Almanaque Raimundo Floriano
Fundado em 24.09.2016
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, dois genros e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

Carlos Brickmann - Chumbo Gordo quarta, 19 de abril de 2017

PODE VIR QUENTE QUE ESTOU FERVENDO

Agora que, passada a Páscoa, 2017 está começando, a Lava Jato vem com tudo: as delações premiadas de João Santana e Mônica Moura, os marqueteiros do PT (que conhecem boa parte das manobras da Odebrecht para financiar as campanhas de Lula, Dilma e candidatos presidenciais em países latino-americanos); e o avanço nas negociações para a delação premiada de Antônio Palocci, chefe da Casa Civil de Dilma, ministro da Fazenda de Lula e seu principal contato nos meios financeiros. Dizem que Palocci vai mostrar como bancos e conglomerados financiaram o PT.

Há ainda o depoimento de Léo Pinheiro, que era presidente da OAS na época da reforma do apartamento triplex, no Guarujá, que não é de Lula; da reforma do sítio de Atibaia, aquele que também não é de Lula; e do pagamento da guarda dos presentes que Lula ganhou como presidente, e que segundo o Ministério Público não são de Lula, mas da Presidência.

Por fim, o depoimento de Lula ao juiz Sérgio Moro. Lula montou duas estratégias: uma política, lotar ônibus com petistas e cercar o local do depoimento; outra, jurídica, de convocar 87 testemunhas, para atrasar o julgamento. Nenhuma deve funcionar: os antipetistas também prometem se reunir em Curitiba. E Sérgio Moro, para coibir a iniciativa de atrasar o julgamento, determinou que Lula esteja presente nos 87 depoimentos. Antecipar sua estada em Curitiba é aquilo que Lula menos deseja.

Avalanche – como lidar 1

Acusa-se o Supremo de lentidão – mas o fato é que lhe deram muitas atribuições sem reforçar sua estrutura. O tribunal que deveria julgar só temas constitucionais chega a cuidar de ladrões de galinhas. E o foro privilegiado agravou a situação: hoje, há 500 processos contra autoridades Para julgá-los, onze ministros. Agora, com a delação da Odebrecht, surgem mais 74 processos. A OAB, Ordem dos Advogados do Brasil, sugeriu a convocação de juízes instrutores para auxiliar os ministros. A medida é autorizada pelo regimento interno do Supremo.

Avalanche – como lidar 2

A ministra Carmen Lúcia, presidente do STF, decidiu convocar um “grupo de reforço especializado” para dar agilidade aos processos de quem está relacionado à Operação Lava Jato. A assessoria de imprensa do STF diz que a decisão não tem nada a ver com o pedido da OAB. Coincidência.

Onde está o dinheiro…

Esta coluna errou, ao dizer que a Odebrecht gastou um bilhão e tanto em propina. Na verdade, em nove anos de petismo (2006 a 2014), tirou de seus cofres US$ 3,37 bilhões – veja bem, dólares, não reais. Até 2008, a Odebrecht gastava em propinas, agrados, pixulecos, mimos, 0,5% de sua receita anual. A partir daí, o volume aumentou muito. Em 2012, o custo do escândalo já era de 1,7% da receita – e a receita também tinha aumentado, graças ao fermento da propina. Para a Odebrecht, tudo bem: gastava mais, mas faturava muito mais. Para o país, péssimo: a eficiência ficou esquecida. Dava menos trabalho pagar mais pelos equipamentos, material de construção e serviços, e descontar tudo no superfaturamento, do que negociar os preços com seus fornecedores. O preço das obras explodiu.

…o gato comeu

Esta coluna perguntou como a Odebrecht tirava dinheiro de suas contas para subornar autoridades sem que Coaf e Receita Federal sequer suspeitassem da existência de algo errado. Um leitor assíduo desta coluna, conhecedor de finanças, explica: “O dinheiro vem de superfaturamentos. Uma obra é vendida e faturada pelo dobro (com a conivência remunerada de algumas autoridades e a desatenção ou incompetência de outras). Todos os impostos são pagos e, portanto, não há sonegação. O dinheiro aparece no balanço como lucro. Logo, não é caixa 2; mas a Odebrecht não pode, em circunstâncias normais, confessar que superfatura contratos e aditivos. Parte disso é dado como propina, que garante mais superfaturamento”.

OK; mas a dúvida continua válida. Como é que registra as retiradas do caixa, sem que a Receita Federal e autoridades financeiras não percebam?

Mas a vida continua

Aécio talvez não consiga ser candidato, depois da delação da Odebrecht. Serra apanhou menos, mas apanhou. Quem será o candidato do PSDB? Lula, apesar do temporal de acusações, continua bem nas pesquisas (mas com índice recorde de rejeição). E corre o risco real de virar ficha suja até 2018. Se não for Lula, quem será o candidato do PT à Presidência?

Pelo jeito, os candidatos deverão merecer a origem de sua condição (deveriam manter limpíssimas suas togas brancas – “cândidas”, em latim). Gente como Sérgio Moro (já disse que não quer), João Dória (já disse que seu candidato é Alckmin), Joaquim Barbosa (recusou convite do PSB). Ou candidatos exóticos, como Tiririca e Bolsonaro. Quem se habilita?


Carlos Brickmann - Chumbo Gordo domingo, 16 de abril de 2017

DE ONDE SAIU O DINHEIRO?

 

Esqueçamos, por alguns instantes, os banhistas do mar de lama. A pergunta agora é outra: de onde a Odebrecht tirou o bilhão e tanto que confessa ter pago em propinas? Onde estava guardada a fonte do lamaçal?

O controlador da empresa, Emílio Odebrecht, disse que pelo menos nos últimos 30 anos as coisas funcionaram assim. Assim como, cara-pálida? O dinheiro que a Odebrecht recebe por prestação de serviços entra contra uma nota fiscal; se aplica parte da receita, há emissão de comprovantes dos ganhos (e prejuízos). O total de seus recursos, portanto, está registrado. De onde sai o dinheiro das propinas? A explicação possível é que as leis vêm sendo violadas nos últimos 30 anos, em que a empresa parece ter usado uma série de truques para gerar dinheiro de caixa 2. Há vários truques possíveis: simular prejuízos, por exemplo, permite evitar o pagamento de impostos sobre os lucros ali obtidos e abater, dos outros lucros da empresa, o valor necessário para abater o prejuízo inexistente. E, claro, os peritos de que um grupo desse porte dispõe entendem tudo do assunto.

Esses truques implicam, por definição, impostos menores do que deveriam. E a Receita Federal nunca percebeu incongruência nenhuma entre o volume de negócios e os lucros tributáveis? Os balanços também se tornam irreais – e as auditorias independentes, para que servem?

Siga o caminho do dinheiro. É aí que vamos descobrir a fonte da lama.

Abaixo as fronteiras

A propósito, o chefe do setor de Infraestrutura da Odebrecht, Benedicto Barbosa da Silva Jr., delatou o pagamento de 40 milhões de euros, “com recursos não contabilizados”, ao lobista José Amaro Pinto Ramos, para associar-se aos franceses na construção de submarinos para a Marinha do Brasil. Saiu um acordo esquisito, em que a França forneceria tecnologia desde que a Odebrecht fosse sua parceira no país. Esquisito só para nós, cidadãos: as autoridades não estranharam que outro país determinasse qual empresa brasileira forneceria material de guerra à nossa Marinha.

E os tais € 40 milhões pagos ao lobista? A Receita irá agora cobrar os impostos e tentar saber se onde havia esses euros ainda há algo sobrando?

Tem mais, tem mais

Dentro de poucos dias, na quinta-feira, 20 de abril, uma nova delação que tem tudo para ser explosiva: a de Leo Pinheiro, até há pouco presidente da OAS, tendo como temas centrais o apartamento triplex no Guarujá e o sítio em Atibaia que não são de Lula. Leo Pinheiro comandou a reforma do apartamento e autorizou o pagamento pela OAS da guarda, por quase dois anos, de dez contêineres com presentes recebidos por Lula em seus dois mandatos. Como presidente da OAS, tem condições de confirmar que a empresa investiu uma boa quantia como um agrado ao ex-presidente.

O caso do apartamento é decisivo: o julgamento, pelo juiz Sérgio Moro, deve ocorrer ainda neste primeiro semestre. Caso haja condenação, o julgamento do apelo decidirá se Lula mantém ou não os direitos políticos. Mesmo que se defenda em liberdade até que o processo seja concluído, em terceira instância, estará impedido de se candidatar a qualquer cargo.

Mais um

Antônio Palocci foi dirigente importante do PT, ministro e conselheiro de Lula e Dilma, mantem-se petista. Mas não é José Dirceu, um soldado do partido, preparado para resistir, sem ceder, às piores condições. Palocci, ao que parece, não está disposto a enfrentar longas penas de prisão.

É candidato forte à delação premiada. E ocupou posições em que viu e participou de muita coisa.

O ataque, as defesas

Todos os meios de comunicação estão abarrotados de informações sobre a delação premiada dos 77 diretores da Odebrecht. Nada mais natural: cada depoimento, cheio de detalhes comprobatórios, é suficiente para lotar um jornal por vários dias. Mas a defesa não tem merecido tanto espaço (até porque sempre se repetem as frases “o depoente faltou com a verdade”, “aguardo com serenidade a decisão da Justiça”, “nego veementemente que tenha havido qualquer conversa com esses senhores que não fosse voltada ao interesse público”. “se me fizessem alguma proposta eu encerraria a reunião na hora e lhes mostraria o caminho da saída” e outras do mesmo tipo). Mas há frases que fogem ao repetitivo:

Michel Temer, acusado de chefiar reunião em que se acertou propina de R$ 40 milhões: “Jamais colocaria a minha biografia em risco”.

Fernando Haddad, acusado de receber, a pedido de Lula, R$ 2 milhões no caixa 2: “Nada disso chegou aos meus ouvidos”.

Lula, com vários inquéritos correndo e um processo a ponto de ser julgado: “Estou muito tranquilo e continuo desafiando qualquer empresário brasileiro, qualquer empresário, a dizer que o Lula pediu R$ 10 pra ele”.

 

 

 


Carlos Brickmann - Chumbo Gordo segunda, 10 de abril de 2017

NEM O INIMIGO É DOS BONS

 

Michel Temer convive com ministros ameaçados pela Operação Lava Jato (e correlatas), com aliados que criticam o PT depois de participar de três períodos e meio de petismo no Governo, com suspeitas sobre o financiamento da campanha que o elegeu, ao lado de Dilma. Tudo bem, é do jogo; pelo menos é o que dizem os defensores de seu Governo.

O problema é que Michel Temer escolheu mal até seu principal inimigo. O presidente e sua articulação política temem Renan Calheiros – um senador que já foi obrigado a renunciar à Presidência do Senado por, entre outras coisas, fazer com que uma empreiteira pagasse a pensão de sua amante; que é investigado em 12 inquéritos, nove deles por questões da Lava Jato; que corre o risco de não se reeleger no ano que vem (as pesquisas o colocam atrás de Ronaldo Lessa, PDT, e Teotônio Vilella Filho, PSDB, e empatado com Benedito de Lira, PP); e que, para não perder o foro privilegiado, que o mantém a salvo do juiz Sérgio Moro, pode até desistir da reeleição para o Senado e sair para deputado – de preferência em lista fechada. Antes ser deputado em Brasília do que réu em Curitiba.

Para Renan, é bom brigar com Temer: o Governo tem baixa popularidade, e talvez seja melhor, em Alagoas, dispor do apoio de Lula. Mas Temer deveria arranjar adversários mais qualificados. O que não pode é o presidente brigar com alguém cuja maior aspiração é escapar de Moro.

Os mugidos

Coincidência: o PMDB elegeu os presidentes da Câmara e do Senado. Ambos, quando precisaram explicar a origem de seu dinheiro, voltaram-se à carne. Eduardo Cunha disse que ganhou muito exportando carne moída em lata para a África – embora nunca tenha lidado com carne, nem com exportações. Renan Calheiros apresentou fazendas com rebanhos primorosos, de rápido desenvolvimento, capazes de gerar grandes lucros. Nas mais modernas e rentáveis fazendas do país, a taxa de fertilidade das vacas é de 73%. Nas de Renan, eram de 86% (e, em 2004, chegaram a notáveis 90,8%). E houve até (veja aonde chega a maldade humana) quem dissesse que o gado declarado por ele não caberia na terra disponível.

Eduardo Cunha já está preso em Curitiba.

Amanhã vai ser outro dia

Amanhã, 10 de abril, Marcelo Odebrecht depõe para Sérgio Moro.

Boas palavras

O prefeito paulistano João Dória Jr., PSDB, determinou a extinção, na Prefeitura, de denominações que indiquem diferenças de classe social entre os cidadãos. Viva! Todos serão chamados de “senhor” e ”senhora”, abolindo-se termos como Vossa Excelência, Vossa Senhoria, Vossa Magnanimidade, Vossa Eminência e outros quetais. Quem somos nós para julgar o mérito de um juiz a ponto de chamá-lo de “meritíssimo”? Qual parlamentar merece, por seus atos e formação, ser “Vossa Excelência”?

Certa vez, este colunista foi informado de que deveria dirigir-se a determinado funcionário público de alto nível com o termo “Vossa Magnificência”. Primeiro achei que era pegadinha; ao ser informado de que era assim mesmo, exigi ser chamado de Vossa Gordência. Ele, Magnífico; eu, Gordo. Pelo menos no meu caso o título refletiria a realidade.

Tolerância

Combate à intolerância – étnica, de gênero, de origem, poder aquisitivo, seja qual for – e promoção da tolerância. A revista Conib, da Confederação Israelita Brasileira, acaba de ser lançada e dá acesso gratuito em Cadernos Conib. Um primor: coordenada por um competente jornalista, Henrique Veltman, traz textos de Celso Lafer, Renato Janine Ribeiro, Nilton Bonder, Bernardo Sorj, Yossi Alpern, Flávio Azm Rassekh, Hélio Carnassale, Carla Bassaneto Pinsky, Gabriel Holzhaker, Henrique Veltman, Ivanir dos Santos, Patrícia Campos Mello, Jaime Pinsky, Lelette Couto, Peter Demant, Rony Vainzof; e reproduz um excelente debate entre o ex-chanceler Celso Lafer, a advogada Akemi Kamimura e o advogado Fernando Lottenberg, presidente da Conib. O texto introdutório é de Eduardo Wurzmann, secretário-geral da Conib, e Fernando Lottenberg.

Outra visão

O bom jornalista Marco Piva, comentando uma nota desta coluna de apoio à extinção do Imposto Sindical, lembra que dos 17 mil sindicatos existentes no país (cálculo do relator da reforma trabalhista, Rogério Marinho, PSDB potiguar), mais de cinco mil são patronais, também ameaçados pela tesoura. “Os patrões, muitos deles, também vivem a boa vida sindical, sendo que alguns não pisam numa empresa há muitos anos”, diz Piva, e tem razão. Como disseram Vinícius de Moraes e Carlos Lyra, na voz de Nara Leão, é hora de por pra trabalhar gente que nunca trabalhou.

 

 

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Carlos Brickmann - Chumbo Gordo quarta, 05 de abril de 2017

MUDANDO SEM MUDAR

 

Há um ano, tínhamos Dilma, Eduardo Cunha, Nova Matriz Econômica, PT, Haddad e Dunga. Hoje temos Temer, Rodrigo Maia, política econômica ortodoxa, PT destroçado nas eleições, João Dória e Tite.

A inflação, que ameaçava ultrapassar os 10%, contentou-se com 4%; os juros básicos, ainda altíssimos, que eram de mais de 13%, devem chegar em 8,75% ao fim do ano. A balança comercial está bem positiva: US$ 7,1 bilhões de superávit em março, o melhor resultado desde março de 1989. E não é pela queda das importações, apesar da recessão: o país importou 7% a mais do que em março do ano passado. E o principal problema econômico do Brasil, os estonteantes 13,5 milhões de desempregados, pode começar a ser revertido: o Produto Interno Bruto, soma de tudo que é produzido no país, incluindo serviços, deve crescer 0,47% neste ano; e, em 2018, prevê-se 2,5%. É pouco. Mas para uma economia que há três anos só apresentava números negativos, é um sinal de que podemos ter esperanças.

Mas, com esses sinais, como explicar o baixíssimo índice de aprovação a Temer? Primeiro, pela própria política econômica: combater a inflação, reduzir privilégios e reformar instituições (mesmo falidas) é sempre impopular. E, lembremos, há um ano tínhamos Temer, Renan, Eunício, processos da Lava Jato encalhados no Supremo. Isso hoje mudou: os processos da Lava Jato encalhados no Supremo ficaram mais empoeirados.

O tempo passa…

O Tribunal Superior Eleitoral deveria ter começado ontem a julgar o processo, contra Dilma e Temer, por abuso de poder econômico nas eleições de 2014. Caso houvesse condenação, o registro da chapa seria cancelado; e, portanto, Michel Temer perderia o mandato. Caberia ao Congresso eleger indiretamente seu substituto até 31 de dezembro de 2018.

Temer se defende juridicamente alegando que toda a parte financeira da campanha coube ao PT – como se ele não tivesse nada a ver com sua companheira de chapa. Mas sua defesa real é outra: lutar para que o julgamento demore o suficiente para que ele termine o mandato em paz.

...o tempo voa

A Justiça contribui para que a defesa real de Temer funcione. Ontem, os advogados de Dilma pediram mais cinco dias para apresentar a defesa. Foram atendidos. Dia 4, mais cinco dias, dá 9 de abril, certo? Errado: como se sabe, a Páscoa cai no dia 16 de abril. E o julgamento, portanto, deve começar na última semana do mês. Provavelmente, no dia 27. Talvez.

Réus sim, e daí?

Os Estados e o Distrito Federal têm, no total, 28 governadores. Destes, 12 foram denunciados, ou estão sendo investigados. E dois foram cassados: Simão Jatene, do Pará (PSDB), e Pezão, do Rio (PMDB). Mas tudo bem: nem os cassados perderam os cargos, nem os demais correm grande risco de perdê-lo, graças à lentidão dos processos no foro privilegiado.

O doente…

A Rede Globo acaba de apresentar o caso do remédio L-asparaginase, usado no tratamento da Leucemia Linfoblástica Aguda, câncer no sangue. Quem levantou o caso, bem no início do ano, em seu blog Ucho.Info, foi o bem-informado repórter Ucho Haddad. Ucho não vacila: a compra do remédio (fabricado na China e comprado pelo Ministério da Saúde de um laboratório uruguaio) foi um escândalo. No mundo inteiro, a L-asparaginase é biológica. O Brasil foi o primeiro país a comprar a L-asparaginase chinesa, mais barata, mas sem certificado de origem biológica, sem comprovação de eficácia. O laboratório uruguaio dá um endereço no Uruguai onde não há laboratório nenhum; e seu endereço no Brasil está num escritório de contabilidade.

…que se vire

O ministro da Saúde, Ricardo Barros (PP do Paraná), não quis dar entrevistas sobre o caso do remédio chinês nem a Ucho nem à Globo.

Ucho se espanta: “E o ministro da Saúde continua no cargo!”

Sabe o seu bolso?

O Fundo Partidário, dinheiro público entregue aos partidos políticos para sua manutenção, era de R$ 313,5 milhões até 2014. De lá para cá, multiplicou-se: já está em R$ 811 milhões. E, já que os doadores estão assustados com a Lava Jato, junto com a tal “reforma política” deve oscilar em torno de R$ 4 bilhões por ano. Hoje, da verba partidária, 10% são gastos em jatinhos e despesas suntuárias. E ainda se pergunta por que há tantos partidos no Brasil. Se dá grana, qual esperto perderá a oportunidade?

Lágrimas sentidas

Andréa, irmã do senador Aécio Neves (PSDB – Minas), chorou ao ler trechos de uma delação premiada em que ela e o irmão são acusados de receber propinas. Não se deve acusar Aécio nem Andréa, senão ela chora.

 

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Carlos Brickmann - Chumbo Gordo domingo, 02 de abril de 2017

É SEM NUNCA TER SIDO
 

O Tribunal Superior Eleitoral inicia depois de amanhã o julgamento da chapa Dilma-Temer, acusada de abuso do poder econômico nas eleições de 2014. Se houver condenação, a chapa é cassada; os candidatos perdem o cargo que tenham obtido. Dilma já se foi; Temer perde o mandato.

O Tribunal Regional Eleitoral do Rio cassou o registro da chapa Pezão – Francisco Dornelles. E, portanto, decidiu afastá-los dos cargos que ocupam, governador e vice-governador do Rio.

Pezão e Dornelles foram cassados, mas continuam exercendo o mandato até que o Tribunal Superior Eleitoral julgue seu recurso. Não dá tempo: até o recurso ser julgado, o mandato de ambos estará findo. Algo semelhante deve ocorrer com Michel Temer: o relator do processo, ministro Hermann Benjamin, pode apresentar relatório desfavorável ao presidente. Mas, ao que se sabe, ministros favoráveis a Temer estão dispostos a pedir vistas do processo, paralisando tudo. Na prática, não há prazo para devolver os autos, e enquanto isso o julgamento não anda. Mas imaginemos que o processo se mova e Temer seja derrotado. Vai continuar no cargo enquanto todos os recursos não forem julgados. E, em 31 de dezembro de 2018, à meia-noite, seu mandato presidencial se encerra. Depois disso, uma eventual condenação não passará de curiosidade histórica. Como dizia o ex-ministro Roberto Campos, o Brasil não corre o menor risco de dar certo.

Numerologia 1

Da internauta Simone Queiroz, assídua leitora desta coluna:

“13 é o número do PT/13 anos no poder
13,5 milhões de desempregados
Está comprovado: 13 é um número azarado.”

 

 

Numerologia 2

O juiz Sérgio Moro trabalha na 13ª Vara Criminal Federal de Curitiba.

Inflação em queda

A inflação (em parte por maus motivos, como a recessão que obriga os fornecedores a reduzir, ou no máximo manter, seus preços; em parte por bons, já que as medidas antiinflacionárias estão funcionando) mostra tendência de queda – a tal ponto que o ministro Henrique Meirelles pensa em reduzir a meta oficial, em 2018, para 4,25%; e para 4% em 2019. O presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, já propôs que, a longo prazo, o país busque inflação máxima de 3% ao ano. Hoje a meta é de 4,5%, e o Governo Dilma a ultrapassou todos os anos.

Comércio respirando

A assessoria econômica da Federação do Comércio de São Paulo registra boa recuperação do varejo paulistano em janeiro. É o terceiro aumento seguido nas vendas, que subiram 5,9%, puxadas por concessionárias de veículos, que tiveram alta de 2,8%. Segundo a Federação, o crescimento de vendas de veículos indica a melhora das expectativas dos consumidores paulistanos, já que envolve gastos elevados por um extenso período. Mas os números do desemprego continuam altos.

Ainda falta!

As leves melhoras na economia não foram suficientes para dar uma injeção de popularidade no presidente da República. Uma pesquisa do Ibope, encomendada pela CNI, Confederação Nacional da Indústria, mostra péssimos índices para Michel Temer. Dos entrevistados, 55% consideram seu Governo ruim ou péssimo, contra 10% que o consideram ótimo ou bom. A esperança de Temer está numa recuperação econômica que seja percebida pelos eleitores e os convença de que o desemprego será reduzido.

Falta muito!

De acordo com pesquisa de outro instituto, o Ipsos, sobre a avaliação dos políticos brasileiros, o ex-presidente Lula está na frente: 38%. Mas tem dois grandes obstáculos no caminho para disputar a Presidência: o primeiro é que tem 59% de rejeição. A popularidade não é suficiente para elegê-lo no primeiro turno, e a rejeição é alta demais para permitir-lhe a vitória no segundo. O outro motivo é que o juiz Sérgio Moro e o ministro aposentado do Supremo Joaquim Barbosa são mais populares do que ele, e enfrentam menor rejeição. Moro tem 63% de popularidade; Barbosa, 51%.

 

 

Fato novo

Há também um novo possível candidato que pode criar problemas para Lula: o prefeito paulistano João Dória Jr., do PSDB, cuja administração vem sendo muito bem avaliada. Dória diz que não pretende deixar a Prefeitura no meio do mandato e que seu candidato a presidente é o governador Geraldo Alckmin. Mas como se comportará se as pesquisas, no ano que vem, o indicarem como o mais forte candidato entre os tucanos, com possibilidades reais de se eleger presidente? Alckmin, lembremos, já perdeu de Lula, com menos votos no segundo turno do que no primeiro.

 


Carlos Brickmann - Chumbo Gordo domingo, 26 de março de 2017

OLHOS NOS OLHOS
 

Lula pediu ao Supremo Tribunal Federal a interrupção das investigações sobre ele em Curitiba. Foi derrotado por unanimidade. Já pediu medidas semelhantes ao Tribunal Regional Federal de Curitiba, ao Superior Tribunal de Justiça, e perdeu. Ao que tudo indica, terá de sentar-se diante do juiz Sérgio Moro, em 5 de maio, pela primeira vez pessoalmente, e ser ouvido sobre o triplex do Guarujá. Lula é o último a depor: depois, virão as alegações finais dos advogados e Sérgio Moro dará a sentença.

Lula é réu em cinco processos, e este é o primeiro em que haverá sentença. Se condenado, poderá recorrer em liberdade. Mas, se o recurso for rejeitado, estará às portas da prisão. E inelegível, como ficha suja.

E tudo piora, para seu lado, com o depoimento de Marcelo Odebrecht. Diz o Príncipe dos Empreiteiros que pagou R$ 50 milhões pela Medida Provisória 470/2009, a MP dos Refis, editada pelo presidente Lula para beneficiar quem estava com os impostos atrasados. Diz também que Lula informou a sua sucessora, Dilma, que Antônio Palocci era o encarregado de ordenhar a Odebrecht. Diz ainda que Dilma trocou Palocci por Mantega. Tanto Lula quanto Dilma, portanto, sabiam de tudo.

E gostaram.

Depois do depoimento de Marcelo Odebrecht, depois da delação de outros diretores da empresa, ficou claro que os fatos ocorreram. A questão agora é definir se configuram crime ou não. E punir os culpados.

 

 

Dilma em risco

Odebrecht diz que Dilma lhe informou sobre a troca do captador, de Palocci para Mantega, logo depois de Palocci deixar o Governo. Citou até a frase que ela teria dito: “Daqui pra frente é com o Guido”. Informou que a presidente sabia que seu marqueteiro João Santana recebia da Odebrecht pelo caixa 2. E que ele mesmo, Odebrecht, disse a Dilma que as contas bancárias no Exterior estavam ao alcance da Operação Lava Jato. Se essas informações forem falsas, Marcelo Odebrecht terá de cumprir pena de quase 20 anos. Se verdadeiras, sai da prisão no fim deste ano.

A defesa de Dilma

A ex-presidente não quis falar. Sua resposta está numa nota, na qual classifica o depoimento de Marcelo Odebrecht como “novas mentiras”.

 

A reação do PT

O PT, discretamente, está montando uma caravana para ir a Curitiba no dia em que Lula for interrogado por Moro.

A ordem é se reorganizar

O PT gostaria de ter Lula como presidente do partido. Lula rejeitou o cargo: prefere cuidar de sua candidatura à Presidência. E, claro, de sua defesa. Quem será o presidente do partido? O senador fluminense Lindbergh Farias é candidato; mas a corrente de Lula, majoritária, está escolhendo outro nome. O 7º Congresso Nacional do PT se realiza de 7 a 9 de abril. A nota informativa poderia ter sido escrita por Dilma Rousseff:

“O VI Congresso Nacional do PT será realizado nos dias 7, 8 e 9 de abril de 2017, com a participação de 600 delegados e delegadas, observando a paridade de gênero e as cotas étnico raciais e de juventude (…)”. Haverá espaço para índios, orientais, galegos?

Pisando na bola 1

O juiz Sérgio Moro, que até agora vinha resistindo bem aos ataques que sofreu, acabou errando feio e tendo de recuar ao determinar a condução coercitiva (a pessoa é conduzida presa para prestar depoimento) do blogueiro Eduardo Guimarães. A história: Guimarães, abertamente petista, soube com antecedência que Lula seria conduzido coercitivamente para prestar depoimento. Transmitiu a informação a Lula e, mais tarde, publicou-a em seu blog. Moro encarou a atitude de Guimarães como tentativa de atrapalhar as investigações. Errado: conforme a Constituição, os jornalistas podem divulgar as informações que tiverem, mesmo secretas. Quem tem de guardar sigilo de documentos são os servidores públicos, não os jornalistas. E jornalistas devem ouvir todos os lados. Moro disse que Guimarães não é jornalista. Errado: se trabalha em jornalismo, é jornalista e ponto final. Moro acabou recuando.

Pisando na bola 2

A Operação Carne Fraca gerou muito calor e pouca luz. Mais de mil homens, depois de dois anos de investigações, pegaram 33 fiscais e uns poucos frigoríficos pequenos. Erraram na divulgação, confundiram a opinião pública, confundiram os importadores, derrubaram as exportações brasileiras, geraram demissões em massa, provocaram problemas que o país levará anos para resolver. E não se pode aceitar que ignorem que ácido ascórbico é vitamina C, que os produtos são embalados em caixas de papelão, que ácido sórbico é um conservante tradicional e, ao que se saiba, seguro. Se a operação não trouxer outros resultados, foi um fracasso.


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