 anos de idade.

 

                        Ainda na infância, aprendeu tocar sanfona, fazendo dela seu meio de subsistência. Em sua vida itinerante, percorreu todo o Brasil. Quando da inauguração de Brasília, onde morava uma sua irmã, tocou muito forró na região, para onde sempre viajava.

 

                        Fã de O Dia Começa Com Música, desde cedo, incorporou o samba Nacional de Brasília a seu repertório forrozeiro, continuando a tocá-lo mesmo depois que o programa saiu do ar.

 

                        No decorrer de sua profícua existência, adquiriu outra habilidade artística: recuperação de sanfonas defeituosas, compreendendo a afinação, reposição de notas, conserto e fabricação de estojos e reatas, dentre outros serviços pertinentes.

 

                        Hoje, aposentado, é muito procurado em Timon, não só para funções musicais, como também em sua oficina, onde desempenha sua habilidade artesanal.

 

                        A seguir, vemos Kariri em sua oficina e uma de suas máquinas especiais:

 

 

                        Não sei qual é o titulo que se dá a consertador de sanfonas. Para o fabricante ou remendão de instrumentos de corda, foram buscar uma palavra francesa: luthier! Inspirando-me, também, na Língua Francesa, diante da pobreza de nosso idioma, posso intitulá-lo como soutien – protetor – dos foles e assemelhados.

 

                        Nas imagens a seguir, Mestre Kariri com a mão na massa:

 

 

                        Mas esse grande artista não ficou só nisso tudo que já foi dito: inventou e fabricou um instrumento de botão, para uma só mão, a direita – não tem baixaria –, com tonalidade de viola grave, a que deu o nome de Claridion Bass, do qual só existe um exemplar no mundo, o dele, cujas fotos vemos aqui:

 

 

                        Para encerrar esta singela homenagem, ouçamos o Mestre Kariri em sua maravilhosa interpretação do choro Nacional de Brasília, cuja autoria, é para nós, desconhecida, mas a cara melódica da Nova Capital Federal em seu começo:

 

                        E, para que vocês conheçam mais um pouco do trabalho desse humilde nordestino, aqui vão estas faixas, gravadas com poucos recursos tecnológicos: 

                        Nervos de Aço, samba-canção de Lupicínio Rodrigues:

 

                        Escadaria, choro de Pedro Raymundo:

 

                        Pra Não Morrer de Tristeza, samba-canção de João Silva:

 

                        Kariri no Samba, samba de sua autoria

 

                        Saudade do Meu Paraná, valsa de Saraiva:

 

 

Nacional Brasíia, em vídeo:

 


Música Nordestina quarta, 09 de novembro de 2016

AMELINHA, CADÊ VOCÊ?

AMELINHA, CADÊ VOCÊ

Raimundo Floriano

 

 

                        Tomei conhecimento da existência de Amelinha a partir do final dos Anos 1970, quando a Música Nordestina passava por uma fase de renovação, pelo menos para quem, nestes lados do Sul, não conviviam com o cenário forrozeiro do Recife e adjacências.

 

                        Amelinha veio surgindo e conquistando meu gostar a conta-gotas. Ela já lançara, em 1977, o LP Flor da Paisagem, que não apareceu por estas bandas. Em 1979, surpreendeu-me com o LP Frevo Mulher, cuja música que o nomeou, um frevo-canção de Zé Ramalho, estourou no Carnaval, sendo a música mais tocada e cantada nos salões. Em 1980, no LP Porta Secreta, a toada Foi Deus Que Fez Você, de Luís Ramalho, enterneceu o Brasil, enquanto o arrasta-pé Gemedeira, de Robertinho do Recife e Capinam, pôs todo mundo para balançar o esqueleto.

 

Os três primeiros LPs de Amelinha

                        Mas foi no Carnaval de 1981, com o frevo-canção Siri na Lata, de Carlos Fernando, no LP Asas da América - Volume 2, de meados do ano anterior, que ela me ganhou de vez. E, a partir de então, passei a incorporar a minha coleção todos os discos que gravou.

 

                        Asas da América foi um projeto audacioso do compositor, músico e cantor Carlos Fernando, iniciado em 1979, numa empreitada que, para seu espanto, agradou por completo os curtidores da MPB, demonstrando que o frevo é um tipo de música para ser cantado e tocado o ano todo e não só no Carnaval, como alguns assim pensavam. O mais importante, a meu ver, foi que, além da nova roupagem para o frevo-canção, o projeto, que já chegou ao Volume 6, revelou ao mercado fonográfico novos talentos femininos. Foi ali que tomei conhecimento da existência de Elba Ramalho, Terezinha de Jesus, Teca Calazans e Amelinha.

 

Os três primeiros lançamentos do projeto Asas da América 

                        Amélia Cláudia Garcia Collares Bucaretchi, a Amelinha, nasceu em Fortaleza (CE), no dia 21 de julho de 1950. Aos 20 anos de idade, mudou-se para São Paulo (SP), onde se formou em Comunicação Social.

 

                        Começou a cantar amadoramente, participando de shows do conterrâneo Raimundo Fagner. Em 1974, passou a atuar em programas de TV. No ano seguinte, viajou com Vinícius de Moraes e Toquinho, com os quais estrelou temporada dupla, fazendo-se notar na MPB na mesma época em que uma leva de artistas nordestinos era chamada genericamente de “Pessoal do Ceará”, dentre os quais o próprio Fagner, Ednardo, Belchior, Zé Ramalho, com quem Amelinha se casou, Geraldo Azevedo, Fausto Nilo e Robertinho do Recife.

 

                        Sua entrada individual no mercado fonográfico aconteceu no ano de 1977, na gravadora CBS, com o LP Flor da Paisagem, supramencionado. A partir de então, apontada como revelação nordestina, conheceu o sucesso e a fama.

 

                        Em 1982, lançou o LP Mulher Nova, Bonita e Carinhosa Faz o Homem Gemer Sem Sentir Dor, nome tão comprido quanto a faixa que o nomeou: 6 minutos. Essa toada, composta por Zé Ramalho com versos de Octacílio Batista, foi um dos maiores sucessos de venda de Amelinha e serviu de tema para o seriado Lampião e Maria Bonita, exibido pela Rede Globo. Em 1983, gravou o LP Romance da Lua Lua, obtendo enorme êxito com a faixa-título, canção de Garcia Lorca e Flaviola. Em 1984, Amelinha encetou nova fase em sua carreira. Separada de Zé Ramalho, que produzira três de seus primeiros cinco discos e compusera muitos de seus sucessos, entregou sua voz à produção de Mariozinho Rocha e ao acompanhamento instrumental do grupo Roupa Nova, gravando o LP Agua, Luz, com destaque para a canção Tempo Rei, de Gilberto Gil. 

 

                        Em 1985, lançou o LP Caminho do Sol, enfatizando a canção Vida Boa, de Armandinho e Fausto Nilo. Deixando a CBS, lançou, em 1987, pela Continental, o LP Amelinha, incluindo o sucesso Mistérios do Amor, de Tavinho Paes, Paulinho Lima e Serge Clemens. Em 1989, montou o espetáculo Saudades da Amélia, com repertório de compositores da moda, tais como Chico Buarque, Tom Jobim e Caetano Veloso, percorrendo vários teatros do país, sob estrondosos aplausos. Após sete anos sem gravar, voltou, em 1994, desta vez com o selo Polydor, lançando o primeiro CD, Só Forró, no qual, além de gravar clássicos do gênero, revelou diversos compositores emergentes no cenário forrozeiro.

 

 

                        Em 1996, na mesma gravadora, lançou o CD Frutamadura, com destaque para o arraste-pé o Pra Tirar Coco, de Messias Holanda, e trazendo de volta Siri na Lata. Em 1998, lançou, pela Sony Music, o CD Amelinha, incluindo o xote Espumas ao Vento, de Accioly Neto. Em 1999, realizou turnê por todo o Brasil, com músicas inéditas desse novo disco. No ano de 2000, a Polydiscos lançou dois volumes da coletânea de seu trabalho, denominados 20 Super Sucessos.

 

 

                        Em 2001, lançou, pela Seven Music, o CD Vento, Forró e Folia, no qual reapresenta Frevo Mulher. Em 2002, participou, com Belchior e Ednardo, do CD Pessoal do Ceará, onde relembra o início de sua carreira. Finalmente, em 2011, pela marca Joia Moderna, especializada em cantoras e pertencente ao DJ Zé Pedro, lançou o CD Janelas do Brasil, com repertório completamente inédito.

  

                        Neste despretensioso perfil, intentei mostrar-lhes toda a iconografia dos LPs e CDs que Amelinha estrelou até agora, perfazendo mais de 180 peças da mais autêntica Música Popular Brasileira. Com um acervo de tal magnitude, e diante do ocaso que a mídia lhe reservou, só me resta, agora, modificando minha interrogação que encabeça esta matéria, perguntar a todos os órgãos de comunicação responsáveis por isso:

 

                        – Mídia, cadê a Amelinha? 

               E, para que vocês recordem, aí vai o frevo-canção Siri na Lata, com o qual Amelinha entrou na bem-querença de meu gosto musical:

                       Não poderia faltar Frevo Mulher, frevo-canção de Zé Ramalho, sucesso absoluto no Carnaval de 1979:

 

 

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Música Nordestina terça, 08 de novembro de 2016

IRAH CALDEIRA, CORAÇÃO BEM NORDESTINO

IRAH CALDEIRA, MEU NATAL BEM NORDESTINO

Raimundo Floriano

 

Irah Caldeira e seu CD de 2006

 

                        Irah Caldeira entrou em minha vida por artes do amigo Luiz Berto, o Papa Beto I, escritor, Editor do Jornal da Besta Fubana e atual Presidente da Academia Passa Disco da Música Nordestina, ao enviar-me a excelente e irrepreensível resenha que fizera do CD acima, para que eu desse uma olhada. Cuidadoso com seus textos de responsabilidade, nada mais natural que a mim recorresse, eis que fui revisor da maioria dos livros de sua criação. Isso é comum para quem quer sair bem na foto.

 

                        Tão o logo foi lançado o álbum, Luiz Berto me enviou um exemplar, dando início a minha coleção discográfica de Irah, com a aquisição dos CDs Canto do Rouxinol, de 2001, e Irah Caldeira Canta Maciel Melo, de 2004, então disponíveis à venda na Passa Disco.

 

                        Porém isso não era o bastante. Eu queria mais. Para consegui-lo, vali-me dos préstimos da amiga Neide Santos, minha Assessora Cultural no Recife, unha e carne com Irah, sendo ela Madre Superiora, e Irah, Prioresa da Igreja Sertaneja.

 

A Prioresa Irah e a Madre Superiora Neide 

                        Estabelecido o contato, Irah foi atenciosíssima comigo, enviando-me os discos que ainda me faltavam, inclusive dois DVDs. Com o acervo completo, passei a curti-lo, na maciota.

 

                        Na noite de Natal, ela foi apresentada ao seleto público que superlotava minha sala, composto de 15 pessoas, incluídos aí meu irmão Carioquinha e um casal de convidados mineiros, com as respectivas famílias.

 

                        As horas arrastavam-se morosas, enquanto esperávamos a batida da meia-noite para saudarmos a chegada do Cristo Rei e darmos início à ceia e à troca de presentes. Lá pelas tantas, começou, no telão da TV, o show da Globo, aquele de todo ano, com a mesmice que já se conhece, marasmo total. Nossa plateia familiar e fraternal, com apenas uma criança, pareceu dar sinais de cansaço, alguns batendo as pestanas, outros cochilando, quase dormindo. Foi aí que me sobreveio um estalo iluminado. Perguntei:

 

                        – Vocês aceitariam desligar a TV e assistir a um show de Forró?

 

                        Todos concordaram. Corri lá em minha estante peguei este DVD, um dos mimos da Irah:

 

 

                        Ao recebê-lo para colocar no dvd-player, a Mara, minha caçula, Bióloga, que acabara de chegar da região do Cariri e adjacências, desenvolvendo estudo de impacto ambiental para uma empresa brasiliense, exclamou:

 

                        – Pai, conheço essa daí! É muito legal! Há poucos dias, assisti a um espetáculo com ela, quando passei pelo Exu!

 

                        A coisa já começou bem.

 

                        Logo na primeira música, o xote A Natureza das Coisas, de Accioly Neto, Irah justificou plenamente a opção que fiz por ela, e a maioria quis saber de quem se tratava. Expliquei-lhes que ela iniciara sua carreira artística na Década de 1990, em Minas Gerais, onde nascera, e depois resolveu viajar pelo Norte e Nordeste, a fim de pesquisar e aprender ritmos musicais do Pará, Maranhão, e Bahia, culminando por fixar em Pernambuco sua residência definitiva. Quando acabei de falar, os mineiros meus convidados estavam quase se explodindo de imenso orgulho bairrista, mais que justificado.

 

                        Na terceira faixa, o rojão desembestado Aperta o Nó, do amigo Fred Monteiro, foi o maior desmantelo! Irah, empolgou extasiou, encantou, conquistando os corações ali presentes, que ainda não a conheciam!

 

                        E eu no maior domínio, vibrando com o sucesso de Irah, tirando onda e serrando de cima, em minha condição de membro Imortal da Academia da Música Nordestina, pois naquele DVD estavam minha praia, minha quadrilha, meu labutar. E não contive, a partir de então, identificando cada compositor, cada participação especial, como membro da Comunidade Fubânica.

 

                        Para completar, peguei meu álbum fotográfico da posse na Academia e passei a exibir-me ao lado Cristina Amaral, Bia Marinho, Josildo Sá, Kelly Rosa e Maciel Mello, com quem Irah dividia o palco.

 

                        Terminado o show, que durou 1h45, senti-me, aos olhos de todos, muito mais nordestinho, muito mais acadêmico, muito mais imortal. Resta-me agora conseguir algo que me falta: uma foto com Irah, o que se realizará quando ela vier apresentar-se em Brasília. Não me custa nada esperar. Aí, acrescentarei mais um título a meu currículo: Amigo de Irah Caldeira!

 

                        Com o repertório do DVD Girassol de Desejos, Irah nada de braçada, passeando pelo cancioneiro e pelos ritmos sertanejos. Tem xote, pra dançar agarradinho; tem baião, carimbó e rojão, pra mostrar a coreografia sertaneja; tem valsinha, pra despertar a emoção; tem arrasta-pé, pra levantar a poeira; tem frevo, pra exibir a beleza da dança pernambucana; e tem ternura, muita ternura, o que se traduz nas seis toadas que o vídeo contém, uma das quais me comove de um tanto, levando-me quase às lágrimas.

 

                        Refiro-me à toada Avoante de Accioly Neto, apresentada no show com a participação de Santanna “O Cantador”, que escolhi como pequena amostra do trabalho de Irah Caldeira, no melhor momento de sua iluminada e vitoriosa carreira artística, em minha concepção, que é o DVD Girassol de Desejos.

 

Irah Caldeira e Santana “O Cantador”: momento enternecedor

 

AVOANTE

(Accioly Neto) 

Quando o riacho vira caminho de pedra

E avoante vai embora procurar verde no chão

A terra seca fica só e num silêncio

Que mal comparando eu penso: tá igual meu coração

Que nem a chuva, você veio na invernada

Perfumando a minha casa alegrando meu viver

Mas quando o sol bebeu açude inté secar

Quem poderia imaginar que levaria (inté) você

 

Só resisti porque nasci num pé de serra

E quem vem da minha terra resistência é profissão

Que nordestino é madeira de dar em doido

Que a vida enverga e não consegue quebrar não

Sobrevivi e estou aqui contando a estória

Com aquela mesma viola que te fez apaixonar

Tua saudade deu um mote delicado

(Pra fazer mais serenado meu destino de cantar)

Que ajuda a juntar o gado toda vez que eu aboiar

 

                        Escolhi para vocês uma pequena amostra de com Irah passei à vontade por todos os ritmos forrozeiros nordestinos.

 

                        TOADA - Avoante, de Accioly Neto, com a participação de Santana “O Cantador”:

 

                        ROJÃO - Forró na Gafieira, de Silvério Pessoa:

 

                        XOTE - Vou Deixar Não, de Xico Bizerra:

 

                        BAIÃO - Borocochô, de Flávia Wenceslau:

 

                        ARRASTA-PÉ - Nos Terreiros do Forró, de Miguel Marcondes e Luiz Homero:

 

                        COCO - Cantador de Coco, de Valdir Santos:

 

                        MARACARU - Para que conheçam seu visual, aqui vai um youtube com esta linda composição A Natureza das Coisas, de Accioly Neto:

 


Música Nordestina quinta, 03 de novembro de 2016

ANTÔNIO BARROS E CECÉU: CASAL NOTA DEZ DO FORRÓ

ANTÔNIO BARROS E CECÉU: CASAL NOTA DEZ DO FORRÓ

Raimundo Floriano

 

Antonio Barros e Cecéu 

                        O início dos Anos 1980 dava a entender, pelo menos para nós residentes neste quase-sul brasileiro, que o Forró perdera sua força criativa, estava carente de compositores novos que o revigorassem, que o tirassem do marasmo em que se encontrava. E foi aí que apareceu, para a felicidade de todos os forrozeiros, o casal Antonio Barros e Cecéu, cujas composições, desde então e até hoje, são disputadas por todos os astros da Música Nordestina.

 

                        É bem verdade que Antonio Barros já era conhecido por aqui na década anterior, com o xote Procurando Tu, em parceria com J. Luna e interpretado pelo Trio Nordestino, mas apenas pela letra de duplo sentido, um filão que também começava a surgir. O lançamento dos xotes Homem com H, de Antonio Barros, em 1981, Por Debaixo doe Panos, de Cecéu, em 1982, na voz de Ney Matogrosso, e Bate, Coração, de Cecéu, no mesmo ano, gravado por Elba Ramalho, balançou a estrutura do Forró e consagrou o nome desse inspiradíssimo casal de compositores no gosto de toda a população brasileira. São mais de 30 anos de intensa visibilidade na midiática.

  

                        Faço minhas as palavras de Marcus Vinícius de Andrade, Diretor-Artístico da Gravadora CPC-UMES, extraídas do encarte do CD acima, Antonio Barros e Cecéu - Forró Número Um:

                       

“Antonio Barros e Cecéu formam uma dupla de compositores que todo o Nordeste (melhor dizendo, todo o País) conhece, pelos inúmeros sucessos que já produziu. Gente simples e boa, cuja música fala o Português gostoso do Brasil – como diria o grande Manuel Bandeira –, eles são o exemplo mais perfeito de autores que sabem conciliar simplicidade e refinamento, picardia e criatividade linguagem popular e bom gosto. Paraibanos de raça, conseguem ser universais: não foi à toa que sua canção Bate, Coração, com o talento esfuziante de Elba Ramalho, causou o maior fuzuê em Montreaux, quando o Forró desmontou a cintura dura das suíças... Até em Israel, as canções de Antônio Barros e Cecéu são conhecidas, cantadas em Iídiche com o mais puro sotaque sertanejo.

 

“Autores de mais de 700 obras, das quais mais de 200 se tornaram sucesso, Antonio Barros e Cecéu conhecem a fundo a linguagem da canção, da boa e simples canção que atinge todos os segmentos do público, sendo assobiada nas ruas e cantada com naturalidade em choupanas e palácios, por gente de todas as idades e condições sociais. Esse domínio do artesanato da canção é fruto não apenas de seu talento, mas também de uma experiência de muitos anos, aprimorada junto a nomes como Luiz Gonzaga e Jackson do Pandeiro, com quem eles trabalharam e de quem são alguns dos mais legítimos herdeiros.”

 

                        Vejamos um pouco de suas biografias. 

ANTONIO BARROS 

 

                        Antônio Barros Silva, cantor, compositor e poeta, nasceu a 11.03.1930, em Queimadas, Região Metropolitana de Campina Grande, Paraíba, filho de Severino Barros da Silva e Luiza Rodrigues da Silva. Casado com a compositora e cantora Cecéu, fixou residência em São Paulo.

 

                        Estudou no Grupo Escolar José Tavares, e a maior parte de sua infância foi vivenciada na Zona Rural. Quando sobrava tempo para brincar, costumava pegar uma lata de querosene vazia de 20 litros, colocava a cabeça dentro, batia do lado de fora com as duas mãos, fazendo ritmo, enquanto cantava para ouvir sua própria voz com efeito reverberado.

 

                        Aos dezenove anos de idade, foi trabalhar como músico tocando pandeiro na Rádio Caturité, em Campina Grande. Por volta dos 20 anos, mudou-se para o Recife onde, na Rádio Tamandaré, deu continuidade a seu trabalho como pandeirista. Foi nessa mesma época que escreveu sua primeira música e conheceu Jackson do Pandeiro, o qual se tornou seu grande amigo, apoiando-o na vida profissional.

 

                        A partir daí, começou a gravar suas primeiras canções profissionalmente com Jackson do Pandeiro, Genival Lacerda e Zito Borborema. Logo depois, foi para o Rio de Janeiro, conquistando ainda mais seu espaço no meio musical, onde passou a gravar com Marinês, Trio Nordestino e também tocando triângulo no Regional de Luiz Gonzaga, na casa de quem morou, na Ilha do Governador.

 

                        Trabalhou como contrabaixista no navio Ana Neri, que fazia cruzeiros turísticos pelo litoral brasileiro. Em 1970, numa dessas viagens compôs Procurando Tu, a partir de lembranças da infância, e entregou a música para gravação pelo Trio Nordestino. Aceitou a parceria de J. Luna disc-jóquei baiano, que o ajudou a divulgar a música no Nordeste, tornando-se um dos sucessos daquele ano e regravada por ele mesmo, Ivon Curi e Jackson do Pandeiro, entre muitos. Outros de seus sucessos gravados pelo Trio Nordestino foram, Corte o Bolo, Cuidado Com as Coisas, É Madrugada e Faz Tempo Não Lhe Vejo. Na maioria, letras de duplo sentido que se fizeram amplamente conhecidas, mas obnubilavam o nome do compositor.

 

                        Em 1974, teve a música Vou ver Luiza, parceria com Lindolfo Barbosa gravada por Bastinho Calixto pela EMI. Um dos muitos grupos que gravaram suas composições e obteve sucesso foi o trio Os Três do Nordeste, que alcançou as paradas de sucesso com É Proibido Cochilar, Forró do Poeirão, Forró de Tamanco e Homem com H.

 

                        Em 1981 teve a música Estrela de ouro, parceria com José Batista, gravada por Luiz Gonzaga e Gonzaguinha, e Quebra Pote, pelo Trio Mossoró. No mesmo ano, conheceu a consagração nacional com, Homem com H, composta anos antes para a novela O Bem Amado, quando Ney Matogrosso a regravou, conquistando o Primeiro Lugar na Parada de Sucessos daquele ano.

 

                        Desde então, sua carreira musical se consolidou, crescendo a cada ano que passa. 

CECÉU 

 

                        Cecéu – Mary Maciel Ribeiro –, cantora e compositora, nasceu a 02.04.1950 na cidade de Campina Grande, na Paraíba, filha de Severino Lourenço Ribeiro e Maria Maciel Ribeiro. Morou 10 anos no Rio de Janeiro, radicando-se depois em São Paulo. É casada com o compositor Antônio Barros.

 

                        Quando menina, acompanhava o pai comerciante ao centro da cidade e lá fazia questão de comprar a Revista do Rádio. Desde muito pequena, era encantada pelo rádio. Uma das músicas que a marcaram nessa época foi o samba Iracema, gravado por Os Demônios da Garoa, ouvida na radiola de uma festinha infantil, que contava a triste história de uma moça que é atropelada a poucos dias do casamento. Aquilo a sensibilizou tanto, que não conseguiu aproveitar a festa com as outras crianças. Nessa época, tinha apenas sete anos, e fui profundamente influenciada pela música.

 

                        A característica marcante de Cecéu sempre foi a música romântica, que fala de sentimento, de coração. Apaixonada por programas de rádio, sua infância foi marcada por cantores que não combinavam com sua faixa etária como Ângela Maria, Cauby Peixoto, Emilinha Borba e Anísio Silva o Rei do Bolero. Sua mãe até que tentava convencê-la de que aquelas não eram músicas para criança, mas isso de nada adiantava.

 

                        Conheceu Luiz Gonzaga nos Anos de 1970, quando fazia gravações na CBS com os Três do Nordeste e Marinês. Ficou amiga do Rei do Baião, e sempre que este ia a Campina Grande, costumava dividir com ela o mesmo palco.

 

                        Em 1982, o cantor Ney Matogrosso gravou com enorme sucesso o xote Por Debaixo dos Panos. No mesmo ano, a cantora Elba Ramalho obteve sucesso espetacular com o xote Bate Coração, gravado ao vivo no Festival de Montreux na Suíça.

 

                        Foi a consagração no Universo Forrozeiro, o que se prolongou até os dias atuais. 

ANTONIO BARROS E CECÉU 

 

                        Dois paraibanos filhos de Severinos! Só podia dar no que deu! Antonio Barros e Cecéu encontraram-se em 1971, quando formaram uma parceria no trabalho musical e no amor. Passaram a compor juntos e se tornaram um casal de sucesso. Levantando a bandeira de forte expressão artística no companheirismo do dia-a-dia, essa dupla se transformou num paradigma da cultura popular brasileira, pois nesse decorrer são mais de setecentas obras gravadas pela maioria dos intérpretes brasileiros, alcançando popularidade até no exterior onde também suas músicas foram gravadas na Itália, Espanha, Portugal e Israel.

 

                        Homem Com H, Por Debaixo Dos Panos, Bate, Coração, como também as famosas Procurando Tu, Casamento de Maria, Sou o Estopim, Amor Com Café, Forró do Poeirão, Forró do Xenhenhém, Óia Eu Aqui de Novo são algumas das canções que fazem parte do acervo de músicas autorais dessa dupla e gravadas por expressivos nomes da MPB como Ney Matogrosso, Elba Ramalho, Dominguinhos, Gilberto Gil, Alcione, Ivete Sangalo, Fagner, Gal Costa, MPB-4 e os saudosos Jackson do Pandeiro, Luiz Gonzaga e Marinês.

 

                        Esses consagrados artistas, que fazem parte da realidade e da história de nossa música, conseguiram romper a regionalidade sem perder o sotaque. Na capital paulista, onde reside desde 1995, o casal apresenta shows com classe e charme através de seus inúmeros sucessos. A história e a música de Antonio Barros e Cecéu se mantém sempre em atividade. Exemplo disso é encontrar regravações e releituras de suas músicas feitas por uma nova geração de intérpretes, não somente de ídolos regionais, mas, muitas vezes, de artistas pops e DJs de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais que, constantemente, estão cultivando essa obra genial. 

                        Estes elepês e cedês, bem como o acima estampado, são facilmente encontráveis em sebos virtuais: 

                        É tarefa impossível selecionar uma só faixa como amostra da colossal produção desse talentoso casal, principalmente para a nova geração, que conhece a maioria de suas músicas, mas desconhece o nome de quem as compôs. Portanto, aqui vai uma pequena amostra: 

PUPURRI COM ANTONIO BARROS E CECÉU: 

01 - NÃO LHE SOLTO MAIS - Rojão (Cecéu), NA CAMA E NO CHÃO (Cecéu), BULI COM TU (Cecéu)

 

PUPURRI INDIVIDUAL COM ANTÔNIO BARROS: 

02 - POR BAIXO DOS PANOS - Xote (Cecéu), HOMEM COM H (Antônio Barros), PROCURANDO TU (Antônio Barros e J. Luna)

 

PUPURRI INDIVIDUAL COM CECÉU: 

03 - NAQUELE SÃO JOÃO - Arrasta-pé (Antonio Barros), BRINCADEIRA NA FOGUEIRA (Antônio Barros), JÁ É MADRUGADA (Antonio Barros)

 

ANTONIO BARROS, EM GRAVAÇÃO INDIVIDUAL 

04 - NA PALMA DA MÃO - Rojão (Antonio Barros e Cecéu)

 

CECÉU, EM GRAVAÇÃO INDIVIDUAL 

05 - BATE, CORAÇÃO - Xote (Cecéu)

 

 


Música Nordestina quinta, 03 de novembro de 2016

MARINALVA E SUA GENTE

MARINALVA E SUA GENTE

Raimundo Floriano

 

Marinalva no começo da carreira

 

                        No dia 07.05.12, quando lancei aqui no JBF o perfil de Marivalda, a Forrozeira da Amazônia, muitos estranharam, achando que eu me confundira, trocando o nome da Marinalva, de quem eu nunca ouvira. Só se convenceram diante das evidências comprobatórias, ou seja, das imagens de vários registros fonográficos de Marivalda. Houve um, o Augusto TM, que postara em seu blog Toque Musical matéria falando sobre uma, mas pensando que ela fosse a outra, com a única informação concreta: Marinalva era irmã de Marinês.

 

                        Depois disso, entrei em contato com alguns curtidores do Forró, e a maioria, ou também nunca ouvira falar de Marinalva, ou escutara o canto da cigarra não se sabia onde, e a informação era samba de uma nota só: Marinalva era irmã de Marinês.

 

                        Senti-me, então, desafiado a produzir algo que resgatasse a memória dessa forrozeira, postando aqui o resultado de minha pesquisa, à disposição de todos.

 

                        Raciocinando que Marinês nascera na cidade pernambucana de São Vicente Ferrer, procurei entrar em contato com o Cartório do Registro Civil daquela cidade, no intuito de conseguir qualquer documento referente a Marinalva: certidão de nascimento ou de óbito, caso ali existissem. Não foi fácil.

 

                        De cara, o número telefônico da referida repartição não consta da Telelista.net. Assim, apelei aos leitores do JBF, sendo orientado pala redação a dirigir-me ao número de um celular que obtivera não sei de que modo. Viva! Hip, hurra! Até enfim, consegui falar com alguém de lá, não sei se serventuário ou titular do órgão. Expus o problema e solicitei uma busca, mediante pagamento das custas, evidentemente. Mandaram que eu ligasse dali a uma semana.

 

                        No prazo estipulado, entrei em contato, mas o pessoal de lá havia se esquecido de minha solicitação. Alguém marcou para que eu ligasse na outra semana. O que fiz. Novamente, pediram mais prazo. Resumo da ópera: passado quase um mês, fui informado de que ali nada consta sobre Marinalva, nem sobre Marinês.

 

                        Abro aqui um parêntese para elogiar o Cartório do 2º Ofício de Balsas, Maranhão, minha cidade natal, e Maria do Socorro Ferreira Vieira, minha Assessora Cultural, que o informatizou. Seu Rosa Ribeiro, meu saudoso pai, foi o Tabelião até aposentar-se, passando a titularidade para Maria Alice, minha irmã, que admitiu a Socorro, em 1977, como escrevente. Em 1978, Socorro galgou, por seus méritos, a posição de Tabeliã Substituta. Com o falecimento de minha irmã, em 2002, Socorro assumiu o posto de Tabelião Titular e uma de suas primeiras providências foi a informatização do Cartório, onde qualquer busca, atualmente, é atendida no ato, com resposta em cima do laço.

 

                        Nessa minha mania de fuçar em Cartórios do Brasil para dar veracidade aos dados biográficos constantes dos trabalhos que lhes disponibilizo, posso dizer que são poucos, pouquíssimos mesmo, aqueles em todo o Território Nacional que dispõem dessa ferramenta, tão indispensável à correria que caracteriza o século atual.

 

                        Ironia do destino: no final de 2002, Socorro teve de entregar o Cartório, no qual empregou todos os recursos de modernização, a um Bacharel nomeado pelas autoridades da Capital, vez que ela não era concursada. Assim mesmo, com 32 anos de bons serviços, sem tchau nem bença! Fecho o parêntese.

 

                        Retomando o fio da meada, ocupemo-nos de Marinalva. Os dados biográficos de que disponho foram colhidos em duas fontes altamente confiáveis: Abílio Neto, Membro da Academia Passa Disco da Música Nordestina, pessoa altamente qualificada em assuntos pertinentes à Cultura Nacional; e Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira.

 

                        Maria Caetana de Oliveira, mais conhecida como Marinalva, nasceu em São Vicente Ferrer, Agreste de Pernambuco, em 1950. Era irmã da também da forrozeira Marinês, conhecida nacionalmente.

 

                        Durante sua carreira, Marinalva gravou 26 elepês, sempre tendo a música nordestina como temática. Outra característica em sua carreira foram canções de duplo sentido. A cantora veio a falecer em 11 de setembro de 2008, no Hospital da Restauração, no Recife, vítima de uma parada cardiorrespiratória.

 

                        Alguns vinis que deixou ainda se encontram à venda em sebos virtuais: 

 

 

                         Na falta de textos relativos a Marinalva, transcrevo a apresentação constante do LP acima, De Rolha na Boca, de 1980, assinada por J. Garcia:

 

                        “O Nordeste, com seu povo sofrido, suas tradições imorredouras, seu fabuloso folclore, tem se constituído numa fonte inesgotável de inspiração poética.

 

                        Muitos são os que cantam o Nordeste, mas só aqueles – filhos da terra – íntimos de sua realidade, seus problemas e aspirações, podem fazê-lo com propriedade e autenticidade.

 

                        Seguindo as pegadas de sua famosa irmã Marinês, Marinalva vem se firmando, dia a dia, como grande intérprete que é, assumindo, com justiça, uma posição destacada dentro de nossa música.

 

                        Este é seu 7º LP. Nele, iremos encontrar somente músicas de compositores paraibanos, alguns veteranos famosos, como Luiz Ramalho e João Gonçalves, ao lado do estreante Calazans Sabury. As músicas escolhidas abrangem uma larga faixa da temática nordestina que vai, desde o picante De Rolha na Boca, até a religiosidade do sertanejo, tão bem retratada em Frei Damião, sem esquecer a tradicional e ingênua marchinha junina.”

 

                        Com tantos itens constantes de sua discografia, é incompreensível o fato de Marinalva ser completamente desconhecida no Nordeste, em particular, e no Brasil, em geral. O aspecto de ser irmã de Marinês, em meu entender, era mais um detalhe para dar-lhe visibilidade, como aconteceu com Zé Gonzaga, irmão de Luiz Gonzaga. 

                        Como pequena amostra do talento de Marinalva, escolhi para vocês, escolhi estas cinco faixas de e seu repertório:

                        Forró de Cabra Macho, rojão de Cecéu:

 

                        Jacaré dos Homens, rojão de Elino Julião:

 

                        Frei Damião, toada de Calazans Sabugy:

 

                        Tudo Que Eu Quero, arrasta-pé de Marinalva, Arcílio e Hélia Mendonça:

 

                        De Rolha na Boca, rojão de João Gonçalves e Micena do Forró:

 


Música Nordestina domingo, 30 de outubro de 2016

FORRÓ SANFONADO, A ALEGRIA DA LATADA

FORRÓ SANFONADO, A ALEGRIA DA LATADA

Raimundo Floriano

 

Zabumba, sanfona e triângulo: ai, que saudade me dá!

 

 

                        Ontem, 30.05.2008, A TV Globo, no dia 30.5.2008, anunciou um Som Brasil em homenagem a Luiz Gonzaga, o Lua, o Gonzagão, o Rei do Baião, logo após o Programa do Jô. Estava previsto para começar à 1h25 da madrugada, com término às 2h25, ou seja, 50 minutos e duração que, descontados os comerciais, resultariam em 40 minutinhos dedicados à alma e ao coração da Cultura Musical Nordestina. Um gênio que nos legou 658 registros fonográficos – dos quais possuo a maioria –, todos considerados obras-primas da MPB, alijado nos socavões da noite, como se de propósito, para que pouca gente tomasse conhecimento do fato. Eu mesmo, atolado os quatro pneus pelo Forró, até que tentei me manter acordado, mas o sono foi superior à devoção. Por isso, não posso comentar o que se passou ali, apenas registro a ocorrência.

 

Trio Siridó, em sua formação inicial : Mocó, Torres do Rojão e Djaci

 

Trio Siridó e Banda: Valdinei, Taciva, Torres, Cipó e Dico 

                        Não é de se estranhar esse descaso. Há muito tempo, o Forró vem recebendo intensa agressão pela modernidade dos teclados e das guitarras, sendo atualmente quase impossível assistir-se na TV a programa em que os forrozeiros se apresentem na composição clássica: sanfoneiro, zabumbeiro e triangueiro. Com tristeza, vejo o Trio Siridó, que eu considerava o mais legítimo representante do Forró pé-de-serra aqui do Planalto Central, transformado em Trio Siridó e Banda, com parafernália eletrônica capaz de lotar a carroceria dum caminhão, dos grandes. É a pertinácia do amigo Torres, seu líder, na luta pela sobrevivência.

 

                        Mas, afortunadamente, a pureza ainda existe. Meu amigo, minha amiga, vocês que estão lendo estas maltraçadas procurem aí em sua cidade e ainda encontrarão autênticos trios nordestinos – em outra oportunidade, direi da sua invenção – com repertório e competência para animar suas festas juninas e outras afins. Caso isso já não mais seja possível, apresento-lhes pequena amostra do trabalho desses abnegados, que tanto contribuíram para manter em nosso espírito a pureza e a simplicidade da infância e da adolescência.

 

                        São consagrados sanfoneiros, com ritmos juninos variados, a mostrar-nos um pouco de sua arte, como Luiz Gonzaga, Sivuca, Dominguinhos, Severo, Zé Gonzaga, Abdias, Mário Gennari Filho, Mário Zan, Gérson Filho, Zé Calixto, Zé Piatã, Luiz Sérgio, Kariri, Manoel David, Negrão dos 8 Baixos, Zé Cupido, Sanfoneiro Guido, Zé Paraíba, Zé do Forró, Tony Martins, Raimundo Soldado, Hugo Cantarino e Severino Januário.

 

                        Bom, isso foi em 2008. Mas, depois disso, tive que dar a mão à palmatória no que se refere à Rede Globo, diante o tratamento que deu a Luiz Gonzaga, nosso ídolo maior, no ano de 2012, quando se comemorou o Centenário do Rei, tanto em sua central, quanto nas emissoras regionais. Está de parabéns a Globo!

 

                        Também minha visão relativamente ao Forró em seu todo foi modificada quando, a 27 de maio de 2009, fui empossado na Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Musica Nordestina, no Recife, tendo como Patrona a cantora Elba Ramalho, que compareceu à solenidade e deu grátis um show de quase hora e meia.

 

                        Naquela noite, conheci uma Nação Forrozeira que me era estranha e ali acorreu para me homenagear. Astros como Flávio Leandro, Rogério Rangel, Eliezer Setton, Xico Bizerra, Terezinha do Acordeom, Júnior Vieira, Anchieta Dali, Luizinho Calixto, Cristina Amaral, Kelly Rosa, Hélio Donato e Conjunto Forroviário, Nena Queiroga, Bia Marinho, Josildo Sá, Targino Gondim, Cezzinha, Fábio Simões, Arimateia Ayres, Lourdinha Oliveira, Tostão Queiroga, Anjo Caldas, Gabriel Sá, João Cláudio Moreno, Gonzaga Leal, Valter Azevedo, Arluce Carvalho, Jeová da Gaita, Nilson Araújo, Ismael Gaião, Paulo Wanderley, Antônio Marinho, Greg Marinho, Paulo Carvalho, Zelito Nunes, Neide Santos e Júnior do Bode.

 

                        Infelizmente, nós aqui do quase-sul-maravilha desconhecemos a existência de pessoas tão talentosas e que agora, passadas as deferências a Gonzagão, se encontram no escaninho do esquecimento para a grande mídia.

 

                        Felizmente, temos, em contrapartida, o Jornal da Besta Fubana, maior movimento cultural hoje existente no Brasil, que postou diariamente, em 2012, uma composição diferente de Luiz Gonzaga e continua com o espaço aberto a todos os cronistas, compositores e intérpretes brasileiros. Em 2019, será a vez de homenagearmos diariamente Jackson do Pandeiro, em seu Centenário, postando músicas por ele compostas ou gravadas. Este Almanaque o fará em grande estilo.

 

                        Meu propósito, hoje, é apresenta-lhes o trabalho de nossos sanfoneiros, em números instrumentais, executando os ritmos mais representativos do Forró, quais sejam o arrasta-pé, o baião, o xote, o rojão e, pra não dizer que não falei de flores, o choro e o samba, muito dançados em nossas festas de latada.

 

                        Como são inúmeros esses geniais sanfoneiros, foi difícil escolher, dentre todos, os seis abaixo, que nos deliciarão com suas virtuosidades:

 

Luiz Gonzaga, Mário Gennari Filho e Zé Cupido

 

Dominguinhos, Zé Calixto e Kariri

 

                        Vamos ouvi-los:

 

                        ARRASTA-PÉ: São João a Roça, de Luiz Gonzaga e Zé Dantas, com Luiz Gonzaga:

 

                       BAIÃO: Baião Caçula, de Mário Gennari Filho, com o autor:

 

                        XOTE: Forró de Mané Vito, de Luiz Gonzaga e Zé Dantas, com Zé Cupido:

 

                        ROJÃO: Bigode de Arame, de Dominguinhos e Guadalupe, com Dominguinhos:

 

                        CHORO: Escadaria, de Pedro Raimundo, com Zé Calixto:

 

                        SAMBA: Nacional de Brasília, autor desconhecido, com Kariri:

 


Música Nordestina domingo, 30 de outubro de 2016

ARY LOBO, O HOMEM DO SPUTNIK

ARY LOBO, O HOMEM DO SPUTNIK

Raimundo Floriano

 

Ary Lobo: morador da Lua

 

                        Gabriel Eusébio dos Santos Lobo, o Ary Lobo, cantor e compositor, nasceu em Belém do Pará, a 14.8.1930, e faleceu no Rio de Janeiro, RJ, a 22.8.1980, aos 50 anos de idade.

 

                        Era soldado da Aeronáutica, quando se apresentou em programas de calouros da Rádio Clube do Pará. Por essa época, fez parte do conjunto Namorados Tropicais, quando conheceu o então compositor Pires Cavalcanti que, além de influenciar sua maneira de cantar, convenceu-o a mudar-se para o Rio de Janeiro.

 

                        Na capital fluminense, entrou em contato com o pianista e compositor Gadé, que o levou para a Rádio Mauá, onde começou sua carreira como cantor regional nordestino.

 

                        Lançado em disco pela dupla Gadé/Valfrido Silva, gravou na RCA Victor vários discos 78 RPM, e um LP intitulado Aqui Mora o Ritmo, com A Mulher Que Vendia Siri, de Severino Ramos e Alias Ramos e Garoto do Amendoim, de B. Lobo e Manoel Moraes, sendo as músicas mais tocadas:

  

                        Em 1962, ainda na RCA, gravou o LP Ary Lobo, incluindo duas composições suas, Moça de Hoje, com Jacinto Silva e Eu Vou Pra Lua, com Luiz de França, que obteve estrondoso sucesso, dominando todas as paradas. No ano seguinte, lançou o LP Poeira de Ritmos, incluindo Quem Encosta em Deus Não Cai, de João do Vale, José Ferreira e Ary Monteiro, e Escada da Glória, de Adoniran Barbosa e Edmundo Cruz. 

  

                        Sempre na RCA Victor, lançou os LPs Ary Lobo e Seus Grandes Sucessos,em 1964, destacando Último Pau-de-arara, de Venâncio, Corumba e J. Guimarães, e Vendedor de Caranguejo, de Gordurinha; Zé Mané, em 1965, com Cheiro de Gasolina, de Severino Ramos e Barros de Oliveira, e Madame Paraíba, dele e Dílson Dória; Quem É o Campeão, em 1966, com a faixa-título dele e Luiz Boquinha; Ary Lobo e Seus Maiores Sucessos, em 1971, com Evolução, de J. Cavalcanti, Lino Reis e Aguiar Filho, e Paulo Afonso, de Gordurinha.

  

                        Sua discografia contabiliza, além de fonogramas em 78 RPM, 9 LPs.

 

                        Meu acervo contém 121 faixas representativas do seu trabalho. Ele compôs mais de 600 títulos, gravados por ele e outros intérpretes, sempre defendendo ferrenhamente a música nordestina de raiz. 

 

                        De estilo semelhante ao de Jackson do Pandeiro, e voz parecida, cantando ritmos variados, como baião, xote, coco, samba, frevo, samba-canção, arrasta-pé e toada, teve sua época de ouro nos Anos 1950 e 1960, retratando sempre a vida e os costumes do Nordeste, às vezes em números divertidos, como Cheiro de Gasolina e Madame Paraíba.

 

                        Seus maiores sucessos, Eu Vou Pra Lua, Súplica Cearense, de Gordurinha, e o Último Pau-de-arara, permanecem dominando até os dias correntes, merecendo constantes regravações pelos mais importantes forrozeiros deste país.

 

                        Para mostrar-lhes um pouco de seu trabalho, escolhi estas cindo faixas:

 

                        Cheiro de Gasolina, baião de Severino Ramos e Barros de Oliveira:

 

                        Eu Vou Pra Lua, baião de Ary Lobo e Luiz de França:

 

                        Último Pau-de-arara, baião de Venâncio, Corumba e J. Guimarães:

 

                        Súplica Cearense, toada de Gordurinha:

 

                        Vendedor de Caranguejo, baião de Gordurinha:

 


Música Nordestina quinta, 27 de outubro de 2016

TRIO MOSSORÓ

TRIO MOSSORÓ

Raimundo Floriano

 

João Batista, Hermelinda e Oséas Lopes

 

                        O Trio Mossoró habita minhas prateleiras desde 1980, quando adquiri o LP O Melhor do Trio Mossoró:

 

 

                        Mas é, praticamente, um ilustre desconhecido no Brasil, quiçá em sua própria terra. Há poucos dias, Beto Potiguar, o técnico de cuida dos computadores daqui de casa, natural de Caraúbas (RN), ficou surpreso ao ver um CD do Trio, que e eu montara para meu acervo, e disse que jamais ouvira falar dele, acrescentando que vai muito a Mossoró, pois tem um irmão lá residente. O fato é marcante, pois o Beto é zabumbeiro de um conjunto brasiliense de Forró.

 

                        No dia 6 de maio de 2014, foi lançado, em Mossoró, o livro Minha História, de Oséas Lopes, contando detalhes da trajetória do Trio. Tentei adquiri-lo, mas em vão:

 

 

                        Minha intenção é mostrar aqui um pouco do trabalho desse Conjunto, dizer algo sobre seus três componentes. Como as contracapas de seus elepês nada informam, e não querendo me valer de dados não muito confiáveis, vou ater-me ao pouquinho que consta do Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira.

 

                        O Trio Mossoró é composto pelos irmãos Carlos André Batista, o Oséas Lopes, João Batista, o João Mossoró, e Hermelinda Batista, a Ana Paula.

 

                        Foi fundado no princípio dos anos 1950, pelo sanfoneiro Carlos André Batista, que já havia atuado na Rádio Tapuyo de Mossoró. Pouco depois, Carlos André mudou-se para o Rio de Janeiro, para onde chamou os irmãos visando a dar continuidade ao trabalho do Trio.

 

                        No Rio de Janeiro, o líder e fundador já atuava nas rádios Mayrink Veiga e Nacional, mantendo contato e intercâmbio com o compositor maranhense João do Vale.

 

                        Em 1954, recebeu em cerimônia, no Teatro Municipal no Rio de Janeiro, o troféu Elderbe, o mais importante prêmio musical naquele momento. 

 

                        Em 1962, gravou o primeiro disco, o LP Rua do Namoro. Depois disso, lançou, ao longo da carreira, cerca de 10 elepês, destacando-se, entre os quais, Trinta Dias de Forró e Forró do Mexe Mexe

 

                        Participou, ainda, de inúmeras coletâneas de música forrozeira.

 

                        Em 1972, o Trio se separou, com seus integrantes partindo para autuações individuais.

 

                        Possuo em meu acervo 25 títulos de seu repertório, alguns deles garimpados no baú do amigo Paulo Carvalho, Cardeal da Igreja Sertaneja e Membro da Academia Passa Disco da Música Nordestina.

 

                        Baseado nesse cabedal, aventuro-me em dizer que o Trio Mossoró, foi, enquanto durou, o grande intérprete da dupla Antônio Barros e Cecéu. Deles são 15 peças dos 25 títulos acima citados.

 

                        Como pequena amostra, escolhi cinco ritmos nordestinos diferentes, para que vocês possam curtir um pouco as preciosidades que esses maravilhosos artistas nos legaram:

 

                        Eta Coração, rojão, de Antônio Barros;

 

                        Era Fogo, xote, de Cecéu; 

 

                        São João Chegou, arrasta-pé, de Cecéu; 

 

                        Carcará, baião, de João do Vale e José Cândido, ressaltando a voz de Ermelinda/Ana Paula; e 

 

                        Praça dos Seresteiros, toada, de Antônio Barros e Oséas Lopes.

 


Música Nordestina quinta, 27 de outubro de 2016

MANEZINHO ARAÚJO, O REI DA EMBOLADA

MANEZINHO ARAÚJO, O REI DA EMBOLADA

Raimundo Floriano

 

Manezinho Araújo, em charge de Nássara

 

                        Manuel Pereira de Araújo o Manezinho Araújo, nasceu em Cabo de Santo Agostinho (PE), a 7.09.1910, e faleceu e São Paulo (SP), a 23.05.1993. Cantor, compositor e artista plástico, era filho de José Brasilino de Araújo e Joventina Pereira de Araújo.

 

                        Funcionário da antiga Estrada de Ferro Great Western, desde a adolescência interessou-se por música, frequentando as rodas boêmias do bairro de Casa Amarela, no Recife, onde estudava. Numa delas, ficou conhecendo o cantor de emboladas Minona Carneiro, que o ensinou a cantá-las.

 

                        Com a Revolução de 1930, ingressou como soldado nas forças revolucionárias, mas, quando seu pelotão chegou à Bahia, o governo se havia rendido, e a tropa viajou para o Rio de Janeiro. Nessa época, Manezinho já cantava emboladas e chegou a se apresentar em cabarés do Rio.

 

Manezinho, em ótima caricatura

 

                        Retornando de navio para Pernambuco, na Bahia embarcaram os artistas Carmen Miranda, Josué de Barros, Bentinho e Almirante, que vinham de uma temporada em Salvador e iam apresentar-se no Recife. Em uma roda musical a bordo, Manezinho, ainda na farda, como Sargento, agradou muito com suas emboladas. Carmen Miranda, então, aconselhou-o a ir para o Rio de Janeiro, e o violonista Josué de Barros prometeu lançá-lo no rádio.

 

                        Ao chegar em Pernambuco, já desligado da caserna, ficou por ali um tempo, mas, no início de 1933, se mudou para a capital carioca, hospedando-se com Josué, no Bairro de Santa Teresa, onde ficou ensaiando. Em abril do mesmo ano, Josué levou-o à Rádio Mayrink Veiga, onde Manezinho se apresentou, sendo escalado para voltar na semana seguinte. Na segunda apresentação, Ademar Casé, que comandava o Programa Casé, na Rádio Philips, ofereceu-lhe um contrato com exclusividade. Manezinho aceitou, participando duas vezes por semana no programa.

 

                        Ainda em 1933, foi levado por Josué à Odeon, gravando duas emboladas de sua autoria e assinando contrato com a gravadora. E, daí pra frente, sua carreira deslanchou.

 

Flagrantes de Manezinho Araújo

 

                        Três anos depois, fez sua estreia no cinema, cantando duas emboladas no filme Maria Bonita. Atuou ainda em diversos outros filmes e participou de 22 cinejornais da Atlântida, em que aparecia na parte final cantando um verso de embolada ou contanto uma história.

 

                        De 1937 a 1940, gravou na Odeon algumas emboladas de sucesso, como Segura o Gato, Pra Onde Vai, Valente?, Quando eu Vejo a Margarida, Sá Turbina e Sordado Aburricido, todas de sua autoria.

 

                        Em 1941, deixou a Odeon, depois de gravar, além das emboladas, cocos, frevos, sambas, etc. Em 1945, obteve grande sucesso com a gravação de Dezessete e Setecentos, de Luiz Gonzaga e Miguel Lima.

 

                         Manezinho foi um dos pioneiros na gravação de jingles no Brasil, tendo participado da campanha dos produtos Lifebuoy, e também o primeiro artista a ser contratado por uma fábrica, a do Óleo de Peroba, cantando duas vezes por semana, um na Rádio Nacional, e outra na Mayrink Veiga.

 

                        Durante sua carreira, apresentou-se em todas as regiões do País, cantou em diversas casas de espetáculos gravou dezenas de discos em diferentes gravadoras, quase sempre com enorme aceitação. A seguir, capas alguns discos que gravou, incluindo um CD, lançado pela Editora Revivendo, e elepês facilmente encontráveis em sebos virtuais: 

 

                        Em 1954, desgostoso com o meio artístico, que criava fãs-clubes para autopromoção, decidiu interromper sua carreira e realizou um espetáculo de despedida no Tijuca Tênis Clube, ao qual compareceram cerca de 15 mil pessoas. Com a renda obtida nesse show, inaugurou em Copacabana um restaurante típico, o Cabeça Chata, onde passou a cantar e contar causos.

 

                        No início da década de 1960, começou também a pintar.

 

                        Em 1962, fechou o restaurante e transferiu-se para São Paulo, abrindo outro Cabeça Chata.

 

                        Meses depois, deixou o negócio, dedicando-se exclusivamente à pintura, atividade em que também obteve enorme êxito.

 

    

Dois quadros de Manezinho Araújo

 

                        Como amostra de seu trabalho, escolhi duas emboladas ambas de sua autoria:

 

                        O Carrité do Coroné, toada: 

 

                        Muié Muderna, embolada:

  

                        Festa no Arraiá, embolada:

  

                        Pra onde Vai, Valente?, embolada: 

 

                        Cuma É o Nome Dele?, embolada:

 

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Música Nordestina quarta, 26 de outubro de 2016

REENCONTRO MUSICAL POTIGUAR

REENCONTRO MUSICAL POTIGUAR

Raimundo Floriano

 

 

                        Eu já falei aqui em raridade, a 25.05, com o Trio Mossoró, a 22.06, com Mister Six, o Hexadátilo do Cavaquinho, e, a 29.06, com a cantora Linda Rodrigues. Agora, volto com algo mais RARO ainda, que é este Encontro de Intérpretes Potiguares.

 

                        Há um mês, eu nem sabia de sua existência. Fui instigado pelo Maestro Antonio Gomes Sales, de Caraúbas (RN), a quem muito aqui já me referi, por seu trabalho na elaboração de partituras carnavalescas, colaborando em meu projeto de resgate da memória da MPB, particularmente no que tange ao Carnaval. Só nesta nova faze, são mais e 50º peças que, após formatadas, colocarei à disposição dos músicos do mundo inteiro.

 

                        Ele me pedia o áudio destas 13 joias de nosso cancioneiro pátrio e internacional: Devolvi, com Núbia Lafayette, Não Me Perguntes, com Ângela Maria, Cabecinha no Ombro, com Ângela Maria e Agnaldo Timóteo, Orgulho, com Ângela Maria, Alguém Me Disse, com Anísio Silva, Al Di Lá, com Connie Francis, Siboney, com Connie Francis, Diana, com Carlos Gonzaga, Quase, com Carmen Costa, Não Chores Por Mim, Argentina, com Cláudia, Iolanda, com Simone, Iracema, com os Demônios da Garoa e Praieira, com Paulo Tito.

 

                        As 12 primeiras foram moleza. Dormiam em minas prateleiras. Mas essa Praieira, meus amigos, foi pedreira pura, parada pra desmantelo. Eu nunca ouvira falar nela nem no nome do cantor. Mas resolvi enfrentar todos os obstáculos, todas as dificuldades, para não deixar de atender o amigo que, com imensa boa vontade vem cooperando na concretização de meus ideais.

 

                        Como primeiro passo, recorri ao Google, que me informou ser Praieira, também conhecida como Serenata do Pescador, uma canção com letra de Otoniel Menezes e música de Eduardo Menezes, composta em 1922 e, pelo Decreto-lei nº 12, de 22 de novembro de 1971, do governo municipal de Natal, declarada o Hino Oficial da Cidade, assim considerada por todos os norte-rio-grandenses.

 

                        Sobre o Cantor Paulo Tito, consegui as informações a seguir. Batizado Paulo Peres Tito, cantor, músico, compositor e produtor, nasceu em Natal, a 8 de abril de 1929. Herdou o gosto musical do pai e estreou como cantor aos 13 anos de idade, na Rádio Educadora de Natal.

 

                        Participou de diversos programas de calouros em sua cidade. Em 1951, assinou contrato com a Rádio Jornal do Commercio do Recife, atuando, também, como cantor, na Orquestra Tabajara.

 

                        Em 1954, foi para o Rio de Janeiro, a convite de Luiz Gonzaga, para cantar na Rádio Mayrink Veiga. Em 1955, estreou em disco na Copacabana com o samba-canção Missão de Amor, de Renê Bittencourt, e a rancheira No Meu Sertão, de Luperce Miranda e Gildo Moreno. Em 1956, gravou os sambas-canções Nossa Senhora de Copacabana, de Heitor dos Prazeres e Kaumer Teixeira e Linhas Paralelas, de Valdemar Gomes e Jair Amorim. Em 1959, gravou, na Polydor, os sambas Sai do Bar, de sua autoria e Ricardo Galeno e Compromisso Com a Saudade, de Billy Blanco.

 

                        Em 1961, gravou, na Continental, os baiões O Vendedor de Biscoito, de Gordurinha e Nelinho, e A Vassoura da Comadre, de Gordurinha. Do mesmo Gordurinha, gravou o rojão Pedido Legal, e, de Miguel Lima e Liesse Miranda, o xote Confusão em Família.

 

                        Em 1975, integrou uma caravana de artistas potiguares e retornou ao Rio Grande do Norte, fazendo apresentações em diversas cidades do interior. Em 1977, gravou o LP Balanço, pela Tapecar, interpretando músicas de Vinícius de Moraes, Noel Rosa e Chico Buarque.

 

                        Como compositor, fez parcerias, entre outros, com Roberto Faissal, Romeu Nunes e Zé Gonzaga. Teve composições gravadas por Altemar Dutra, Carequinha, Cauby Peixoto, Os Cariocas, Elis Regina, Zé Gonzaga e alguns mais.

 

                        A partir de 1978, voltou a residir em Natal, passando a lecionar violão no Instituto de Música Waldemar de Almeida, além de se apresentar em casas noturnas.

 

 

                        Outras composições suas: Amor de Nordestino, parceria com Chico Anysio; Canção Pra Mamãe, com Renê Bittencourt; Candidata a Triste, com Ricardo Galeno; Cantiga de Um Homem Triste, com Roberto Faissal; Domingo em Copacabana, Roberto Faissal; Gamação, com Zé Gonzaga; O bom... bardino, com Álvaro Menezes; O Importante É Ter Você, com Belo Xis; Quero Você, com Ricardo Galeno; Questão Moral, com Roberto Faissal; Samba Feito Pra Mim Só, com Renê Bittencourt; Vou Comprar Um Coração, com Romeu Nunes; Vou Me Aposentar do Meu Amor, com Ricardo Galeno, e Yê-yê-yê Baiano.

 

                        Sua discografia é extensa, com alguns títulos em discos 78 RPM disponíveis no mercado virtual.

 

                        Faltava, agora, localizar o áudio da Praieira. Valendo-me dos dados LP - PAULO TITO - PRAIEIRA, fui direcionado pelo Google para um site de vendas, o único, onde eram anunciados dois exemplares do LP Reencontro. Adquiri de menor preço, cujo valor era de R$35,00. Mais adiante, falarei dobre o mais caro.

 

                        Esta coletânea, com intérpretes potiguares, é uma promoção do Governo do Estado do Rio Grande do Norte, na gestão de José Cortez Pereira de Araújo, Governador Biônico, com mandato entre 1971/1975, sendo, posteriormente, Prefeito de Serra do Mel, no período 2001/2004. Nascido em Currais Novos (RN), a 17.10.1924, e falecido a 21.2.2004, em Natal, Cortez Pereira deixou esse grande do documento fonográfico em prol da Cultura Musical Potiguar.

 

Governador Cortez Pereira e Dona Aída, sua mulher

 

                        Antes de apresentar o áudio de Praieira e de outras melodias potiguares, vou falar do outro exemplar – o único restante – do LP Reencontro, ainda disponível no site de venda. Enquanto o que eu adquiri me custou apenas 35 reais, conforme dito acima, este remanescente acha-se disponível pela bagatela de 490. Vejam o reclame: 

 

                        Aqui vai pequena amostra do trabalho desses intérpretes e compositores potiguares:

 

                        Praça Pio X, samba de Airton Ramalho, na voz de José Alves;

 

                        Prece ao Vento, toada de Gilvan Chaves, Fernando Cascudo e Alcyr Pires Vermelho, na voz de Ademilde Fonseca;

 

            ‘           Ranchinho de Paia, toada de Francisco Elion, com o Trio Irakitan;

 

                        Royal Cinema, valsa de Tonheca Dantas, com Orquestra e Coro sob a regência de Paulo Tito; e, finalmente, a raridade solicitada pelo Maestro Antonio Gomes:

 

                        Praieira, toada de Otoniel Menezes e Eduardo Medeiros, na voz de Paulo Tito.  

 

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Música Nordestina quinta, 13 de outubro de 2016

MINHA POSSE NA ACADEMIA PASSA DISCO DA MÚSICA NORDESTINA

MINHA POSSE NA ACADEMIA PASSA DISCO DA MÚSICA NORDESTINA

Raimundo Floriano

 

Academia Passa Disco

 

                        Fábio Cabral, Fundador da Academia Passa Disco da Música Nordestina, sediada no
Recife, PE, enviou-me mensagem perguntando quando eu iria tomar posse na referida. Estranhei, pois nem convidado fora. Mas, logo em seguida, Paulo Carvalho, Presidente do Órgão, confirmou-me a boa nova, informando-me de que eu seria titular da Cadeira n° 10 e que deveria escolher um Patrono.

 

                        Não fui com essa de dizer não mereço, não estou à altura, etc. e coisa e tal. Não! Com mais de 50 anos nesta minha cachaça de colecionador e pesquisador da nossa MPB, em especial do Dobrado, do Carnaval e do Forró, divulgando e compartilhando os achados de minha garimpagem, principalmente no Jornal da Besta Fubana, onde ocupava um cantinho, A COLUNA DE RAIMUNDO FLORIANO, já estava mais do que na hora de que isso fosse reconhecido por alguém.

 

                        E quão grande foi a minha alegria ao constatar que esse primeiro alguém era uma instituição pernambucana, recifense, cujos dirigentes eu conhecia apenas virtualmente, pelo Orkut!

 

                        Dito isso, passo a falar sobre a escolha de minha Patrona, a cantora Elba Ramalho.

 

                        No final dos Anos 70, a Música Nordestina ressentia-se da carência de representantes femininas que a divulgassem, e também a revigorassem, num universo quase totalmente dominado pelo sexo masculino. Importantes Musas do nosso Forró, como Marinês e Anastácia, estavam praticamente aposentadas. Havia, sim, cantoras no Nordeste já consagradas nacionalmente, mas que nada fizeram por nossa Música Regional, como Alcione, Maria Bethânia e Gal Costa.

 

                        Tomei conhecimento da existência de Elba Ramalho em 1979, ao ouvi-la no LP Asas da América, num projeto de revitalização do Frevo, no qual interpretava duas faixas: Olha o Trem e A Mulher do Dia, ambas de Carlos Fernando. Gamei na hora! Despontava uma forrozeira nova que, embora no Frevo, já demonstrava a que veio, com sua voz de pastorinha e modo de cantar inteiramente novo e seu. Mas eu queria mais. Queria ouvi-la também no Forró, matando a pau.

 

                        E isso não se fez esperar. Ainda em 1979, pelo final do ano, lançou seu primeiro LP, Ave de Prata, onde Canta, Coração, de Carlos Fernando e Geraldo Azevedo, e Bodocongó, de Humberto Teixeira e Cícero Nunes, que a entronizaram no sagrado templo do Forró, além de Não Sonho Mais, de Chico Buarque, onde esganiçava a voz, num jeito desbragado de cantar.

 

                        Instalara-se ela, assim, no meu gosto e na minha preferência. Desde então, passei a acompanhar o seu trabalho e a adquirir todos os seus registros fonográficos. Em 1982, após a morte de Jackson do Pandeiro, o Rei do Ritmo, Elba passou a ser minha principal referência na Música Nordestina, eis que Luiz Gonzaga, o Rei do Baião, já se encontrava no seu ocaso artístico. De 1979 até agora, gravou uns 30 frevos e cerca de 80 forrós. Enquanto isso, as nordestinas acima citadas, somadas às novatas, porém já famosas, Daniela Mercury, Ivete Sangalo, Cláudia Leitte, Pitty, Margareth Menezes e outras passaram e passam ao largo de nossas raízes musicais.

 

                        Elba Ramalho é hoje o nosso grande ícone, e, com imensa alegria, vejo surgirem a cada dia novas cantoras espelhando-se no seu estilo, na sua voz, no seu carisma.

 

 

Elba e Elba, em outubro de 1983

 

                        Meu fascínio por Elba Ramalho solidificou-se e intensificou-se de tal forma que, em 1983, quando nasceu minha primeira filha, batizei-a com o nome de Elba. E, por pura sorte, quando a menina estava com 20 dias de nascida, a cantora, no auge da carreira, veio apresentar-se em Brasília. Com a ajuda dos meus amigos Luiz Berto e Maurício Mello, na época empresários no Distrito Federal do Forró Pisa na Fulô, consegui que a estrela tirasse uma foto com minha filha nos braços.

 

                        Feita a escolha da Patrona, e após a devida comunicação da Academia à cantora, a grande surpresa: nestes tempos de agenda forrozeira lotada, ela aceitou, marcando a solenidade para as 19h dia 27 de maio de 2009.

 

                        Assim, no dia 26 de maio, terça-feira, parti para o Recife, acompanhado de Veroni, minha mulher, e Mara, nossa caçula – Elba, a da foto, não pôde viajar, devido à sua recente posse em cargo público. Nesse mesmo dia, hospedamo-nos no Hotel Manibu Recife, em Boa Viagem, onde instalei meu Cardinalato.

 

                        Comunicada minha chegada ao Papa Berto I, meu amigo desde 1966, pôs ele à minha disposição o Papamóvel, choferado pelo eficientíssimo cinesíforo Vilaça que, à noite, nos conduziu ao Palácio Pontifício, localizado no bairro Apipucos.

 

                        No Palácio Pontifício, o Papa Berto I havia providenciado reunião com alguns clérigos da Igreja Católica Apostólica Sertaneja - ICAS, ou, simplesmente, Igreja Sertaneja, contando com as seguintes presenças, além do Papa e do meu pessoal: Papisa Aline, Papinha João Berto, Cardeal João Veiga, Padre Arnaldo Ferreira, Padre Fábio Cabral e Cila, sua mulher, Padre Ismael Gaião e o leigo Valter Azevedo, amigo orkutiano que, mais tarde, no meu Decreto Cardinalício nº 1, seria nomeado Seminarista.

 

                        O Papa lamentou que, dentre os sacerdotes convidados, três houvessem apresentado suas escusas pela ausência naquela ágape, por motivos diversos e justificadíssimos: o Cardeal Zelito Nunes, por estarem ele e Madre Lelê, sua mulher, grávidos de quase nove meses, com o ansiado Gabriel prestes nascer; o Cardeal Xico Bizerra, devido a seu assoberbamento na composição de mais uma cantiga para Elba; e o Cardeal Paulo Carvalho, em virtude de escala no hospital onde dá plantão. Felizmente, tive a honra de conhecê-los na solenidade da minha posse.

 

                        Em rega-bofe tocado a uísque, refrigerante e tira-gosto, trocamos idéias, aproveitamos para nos conhecermos e relembrarmos fatos acontecidos no passado. Nessa ocasião, o Cardeal João Veiga me presenteou com o livro Poetas do Repente, editado pela Fundação Joaquim Nabuco, acompanhado de CD e DVD, preciosos documentos para as minhas pesquisas e o meu deleite.

 

                        Lá pras tantas, o Sumo Pontífice convidou todos os presentes a comparecerem ao Escritório Papal, para a inauguração, na parede dessa dependência palaciana, de duas novas placas de logradouros públicos, com nomes de amigos seus. É um modo de o Papa demonstrar sua deferência a alguns privilegiados membros da seita. Salamaleques e rapapés papais!

 

 

                        Ali, em local de destaque, já se encontravam: Avenida Cyll Gallindo, Rua Vladimir Carvalho, Beco do Giba, Viela Orlando Tejo, Arruado Maurício Melo Jr. e Alameda General-Presidente Natanael. Duas novas placas encontravam-se veladas. Descerradas pelo Papa, surgiram os nomes: Esquina Raimundo Floriano e Travessa Arnaldo Ferreira.

 

 

                        Encerrando essa cerimônia, o Padre Ismael Gaião lavrou em livro especial a Ata do feito e procedeu à sua leitura, após o que foi ela assinada pelos homenageados.

 

                        Nada mais havendo a tratar naquela noite, eu e minha família retiramo-nos para o meu Cardinalato, a bordo do Papamóvel, quando o cinesíforo Vilaça mostrou sua eficiência, não só como chofer, mas como utilíssimo cicerone, mostrando-nos e explicando-nos belas vistas turísticas da capital mauricéia.

 

                        No dia seguinte, 27, quarta-feira, às 17h30, Vilaça nos conduziu no Papamóvel para a Academia Passa Disco da Música Nordestina, no Shopping Sítio da Trindade, Estrada do Encanamento, aonde chegamos às 19h e ficamos aguardando a vinda da estrela, que não se fez esperar.

 

                        Acompanhada do sanfoneiro Cezinha, seu namorado, Elba Ramalho deu início à comemoração, lançando e autografando seu CD Balaio de Amor, posando para fotos com todos os seus inúmeros fãs e esbanjando simpatia e simplicidade, o que nos fez admirá-la ainda mais.

 

                        Passou-se, então, à solenidade de minha posse. No palco montado ao ar livre, compondo a Mesa, Fábio Cabral, Paulo Carvalho e o Imortal Luiz Berto, que, como Mestre-de-Cerimônias, deu início aos trabalhos. Convocou a mim e à estrela para tomarmos lugar diante da Mesa e em frente à platéia. Depois da saudação feita por Luiz Berto aos novos imortais, Elba Ramalho, a Patrona, entregou-me o Disco-Símbolo da Academia e recebeu idêntico troféu das mãos de Fábio Cabral, com a explicação de que um terceiro Disco ficaria exposto em local próprio na Academia, para marcar a perenidade do ato.

                       

 

                        Em seguida, o Presidente Paulo Carvalho deu por encerrada a cerimônia, e Elba Ramalho iniciou seu belíssimo e inesquecível show, cantando, principalmente, as faixas do seu CD recém-lançado.

 

                        A Academia Passa Disco da Música Nordestina, na época, era incipiente, embrionária, mas, dentro de pouco tempo, sua abrangência alcançou todo o território nacional. Como em meu caso, convocando-me de Brasília. A imortalidade dos seus membros se contém no fato que, daqui a uns 150 anos, quando se der a primeira vacância em qualquer das Cadeiras, os nomes do seu Membro inicial e do Patrono permanecerão caracterizando-a, como ocorre na Academia Brasileira de Letras.

 

                        Voltemos à grande festa.

 

                        Espetáculo com E maiúsculo foi o que aconteceu ali. Elba não se restringiu apenas a brindar-nos com músicas do seu novo disco ou do seu acurado repertório. Chamou ao palco para interagirem com ela não só alguns dos seus compositores ali presentes, como outros artistas que acorreram àquela maravilhosa festa: Flávio Leandro, Rogério Rangel, Eliezer Setton, Xico Bezerra, Terezinha do Acordeom, Júnior Vieira, Anchieta Dali, Luizinho Calixto, Cristina Amaral, Kelly Rosa, Hélio Donato e Conjunto Forroviário, Nena Queiroga, Bia Marinho, Josildo Sá e Targino Gondim, tendo sempre Cezinha como sanfoneiro principal. E todo esse pessoal, inclusive a estrela, se apresentando ali de graça, dando canja, sem cobrar sequer um mísero centavo.

 

                        O público era imenso e vibrante. Além de inúmeros membros do clero da Igreja Sertaneja, notaram-se ali outros nomes do mundo artístico nordestino, entre músicos, compositores e intelectuais: Fábio Simões, Arimatéia Ayres, Lourdinha Oliveira, Tostão Queiroga, Anjo Caldas, Gabriel Sá, João Cláudio Moreno, Gonzaga Leal, Valter Azevedo, Arluce Carvalho, Jeová da Gaita, Nilson Araújo, Ismael Gaião, Paulo Wanderley, Antônio Marinho, Greg Marinho, Júnior do Bode e Marinna Duarte sua noiva.

 

                        Depois de mais de uma hora em cena, a estrela se retirou, mas a festa prosseguiu até quase à meia-noite, com muitos dos artistas acima citados revezando-se no palco ou mostrando-me seus trabalhos, presenteando-me com seus CDs, falando-me dos seus planos, consultando-me.

 

                        Como último ato dessa extraordinária aventura, vi-me cercado por tietes recifenses, que me instaram a decifrar meu famoso cartão de visita. A cada definição, uma explosão de gargalhadas!

 

 

                        Foi a minha grande noite de fama, gravada para sempre no meu coração!

 

                        Meus mais efusivos agradecimentos ao Papa Berto I, extensivos à Papisa e ao Papinha, pelas mordomias postas à minha disposição, além da hospitalidade a mim oferecida no Palácio Pontifício. E também por ter-me inserido na sua patota e no círculo cultural da Veneza Brasileira.

 

                        Meu reconhecimento a duas personalidades recifenses que, na solenidade de minha posse, se destacaram no serviço do meu Cardinalato e da minha Imortalidade: Madre Superiora Neide, auxiliando minha filha Mara com sua máquina fotográfica, e Seminarista Valter Azevedo, que sempre me manteve abastecido, às suas custas, de Coca Cola Diet e piedosos itens mastigatórios.

 

Valter Azevedo, no ato da posse, e Neide Santos em evento posterior

 

                       

                        Apagados os lampiões, novamente o cinesíforo Vilaça nos conduziu no Papamóvel de volta ao hotel.

 

                        Às 14h00 do dia seguinte, 27, quinta-feira, pegamos o avião de regresso para Brasília. A bordo, fiquei a matutar no que me acontecera da terça até à quinta, vendo as cenas vividas passarem velozmente na minha mente, como num filme. Será que foi um sonho? Um sonho que durou três dias, no dizer do frevo dos Irmãos Valença? Foi não!

 

 

O disco-símbolo da imortalidade

 

                        A seguir, imagens da grande festa:

 

 

 

 

 

 

 

 

 

                      

 

 

 

 

 

                               Encerrando esta reportagem, aí vai minha Patrona Elba Ramalho, cantando o xote Se Tu Quiser, do amigo Xico Bizerra, carro-chefe do CD Balaio de Amor, lançado na ocasião:


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