Almanaque Raimundo Floriano
Fundado em 24.09.2016
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, dois genros e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

Carlos Brickmann - Chumbo Gordo quinta, 14 de junho de 2018

A COPA QUE ERA NOSSA

 

Meninos, eu vi: na Copa de 62, quando nem se imaginava a transmissão direta pela TV, a Rádio Bandeirantes montou um imenso painel no Vale do Anhangabaú, em São Paulo, com botões no lugar de jogadores. Pedro Luís e Edson Leite irradiavam, e os botões se moviam simulando a partida. Um mar de gente, centenas de milhares de pessoas, acompanhava o painel. O Brasil foi bicampeão; e bicampeões foram os que acompanharam a Copa.

Hoje, diz o Datafolha, a maioria da população, 53%, não tem interesse pela Copa. Já surgiu a tese de que a camisa da Seleção, sendo amarela como o pato da Fiesp usado nos protestos contra Dilma, perdeu prestígio. Besteira: a camisa é canarinho, amarelo-canário, e foi festejada na Copa de 1970, apesar de tentarem (sem êxito) identificá-la com a ditadura militar.

Ao contrário do que acreditam coxinhas e petralhas, o mundo não gira em torno de suas fixações. Nem tudo é política. No caso da Seleção e da Copa, há outro fator: em 58, em 62, em 70, cada torcedor conhecia cada jogador. Os convocados jogavam em seu time, ou contra ele; torcia-se pelo craque do time (e, portanto, pela Seleção). Hoje, poucos craques estão no Brasil, ou aqui se consagraram: saíram meninos e cresceram muito longe da torcida. Normalmente, têm ligação com o Brasil, mas é mais distante.

Gilmar, Nilton Santos, Didi, Vavá, Pelé, esses o torcedor conhecia e sabia onde jogavam. Responda rápido: aqui, onde jogava Roberto Firmino?

Seleção brasileira Campeã do Mundo em 1958. Em pé, da esquerda pra direita: Djalma Santos, Zito, Belini, Nilton Santos, Orlando e Gilmar. Agachados, da esquerda pra direita: Garrincha, Didi, Pelé, Vavá, Zagalo e o massagista Mário Américo.

Sinal de alerta

Seguidores de Jair Bolsonaro voltaram a atacar João Dória. Adversários de Bolsonaro também colocaram Dória na alça de mira. Mau sinal para o candidato do PSDB, Geraldo Alckmin: indica que os concorrentes voltam a considerar provável que, diante da imobilidade de Alckmin nas pesquisas, o partido resolva trocá-lo por Dória. Dória nega que queira ser candidato, mas essas coisas são meio complexas: se o partido lhe fizer um apelo, por que não fazer o sacrifício de atender aos pedidos e disputar a Presidência?

A tática de Alckmin

Alckmin tem dito a amigos que sua tática é ficar tranquilo, sem fazer marola. Acredita que Bolsonaro já esteja batendo no teto, incapaz de chegar mais alto; acredita que o candidato do PT tenha mais chances de alcançar o segundo turno; acredita que os partidos tradicionalmente alinhados ao PSDB, que agora tentam criar um candidato de centro, acabem concluindo que este candidato já existe e é ele, Alckmin. No segundo turno, ganharia os votos de todo o eleitorado antipetista e chegaria à Presidência. Pode ser; mas a manutenção de baixos índices nas pesquisas estimula outros partidos a tentar viabilizar novos candidatos (mesmo que sejam do próprio PSDB, como Dória). E se, de repente, Ciro Gomes atrai alguma legenda de centro?

Rir, rir, rir

Henrique Meirelles conta com três fatores para se transformar em nome forte: apoio da máquina do Governo, bons resultados na economia e cacife para pagar a maior parte da campanha (ou até mesmo a campanha toda). Só que o mundo não é bem assim: Michel Temer, com 3% de aprovação, sob ameaça de novo pedido de processo, não controla mais nem seus aliados próximos ainda soltos, quanto mais a máquina do Governo. Os resultados da economia são bons, especialmente considerando-se que foram obtidos em curto prazo e sob permanente crise política, mas uma ampla maioria de eleitores acha que a economia vai mal. Até agora, Meirelles, com apelo popular nulo, não conseguiu passar ao eleitor que sua área vai melhor do que se poderia esperar. E pagar a campanha, OK. Mas fará isso mesmo sem chances de crescer? Agora, o dado humorístico: sugeriram a Meirelles que se posicione mais à esquerda. Será engraçado se ele aceitar.

A vida como ela não é

Sim, os ministros do Supremo Tribunal Federal têm à disposição um servidor que ajeita as cadeiras sempre que algum deles se senta ou levanta (naturalmente, um funcionário por ministro). Não, este detalhe não é o top da mordomia: bom mesmo é desfrutar de uma área exclusiva de embarque no Aeroporto de Brasília, pela qual o Supremo paga R$ 374,6 mil por ano. Questão de segurança: os ministros não precisam se misturar à plebe rude para embarcar. Seu espaço fica a uns 2 km do embarque dos passageiros comuns. No momento do embarque, o ministro é levado de van até o avião e sobe por uma escada exclusiva para uma porta lateral do finger, onde finalmente (que fazer?) se mistura com os cidadãos sem toga.

Mas ainda estão sujeitos a agressões verbais de gente mal-educada, que expressa em voz alta suas restrições ao trabalho de um ou outro ministro.

Bola de cristal

Frase do ex-presidente americano Ronald Reagan: “A política é supostamente a segunda profissão mais antiga. Vim a perceber que tem uma semelhança muito grande com a primeira.”


Carlos Brickmann - Chumbo Gordo segunda, 11 de junho de 2018

TEMER DÁ A RÉ

 

O presidente Michel Temer é coerente: está onde sempre esteve (talvez isso só mude no fim do mandato, quando perder o foro privilegiado). Temer, ao assumir, lembra-se? extinguiu o Ministério da Cultura, apenas para em seguida voltar atrás, diante da reação dos prejudicados. Agora, em quatro horas, anunciou a tabela de preços mínimos para o frete e, diante da reação de líderes dos caminhoneiros, que ameaçaram parar de novo, recuou, revogou a tabela e prometeu outra, exatinho como eles exigiam. Os reclamantes nem pediram licença: invadiram o Ministério dos Transportes. E, mais uma vez, viram o presidente obedecer a quem gritasse mais.

Enquanto isso, como se comporta o mercado? Uma carga de 300 kg de São Paulo a Roraima sairia por pouco menos de R$ 1.200. Mas apareceram transportadores se propondo a levá-la por R$ 1.000, ou menos. A questão nem é tanto de preço: é que o caminhoneiro autônomo não pode parar, se quiser pagar as contas. E quem está ganhando com isso? Caro leitor, é ele mesmo: Joesley. Ou eles, os de sempre: os frigoríficos. O criador não pode segurar os bois no pasto, sob pena de ter prejuízo. Frigoríficos aproveitam a paralisação: oferecem preço menor pelo bois, e os criadores, pressionados, aceitam. Os frigoríficos ganham também na outra ponta, exportando com o dólar alto. Quem pensa nos caminhoneiros de verdade, ou nos criadores?

E Temer, não pensa? Talvez até pense, mas não hesita em dar a ré.

O dinheiro que falta

O Governo diz que o orçamento não comporta novos gastos. Deve ser verdade: o déficit deste ano está por volta de R$ 160 bilhões. Mas será que não dá para mexer nisso? O empresário Zizinho Papa, presidente emérito da Federação do Comércio, que será candidato a deputado federal pelo PSDC paulista, dá números: temos 54 governadores e vices, 81 senadores, 11,136 prefeitos e vices, 1.024 deputados estaduais, 513 deputados federais. Vices e governadores, deputados federais, senadores, prefeitos, todos têm carro oficial. Deputados estaduais, não todos, mas muitos, têm carro oficial. Sem luxo: bons carros, como Toyota Corolla, Honda Civic, Chevrolet Cruze e outros do mesmo nível, custam no mínimo R$ 80 mil. É preciso tudo isso? Não são só os carros: se reduzirmos à metade o número de 69.620 políticos com mandato, qual o problema? E qual a economia?

Os números

A política nos custa (tudo, incluindo o que é mesmo indispensável) R$ 150 mil por minuto, R$ 9 milhões por hora. São quase R$ 78 bilhões por ano. Isso, claro, não inclui as boas aposentadorias, nem o seguro-saúde ilimitado e vitalício. Reduzir esse gasto pela metade e poupar R$ 39 bilhões será mesmo impossível? E deve ser bom fazer política: há 35 partidos com registro no TSE, todos recebendo parcelas do Fundo Partidário, todos com direito a financiamento público de campanha. Há 73 partidos em formação. Qual a diferença entre um e outro? A semelhança, essa nós sabemos.

A grande festa

A despesa é alta mas a festa continua – afinal, quem paga somos nós. A Câmara Municipal de São Paulo acaba de aprovar um bom reajuste (77%) numa gratificação aos funcionários. Coisa pouca, para quem legisla: apenas R$ 5,7 milhões por ano. Mas analisemos as despesas da Câmara: nela, há 254 funcionários recebendo mais do que o teto municipal, de R$ 24,1 mil. Há quem ganhe R$ 59 mil, quase o dobro do teto federal, que é o salário dos ministros do Supremo. E isso antes do aumento da tal gratificação.

Detalhe: dos 254 que ganham acima do teto, 133 estão aposentados. Ali não vigora o INSS: é outra lei, mais boazinha. É proibido regular micharia.

Buscando dinheiro

Uma decisão da Justiça Federal, na terça-feira, mostrou, a quem ainda não sabia, onde é que o Governo busca dinheiro para a farra de gastos: foi suspensa a portaria 75 do Ministério do Planejamento que tirava R$ 203 milhões do orçamento do SUS, da segurança alimentar, da assistência técnica à agricultura familiar, de repressão à violência contra a mulher e do setor de transportes, e transferia tudo para a publicidade – aquelas coisas de “Ordem é Progresso”, que tanto contribuem para a popularidade de Temer. A decisão foi do juiz Renato Borelli, da 20ª Vara da Justiça Federal.

E chega!

Agora é hora de descansar um pouco da triste realidade brasileira. Este colunista acaba de ler (e recomenda) uma delícia de livro: “A História da Literatura Erótica e Meus Contos Malditos”, de Antônio Paixão.

O livro, lançado no dia 5, foi-me recomendado por um apreciador de boa literatura: o advogado Orlando Maluf Haddad – aliás, que tal fazer sua biografia, que inclui o resgate de presos pela ditadura uruguaia, rompendo o cerco da Operação Condor, que unia os ditadores do Cone Sul da América? Uma nova tarefa para o bom escritor Paixão.


Carlos Brickmann - Chumbo Gordo quinta, 07 de junho de 2018

SENHOR DIESEL, TEJE PRESO!

“Subdesenvolvido” é o país que acredita que, repetindo cuidadosamente tudo aquilo que não deu certo, pode obter resultado diferente.

No tempo de Sarney, o Governo congelava preços e usava seu “poder de polícia” para obrigar o mercado a obedecer. Foi a época em que carro usado custava mais caro que o novo; equipes do Governo frequentavam pastos para prender bois gordos (que, aliás, valiam menos que os bois magros) e, assim, assegurar o abastecimento de carne. Claro, não deu certo.

Agora, o Governo manda baixar em R$ 0,46, nos postos, o litro do óleo diesel. Mas o Governo não tem postos. E esqueceu de avisar distribuidoras e postos que têm de baixar o preço porque o presidente Temer mandou. O presidente Temer já não manda mais nem na temperatura do cafezinho que toma, vai mandar em enormes distribuidoras e postos espalhados por todo o país? Não mandaria nem se sua autoridade estivesse intacta: nenhuma lei obriga distribuidoras e postos a seguir tabelamentos. Quem fixa o preço é a concorrência (e, entre as distribuidoras, nem concorrência há). Os donos de postos? Todo dia vemos na TV algum deles envolvido em fraude na venda de combustíveis, fraudando a qualidade ou a quantidade. Que ganham ao vender o diesel R$ 0,46 mais barato? Poder de polícia, só se pretenderem prender o diesel. Mas como farão, escorregadio que é, para algemá-lo?

Como no tempo de Sarney. Pois ainda estamos no tempo de Sarney.

Como funciona

A promessa de Temer aos caminhoneiros só seria viável se a Petrobras vendesse diesel R$ 0,46 mais barato, as distribuidoras se comprometessem a dar o mesmo desconto aos postos, que se comprometeriam a repassar o desconto aos clientes. Mas, lembrando Mané Garrincha, alguém combinou com os russos? De 83 postos visitados pela Agência Nacional de Petróleo, 75 não tinham dado os R$ 0,46 de desconto até a noite de segunda-feira.

Uma ideia

Já que é para buscar lições no passado, que tal uma que por muito tempo deu certo? O BNH cobrava correção monetária trimestral do comprador de casa própria. Mas teve problemas: o salário dos financiados subia uma vez por ano. O problema foi resolvido ao criar-se o Fundo de Compensação das Variações Salariais. A questão dos aumentos quase diários de combustíveis não poderia ter uma solução parecida? E envolver o gás engarrafado, cujos preços sufocam muito mais gente, e mais pobre, que os caminhoneiros?

A dança dos candidatos

Já decidiu em quem votar para a Presidência? Calma: muita coisa vai mudar até outubro. A chance de Lula ser candidato é a mesma de Dilma ganhar o Prêmio Nobel; e ele é um Boeing estacionado na pista, não decola e não deixa nenhum aliado decolar. Os partidos bolivarianos irão se unir em torno do poste que Lula indicar, apoiarão Ciro ou ficarão cada um com seu candidato? Manuela d’Ávila, do PCdoB, disse que pode desistir se houver união. Mas haverá? O PSDB insistirá em Alckmin, que até agora não decolou? Fernando Henrique propõe uma união de centro e nem cita o nome do hoje candidato de seu partido. Mas até agora ninguém imagina um nome que aglutine o centro. Marina, como de quatro em quatro anos, sai candidata, pela meia esquerda. Bolsonaro lidera as pesquisas, mas resistirá sem tempo de TV? E dos novos, algum tem chance de repetir Enéas?

Os votos de Lula

Domingo houve eleições para governador no Tocantins, para completar o mandato dos governantes que perderam o cargo. A senadora Kátia Abreu, do PDT, com apoio do PT, liderava as pesquisas, com 22 a 15 – acima da margem de erro. Era a única que superava a soma de brancos e nulos.

No final da campanha, a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, gravou vídeo com carta de Lula dando apoio expresso a Kátia Abreu. Pois não é que Kátia despencou? Chegou em quarto lugar: à sua frente, disputando o segundo turno, Mauro Carlesse, do PHS, e Vicentinho Alves, do PR. Carlos Amastha, ex-prefeito da capital, Palmas, foi o terceiro.

 

 

 

Festança paulistana

Enquanto o país discute caminhoneiros e eleições, a Câmara Municipal de São Paulo cuida do dia-a-dia – do dia-a-dia de seus integrantes. No total, 145 funcionários top de linha terão aumento de até R$ 16 mil por mês, o que eleva seus salários para algo próximo a R$ 40 mil mensais. Lembra do dispositivo constitucional que coloca os vencimentos dos ministros do STF como teto salarial do funcionalismo? Pois é, a Câmara não lembra. Já que era jogo bruto, os vereadores aprovaram também R$ 1.079 mensais para cada um, a título de auxílio-saúde. Valor da festa: R$ 43,6 milhões por ano.

Bom livro

Vale a pena: acaba de sair o livro “A Vingança”, de Antônio Melo. Conta a vida de Dinha, menina que nunca existiu. Mas existe, ah se existe!

 

 

Carlos Brickmann - Chumbo Gordo segunda, 04 de junho de 2018

BOM BRASILEIRO, BEM BRASILEIRO

 

Carlos Marun é ministro. Gleisi comanda o PT.

Está ruim, mas pior ainda é essa campanha para culpar os cidadãos pela sem-vergonhice e corrupção nos altos escalões. Coisas do tipo “ah, você é contra o desrespeito às leis mas já estacionou em lugar proibido”, “prestou um serviço e recebeu por fora”, “reclama da falta de educação dos outros mas já jogou embalagem de chocolate na rua”. Ou seja, a bandalheira dos poderosos nasce de sua falta de correção ao pegar um envelopinho a mais de açúcar na hora do cafezinho. Jogar papel de bala na rua e ordenhar as estatais é mais ou menos a mesma coisa. Seríamos malandros incorrigíveis, enquanto japoneses, suecos e coreanos cumpririam seus deveres cívicos.

Só que não. Há tempos, o notável articulista Mauro Chaves perguntou por que o brasileiro, na Suíça, não jogava maço de cigarros vazio no chão, enquanto, no Brasil, os suíços não se davam ao trabalho de procurar a lata de lixo. O motivo era simples: é que lá tem polícia. As altas multas educam o cidadão pelo bolso. O cidadão, aqui e lá, sabe o que lhe é conveniente.

Há brasileiros influentes na política americana de banda larga, na saúde canadense, no comércio libanês, na expansão das exportações chinesas. Sem complexo de vira-latas: ruins são os governantes, não os governados.

Tem de ser fraco

O executivo Pedro Parente, em dois anos, recuperou a Petrobras. Foi um processo doloroso, já que era preciso, além de gerir o presente, descobrir e pagar os rombos do passado. Houve acordos com credores e acionistas, os investimentos foram retomados, a Petrobras voltou a ser lucrativa – o que é essencial se quiser captar recursos para se desenvolver. Até Luiz Marinho, o mais petista dos petistas, candidato do PT ao Governo paulista, admitiu que Dilma tinha perdido a mão no comando da Petrobrás. Parente sofria um processo de fritura. Afinal, que é que fazia um executivo como ele num Governo que tem Eunício como expoente? Pediu demissão. Caiu ele, caíram as ações da Petrobras. O investidor cuida de seu dinheiro.

Dinheiro fujão

Depois do acordo do Governo com as empresas de transporte – que os jornais chamam de “caminhoneiros”, como se um caminhoneiro pudesse ficar nove dias sem trabalhar – começou a discussão: onde o Tesouro iria buscar recursos para cobrir todas as concessões oficiais? Houve gente que listou fontes de recursos (insuficientes, mas pelo menos sairiam das mordomias oficiais): fim dos penduricalhos que multiplicam vencimentos de funcionários e os colocam muito acima do teto constitucional; fim das viagens em jatinhos da FAB; fim do seguro-saúde ilimitado e permanente dos parlamentares; e assim por diante. Mas isso não vai dar certo. Esta coluna teve acesso a uma lista, em papel timbrado do Tribunal de Justiça do DF e Territórios, com 401 linhas contendo nomes que receberiam, cada um, R$ 437.773,00, a título de auxílio-moradia atrasado. Faça um teste de aritmética: R$ 437.773,00 x 401. E responda: como pagar essas contas?

Dívida no alto

Essas contas não são pagas: o Governo pega dinheiro emprestado para honrá-las. O que faz, na verdade, é transferir a quantia para a dívida pública, mais juros, despesas, etc. Todos os etc. que der para imaginar. Resultado: a dívida pública federal subiu 27% desde o início do Governo Temer, informa Lauro Jardim. Alcançou o estonteante total de 3 trilhões, 658 bilhões de reais. Mas Temer não é o único gastador: do último dia do Governo Fernando Henrique até hoje, Governos Lula e Dilma, a dívida pública subiu 412%.

Luz, ele quer luz

Acredite: o presidente Michel Temer diz que, durante a paralisação dos caminhões, foi iluminado por Deus. Não deve ser verdade, claro. Se Deus o tivesse iluminado, tão logo visse aquela imagem de mordomo de filme de terror apagaria a luz. Bela Lugosi, Boris Karloff, Vincent Price – nenhum dos astros de terror de Hollywood chegava aos pés de nosso presidente. E vejamos as medidas tomadas pelo Iluminado para resolver seus problemas.

Segurança no Rio

Temer determinou a intervenção de tropas federais para enfrentar os problemas de segurança do Rio. Há quem diga que não aconteceu nada, mas aconteceu, sim. Traficantes tomaram cinco estações do belo BRT, o ônibus de transporte rápido construído para os Jogos Olímpicos. E montaram quiosques para a venda de drogas ao longo do percurso.

Povo mais rico

Temer reajustou a Bolsa Família em 5,67% a partir de 1º de julho. Atenção, beneficiários: não é para sair por aí gastando feito loucos.

 

 

 


Carlos Brickmann - Chumbo Gordo quinta, 31 de maio de 2018

CRÔNICA DE UMA CRISE ANUNCIADA

 

A crise causada no país pela paralisação dos caminhoneiros foi obra de três presidentes: Lula, Dilma e Temer.

Começou em 2008: para dar um impulso à economia, e aproveitando que as fábricas de caminhões tinham capacidade ociosa, o Governo Lula ofereceu juros baixíssimos aos compradores. As fábricas venderam e a frota cresceu 40% de lá para cá. Mas a economia só subiu 11% (os dados são do professor Samuel Pessoa, do Insper). Há caminhões sobrando – o que derrubou o valor dos fretes.

O Governo Dilma, para mascarar a inflação, manteve artificialmente baixo o preço dos combustíveis. A Petrobras acumulou prejuízos, que lhe custam altos juros (e ainda houve o Petrolão, que ordenhou a empresa).

O Governo Temer entregou a um executivo de primeira linha, Pedro Parente, a tarefa de recuperar a Petrobras, cobrindo os prejuízos passados e dando lucro. Parente cumpriu a tarefa: o diesel e a gasolina passaram a ter preços fixados dia a dia, com base na cotação do petróleo (em alta). O diesel aumentou de três em três dias, de 3 de julho de 2017 para cá. O preço subiu até 30%, contra inflação de uns 2%. Os transportadores foram sufocados: diesel mais caro, fretes mais baratos. O Governo não se preocupou com o problema: não houve qualquer movimento para permitir que o setor continuasse viável. Quebrados, os caminhoneiros venderam seus veículos para as grandes empresas – capazes de paralisar o país.

De boas intenções…

Todas as medidas, diga-se, foram tomadas com a melhor intenção. Dar um impulso à economia, segurar a inflação, recuperar a Petrobras. Só que o mundo é mais complexo do que imaginam os planejadores voluntaristas.

…há um lugar cheio

O presidente da Petrobras, Pedro Parente, mostra o caminho que poderia ter sido seguido para que a recuperação da empresa fosse mais indolor: “Culpar a Petrobras pelos preços considerados altos nas bombas é ignorar a existência dos outros atores, responsáveis por dois terços do preço da gasolina e metade do preço do diesel”. Baixar impostos, só sob pressão.

Alô, alô

Talvez este colunista tenha se distraído e passado por cima da notícia. Mas não se lembra de ter lido a lista das reivindicações dos caminhoneiros. Nem de ter lido a nota oficial do Governo anunciando quais reivindicações foram atendidas. Como diria o gato de Alice no País das Maravilhas, se você não sabe aonde vai, não importa o caminho que vai tomar.

As hordas

Que não temos Governo, já sabíamos: um presidente assessorado por Moreira Franco, Eunício, pelo inacreditável Carlos Marun (até Geddel é melhor!) não pode saber o que fazer. O problema é que os caminhoneiros também não têm líderes: o grupo que negocia com o Governo concorda em suspender a paralisação, mas a paralisação continua. Situação complicada: se os dois lados não têm líderes, quem é que pode chegar a um acordo?

O ânimo do presidente

Josias de Souza, repórter respeitado, diz que um auxiliar de Temer, em conversa telefônica com um congressista, disse na noite de segunda que o presidente tem dado sinais de desânimo. Acredita que o motivo é a paralisação dos caminhoneiros e seu efeito sobre o desempenho da economia neste ano. O principal troféu de Temer é a recuperação da economia. Já não era lá essas coisas, mas com os atuais problemas a previsão de crescimento deve ser revista para baixo.

Temer tem outro problema sério: quando deixar a Presidência, estará sujeito aos juízes de primeira instância. E tem inquéritos a esperá-lo.

Bolsonaro acordou

Bolsonaro rejeita uma intervenção militar. Claro: se houver intervenção, o país será governado por um general, não por um capitão deputado.

Capital: Jerusalém

Pesquisa realizada pela Toluna, multinacional de pesquisas especializada em entender os desejos dos consumidores e as eventuais mudanças em suas expectativas, revela que a maioria simples da população brasileira acredita que Jerusalém deve ser a capital de Israel. No total da pesquisa, 27% dos entrevistados. E 7% acreditam que deva ser a capital de um Estado palestino. Durante os últimos 50 anos, Jerusalém foi escolhida por Israel como sede do Governo, mas as embaixadas se fixaram na antiga capital, Tel Aviv. Em maio último, os Estados Unidos transferiram sua embaixada para Jerusalém. como parte da comemoração dos 70 anos de independência de Israel. A embaixada brasileira continua em Tel Aviv.

Jerusalém como capital de Israel é a posição favorita da população do Brasil; em segundo lugar, quase empatada, está Jerusalém como capital de Israel e da Palestina.

 

 

 


Carlos Brickmann - Chumbo Gordo domingo, 27 de maio de 2018

HUMILHAR-SE, PAGAR, SER ENGANADO

 

O caro leitor se preocupa com as negociações entre Governo e líderes dos caminhoneiros grevistas? Preocupe-se mais: é tudo pior do que parece.

Greve de caminhoneiros não houve: o que houve é locaute, paralisação promovida por patrões. Greve é regulada em lei. Locaute é proibido por lei.

Governo não há: o sistema oficial de informações (apelidado, veja só, de “inteligência”) não sabia da paralisação. O festejado ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, candidato à Presidência, não tinha percebido que a alta dos preços do diesel, por mais correta que fosse, estava prejudicando o setor dos transportes, e não havia pensado em nenhuma compensação para salvá-lo. Quando a paralisação foi deflagrada, o Governo não sabia o que fazer. Presidido por um doutor em Direito Constitucional, em vez de recorrer à lei deixou-se conduzir pelo Congresso. Tudo bem, nosso Congresso é o melhor que o dinheiro pode comprar, mas parece insaciável. Cobrou mais e reduziu a receita do Governo, já atolado num imenso déficit.

Na hora de negociar com os líderes da paralisação, o Governo já deveria ter notado que se tratava de um locaute: praticamente só havia empresários do outro lado da mesa. Michel Temer poderia (e deveria) exigir ao menos o fim dos bloqueios nas estradas. Preferiu deixar a lei pra lá, ceder tudo, pedir desculpas por existir, para a qualquer custo evitar o confronto.

Esqueceu a dignidade do cargo, humilhou-se. E teve o confronto.

Voracidade

A redução de impostos aprovada às pressas pela Câmara derruba em mais R$ 12 bilhões a receita do Governo (que já é insuficiente para cobrir as despesas). O substituto de Meirelles no Ministério da Fazenda, Eduardo Guardia, diz que não há onde buscar dinheiro para cobrir o rombo. Mas a voracidade dos nobres parlamentares era tão grande que o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, filho de conhecido economista, errou na conta: garantiu que o custo seria de R$ 3,5 bilhões. Quem liga para R$ 8,5 bilhões de diferença? Afinal, não é ele que paga a conta. E por que tanta vontade de baixar impostos? Ora, alguns parlamentares para dizer aos eleitores que lutam contra tanto imposto. Outros, para lembrar aos setores beneficiados que um voto nessa questão que tanto lhes interessa é precioso, vale ouro.

O confronto

Sejamos sinceros: a Presidência da República é exercida, hoje, pelo general Sérgio Etchegoyen, de excelente reputação. Tem problemas: suas decisões, como presidente de fato, têm de passar pelo presidente de direito, Michel Temer. Ele participou (ao lado do ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, e do ministro da Defesa, general da reserva Joaquim Silva e Luna), da reunião em que Temer anunciou que as Forças Armadas iriam participar do confronto com os caminhoneiros. Na véspera da reunião, quando Temer ainda acreditava que os líderes da paralisação cumpririam o acordo de trégua com o Governo, o comandante do Exército, general Eduardo Villas Boas, já determinava a mobilização da tropa. Não tomou essa decisão sozinho, nem por ordem de Temer. Se, como prometeu um dos líderes da paralisação, os militares não forem obedecidos, pode haver incidentes sérios. Militar manda ou obedece. E a ordem é desbloquear as estradas, com apoio das PMs. É um confronto complicado: boa parte dos líderes da paralisação quer ver as Forças Armadas dirigindo o Brasil.

Lembrando

Há alguns anos, este colunista visitou Guaxupé, simpática cidade mineira que hospeda a maior cooperativa de café do mundo. Na época, com preços mais baixos do que hoje, a Guaxupé movimentava US$ 300 milhões por ano. O maior shopping center da cidade chama a atenção: é igualzinho a uma estação de estrada de ferro. O motivo é que lá, antes, era a estação ferroviária. Um dia, houve um problema na linha da Fepasa, no Estado de S.Paulo, que exigia a troca de uns dois quilômetros de trilhos, reforço da base de concreto e brita e novos dormentes. O Governo paulista preferiu desativar a linha, isolando Guaxupé. E os US$ 300 milhões anuais de café passaram a seguir para Santos de caminhão. Quem dá força à paralisação?

Pá de cal 1

A ideia de Lula, de registrar sua candidatura à Presidência e esperar que alguém a impugne, para ganhar tempo até, quem sabe, as eleições, pode morrer nos próximos dias: o Tribunal Superior Eleitoral deve votar a norma que impede o registro de candidatos que não atendam aos requisitos da Lei da Ficha Limpa. Segundo o jornal Folha de S.Paulo, a tendência do TSE é aprová-la por unanimidade. Em seguida, o Ministério Público pediria uma decisão que torne automática a proibição de pedir registro ao TSE.

Pá de cal 2

Se Alckmin tem hoje dificuldade para decolar, imagine se Josué Alencar sair mesmo candidato pelo mesmo setor político e pagando sua campanha.

 

 

 


Carlos Brickmann - Chumbo Gordo quinta, 24 de maio de 2018

GASOLINA NO INCÊNDIO

 

Não é por falta de erros que Temer está em baixa. Mas cai até quando não é sua culpa. A alta do diesel e da gasolina tem vários pais. E uma mãe.

A mãe é Dilma: ao segurar o preço dos combustíveis no país abaixo do custo do petróleo, quebrou as usinas de álcool e endividou a Petrobras. Hoje, a Petrobras vende combustíveis a preços que cobrem o custo do petróleo, do prejuízo que teve, dos juros que paga. O preço varia dia a dia, conforme a cotação do petróleo. Em 12 meses, a gasolina subiu 17,96% (a inflação esteve por volta de 2%). Aí aparece o primeiro pai da alta: o dono dos postos, Quando a Petrobras baixa o preço (e isso aconteceu algumas vezes), o posto o segura lá em cima. Concorrência entre postos? Então tá!

E vai subir mais: o dólar se valoriza e o petróleo marcha para US$ 90 o barril. É o outro pai da crise: a Venezuela já reduziu a produção à metade, por desorganização. O Irã está mais preocupado em mandar na Síria e sofre com as sanções americanas. Menos petróleo, mais preço. Há quem estime que a gasolina chegue a R$ 5,10 se câmbio e petróleo mantiverem o rumo.

Outro pai é o Governo, em todos os níveis: os vários impostos são mais de 40% do preço do litro. Resultado: o litro, para os americanos, custa menos de R$ 2; no Brasil, o custo é de R$ 4,75. E Temer paga em votos.

Temer fora

Ou não paga mais. Deixou a conta para seu ex-ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, que disputará o voto de centro com Geraldo Alckmin. Dado o carisma de ambos, pode parecer engraçada a frase seguinte: existe a possibilidade de que um deles seja eleito: basta chegar ao segundo turno, e beneficiar-se do radicalismo do adversário, seja Bolsonaro, seja o poste que Lula escolher. Alckmin, que conhece o jogo faz tempo, tem mais chances que Meirelles, cuja força é a capacidade de pagar sozinho a campanha. O MDB de Meirelles é forte, mas desde 1994 não disputa a Presidência. Se sempre se deram bem aderindo ao vitorioso, por que mudar justo agora?

Pedra no caminho

Há um grupo de parlamentares que tenta convencer Josué Alencar (cujo nome é Josué Gomes da Silva, mas resolveu se lembrar da herança política do pai, José Alencar) a sair para a Presidência, pelo centro – desde que pague sua própria campanha. O líder do grupo é o presidente da Câmara, Rodrigo Maia. Se der certo, Alckmin e Meirelles terão mais dificuldades.

O olímpico

Rodrigo Maia tenta também lançar Eduardo Paes para o Governo do Rio. Ele era o prefeito do Rio na época dos Jogos Olímpicos, lembra?

Perdemos todos

Um dos grandes jornalistas brasileiros, Alberto Dines, morreu ontem aos 86 anos. Dines foi repórter, editor, diretor (mandava mais no Jornal do Brasil do que o dono – e merecia), escritor, professor em Princeton, criador do Observatório da Imprensa em TV e site. Foi um dos mestres deste colunista, que escreve sobre ele para a Folha de S.Paulo (só para assinantes); e, com leitura livre, Chumbo Gordo.

Azeredo lá

O Tribunal de Justiça de Minas rejeitou os recursos do ex-governador Eduardo Azeredo, ex-presidente nacional do PSDB, e ordenou sua prisão. Azeredo foi condenado a 20 anos e 1 mês por participação no Mensalão mineiro, uma espécie de ensaio do que viria a ser o Mensalão petista, e que incluiu até a participação do publicitário Marcos Valério. Azeredo pode recorrer ao Superior Tribunal de Justiça, mas não em liberdade.

Onde está o dinheiro

A servidora Mirella Menezes Celestino pediu aposentadoria voluntária do Tribunal de Justiça da Bahia. Com a aposentadoria, a funcionária terá “proventos integrais de R$ 39.936,17”, segundo despacho do presidente do TJ baiano, desembargador Gesivaldo Brito. O salário propriamente dito (o nome oficial é “vencimento básico”) é de R$ 8.276,67. O restante, que põe seu salário acima dos pagos aos ministros do Supremo, são penduricalhos: “vantagem pessoal AFI símbolo”, R$ 17.802,72; “vantagem art. 263”, R$ 7.127,57. O desembargador determina que, na implantação dos proventos, deverá ser observado “o limite do teto constitucional – R$ 30.471,10”. Ou seja, com redução e tudo, uma economista de um Tribunal de Justiça estadual tem direito a ganhar quase tanto quanto um ministro do STF; mais de 90% dos vencimentos dos onze magistrados mais importantes do país –e, não esqueçamos, dentro da lei. Há algum risco de o país dar certo?

 

 

 


Carlos Brickmann - Chumbo Gordo segunda, 21 de maio de 2018

PULANDO NUM PÉ SÓ - POSIÇÃO NAS PESQUISAS

 

 

Quem tem boa posição nas pesquisas não tem partido para sustentá-la. Quem tem partido para sustentar uma candidatura não tem boa posição nas pesquisas. Lula tem boa posição nas pesquisas e um partido para apoiá-la, mas está preso. Mesmo se for solto, não tem ficha limpa para se candidatar.

O eleitor vota em nomes, não em partidos. É verdade: mas entrar numa campanha com tempo reduzido de TV, consequência de atuar em partido pequeno, torna difícil crescer nas pesquisas. Pior: sem diretórios atuantes em todo o país, quem vigia as urnas de avançada tecnologia venezuelana?

O MDB, fortíssimo, tem Temer, que consegue ser mais impopular do que Dilma, ou Henrique Meirelles, que provavelmente nunca viu um pobre na vida. Bolsonaro cresceu, trabalha bem na Internet, fascina uma parte do eleitorado; mas, sem TV e sem líderes políticos distribuídos pelo país, que fará para crescer até virar majoritário? Marina já mostrou, em duas eleições, que é capaz de ganhar parte do eleitorado; e, nas duas, se mostrou incapaz de chegar ao segundo turno. Álvaro Dias? É um bom sujeito.

Alckmin foi quatro vezes governador, tem partido forte. Mas está mal na pesquisa. Como tem tempo de TV, pode chegar ao segundo turno.

Já Ciro é bom de palanque, tem carisma, só lhe falta um partido grande – como o PT. Mas o PT, imagine!, jamais apoiou nomes de outro partido.

As variações – centro

Alckmin é presidente do PSDB, governou seu Estado mais forte, São Paulo, foi candidato à Presidência, chegou ao segundo turno (onde Lula o destroçou). Mas não é o candidato dos sonhos do partido: há uma ala que prefere Dória. Partidos que sempre se aliaram ao PSDB temem ser esmagados nas eleições. DEM, Solidariedade, PRB, PTB tentam encontrar alguém com mais votos. Se não encontrarem, vão com Alckmin mesmo.

As variações – Centrão

Melhor do que ganhar as eleições e ter responsabilidade de governo é ser amigo indispensável de quem ganhou, e ter do Governo apenas aquilo que é bom e lucrativo. É a estratégia do Centrão, comandado pelo deputado Rodrigo Maia (DEM – Rio) e que reúne parlamentares de várias bancadas, DEM, PP, PRB e PTB, todos loucos para oferecer sua gentil colaboração ao Governo, seja qual for, e desde que trabalhar desinteressadamente não seja tão desinteressado assim. Se não tiverem ninguém melhor, Alckmin. Ou, conforme o acordo, Bolsonaro. Mas pode ser outro, se for generoso.

As variações – bolsonaristas

Há políticos sinceramente bolsonaristas. Ele tem a imagem dura de que gostam e, ao mesmo tempo, não seria ditador. Mas muitos bolsonaristas prefeririam um militar – e sem perder tempo com eleições. Dariam ao novo regime sua experiência em manobras políticas e, em troca, aceitariam cargos nos quais pudessem servir ao país – ou, quem sabe, servir o país.

As variações – esquerda

Há a esquerda do Contra Burguês vote 16, e de outros partidos radicais, que devem apresentar seus candidatos em poucos segundos de TV. E há a esquerda clássica, que tem candidatos (PCdoB, Manuela d’Ávila; PSOL, Guilherme Boulos) mas adoraria entrar numa coligação com Lula à frente.

As variações –MDB

O MDB, há muitos anos o maior partido do país, não tem candidato presidencial desde 1994, quando Orestes Quércia foi derrotado. É melhor ser amigo do governante e usufruir as vantagens dessa ligação. Meirelles e Temer não empolgam: para o MDB é mais negócio ficar com o vencedor.

Sonho

Alckmin espera mobilizar ao menos seu partido e, com grande tempo de TV, subir rapidamente nas pesquisas. Espera também ser o candidato único do centro – aquele que terá a seu lado a maioria silenciosa para derrotar os radicais de esquerda ou de direita. Outro sonho é não ser ultrapassado, no seu próprio partido, por um candidato como João Dória, com mais pique.

Novo nome velho

Mas há quem tente lançar um novo nome de centro: o de Josué Gomes da Silva, filho do falecido vice-presidente de Lula, José Alencar. Josué diz que não é candidato, mas já criou um nome para usar como político: Josué Alencar. Josué seria um nome novo, mas filho de um político conservador que foi vice de um Governo que se apresentava como esquerdista. Alckmin, atento, já lançou a possibilidade de ter Josué como seu vice.

Essencial

Um caminho para progredir? Depois de amanhã, às 19h, o historiador Jaime Pinsky lança na Casa do Saber, em São Paulo, o livro “Brasil – o futuro que queremos”, reunindo especialistas em Educação, Saúde Economia e outros temas. Pinsky é intelectual de peso, fundador da Editora Contexto e articulista do site Chumbo Gordo.

 


Carlos Brickmann - Chumbo Gordo quinta, 17 de maio de 2018

PROFESSOR DILMO, ÀS SUAS ORDENS

 

Por pouco, muito pouco, a expressão “Depois de mim virá quem bom me fará” não se confirma de novo: no quesito “que é que quis dizer”, Dilma continua imbatível. Mas quem veio logo depois, Michel Temer, mostra-se competitivo na confusão verbal. Ontem, dia em que festejou dois anos de governo, quis lançar um slogan-bumerangue: “O Brasil voltou, 20 anos em 2”. Duplo sentido: pode significar que o Brasil voltou 20 anos. Ele desistiu.

Temer ensaia há tempos seu lado Dilmo. Há um ano, na reunião do G20, disse que estava “fazendo voltar o desemprego”. Na mesma época, explicou por que o Ministério do Trabalho indicava a redução do desemprego e o IBGE falava em aumento: “Não é que o desemprego aumentou. É que o desempregado, quando a economia começa a melhorar, ele, que estava desalentado, portanto, não procurava emprego, ele se transforma em um alentado. Ele vai procurar emprego. Como não há emprego para todos ainda, ele não consegue o emprego e isso entra na margem do cálculo do IBGE.” Até dá para entender. Mas o slogan “Ordem é Progresso” pode indicar que a Coreia do Norte progride rapidamente. E a última, de ontem, é notável: o Twitter oficial do Governo Michel Temer traduziu para o inglês, no “Brazil Gov News”, o nome do cônsul-geral em Nova York, Enio Cordeiro, Ele foi transformado em “Ernie Lamb”.

Data vênia, professor, homenageá-lo-emos como Dilmo com Mesóclise.

Matéria de memória

Michel Temer não está sozinho: além da companhia de Dilma, desfruta da solidariedade, em sua busca por um mundo paralelo, de mais uma estrela oposicionista. Manuela d’Ávila, candidata do PCdoB ao Planalto, disse que os governos militares foram “mais nacionalistas” que o atual. Pois este colunista se lembra de Juracy Magalhães, ministro das Relações Exteriores e da Justiça no Governo militar do marechal Castello Branco, afirmando que “o que é bom para os Estados Unidos é bom para o Brasil”.

Matar ou morrer

É difícil entender o raciocínio dos que condenam a correta reação da PM Kátia Sastre, que matou o bandido armado que assaltava mães e crianças à porta da escola. Kátia agiu como agiria qualquer mãe, defendendo a filha; como qualquer pessoa, defendendo a própria vida; como policial, defendendo gente ameaçada. O policial, como o médico, é policial dentro ou fora do expediente. Qual a alternativa que tinha? Fingir que não era com ela nem com sua filha? Fingir que não era policial? Na hora em que o bandido abrisse sua bolsa e encontrasse a arma e o distintivo, seguiria a Lei do Cão: iria matá-la, por ser policial. E quem, dos que a condenam, pelo menos iria ao enterro? Ah, mas não precisava atirar no peito. Poderia atirar no braço, no joelho (alvos menores e mais difíceis). Em combate, e era disso que se tratava, é preciso neutralizar o inimigo. O tiro no peito o detém. Mesmo assim, ele atirou nela duas vezes. Parabéns, PM Kátia! E, sr. governador Márcio França, quando irá promovê-la por mérito e bravura?

Imprensa livre

O Supremo acaba de cassar duas decisões de instâncias inferiores que afrontavam a liberdade de imprensa. A primeira decisão derrubada é da juíza da comarca de Fortaleza, que proibia a Editora Três de divulgar notícias sobre uma investigação criminal que, supõe-se, envolveria o ex-governador Cid Gomes, irmão do candidato presidencial Ciro Gomes. A decisão mandava também apreender uma edição de 2014 da revista IstoÉ. A segunda decisão cassada é da 7ª Vara Cível de João Pessoa: mandava remover postagens de uma jornalista sobre o governador paraibano Ricardo Coutinho (PSB). Diz o ministro Luís Roberto Barroso: “A personalidade pública dos envolvidos, a natureza e o interesse públicos no conhecimento do suposto fato, noticiado em jornal local, são inegáveis (…) negar o exercício do direito de manifestação implicaria a intimidação não só da reclamante, mas de toda a população, que restaria ainda mais excluída do controle e da informação sobre matérias de interesse público”.

Sem censura

Outra decisão em favor da liberdade de imprensa: o advogado do hotel Maksoud Plaza pediu que a revista Veja fosse impedida de publicar, neste próximo fim de semana, reportagem sobre denúncias contra os administradores da empresa. O repórter de Veja nada comenta; diz apenas que o assunto é bom e deve repercutir. O pedido de liminar para impedir a publicação foi rejeitado em primeira e segunda instâncias, e nada impede Veja de divulgar a matéria na edição deste final de semana. O repórter não revelou os temas principais. Quem quiser saber, veja a revista.

Correção

A assessoria de Armando Monteiro Neto nega que ele tenha desistido de concorrer ao Governo pernambucano. Sua candidatura, assim, está de pé.


Carlos Brickmann - Chumbo Gordo domingo, 13 de maio de 2018

VÃO BOTAR A MÃE NO MEIO

 

Michel Temer, embora presidente, chefe de um grande partido e dono da máquina oficial, desistiu. É difícil se eleger com tantas denúncias e inquéritos (e com aliados presos). Joaquim Barbosa parou: aos 64 anos, cobrando mais de R$ 200 mil por parecer, com tempo para viajar, sua vida pioraria tendo de falar da casa de Miami (comprada legalmente, mas e daí?), e de uma briga conjugal já resolvida, mas que sempre volta à tona.

Lula está preso e não pode ser candidato, faça as firulas que fizer. Plano B? Haddad está na delação da empreiteira UTC, que afirma ter-lhe passado R$ 2,6 milhões em propinas extraídas da Petrobras. Jaques Wagner? É investigado num caso de R$ 82 milhões de propinas da Odebrecht e OAS.

Alckmin patina (isso antes dos inquéritos). O PSB, possível aliado, está sob investigação em seu maior reduto, Pernambuco. É coisa séria: Armando Monteiro, que há anos se preparava para o Governo, desistiu (como o candidato do partido à Presidência, Joaquim Barbosa). O PMDB poderia dar tempo de TV a Alckmin, mas 70% dos diretórios o rejeitam.

Campanha é para quem tem casca dura. E não teme ficar em evidência.

Meninos…

Quem acha que o regime militar era melhor não viveu o regime ou só se lembra de que, naquele tempo, era quase 50 anos mais jovem. O regime militar foi imaginado inicialmente por seus formuladores civis, entre eles o grande Júlio de Mesquita Filho, notável intelectual, como um período relativamente curto, seis meses, em que o país seria passado a limpo, após o qual haveria eleições livres, nas quais a corrupção não influiria. Foi aí que se descobriu que quem toma o poder não mais quer devolvê-lo. E para que varrer a corrupção se ela facilita a vida de quem está no poder? Essas reformas tão caras de votar, hoje, seriam fáceis na época. Não foram feitas.

…eu vi

E algo que se comentou durante muito tempo foi comprovado, não por brasileiros: pela CIA, em documento de 1974 liberado há dois anos. Ali se confirma um trecho dos ótimos livros de Elio Gaspari sobre o regime militar, a frase de Ernesto Geisel ao general Dale Coutinho: “Ó Coutinho, esse troço de matar é uma barbaridade, mas acho que tem que ser.”

Segundo o documento da CIA, enviado ao secretário de Estado Henry Kissinger, num encontro de 30 de março de 1974, Geisel, Figueiredo (chefe do SNI, serviço de informações do regime), Milton Tavares de Souza e Confúcio Danton de Paula Avelino (ambos generais, Tavares chefe do CIE, Centro de Informações do Exército, Avelino que o sucederia), conversaram sobre assassínios cometidos por ordem do Governo. Geisel deu ordem para continuar a matar, desde que cada vítima fosse aprovada por Figueiredo.

Há quem defenda a volta da ditadura. Mas ditadura boa não existe.

Verdade e mentiras

O general Hamilton Mourão, futuro presidente do Clube Militar, quer saber por que o documento surgiu justo agora. Simples: porque em 2015, dezembro, acabou o prazo de sigilo. Pergunta também “a quem interessa manchar a reputação das Forças Armadas”. A ninguém – a menos que, por interesses outros, tentem responsabilizar os militares de hoje pelos crimes da ditadura que acabou há 43 anos. Absurdo; outra época, outros tempos.

Mentiras e verdades

O PSOL, depois de uma série de ataques a Israel, decidiu se defender das acusações de antissemitismo – a direção do partido sofre pressões de judeus de esquerda que fazem parte do partido e não são ouvidos no tema. O presidente nacional do PSOL, Juliano Medeiros, diz que chamar Israel de Estado genocida (e não se manifestar sobre os anos de mortandade na Síria) não é expressão de antissemitismo. Guilherme Boulos, candidato do PSOL à Presidência, diz que antissemitismo é inadmissível, assim como a islamofobia. Ambos, Boulos e Medeiros, dizem defender as resoluções da ONU que Israel rejeita (embora não se manifestem sobre a resolução da ONU que criou Israel e é rejeitada pelo Irã e boa parte dos Estados árabes).

Falam a verdade? Dois membros importantes do PSOL desmentem a direção: o deputado federal Jean Wyllys escreve Jean Wyllys – CHEGA DE ANTISSEMITISMO NA ESQUERDA — clique para ler

E Bruno Bimbi, integrante da Executiva do PSOL-Rio, jornalista, professor universitário e ativista gay (como Wyllys, aliás) escreve, sobre as declarações antissemitas do partido, “Não em nosso nome” .


Carlos Brickmann - Chumbo Gordo quinta, 10 de maio de 2018

PIXOTES – A LEI DOS MAIS FRACOS

 

 

Geraldo Alckmin e Temer conversaram por telefone sobre a chance de unir as forças para, aliados, ter melhores condições de participar da eleição. Marcaram uma conversa pessoal para os próximos dias, mas já desistiram: afinal de contas, para unir forças é preciso ter forças. Coisa de que, agora, nenhum dos dois dispõe. Alckmin ainda tem esperança de crescer ao longo da campanha: embora não seja nenhum campeão de popularidade, ganhou muita eleição majoritária em sua carreira. Temer, não: nunca teve muitos votos, nunca se candidatou a um cargo executivo, e embora tenha nas mãos a máquina da Presidência, não consegue sequer ser reconhecido pelo que aconteceu de bom, como a queda da inflação e a recuperação da Petrobras. Aliás, nem quer muito ser presidente de novo: quer mesmo é manter o foro privilegiado e se livrar dos juízes de primeira instância.

Já as chances de Alckmin dependem de uma série de fatores: o principal é chegar ao segundo turno, de preferência contra Bolsonaro ou o candidato de Lula. Aí, espera ter o voto útil dos que rejeitam seus adversários.

Alckmin já chegou uma vez ao segundo turno; mas enfrentava o melhor candidato do PT, Lula, e num momento em que Lula tinha convencido boa parte do eleitorado de que se transformara no Lulinha Paz e Amor. Fora isso, Lula tentava a reeleição, e tinha a máquina do Governo. Alckmin levou uma surra histórica. Mas enfrentando alguém mais fraco, quem sabe?

Horror, horror

Temer tem duas denúncias no Supremo e um inquérito (que, por ordem do ministro Luís Roberto Barroso, prosseguirá por mais 60 dias, até julho). Problemas um atrás do outro. E, a menos que seja reeleito, apesar da chance mínima, terá pela frente Sérgio Moro ou alguém do mesmo calibre.

Crescendo

Lula não é candidato, embora diga que é. A alternativa petista a ele, Fernando Haddad, foi pesadamente atingida pela delação premiada de João Santana e Mônica Moura, seus marqueteiros da campanha para prefeito. Joaquim Barbosa pensou melhor e desistiu da candidatura: se as costas lhe doíam tanto que o levaram a se aposentar do Supremo, doerão também se for presidente. E histórias como a do apartamento de Miami, de problemas familiares e outras, verdadeiras ou falsas, surgirão no moedor de carne que é uma campanha eleitoral. Melhor dar pareceres e ficar sossegado. No campo que se classifica como “de esquerda”, só Ciro Gomes vai crescendo. É um nome para se prestar atenção – desde que pense bem no que fala. Já perdeu muitos pontos, apesar de ter carisma, dizendo algo que pegou mal.

Sonhar…

Nos meios políticos, excetuando-se setores mais radicais, ninguém está satisfeito com a prisão de Lula. Há quem ache que a prisão só o favorece, há quem sustente que divergência política deve ser resolvida por meios políticos, e que ele deveria ser punido de maneira menos dura, com devolução do que for possível recuperar e proibição de se candidatar. E há quem tema pelo próprio futuro: se Lula, que desperta devoções profundas, vai preso, que acontecerá com outros líderes sem o seu prestígio? Em outras palavras, é bom protegê-lo, pois protegê-lo é sinônimo de proteger-se. Mas há um problema: é preciso mudar a lei de tal maneira que Lula seja só um dos beneficiados. Beneficiá-lo diretamente seria hoje impensável.

…um sonho possível

A melhor maneira de beneficiá-lo indiretamente, até o momento, é a que surgiu em dois dos votos do Supremo que reduziram o número de políticos favorecidos pelo foro privilegiado. A ideia é que, condenados em primeira instância, e confirmada a condenação em segunda instância nos tribunais regionais federais, só possa ocorrer a prisão depois de julgados os embargos e apelações – no que vem sendo chamado de terceira instância. Com isso, estariam livres Eduardo Cunha, Palocci, Vaccari – e Lula.

Petrobras crescendo

Boas notícias da Petrobras: o lucro do primeiro trimestre, R$ 6,9 bilhões, é alto. A alavancagem (investimentos com recursos de terceiros) caiu de 60%, no quarto semestre de 2015 – governo Dilma -, para 49%.

Como dizia John D. Rockefeller, o lendário criador da Standard Oil (Esso), o melhor negócio do mundo é uma empresa de petróleo bem administrada. E o segundo melhor negócio do mundo é uma empresa de petróleo mal administrada. Rockefeller jamais pensou na possibilidade de uma empresa de petróleo ser impiedosamente ordenhada.

Calma, Cuoco!

O ator Francisco Cuoco, 84 anos, paga R$ 5 mil por mês pelo plano de saúde. É muito, mas há planos mais caros. A Agência Nacional de Saúde deixa que as operadoras só ofereçam planos coletivos, cujo reajuste é livre. O plano individual, reajustado pela alta dos custos, sumiu do mercado.


Carlos Brickmann - Chumbo Gordo segunda, 07 de maio de 2018

O BUMERANGUE DO SUPREMO

 

O Supremo reduziu os privilégios do foro privilegiado para deputados e senadores: antes, um batedor de carteira que se elegesse só poderia tomar processo se o Supremo aceitasse a denúncia e o Congresso o autorizasse. Agora, depois da decisão do Supremo (que, embora mantenha privilégios à vontade, vai no rumo certo), o foro privilegiado só vale para o que ocorrer durante o mandato, e relacionado a ele. Bateu carteira? Vai para o juiz de primeira instância. E todos têm pavor de encontrar Sérgio Moro pela frente.

Beleza – mas bumerangue vai e volta. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, decidiu tocar uma proposta de emenda à Constituição que completa a decisão do Supremo: extingue o privilégio de foro de qualquer autoridade, exceto quatro: presidentes da República, do Supremo, da Câmara e do Senado. “Creio”, diz Maia, “que a Câmara vai aprovar o texto como está, e colocar todos em igualdade de condições perante a lei”. Como a proposta já foi aprovada pelo Senado, irá diretamente para a sanção presidencial.

Mas calma: como nenhuma reforma constitucional pode ser votada se houver intervenção federal em algum Estado (e há, no Rio) a proposta tem de aguardar que a intervenção termine. Mas pode ir tramitando enquanto isso, de forma a estar pronta para votação assim que houver possibilidade.

Embora o foro privilegiado seja defensável, não pode ser para tanta gente. E é bom que até ministro do STF seja julgado em primeira instância.

Igualando

A decisão do Supremo sobre o foro privilegiado, embora no caminho certo, atinge apenas os 513 deputados e os 81 senadores. Restam, com foro privilegiado intocado, 58.066 pessoas. São governadores, ministros, prefeitos, procuradores da República, promotores de justiça, deputados estaduais, vereadores. A proposta de emenda constitucional que está na Câmara tira de todo esse pessoal o benefício e os iguala ao cidadão comum.

E o benefício é bom: dos processos penais que caíram no Supremo, 20% geraram absolvição, 79% foram devolvidos. E 1% deram condenação.

Misturando tudo

Há quem se queixe de que o Judiciário e o Ministério Público andam legislando e dando palpite na administração, que o Executivo abusa das medidas provisórias, que também fazem parte da legislação. Agora tudo isso pode ser institucionalizado: há hoje 33 policiais federais querendo se eleger (um ao Senado, outros às Assembleias e à Câmara Federal, conforme levantamento do site Poder360. Estão dispersos por 17 partidos. E há também os policiais que habitualmente se elegem – como, em outras épocas, o deputado paulista Erasmo Dias.

Lugar definido

O Poder360 estudou a distribuição dos policiais federais. Um quer sair pelo PSDB: nenhum pelo PMDB, nem por PSOL, PT, PSTU. Conclusão do estudo: considerando-se que a maioria esmagadora dos pré-candidatos optou por partidos à direita do arco político, a Federal é majoritariamente de direita. Talvez, entretanto, a campanha desenvolvida por petistas e associados contra a Polícia Federal e o Ministério Público, na Operação Lava Jato, tenha contribuído para afastar muita gente dos partidos lulistas.

Aposentadoria boa

O presidente do Tribunal de Justiça da Bahia, desembargador Gesivaldo Brito, assinou na última quinta-feira o decreto judiciário que concede aposentadoria voluntária ao motorista Lindenilson Leal de Almeida. Tudo legal, correto, sem maracutaias: a aposentadoria do motorista Lindenilson é de R$ 24.708,97 mensais. Entre os itens que formam os proventos da aposentadoria, estão R$ 5.899,75 de adicional noturno. Nada mais justo, considerando-se que Lindenilson continua aposentado no período da noite.

O caro leitor tem todo o direito de calcular quanto gasta o TJ baiano com seus motoristas. E quanto é gasto com os motoristas aposentados.

Os problemas do Face

Quais as consequências do vazamento de informações dos clientes pelo Facebook, e por seu uso malicioso pela Cambridge Analytics? Houve problemas na Bolsa, há protestos, o pai do Face, Mark Zuckerberg, fala em mudanças. E a Toluna, sólida empresa internacional de pesquisas, apurou que, no Brasil, 54% dos entrevistados atualizaram suas configurações de privacidade, e 5% disseram ter encerrado suas contas. “Os brasileiros, podemos ver pelos números, estão preocupados com a privacidade de seus dados on-line, e tomam medidas para sentir-se mais seguros”, analisa Luca Bon, diretor da Toluna para a América Latina. Os números são imensos: de acordo com o Facebook, 102 milhões de brasileiros o usam. Se 5% desistiram, a perda foi de cinco milhões de clientes.


Carlos Brickmann - Chumbo Gordo quinta, 03 de maio de 2018

CHEGOU A HORA DA BOBEIRA
 

O presidente Temer luta hoje não para que o café venha quente, mas que pelo menos venha. O Congresso obteve de Temer cada cargo e cada verba que ele conseguiu arranjar; já não tem interesse em votar nada e só pensa em se afastar de um presidente impopular (além disso, há as festas juninas e a Copa do Mundo). Hoje o Congresso só pensa em Tite e na Federal. Estamos naquela fase que os americanos chamam de silly season, período tolo: não há o que discutir, mas é preciso fingir que o Congresso trabalha.

Hoje, supõe-se, já que a pauta está agendada, que o Supremo restrinja o foro privilegiado para deputados (que só teriam o benefício para casos que ocorrerem durante o mandato, e relacionados à atividade parlamentar). O placar se inicia com 8×0 pela restrição ao benefício – ou seja, a medida tem votos mais do que suficientes para ser aprovada. Por que, então, só se supõe que a decisão será tomada? Porque basta um dos três que ainda não votaram pedir vistas do processo para que tudo seja paralisado. E pedido de vista, na prática, não tem prazo: o processo é devolvido quando o ministro que o requereu resolva, por sua vontade, devolvê-lo. A proposta que espere.

Os americanos, além da silly season, deram o nome de Silly Symphonies a 75 desenhos animados produzidos por Walt Disney de 1929 a 1939, em que a ação seguia o ritmo de belas músicas, muito bem executadas. Foram obras-primas com nome de tolices. Nossas tolices fazem jus ao nome.

A voz divina

Diziam os gregos que os deuses, quando queriam destruir uma pessoa, atendiam seus desejos. Temer quis muito ser presidente, e foi atendido. É presidente, mas os únicos ministros que pode nomear são aqueles de sempre, Eliseu Padilha, Moreira Franco, sua eterna turma; até Renan e Eunício andam flertando com Lula – que, mesmo ainda preso, rende mais que Temer, mesmo que ainda solto. E, mesmo nomeando os ministros que o Congresso exige, não consegue nem votar as medidas essenciais para que a economia funcione. Resultado: a inflação cai, os juros básicos caem, os juros que os bancos cobram continuam altíssimos e o desemprego sobe.

Alô, mamãe

A proposta do deputado petista Vicente Cândido já tem tempo de casa, mas andava meio esquecida. Agora o PT propôs retomá-la, proibindo a transmissão pela TV das sessões do Supremo. Na opinião deste colunista, é uma boa medida: contribuiria para tirar o estímulo de oradores que, para dizer que acompanham o voto do relator, falam durante cinco ou seis horas. O ideal seria que alguns julgamentos fossem transmitidos mais tarde, em outro dia, com os trechos principais dos votos. Se o clássico discurso em que Churchill prometeu sangue, suor e lágrimas durou algo como cinco minutos, como se explica que um voto precise de dez horas para ser lido?

O progresso da Lava Jato

A Procuradoria Geral da República denunciou na segunda-feira ao STF o ex-presidente Lula, os ex-ministros Palocci e Paulo Bernardo, e a esposa de Bernardo, senadora Gleisi Hoffmann (PT-Paraná), por lavagem de dinheiro e corrupção. Diz a denúncia que a Odebrecht prometeu a Lula uma doação de US$ 40 milhões em troca de benefícios. Contra os denunciados há delações premiadas, planilhas e mensagens obtidas pela quebra do sigilo telefônico da empresa. A Odebrecht, diz a Procuradoria, teve o aumento da linha de crédito do BNDES para atuar em Angola. A defesa de Lula diz que as acusações não têm base e seguem a linha da perseguição política.

Excelente notícia

Uma nova empresa israelense de tecnologia, a A1C Foods, é a esperança de boa parte da população: com base num produto que desenvolveu e do qual tirou patente, acena com chocolates, sorvetes, pães e pizzas com baixo teor de carboidratos e açúcares. Esses alimentos, diz a empresa, poderão ser consumidos por diabéticos. Ainda falta um longo caminho – por exemplo, os testes da FDA, a agência americana que aprova ou não alimentos e remédios. Mas é uma esperança: a A1C usa açúcar em suas fórmulas, não adoçantes; e farinha normal – mais o produto que desenvolveu. A empresa foi criada em 2016 por Ran Hirsch, cuja filha tem diabetes.

Dia de balanço

Todas as centrais sindicais anti-Temer – as maiores – convocaram uma manifestação conjunta para a tarde de ontem, em Curitiba, juntando o Dia do Trabalho e o protesto contra a condenação de Lula. Até a central que sempre se opôs a Lula, a Força Sindical, aderiu – claro, o Governo Temer extinguiu o Imposto Sindical, que garantia às centrais um belo e garantido aporte de recursos, mesmo que os assalariados não quisessem contribuir. Jogaram tudo para reuir o máximo possível de gente. E fracassaram: havia um punhado de gente, talvez duas mil pessoas (ou, fazendo um esforço, talvez cinco mil). É mesmo difícil sustentar que um político preso é um preso político, e que sua prisão é ilegal, depois que foi condenado pelo juiz singular, depois que o tribunal de segunda instância confirmou a condenação e ampliou a pena.

 


Carlos Brickmann - Chumbo Gordo domingo, 22 de abril de 2018

OS FABRICANTES DE REIS

 

Seu voto decide – e só os votos decidem – se Suas Excelências serão julgados como cidadãos que são ou como Excelências que nem todos são.

Ex-governadores: Marconi Perillo, PSDB/Goiás; Raimundo Colombo (PSD/Santa Catarina); Geraldo Alckmin (PSDB/São Paulo); Beto Richa (PSDB/Paraná); Confúcio Moura (PMDB/Rondônia). É improvável que algum seja julgado antes da eleição, mas se não vencer fica sem o foro.

Senadores: Renan Calheiros, PMDB, AL; Humberto Costa, PT, PE; Vanessa Grazziotin, PCdoB, AM; Romero Jucá, PMDB/RR; Dalírio Beber, PSDB/SC; Ciro Nogueira, PP/PI; Benedito de Lira, PP/AL; Eunício Lima, PMDB/CE; Cássio Cunha Lima, PSDB/PB; Agripino Maia, PP/RR; Jorge Viana, PT/AC; Valdir Raupp, PMDB/RR; Aécio Neves, PSDB/MG; Lídice da Mata, PSB/BA; José Pimentel, PT/CE.

Quem é quem

Alguns destes nomes são desconhecidos. Outros são bem conhecidos.

A fé e a força

Fernando Henrique, lançando seu novo livro, deu entrevistas em que se diz confiante na candidatura de Alckmin à Presidência. Garante que, como candidato, o ex-governador paulista é um corredor de maratona, que não dá grandes arrancadas mas chega bem ao final. Pode ser. E quem acha que Alckmin tem um problema se engana. Alckmin tem vários problemas, do baixo índice na pesquisa (paradinho nos 7%) à abertura de inquérito sobre a acusação de que teria recebido R$ 10 milhões da Odebrecht, mais a carga que será carregar o peso de Aécio, mesmo que o expulse do partido. Há mais: o goiano Marconi Perillo, que foi até cogitado para coordenar a campanha, enfrenta inquérito na primeira instância e delação da Odebrecht.

A multiplicação de candidatos do mesmo setor (Álvaro Dias, Meirelles, Temer, Flávio Rocha) dificulta a tarefa de se consolidar. Pois não há tucanos olhando com esperança a possibilidade de lançar João Dória?

Desigualmente iguais

Outro problema grave de Alckmin é o desgaste da imagem do PSDB. Durante uns 30 anos, o PSDB foi o porto seguro para quem rejeitava o PT. O PSDB aproveitou a oportunidade oferecida pelo PT para um contraste de imagem, mostrando o Governo petista como corrupto. De repente, Aécio também vira símbolo, o Ministério Público inaugura a temporada de caça aos tucanos, o PT acusa tucanos de cometer os mesmos pecados de que os acusavam e o partido, além de moderar os ataques, tem de se defender. Como, se as acusações vêm das mesmas fontes que o PSDB citava contra o PT – e o candidato à Presidência é Alckmin, com todo o seu charme?

Coisa que não pode

Por falar em desgaste: que deu na cabeça do presidente da Petrobras, Pedro Parente, para aceitar acumular o cargo na estatal com um privado, o de presidente do Conselho da BRF (união Sadia-Perdigão)? Parente foi um ótimo ministro, de capacidade reconhecida e irregularidades zero; dirigiu depois um grande empreendimento jornalístico privado, a Rede Brasil Sul, com sucesso; ao assumir a Petrobras, ordenhada à exaustão nos governos anteriores, faz um trabalho impecável de recuperação. Não há suspeitas sobre ele. Mas misturar um grupo privado com a maior estatal do país não é aceitável. É dar a volta ao mundo para pisar numa casca de banana. Estatal é estatal, empresa privada é empresa privada, e ponto final.

Por que lá?

Nada de estranho: um cidadão, o subtenente do Exército Édson Moura Pinto, foi assaltado na madrugada de quarta-feira, em Curitiba, e levaram aquilo que encontraram em seu carro. Moura Pinto havia sido cedido ao Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República e, na forma da lei, designado para a segurança do ex-presidente Lula.

Esquisito: que é que fazia Moura Pinto em Curitiba, considerando-se que o ex-presidente Lula estava preso, sob a guarda da Polícia Federal? Os meandros burocráticos do serviço público certamente explicam esse fato.

Muito estranho: de acordo com Moura Pinto, foram levados do carro o passaporte de Lula e outros pertences do ex-presidente: roupas, talão de cheques, um frigobar. OK: roupas e frigobar poderiam ser levados a Lula.

Mas que fazia o passaporte de Lula no carro? E o talão de cheques?

 

Carlos Brickmann - Chumbo Gordo quinta, 19 de abril de 2018

O MUNDO GIRA E OS PARTIDOS RODAM

 

Aécio, não faz muito tempo, era candidato forte em 2018. Hoje é réu e perdeu de 5×0 no Supremo. Temer é o presidente, a inflação caiu em seu Governo, mas não há Viagra eleitoral que levante sua popularidade. Lula, com toda a papagaiada em torno de sua prisão, caiu nesta semana seis pontos percentuais: de 37 para 31%. Não faz muita diferença, porque é barrado não pela baixa aceitação, e sim pela Lei da Ficha Limpa – mas como será hoje sua capacidade de transferir votos a nulidades, depois da experiência Dilma? Alckmin vai mal, embora sempre tenha tido votos em São Paulo. E Meirelles, João Amoedo, Álvaro Dias, Flávio Rocha, Manuela d’Ávila, Guilherme Boulos, Aldo Rebelo? Juntando o carisma e a popularidade de cada um, nem juntando todos se conseguiria um candidato.

Há Ciro Gomes, mas só ganharia força se tivesse o apoio do PT. O PT, porém, só aceita apoios, rejeitando apoiar quem não seja do partido. Há os salvadores da Pátria, como Marina Silva e Joaquim Barbosa, que estão bem num início de campanha. Mas Marina Silva sempre despencou no meio do caminho (aliás, Ciro Gomes também). Joaquim Barbosa tem boa imagem, mas é autoritário e intratável. Como isso se refletirá em sua campanha?

Bolsonaro, então? Depende: como se comportará com pouquíssimo tempo de TV? Como reagirá aos ataques pessoais que irá receber? Às vezes se descontrola. Isso já tirou candidatos em eleições anteriores. Aguentará?

Tira, põe

A ala paulista de Geraldo Alckmin tem o controle do PSDB. Mas não há político, tucano ou não, que fique tranquilo com candidato fraco. Há quem pense em sair com João Dória e lançar Alckmin ao Senado (com o abono de segurar o apoio do cacique socialista Márcio França, com o que Barbosa perderia seu próprio partido em São Paulo). Dória tem hoje a vantagem de ser um tucano da gema: depois de trair Alckmin e solapar a aliança do PSB paulista com o PSDB, Dória já é odiado por todos os seus amigos. Nada mais tucano: o PSDB é um partido de amigos formado 100% por inimigos.

Deixa ficar

O PMDB é o maior partido brasileiro, com tradição e presença em boa parte dos municípios. Mas candidato… Temer, Meirelles, Paulo Skaf? Não dá: é por isso que o PMDB normalmente não lança candidato e dá apoio ao que ganha. Os caciques estaduais fazem suas próprias alianças, sem levar em conta as alianças nacionais. Renan Calheiros, por exemplo, fecha com o PT; Eunício, amigo de Temer, tenta juntar-se ao PT no Ceará. O PMDB não se preocupa com as aparências: sempre usa todas as vantagens.

Tempo rei

O fato é que, a poucos meses das eleições, é complicado escolher seu candidato. Só um pouco mais perto de outubro o quadro fica mais estável.

Aécio no sexto

Indiciado por corrupção passiva e obstrução à Justiça, Aécio é o sexto senador a enfrentar o Supremo em consequência da Lava Jato. Os outros são Gleisi Hoffmann, Agripino Maia, Romero Jucá, Valdir Raupp e Fernando Collor, uma do PT, dois do PMDB, um do DEM, um do PTC. Mas calma: as coisas andam devagar. A denúncia sobre o Quadrilhão que envolve quatro senadores (Romero Jucá, Valdir Raupp, Renan Calheiros e Garibaldi Alves Filho), do PMDB, e o então presidente da Transpetro, Sérgio Machado, foi encaminhada ao Supremo em agosto de 2017; e ainda não foi analisada. Demora para que passem a ser chamados de Guerreiros do Povo Brasileiros. A propósito, o ex-presidente José Sarney, que na semana que vem completa 88 anos, está entre os denunciados.

Sem teto, com ônibus

Os participantes da invasão do apartamento à beira-mar que gerou a primeira condenação de Lula são sem-teto, mas chegaram à praia em ótimos ônibus alugados. Pularam a cerca do Edifício Solaris, onde fica o triplex que Lula diz que não é dele, renderam o vigia, subiram ao apartamento, arrombaram a porta e se instalaram. O grupo que não entrou no prédio demarcou a praia para montar suas barracas. Só não levou em conta que Alckmin deixou o Governo para se candidatar à Presidência, e seu sucessor, Márcio França, é mais disposto. Avisou que o prédio tinha de ser desocupado na hora, ou os invasores seriam presos. Saíram todos e não quiseram nem tentar acampar na praia. O problema agora é fazer com que paguem os danos causados ao prédio e ao apartamento que não é de Lula.

Vão tomar banho!

A Câmara Federal está abrindo licitação para a troca das banheiras de hidromassagem e outros equipamentos hidráulicos de parte dos imóveis postos à disposição dos deputados. São aquecedores, chuveiros, duchas higiênicas, pias de granito. Custo? Quem quer saber de custo, numa hora em que é preciso lavar até reputações? Só R$ 3 milhões. Baratinho.

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Carlos Brickmann - Chumbo Gordo quarta, 11 de abril de 2018

LULA CÁ

 

Hoje é o dia mais aguardado por Eduardo Cunha, por José Dirceu, pelo tucano Eduardo Azeredo. E pelo principal interessado, que talvez se livre da prisão menos de uma semana depois de ter ido para Curitiba: Lula. Hoje se decide se Lula fica em sua cela especial ou volta para cá, para as ruas.

É hoje que o ministro Marco Aurélio promete levar ao plenário do STF duas ações que acabam com a prisão de réus condenados em segunda instância. Os réus só poderiam ser presos depois de encerrado o processo, como ocorria até recentemente. Caso uma das ações seja vitoriosa (o Supremo está dividido) Lula e Eduardo Cunha voltam para casa. Palocci também. José Dirceu se livra de riscos. E Eduardo Azeredo, ex-presidente nacional do PSDB, ex-governador de Minas, já condenado a 20 anos e 10 meses em duas instâncias, continuará livre, leve e solto.

Até 2016, os réus só podiam ser presos no fim do processo, sem apelo possível. Aceitava-se a multiplicação das garantias. Como se diz em latim, “quod abundat non nocet” (em português, “é melhor sobrar do que faltar”, ou “o que abunda não prejudica”). O Supremo mudou de posição e passou a autorizar a prisão de condenados em segunda instância. Mas a divisão continua, 6×5 para um lado ou outro. Promotores acham que, assim, desaparece o incentivo à delação premiada, já que ninguém vai preso mesmo. Pode ser – mas quais ministros e dirigentes ficam tristes com isso?

O x da questão

O voto-chave no Supremo é o da ministra Rosa Weber. Ela é a favor de prisões só no final do processo; mas Sérgio Moro, favorável a prender logo, foi seu auxiliar, e ela acha que não se pode mudar uma decisão após tão pouco tempo, pois isso afeta a segurança jurídica. O placar depende dela.

O caso Azeredo

O PT surgiu na política dizendo-se diferente dos outros partidos, entre outros motivos por não roubar nem deixar roubar. Não era bem assim, e os petistas passaram a dizer que os outros partidos também tinham malfeitos e eram protegidos pela Justiça. Dois nomes eram citados: Aécio (gravado por Joesley Batista pedindo dinheiro) e Azeredo, por participar de uma versão mineira do Mensalão. No dia 17, o Supremo decide se Aécio deve se tornar réu no caso Joesley. No dia 24, o Tribunal de Justiça de Minas julga o último recurso de Azeredo no mensalão mineiro. Já condenado em duas instâncias, pode ser preso se o recurso for rejeitado (e esta é a tendência). Se o Supremo mudar, ele se livra. E o crime talvez prescreva sem punição.

Firme como geléia

Lula foi preso – e daí, como isso influenciará as eleições? Talvez não dê tempo para saber: se a decisão do Supremo levá-lo a ser solto, como isso se refletirá em sua popularidade? Será visto (não pelos seguidores, claro, mas pela opinião majoritária) como um criminoso que escapou da punição ou como um vitorioso que nem a Justiça consegue submeter? A partir do que ocorrer hoje será possível começar a avaliar quem ganhou e quem perdeu. De qualquer forma, pela Lei da Ficha Limpa, Lula é inelegível. Mas, num país em que é difícil prever até o passado, como saber se não terá saída? Dilma não manteve direitos políticos mesmo tendo sofrido impeachment?

PT a nocaute

Se Lula não puder ser o candidato do PT (e das esquerdas em geral, como Renan Calheiros, Ricardo Coutinho, Roberto Requião, Eunício Oliveira e outros), de acordo com a Lei da Ficha Limpa; e se não derem um jeito de interpretá-la, quem será o candidato em seu lugar? Em seu último discurso, Lula jogou o PT ao mar: não citou ninguém – nem Dilma! – a não ser, muito de leve, Fernando Haddad. Citou gente de outros partidos: o dirigente dos sem-teto, Guilherme Boulos, do PSOL, e Manuela D’Ávila, do PCdoB. Não citou o melhor nome para uma composição: Ciro Gomes, do PDT. Lula não quer dar ao PT qualquer saída que não seja ele mesmo.

Um de fora

A Justiça Federal aceitou denúncia contra o Quadrilhão do PMDB. Dois amigos próximos de Temer, o coronel Lima (João Baptista Lima Filho) e o advogado José Yunes estão na lista, ao lado de Eduardo Cunha, Henrique Alves, Geddel, Rocha Loures, todos ligados a Temer, e três doleiros.

Muda sem mudar

A presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Carmen Lúcia, deve assumir a Presidência da República depois de amanhã, e ocupar o cargo por algo como 24 horas. O presidente Michel Temer vai ao Peru, onde participa da Cúpula das Américas. Carmen Lúcia é a terceira na linha de sucessão, mas Rodrigo Maia, presidente da Câmara, não pode assumir por ser candidato à Presidência; Eunício Oliveira, presidente do Senado, é candidato ao Governo do Ceará, e por esse motivo também não pode assumir. Ambos têm viagens ao Exterior na época da saída de Temer.


Carlos Brickmann - Chumbo Gordo segunda, 09 de abril de 2018

A LUZ E AS LEIS

 

Nenhum cidadão pode alegar que desconhece a lei. Para que a lei esteja ao alcance de todos, consta em livros, na Internet, nos Diários Oficiais. Mas de que adianta conhecer as leis se não é possível entendê-las? O caso Lula foi dramático: com a mesma lei, o Supremo, que reúne juristas de porte e seus assessores, interpretou de maneiras opostas a prisão dos condenados em segunda instância. Houve ministro que mudou de opinião, houve ministro que tinha opinião e votou de acordo com a posição oposta.

A regra tem de ser clara, não é mesmo, Arnaldo? Quem defende e quem acusa podem divergir; mas juiz pode mudar de opinião no meio do jogo?

Está mais do que na hora de dar uma ajustada na Constituição de 1988. Trinta anos depois de promulgada, a maior parte das leis complementares não foi elaborada. O princípio está na Constituição, mas como aplicá-lo? E há coisas que não deram certo, como o foro privilegiado, que atravancam o Supremo e jogam qualquer julgamento para muitos, muitos anos à frente.

E se os magistrados do Excelso Pretório, vênia concessa, inobstante vezo consolidado, tentarem transformar seu jargão em algo inteligível, para que as sessões televisionadas nos ensinem, além da diferença de caimento entre as togas nacionais e as feitas sob medida, em Paris? Algo que não nos obrigue a ouvir intermináveis discursos e correr aos comentaristas para saber se o voto foi contra ou a favor – e se a sentença será ou não aplicada.

Urgente

É preciso, em suma, reavaliar e consolidar o ordenamento jurídico, para que as entrecruzadas teias se desenrolem de maneira mais lógica. Ou isso ou continuaremos sob o império da Lei, mas da lei que não temos como entender; e, em casos como o de Lula, transformando a análise em torcida.

O peso dos fatos

Muita discussão em torno da prisão de Lula, como se fosse o único caso. Não é: Lula enfrenta ainda o processo do sítio que não é dele em Atibaia, a acusação de receber R$ 12,5 milhões em propinas da Odebrecht, o caso de tráfico de influência para favorecer a Odebrecht em Angola (Taiguara, seu sobrinho, é também réu). É acusado de corrupção passiva na venda de Medidas Provisórias; e de tráfico de influência na compra, em que há suspeita de superfaturamento, de 36 
caças suecos Grippen. Caso condenado em todos os casos, as penas somadas estão próximas de cem anos de prisão.

Jogo de cena

Não se impressione com a defesa do PT, que pediu “medida cautelar” ao Comitê de Direitos Humanos da ONU, para que o Governo brasileiro impeça a prisão de Lula até que todos os recursos tenham sido esgotados. A ONU não pode alterar resoluções judiciais de países-membros.

Dia dos ex

Lula, dia 6, passou a foragido da Justiça; mas não é o único a ter problemas. No mesmo dia 6, a Coréia do Sul prendeu, por corrupção e abuso de poder, a primeira mulher a assumir a Presidência, Park Geun-hye. Ainda no dia 6, Jacob Zuma, que renunciou diante das acusações de corrupção na compra de armas, foi ao tribunal para o início do processo.

A vez dos tucanos

Enquanto Lula decidia o que fazer diante do início da pena, a Polícia Federal prendeu em São Paulo um ex-diretor da Dersa, estatal de rodovias, Paulo Vieira de Souza, ou Paulo Preto. Paulo Vieira de Souza é acusado de desviar recursos que teria encaminhado aos tucanos durante os governos de Alckmin, José Serra e Alberto Goldman; é acusado também de abastecer com recursos ilegais o atual ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes Ferreira. De acordo com 
executivos da Odebrecht, OAS, Queiroz Galvão e Andrade Gutiérrez, e o doleiro Adir Assad, Vieira de Souza cobrava 0,75% de propina em todas as obras no Rodoanel.

Nesse caso, a investigação começou com uma denúncia internacional: o Ministério Público da Suíça informou que ele tinha o equivalente a R$ 113 milhões em contas internacionais.

Segundo a defesa de Vieira de Souza, sua prisão nada tem a ver com a Operação Lava Jato. O PSDB garante que jamais teve qualquer vínculo com o ex-diretor de Engenharia da Dersa nas administrações Alckmin e Serra e apoia integralmente as investigações que estão sendo realizadas.

Brasil brasileiro

O excelente repórter Paulo Renato, colaborador desta coluna no Mato Grosso do Sul, chama a atenção para uma peculiaridade do Estado: nestas eleições, quem está em primeiro lugar nas pesquisas é quem mandava prender, o juiz Odilon de Oliveira, do PDT. Em segundo, vem quem já foi preso, o ex-governador André Puccinelli, do PMDB; em terceiro, quem é investigado por denúncia de corrupção, em delação da JBS, o atual governador Reinaldo Azambuja. O caçador lidera a corrida e a caça perde.


Carlos Brickmann - Chumbo Gordo quinta, 29 de março de 2018

CRÔNICA DE UMA CASA DIVIDIDA

Lula, como ex-presidente, tem direito a uma escolta pessoal. Como líder de um partido de porte, tem voluntários que o acompanham aonde quer que vá. São voluntários com espírito bélico, que se identificam como “exército do Stedile” (o líder do MST), falam em rejeitar decisões judiciais, ameaçam “reagir de armas na mão” a qualquer medida contra Lula. O próprio Lula diz que é da paz mas sabe brigar, ainda mais depois que Stedile “coloque seu exército na rua”. Stedile não hesitaria, por Lula, em usar suas armas brancas, a foice e o martelo, assim que conseguisse distinguir um do outro. E mesmo assim, com tantos adeptos, tão dispostos, tão voluntariosos, tão guerreiros, Lula foi barrado em Santa Maria, Palmeira das Missões, São Borja, Santana do Livramento, Passo Fundo, Bagé, todas no mesmo Rio Grande do Sul que já elegeu os petistas Tarso Genro e Olívio Dutra. Lula mantém o direito de ir e vir, mas não lá.

Os antipetistas levaram a sério a pregação bélica do PT. Além disso, já queriam, há tempos reagir contra a propaganda lulista que os apresenta como ricos, brancos, “da zelite”, tudo galeguinho di zoio azul. Eles venceram. Mas, se vencessem os outros, o perdedor seria o mesmo, o Brasil. A campanha deixou de transmitir as ideias de cada candidato (se as têm) e virou disputa de insultos. Mais grave: cada lado quer impedir que o outro se mova pelo país. Ganhe quem ganhar, é fascismo na veia.

Crianças mimadas

Cada lado acusa o outro de ter iniciado a campanha divisionista (e antipatriótica) de demonizar o adversário. Podemos discutir esse tema anos a fio, mas isso é irrelevante: político que se preza não faz provocações desse tipo, político que se preza não aceita as provocações. É como briga de criança, mas sem crianças e com adultos feios e mal intencionados: a mãe nem quer saber quem começou, quer que a briga se encerre ali mesmo. Um lado quer Lula na cadeia, outro acha que Aécio precisa ser julgado com urgência? Pois recorram à Justiça e parem de encher o saco do eleitorado.

Nosso futuro

Josias de Souza, do UOL, fez uma apavorante lista de candidatos à Presidência da República: Lula, já condenado em segunda instância, ficha-suja, portanto inelegível, mas que ainda tenta quebrar o galho; Geraldo Alckmin e Rodrigo Maia, submetidos ambos a inquéritos; Michel Temer, com duas denúncias e dois inquéritos por corrupção; Henrique Meirelles, sem acusações, mas filiando-se agora ao PMDB, partido em que o que não falta é inquérito; Bolsonaro, que tem casa em Brasília e recebe auxílio-moradia assim mesmo. Fora isso, há os de sempre, como o do aerotrem. Se voto não fosse obrigatório, quem votaria?

Lula lá

Este colunista acha que prisão não é a melhor punição para criminosos de colarinho branco: o ideal seria retomar o que foi roubado, acrescido de multa, com a proibição de trabalhar na área de atividade que desonrou. Como disseram Carlos Lyra e Vinícius de Moraes em Maria Moita, é por pra trabalhar gente que nunca trabalhou. Ficar sem dinheiro e obrigados a trabalhar? Haveria gente rezando para ficar na cadeia, ala dos estupradores. Portanto, o colunista não está entre os que torcem pela prisão de Lula, “para responder às aspirações populares”. Aspirações de quem, cara-pálida? Mas é a favor de que se cumpra a lei: se Lula, condenado a 145 meses de prisão por lavagem de dinheiro e corrupção, em duas instâncias, com habeas corpus já negado por nove juízes, e a pena para isso é prisão, que seja cumprida, e que a lei, no futuro, seja modificada. Mudá-la para agradar a Lula é coisa esquisita. Pode haver alguém que diga “é górpi”.

A imagem do juiz

Roda Viva, com a entrevista de Sérgio Moro, bateu o recorde de público da Rede Cultura. Foram quatro pontos de audiência; no Twitter foi um dos temas mais comentados do mundo. Moro se mostrou como é: funcionário público qualificado, sem aspirações de salvar o país, mas pronto a fazer sua parte, na forma da lei. Admite que erra, mas lembra que errar faz parte da profissão, e por isso há instâncias superiores que têm poder de corrigi-lo. Quem não viu e quer ver: Assista aqui a entrevista na íntegra. Vale a pena. E, no link Chumbo Gordo, a análise deste colunista.

Moro saiu do programa maior do que quando entrou.

Passando nos cobres

A família Rocha Loures (à qual pertence o cavalheiro da pizzaria e da mala de dinheiro) colocou à venda sua empresa, a Nutrimental, fabricante de barrinhas de cereal e fornecedora de merenda escolar. A corridinha de Sua Excelência com uma mala de dinheiro prejudica até hoje a reputação da empresa. A Nutrimental, segundo a família, vale R$ 1 bilhão, mas ao que se saiba até agora nenhuma negociação chegou perto desse valor.


Carlos Brickmann - Chumbo Gordo segunda, 19 de março de 2018

O MOTIVO DA CRIAÇÃO DO MUNDO

Os livros sagrados judeus, base dos livros sagrados cristãos, ensinam que Deus criou um único homem, Adão, para mostrar que um só assassínio equivale à destruição da Humanidade. Cada pessoa é única, mas todas saíram do mesmo molde em que foi criado Adão; e cada uma pode dizer que por sua causa o mundo foi criado.

Marielle foi assassinada. Não importa seu lado ideológico, não importa sua ação política. Foram mortos, no Rio, mais de cem policiais. Houve, e há, dos dois lados, centenas, milhares de mortos, na maior parte das vezes em desafio impune às leis do país, na totalidade dos casos em desafio à Lei maior. O caro leitor não é religioso e acha correto explorar politicamente o assassínio de alguém de seu lado, enquanto festeja a morte de adversários?

Pois bem, deixemos claro o pensamento deste colunista: FODA-SE. E diga se esse Rio de tiros cruzados é melhor do que a Cidade Maravilhosa.

Lamentemos os mortos, exijamos que os assassínios sejam investigados e os assassinos punidos. Não é possível, num país civilizado, que bandidos circulem com armas longas de grosso calibre, em público, como se isso fosse normal. Não é possível, num país civilizado, que sejam poupados pela lei. E cobremos coerência dos parlamentares: se quiserem organizar-se como Bancada da Bíblia, que sigam os preceitos bíblicos (se acharem difícil, os Dez Mandamentos servem: não matar, não roubar). É fácil.

Vergonha na casa

Os lamentos seletivos por pessoas assassinadas, de acordo com sua posição politica, não são a única iniciativa estarrecedora: há jornalistas, ou ex-jornalistas em atividade, empenhados em denunciar profissionais que, nas redes sociais, sem anonimato, defendem a prisão de Lula. O nome do jogo é dedoduragem (ou caguetagem, talvez); e envolvem todos os favoráveis à prisão de Lula quando terminados os trâmites judiciais, seja qual for sua motivação. Não incluem os que petistas gostam de ver presos, como Geddel; ou “cumpanhêrus” que já caíram em desgraça, como Palocci. Traduzindo, bota no deles e esquece do nosso. Hoje, na tropa virtual lulista, há um tremendo declínio de qualidade. Os competentes que faziam notícias falsas foram trocados por gente de projeção bem menor.

Todos juntos…

Quantos candidatos haverá à Presidência da República? Esqueça a política; os partidos que melhores alianças farão serão os que tiverem mais verba para financiar a campanha. Não adianta surgir um partido muito bem espalhado pelo país, com bons candidatos ao Senado e à Câmara, se a verba para a campanha presidencial for pequena. Como a verba é uma só, um partido que destine boa quantia à luta pela Presidência terá menos dinheiro para disputar Senado e Câmara. Se preferir o fortalecimento do partido, não terá como conduzir boas negociações com quem lhes propuser aliança.

…vamos

É uma lista imensa: salvo falha (ou novos candidatos que apareçam entre a redação e a publicação desta coluna), já se lançaram ou estão na fila José Maria Eymael, Cyro Gomes, Guilherme Boulos, Lula, Mariana d’Ávila, Geraldo Alckmin, Valeria Monteiro, Henrique Meirelles, Michel Temer, Álvaro Dias, Flávio Rocha, João Amoêdo, Marina Silva, Jair Bolsonaro – e, claro, Levy Fidelix, o do aerotrem. Há candidatos tradicionais que ainda não se definiram, como Zé Maria (“contra burguês, vote 16”), e Rui Pimenta, do PCO. Dificilmente a lista final terá tantos nomes. A verba curta será o grande estímulo para reduzir a lista.

Ninguém escapa

A empresa Elijet Participação entrou na Justiça cobrando R$ 32,6 milhões de Joesley Batista. Na ação, diz a empresa que foi contratada para intermediar a compra de dois aviões Gulfstream e que Joesley não pagou a corretagem. O primeiro Gulfstream foi pedido verbalmente e, dizem os queixosos, Joesley não pagou a corretagem. Para o segundo Gulfstream, mais moderno, foi feito um contrato. Ele não pagou; mas os corretores dizem ter um documento em que a dívida é reconhecida.

Sem espaço

O Brasil foi suspenso do Observatório Europeu do Sul, ESO, por falta de pagamento. O Brasil pediu entrada no ESO no final de 2010 e o pedido foi aceito por unanimidade. O acordo foi assinado em 2011 e aprovado no Congresso em maio de 2015. Mas o pagamento, que é bom, esse não foi feito: participar do ESO custa algo como 270 milhões de euros, parcelados em dez anos (às cotações de hoje, a quantia chega perto de US$ 1 bilhão). Mesmo antes de pagar, o Brasil tinha livre acesso a três observatórios astronômicos instalados no deserto do Chile, mantidos e administrados por países europeus, asiáticos, Canadá e EUA. E por que não foi pago? O Governo não diz que temos reservas de quase 400 bilhões de dólares?


Carlos Brickmann - Chumbo Gordo sexta, 16 de março de 2018

VENEZUELA? NÓS PAGAMOS

Quanto nos custa a festa do caqui da Venezuela? É difícil calcular. O que sabemos é que a Presidência da República emitiu a medida provisória 83, abrindo crédito extraordinário de 190 milhões de reais para enfrentar as despesas com os refugiados venezuelanos. A Venezuela tem abundância de petróleo, mas prefere poupar seu dinheiro O Brasil assume a responsabilidade pelos refugiados do país vizinho. E assume também a conta – ao mesmo tempo, venezuelanos se instalam no Brasil e é preciso, numa época em que nosso país tem desemprego, criar empregos para os refugiados. Há maneira de arranjar emprego para eles e para nós?

Talvez haja – mas até agora não houve como manter empregos para os brasileiros e para os venezuelanos.

Pior: nada impede que entre os venezuelanos refugiados haja também uma infiltração de bandidos, de guerrilheiros; e não é o Governo Maduro que irá ajudar o Brasil a livrar-se de maus elementos. Afinal, o Governo Maduro é um foco de maus elementos. E, considerando-se que Maduro é favorável ao governo Dilma, qual sua disposição para ajudar o atual Governo brasileiro? A ideia venezuelana é torpedear o Governo brasileiro. Repetem a fuga dos marielitos (fugitivos do porto de Mariel) de Cuba para os Estados Unidos, infiltrados por bandidos de quem Fidel Castro queria livrar-se. A Venezuela é pior: quer seus bandidos tumultuando a vida dos vizinhos não-bolivarianos.

Conjugando

O mundo como ele é:

“Eu roubei, tu roubaste, ele roubou; nós roubamos, vós roubastes, ele roubaram”. Ou “Eu roubo, tu roubas (…)” Ou, quem sabe, “roubarei, roubarás”. O problema é que os políticos que surgiram prometendo que seriam diferentes hoje lutam para provar que são iguais aos bandidos que iriam combater. Não fazem nada de diferente, dizem: roubam como todos.

Faustão abre fogo

Fausto Silva raramente fala da situação nacional, Mas, quando fala, é um tiro de canhão. No ultimo domingo, enquanto Fernanda Torres falava sobre a violência no Rio, Faustão tomou a palavra e bateu duro. Disse que a violência ocorre no país inteiro, mas o poder público é corrupto e incompetente e não consegue transmitir ao povo nem a necessidade da reforma da previdência. E prometeu não cantar mais o hino de fim de ano da Globo. “Hoje é um novo dia coisa nenhuma.

O Brasil é o único lugar do mundo que o Governo não faz nada por você. Ele rouba você”.

Big Data

Interessantíssima a campanha da Rede Globo pedindo que os cidadãos mandem vídeos em que informam ”qual o Brasil que queremos”. Alguns milhões de pessoas deverão gravar vídeos, com seus nomes e número de WhatsApp. Será um gigantesco banco de dados, utilíssimo na campanha eleitoral. Pode ser usado pelo candidato da Globo, ou vendido para outros candidatos que saberão direitinho como usar as informações,

Curiosidade

Mensagem de um engenheiro aposentado, mas sempre observador:

“Há muitos anos, um fato chama nossa atenção: as empreiteiras que vencem as licitações de obras do Governo Federal, seja qual for o Governo, não são as que executam o trabalho. Sempre as obras são tocadas por uma empresa terceirizada. Deve ser um negócio muito bom e lucrativo, pois há construtoras que nem entram nas licitações, mas se especializaram em executar as obras que outras empreiteiras conquistaram nas concorrências. Num levantamento informal que realizei no Rio Grande do Sul, em 90% dos casos era outra empreiteira executando a obra”.

Ótima notícia

O Centro Médico Shaare Zedek e a Universidade Bar Ilan, de Israel, criaram e patentearam um colírio que, aplicado a porcos, produziu bons efeitos tanto em miopia quanto em hipermetropia. No final do ano, haverá testes em seres humanos, Diz o oftalmologista David Smadja que, se os resultados forem bons, o colírio, produzido com nanotecnologia, poderá eliminar a necessidade de óculos de grau e de lentes multifocais,

Novela quente

A Globo está gravando a série Assédio, com base nos crimes pelos quais foi condenado o dr, Roger Abdelmassih. E o SBT aguarda liberação da Ancine para gravar um seriado com base no livro “Bem-vindo ao Inferno”, de Cláudio Tognolli e Malu Magalhães, que narra a trajetória da vítima Vana Lopes até localizar Abdelmassih. Tognolli, repórter de primeira, romancista brilhante, transformou a saga de Vana Lopes numa história excepcional.

Vana Lopes foi quem encontrou Roger Abelmassih em seu esconderijo no Paraguai.


Carlos Brickmann - Chumbo Gordo domingo, 11 de março de 2018

OS TRAPALHÕES E A TABAJARA

 

Apertem os cintos: os pilotos assumiram! A menos que as coisas sejam mais confusas do que parecem, o que é difícil, Kim Jong-un, o do cabelo esquisito da Coreia do Norte, vai-se reunir com Donald Trump, o do cabelo esquisito dos Estados Unidos. Os Estados Unidos e a Coreia do Norte estão formalmente em guerra, já que em 1953 houve apenas um armistício. E o mediador do encontro entre os dois países em guerra é Chung Eui-yong, o diretor do Gabinete de Segurança da Coreia do Sul – também em guerra com a Coreia do Norte. A reunião deve ser em maio, em local a definir.

É um avanço: há poucos dias, o norte-coreano e o norte-americano discutiam, de modo até indecente, o tamanho do botão nuclear de cada um. Mas, se considerarmos as declarações de Kim e de Trump, haverá certa confusão a respeito dos acordos e desavenças entre ambas as nações.

Talvez haja aí margem para que o Brasil, sucessivamente esnobado nas visitas de dirigentes de Primeiro Mundo à América Latina, volte a fulgurar nos anais diplomáticos internacionais. Num encontro entre Trump e Kim, está faltando uma personagem essencial: a ex-presidente Dilma Rousseff. Traduzir inglês para coreano, e vice-versa, já é difícil. Considerando-se os personagens a ser interpretados, já é tarefa para um superprofissional. Com Dilma, qualquer tradução seria impossível. Cada lado daria sua versão, pela qual se diria vitorioso. Sem divergências, teríamos paz para nosso tempo.

Lado a lado

Se os dirigentes dos dois países fossem menos espetaculosos, o encontro seria recebido com mais confiança. Para Coreia do Norte e EUA, a crise já rendeu o que podia e agora é prejudicial a ambos. A Coreia do Norte, país pobre e em crise alimentar permanente, não tem recursos para investir em foguetes que nada significam em termos econômicos; Trump, empenhado em brigar com o máximo possível de aliados, não tem tempo a perder com inimigos. É hora de mudar de assunto. Embora seja surpreendente, nada impede que lance funcione. A diplomacia do pingue-pongue funcionou: em 1971, os jogadores da seleção americana foram convidados para ir à China, abrindo caminho para negociações entre Washington e Pequim.

Tudo bem

A 12ª Vara Federal, Brasília, mandou soltar Joesley Batista, por excesso de tempo de prisão preventiva. Joesley confessou ter subornado algo como 1.800 políticos, entre eles, disse, ministros e o presidente da República. E mostrou como trair o presidente, preparando uma gravação. Joesley sai livre; só que sem passaporte. Marcelo Odebrecht, que montou em sua empresa um setor de propinas, e que o estendeu internacionalmente, cumpriu dois anos de pena e está, digamos, preso em sua mansão. Já Marcos Valério, que perto dos outros é nutella, cumpre 40 anos de prisão.

Delfim é o alvo

No mesmo dia, duas iniciativas contra o ex-ministro Delfim Netto: cedo, a Polícia Federal fez buscas em sua casa e garante ter rastreado pagamentos suspeitos de R$ 15 milhões, por empresas que participaram da construção da Hidrelétrica de Belo Monte; e, à tarde, o juiz Sérgio Moro determinou o bloqueio de R$ 4,4 milhões das contas de Delfim, de seu sobrinho Luís Appolonio Neto e de empresas de ambos. Os pagamentos a Delfim, diz a Procuradoria Geral da República, não se referem a qualquer serviço por ele prestado às empreiteiras, e teria sido acertado pelo então ministro Palocci. Os advogados de Delfim lembram que ele exerceu seu último cargo público em 2006 e dizem que não cometeu nenhum ato ilícito em qualquer ocasião.

…e bonito por natureza

* Um grupo de seguidores do MST, armados com facões, invadiu a gráfica do jornal O Globo, no Rio. Que pretendiam os “trabalhadores sem terra” numa gráfica, em área urbana? Não se sabe. Mas o caro leitor já leu algum protesto de sindicatos de jornalistas contra o ataque a um jornal?

* Mikael Medeiros, 19 anos, é notícia de destaque em O Globo: no ano passado, ele brincava por estar em dependência na escola. Neste ano, é gestor financeiro do Ministério do Trabalho, responsável por autorizar pagamentos de meio bilhão de reais por ano. É o Brasil que dá certo.

* Informação oficial: neste ano, o Governo do Distrito Federal pagava a 648 servidores salário superior ao teto fixado pela Constituição, pouco mais de R$ 32 mil mensais, o pagamento de ministros do Supremo. Um deles recebe R$ 303 mil por mês; sete outros, menos abonados, ganham pouco mais de R$ 200 mil mensais. Diz o Governo que decisões judiciais dão aos funcionários o direito de receber bem mais que o teto constitucional.

* Suzane von Richthofen, condenada a 39 anos de prisão por participar do assassínio de seus pais a pauladas, saiu da prisão no dia 8, para passar a Páscoa com o marido. Suzane já tinha conseguido outro período de liberdade, para – pois é – comemorar o Dia dos Pais.


Carlos Brickmann - Chumbo Gordo quarta, 07 de março de 2018

DINHEIRO CHEGA, DINHEIRO SAI

 

Mande uma malinha pequena, com notas de US$ 10, para o Exterior; e conheça o inferno da burocracia. Tem de mostrar todos os documentos, preencher formulários, explicar por que ainda usa notas, e por que não quer passar pelo sistema bancário. Não é impossível mandar dinheiro em notas, mas é chato; e as autoridades brasileiras, do país para onde for enviada a maleta, as dos países onde houver escalas, todas terão seu nome e sua ficha.

Aqui, US$ 5 milhões de dono não divulgado, enviados a alguém que não se sabe quem é, entram num avião no Aeroporto Internacional de Guarulhos e são levados a outro aeroporto internacional, o de Viracopos, onde o movimento é menor. Ali, sem grandes problemas, os US$ 5 milhões foram roubados. Ora, se o dinheiro ia viajar, por que não foi direto para o aeroporto de embarque? E a segurança em Viracopos é mesmo vulnerável a um alicate na cerca e um carro disfarçado? Bom, já disseram que o destino do dinheiro seria a Suíça, após voo com duas escalas. Só que a Lufthansa, dona do jato, informou que ele iria para Frankfurt, Alemanha, com escala em Dacar, no Senegal, e não para a Suíça. Ou seja, em vez de colocar a apetitosa carga no local do embarque, deixando-a quieta, puseram-na num aeroporto de onde o avião não sairia, e a levaram para Viracopos. O jato iria para o Senegal e a Alemanha, onde o dinheiro seria posto em avião com destino à Suíça. E pensar que há voos tão bons entre Brasil e Suíça!

Dinheiro voa

Claro que a operação foi legal! Certas coisas que parecem esquisitas mostrarão, no fundo, sua lógica. Mas este colunista adoraria saber o motivo de tudo que, certamente por ignorância, achou estranho neste caso.

No de hoje, no de ontem

A vida está difícil por aqui para mandatários e ex-mandatários. Temer foi colocado sob investigação, por ordem de um ministro do Supremo – embora não possa ser punido no exercício do mandato por problemas que tenham ocorrido no mesmo período. De qualquer forma, Michel Temer terá de se preocupar ao mesmo tempo com o Governo e com um caso de denúncia de propina, além de outro que envolve a abertura de seu sigilo bancário. E Lula acaba de perder no Superior Tribunal de Justiça; seu pedido de habeas-corpus, que impediria o TRF 4 de mandar prendê-lo, foi rejeitado por unanimidade. Está com a liberdade em jogo; e tem contra sua candidatura, como condenado em segunda instância, a Lei da Ficha Limpa.

Bom, mas ruim

De acordo com a pesquisa CNT/MDA, a população apoia em massa a intervenção no Rio. São 69% a favor, contra 12,3%; há ainda 11,4% que se dizem indiferentes. Mas, embora a medida que mereceu tanta aprovação tenha sido tomada por Temer, ele continua mal na pesquisa, sem qualquer avanço. Se for candidato à reeleição, parte de menos de 1% dos eleitores. Lula, se puder ser candidato, parte de 33,4%, o dobro de Bolsonaro, mais que o quádruplo de Marina. Num dos cenários da pesquisa, com Lula candidato, Temer tem 0,9%, contra 0,7% de Manuela D’Ávila, do PCdoB. Em outro cenário, sem Lula, Temer fica empatado com Manuela D’Ávila, ambos com 1,3%. No território eleitoral de Temer, o melhor candidato é o governador Geraldo Alckmin, com 6,4% (com Lula), ou 8,6%, sem Lula. Nos dois casos, Alckmin é o terceiro ou quarto da pesquisa, longe do topo.

Rodrigo quem?

Rodrigo Maia é presidente da Câmara, filho de César Maia, político de importância no Rio, com prestígio em seu partido, o DEM. Está com tudo pronto para que o DEM o lance candidato à Presidência da República, amanhã. Mas, ao menos por enquanto, voto não tem: a pesquisa o mostra com menos de um ponto. Perto de Maia, Alckmin é um campeão de votos.

Comunhão de males

Outra pesquisa, feita pelo instituto de pesquisas Ipsos para o Barômetro Político Estadão, do jornal O Estado de S. Paulo, mostra algo da maior importância: a desaprovação aos políticos, em geral, é muito alta. Michel Temer, por exemplo, é rejeitado por 93% dos eleitores; Fernando Collor, por 81%; Fernando Henrique, por 77%. Temer é o mais rejeitado; mas, ao mesmo tempo, precisa disputar a reeleição, para manter o privilégio de foro. Já sob investigação, já com o sigilo bancário aberto, Temer não tem muito tempo: no momento em que não tiver mais direito a foro privilegiado, já haverá promotores e juízes interessados em ouvi-lo.

O homem certo

O substituto de Ricardo Barros, PP, que no mês que vem deixa o Ministério da Saúde para disputar a eleição, já está escolhido: é Marco Fireman, hoje secretário da Ciência, Tecnologia e Assuntos Estratégicos do Ministério. Fireman consta na delação premiada da Odebrecht como tendo exigido propina para não dar uma obra para outra empreiteira.


Carlos Brickmann - Chumbo Gordo segunda, 05 de março de 2018

TRIO DE OURO

 

Em velhos, velhos tempos, um dos conjuntos musicais mais populares do Brasil foi o Trio de Ouro: Dalva de Oliveira era a rainha, seu marido Herivelto Martins e Nilo Chagas a acompanhavam.

Nestes dias, o Trio de Ouro, que existia mas não era reconhecido, voltou à tona. O ministro Édson Fachin, do Supremo, mandou incluir Michel Temer num inquérito que investiga dois de seus antigos aliados, Eliseu Padilha e Moreira Franco, ambos ministros – e dos mais importantes. Trio que é trio tem de ter três. E a Operação Lava Jato agora investiga os três a respeito do ouro da Odebrecht, com apoio na delação premiada de executivos da empreiteira. O que se apura são repasses da Odebrecht em troca do atendimento de suas reivindicações na Secretaria de Aviação Civil.

Nos tempos de Rodrigo Janot como procurador-geral da República, não houve investigação sobre Temer, já que o presidente não pode ser acusado por fatos ocorridos antes do início de seu mandato. A doação da Odebrecht, dizem as delações, foi acertada num jantar no Palácio do Jaburu, quando Temer era vice-presidente. Raquel Dodge, sucessora de Janot, acha que o presidente pode ser investigado, sim, embora qualquer ação contra ele só se possa efetivar após o final de seu mandato. O ministro Fachin concordou.

O velho Trio de Ouro acabou quando a Rainha e seu marido se separaram. Apesar das delações, o novo Trio de Ouro está intacto. Ainda.

 

 

Jaburu ou Curitiba

A lei fundamental da política é sobreviver; é por isso que, a menos que haja um bom acordo, Michel Temer precisará ser candidato à reeleição. É melhor se candidatar do que correr o risco de depor em Curitiba. Um bom acordo pode ser a nomeação para uma Embaixada de prestigio, ou a garantia de um indulto – como o que o presidente Gerald Ford deu a Nixon. Este processo da Odebrecht é só um dos que Temer terá de enfrentar, sem o foro especial. Já há o decreto que mudou as normas do setor de portos, que teria beneficiado uma empresa de amigos; há mais duas denúncias suspensas, depois que a Câmara decidiu que só poderão ser investigadas depois de terminado seu mandato. Candidatar-se é mais saudável.

O crime e a pena

O Supremo determinou que R$ 71 milhões encontrados em uma única conta bancária do casal João Santana – Mônica Moura, os marqueteiros do PT, sejam entregues à União. Quem disse onde estava o dinheiro foi o próprio casal, como parte do acordo de delação premiada.

A outra parte do acordo é uma pena bem atenuada, de 4 anos. Ambos ficam um ano e meio em “prisão domiciliar fechada”: não podem sair de casa sem autorização da Justiça. Depois, a pena vai para um ano e meio no regime semiaberto, sempre em casa. Poderão sair de dia para trabalhar e prestar serviços comunitários, mas ficam em casa à noite e nos fins de semana. Por fim, um ano em regime aberto, mas com restrições a saídas em feriados e fins de semana. E, durante a pena toda, não poderão trabalhar, direta ou indiretamente, no Brasil ou no Exterior, em marketing eleitoral.

As prévias de sempre

Todos os partidos aceitam que seus candidatos sejam escolhidos pelos eleitores, em prévias (ou primárias, tradução direta do termo americano). E todos concordam com a beleza das prévias e com sua contribuição para a democracia partidária – exceto, claro, no momento em que alguém insiste em realizá-las. Prévia é para constar no cardápio, jamais para ser servida.

O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, quer suspender a prévia, já marcada, em que enfrentará o prefeito de Manaus, Arthur Virgílio, pelo direito de ser o candidato tucano à Presidência. O prefeito paulistano, João Dória, prefere ser aclamado candidato ao Governo do Estado a disputar prévias. Coisa de tucano? Não: quando Eduardo Suplicy quis disputar as prévias no PT, pleiteando ser candidato à Presidência, queriam liquidá-lo.

Prévia é ótimo, é democrático, desde que ninguém queira realizá-la.

Foto velha

Mais um carnaval com a divulgação de pesquisas eleitorais para a Presidência. Mais um carnaval inútil, pois de que adianta a pesquisa se não há nomes? Caso Lula possa ser candidato, é forte, com boa chance de passar ao segundo turno; caso não possa, o PT fica órfão, sendo forçado a lançar postes – e que tristes postes! – como Fernando Haddad ou Jaques Wagner. Que vão enfrentar um político que tem votos em seu Estado, mas nacionalmente é um poste, como Alckmin. E Temer, como é que fica?

Brasil brasileiro

Temer, pelo jeito, é o novo ídolo de Lula. Em entrevista, Lula diz que Temer conseguiu se livrar do golpe tramado pela Globo contra ele.

E dizem que militares foram flagrados no Rio portando armas de uso exclusivo de traficantes.


Carlos Brickmann - Chumbo Gordo quinta, 01 de março de 2018

A GENTE TOMA LÁ, A GENTE DÁ CÁ

 

Bolso cheio, eleitor feliz. Michel Temer reduziu a inflação e baixou a taxa de juros ao menor nível da História recente. Por que o eleitor o rejeita, mantendo sua candidatura no chão, apesar das boas notícias da Economia?

Porque as notícias da Economia só são boas quando lidas. Aplicadas, a coisa muda. É verdade que a taxa básica de juros é de 6,75% ao ano, mas nos juros do cheque especial a taxa é de 324,7% ao ano (números oficiais, do Banco Central). O cidadão não compra nada com a taxa básica; usa a do cheque especial e é esfolado todos os dias. E, se a taxa básica foi reduzida em 0,24% em 7 de fevereiro, a do cheque especial subiu 1,7% em janeiro.

O eleitor usa também o cartão de crédito. Os juros são de 241% ao ano. E, se o caro leitor estiver escandalizado com o aumento de juros do cheque especial em janeiro, há coisa pior: a taxa do cartão de crédito subiu 7,1% no mesmo período. Para ver se baixava esses números imorais, o Banco Central determinou que os juros do cartão de crédito fossem cobrados só no primeiro mês. O valor da dívida será então pago em crédito parcelado. Mas quanto custa essa nova modalidade? Outro escândalo: 171,5% ao ano.

Na década de 1970, o general Emílio Médici, que presidiu o período de maior crescimento econômico do país, disse uma frase que continua válida: “A economia vai bem, mas o povo vai mal”. A que situação chegamos, em que é preciso lembrar uma frase do mais feroz ditador do regime militar?

A Copa dos vizinhos

O presidente uruguaio, Tabaré Vásquez, tenta formar um bloco com Argentina e Paraguai para realizar a Copa do Mundo de 2030 e festejar o centenário da primeira Copa do Mundo, ocorrida em 1930 no Uruguai (que foi o primeiro campeão mundial). Como na Copa do Japão e Coreia em 2002, a primeira a se realizar em mais de um país, o evento seria compartilhado entre as nações do Rio da Prata. Palavras do presidente uruguaio que talvez nos soem familiares: “Seria a realização de um sonho coletivo do país que queremos ser em 2030, assim como um legado para futuras gerações, com infraestruturas que contribuam para melhorar a qualidade de vida de todos os uruguaios”. Pois é. Se é assim, então tá

A luz no túnel

O Brasil poderia cooperar amplamente com a Copa platina. Há empresas brasileiras que já fizeram trabalhos semelhantes na Copa de 2014, também a título de legado para futuras gerações. Futuras gerações, claro, dos donos das empresas, cuja capacidade de montar legados ficou aqui comprovada. Levando em conta que o volume de trabalho que executavam se reduziu, a cooperação com os vizinhos seria muito bem-vinda para essas empresas.

Caminho de ida

O ministro da Segurança, Raul Jungmann, disse na hora da posse que sua carreira política está encerrada. Jungmann aproveitou a oportunidade e resolveu dois problemas ao mesmo tempo: trocou o Ministério da Defesa, onde muita gente das Forças Armadas não apreciava sua gestão, por uma nova pasta, com mais poder de decisão e, espera, verbas mais alentadas; e livra-se de uma dura campanha eleitoral, ele que nunca foi um campeão de votos e que, nas últimas eleições, ficou na suplência. Mais, apresenta-se como patriota: “Ao aceitar este cargo, abro mão da minha carreira política. Encerro minha carreira política para me integrar integralmente a esta luta”. Jogada de mestre. E quais seus planos para enfrentar a insegurança pública? Ora, caro leitor! Ele não pode pensar em tudo ao mesmo tempo.

A boa saída

O ex-prefeito carioca César Maia, pai do presidente da Câmara, Rodrigo Maia, e bom analista político, acha que apesar de tudo a intervenção no Rio fortalece o presidente Temer. “O policiamento ostensivo deve inibir a bandidagem. Quem se opôs à intervenção não apresentou nenhuma ideia, nada, para substituí-la. E a população já não aguentava mais tanto crime”.

Implicância

Quando autoridades e seus parentes vão a bons hospitais particulares, os adversários reclamam que não foram se tratar no SUS. Quando, como agora, a mãe do prefeito carioca Marcelo Crivella vai a hospital público, os adversários reclamam que está ocupando a vaga de quem precisa mais. As críticas surgem por um motivo ou outro. Eris Bezerra Crivella, no dia 17, fez uma cirurgia no punho, no Hospital Salgado Filho; no dia 26, foi levada à emergência do Hospital Miguel Couto, com fortes dores na mão. Nesta internação, diz O Globo, “segundo testemunhas, ela recebeu tratamento diferenciado e foi prontamente encaminhada para radiografia”. E que diz a testemunha? “Uma funcionária, que pediu para não ser identificada, apesar de não ter visto a mãe do prefeito chegar à unidade, soube por outros profissionais que ela foi atendida antes de outros pacientes que já estavam no local”. Ela não se identifica, nem viu, mas acusa e a imprensa a ouve.


Carlos Brickmann - Chumbo Gordo segunda, 26 de fevereiro de 2018

SEM QUERER, QUERENDO

 

Há candidatos à Presidência que dizem que são, há candidatos que dizem que não são, há candidatos que dizem que são mas não são, e há Luciano Huck, que diz que é mas não é dependendo das últimas pesquisas. Michel Temer, por exemplo, negou na sexta que seja candidato, mas é, e de certa forma tem de ser (a menos que, num grande acordo, consiga manter o foro privilegiado após deixar o cargo). O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, diz que é e lança sua candidatura dia 8, na convenção do DEM, mas é difícil mantê-la: o DEM teria mais chances indicando o vice de Alckmin ou de Temer, já que qualquer um dos dois desidrata o eleitorado de Maia. Bolsonaro diz que é, e é, mas pode deixar de ser viável no meio da campanha, por falta de tempo na TV. Marina Silva não diz nada, mas é.

Há mais gente, como João Amoêdo, do Partido Novo, Manuela d’Ávila, do PCdoB, talvez Guilherme Boulos, do PSOL. É difícil: alguns porque são desconhecidos, outros porque são conhecidos. Henrique Meirelles, PSD? Poderia ser, mas como se candidatar no embalo dos bons resultados da política econômica se o próprio presidente Temer for candidato? E há Lula: quer ser, de todos os citados é o que está melhor nas pesquisas, mas como, já condenado em segunda instância, superar a Lei da Ficha Limpa?

Pesquisa DataChute: sem Lula, os favoritos são Temer e Alckmin (que têm partido e governos); zebra, Marina. Com Lula, um dos três, sem zebra.

A ação de Temer

A inflação caiu abaixo da meta, o país volta a crescer (é provável a alta de 3% no Produto Interno Bruto) depois da recessão do Governo Dilma. A taxa básica de juros jamais esteve tão baixa, embora os bancos continuem a cobrar juros estupidamente altos. Há tendência de aumento de emprego. Mas não é apenas nisso que Temer se apoia: é provável que a intervenção militar no Rio provoque, por um determinado período, a queda dos índices de violência no Estado. A verba de propaganda desses fatos, acreditam os estrategistas de Temer, mais o uso da máquina pública, privilegiando os apoiadores do presidente, podem elevar seus índices de popularidade, hoje ridiculamente baixos. E já se conversa com o marqueteiro Duda Mendonça.

Para quem diz que não é nem será candidato, a agenda é movimentada.

A ação de Alckmin

O governador paulista neutralizou seu ex-afilhado João Dória e hoje seu adversário no PSDB é o prefeito de Manaus, Arthur Virgílio. Deve vencer. Diz que está na hora de um paulista se eleger presidente, pois o último foi Rodrigues Alves. Erra: Temer é paulista. Fernando Henrique, Washington Luiz e Lula nasceram em outros Estados, mas politicamente são paulistas. Diz (com razão) que São Paulo tem o menor índice de homicídios do país. Diz (sem razão) que é o candidato da privatização. Nas eleições de 2006, quando Lula disse que ele era privatizante, Alckmin usou uma inacreditável jaqueta cheia de logotipos de estatais – tipo piloto de Fórmula Um. Perdeu feio, conseguindo ter menos votos no segundo turno do que no primeiro.

A voz das armas

Trump levanta a ideia de armar os professores para que possam defender os alunos. É um perigo: com nossa mania de importar dos EUA só aquilo que não presta, a besteira pode vir para cá. Comecemos pelo básico: quem ensinará os mestres a atirar? E é função de professor abrir fogo na classe?

Tudo parado

A reforma da Previdência parou até que termine a intervenção militar no Rio; e não é a única. Outras 536 propostas de emenda constitucional estão paralisadas (na verdade, muitas já estavam, mas apenas porque não era de interesse votá-las). Duas, interessantíssimas: a) fim da reeleição: b) redução do número de senadores e deputados, esta apresentada pelo deputado Clodovil. É difícil votar contra a redução do número de parlamentares, eliminando enormes despesas, mas quem quer dispor de menos vagas?

A nova proposta

Outro projeto de emenda à Constituição é de iniciativa popular, com 2,5 milhões de assinaturas (mais que o da Ficha Limpa). Chegou em cima da intervenção e sua tramitação nem começou. Traz muitas inovações – umas inviáveis, outras interessantes, mas todas tendentes a agradar o eleitor. Proíbe sessões secretas, veda vantagens especiais (como seguro-saúde ilimitado), obriga os congressistas a contribuir para o INSS, que tratará a aposentadoria como a de qualquer pessoa, veta mais de uma reeleição, “porque servir no Congresso é uma honra, não uma carreira”. Vale estudar.

Samba no bolso

A informação é do ex-prefeito José Fortunati, e está no ótimo blog de Fernando Albrecht: o Sambódromo de Porto Alegre, orçado em R$ 10 milhões, já custou R$ 40 milhões e ainda não está pronto. Pular Carnaval na rua? Não custa nada – nem rende nada.


Carlos Brickmann - Chumbo Gordo quarta, 21 de fevereiro de 2018

O PREÇO DO CRIME

 

É provável que não houvesse alternativa à intervenção federal: Pezão, o governador, já havia demonstrado sua incapacidade para combater os narcotraficantes e a tragédia da insegurança no Rio tornava-se intolerável. Mas o presidente Temer mostrou que até quando faz o certo o faz de modo errado. A improvisação foi tamanha que até agora não se sabe de onde vai sair o dinheiro para pagar as despesas da intervenção – o que inclui desde a alimentação dos soldados até o custo operacional. O comandante do Exército, general Villas Bôas, quis saber de onde sairia a verba; o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, disse que não é mágico e que o dinheiro da intervenção terá de sair do corte de outras despesas. Mas como saber quanto será necessário, se o interventor, general Braga Netto, ainda não apresentou seu plano? Braga Netto foi apanhado de surpresa pela escolha, e só a aceitou porque, militar de brio, não rejeita missão. Mas o secretário da Segurança do Rio pediu demissão e Braga Netto não tinha o substituto.

A reforma da Previdência daria fôlego aos cofres oficiais, mas a própria intervenção impede que reformas sejam implantadas em sua vigência. E há desentendimentos: o Conselho Nacional de Direitos Humanos manifestou seu repúdio à intervenção. Tudo bem – se o Conselho não fizesse parte do Governo. O problema, portanto, não é concordar ou não com a intervenção: é saber que, mantida essa bagunça, não há nada que possa dar certo.

Velhos tempos…

A crise no Rio vem de longe, de muitos anos; o Rio esteve sob controle dos bicheiros, dos narcotraficantes, dos milicianos. Os bandidos, de certa forma, supriam a ausência do Governo: levavam doentes para hospitais, às vezes conseguiam remédios para os moradores, tudo em troca da submissão total. Nas eleições presidenciais de 1989, só Brizola podia livremente fazer sua campanha. Os outros candidatos, para entrar no Rio, precisavam acertar uma aliança com algum bicheiro de porte – e certamente não era de graça. O Correio atende no máximo à metade da população. A outra metade está em áreas perigosas demais. Só que isso tudo era conhecido e, mesmo sem a erupção de crimes dos últimos dias, já exigia ações bem planejadas. Não é só jogar o fardo para que os militares carreguem. Por que a improvisação?

…velhos dias

Há quem diga que Temer, sabendo que a reforma da Previdência seria rejeitada, armou um factóide para mascarar a derrota. Há quem diga que Temer, com a popularidade no chão, decidiu encarnar-se no herói que luta contra bandidos. Pode ser: ninguém jamais perdeu dinheiro ao apostar no caráter vacilante de um político. Mas por que não armar tudo direitinho?

Os sujos e os mal-amados

Talvez haja um certo constrangimento no combate ao crime no Rio. Pois não é que no Conselho da República, convocado a aprovar a intervenção, há 16 conselheiros, dos quais nove sendo investigados no Supremo? São o próprio Temer, o presidente do Senado, Eunício Oliveira, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, o secretário-geral da Presidência, Moreira Franco, o líder do Governo no Senado, Romero Jucá, o líder do Governo na Câmara, Aguinaldo Ribeiro, o chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, o líder do Governo no Congresso, André Moura, e o líder da Minoria na Câmara, José Guimarães. No Governo, na oposição, na linha sucessória, quantos!

 

 

Reunião do Conselho da República e do Conselho de Defesa Nacional em 19/Fev 

A minoria

Não estão sendo investigados os ministros da Fazenda, Henrique Meirelles, da Justiça, Torquato Jardim, do Planejamento, Dyogo Oliveira, Carlos Marun (Governo); os deputados Raymundo Lira, líder da Maioria no Senado, Humberto Costa, líder da Minoria no Senado, e Lelo Coimbra, líder da Maioria na Câmara. Os investigados são maioria absoluta.

Tudo paradinho

Com a intervenção no Rio, não é apenas a reforma da Previdência que para de andar. Há mais 536 emendas constitucionais – que, como estavam mesmo paradas, não chamam a atenção. Uma delas, do então deputado Clodovil, é a que reduz o número de deputados e senadores. Por isso parou.

Ódio é ódio

A mãe do prefeito carioca Marcelo Crivella, idosa, doente, foi tratada num hospital público do Rio. Os adversários do prefeito protestam: afinal, ela ocupa a vaga que poderia ser ocupada por um pobre. A briga política é muito feia: se a senhora tivesse sido internada num hospital particular, seria criticada por não confiar num hospital público. Em resumo, não há saída.

Sim, sim, pois é, né?

O presidente impichado Fernando Collor confirmou, no Senado, que sai candidato à Presidência da República. Suas virtudes, segundo o discurso: “Moderação, equilíbrio, maturidade”. Sua posição: “centro democrático, ao mesmo tempo progressista e liberal”. Simples – mas que é que quer dizer?


Carlos Brickmann - Chumbo Gordo domingo, 18 de fevereiro de 2018

OS TRAPALHÕES CONTRA O CRIME

 

O Governo Federal, que não consegue conter o contrabando de armas e munições, que não consegue fechar a fronteira aos narcotraficantes, acha-se apto a combater o crime no Rio. E começou o combate demonstrando que, ao intervir no Estado, não tem a menor ideia do que fez. A intervenção, diz o ministro da Defesa, Raul Jungmann, não é militar. O interventor é o general Braga Netto, comandante militar do Leste; reuniram-se, para discutir os caminhos a tomar, o comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas, o ministro da Defesa, o chefe do Gabinete de Segurança Institucional, general Sérgio Etchegoyen, e só. Mais civil, impossível.

 

 

O governador do Rio, Pezão, que não fede nem cheira, mantém-se no cargo que não ocupa: a intervenção se limita à segurança pública. Embora o governador não tenha sido atingido, o interventor estará subordinado só ao presidente da República. E seus amplos poderes não incluem a punição de funcionários – por exemplo, soldados da PM. Como envolvidos em tráfico e participantes de milícias serão punidos? Vai ver que há algum jeito, né?

O fato é que as Forças Armadas já agiram outras vezes no Rio, com TV e armas pesadas; em todas, houve êxito inicial, antes que tudo voltasse ao estado de sempre. Não se pode imaginar que a presença do Estado em boa parte do Rio se limite a policiais e soldados, sem médicos, sem professores, sem saneamento básico. Não é só na política que há esgoto a céu aberto.

Gente certa…

O general Braga Netto foi o responsável pela coordenação de segurança (boa) nos Jogos Olímpicos e Paralímpicos do Rio. Entende do assunto. Mas teve na época as condições e o tempo necessários para montar seu trabalho.

…jeito errado

Para que se tenha uma ideia do planejamento oficial: de acordo com a Constituição (artigo 60, parágrafo 1°), não pode haver emenda constitucional com um Estado sob intervenção. E a reforma da Previdência, apontada pelo Governo como essencial e urgente, fica impossível. Temer, professor de Direito Constitucional, sabe disso. Mas comentou que poderia revogar a intervenção para votar a reforma, retomando-a logo em seguida. Supõe que os bandidos terão o cavalheirismo de não abusar dessa pausa.

E haja cargos!

Nas discussões que levaram à intervenção no Rio, falou-se muito na criação do Ministério da Segurança Pública. O Governo acredita que será útil – ao menos para parecer que está fazendo alguma coisa. Se ministério resolvesse algo, o Brasil estaria melhor que os Estados Unidos, já que temos o dobro dos ministérios. E pessoas como Luislinda a ocupá-los.

Detalhe curioso

A violência no Rio é inaceitável (como é, a propósito, no Brasil inteiro). Mas os índices atuais – 6,13 mortes violentas por 100 mil habitantes – são inferiores aos de 8,63 de 1995, quando ninguém falou em intervenção.

Crítica sem autocrítica

Amplos elogios aos sambas de crítica da situação da Beija-Flor e Tuiuti, primeira e segunda colocadas no desfile de escolas de samba do Rio. O problema é o telhado de vidro de quem atira pedras. A Beija-Flor é controlada por Aniz Abraão David, um dos chefes do sorteio zoológico do Rio; a Tuiuti é a escola do carro alegórico que, no ano passado, atropelou e matou uma pessoa no caminho para o desfile, e que deu ordem ao motorista para seguir em frente e esquecer a vítima – o que ele, obedientemente, fez.

Guerra suja

Há alguns anos, este colunista aconselhou uma respeitada empresária do Interior paulista a desistir da disputa pela Prefeitura de sua cidade, embora fosse a favorita destacada nas pesquisas. A cidade provavelmente ganharia por ter uma prefeita como ela, mas ela seria vítima do moedor de carne que são as campanhas, onde vale tudo para destruir o adversário. De lá para cá, a coisa piorou: há hoje grande quantidade de profissionais da difamação.

Mentira, e daí?

Tanto Luciano Huck quanto João Dória foram acusados de comprar jatos da Embraer com financiamento do BNDES a juros subsidiados. Foram favorecidos? Não: se o caro leitor for à Embraer para comprar um avião, terá à disposição a mesma taxa de juros oferecida a Dória e Huck. O BNDES auxilia com seu crédito a venda de aviões produzidos por brasileiros no Brasil, e isso vale para todos os compradores. Competir com a Airbus/Bombardier significa também oferecer juros competitivos.

Se a besteira se limitasse às redes sociais, vá lá; mas ganhou as páginas de grandes jornais, como se fosse uma denúncia a sério. Um dos motivos de ter de optar nas eleições entre tantos maus candidatos é que os que seriam bons preferem ficar fora, sem sofrer o desgaste de calúnias e difamações, sem expor a família e as empresas ao risco das notícias falsas.


Carlos Brickmann - Chumbo Gordo quinta, 15 de fevereiro de 2018

OS INIMIGOS, SEMPRE FIÉIS

 

Os amigos, mesmo os melhores, nem sempre percebem quando deles precisamos. Os inimigos são mais fiéis: pode-se confiar em seu ódio.

O PSDB, principal adversário do PT, ainda está em processo de escolha de candidatos. Não conseguiu até agora definir quais seus melhores nomes. Os adversários já escolheram os eventuais candidatos tucanos com maior potencial de voto e desde já concentraram neles seu poder de fogo. A julgar pela violência e constância dos ataques, são João Dória Jr. e Luciano Huck.

O termo “adversários” não indica apenas PT e conexos, como o PSOL: indica também os tucanos fiéis ao governador (e pré-candidato) Geraldo Alckmin e conexos, como o ministro Kassab (PSD) e sua UGT, União Geral dos Trabalhadores. A campanha vem de vários lados, mas o mote é sempre o mesmo: marcar tanto Huck quanto Dória como engomadinhos (o que não é, convenhamos, tão difícil) e inimigos dos pobres – Huck porque, em seu programa de TV, reforma de graça casas populares em mau estado, em vez de resolver de vez o problema habitacional do país, e Dória porque promove encontros de empresários aos quais só comparecem empresários.

Os demais tucanos são poupados – mesmo o prefeito de Manaus, Artur Virgílio, adversário oficial de Alckmin – com uma só exceção: Fernando Henrique, por dizer que Huck é uma boa novidade na política. A campanha eleitoral ainda não começou, mas todos já estão em plena campanha.

Os preferidos

Alckmin é candidato à Presidência. Seu candidato favorito ao Governo paulista é o vice Márcio França, do PSB (que levaria o apoio dos socialistas a Alckmin); e Dória é seu candidato a ficar na Prefeitura, e olhe lá. Os adversários de Alckmin articulam Dória para o Governo, Huck para a Presidência e Márcio França para o Senado. Alckmin tentaria a outra vaga – jogo duro, contra Eduardo Suplicy pelo PT e Marta Suplicy pelo PMDB.

Os inimigos amigos

Alckmin sempre foi adversário de Kassab. Kassab apoiou Serra, foi seu vice e, pelo acordo, seria seu candidato à sucessão. Alckmin atravessou e foi candidato, apenas para tomar uma surra de Kassab. Agora, Kassab está com Alckmin. Serra pensou em sair para a Presidência, não teve condições, mas gostaria de vingar-se de Alckmin, que queimou seu candidato Andréa Matarazzo e lançou Dória para a Prefeitura. Pode, discretamente, dar apoio a Dória, de quem era adversário. E, por que não, a Huck, com quem se dá?

Palpitando

Depois de ler um livro sobre Donald Trump em que o autor descreve, palavra por palavra, diálogos privados entre o presidente e algum assessor, em que nenhum dos dois lhe deu entrevista, e transcreveu entre aspas os mais íntimos pensamentos dos protagonistas, este colunista resolveu também dar palpite, com a vantagem de admitir que não passa de palpite. O candidato do PSDB à Presidência deve ser Alckmin, Dória tenta o Governo e Márcio França disputa o Senado ao lado de Aloysio Nunes. Puro palpite. Este colunista não sabe se são os melhores nomes para disputar, nem opina sobre seu desempenho se eleitos. Só acha que serão esses os candidatos.

Volta por cima

Este Carnaval trouxe de volta uma grande tradição brasileira: a crítica. O Carnaval paulista, que enfim se transformou em festa importante, a maior do país em número de participantes, ignorou uma tradição, a dos sambas e marchas, e foi de música latino-americana, com Sidney Magal, a funk e a pancadão; mas a tradição crítica se impôs, como no Rio, em Salvador, em Olinda e Recife. Paulada em todo mundo, em geral com bom humor. O Carnaval velho, aprisionado nas masmorras de sambódromos oficiais, morreu. Viva o Carnaval de sempre, que voltou crítico, alegre e gostoso!

Solução simples…

Decidido (tanto quanto uma decisão possa ser estável no Bonito por Natureza): o Carnaval do Crime, no Rio, convenceu o presidente Temer a criar o Ministério da Segurança Pública. Ao que tudo indica, a nova pasta será criada ainda neste mês, substituindo algum outro ministério inútil.

…que não resolve

Até agora, não há Ministério da Segurança, mas todos os Estados têm as Secretarias da Segurança – que vêm perdendo a guerra. E, se o problema fosse criar ministério, não se pode esquecer que o Brasil tem Ministério da Justiça, Ministério da Educação, Ministério da Saúde e Ministério do Planejamento. O Ministério da Marinha da Bolívia (Armada Boliviana) consome mais de 10% de seu orçamento militar. A Bolívia só não tem mar.

Que tudo se realize

Do jornalista Cláudio Humberto esta excelente sugestão: como o ano só começa depois do Carnaval, fica instituída a meia-noite desta quarta-feira, dia 14, como o réveillon de 2018.


Carlos Brickmann - Chumbo Gordo domingo, 11 de fevereiro de 2018

POIS É CARNAVAL

 

Nosso orçamento teve buraco superior a R$ 100 bilhões no ano passado e repete o rombo neste ano. A falta de dinheiro é tamanha que a Polícia do Rio, na hora em que sua atuação é mais necessária, não tem como fazer nem a manutenção das viaturas. Faltam remédios nos hospitais públicos. Faltou dinheiro para um estoque decente de vacinas contra a febre amarela, quando há anos se sabia que o mosquito transmissor tinha voltado ao país.

Economia, pois! O Governo joga pesado para reformar a Previdência e economizar nas aposentadorias – se não reformar, diz, o Brasil quebra.

Mas, na hora de dar exemplo de economia, Temer pega mulher e filho e vai passar o Carnaval na Marambaia, Estado do Rio, levando 40 serviçais. Não deixa de ser uma economia: inicialmente, tinha decidido levar 60. Ele poderia ficar no Palácio do Jaburu, onde mora, confortabilíssimo, luxuoso, espaçoso, com equipe de serviçais montada, cozinheiros habilitados a fazer seus pratos preferidos, sejam quais forem. Mas queria botar os pés na areia.

Ganha a gravação de um discurso de Temer quem já tiver visto Sua Excelência de short, e camiseta sem gravata, desfrutando a delícia da praia, traçando lulas recém-capturadas, regadas a gasosa (que é como deve se referir a refrigerantes). Com o seu próprio dinheiro, aí não. Com o nosso, sim – ele, família e comitiva. Como sua casinha na Marambaia é uma base da Marinha, os militares (sem verba) que se virem para cuidar da hotelaria.

 

 

Opinião filial

Luciana, filha de casamento anterior, defende a honorabilidade de Temer: “Conheço o pai que tenho e sei os limites éticos dele”.

Luciana Temer sabe. E todos nós sabemos.

Os visitantes

Talvez Temer tenha optado por viajar no Carnaval devido às aparições no Palácio do Jaburu. Há pouco tempo quem baixou lá foi Joesley. Nesta quinta, quem surgiu no palácio foi Valdemar Costa Neto, grão-cacique do PR, ex-presidiário condenado no processo do Mensalão. É arriscado ficar por lá recebendo essas criaturas: Joesley sozinho armou enorme escândalo, e Valdemar tem a sombra da ex-mulher Maria Christina Caldeira, que diz ter entregado ao Governo americano provas de que Lula depositou diamantes em bancos do Uruguai e Portugal. Mas o fato é que, se os referidos viventes lá aparecem, só entram porque lhes abrem as portas.

Levanta-te e recebe!

Eduardo Pereira da Silva, servidor do Tribunal de Justiça da Bahia, acaba de ser transferido para Ituberá, também na Bahia, por ato do presidente do TJ, desembargador Gesivaldo Brito. Mas não se sabe quando tomará posse: isso depende de eventos improváveis, já que Silva faleceu em novembro último, mais de dois meses antes de sua transferência. Diz o tribunal que o equívoco ocorreu porque os sistemas de Recursos Humanos e do Administrativo não estão interligados.

O número e o fato

A taxa de juros Selic, paga pelo Governo brasileiro quando toma seus empréstimos, está no menor índice da História: 6,75% ao ano. Pena que, na vida real, os bancos cobrem essa mesma taxa, mas por quinzena.

Uma gente que não se vê

Três deputados federais estão presos: Celso Jacob, Paulo Maluf e João Rodrigues. Todos continuam sendo deputados federais, recebendo salários, recebendo os penduricalhos (mais que o dobro do salário), mantendo todos os funcionários do gabinete. Como exercer o mandato estando na cadeia? Com o seu dinheiro, caro leitor. Na Câmara não acham isso nada estranho.

Os recados

O deputado João Rodrigues, já condenado em segunda instância e tendo direito a novos recursos, foi preso por ordem do Supremo. Luís Eduardo de Oliveira e Silva, irmão de José Dirceu, condenado em segunda instância e com direito a novos recursos, recebeu do Suprem ordem de prisão imediata. Lula já foi condenado em segunda instância. Os sinais do futuro são claros.

A reação

Na Frente Brasil Popular, grupo de partidos e organizações de esquerda, há quem pense em levar uma multidão para a frente do apartamento de Lula para impedir que a Polícia possa entrar para prendê-lo. Pode ser – mas até agora as manifestações pró-Lula não têm reunido tanta gente assim.

A vida real

O secretário da Segurança de São Paulo, Mágino Barbosa Filho, recebe auxílio-moradia de R$ 4.377,73 do Ministério Público, do qual se licenciou em 2015. Mágino é promotor de carreira e, ao ir para a Secretaria, optou na forma da lei pelo salário do Ministério Público, maior que o do Governo. E maior ainda com o auxílio-moradia. Mágino ganha R$ 30.000; e tem, em São Paulo, dois apartamentos, com valor registrado de R$ 1,3 milhão.


Carlos Brickmann - Chumbo Gordo domingo, 04 de fevereiro de 2018

VAMOS TROCAR DE SOBRENOME

 

Um grande artista, Vicente Leporace (de Franca, como este colunista), assinava seu programa na Rádio Bandeirantes como “Vicente Leporace Furtado”. Achava com razão que todo brasileiro deveria usar o sobrenome.

Uma queixa comum contra as tímidas tentativas de reformas é que, se gastássemos menos com os políticos, haveria dinheiro para aposentadorias, saúde, educação, segurança. Não é bem assim: o rombo é mais em cima. Mas dói saber que, enquanto Estados atrasam o salário dos funcionários, enquanto não há dinheiro para manter os hospitais em boas condições de uso, enquanto faltam verbas para equipar direito a Polícia, há juízes – que têm vencimentos próximos de R$ 30 mil mensais – que dão um jeito de receber até mais de R$ 100 mil, fora carro e motoristas; que todos os parlamentares federais multiplicam seus salários com penduricalhos vários, incluindo assessores que lhes prestam serviços privados; que o presidente da República tem um palácio para trabalhar, o Planalto, dois para morar, o Alvorada e a Granja do Torto, e habita um terceiro, o Jaburu. Cortar essas despesas inúteis não resolve os problemas nacionais. Mas dá o exemplo: que sente um cidadão ao ver que um juiz, já bem pago, com vencimentos superiores ao teto constitucional, briga para ganhar auxílio-moradia em dobro, considerando que sua mulher já o recebe? Com que moral vai ficar?

Assinado, Carlos Brickmann Furtado

Gastando em anúncios

O Governo não dá o exemplo, Congresso não dá o exemplo, o Judiciário não dá o exemplo, e tentam ganhar apoio a reformas gastando mais em propaganda. Como esta, baseada na publicidade dos postos Ipiranga:

 

 

O caro leitor se convence com este anúncio? Mesmo tendo lido na coluna anterior, do dia 31 de janeiro, que um técnico em Administração do Tribunal de Justiça da Bahia se aposentou com quase R$ 50 mil mensais?

O gato comeu

Quando Brasília foi construída, não havia muitas moradias disponíveis. A Câmara e o Senado resolveram, então, criar as moradias funcionais, para parlamentares. Isso aconteceu no início da década de 1960. Hoje, 58 anos depois, Brasília tem residências para todos, tem hotéis de todas as categorias, mas as moradias funcionais não só continuam existindo como se espalharam pela estrutura administrativa, apesar da despesa que geram, em custos diretos e manutenção. É daquelas pragas que sempre sobrevivem, como dar aos parlamentares uma cota de selos. Hoje, quem precisa disso?

Onde está o dinheiro

O auxílio-moradia para juízes surgiu para os que são transferidos de cidade e ficam sem ter onde morar. Aí surgiram as reivindicações, houve as liminares, e hoje o juiz que trabalha na sua comarca, mesmo que tenha uma bela casa ao lado do Fórum, recebe R$ 4.253,00 (se o cônjuge for juiz, a ajuda vem em dobro, embora morem na mesma casa). Segundo a ONG Contas Abertas, essas liminares já custaram ao país uns R$ 4,5 bilhões.

Um caminho

Nem juízes nem parlamentares são obrigados a receber ajudas. Mas dos 513 deputados, só 26 renunciaram aos penduricalhos. Os juízes lutam pela ajuda, organizadamente: a Ajufe, Associação dos Juízes Federais, está mobilizada. É provável que a questão seja julgada no STF em março.

Fato é fato

A feroz artilharia da falsificação de notícias não admite que não havia reunião da FAO marcada para janeiro, em Adis Abeba, Etiópia, e à qual Lula teria sido convidado. É só conferir o site oficial da FAO clicando aqui. O que aconteceu foi uma reunião entre a ONU e a União Africana, na qual havia também funcionários ligados à FAO. O tema era o combate à corrupção. Convidar Lula citando a FAO era mais palatável.

Dúvida

Amanhã, atenção em Curitiba: o juiz Sérgio Moro interroga os empreiteiros que pagaram a reforma do sítio de Atibaia que não é de Lula.


Carlos Brickmann - Chumbo Gordo quarta, 31 de janeiro de 2018

A PÁTRIA EM QUE VIVEMOS

 

*Lula tinha avisado há tempos que, no dia seguinte ao do julgamento de sua apelação no TRF-4, viajaria para Adis Abeba, na Etiópia, a convite da FAO, para reunião internacional sobre fome. Só não foi porque lhe tiraram o passaporte. A FAO, entidade da ONU, é dirigida por José Graziano, que foi ministro de Lula. E não tinha reunião alguma marcada para a Etiópia. Veja clicando aqui: a reunião é no fim de fevereiro, em Cartum, Sudão. Um engano, claro: se a Etiópia não tem acordo de extradição com o Brasil, que tem isso a ver com as calças?

*O ótimo site jurídico gaúcho Espaço Vital diz que a Petrobras, em leilão internacional, vendeu por US$ 38,5 milhões duas plataformas marítimas, P59 e P60. Ambas estavam paradas, só dando despesas. Mas uma única plataforma nova custa US$ 130 milhões. E pensar que a Petrobras pagou US$ 720 milhões por ambas, em 2012! Comprou-as do consórcio Paraguaçu, formado por Odebrecht, Queiroz Galvão e UTC.

*Dilma, então presidente, foi ao lançamento da P59, na Bahia. Fez um discurso com elogios ao presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, “o grande gestor que propiciou a construção dessa plataforma”. Elogiou ainda o diretor Renato Duque, que em 2017 seria condenado a dez anos de prisão.

*Stedile, do MST, e Boulos, do MTST, ameaçaram impedir a prisão de Lula, se for decretada. Pode isso, Arnaldo? Não pode. Mas até agora pôde.

Voa, dinheiro!

O Brasil vai doar R$ 792 mil ao Estado da Palestina, para restauração da Basílica da Natividade, em Belém. A Medida Provisória 819 foi assinada por Rodrigo Maia, presidente em exercício durante viagem de Temer. O Brasil é um país cristão; mas outros países mais ricos – alguns, como a Suécia, onde o cristianismo é religião de Estado – não contribuíram.

Dinheiro, voa!

André Luís Amado Simões, técnico em Administração do Tribunal de Justiça da Bahia, aposentou-se há uma semana. Valor da aposentadoria: R$ 49.643,28. O teto constitucional de R$ 30.741,10 será respeitado. O interessante é que o salário de um técnico em Administração seja o mesmo de um desembargador. Ou seja, aquilo que era teto se transformou em salário-padrão. E não é só neste caso: na área federal, há inúmeros profissionais ganhando acima do teto, o rendimento mensal de ministros do Supremo. O próprio juiz Sérgio Moro, pelo menos em uma ocasião, recebeu num mês o equivalente ao triplo dos vencimentos dos ministros do STF. Tudo bem, é difícil, os beneficiados se defendem, mas que tal começar por aí a reforma da Previdência? E certos salários estatais não estariam acima do aceitável?

Tadinha!

A deputada federal Cristiane Brasil, do PTB, aquela que vai talvez não se sabe um dia desses virar ministra do Trabalho, divulgou um desastroso vídeo de defesa de suas posições. No vídeo, a deputada está num barco, em companhia de um grupo de homens sem camisa. Acabou tomando um puxão de orelha por seus maus modos. Até aí, já é ruim: uma deputada e ministra, espera-se, deve ter um comportamento público mais discreto. Mas o pior não é isso: é que quem lhe deu o puxão de orelhas foi seu padrinho politico (e pai) Roberto Jefferson, o político que denunciou o Mensalão, irritadíssimo por ter recebido menos do que o combinado com os dirigentes petistas. Cá entre nós, ter de ouvir lições de boas maneiras de um parlamentar como Roberto Jefferson… que fim de feira!

 

 

Por trás dos votos

Sempre que acompanhar o noticiário, lembre-se de que todo político tem, como primeiro objetivo, o mais importante de todos, sobreviver. Pode, eventualmente, deixar esse objetivo de lado em determinadas situações, mas não é para acostumar: esses casos são exceções. Entre os 81 senadores, 23, cujos mandatos terminam neste ano, estão sendo investigados pela Lava Jato e congêneres, e perder o foro privilegiado é um terror permanente. Alguns certamente vão desistir de tentar a reeleição, tentando manter o foro com mandato de deputado federal, mais fácil de conseguir. Outros vão correr o risco. E um deles não tem alternativa: Renan Calheiros. Seu filho é governador de Alagoas e Renan só pode concorrer ao cargo que já ocupa.

A grande lista

Estes são os 23 senadores que, se não se reelegerem nem conquistarem outros cargos, ficam no final do ano sem foro privilegiado: Romero Jucá, Eunício Oliveira, Lindbergh Farias, Humberto Costa, Renan Calheiros, Garibaldi Alves, Jáder Barbalho, Édison Lobão, Gleisi Hoffmann, Cássio Cunha Lima, Aécio Neves, Agripino Maia, Ciro Nogueira, Benedito Lira, Aloysio Nunes, Vanessa Grazziotin, Lídice da Mata, Valdir Raupp, Ivo Cassol, Ricardo Ferraço, Dalírio Beber, Eduardo Braga e Jorge Viana.


Carlos Brickmann - Chumbo Gordo segunda, 29 de janeiro de 2018

CREPÚSCULO DOS DEUSES

 

A superestrela de outra época foi esquecida, mas se acha ainda a rainha do cinema. Em sua mansão decadente, espera o grande retorno às telas, como se fosse essa a vontade do público. Na sua vida de ilusão, tem o apoio de um ex-amante, talentoso cineasta que trocou o sucesso pelo emprego de mordomo da mulher que adora; ele escreve as cartas com que ela se ilude, pedindo sua volta. O filme é Crepúsculo dos Deuses (Sunset Boulevard, 1950, direção de Billy Wilder). Nele surge um jovem William Holden, o roteirista que narra os fatos reais só depois de morto; Erich von Stroheim, o ex-amante que virou mordomo e ajuda a atriz a se imaginar um ídolo; e a monumental Gloria Swanson, ela própria a grande atriz dos filmes mudos, que não resistiu ao cinema falado. Gloria Swanson é Norma Desmond, a antiga rainha incapaz de perceber que os novos tempos a aposentaram, e o que lhe resta são as imagens do passado.

A vida imita a arte. Um astro de outros tempos, empolgante no regime militar, vitorioso na democracia, tenta se reinventar como desafiante. Só que agora não desafia acusações de subversão: enfrenta denúncias de corrupção, e quem o acusa não são generais ferozes, mas empresários que foram seus amigos, e seus amigos que viraram empresários. Tem, como tinha na ditadura, apoio internacional – mas só Venezuela, Bolívia, por aí.

No filme, Gloria Swanson vai presa. E vai feliz, de novo sob holofotes.

 

 

E agora?

A pressão da Justiça e do Ministério Público sobre Lula é crescente: o Ministério Público Federal pediu que seu passaporte fosse apreendido (e o juiz concordou) e que seus movimentos fossem restritos a São Bernardo do Campo (o que o juiz rejeitou). De qualquer forma, Lula não pode sair legalmente do Brasil. O processo que o condenou a 12 anos de prisão foi o primeiro; há mais quatro na fila. O próximo deve ser julgado no mês que vem pelo juiz Sérgio Moro: o do sítio de Atibaia. Há mais provas no sítio de que o dono é Lula do que havia no apartamento da praia, processo no qual já foi condenado. Vêm depois Petrobras, Odebrecht… é muita coisa. E já há condição legal para que a Justiça decrete, se quiser, a prisão de Lula.

Chamando pra briga

Lula foi condenado no dia 24. No dia 25, perdeu o passaporte. Mas não perdeu tempo para analisar a situação e decidir o caminho a seguir: praticamente colocou o PT fora da lei (por enquanto, isso não tem grande importância, porque Lula muitas vezes incita o radicalismo e depois diz que não foi bem compreendido). Falando à Executiva Nacional do PT, que aprovou o lançamento de sua candidatura à Presidência da República, disse que não respeitará a decisão da Justiça que o condenou; pediu aos militantes petistas que o defendam e pregou o enfrentamento político, seja lá isso o que for. Mas, pelas palavras e pelo tom, Lula quer beligerância.

O futuro

Nem todo político é igual, claro; Palocci, importante auxiliar de Lula, resistiu a pouco tempo de prisão e se ofereceu para contar tudo; Dirceu, que foi tão ou mais importante que Palocci, resistiu mais tempo e não contou nada. Mas, no geral, político tende a fugir de partidos que se esvaziam. Normal: num partido que não atraia tantos votos, o número de eleitos será obrigatoriamente menor, e o político luta em primeiro lugar pela própria sobrevivência. O afastamento de políticos dos partidos que diminuem tende a provocar maior emagrecimento partidário. E o PT está reagindo de modo desconexo às pressões contra Lula. Há parlamentares, como a presidente do partido, Gleisi Hoffmann, defendendo a ampliação do desafio do partido à Justiça. O deputado Marco Maia propôs, em outras palavras, um levante. Seu texto no twitter: “Lula não deveria entregar seu passaporte. A hora é de rebeldia. Os fascistas estão se excedendo em muito. Ultrapassando todos os limites! Ao mexerem no formigueiro terão de aguentar as formigas!”

Como?

Mas imaginemos que Lula, com uma ordem, coloque o partido na linha que considerar correta e convença quem pensa em sair do PT a ficar e lutar. Outros problemas prejudicarão o desempenho eleitoral petista. Se Lula não for preso, poderá percorrer o país, mesmo sem ser candidato, para tentar popularizar o nome do poste que indicará para disputar a eleição em seu lugar (hoje, fala-se de Jaques Wagner, governador da Bahia, e em Fernando Haddad, ex-prefeito de São Paulo, derrotado já no primeiro turno quando tentou a reeleição). Mas, se for preso, quem terá prestígio para falar em seu nome? Pior: quem convencerá os partidos nanicos da esquerda, que sempre foram braços auxiliares do PT, a aceitar papel subalterno mais uma vez?

Confusão geral

A confusão do PT é maior que a dos concorrentes. Mas nenhum partido tem até hoje estratégia definida e estrutura planejada para as eleições.


Carlos Brickmann - Chumbo Gordo quarta, 24 de janeiro de 2018

A HORA DE A COBRA BEBER ÁGUA

 

É hoje – e não é hoje. Lula pode perder por 3×0, com aumento de pena, e não vai para a cadeia, nem fica imediatamente inelegível pela Lei da Ficha Limpa. Pode ganhar por 3×0, sair livre, leve, solto, e nem assim o processo estará encerrado. O perdedor pode recorrer ao próprio tribunal, ao STJ, ao Supremo; para que a Lei da Ficha Limpa seja aplicada, caso confirmada a condenação, Lula precisa pedir o registro de sua candidatura, entre 20 de julho e 15 de agosto. Neste momento, o Tribunal Superior Eleitoral a impugna. Claro, há os recursos de praxe, inclusive ao Supremo, e há quem diga que o calendário permitirá que ele faça campanha, gaste o dinheiro do fundo eleitoral público, concorra e até seja eleito. Mas só toma posse se for vitorioso nesses recursos. Cadeia é diferente: se perder hoje, no julgamento, e nos futuros recursos, o tribunal pode mandar prendê-lo, mas só se quiser.

Então, se nada será decidido, qual a importância do julgamento de hoje?

O caso é importante porque, pela primeira vez, Lula entra em risco nos processos oriundos do Mensalão, Lava Jato e Petrolão. Fora esse, o do apê na praia, há outros cinco processos; há ainda duas denúncias. É acusado 246 vezes de lavagem de dinheiro, 21 de corrupção passiva, três de formação de quadrilha, 4 de tráfico de influência, 2 de obstrução à justiça. Para quem se define como “jararaca”, chegou a hora de a cobra beber água.

Talvez superar esse duro roteiro signifique para ele a pior das punições.

 

 

Dura lei

Caso a sentença imposta a Lula pelo juiz Sérgio Moro seja confirmada, ou aumentada, seu passaporte poderá ser apreendido. Sim, é pena acessória, mas que num político habituado a viagens internacionais deve doer muito.

Plano B

Caso Lula consiga manter a candidatura por algum tempo e tenha de retirá-la, o PT poderá indicar novo candidato até 20 dias antes da eleição. O Plano B de Lula, ao que tudo indica, seria Jaques Wagner, ex-governador da Bahia, ex-chefe da Casa Civil de Dilma. Wagner, hábil e simpático, tem o hábito de se relacionar civilizadamente com os adversários.

A lei é dura…

Este colunista não é favorável nem contrário à prisão do ex-presidente Lula. Acredita que só deveriam ir para a prisão pessoas que, se soltas, ofereceriam risco de ações violentas. Isso vale para todos: Lula, Palocci, Sérgio Cabral, Joesley e todos os demais criminosos de colarinho branco. Condenados na forma da lei, devem ser punidos com dureza, mas da maneira que lhes doa mais: confisco de bens, para repor o que foi desviado, multas punitivas, despesas de investigação, proibição de trabalhar em determinadas áreas, bloqueio de viagens internacionais, trabalhos comunitários, mais o que os especialistas julgarem oportuno elencar, Prisão, não. Quem paga impostos não tem a menor obrigação de sustentar criminosos condenados, nem de cuidar de sua saúde e segurança.

…mas é lei

Entretanto, enquanto a lei é a atual, que seja cumprida com rigor. Se Lula for absolvido, que se pare de falar do apartamento que não é dele. Se for condenado, que se apliquem as punições legais. E que os lulistas parem de gritar em coro que eleição sem Lula não é eleição, é fraude. Esse tipo de slogan assegura aos lulistas que são mais iguais do que todos. São iguais aos outros, como se sabe; mas sempre disseram que o PT seria diferente.

Nós e eles

É curioso ler os manifestos iguaizinhos redigidos por entidades ligadas ao PT. Todos, no fundo, mostram a verdade de uma frase irretocável de Millôr Fernandes, uma jóia de definição do que é política: “Democracia é quando eu mando em você. Ditadura é quando você manda em mim”.

Foto-potoca

Twitter do deputado federal José Guimarães (PT-Ceará), postado na segunda-feira às 17h11: “Caravanas rumo a Porto Alegre em solidariedade a Lula”. Na foto, uma estrada lotada de ônibus, que bloqueiam toda a pista direita.

 

 

Só que não: esta foto vem sendo repetida na Internet desde 2014. E a que se refere? A legenda mais antiga diz: “Comboio da muamba em Foz do Iguaçu, 04/10/2002”. Na ocasião, a Polícia Federal bloqueou centenas de ônibus de sacoleiros e revistou-os em busca de contrabando. Publicar a foto agora, como se fosse atual, para informar falsamente que caravanas de lulistas se encaminhavam em massa para Porto Alegre, mostra que a mobilização petista fracassou – tanto que foi preciso recorrer a uma foto de outro evento. Mas há uma ponta de verdade: os ônibus, em 2002, também transportavam gente que acreditava na violação da lei como modo de vida.

A frase que ninguém disse

Se o Lula for absolvido, mato ou morro. Ou me escondo no mato ou fujo pro morro.


Carlos Brickmann - Chumbo Gordo segunda, 22 de janeiro de 2018

LINDBERGH: O GATO DE ALICE

 

No País das Maravilhas, Alice perguntou a um gato sorridente qual o caminho a seguir para sair dali. “Depende: aonde você quer chegar?”, perguntou-lhe o gato. Alice disse que o lugar não importava muito. O gato respondeu: “Então não importa o caminho que você vai seguir”.

Sábio gato: mesmo aqui, no País das Armadilhas, como saber para onde as pessoas vão se não sabemos aonde querem chegar? A resposta é simples: querem ir aonde for melhor para eles. Mas o que é melhor para eles? Gleisi Narizinho Hoffmann, presidente do PT, diz que para Lula ser preso muita gente vai morrer – como se multidões fossem lutar para manter solto o Grande Líder. Lindbergh Faria, Lindinho, senador petista pelo Rio, diz que a esquerda precisa estar “mais preparada para o enfrentamento, para as lutas de rua”. Nenhum dos dois concordará com uma sentença contra Lula: a Justiça só existe, acreditam, se Lula for absolvido. E que acontece caso nenhum dos dois concorde com a sentença? Pois é: absolutamente nada.

Eles sabem disso. Mas aonde querem chegar? À intimidação da Justiça. Gleisi enfrenta dez processos; Lindbergh, sete. Podem ser absolvidos em todos, mas ambos parecem não acreditar nessa possibilidade. Preferem a tática da ameaça disfarçada em advertência; agem em benefício próprio, mas disfarçado em luta pela liberdade de um companheiro. Aceita a pressão, Lula será beneficiado, mas quem ganha são Narizinho e Lindinho.

 

 

Serra fora

José Serra decidiu manter-se no Senado, “cuidando dos projetos que elaborou”, e desistindo de vez de sair para o Governo ou a Presidência. Que é que Serra quer, que o leva a desistir de tentar realizar o sonho para o qual se preparou, de ser presidente da República? Não, não são seus projetos, pois várias vezes já deixou mandatos pela metade para tentar novos cargos. O que Serra quer, agora, é um pouco de anonimato, longe da máquina de moer carne que é uma campanha. Acusado por delatores, o que quer é paz.

Alckmin dentro

Fernando Henrique, o cacique-mor do PSDB, determinou: o candidato do partido será Geraldo Alckmin, Ignorou numa boa o prefeito de Manaus, Arthur Virgílio, que em 4 de março enfrenta Alckmin nas prévias tucanas Alckmin já tomou uma surra histórica de Lula em 2006, tendo menos votos no segundo turno do que no primeiro; não está bem situado nas pesquisas; seu inegável charme é sintetizado pelo apelido de Picolé de Chuchu; deixou de defender, quando teve oportunidade, as privatizações de Fernando Henrique – pior, vestiu uma ridícula jaqueta com símbolos de estatais, para garantir que não era privatizante. Ora, estatista por estatista, Lula é mais tradicional. E Alckmin nunca foi sócio-atleta da ala de Fernando Henrique.

Por que, então, Fernando Henrique o apoiou? Porque viu em Alckmin melhores chances de vencer ou de atrapalhar o candidato oficial (perder para Meirelles, Rodrigo Maia ou Temer seria pior do que para Lula, pois os centristas poderiam engolir os tucanos). Ruim com Alckmin, pior sem ele.

Boa troca

Enfim, uma proposta de negociação sobre a reforma da Previdência boa para a população: os parlamentares, em vez de cargos e verbas, pedem que os juros dos bancos sejam reduzidos. A inflação em 2017 foi de 2,95%; os juros básicos fecharam o ano em 7%; os juros bancários foram, em média, de 325% ao ano, no cheque especial. Os cartões chegaram a 340% ao ano. O deputado Fábio Ramalho, emedebista de Minas, diz que, baixando-se os juros bancários, haverá apoio para reduzir as regalias do setor público. Por que a proposta? Para que os candidatos à reeleição mostrem ao eleitor que há algumas barganhas no Congresso em benefício da população.

E se chama Brasil

Por que o presidente Temer insiste em nomear Cristiane Brasil para o Ministério do Trabalho, recorrendo a instância após instância judicial? O colunista Cláudio Humberto dá a resposta: “Falta coragem ao presidente para desconvidar Cristiane Brasil, tanto quanto para extinguir o Ministério do Trabalho, de gritante inutilidade”.

Guerra conjugal

O governador paraibano Ricardo Coutinho, do PSB, foi notificado pelo STJ em ação movida por sua ex-esposa Pâmela Bório, com base na Lei Maria da Penha. O processo corre em segredo de Justiça. Mas alguns fatos são conhecidos: Pâmela Bório responsabiliza o ex-marido por hackear seu celular, no qual, segundo se comenta, haveria fotos do casal em momentos íntimos. O relator do processo no STJ é o ministro Francisco Falcão. O processo tende a esquentar por dois motivos: primeiro, o hackeamento das fotos da bela primeira-dama; segundo, a posição política de Coutinho. Distante da linha partidária, que oscila entre candidato próprio e o apoio a Geraldo Alckmin ou a Marina Silva (Rede), o governador fecha com Lula.


Carlos Brickmann - Chumbo Gordo quinta, 18 de janeiro de 2018

CADEIA DE EQUÍVOCOS

 

Juristas das mais diversas tendências, estrategistas políticos, acusadores e defensores que nos perdoem, mas só falta uma semana para que o Tribunal Regional Federal examine o apelo de Lula contra sua condenação em primeira instância. O que se sabe é que as questões que importam não devem ser resolvidas. Muito barulho por nada: mesmo que, dia 24, Lula perca por unanimidade, 3×0, não será preso (quem diz é o presidente do TRF-4, desembargador Thompson Flores). E pode ser que a Lei da Ficha Limpa, segundo a qual réus condenados em segunda instância por um colegiado não podem ser candidatos, por algum motivo deixe de ser aplicada. Conforme a tendência política do jurista consultado, a lei é clara ou tem muitas brechas, abrindo campo para recursos mil. Em resumo, pode sair uma sentença com a qual ou sem a qual a eleição continua tal e qual.

Lula, sem dúvida, sai vitorioso: ao contrário do que muitos imaginavam, abre-se a possibilidade de arrastar a candidatura até a eleição, ou pelo menos perto o suficiente para que ele se apresente como vítima e lance um poste para herdar seus votos. Se for preso, melhor: vira mártir. Nem precisa atacar a Justiça, pois tem quem faça isso por ele. Como Gleisi Hoffmann, que disse que para prender Lula será preciso matar gente. Logo se desculpou, mas é o que pensa. E já se sabe que, para muitos, a Justiça só é justa quando é favorável a Lula. Teremos um ano bem quente.

O apito final

A grande esperança de Lula é levar o caso até Brasília. Por um lado, por ganhar tempo; por outro, sente-se melhor com ministros do Supremo, que já conhece, com quem teve alguma convivência, do que com o pessoal de primeira e segunda instâncias. Ao longo de treze anos de poder petista, coube-lhe, e à sucessora Dilma Rousseff, nomear sete dos atuais ministros (só Gilmar Mendes, escolhido por Fernando Henrique; Celso de Mello, por José Sarney; Marco Aurélio, por Fernando Collor; e Alexandre de Moraes, por Michel Temer, não foram indicados por eles).

 

 

Olha o candidato!

Michel Temer deve terminar seu mandato em 31 de dezembro. No dia 1° de janeiro de 2019, deixa de ter direito ao foro privilegiado. Os processos que o Congresso suspendeu voltam a andar, e o então ex-presidente estará sujeito a juízes de primeira instância, tendo de explicar a conversa com Joesley Batista, a corrida de seu amigo Rocha Loures com a mala e sabe-se mais o que. É ruim, aos 78 anos, antever essa aposentadoria.

Todas as atitudes de Temer na área política devem ser avaliadas levando em conta esse fato. Nos EUA, ao deixar o poder, Nixon combinou com o sucessor Gerald Ford que seria indultado. O indulto foi bem aceito, já que era a condição para o país voltar à vida normal. Aqui, com a radicalização em alta, quem pode garantir que o indulto será dado e validado? Se é para ficar na luta política, Temer tentará a reeleição. Nada é impossível, nem isso. Na opinião do presidente, se a economia for bem, ele pode até ganhar.

Michel Temer vem aí

Teremos um ano bem quente. E com cenas inimagináveis: amanhã, 18, Temer grava uma participação no Programa Sílvio Santos. Eles têm algo em comum (como o bordão “Quem quer dinheiro? Quem quer dinheiro?”), mas só se pode imaginar os dois juntos na TV levando em conta o esforço de Temer para elevar seus índices de popularidade. O programa com Temer vai ao ar no dia 28, mas foi preciso gravar com antecedência porque Sílvio viaja de férias já neste fim de semana. Tudo bem, Michel Temer deve ser coisa nossa, mas nem tanto que interrompa o intervalo de férias de Sílvio.

Outra saída

Há gente de boa cabeça trabalhando com outra hipótese: disputar com um candidato de centro, que tenha o apoio de Temer (dependendo das pesquisas, aberto ou discreto), e que, eleito, lhe garanta o foro privilegiado.

A tese básica desse grupo é que nenhum candidato radical terá chances de vencer a eleição – o que elimina Lula e Bolsonaro (mais os anedóticos, tipo Boulos, Maria do Rosário, Contra Burguês Vote 16 e outros). Um bom candidato de centro teria grandes chances de vencer, e nomearia Temer no dia da posse para o Itamaraty. Ele viajaria pelo mundo e manteria o foro.

Bolívia x Brasil

Evo Morales e Michel Temer trocam elogios e gentilezas, mas há um sério problema no futuro das relações entre Brasil e Bolívia. Dois altos funcionários bolivianos, o procurador-geral (na Bolívia, Fiscal-General) e o chefe de Polícia, que participaram da investigação oficial sobre a morte de três estrangeiros suspeitos de planejar o assassínio de Evo Morales, descobriram algo que ainda não querem revelar (até se sentirem em segurança) e fugiram para o Brasil, onde conseguiram refúgio. Ambos dizem que estão sendo ameaçados de morte. A Bolívia os quer de volta.


Carlos Brickmann - Chumbo Gordo segunda, 08 de janeiro de 2018

MAS INFINDA QUE O INFINITO

 

Nelson Marchezan Jr., PSDB, prefeito de Porto Alegre, sem consultar o governador gaúcho Ivo Sartori, MDB, pediu ao Governo federal que mande o Exército e a Força Nacional para manter a ordem na cidade, no dia 24, quando o apelo de Lula contra a sentença que o condenou a 9,5 anos de prisão será julgado pelo Tribunal Regional Federal. Conforme a decisão, o ex-presidente pode ficar inelegível pela Lei da Ficha Limpa e ser até preso.

A situação de Lula deixou o PT ultra-inquieto: o partido programou até a ocupação de Porto Alegre, líderes como José Dirceu pregam algo muito parecido com insurreição e guerra civil. Bobagem: se alguém ultrapassar os limites pode ser preso. E o PT tem um problema sério: sem o poder, com a Lava Jato, sem imposto sindical, como pagar os voluntários, transportá-los e alimentá-los? O partido se arrisca a um fiasco como o da última caravana.

Aí entra Nelson Marchezan Jr., ultrapassando os limites de ser prefeito e dando à manifestação petista, que não era muito diferente de demonstração de intenções, o caráter de coisa séria. Considera-se ameaçado, o prefeito! E pede gente fardada para protegê-lo das hordas vermelhas, que imagina que existam e que queiram ocupar sua cidade. Marchezan virou a esperança dos petistas radicais, ao dar-lhes crédito e visibilidade, como se força tivessem.

Frase de Einstein: “Duas coisas são infinitas, o Universo e a estupidez humana. Mas, com relação ao Universo, ainda não tenho certeza absoluta”.

…ói ele aí tra veiz

José Rainha, que foi líder do MST, perdeu o posto para Stedile e estava silencioso, foi convocado para ajudar a ocupar Porto Alegre (afinal de contas, é um a mais). Rainha diz que este será um “janeiro quente” e que todos devem se mobilizar em defesa de Lula. Há pouco mais de dois anos, Rainha foi condenado a 31 anos de prisão, mas não foi preso até agora.

Dois destinos

Lula em Porto Alegre, tentando reverter a condenação que sofreu em Curitiba, com risco de ser preso ou declarado inelegível; Temer, na mesma data, 24 de janeiro, a caminho de Davos, na Suíça, para participar do Fórum Econômico Mundial, levando os ótimos resultados que a economia brasileira vem apresentando. Com ele, os dois principais executivos da área econômica: o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, e o presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn. São bons resultados; e, se houver medidas de apoio – por exemplo, a volta do grau de investimento, perdido por Dilma – Temer pode até sonhar em ganhar popularidade e ser candidato à reeleição.

Desafio maior

A tropa de choque oposicionista nas redes sociais (e jornais) tem um problema sério para negar que os dados econômicos tenham melhorado. É que Meirelles foi repetidamente indicado por Lula a Dilma para ocupar o Ministério da Fazenda; e Dilma seguidamente o rejeitou. Lula tinha razão.

Martelo…

Ao mesmo tempo em que escolheu gente do ramo para tocar a economia e deixa seu pessoal trabalhar, Temer continua devastando a administração com apetite de gafanhoto faminto. A escolha de Cristiane Brasil, filha de Roberto Jefferson, para o Ministério do Trabalho, é um exemplo notável: Cristiane é citada na delação da JBS (por estar entre os negociantes de um pixuleco de R$ 20 milhões para o seu PTB, em troca do apoio do partido à candidatura de Aécio Neves, do PSDB, em 2014). É apontada na delação da Odebrecht como receptora de uma bonita mochila com R$ 200 mil. Há mais: dois funcionários a processaram na Justiça do Trabalho pedindo indenização por horas extras não-remuneradas. Ambos ganharam.

…na ferradura

Por falar em “ambos”, Moreira Franco e Eliseu Padilha, ambos ministros, estão ambos na mira da Lava Jato – ai de ambos se perderem o cargo e o foro privilegiado! Temer tem encontro com a Justiça de primeiro grau assim que deixar o mandato (por isso é importante para ele poder tentar a reeleição). Solitário num escândalo antigo, o ministro das Cidades, Alexandre Baldy, era chamado por Carlinhos Cachoeira de “menino de ouro”. Cachoeira não é de distribuir elogios a quem não os mereça.

Tesouro detonado

Foi bonita a festa, pá, como disse Chico Buarque sobre outro assunto. O Rio teve fogos durante 17 minutos seguidos, um recorde. Mas a conta veio logo: os dois principais hospitais universitários do Rio ficaram ser verbas e ameaçam suspender a contratação de residentes – o que é pior do que parece, por prejudicar o atendimento dos pacientes e o treinamento dos médicos. As escolas de samba, habituadas a fartos cofres, ajustam em cima da hora seus desfiles, para que não lhes falte dinheiro no Sambódromo. Que ninguém diga que este é um problema do Rio: o Carnaval carioca é o grande símbolo do turismo brasileiro, e o Rio é o cartão de visitas do país.


Carlos Brickmann - Chumbo Gordo quarta, 03 de janeiro de 2018

TUDO TEM SEU NOME CERTO

 

Um dia, perguntaram a Lula se era comunista. “Não”, respondeu. “Sou torneiro mecânico”. Lula tinha razão e não tinha: não era comunista (como não é até hoje); torneiro mecânico tinha sido quando ainda era capaz de lembrar-se dos comandos de um torno. Lula tem fascínio por Cuba e pela família Castro, mas deve achar Maduro um chato. Maduro, Evo e outros seres servem a seus objetivos e são descartáveis. Usou, gastou, lixo.

Lula não é comunista. Nem outros que são chamados de comunistas porque não seguem totalmente a religião do Estado mínimo – até Fernando Henrique, que privatizou a Vale e a telefonia, virou comuna, porque torce para que Lula não vá preso. E João Dória, onde achará um cashmere vermelho para enrolar na gola do macacão Ferragamo sob medida?

Kim Kataguiri, direita? Imagine um debate sobre Economia, com Bolsonaro, Kim e o Instituto Mises. Kim teria de recorrer ao notável livro O caminho da servidão, de Friedrich Hayek: para debater à altura, só subindo no livro. E Suplicy, cuja tese da renda mínima vem da economia liberal, será direitista? Nem toda a direita é fascista, nem toda a esquerda é comunista. É preciso saber quem é quem para que o debate seja livre, sem ódios, e permita achar um caminho para o país. Caso se mantenha a troca de insultos, como no futebol, acabaremos, como no futebol, tendo jogos de torcida única. Que, em politica, se chamam ditaduras.

A guerra do pernil

O caro leitor acompanha a briga do presidente bolivariano Nicolás Maduro com fornecedores brancos, loiros, dizóio azul, neoliberais a serviço duzianque, que não entregaram os pernis encomendados pela Venezuela só porque a encomenda não foi paga? Pois é: a informação de cocheira (ou, em se tratando de pernis de porco, de cocho) é de que 20 mil toneladas de pernil foram embarcadas pelos exportadores portugueses, e estão guardadas na Colômbia, pertinho da Venezuela, para entrega assim que Maduro pagar o preço combinado de € 40 milhões. Mas não sejamos inflexíveis com Maduro: essa história de ele, como Pai dos Pobres, distribuir pernis ao seu povo, e por conta de produtores de outro país, é muito engraçada.

 

 

Dinheiro vira pipoca

No Rio de Janeiro os salários do funcionalismo estão atrasados, faltam recursos para enquadrar os narcotraficantes em guerra, não há dinheiro para despoluir seu cartão de visitas, a belíssima Baía da Guanabara, acabaram as verbas para manutenção dos carros da Polícia (que andaram enguiçando em frente à bandidagem). Mas houve dinheiro à vontade para pagar a mais longa queima de fogos do réveillon: 17 minutos de foguetório, disparado de grandes barcaças ancoradas perto da praia. Se houvesse 15 minutos em vez dos 17, qual a diferença? E 13, ou 10? Uma das cidades mais bonitas do mundo, com aquela orla, com o Cristo Redentor, teria a festa comprometida se houvesse menos volúpia em detonar o Tesouro carioca?

Amarelinha recorde

Em São Paulo, a grande atração só não foi mais ridícula porque custou menos. Mas na avenida Paulista foi batido o recorde mundial de gente pulando num pé só. Sim, fizeram isso. E não se limitaram a isso: fizeram a maior questão de registrar a besteira e incluí-la no Livro Guiness. Tudo bem, era feriado, festa, cada um se diverte como quer, mas recorde de amarelinha em grupo (para perna direita)… Agora, vamos á perna esquerda!

O dinheiro detonado

Mas sejamos compreensivos com os gastos de nossos dirigentes, mesmo que pareçam estranhos. Vejamos como funciona nosso país fora das festas. O Brasil paga auxílio-moradia a 88 juízes de tribunais superiores, nove ministros do Tribunal de Contas da União, 553 conselheiros de tribunais de contas de Estados e Municípios, 14.882 juízes, 2.381 desembargadores, 2.390 procuradores do Ministério Público Federal, 10.687 procuradores dos ministérios públicos estaduais. Total das despesas com auxílio-moradia a quem, em geral, ganha bem, mora em sua própria cidade e, com frequência, em casa própria, em bairros nobres: R$ 1 bilhão e 580 milhões por ano.

É nosso, mas é deles

O ano que agora começa é especial: nele ocorre a grande festa eleitoral. A campanha vai custar R$ 1,7 bilhão, todinha com dinheiro público, como o PT vinha reivindicando e os adversários se apressaram a apoiar. Os donos dos partidos distribuem as verbas de acordo com sua vontade. Imagine.

Feliz ano velho

O Rio começou 2018 com tiroteios em três favelas, São Paulo com a morte de um menino de cinco anos, atingido por bala perdida e pela incapacidade do sistema de saúde, que durante seis horas não o atendeu. Em Goiás, nove presos morreram numa rebelião (houve mais duas, essas porém sem vítimas) e dez ficaram feridos. O ano muda, o Brasil continua.


Carlos Brickmann - Chumbo Gordo quarta, 27 de dezembro de 2017

PENSANDO O IMPENSÁVEL

 

A economia cresceu pouco, 0,1% no terceiro trimestre, mas acima do previsto. Prevê-se que em 2018 a produção cresça até 3% – nada espetacular, mas bem mais do que os números habituais. Os shopping centers, que tiveram queda de vendas nos dois últimos Natais, venderam 6% a mais neste ano. O Indicador Serasa-Experian teve o melhor desempenho desde 2011: na semana de Natal, as vendas subiram 5,2%. São números baixos, que partem de um patamar baixíssimo; não vão deixar consumidor algum com a sensação de que ficou mais rico. Mas podem deixá-lo com a sensação de que não ficou mais pobre.

E daí? Daí, nada. Mas há a queda dos juros básicos do Banco Central, que algum dia deve se refletir nos juros cobrados no crediário. Não é mais possível tomar mil reais emprestados e ficar devendo dez prestações de mil reais. Se a recuperação da renda dos consumidores se acelerar um pouco, se a inflação se mantiver baixa, estaremos diante de um cenário hoje improvável: um candidato do MDB à Presidência. Um candidato viável.

Quem? Há tempo até 2018. Pode ser, apesar da idade e das acusações, Michel Temer (para ele, ótimo: mais um tempo com foro privilegiado). Ou Henrique Meirelles, dono da política econômica. É do PSD, já foi do PSDB e do Governo Lula e, se precisar, muda de sigla. Tem carisma zero; mas tem como pagar a própria campanha. Pode emplacar? Resposta em 2018.

 

 

Através do espelho

Naquela antiga frase sobre o que pode sair da cabeça de juiz e de bunda de nenê, em geral se esquece o terceiro elemento imprevisível: boca de urna. Há uma foto clássica de eleições americanas em que o presidente Harry S. Truman, recém-reeleito, segura um jornal que anuncia a vitória de seu opositor Thomas Dewey. Jânio Quadros ganhou a Prefeitura de São Paulo pela primeira vez contra o favoritíssimo Francisco Antônio Cardoso; e pela segunda contra o ainda mais favorito Fernando Henrique Cardoso. Erundina, uma semana antes da eleição, era a terceira colocada. Virou o jogo e bateu o grande favorito Paulo Maluf. Duvida de Meirelles? Depois de bem-sucedida temporada como banqueiro no BankBoston, voltou ao Brasil e se elegeu deputado federal por Goiás. E Temer vem se elegendo, embora sempre com votação baixa, desde 1986. Bem ou mal, já chegou lá.

Portas abertas

Claro, Temer e Meirelles não são as únicas surpresas que podem ocorrer neste ano (nem as mais prováveis). Alckmin chefia um partido forte, com boas raízes no Centro-Sul. Dória já surpreendeu uma vez (embora nenhum de seus possíveis padrinhos vá se surpreender de novo). Há os corredores paraguaios Marina e Ciro – e se um deles acertar o ritmo? Álvaro Dias, Arthur Virgílio? Este colunista não apostaria em nenhum deles, nem em Bolsonaro ou Lula (mas também não apostaria contra eles). Joaquim Barbosa? Tantos candidatos só indicam que não há candidato nenhum.

Um país sem patrão

O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, classificou o embaixador do Canadá em Caracas como “persona non grata” – ou seja, indesejável. O Canadá imediatamente expulsou de Ottawa o embaixador venezuelano – a retaliação tradicional diante do tipo de agressão cometido pela Venezuela.

Um país “mais compreensivo”

A Venezuela também declarou “persona non grata” o embaixador do Brasil, informando que a medida é um protesto pelo afastamento da presidente Dilma Rousseff. E o Brasil? Tão atrasado quanto os maduros, que só agora descobriram que Dilma foi afastada, o Governo brasileiro só retaliou a Venezuela na terça. Tem motivos – o Governo venezuelano vem atrasando o pagamento de compras no Brasil – e armas terríveis: basta liberar as confissões de empreiteiros brasileiros sobre a realização de obras por lá. Mas parece a ocupação militar da refinaria da Petrobras na Bolívia: protegemos ao máximo regimes que se dedicam a usar à vontade o dinheiro do Brasil.

Exemplo

A Unidade de Coordenação Central do Tesouro Espanhol acusa “o melhor jogador de futebol do mundo”, Cristiano Ronaldo, de ter sonegado aproximadamente € 15 milhões (pouco mais de R$ 60 milhões), e pede sua prisão. O centro-avante do Real Madrid alega que paga “a peso de ouro” os especialistas que declaram seu imposto de renda, e portanto não tem culpa de eventuais erros. Caridad Gómez, a chefe da Receita espanhola, diz que contribuintes “com acusações muito menos graves” estão presos e que Cristiano Ronaldo usou testas-de-ferro e paraísos fiscais para sonegar. É famoso? Melhor: sendo preso, serve de exemplo aos sonegadores.

Desapega!

Luislinda Valois saiu do PSDB mas não quer deixar sua Secretaria, onde é mal avaliada. Mal avaliada por que? Ela não fez nada – nem de errado!


Carlos Brickmann - Chumbo Gordo domingo, 24 de dezembro de 2017

NOSSO NATAL, NATAL TROPICAL

 

Ho! Ho! Ho! E José Dirceu, condenado a mais de 30 anos de prisão, mas solto enquanto prega uma rebelião caso Lula tenha a condenação confirmada, ganha pensão mensal de quase R$ 10 mil da Câmara.

Ho! Ho! Ho! Lula foi condenado a 9 anos e meio de prisão por alguma daquelas coisas que ele usa mas não são dele. Apelou na forma da lei e o apelo deve ser julgado no dia 24 de janeiro. Seus seguidores divulgam abaixo-assinados. Normalmente, os signatários dizem que não são petistas. É verdade: são lulistas ainda mais radicais, o “eu não sou petista, mas…”

 

 

Ho! Ho! Ho! Está no Diário Oficial da União, do dia 11 último: a advogada Samantha Ribeiro Meyer foi nomeada conselheira da Itaipu Binacional, com pagamento de R$ 40 mil mensais e obrigação de comparecer a quatro reuniões por ano. Samantha Ribeiro Meyer vem a ser a ex-esposa de Gilmar Mendes, ministro do Supremo Tribunal Federal.

Ho! Ho! Ho! Condenação vai, liminar vem, e todas essas jabuticabas estranhas acabam caindo nas mãos da Justiça. E daí? Teto salarial de juízes é definido pela Constituição. Nenhum funcionário público pode receber do Estado mais de R$ 33 mil, algo por aí. Mas a média salarial dos juízes é em geral superior a cem salários mínimos, uns R$ 100 mil mensais. Há juiz que ganha bem mais (veja, na nota abaixo, como achar o salário de alguém do ramo). Se com ele é assim, por que o juiz iria dar um jeito nos outros?

O lar do Bom Velhinho

Há dúvidas sobre o volume dos recebimentos de algum juiz? Clique aqui e confira. Tem juiz com quase R$ 250 mil.

O juiz e os juízes

Que é que o presidente da Ajufe, Associação dos Juízes Federais, acha da questão do teto salarial definido pela Constituição? O presidente Roberto Veloso distribuiu mensagem autocongratulatória dizendo que, apesar da campanha para atingir financeiramente os magistrados, eles não foram prejudicados, “pois o projeto do extrateto, que estava em vias de aprovação, não foi votado neste ano”. O projeto extrateto define o que pode ser pago fora do limite constitucional – como salário, nada.

A renda dos punhos

Ho! Ho! Ho! Pensa que a política externa é definida pelo Governo Federal e executada pelo Itamaraty, por profissionais escolhidos entre os disponíveis no Ministério das Relações Exteriores? Não é bem assim: já há interferência do Judiciário na escolha dos profissionais. O diplomata Sóstenes Arruda de Macedo pediu à Justiça Federal de Brasília que determinasse ao Itamaraty sua transferência para o Consulado em Paris – um dos postos mais cobiçados da carreira. A Justiça o atendeu – embora, até hoje, a transferência de diplomatas seja privativa do Itamaraty. A União deve recorrer, e por isso a decisão não terá efeito imediato.

Quem perde…

Espaço Vital, ótimo portal jurídico do Rio Grande do Sul, dá um balanço do que aconteceu com a Odebrecht durante o tempo, dois anos e meio, em que Marcelo Odebrecht ficou preso em Curitiba. Um resumo: quem comprou um título da Odebrecht em 2010 por US$ 100 mil tem agora, após sete anos, US$ 31 mil. A empresa está fora de concorrências no México e no Peru. E superar as desconfianças que passaram a cercá-la depois da Lava Jato é problema ainda sério.

…quanto perde

Quando Marcelo Odebrecht foi preso, em 2015, a empresa tocava US$ 28 bilhões em obras. Em julho de 2017, o volume de contratos tinha caído para US$ 15 bilhões. A dívida líquida, inferior à geração operacional de caixa, agora se multiplicou para 5,6 vezes este número.

O x do problema

O problema dessa análise é algum número desconhecido: é válida enquanto se acreditar que, nas delações premiadas, o conglomerado de empresas confessou todas as eventuais transgressões da lei. Caso isso não tenha ocorrido, a situação do grupo pode estar bem melhor do que parece.

Só pra contrariar

O comando petista começou a orientar os chefes de equipe que procuram lotar Porto Alegre no dia 24, data do julgamento do recurso de Lula, para que busquem inundar de e-mails as caixas dos desembargadores do TRF-4. O tribunal analisará a sentença do juiz Sérgio Moro, de Curitiba, que condenou Lula a nove anos e seis meses de prisão. Poderá optar pelo cancelamento ou manutenção da sentença, ou pela modificação do período de pena. Até agora, o TRF-4 tem adotado penas mais duras que as fixadas pelos juízes de primeira instância. A ordem é mandar o maior número possível de mensagens, mas em termos educados, sem ofensas.


Carlos Brickmann - Chumbo Gordo segunda, 18 de dezembro de 2017

BRINCANDO DE FAZ DE CONTA

 

Economistas de primeiro time, empresários influentes e políticos de importância chegaram à mesma conclusão: o Governo brasileiro precisa cortar as despesas. Como não disse PC Farias (e só não disse porque já tinha morrido), Madama estava gastando demais, até saindo da legalidade.

Para que se inaugurasse uma nova era de contas saudáveis, Madama caiu. O novo Governo que assumiu já fez de conta que não é o antigo, embora o elenco pouco tivesse mudado. Eles, os novos, cortariam despesas.

Mas, para cortar, era preciso cuidar dos amigos da casa. As despesas subiram uns R$ 50 bilhões. Houve o encontro com Joesley nos porões do Jaburu. Tentaram cassar o Vampiro por sugar a vaca leiteira. Mas, cassado o Vampiro, quem cortaria as despesas? Foi preciso gastar muitos pixulecos para manter vivo o Cortador Geral das Despesas da República. Mas atrair os votos essenciais para aprovar a Reforma previdenciária, mãe dos cortes de despesas, também teria seu custo. Num rápido balanço, foram cinco pagamentos e a Mãe dos Cortes não foi tocada. Mexer nesse vespeiro sai caro: não são só outros 500, mas cargos, áreas de influência, proteção contra juízes de primeira instância. Foi preciso até agradar Luislinda, que se achava escravizada por ganhar só trinta e poucos mil por mês. O PSDB saiu do Governo; ela preferiu sair do PSDB e ficar no bem-bom, recebendo. Claro, a solução é cortar despesas. Mas cortá-las custa caro.

Uma coisa e outra coisa

Quem trata política e finanças como coisas paralelas, afins, uma influenciando a outra, não entende nem de política nem de finanças.

Dirceu, tem pena

José Dirceu é o novo insuflador-geral do PT: está convocando petistas para lotar Porto Alegre em 24 de fevereiro, dia do julgamento pelo Tribunal Regional Federal do recurso de Lula contra a pena de nove anos e seis meses que lhe foi imposta pelo juiz Sérgio Moro. “A hora é de ação, não de palavras. De transformar a fúria, a revolta, a indignação e mesmo o ódio em energia, para a luta e o combate. Todos a Porto Alegre no dia 24, o dia da revolta (…)” Dirceu, que aguarda em liberdade o julgamento de seu recurso contra a pena de 30 anos e 9 meses por corrupção passiva, lavagem de dinheiro e participação em organização criminosa, talvez corra risco de punição. Mas este é seu estilo: no governo Covas, em São Paulo, grupos de professores em greve bloquearam a entrada da Secretaria da Educação. Covas, sem segurança, já com o câncer que o mataria, foi agredido pelos, digamos, educadores. Dirceu deu apoio aos agressores, dizendo que era preciso surrar os adversários nas ruas e nas urnas. Errou: Fernando Henrique bateu Lula em duas eleições seguidas, no primeiro turno.

 

 

General punido

Demorou, mas o comandante do Exército, general Eduardo Villas Boas, e o ministro da Defesa, Raul Jungmann, puniram o general Antônio Hamilton Mourão, transferindo-o da Secretaria de Economia e Finanças para o posto de adido na Secretaria Geral do Exército. Na última quinta, o general Mourão acusou o Governo Michel Temer de “equilibrar-se num balcão de negócios”. As Forças Armadas são organizadas com base na hierarquia e na disciplina, e seu comandante-chefe é o presidente da República. O presidente fala pela Força; seus subordinados devem calar-se.

Mourão já havia dado opiniões há algumas semanas, mas o general Villas Boas preferiu deixar pra lá. Agora sua paciência se esgotou.

Olhando o futuro

Nos tempos do Império Romano, era atribuído aos poetas (“vates”) o “poder divinatório”, a capacidade concedida pelos deuses de prever o futuro. Daí vêm as palavras “vaticínio” e “adivinhar”.

Pois bem: no Carnaval de 1949, Tancredo Silva, José Alcides e Sátiro de Melo fizeram seu vaticínio musical, gravado por Blecaute. Acompanhe a letra, caro leitor, quase 70 anos depois: “Chegou o general da banda, e ê/ chegou o general da banda, e á/ Mourão, mourão, vara madura que não cai/ Mourão, mourão, mourão, catuca por baixo que ele vai”.

 

 

Cinco letras que choram

Boa parte da família Odebrecht está de saída. Emílio, pai de Marcelo,se afasta do comando da empresa, e determina que, de agora em diante, o poder na Odebrecht seja entregue a executivos profissionais, de mercado. Sua esposa fica com ele no Brasil. Marcelo, o Príncipe dos Empreiteiros, deixa a prisão no dia 19: de agora em diante, cumpre pena em casa, com tornozeleira eletrônica, em companhia da esposa. Filhos e cônjuges de Marcelo Odebrecht, com toda a família, mudam-se para Frankfurt, na região. Os estudantes já estão matriculados em boas escolas da Frankfurt. Saem por livre e espontânea vontade: não aguentam mais o clima de hostilidade que enfrentam no Brasil.


Carlos Brickmann - Chumbo Gordo quarta, 13 de dezembro de 2017

RIR, RIR, RIR COM PAPAI NOEL

 

Para extrair o melhor humor desta história real, é bom relembrar a figura de seus personagens. O primeiro, Fernando Henrique Cardoso, ele mesmo! – o presidente da República que contratou a chef de cuisine Roberta Sudbrack para incrementar as refeições em palácio. O segundo, mau humor permanente, é o senador José Aníbal. Floriano Pesaro, secretário de Dória; e o poeta e cientista político Fernando Fefo Guimarães. Todos tucanos; e Guimarães, além disso, criador da ala tucana Esquerda pra valer. Pois é.

Um encontro tucano, claro. E, claro, num bom restaurante de carnes importadas, harmonizadas com os vinhos caros da moda. Assunto maior, fora o cardápio: a necessidade de uma guinada do PSDB à esquerda. Nada mais justo, recordando-se a origem política muroesquerdizante dos tucanos.

A folhas tantas, após sabe-se lá quantas harmonizações bem sucedidas no cardápio, liberaram-se os espíritos, e o grupo começou a cantar o hino clássico do comunismo, A Internacional. Pense, caro leitor: Fernando Henrique e José Aníbal soltando a voz, “De pé, famélicos da Terra/ De pé, oh vítimas da fome/(…) Messias, Deus, Chefes Supremos/ Nada esperemos de nenhum/ Sejamos nós que conquistemos/ A Terra-Mãe livre e comum”.

A radical tentativa de buscar a esquerda pra valer ocorreu na última sexta, em Brasília. Ainda bem que o tempo voa: pense em ACM, sempre ao lado de Fernando Henrique, cantando com ele no Orfeão Vermelho.

Humor de Natal

Fernando Henrique se esforça, faz coisas esquisitas, mas Natal é uma festa onde Lula se sente melhor e se destaca sem precisar de bebidas harmonizadas com comida metida a besta. No sábado, 10, em comício, disse que o Rio de Janeiro “não merece que governadores eleitos democraticamente estejam presos porque roubaram dinheiro público”.

Essa coisa horrorosa de prender governantes democraticamente eleitos só porque roubaram dinheiro público irrita Lula. Política não é cadeia.

 

 

Proposta do horror

Há quem diga que quem fala demais dá bom dia a cavalo. Mas é pior: quem fala demais acaba revelando o que realmente pensa – e muitas vezes sua reputação sofre com isso. O juiz Sérgio Moro, avesso a badalações, sempre profissional, falando nos autos, acabou abrindo parte daquilo que pensa – e que horror! Moro propôs que a Petrobras institucionalize a virtude da delação. Disse que os bons funcionários, preocupados em garantir o sucesso da Petrobras, deveriam delatar colegas a seu ver corruptos. E que a empresa deveria estudar como gratificar o dedo-duro.

É bobagem por vários motivos – a começar porque não funciona. Não há grande empresa no mundo com sistema semelhante porque todas sabem que o clima de desconfiança as destruiria. Que Moro fique onde é mestre.

Quem com quem?

Quem acha que a posição tucana para 2018 está definida, após a escolha de Geraldo Alckmin para presidir o partido, engana-se. O PSDB enfrenta, em primeiro lugar, o risco do isolamento. Aliados tradicionais (PSB, DEM, partidos pequenos) se afastaram dos tucanos e têm alternativas – a começar pelo PMDB, que, no Governo, e se mantiver o sucesso da política econômica, pode lançar um candidato à sucessão de Temer. Pode ser, por exemplo, Henrique Meirelles, do PSD, mas flexível quanto a legendas; pode ser o próprio Temer – para ele seria ótimo, pelo foro privilegiado. Sem o tempo de TV dos aliados, as chances do PSDB são pequenas.

Bicadas no muro

E há outro problema que poucos tucanos levam a sério, mas que é sério: o prefeito de Manaus, Arthur Virgílio Neto, tem a promessa de Alckmin de que o candidato será escolhido em prévia nacional, com debates entre os postulantes. Virgílio está disposto a brigar pela prévia; e, considerando-se a tradição tucana, terá muita gente a seu lado, querendo liquidar Alckmin de uma vez. Já houve brigas na convenção, quando a segurança hesitou em permitir que Virgílio subisse ao palco. O clima é tenso e pode piorar.

Olho nas exportações!

O Brasil parece, enfim, despertar para o comércio exterior: no dia 19, terça, o Instituto Aliança Procomex promove um seminário internacional Programa OEA no Cone Sul. O seminário ocorre no hotel Maksoud Plaza, em São Paulo. Segundo o coordenador executivo do Instituto Procomex, John Mein, “o foco principal do Programa OEA é aumentar o nível de confiança das empresas intervenientes, objetivando facilitar os procedimentos aduaneiros, tanto no país, quanto no exterior, além de dar celeridade ao processo”. Até o dia 18, inscrições em Procomex; no dia 19, só inscrições presenciais. Mais informações com Linoel Dias, assessor de Imprensa do Procomex, (11) 3812-4566, (11) 9 9619-6108.


Carlos Brickmann - Chumbo Gordo domingo, 10 de dezembro de 2017

AS MAGIAS DO NATAL

 

A frase é de Lula, nesta terça, no Maranhão: “Todo ladrão tem de ir para a cadeia”. O Maranhão, Estado mais pobre do Brasil, é dirigido pela família Sarney, aliada de Lula, ou pelo PCdoB, aliado de Lula.

 

O PSDB está dividido, com relação ao Governo Temer, entre o Muro e o Muro do B. O Partido do Muro, chefiado pelo chanceler Aloysio Nunes, aceita tudo, menos descer de lá de cima. O Muro do B, chefiado por quem não tem força no Governo, combinou com o presidente Temer “uma saída elegante”. Como diria Temer, tê-la-ão: o PSDB certamente ficará feliz quando souber que o pé que vai levar no local adequado usa calçados finos.

Sérgio Cabral, PMDB, ex-governador do Rio, condenado em primeira instância a 72 anos de prisão (mas pode me chamar de 30, pena máxima a ser cumprida), presta o Enem nesta semana para História. Cabral, formado em Jornalismo, diz que adora História. Nada mais justo: o Brasil foi descoberto pelo Cabral português, e outro Cabral, carioca, soube pesquisar os tesouros que o país escondia. Tem mais: o estudo permite abater parte da pena. Se o Brasil não mudou, será com certeza um bom abatimento. Quem sabe teremos ainda novas chapas peemedebistas com Cunha e Cabral?

Cabral lembra algo de nossa história. Diz, por exemplo, que não é como Adhemar de Barros, ex-governador paulista que cunhou o slogan “rouba mas faz”. E não é mesmo: obra de Adhemar podia ser cara, mas era feita.

Bom velhinho sempre vem

Lembra-se do doleiro Lúcio Funaro, envolvido desde 2003 na remessa de dinheiro ilegal ao Exterior? Em 2003, foi apanhado por Moro, mas sabe como é, o tempo passa, o tempo voa e ele foi se mantendo no ramo. Agora. apanhado de novo, delatou muita gente e conseguiu pegar apenas dois anos de pena. Mas vai passar o Natal em casa, porque o bom Papai Noel não se esquece de ninguém. Sai da Papuda nesta semana, seis meses antes de completar os já generosos dois anos com que havia conseguido se safar. Se Funaro, que não pertence a partidos, sai tão cedo, por que outros vão ficar?

Conexão africana

O ex-ministro Antônio Palocci, um dos homens mais importantes do Governo Lula, coordenador da campanha de Dilma, totalmente abandonado pelos companheiros quando foi preso, está concluindo sua proposta de delação premiada, informa a revista Veja. Palocci promete provar que Moamar Khadaffi, ditador da Líbia, deu um milhão de dólares à campanha de Lula em 2002 – dinheiro lavadinho, a fundo perdido, “empréstimo” sem devolução. Lula chamava o líbio de “irmão”. Khadaffi, ditador da Líbia por 42 anos, foi deposto e morto em 2011. Palocci diz ter outras coisas a contar sobre movimentação ilegal de recursos, mas a de Khadaffi tem um sabor especial: a lei brasileira pune com o cancelamento de registro do partido o recebimento de dinheiro do Exterior. Lula não poderá ser candidato, nem o PT poderá apresentar outros candidatos: o partido talvez seja extinto.

 

 

Espada a prêmio

Num dos quatro encontros que teve com Khaddafi, Lula ganhou uma espada de aço e ouro branco, cravejada de pedras preciosas. Ao deixar a Presidência, Lula guardou a espada num cofre do Banco do Brasil, em nome de sua esposa Marisa e do filho Fábio Luís Lula da Silva. A espada foi localizada pelo juiz Sérgio Moro e devolvida ao Tesouro.

Alerta

Quem conhece o empreiteiro Marcelo Odebrecht está convencido de que o período na prisão não o modificou de forma alguma. Como dizia do rei Luís 18 da França o chanceler Talleyrand, após a Revolução Francesa e o período de Napoleão Bonaparte, “nada aprendeu e nada esqueceu”.

A reforma vem chegando

A votação será mesmo apressada, atrapalhada, como aliás é frequente ocorrer em nosso Congresso, principalmente quando se aproxima o recesso. Mas tudo indica que a reforma da Previdência – meio esfarrapada – será aprovada. E talvez seja aprovada até por mais do que se imagina, especialmente se o pessoal mais resistente do PSDB descobrir que, se continuar no muro, vai deixar claro que não teve a menor importância no resultado da votação. É o risco que também corre o PSD de Kassab: assistir à aprovação, deixando claro que, com ou sem PSD, Temer vai vivendo.

Pior do que estava, fica

Não se iluda com a suposta beleza do gesto de renúncia do deputado Tiririca. Em oito anos, é seu primeiro discurso – a primeira vez que nos deixa entrever sua posição política. Levou esse tempo todo desfrutando os benefícios, aliás indecentes mesmo, que agora denunciou. E ainda aproveitou para pagar as despesas de um espetáculo de circo do qual era o astro com dinheiro da Câmara. Tiririca, ao contrário do que prometeu, não contou o que é que um deputado federal faz. Mas seguiu o exemplo deles.

 

 


Carlos Brickmann - Chumbo Gordo domingo, 03 de dezembro de 2017

TUCANOS: BICO COMPRIDO E VOO CURTO

 

O presidente nacional do PSDB, Geraldo Alkmin, provável candidato em 2018, disse no início da semana ao jornalista José Luiz Datena, na Rádio Bandeirantes, que no comando do partido faria o PSDB se afastar do Governo Temer. Apoiaria as reformas, mas de fora. A seu ver, não havia nenhum motivo para se manter no Governo. O partido sai? Na hora das promessas, ia sair. Mas o chanceler Aloysio Nunes já disse que não sai, não há motivo para sair. Apoiar de fora não gera limusine nem viagens. Bruno Araújo saiu, mas LuizLinda Vallois, a que se sente escrava com menos de R$ 60 mil mensais, só sai obrigada. Tem razão: se sair, quem vai notar?

Aloysio usou o mais puro tucanês ao dizer que o problema do afastamento entre PSDB e Governo é outro. “O PSDB não faz parte da base do Governo, o PSDB apoia o Governo, não rompeu com o Governo”. A prova de que Aloysio tem razão é o número de reuniões que os tucanos marcam para discutir como apoiar sem apoiar: as decisões estão tomadas, todos em cima do muro, mas só numa reunião é possível que todos ergam os braços, se abracem, e nessa posição apunhalem os amigos pelas costas.

Mas o próprio Aloysio, chefe da diplomacia tucana, anunciou outra decisão: se o partido decidir se afastar do Governo, ele, Aloysio, se mantém no cargo. Irritou-se muito com os repórteres que insistiram em fazer perguntas sobre o tema. Afastar-se de limusines não é algo que lhe agrade.

 

 

Tinha uma prévia…

Alckmin tem tudo para sair em 2018, mas precisa vencer (ou esmagar) o prefeito de Manaus, Arthur Virgílio, que pede prévias no PSDB. Alckmin defendia prévias para escolher o candidato, mas isso, era quando não tinha maioria. Agora tem Arthur na disputa. E se algo ocorre e Arthur ganha?

…no meio do caminho

Há Serra, candidato a alguma coisa (pode sair pelo PSD de Kassab). Há os partidos aliados a Alckmin que o apoiariam, mas queriam retribuição na eleição estadual. Se não ganharem o apoio tucano, não faltará quem o dê.

Tucanos, enfim, como sempre: brigando a bicadas mas incapazes de voar longe. Fernando Henrique voa longe. Mas ninguém aprendeu com ele.

Democracia vermelha

O deputado petista Paulo Pimenta mandou deter a militante Carla Zambelli, do Nas Ruas. Carla queria entrevistá-lo, ele a mandou trabalhar, ela disse que estava trabalhando e não roubando como ele. Ele mandou a Polícia Legislativa prendê-la. Quem é Paulo Pimenta, além de chefe de policiais legislativos prendendo cidadãos de quem discorda? Sim, é o petista fotografado por Júlio Redecker quando entrava no carro de Marcos Valério, controlador do Mensalão. Pimenta é chamado de “Montanha” pela Odebrecht e é inimigo de Sérgio Moro. “Montanha” – por que será?

O caldeirão…

Por que Luciano Huck anunciou que não seria candidato, justo quando, segundo o Estadão, crescia seu caldeirão de votos? É provável que nunca tenha tido a real disposição de disputar, a menos que houvesse uma avalanche de adesões. Alguns anos atrás, uma respeitada senhora do Interior paulista, força notável na política da cidade, era pressionada a candidatar-se. Esse colunista, consultado, foi contra: a senhora comandava as principais entidades de classe e era mais poderosa que o prefeito. Para que se candidatar? Perderia o status de unanimidade e entraria no moedor de carne das campanhas eleitorais. Mas que diriam dela, de conduta tão transparente? Insisti: se nada encontrarem, inventam. Mas que poderiam inventar contra ela? Sugeri: vão dizer que o filho dela é pai solteiro.

Silêncio na sala: era. Já se faziam os exames. Desistiram da candidatura.

…do Huck

Imagine-se na situação de Huck, astro da maior rede de TV do Brasil, rico por si próprio, rico de família, um ídolo ligado a programas “do bem”. É bem educado, forma um casal de anúncio de margarina com uma moça que também é ídolo. Entrar numa campanha para ser xingado todos os dias, com denúncias, esculachos, armações? Melhor emprestar seu prestígio a um candidato de sua confiança, para quem contribuirá, a quem referendará.

Um é…

O candidato do Partido Novo, João Amoêdo, com plataforma liberal (é favorável, por exemplo, à venda de todas as empresas estatais), informou ao site O Antagonista que atingiu 1% das intenções de voto. Amoêdo, oriundo do sistema bancário, se propõe a pagar a maior parte das despesas de campanha com seu próprio dinheiro e o dos companheiros de chapa.

…outro não

O senador brasiliense José Antônio Reguffe, do Livres (ex-PSL), disse ter sido convidado a disputar a Presidência pelo partido, mas recusou, por ter o compromisso de terminar o mandato – que acaba em 2023.


Carlos Brickmann - Chumbo Gordo quarta, 29 de novembro de 2017

O VELHINHO SEMPRE VEM

 

Job Ribeiro Brandão era assessor parlamentar do deputado Lúcio Vieira Lima, o irmão de Geddel. Suas digitais estavam nas notas daqueles R$ 51 milhões do apê em Salvador. Participava da contagem do dinheiro; confessou ter destruído provas contra Geddel; para continuar no esquema, devolvia a Lúcio Vieira Lima parte de seu salário como assessor. Usou o que era bom e, na hora da queda, denunciou os companheiros. Está livre.

Gustavo Pedreira do Couto Ferraz era do esquema, levou dinheiro a Salvador, ajudou na contagem, e, acabado o bem-bom, delatou. Tirou da reta. Sua defesa pede que fique livre, já que o caso é como o de Job.

Agora, três casos levantados por Marco Antônio Birnfeld, do ótimo site gaúcho Espaço Vital. Nestor Cerveró: a partir de 24 de dezembro, poderá sair de casa nos dias úteis, de 10 às 18h. Quase!

Também na véspera do Natal, o lobista Fernando Baiano Soares se livra das tornozeleiras. Fica obrigado a dormir em casa, na Barra da Tijuca, Rio, e a prestar seis meses de serviço comunitário. Depois disso, em julho, livre.

Pedro Barusco, que era gerente da Petrobrás e devolveu à Lava Jato uns R$ 200 milhões, sofre mais uma semana. Em 31 de dezembro, fica livre da tornozeleira. A partir de março, estará livre de vez, sem restrição. Diz o Espaço Vital que, se quiser viajar ao Exterior, tudo bem, sem problemas, tem cacife. E completa: “Já tem gente pensando que o crime compensa”.

 

 

Cada caso é (1) caso

Eduardo Cunha tentou, mas falhou: o STF negou-lhe habeas corpus. Se desse, não faria diferença: há outras ordens de prisão no caminho.

Cada caso é (2) caso

Job Brandão teve a prisão revogada a pedido da procuradora-geral Raquel Dodge. Nem ela nem o ministro Edson Fachin têm dúvidas sobre o papel de Job no esquema; mas a liberdade fazia parte da delação premiada.

Cada caso é (3) caso

O caso de Gustavo Pedreira do Couto Ferraz é igualzinho ao de Job: ambos funcionários de confiança, felizes em ajudar os chefes, talvez levando um pedacinho. Ambos fizeram delação. Por que um já está livre e o outro não? A ladroeira já custou a Gustavo cinco meses de domiciliar!

Cada caso é (4) caso

Nestor Cerveró fez tudo o que se sabe, talvez alguma coisa de que não se saiba, contou muito, foi alvo de uma tentativa de fuga do país – que, para muitos, seria uma maneira de tirá-lo da condição de arquivo vivo. Ficou nove meses com tornozeleiras, em sua casa – uma bela casa, aliás. E a promessa judicial, ao que tudo indica, será cumprida na íntegra.

Cada caso é (5) caso

Nem todas as promessas judiciais são cumpridas conforme entendidas pelos delatores. O caso mais interessante foi o de Joesley. Criou problemas imensos para Temer e saiu sem qualquer punição visível, como herói: barco de alto luxo levado para os EUA, declarações do tipo “nóis num vai sê preso”, e acabaram dando margem a investigações que envolveram procuradores e levaram à suspensão das promessas. Está preso.

Cada caso é (6) caso

Fernando Baiano e Pedro Barusco seguiram a regra do jogo, cumpriram penas beeeeem suaves, e estão com data marcada para a liberdade.

Tucanudos não se beijam

A roda dos candidatos ainda vai girar muito. Como esta coluna antecipou, Luciano Huck não foi candidato. Para ele, seria interessante avaliar a repercussão de uma candidatura; candidatar-se é outra coisa. João Dória, se sair, não será a presidente (e, se sair, terá de convencer o patrono da candidatura de que ele é confiável). Alckmin, hoje, é o candidato do PSDB. Mas tem, contra ele, Tasso (que gostaria de ser), Aécio, Serra (quer perder até aprender). E agora apareceu a esquerda tucana, que quer se reunir com PSOL, PSTU, PT – e, pior, quer que acreditemos nisso.

Nomes possíveis

Ainda falta muito para a eleição, mas ainda há Henrique Meirelles, João Amoêdo (que fará campanha fortemente liberal), a eterna Marina Cintra, que até hoje sempre foi destruída no caminho mas que um dia pode acertar o passo, algum poste indicado por Lula – que, se Lula estiver preso, ou impedido legalmente de se candidatar, ganha ainda mais força.

Até Requião

O senador Roberto Requião, do PMDB paranaense, é improvável. Mas tem até slogan, vindo das velhas campanhas de Getúlio: “Condenação absurda de Dona Marisa, massacre de direitos de trabalhadores, entrega de nosso petróleo, tentativa de humilhar Lula, não apenas condená-lo. Lembram Getúlio? Bota o retrato do velho outra vez, bota no mesmo lugar. Consequência lógica! Outra vez!”


Carlos Brickmann - Chumbo Gordo domingo, 26 de novembro de 2017

THE BLACK MASK DA LADROEIRA

Já que falar estrangeiro no dia a dia parece estar no rigor da moda, tratemos em inglês da Black Week: que roubada, de ponta a ponta! A Black Week do Brasil foi copiada dos gringos. Só se esqueceram dos descontos.

A ideia, os objetivos (de vender mais entre o Dia da Criança e o Natal), a propaganda, é tudo igual. Mas, nos Estados Unidos e Europa, liquida-se de verdade; aqui, como mostraram a Folha e O Globo, os preços sobem antes para dar a impressão de que houve desconto. Em outras palavras, os preços da Black Week são a metade do dobro. Há ocasiões em que o preço parece ter caído; mas confira o frete, que subiu e muito.

E aí surge a segunda roubada, a dos cartões, que supostamente parcelam o valor da compra. Só que não é bem assim: o cliente só tem a compra aprovada se dispuser no cartão do valor somado de todas as parcelas, O cartão pode parcelar uma bicicleta em duzentas prestações, sem risco: se o cliente não tiver no cartão o suficiente para pagá-las todas, a compra não é aprovada. Não é muito diferente de pagar a vista, em cheque ou dinheiro: só que, em vez de seu dinheiro liquidar a conta na hora, e de o caro leitor trocar seu saldo por um produto, o dinheiro fica bloqueado no cartão e não pode ser usado até que a conta inteira seja paga com seus próprios recursos.

E não acredite em “sem juros”. Os juros estão embutidos no preço. Banco não é entidade de benemerência. Sem jurinho não tem negócio.

No freshness

Alguém poderia nos dizer por que Black Week, e não Semana Negra? A ideia é evitar conotações de discriminação? Nesse caso, usa-se o inglês por achar que o cliente, sem conhecê-lo, não entende o significado do nome. Pode ser; mas por que Liquidação é chamada de “Sale”, ou “Off”?

O Rio, quebrando mais

Os dirigentes cariocas ainda não acham que o Rio já esteja sufocado: a Câmara de Vereadores (antigamente conhecida como ”Gaiola de Ouro”) aprovou, por 40 votos a 1, o retorno dos cobradores aos ônibus da cidade. A proposta foi de dois vereadores, do PT e PTB. Só que o cobrador tem salário, que aumenta as despesas dos ônibus; e não têm serviço. Em São Paulo, só 7% dos passageiros pagam a passagem em dinheiro. Cobrador hoje dorme, ou mexe no celular. Sua atividade é tão essencial quanto a de ascensorista. Mas quem paga o ascensorista, quando há, é o condomínio, não uma cidade com economia quebrada, capital de um Estado quebrado.

Quem é quem

Dos sete governadores eleitos do Rio desde 1982, três estão presos, todos por corrupção: Anthony Garotinho, Rosinha Garotinho, Sérgio Cabral (dois mandatos). O governador atual, Pezão (suspeito de receber doações irregulares da Odebrecht) e Moreira Franco (Quadrilhão do PMDB), eleito entre os dois mandatos de Brizola, têm problemas com a Justiça. Moreira virou ministro para ter foro especial – a manobra que Dilma tentou com Lula e não deu certo. Brizola e Marcelo Alencar morreram. Qual Estado aguenta vinte e tantos anos sendo sugado?

Fora, Kátia

A senadora Kátia Abreu, Tocantins, foi expulsa do PMDB por infidelidade partidária. Kátia é do ramo: dirigia a Confederação Nacional da Agricultura, ferozmente antipetista, e era do DEM. Saiu do DEM para o PSD de Kassab; e, logo em seguida, saiu do PSD para o PMDB. De repente, virou ministra de Dilma e sua amiga de infância, e aliada do PT. Contra a posição do partido a que pertencia, rejeitou o impeachment e vota sistematicamente contra as reformas propostas pelo Governo do PMDB.

Daqui a pouco, fora Requião

O senador paranaense Roberto Requião deve ser o próximo alvo do Conselho de Ética do PMDB (sim, existe – e ainda bem, que Requião, como Kátia, está aliado ao PT para votar contra as propostas de Temer). Requião ameaça “soltar os cachorros” contra Romero Jucá, presidente do PMDB. Bobagem: Jucá está habituado alimentar-se de cães ferozes.

Pode ser… mas Renan?

Há quem aposte que Renan Calheiros, que vem liderando a oposição a Temer, pode entrar na lista dos expulsos. Este colunista não acredita: Renan vem há anos fazendo o que quer e escapando de punições.

E Marun?

Pior que os que foram e serão afastados do PMDB é um peemedebista do Mato Grosso do Sul, Carlos Marun, ex-Eduardo Cunha, hoje Temer. Marun diz que as denúncias contra Temer deixaram os deputados “um pouco fatigados”, e que não vê disposição para votar a reforma da Previdência. O que ele não diz é como ligar esses parlamentares: nomeá-lo para o Ministério do Governo, no lugar do tucano Antônio Imbassahy. Ali nunca faltam mimos para distribuir a aliados pouco dispostos a trabalhar.

 

DESABAFO DE BENITO DI PAULA

 

 


Carlos Brickmann - Chumbo Gordo quarta, 22 de novembro de 2017

MUITO TROVÃO, POUCA CHUVA

Esta semana política tem tudo para ser quente: hoje recomeça a CPMI da JBS, e para que se tenha uma ideia do ânimo parlamentar, o primeiro a ser chamado seria Eduardo Pellela, que foi chefe de Gabinete de Rodrigo Janot, o procurador-geral da República que fez aquele acordo com Joesley Batista. A CPI do BNDES também recomeça, e conforme anunciou, quer passar o pente fino no banco, incluindo financiamentos no Exterior (R$ 50 bilhões, na maior parte para obras da Odebrecht) e contratos com Estados. Isso pode chegar a Lula, cujo papel na concessão de créditos é investigado pelo Ministério Público. Aldemir Bendine, que foi presidente do Banco do Brasil e da Petrobras no Governo Dilma, acusado de receber R$ 3 milhões de propinas da Odebrecht, deve depor hoje ao juiz Sérgio Moro. Ele tentou adiar o depoimento ou evitar que fosse gravado. Nos dois casos, perdeu.

Amanhã, quinta, o Supremo retoma a discussão da validade do foro privilegiado. O privilégio vale para sempre, para qualquer caso, ou apenas para fatos ocorridos durante o mandato e ligados ao exercício político? Quatro dos 11 votos já são conhecidos e restringem o foro privilegiado.

O barulho está assegurado. As consequências, nem tanto. O ministro Dias Toffoli, do Supremo, impediu a convocação de Pellela. O BNDES até hoje se livrou de problemas (e, se atingido, ficará em silêncio?) E o debate do STF sobre foro privilegiado pode parar se algum ministro pedir vistas.

Calma no Brasil

O problema é que os escândalos se alastraram tanto que ninguém tem certeza de que, ao atingir um adversário, não irá também atingir aliados. Joesley Batista não imaginava que, ao montar uma armadilha para Michel Temer, estaria se jogando na cadeia, junto com seu irmão, e derrubando as ações de suas empresas. Nem o procurador Miller esperava fazer parte do rol dos atingidos. Eduardo Cunha não esperava cair com Dilma, nem Dilma com Cunha. Hoje, todos querem ir devagar, até saber quem cai com quem.

Exemplo da velocidade com que o bonde anda: o julgamento do foro privilegiado foi iniciado pelo STF em 1º de junho, há quase seis meses. E não se sabe se termina amanhã – afinal, será julgado também o pedido de libertação do ex-ministro Palocci, e é preciso evitar trabalho excessivo.

Cuidado com seus desejos

O ministro Antônio Imbassahy, do PSDB baiano, tem boa reputação – tanto assim que não foi bem aceito pelos aliados de Temer como ministro do Governo. Deixa o cargo; seu substituto, ao que tudo indica, será Carlos Marun, do PMDB (MS). Os antigos gregos diziam que, quando os deuses queriam destruir alguém, atendiam a seus desejos. Pois é: o caro leitor não desejava que houvesse substituição de ministros neste Governo?

Lugar de tucano

Além de Imbassahy, os tucanos ministros são Luislinda Valois, aquela que se compara aos escravos por ganhar apenas R$ 33 mil mensais, mais penduricalhos, e Aloysio Nunes Ferreira, das Relações Exteriores. Desde seu pedido de aumento, Luislinda não abre a boca (ainda mais para pedir demissão); e Aloysio, amigo de Temer, já disse que não pensa em sair. Hoje há tucanos contra Temer, como Tasso Jereissati; a favor de Temer, como Aécio e Aloysio; tico-tico-no-fubá, como Alckmin, que não quer o PSDB na situação nem na oposição, nem muito pelo contrário. Em resumo, os tucanos se mantêm firmes e unidos, como de hábito em cima do muro.

Trovão de verdade

Numa semana tão rica de eventos (mas frios), o que desperta as atenções é o lançamento de um ótimo livro: Laços de Sangue, do procurador Márcio Sérgio Christino e do jornalista Cláudio Tognolli. O livro informa que o chefão do crime organizado violento, Marcola, entregou à Polícia informações sobre os dois chefes da época, ambos fundadores do PCC: Geleião e Cesinha. Com isso, a Justiça impôs mais restrições aos dois, que foram isolados e perderam o poder. O PCC diz que a acusação é falsa.

 

 

Carcará paulista

Aquele pássaro malvado, “que avoa que nem avião”, sobrevoa a Assembleia paulista e ameaça provocar uma demissão em massa a menos de um mês do Natal. O pássaro predador não é convocado por causa de nenhuma irregularidade – não é surpreendente? A TV Assembleia é gerida há quatro anos, após concorrência pública, pela Fundação Fundac, a mesma que gere a TV Justiça no STF. Seu contrato deve acabar no fim de 2018.

Mas o atual presidente da Assembleia, deputado Cauê Macris (PSDB), quer rescindir o contrato – o que provocará a demissão de 80 funcionários, a substituir por outros, da empresa que assumirá o contrato. Economia? Não deve ser: Cauê Macris se propõe a contratar por R$ 35 milhões uma agência de propaganda, para divulgar a Assembleia. Se o contrato for rescindido, a empresa prejudicada entra com processo. É tudo muito caro.


Carlos Brickmann - Chumbo Gordo terça, 21 de novembro de 2017

WILLIAM WAACK: ATIRE A PRIMEIRA PEDRA

Não é a injúria racial, ou racismo, o motivador da campanha: é o pensamento de Waack, que desagrada militantes de tendências opostas.

Não consegui ouvir direito a frase que motivou o afastamento de William Waack da Rede Globo de Televisão. Mas minha eventual incapacidade auditiva, e a de vários colegas que também tentaram ouvi-la sem êxito, não entra na discussão: admitamos que Waack tenha mesmo dito que as buzinadas na rua, que atrapalharam a gravação de seu programa e o irritaram, eram “coisas de preto”.

Mas, como minha surdez, a frase de Waack não tem nada a ver com o caso. A campanha contra ele, um ano depois da gravação da frase, não tem como motivo algo que tenha dito, mas o fato de ter sido dito por ele. Não é a injúria racial, ou racismo, o motivador da campanha: é o pensamento de Waack, que desagrada militantes de tendências opostas.

Imaginemos que, em vez de Waack, outras pessoas, de outras tendências político-partidárias, tivessem pronunciado frases do mesmo teor. Melhor, em vez de imaginar, lembremos frases já enunciadas por pessoas tão ou mais influentes que William Waack:

Do presidente Ernesto Geisel, referindo-se a um economista liberal (e, portanto, adversário de sua política econômica), professor Eugênio Gudin: “Esse judeu filho da puta!” O episódio é narrado na excelente obra de Elio Gaspari sobre o regime militar. Alguém protestou contra a frase preconceituosa de Geisel? OK, era perigoso falar mal de Geisel durante a ditadura. Mas nas dezenas de anos que se passaram, e com o caso voltando ao debate com os livros de Gaspari, houve protestos? A propósito, o professor Gudin não era judeu.

Do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para o prefeito de Pelotas, RS: “Pelotas é um pólo exportador de veados”. Homofobia? Ninguém chegou a falar nisso, que me lembre. Ah, se Waack fosse o autor da frase!

… cá entre nós, quem nunca fez piada de português, de loira burra, de preto, de judeu, de turco, de veado, de sapatão? Apresente-se…

Do governador paulista Orestes Quércia, brincando ao telefone com o prefeito de Pelotas (que ficou furioso): “Podemos fazer uma estrada ligando Campinas a Pelotas, a Transviadônica”.

E há, é óbvio, o caso de Caetano Veloso. Paula Lavigne disse que, aos 13 anos, foi à festa de aniversário de Caetano, que fazia 40, com a intenção (bem sucedida) de fazer sexo com ele. Agora, na mesma guerra ideológica que tenta vitimar Waack, mas com sinal partidário trocado, quiseram atribuir a Caetano o crime de pedofilia, como querem atribuir a Waack o de racismo. E, semelhante em ambos os casos, há a má intenção de atingir uma pessoa de quem não gostam usando pretextos politicamente corretos.

E, cá entre nós, quem nunca fez piada de português, de loira burra, de preto, de judeu, de turco, de veado, de sapatão? Apresente-se. E atire a primeira pedra.


Carlos Brickmann - Chumbo Gordo domingo, 19 de novembro de 2017

RIO DE JANEIRO QUE EU SEMPRE HEI DE AMAR

Um sucesso de 1954, de Fernando Martins e Victor Simon, com os Anjos do Inferno, era explícito e verdadeiro: “Rio de Janeiro, cidade que nos seduz, de dia falta água, de noite falta luz”. Meu pai contava que já nos anos 30, quando estudava Medicina no Rio, luz e água faltavam na cidade.

Foram décadas de queixas. Bastou um grande Governo, o de Carlos Lacerda, para que o problema da água fosse resolvido (o que vale até hoje, mais de 50 anos depois). E bastou que a Eletrobrás pusesse ordem na casa para que o problema da eletricidade fosse resolvido: hoje, há água e há luz.

O problema agora é a insaciável máquina de corrupção, unida ao tráfico e ao contrabando. Os narcotraficantes herdaram o poder dos bicheiros, multiplicando-o ao torná-lo mais sangrento. Agora? Isso vem de longe – o governador Brizola apôs obstáculos ao trabalho policial na década de 1980, há quase 40 anos; parte significativa da classe média, média-alta e rica se rendeu aos secos e molhados; o eleitorado perdeu oportunidades excelentes de eleger políticos corretos, como Fernando Gabeira, para escolher, veja só, Sérgio Cabral (Miro Teixeira, embora politicamente oscilante, manteve-se livre de acusações e ninguém duvidou de suas boas intenções).

Mas a vida segue. O paraense Billy Blanco, com Tom Jobim, compôs a Sinfonia do Rio de Janeiro. O Rio é a cidade, cidade mágica, que o mineiro Ruy Castro escolheu como sua. Quando o Rio vai bem, o Brasil vai bem.

Cultura útil

A cornucópia (em latim, o chifre da abundância) representava, no ritual pagão de Roma, a fertilidade, a fortuna, as riquezas da Terra. A palavra é hoje pouco usada – até porque, com essa história de corno, pode parecer indecente. E é indecente, mas não pelo corno: por representar as riquezas da Terra, simboliza também certas fortunas que apareceram do nada.

Dinheiro vem…

O Ministério Público Federal em Brasília pediu ao juiz Vallisney de Oliveira que bloqueie R$ 21,4 milhões das contas do ex-presidente Lula e de um de seus filhos, Luís Cláudio. No processo a que se refere esse bloqueio, Lula é acusado de tráfico de influência na compra, pelo Brasil, dos caças supersônicos Grippen, da empresa sueca Saab. Detalhe curioso, que pode ter várias interpretações: na negociação com o Brasil, cada caça saiu por US$ 150 milhões. Alguns anos depois, a Suíça rejeitou a compra, por julgar excessivo o preço de US$ 140 milhões por caça. Diferenças nos modelos podem explicar a diferença de US$ 10 milhões por caça; ou não. Considerando-se o bloqueio de R$ 10 milhões já determinado pelo juiz Sérgio Moro, nos últimos meses Lula teve suspenso o acesso a mais de R$ 30 milhões de seus bens. Considerando-se os salários que recebeu nos seus anos de serviço, seus cachês de conferencista devem ter sido excelentes.

A defesa de Lula diz que ele e o filho não interferiram no negócio, feito integralmente de acordo com os pareceres técnicos da Aeronáutica.

 

 

…dinheiro vai

Luiz Marinho, um dos dirigentes petistas mais próximos de Lula, que há pouco deixou a Prefeitura de São Bernardo e é cotado para disputar pelo PT o Governo paulista, também foi denunciado à Justiça: ele é acusado, em companhia de empreiteiros, de fraudes nas concorrências para a construção do Museu do Trabalhador. As acusações envolvem uso de empresa de fachada, cláusulas de restrição à competitividade e propostas “de cobertura”, cuja utilidade é dar ao vencedor previamente definido a garantia de que seus preços serão os mais baixos. Duas das empresas que o Ministério Público aponta como participantes das fraudes venceram 19 licitações para a execução das obras públicas mais lucrativas durante a administração do prefeito Luiz Marinho.

Chico Xavier…

O desenhista Maurício de Souza, criador da Turma da Mônica, já premiado pela ONU por uma notável historia que demonstra a imbecilidade do racismo, acaba de colocar seus personagens num livro infantil sobre um dos maiores médiuns brasileiros, Francisco Cândido Xavier. No livro, Mauricio e a Turma da Mônica mostram grandes exemplos de Chico Xavier; o novo personagem André, primo de Cascão, apresenta aos leitores 25 ensinamentos do líder espírita. Há histórias inéditas de pessoas que conviveram diretamente com Chico Xavier e dele receberam lições de vida.

…em quadrinhos

Cebolinha se surpreende ao saber que Chico Xavier doou todo o dinheiro que ganhou com milhões de livros vendidos a instituições de caridade – “ele podelia ter ficado lico!” André lembra que Chico Xavier escrevia por amor, e uma vez disse: “Ame sempre porque isso faz bem a você, não por esperar algo em troca”. São 64 páginas por R$ 11,00.


Carlos Brickmann - Chumbo Gordo quarta, 15 de novembro de 2017

TUDO SERÁ COMO DANTES

Hoje é feriado nacional, 128º aniversário da Proclamação da República. A República foi proclamada pelo marechal Deodoro, amigo do imperador D. Pedro 2º e antirrepublicano (um de seus ministros, Ruy Barbosa, era um dos maiores defensores da monarquia). O povo, disse Aristides Lobo, “assistiu bestializado” à Proclamação – e Aristides Lobo, além de líder republicano, era ministro de Deodoro. Por que Deodoro, monarquista, virou líder republicano? Porque o convenceram de que Silveira Martins chegaria a primeiro-ministro do Império. Deodoro e Silveira Martins se detestavam: ambos disputaram a baronesa do Triunfo (que escolheu Silveira Martins).

Claro, houve a questão financeira: o Império tinha prometido obter um empréstimo no Exterior para indenizar os donos de escravos pela Abolição. O empréstimo foi obtído, mas o dinheiro jamais chegou ao destino.

O DNA do Brasil é antigo. Já se sabe, portanto, quem ganha as eleições de 2018. É bom acompanhar o processo para saber quem fica com os cargos, com a caneta das nomeações, com a possibilidade de viajar em boa companhia e conseguir um Porsche ou outro e alegrar as atuais Baronesas do Triunfo. Mas é bom saber também que, seja qual for o resultado na urna, o povo poderá “assistir bestializado” ao triunfo de Jucá, Renan, Eunício, Geddel, Jader, Moreira, Padilha, nesta terra descoberta por Cabral. Não nos espantemos com mais do mesmo. Quem sai aos seus não degenera.

 

 

Tudo junto…

Houve quem duvidasse quando esta coluna informou que PT e PMDB estavam negociando um acordo para 2018, e que Lula tinha mandado parar a campanha contra “o golpe”. Agora é tudo oficial: Lula diz que “perdoou os golpistas”; Dilma disse na Alemanha que era preciso perdoar “os que bateram panelas, equivocadamente”, contra ela. Uma curiosidade: quem foi o intérprete que traduziu o português de Dilma para o alemão? É gênio!

…e misturado

Eunício Oliveira, PMDB, um dos primeiros-amigos de Temer, quer porque quer chegar ao Governo do Ceará. José Guimarães, PT, o deputado cearense cujo prestígio no partido é imenso? Pois José Guimarães disse ao jornal Valor que Eunício ligou para Lula no dia 27, para cumprimentá-lo pelo aniversário e oferecer-lhe apoio à candidatura presidencial. Jader Barbalho, PMDB, que já teve de renunciar ao mandato de senador para não ser cassado por seus pares, cacique maior do Pará, diz: “Minha relação com o Lula não é boa, é excelente. Lula é um candidato fortíssimo. Como a classe política em geral está sob suspeição, o eleitorado vai dizer: ‘Todos não prestam, mas ele fez’. Se concorrer, ninguém ganha do Lula”.

Há negociações também, além de Ceará e Pará, em Minas (onde o governador petista Fernando Pimentel tenta lançar a candidatura de Dilma ao Senado), Piauí, Paraná (o dirigente peemedebista Roberto Requião está há muito tempo aliado ao PT), Sergipe e Tocantins, onde a senadora Kátia Abreu, antes ferrenha antipetista, virou ministra e amiga de Dilma. Requião está tão petista, e há tanto tempo, que até apoia o governo venezuelano de Nicolás Maduro; e se interessa tanto em agradar Lula que, quando o então presidente lhe mostrou uma semente de mamona, ele imediatamente a mordeu, imaginando que fosse uma oleaginosa como amendoim ou nozes.

Cadeia de comando

O PMDB do Mato Grosso do Sul está enfrentando um problema sério: no sábado, faria a convenção para entregar o comando estadual do partido ao ex-governador André Puccinelli, que seria candidato de novo em 2018. Ontem, terça, surgiu um contratempo: Puccinelli foi preso preventivamente na Operação Papiros de Lama, suspeito do desvio de R$ 235 milhões. Seu filho também foi colocado em prisão preventiva, e houve bloqueio de contas bancárias. A situação de Puccinelli está piorando na operação: na fase anterior, teve de usar tornozeleiras, mas não tinha sido preso. De acordo com os investigadores, houve uso de documentos falsos, compra irregular de produtos e obras e concessão de créditos tributários aos amigos. E agora? Ainda não se sabe: fazer a convenção na cadeia não é possível; e fora seria engraçado, ainda mais quando o vencedor não tivesse condições de discursar. Mas o PMDB local saberá lidar com o problema: um de seus dirigentes é o deputado federal Carlos Marun, aquele que vivia na TV defendendo Temer e, antes, era o maior defensor de Eduardo Cunha. Tem experiência com políticos enrolados.

Modéstia

A Polícia Federal anunciou que três deputados do Rio são suspeitos de receber propina. Três? Só se a Polícia Federal considerar que boa parte dos nobres parlamentares já ultrapassou a fase das suspeitas. Sua situação está estabelecida – nada de suspeitas – e só falta completar o trabalho.


Carlos Brickmann - Chumbo Gordo domingo, 12 de novembro de 2017

VENCER O INIMIGO INVENCÍVEL

Um Governo grande, caro, metido na vida de todo mundo; ou, depois de mais de 500 anos, um Governo enxuto, leve, que libere a criatividade dos brasileiros e se preocupe em exercer as funções típicas de Governo, sem a tentação de regulamentar até os quadros que cada museu pode exibir.

Um balanço dos candidatos e seus assessores econômicos parece indicar que o Governo, enfim, deixará de sufocar o país. Alckmin deve ter a seu lado um dos pais do Plano Real, Pérsio Arida. Aécio, antes da queda, pensava em Armínio Fraga (também companheirão de Luciano Huck e de João Amoêdo, fundador do Partido Novo, ligado ainda a Gustavo Franco). Amoêdo é sócio da Casa das Garças, centro liberal de estudos político-econômicos. O Pastor Everaldo, do PSC, tem Paulo Rabello de Castro, presidente do BNDES (fala-se até na candidatura de Rabello, no lugar do Pastor Everaldo). Bolsonaro, conservador linha-dura na área de costumes, reserva a Adolpho Sachsida, do Instituto Liberal, seu programa econômico. Henrique Meirelles, ex-tucano, ex-Lula, hoje Temer e Kassab, pode ser ele mesmo o candidato. E Lula? Não se sabe – mas já usou Palocci.

Terá chegado a hora de desmontar os empregões estatais? Talvez – mas Roberto Campos, Delfim e Simonsen, defensores da iniciativa privada, tentaram controlar até o preço do cafezinho. Falharam; é fantástico o poder da maquina estatal de gerar nomeações. Mas nunca desistiram do cargo.

Irmãos Bobagem

Aécio Neves, mesmo com o prestígio abaixo dos rastros da cascavel que destrói candidatos, continua ostentando o título de presidente do PSDB. Era só para constar, para não parecer que o próprio partido o tinha abandonado. Mas a falta de poder subiu-lhe à cabeça: afastou o dirigente interino, Tasso Jereissati, colocou Alberto Goldman no lugar e implodiu o partido que já tinha explodido. Goldman detesta Dória, que pode ser candidato a alguma coisa, embora não a presidente – e que lhe retribui a ojeriza; e é ligado a José Serra, que candidato à Presidência também não será. E abriu mais uma divergência: quem vai controlar o PSDB e tentar uni-lo de agora em diante, Fernando Henrique, Alckmin ou o senador Antonio Anastasia? Aécio, sem dúvida, só herdou do avô Tancredo, um sábio, o sobrenome Neves.

Parente é serpente

Muitos colunistas disseram que o PSDB vive uma luta fratricida, e foram criticados: luta, sim, mas não fratricida, já que todos ali se odeiam. Mas é fratricida, sim: afinal de contas, Caim e Abel eram irmãos.

Os jardins do Paraíso

Por falar em Bíblia, em Gênesis conta-se a história do fruto proibido, da Árvore do Bem e do Mal. Adão e Eva viviam no Paraíso, livres da fome e da morte. Um dia, convencida pela serpente, Eva colheu o fruto proibido e o ofereceu também a Adão. A Humanidade foi então expulsa do Paraíso, conheceu a morte e a fome; e Deus determinou que os seres humanos tivessem de trabalhar para comer – “ganhar o pão com o suor de seu rosto”.

Avancemos no tempo. O desembargador Vulmar de Araújo Coêlho e o juiz trabalhista Domingos Sávio Gomes dos Santos, de Porto Velho, Rondônia, foram punidos: o desembargador, por deslocar uma ação de R$ 5 bilhões da 2ª para a 7ª Vara, onde o juiz trabalhista manteria a causa sob controle. O Conselho Nacional de Justiça determinou a aposentadoria compulsória de juiz e desembargador – e só. Ambos continuarão a receber integralmente seus vencimentos, embora sejam proibidos de trabalhar.

Ambos têm deuses poderosos: ganham o pão sem o suor de seu rosto.

Juntos de novo

A informação que chegou a ser recebida com desdém – o grande acordo eleitoral entre PMDB e PT – já está publicamente confirmada. Em Minas, o PMDB informou ao diretório nacional que pretende se aliar ao governador Fernando Pimentel – o mais próximo aliado de Dilma Rousseff, alvo de diversas investigações. Objetivo: aumentar as bancadas estadual e federal do partido, esquecendo as divergências recentes. Serão eleições curiosas: Aécio Neves terá fôlego para concorrer? E votos para ser levado a sério?

 

 

Paz nas ruas

Se depender das manifestações da oposição para mostrar força, Temer pode avançar tranquilo nas reformas: o protesto contra a reforma trabalhista, amplamente divulgado, organizado com grande antecedência, com apoio de todas as centrais sindicais, reuniu menos gente que os jogos de futebol das equipes mais mal colocadas na tabela. Os congestionamentos de trânsito foram raros e rápidos; mais problemas eventuais do que muita gente nas ruas. A manifestação de sexta-feira, ocorrida na véspera da entrada em vigor da nova lei trabalhista, não chegou sequer a incomodar quem dela não participava. E, não esqueçamos, não houve qualquer acordo sobre o imposto sindical. Neste momento, e desde ontem, está extinto.

 

 


Carlos Brickmann - Chumbo Gordo quarta, 08 de novembro de 2017

É TUDO VERDADE, MAS DEIXA PRA LÁ

Imagine que uma quadrilha de narcotraficantes acuse outra de trabalhar secretamente para a Polícia. Haverá guerra: acusadores e acusados tentarão provar, a tiros de fuzil contrabandeado, que a outra quadrilha é mentirosa.

O ministro da Justiça acusou a PM do Rio de, entre seus comandantes, ter vários escolhidos por narcotraficantes. É acusação pesada, que envolve quem nomeia os comandantes, o Governo do Estado. Mas ninguém está preocupado em provar coisa nenhuma: o ministro da Justiça diz que tudo o que declarou sobre o Rio é “posição pessoal”. Desde quando ministro tem posição pessoal? Sua posição é a do Governo, é oficial – a menos que se admita que narcotraficantes sejam mais sérios que ministros e governantes.

Este colunista não tem a menor ideia sobre o que deve ser feito para que a população do Rio deixe de ser refém de quadrilhas. Mas sabe que, seja o que for, nada irá dar certo se os bandidos tiverem apoio da polícia e do Governo. E se, na Presidência da República, o objetivo for deixar tudo pra lá, em vez de combater políticos, policiais e governantes envolvidos com o crime, as coisas irão piorar cada vez mais, e não apenas no Rio.

Entre perder a vergonha para garantir sua permanência tranquila no Governo ou fazer o que deve ser feito para restabelecer a ordem no país, nossos governantes optaram por perder a vergonha. E não conseguirão assegurar sua permanência tranquila no Governo.

Deixa comigo…

O ministro da Justiça, Torquato Jardim, tem uma boa carreira jurídica. Foi secretário-geral do Tribunal Regional Eleitoral, assessor da chefia do Gabinete Civil da Presidência, consultor da Secretaria do Planejamento, ministro do Tribunal Superior Eleitoral por oito anos, é bem considerado como especialista em Direito Eleitoral. Não precisava ser ministro – e foi: no Governo Temer, foi ministro da Transparência. Assumiu o nome do cargo: ninguém o notou. Culminou com o vexame do Ministério da Justiça, em que fez uma denúncia grave e depois só faltou pedir desculpas pelo incômodo (a propósito, vários políticos fluminenses, como o ex-governador Garotinho, concordaram com as denúncias). Mas ninguém se importa com autoridades a serviço do crime organizado. Publicamente desmoralizado, que faz o ministro? Nada: é como se não tivesse feito acusação alguma. Feliz com o carro oficial na porta, fica no cargo. E não faz diferença.

 

 

…tudo na boa

O mesmo apego ao cargo foi demonstrado pela inacreditável ministra da Igualdade Racial, Luislinda Valois. Depois de dizer que com 33 mil reais por mês, mais carro, mais mordomias, mais jatinho à disposição, mais moradia, é como se estivesse em trabalho escravo, cala-se e finge que não é com ela. Seu partido, o PSDB, também se cala: nem com a palavra de Fernando Henrique, de que é hora de sair do Governo, os tucanos descem do muro das mordomias. Um detalhe: se não saírem por bem, acabarão chutados. Mesmo que PT e PMDB não estivessem articulando uma aliança para 2018, os tucanos teriam problemas. O ministro Imbassahy, bom político, é detestado pelos aliados do Centrão; a ministra Luislinda Valois só não virou motivo de galhofa porque passou direto a motivo de raiva; o ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes, continua sendo o reserva de José Serra. Resta – tente lembrar, caro leitor! – Bruno Araújo, Cidades.

É um grupo com o qual ou sem o qual o Governo Temer seria tal e qual.

Mural

Um grande analista do Brasil, Millôr Fernandes, dizia que o mal do mar de lama era a praia pequena, que não dava para todos. Para o PSDB, é este o problema do muro: há mais tucano do que muro. Tasso Jereissati e Marconi Perillo querem a presidência do partido, hoje em mãos de Aécio (não, não pensem que ele renunciou: licenciou-se, mas sem largar o osso). E Geraldo Alckmin espera para ver se não sobra para ele. O candidato à Presidência deve ser Alckmin (isso se Dória desistir, e parar de lutar pela inviável hipótese de montar uma chapa só paulista, só tucana). Tasso quer sair do Governo, Fernando Henrique também, mas Dória quer ficar. O PSDB se aliaria a qualquer partido para 2018, menos o PT – isso porque o PT adora tê-lo como adversário. Mas o PSDB ainda está sem rumo.

Enfrentando o autismo

E chega de candidatos. Toquemos num tema importante: neste sábado, 11, às 11h, no Instituto Casa do Sol, a terapeuta Mari Aprile fala sobre terapia animal assistida para tratamento do autismo – no caso, com uma linda coruja Suindara, treinada desde filhotinha (em Terapia Animal Assistida Por Corujas, a emocionante história desta terapia para autistas). A terapia foi desenvolvida para seu filho Nick, e é aplicada numa escola especial para autistas. Rua Antônio de Macedo Soares, 409, Campo Belo, SP. Custo: R$ 25,00, mais um quilo de alimento não perecível. Vale comover-se.

 


Carlos Brickmann - Chumbo Gordo domingo, 05 de novembro de 2017

TRABALHAR DÁ TRABALHO

O ministro da Justiça, Torquato Jardim, disse o que todos que não estão implicados gostariam de dizer: o crime não teria tomado as proporções que tomou, no Rio, sem muita cumplicidade oficial e policial. Jardim sabe de coisas que muita gente deve saber, mas: a) tem informações do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência, ou seja, do general Sérgio Etchegoyen; 2) como ministro, tem obrigação legal de agir. Portanto…
Portanto, não se sabe. O caro leitor deve lembrar-se de que vive sob o auriverde pendão de nossa terra. O presidente Temer já pediu ao ministro que aja com discrição, o máximo de discrição (se não agir, melhor ainda). Jardim é velho amigo, Temer espera dele que compreenda seus problemas.

O fato é que PMDB e PT tentam rearticular a velha aliança, só rompida pela inabilidade da presidente Dilma. Lula já mandou um recado: é hora de parar com o “fora Temer”. O PMDB de Temer (e de Sérgio Cabral, e do governador Pezão) enfrenta as mesmas dificuldades do PT do Mensalão, do Petrolão e do Quadrilhão; ambos ficariam felizes com medidas legislativas como a proibição da delação de réus presos, condução coercitiva só em caso de recusa ao depoimento e fim de prisões temporárias que, pela longa duração, funcionam sem julgamento como antecipação de pena.

Juntos, PT e PMDB, calcula a repórter Lydia Medeiros, de O Globo, ficam com ¼ do dinheiro de campanha. Esta linguagem ambos entendem.

O trabalho eleitoral

É cada vez menos lógico, portanto, imaginar a eleição polarizada entre Lula e Bolsonaro. Lula dificilmente será candidato, Bolsonaro dificilmente terá fôlego para ir muito longe. Há outros nomes possíveis, na perspectiva de uma chapa PT/PMDB: Luiz Felipe d’Ávila, por exemplo; ou, no caso de a economia crescer bem, Henrique Meirelles. Meirelles tem boa entrada na área empresarial, foi presidente do Banco Central com Lula, ministro da Fazenda com Temer (e Lula cansou de indicá-lo a Dilma, que o rejeitou). D’Ávila, professor respeitado, é genro do empresário Abílio Diniz (que há tempos mantém boas relações com o PT). Do outro lado, o nome provável é o do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin. Caso algo semelhante ocorra de fato, a campanha será muito mais tranquila do que se espera hoje.

O trabalho cansa

Todas as articulações estão ocorrendo nos níveis mais altos de cada sigla e provavelmente provocarão algumas exclamações de horror se, e quando, se confirmarem. E estão ocorrendo longe do Legislativo – até porque quem deveria trabalhar contra o acordo ou a seu favor optou pelo repouso. Não, nada a ver com as férias disfarçadas de diplomacia parlamentar oferecidas, com dinheiro público, às Excelências que viajaram à Europa e ao Oriente Médio; é coisa mais bem distribuída. A Câmara prepara um recesso branco de dez dias – agora, quando pouco mais de um mês nos separa do recesso oficial do fim do ano. Funciona assim: há sessões marcadas para a próxima semana, de segunda a sexta. Mas não é para valer: é só para que o número de sessões atinja o mínimo e seja possível folgar de 13 a 21, sem que haja qualquer tipo de desconto. O Senado deve seguir o exemplo da folga.

O trabalho pacífico

Um acerto entre PT e PMDB deverá provocar a queda de muita gente do PSDB instalada no Governo. O ministro Antônio Imbassahy, bom político, por isso mesmo caiu em desgraça junto à bancada franciscana (a que segue a oração de São Francisco, “é dando que se recebe”). Aloysio Nunes e Bruno Araújo não despertam grande emoção no partido; Luislinda Valois, no Governo, mais retira prestígio do PSDB do que lhe acrescenta. Mas o desembarque do PSDB deve ser ameno, com garantia de apoio às reformas econômicas, sem brigas – até porque, embora em menor escala, os tucanos enfrentem os mesmos problemas que PT e PMDB tentam resolver.

O trabalho escravo

Livrar-se de Luislinda Valois, a inacreditável ministra que escreveu 207 páginas para dizer que ganhar pouco mais de R$ 33 mil por mês, como ela, se assemelha a trabalho escravo, é tarefa urgente para o Governo e o PSDB. Justificar-se alegando que é preciso vestir-se com dignidade, alimentar-se e usar maquiagem já é escárnio. Se a ministra acha baixos seus vencimentos, ninguém a obriga a ficar no Governo: pode ir embora. E será aplaudida.

O trabalho necessário

Mesmo que o ministro Torquato Jardim se aquiete, atendendo aos apelos de Temer, a acusação ao Governo e à PM fluminenses deve gerar efeitos. O secretário da Justiça e da Segurança do Mato Grosso do Sul cobra também o Governo Federal, pelo frágil combate ao tráfico nas fronteiras. “O crime no Rio é diretamente ligado ao tráfico de drogas”, diz, em ótima entrevista ao repórter Paulo Renato Coelho Netto, do UOL. E que faz a União para combater o narcotráfico? O Ministério da Justiça não respondeu à pergunta.


Carlos Brickmann - Chumbo Gordo quarta, 01 de novembro de 2017

FINADOS? IMAGINE! TODOS OS SANTOS.

O ministro da Justiça, Torquato Jardim, mudou o jogo: no país em que bois voadores fizeram a fortuna de Eduardo Cunha, em que fazendas de muitos andares abrigaram os bois de apartamento de Renan Calheiros, no país dos bois anônimos e de hábitos pouco comuns, Jardim deu nomes aos bois e apontou seu papel na insegurança pública do Rio. Em notável entrevista a Josias de Souza, Jardim disse que o governador Pezão e seu secretário da Segurança perderam o controle das forças de segurança e que o que define o comando da PM é um acerto com deputados estaduais e o crime organizado. Disse mais: “Comandantes de batalhão são sócios do crime organizado no Rio”.

Há o que fazer? O ministro acredita que ações com tropa federal podem ajudar um pouco, mas que só haverá condições para um combate efetivo ao crime organizado a partir de 2019, com outro governador, outro secretário. Com os atuais dirigentes, não há jeito: disse Jardim que ele, o ministro da Defesa, Raul Jungmann, e o secretário do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência, general Sérgio Etchegoyen, já tiveram duras conversas com Pezão, sem êxito. Antes que a situação melhore, ainda deve piorar: na opinião do ministro, os atuais bandidos estão cedendo espaço às milícias, quadrilhas que envolvem policiais. Cada milícia tem seu espaço, dificultando ainda mais o restabelecimento da segurança pública no Estado.

Nós, não

O ministro Torquato Jardim diz estar convencido de que o assassínio do tenente-coronel Luiz Gustavo Teixeira, comandante do 3º Batalhão da PM carioca, que emocionou o país, não está bem contado. Não foi, acredita, a consequência de reação a um assalto. “Ninguém me convence de que não foi acerto de contas”. O governador Pezão e o secretário da Segurança, Roberto Sá, garantiram que o Governo do Rio não negocia com criminosos.

 

 

O rigor da lei

O ministro da Justiça é uma autoridade e se responsabiliza pelo que diz. Fez acusações pesadas ao governador do Rio, incluindo opiniões sobre um assassínio que a Polícia fluminense diz estar empenhada em esclarecer. Neste momento, está reunida na Câmara dos Deputados a Comissão de Segurança Pública, que convidou o ministro Torquato Jardim a depor. Hoje? Amanhã, embora seja feriado? Não, nada disso: imagina-se que ele vá falar no dia 8, quarta-feira que vem. Morre mais gente no Rio, nas mãos das quadrilhas, do que em países onde há guerra civil. Para que pressa?

Poderes unidos

E não é só o Legislativo – inclusive as Excelências da oposição ao governador, que deveriam estar interessados em desdobrar rapidamente o caso – que se recusam a qualquer esforço extraordinário. O alto comando da Câmara, sob a chefia do presidente Rodrigo Maia, está no Oriente Médio, diz-se que a serviço – embora nada esteja acontecendo de diferente por lá, embora Maia seja o substituto legal do presidente Michel Temer, que acaba de deixar o hospital. O Poder Judiciário, no momento em que o governador de um dos principais Estados do país sofre pesadas acusações de um ministro, entrou de folga (e, ainda por cima, legalizou-a)

O Direito em repouso

O Dia do Servidor Público, 28 de outubro, caiu num sábado. Como não dá para repousar duas vezes no mesmo dia, o Supremo transferiu o feriado para esta sexta, dia 3, em que supostamente haveria trabalho normal. Com isso, a folga do STF já começa hoje, porque 1º de novembro é feriado para o Judiciário; o dia 2, amanhã, é Finados; e o dia 3, que não era feriado, agora é um supremo feriadão. E não vale só para o Supremo: o STJ aderiu. Não é por ter 60 dias anuais de férias e cinco feriados além dos válidos para o restante da população que as togas devam sofrer a perda de um feriado.

Bico fechado, tá?

O caro leitor não deve reclamar da nova folga dos togados. Se tivesse se dedicado mais aos estudos, em vez de ficar reclamando do pouco empenho dos supremos escolhidos, poderia ter alcançado o conhecimento jurídico de um Dias Toffoli; ou, versando-se em comunicação, talvez pudesse igualar-se à esfuziante oratória de um Marco Aurélio. Esforçando-se na arte do bom relacionamento, emularia, é possível, um Gilmar Mendes, E, caso tivesse mergulhado na leitura do clássico de autoajuda Como fazer amigos e influenciar pessoas, de Dale Carnegie, ficaria em melhores condições para pleitear um lugar de destaque, como o de Ricardo Lewandowski. Não conseguiu tão boa posição? Quem mandou não estudar o que deveria?

É coisa deles

Um fato da maior importância para o Brasil ocorreu no Exterior: dois dirigentes da campanha de Trump são investigados pelo FBI por permitir interferência de outros países na eleição. Um já está preso, outro ainda não.


Carlos Brickmann - Chumbo Gordo domingo, 29 de outubro de 2017

NA CONTRAMÃO DO CAMINHO

Foi uma vitória suada; suada, difícil e cara. Neste momento, dez entre dez analistas dizem que o Governo acabou, que Michel Temer não tem força nem para se livrar da obstrução urinária sem fazer shopping parlamentar. Ficará manquitolando à espera do último dia de seu mandato.

Só que não é assim: vitória suada e cara também vale três pontos. Se, no momento em que enfrentava uma denúncia que poderia afastá-lo do cargo, ele sobreviveu, tem tudo para ganhar forças depois de livrar-se de Janot. O presidente tem muitos fatores a favor: o exercício do poder, que lhe permite preencher o Diário Oficial e dar apoio a algum candidato à Presidência, o fim das denúncias e esplêndidos resultados econômicos. Depende dele: não adianta usar Moreira Franco, Padilha e Eunício para divulgar boas notícias, porque neles ninguém vai acreditar. Mas, abrindo seu Governo à luz do Sol e tirando os suspeitos de sempre de seu lado, terá tudo para virar o jogo.

As exportações por Santos se aproximam de 100 milhões de toneladas, e vão batendo recordes. A balança comercial deve ter superávit de US$ 70 bilhões até o final do ano – recorde absoluto. A taxa de juros, em um ano e pouco de Temer, caiu à metade do que era com Dilma: foi de 14,25% a 7,5%. Há leves sinais de melhora da atividade – que ficarão mais visíveis a partir da taxa de juros mais baixa, que facilita os investimentos. Afastando a turma vetusta para que a equipe econômica cresça, Temer cresce com ela.

A vista…

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-Rio) acha que Temer não terá força para votar a reforma da Previdência. Maia deve entender bem os sentimentos parlamentares, ou não se elegeria presidente; mas é verdade, ao mesmo tempo, que sua maior credencial é o pai, César Maia. Antes dos atuais episódios, poucos tinham ouvido falar de Rodrigo Maia.

O fato é que Temer está disposto a votar, ainda neste ano, a reforma da Previdência. Temer também conhece os sentimentos parlamentares, tanto que, sem apoio familiar externo, se elegeu três vezes presidente da Câmara. E, tendo sido quem convenceu Suas Excelências a ficar a seu lado, sabe perfeitamente quanto custa um voto, e qual seu prazo de validade.

…e a prazo

Quem foi abençoado com cargos para votar contra a aceitação da denúncia contra Temer pode, de uma hora para outra, perdê-los: não tem como retirar seu voto. Não pode, portanto, virar oposição a Temer, sem entrar no prejuízo, de uma hora para outra. Para aprovar a reforma, Temer precisará de 308 votos – os 251 que rejeitaram a denúncia contra ele, mais 57. Temer acredita que, entre os 107 deputados governistas que votaram contra ele, há pelo menos 57 favoráveis à reforma. E Suas Excelências sabem que, ao votar contra a reforma, estarão votando contra os cargos que seus partidos tiverem recebido; estarão contra a equipe econômica, bem na hora em que a economia mostra sinais de recuperação; e estarão contra um possível – e forte – candidato à Presidência, o ministro Henrique Meirelles.

A hora do sonho

Quando Meirelles voltou para o Brasil, depois de boa carreira no Banco de Boston, tinha um plano em duas etapas: primeiro, eleger-se governador de seu Estado, Goiás; segundo, tentar a Presidência. Entrou no PSDB, com a proposta de pagar sua própria campanha, sem doações. Havia, entretanto, um obstáculo intransponível: o cacique tucano de Goiás, Marconi Perillo. Meirelles então se elegeu deputado federal. Nem tomou posse: Lula, eleito ao mesmo tempo, convidou-o para presidente do Banco Central. Mas seu sonho se manteve: está no PSD de Kassab, seu trabalho na Fazenda vai bem, Temer não tem outro nome. Entre Lula (ou poste de plantão), Alckmin e Bolsonaro, Meirelles pode ser o candidato-novidade, sem processos, capaz de viajar a Curitiba a passeio, sem medo, e com Temer.

 

O Ministro da Fazenda de Temer e o ex-presidente Lula

Atenção em Lula

Lula disse que está na hora de parar de gritar “Fora, Temer”. Por que?

Amigos…

Lula não se transformou, de uma hora para outra, em apreciador de Temer. Soltou até, em Minas, uma frase venenosa (que, embora atinja a posta de sua escolha, derrama mais peçonha no adversário): “Como Deus escreve certo por linhas tortas, as pessoas que diziam que a Dilma era uma desgraça perceberam que Temer era desgraça e meia”.

…inimigos

Na verdade, Lula não tinha como falar isso sem atingir aliados. Quem foi que montou a chapa Dilma-Temer que ganhou a eleição?

Mas Lula provavelmente está estudando o terreno, escolhendo os adversários de campanha. Pois sua caravana, que deve percorrer o país inteiro, não está repetindo o sucesso da Caravana da Cidadania, de antes de se eleger presidente. É pouca gente e muita vaia.

 


Carlos Brickmann - Chumbo Gordo quarta, 25 de outubro de 2017

BLACK QUARTA, DIA DE COMPRAS

Neste país todo mundo se queixa. Só porque o Governo volta a investir, colocando uns R$ 12 bilhões de capital em ações de apoio ao presidente Temer, ficam criticando vendedores de votos e compradores de opiniões.

Injustiça! Muito dinheiro trocou de mãos, mas civilizadamente, sem que até agora alguém tenha sido apanhado em flagrante, como o senhor ridículo que corria com a mala na rua. Uma transferência contábil – como a do Refis, em que o Governo deixará de faturar pouco mais de R$ 2 bilhões, em favor de Suas Excelências – não é tão inconveniente. Os de sempre são beneficiados e transferem parte dos ganhos a seus parlamentares de estimação, sem que bons amigos do presidente tenham de rechear e entregar pacotes com suas próprias mãos. É, convenhamos, mais chique. O efeito é o mesmo, garantir ao presidente os votos de que precisa para garantir aos amigos, e aos amigos dos amigos, que a garantia continua. É algo sólido: nada de la garantía soy yo. Emendas parlamentares de R$ 15 milhões, cada? Dinheirinho para pequenas obras. É uma boa economia: só se distribui a parte de cada um, sem que se gaste um centavo na tal obra.

Há o desconto de 60% nas multas ambientais. Justo: o prejuízo do Governo com as multas não pagas será 60% menor. O Governo desiste de privatizar o aeroporto de Congonhas: uma vaca com mais tetas tem mais a oferecer a quem quer mamar. E sobra até para nós: cabe-nos pagar a conta.

 

 

Mamãe eu quero

O caro leitor pode ficar tranquilo: Temer ultrapassa mais essa denúncia, que deve ser votada hoje. Mas, se o resultado é certo e sabido, por que tanta gentileza com os senhores deputados? Porque não ficaria bem, para Temer, derrubar a denúncia com menos votos do que teve ao derrubar a denúncia anterior. Para evitar que ele se mantenha no cargo dando a impressão de que perdeu apoio, fez-se a Grande Queima Pré-Natalina de Votos. Sabe como é, se prevalece a impressão de que o presidente se enfraqueceu, vários parlamentares passarão a exigir ainda mais por seu apoio. Evita-se então o vexame pagando adiantado para o presidente parecer forte. Muda algo? Muda: o dinheiro, por exemplo, muda do Tesouro para bolsos ávidos.

Mamãe, eu quero mamar

É claro que, aparentemente, é mais fino oferecer favores transformáveis em dinheiro do que dinheiro propriamente dito. Nem é preciso, por mais substanciosas que sejam as quantias transferidas, alugar apartamentos-cofre com um geddel de área construída para abrigar a fila de caixotes de notas novinhas. Mas, por maior que seja a tolerância com que se observe o mafuá das Excelências, o que está ocorrendo ultrapassa largamente a fronteira do decoro: o PMDB, por exemplo, partido de Temer, liberou seus deputados para apoiá-lo ou não. Traduzindo, o apoio ao presidente é negociado voto por voto com seus correligionários, mesmo sabendo-se que Temer foi presidente do PMDB, seu candidato em aliança com Lula e Dilma, e é a única possibilidade que o partido tem de permanecer no poder. Como esta é a última chance de derrubar o presidente, cada deputado exige o que pode. O Governo não se preocupa com isso: afinal, nós é que pagamos.

De tanto piscar olho

Na luta contra a denúncia, Michel Temer já convenceu todos os que poderia ter convencido (a oposição, convencida da derrota, decidiu tentar impedir o início da sessão, negando o número necessário de deputados). Mas há uma luta que Temer ainda terá de lutar, e com amplas chances de ser derrotado: as centrais sindicais não aceitam a reforma trabalhista. O motivo é o de sempre: com a extinção do Imposto Sindical, hoje cobrado de todo assalariado do país, seja ou não sindicalizado, e entregue aos sindicatos, só terá receita quem prestar serviços aos associados. Receber, sim; trabalhar para ter sócios contribuintes é outra coisa, dá trabalho. Centrais sindicais e sindicatos programam manifestações em todo o pais em 10 de novembro, véspera da entrada em vigor da reforma trabalhista. Só voltam atrás se o Governo lhes der outra receita no lugar desta.

E não se fale mal apenas de centrais e sindicatos de assalariados. Centrais e sindicatos patronais também estão pendurados no imposto.

Frase notável

Do ótimo site gaúcho Espaço Vital: “Depois do apartamento de Geddel, entendi por que Lula queria um tríplex”.

 

Ficha imaculada

Preocupado com o assassínio da turista espanhola María Esperança Jiménez Ruiz, na Favela da Rocinha? Tranquilize-se: a Justiça concedeu liberdade provisória ao PM que a alvejou.

Diz a decisão: “O custodiado estava trabalhando, possui imaculada ficha funcional, não havendo indícios de que solto possa reiterar o comportamento criminoso ocorrido à luz do dia”.


Carlos Brickmann - Chumbo Gordo quarta, 18 de outubro de 2017

CINCO LETRAS QUE CHORAM

Michel Temer está com a popularidade abaixo de cauda de jacaré, mas sai dessa; e, em algum momento até o final do mandato, dezembro de 2018, alguém reconhecerá os êxitos de seu Governo num setor-chave, Economia. Com o mesmo problema da área política, basicamente a necessidade de dar um agrado a numerosos parlamentares, conseguiu reduzir a inflação para baixo da meta, ampliar as atividades de maneira a indicar crescimento futuro, tomar providências que um dia forçarão o Governo a reduzir seus monumentais, extraordinários gastos. Na política e na economia, seguiu a oração de São Francisco: é dando que se recebe. E talvez ganhe para sua memória a frase seguinte do santo, “é perdoando que se é perdoado”.

 

 

Já Aécio, tanto faz ter ou não seu mandato mantido pelo Senado. Pois não há como manter um mandato que já não existe: por algum motivo, as delações de Joesley Batista, que abalaram mas não derrubaram o poder de Temer, foram catastróficas para Aécio. De repente, o segundo colocado na eleição presidencial, com 51 milhões de votos, quase metade do eleitorado, cujos aliados se cansaram de dizer que só perdeu por ter sido prejudicado na apuração, virou um zero político. O antigo presidente do Senado demonstrou-se incapaz de coordenar sua própria defesa, de articular-se com seus colegas senadores, de defender-se sem choramingos, sem argumentos.

As acusações foram aceitas como verdade. Deve haver motivo para isso.

Os passos de Temer

O presidente não deve tentar a reeleição. Acha que haverá um bloco à direita, com Jair Bolsonaro ou alguém menos flutuante (Bolsonaro já esteve em nove partidos, inclusive o Ecológico, diz defender o liberalismo mas gosta de estatais); um à esquerda, sob o comando do PT – ou, mais precisamente, de Lula, preso ou solto); um em cima do muro, o esfacelado PSDB; e quer chefiar a sucessão unindo partidos como PMDB, DEM, PSD, PTB, PTB, PR, PRB. Candidato provável, Henrique Meirelles. É cedo para prever, mas no meio da briga partidária, pode sobrar para ele. Ou Dória.

Como diria Caetano

Ou não. Lula neste momento lidera as pesquisas, mas ninguém vence a eleição com o nível da rejeição que ostenta: metade dos eleitores diz que não vota nele de jeito nenhum. Mas falta um ano e isso pode mudar. E Lula nem precisa ser candidato: basta que possa proclamar que “a zelite” usa as leis para prejudicá-lo e, por isso, em vez de sair candidato, lança outro. Quem conseguiu eleger Dilma sabe a força de que um poste é dotado.

A força do adversário

Lula conta, na campanha para que o eleitor o veja como perseguido, com o valioso apoio dos adversários. Os procuradores da Lava Jato já fizeram o que não deveriam com aquele “power point” segundo o qual, com ou sem investigações, Lula era apontado como ponto central da ladroeira. Já havia ocorrido, há tempos, o caso “Vavá dois pau”, uma operação contra Genival, irmão de Lula, que teria pedido “dois pau pra eu” para usar sua influência num caso. Que influência, cara pálida? Alguém que, entre Petrolão, Mensalão e Quadrilhão, aceita “dois pau”? E agora houve o caso mais obscuro de todos; a pressão sobre o filho de Lula.

Vale tudo

Há pouco mais de uma semana, no dia 10, um delegado da Polícia Civil de Paulínia, SP, com três policiais armados, invadiu com ordem judicial a casa do psicólogo Marcos Lula da Silva, o mais velho dos filhos de Lula. Segundo se soube, com base em denúncia anônima, acreditavam que na casa houvesse drogas e armas. Não havia. Recolheram então dois computadores, pendrives, CDs e DVDs; foram a outro endereço, com base na mesma suspeita, e o resultado foi o mesmo: nenhum.

A juíza Marta Pistelli, que dera a ordem de busca e apreensão de “armas e drogas”, disse ter sido enganada pela Polícia Civil. Mandou devolver tudo o que tinha sido ilegitimamente apreendido e foi mais longe: disse que tinha autorizado a busca e apreensão em um endereço, não em dois.

E até agora o governador Geraldo Alckmin, PSDB, que pretende ser candidato à Presidência, talvez contra Lula, ficou mudo. Nada disse – nem ele nem seu secretário da Segurança. Abriu-se uma investigação e o delegado foi afastado do caso – aliás, de qual caso? Por que adversários de Lula tanto querem estimular sua candidatura?

Como se faz

As investigações sobre corrupção no Brasil ocorreram também em Portugal, com manobras casadas e sócios ultramarinos. Mas, em Portugal, sem delações premiadas, a acusação é completa e não dá margem à criação de vítimas (Lava Jato à portuguesa). Atingiu do banqueiro Ricardo Salgado (Banco Espírito Santo) a José Sócrates, preso enquanto era primeiro-ministro. Sócrates se diz perseguido mas ninguém lhe dá bola. Juiz e procurador podem andar tranquilos pelas ruas, sem ser reconhecidos.


Carlos Brickmann - Chumbo Gordo domingo, 15 de outubro de 2017

O PAÍS DO MOLHA A MÃO

 

A procuradora-geral Raquel Dodge disse, ao tomar posse, que o povo “não tolera a corrupção”. Sua Excelência está certa, mas na frase faltou um pedacinho que lhe daria mais precisão: o povo não tolera “a corrupção dos outros”. O problema não somos nós, mas aqueles safados que condenamos.

Uma entidade séria, a Transparência Internacional, em pesquisa agora divulgada, mostrou que 11% dos brasileiros admitiram pagar propina para ter acesso a serviços públicos como saúde, educação, segurança, emissão de documentos. Detalhe interessante: a pesquisa se realizou na época do impeachment da presidente Dilma Rousseff, com manifestações de massa contra a corrupção do Governo. Petrolão, não; mas tudo bem molhar a mão.

As respostas positivas, em que tanta gente confessa não apenas seu hábito de transgredir a lei como o desprezo pelos que protestam contra isso, são obviamente verdadeiras: ninguém mente ao confessar que age fora da lei. Portanto, se as autoridades pensam ter apoio do povo para combater os atos mais comuns de corrupção, podem ir desde logo mudando de ideia.

A pesquisa, porém, traz aspectos mais positivos. Dos brasileiros, 81% garantem que, se presenciassem um ato de corrupção, iriam denunciá-lo. Claro que até agora ninguém o fez, exceto em troca de algum tipo de perdão dos suculentos – em alguns casos, tão bons que vale a pena até assumir a culpa de um crime. Mas é um bom sinal. Quem sabe um dia?

Fica a dica

Conhecendo-se o que já se conhece, sabendo como pensa boa parte da população, acompanhando a disputa entre parlamentares e procuradores (tendo alguns ministros do Supremo, surpreendentemente, na mediação do jogo) vale a pena mergulhar um pouco na Operação Lava Jato. De duas, uma: ou a ofensiva contra a Lava Jato consegue sufocá-la, ou o cruzamento de delações premiadas, combinado com enxurradas de investigações bem-sucedidas, vai gerar tantos processos que ninguém conseguirá acompanhá-los (e, de um ou outro jeito, vamos perder o fio da meada). É hora de pegar um bom livro que sistematize o que se sabe da ladroeira geral e irrestrita. Uma sugestão: República dos Acarajés, do gaúcho Walter Soares, e-book Amazon.

Catalunha, só lá

O movimento catalão ameaçou repercutir no Brasil, com grupos sulistas querendo separar do Brasil o Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná. É daquelas ideias que parecem ótimas à primeira vista, mas não resistem mais do que isso; ninguém ganha nada e os custos são fantásticos. No caso, o Sul teria de importar todo o petróleo que consome, construir nova refinaria, ou importar derivados; e não haveria nem o sal grosso, que teria de ser levado de Mossoró, para o churrasco nosso de cada dia. E, como na Catalunha, o plebiscito é ótimo, bonito, mobilizador, mas só funciona quando os sonhadores perdem. Quando ganham, como agora na Espanha, que fazer?

 

 

O mundo gira

E essas histórias de independência não são as únicas coisas estranhas que acontecem no Brasil. Há dias, em Brasília, o ex-presidente Lula foi embora bem cedo de um churrasco na casa do deputado Paulo Pimenta, do PT gaúcho. Comeu e bebeu pela metade, não esperou o evento petista que deveria ocorrer logo após o churrasco, e disse que iria fazer acupuntura.

Não faz muito tempo, quem acreditaria que Lula iria suspender um churrasco, com todos os acompanhamentos de que gosta, seguido por um ato público, quase um comício, para fazer um tratamento médico?

Volta ao lar

Césare Battisti, condenado à prisão perpétua na Itália por quatro homicídios, com a extradição do Brasil aprovada pelo Supremo e suspensa pelo então presidente Lula no último dia de seu mandato, está a ponto de ser mandado de volta a seu país. Pelo que se comenta, falta pouco: só que o Governo italiano aceite reduzir a pena que vai cumprir na Itália à que ele sofreria no Brasil, 30 anos no máximo. O presidente Temer está disposto a devolvê-lo, caso os italianos cumpram as exigências da lei brasileira.

Evo, última chance

O presidente boliviano Evo Morales luta para conseguir disputar mais um mandato – seria o quarto em seguida. Morales se elegeu e logo tratou de reformar a Constituição, permitindo-se disputar o terceiro mandato. Mas as coisas, agora, estão difíceis: em nove das onze maiores cidades da Bolívia houve manifestações contra ele, exigindo que respeite o resultado da última votação a que concorreu (em fevereiro, sua proposta de disputar o quarto mandato foi derrotada). Mas Morales promete lutar até o fim.


Carlos Brickmann - Chumbo Gordo domingo, 08 de outubro de 2017

NOSSO POVO É INGRATO

 

Desculpe, mas é preciso registrar que nossos concidadãos só reclamam, e quando suas reclamações são atendidas reclamam do mesmo jeito.

Carlos Arthur Nuzman, supremo cacique olímpico e chefão do vôlei, foi preso há dias. E está todo mundo indignado com ele. Lembremos: durante 50 anos, o país só viu o ouro olímpico em 1920 (Guilherme Paraense, tiro). 1952 e 1956 (Adhemar Ferreira da Silva, salto triplo). Não ganhávamos ouro olímpico nem no futebol. Enquanto isso, americanos, russos, cubanos, alemães orientais e chineses se entupiam de medalhas de ouro. Com a prisão de Nuzman, descobrimos que em seu poder tinha 16 barras de ouro. Mais ouro que todas as medalhas de todos os gringos, em todos esses anos, somadas. Agora reclamam dele por realizar nossos sonhos de medalhas!

E Geddel, então? Geddel, mais que uma pessoa, é legião; aqui o citamos como símbolo de tantos colegas que, como ele, se dedicam ao bem. E essa nobre atividade é desempenhada com tanto desvelo que, em poucos anos de carreira, os mais competentes entre eles já acumularam bens de sobra. Geddel, nosso exemplo, tinha R$ 51 milhões em casa.

Temos ainda o túnel construído para roubar R$ 1 bilhão do banco. Nós nos queixamos de obras superfaturadas e malfeitas. Este túnel foi bem feito em três meses, é sólido, custou R$ 4 milhões. Não temos do que reclamar: apenas reconhecer que os bandidos dos outros são melhores que os nossos.

Sem fantasia

Devido à prisão de Nuzman, acusado de pingar pixulecos para trazer ao Brasil os Jogos de 2016, o Comitê Olímpico Internacional suspendeu o Comitê Olímpico Brasileiro. Indignação por essa coisa tão feia, suborno!

Mas, desde que se concluiu que a Olimpíada é um grande evento turístico-econômico, Governos dos mais diversos países entraram na disputa para atraí-la. Devemos acreditar que, apesar dos abundantíssimos interesses comerciais em jogo, jamais algum Governo acenou com um “por fora” a dirigentes olímpicos que o apoiassem? Serão os dirigentes da Olimpíada tão fiéis ao amadorismo no esporte que não queiram, para usar o termo da moda, “monetizar” seu voto e influência? Devemos? Então, tá.

Vem que eu te quero tolo

As primeiras investigações indicam que Nuzman duplicou seus bens nos dois anos anteriores aos Jogos. Deve ter feito excelentes negócios, que lhe deram muito dinheiro, mais algum para gringos que poderiam ser úteis ao país. Ou isso, ou recebeu o dinheirão da turma lá de cima, separou uma boa parte para sim (quem parte e reparte sempre fica com a melhor parte) e deu o restante a gulosos futuros aliados internacionais. Fica faltando identificar a turma lá de cima. É só procurar nos jornais da época quem é que estava mais feliz com a vitória politica que era trazer ao Brasil a Olimpíada. Este colunista não vai pesquisar, não: já está cansado de ouvir o “é górpi!”

 

Vem prender-te em meus braços

Pegar aquele túnel tão bem feito no momento em que já estava debaixo do cofre do banco foi uma bela vitória. Só resta uma dúvida: por que não esperar os bandidos começarem a parte final do trabalho, o corte do cofre, para prender todos juntos? Há várias hipóteses: ou os bandidos detectaram a movimentação da policia e caíram fora ou, pior, tinham informantes bem situados que lhes contaram que a Polícia já havia descoberto tudo.

O erro dos afobados

O deputado Ricardo Tripoli, líder do PSDB na Câmara Federal, acha que o governador Geraldo Alckmin erra ao aproximar-se do presidente Michel Temer. Alckmin, possível candidato do PSDB à Presidência, quer minar as resistências do PMDB, o partido de Temer, a apoiar um candidato tucano. Tripoli acha que o Governo Temer já está com a popularidade perto de zero e, no ano que vem, terá virado pó. E seu apoio, em vez de ajudar o candidato tucano, irá é prejudicá-lo. Tripoli é um bom deputado, correto, estudioso, mas está se deixando levar por pesquisas fora de hora.

Número é número

Neste 6 de outubro, foram divulgados os números da inflação. A alta em setembro foi de 0,16% – um número baixíssimo, a ser festejado até na Suíça ou Alemanha. No acumulado do ano, de janeiro a setembro, a inflação foi de 1,78%. Fazendo-se a conta de 12 meses, de outubro de 2016 ao final de setembro de 2017, a alta de preços atinge 2,54%. A meta de inflação definida pelo Banco Central é de 4,5% ao ano, e Dilma jamais conseguiu mantê-la nesse nível. No momento, o Brasil discute ladroeira, está em crise política, Michel Temer sofre com processos. Na hora em que o país descobrir que o dinheiro está mantendo o valor, o apoio oficial volta a ser bom. Claro que Meirelles pode sair candidato, capitalizando o fato de ter comandado o time que segurou os preços, mas é sempre melhor estar do lado da inflação baixa, e não da desvalorização do dinheiro do eleitor.


Carlos Brickmann - Chumbo Gordo quarta, 04 de outubro de 2017

GINGA PRA LÁ, GINGA PRA CÁ

A pesquisa Datafolha sobre as eleições presidenciais e a atual conjuntura chega a conclusões claríssimas a respeito da opinião popular: Lula é o candidato preferido para a Presidência, vence qualquer adversário no segundo turno e deveria estar na cadeia.

Nada de teorias conspiratórias: o Datafolha é respeitado, sério, dispõe de equipe experiente e qualificada, com excelente histórico de previsões corretas. Este é seu patrimônio maior; perdê-lo significaria sair de um mercado estável e lucrativo, além de prejudicar a reputação do jornal a que pertence, a Folha de S.Paulo. Que há algo esquisito, isso parece evidente. Mas não se refere à manipulação de pesquisas, e sim à hora de fazê-las.

Lula está sendo julgado por corrupção, em vários processos. Condenado já está, em primeira instância; um de seus aliados mais próximos, Antônio Palocci, que foi seu ministro, acaba de acusá-lo de roubalheira desenfreada. As acusações de Palocci foram um aperitivo do que poderá contar, em delação premiada. São fatos atuais, que acontecem agora, com TV e tudo.

Já a eleição presidencial é daqui a um ano e não se sabe nem quem serão os concorrentes. Alckmin, Dória, Serra, pelo PSDB? E se Joaquim Barboza for candidato? Ou Sérgio Moro, hoje popularíssimo? A economia mostra sinais de recuperação. Daqui a um ano, se a recuperação continuar, que tal Henrique Meirelles, do PSD? Pesquisa sem concorrentes é coisa só nossa.

Ele sabe

Gilberto Kassab, cacique do PSD, disse há poucos dias, sobre Meirelles: “Ainda não é candidato, mas reconheço que é um bom presidenciável”.

Moro, o ingênuo

O juiz Sérgio Moro disse nesta semana que o trabalho da Lava Jato está chegando ao fim, mas que o combate à ladroeira continuará com o mesmo vigor. A Lava Jato, disse, teve como alvo a corrupção no setor de petróleo e fez seu trabalho; agora falta pouco. Moro agiu e age de forma competente, desmontando esquemas de roubo na Petrobras. Há quem faça restrições a seus métodos, mas os tribunais superiores os aceitaram. Moro é um profissional de primeira linha. Só é ingênuo ao supor que o combate à corrupção continuará com o mesmo vigor. Moro pegou de surpresa os chefes do roubo, que demoraram a reagir por acreditar que estavam acima de qualquer suspeita. Hoje já sabem que a lei pode atingi-los. Protegem-se.

O vigor de Moro e dos outros

Uma ótima revista gaúcha, o Espaço Vital pesquisou os números do tal vigor. Em Curitiba, Moro condenou 107 réus da Lava Jato. Em Brasília, o Supremo ainda não condenou ninguém. É por isso que tanta gente luta para garantir o foro privilegiado: é muito mais seguro. Agora, outros casos levantados pelo Espaço Vital desta semana.

Celular alto padrão

O Tribunal de Justiça de Pernambuco autorizou a compra, por pregão eletrônico, de 60 smartphones (embora só tenha 52 desembargadores). Preço autorizado: R$ 12.633,00 por unidade, R$ 758 mil no total. Este colunista não encontrou anúncios de nenhum smartphone custando nem metade deste preço. Mas isso não faz diferença: o caro leitor ganha celulares ou costuma comprá-los com seu próprio dinheiro? Pois é.

Câmara Tour

De janeiro a 15 de setembro, a Câmara Federal autorizou 274 viagens internacionais de Suas Excelências, anunciadas como “missão oficial”. Newton Cardoso Jr., do PMDB mineiro, foi conhecer o Mercado de Maryland, EUA. Dois tucanos, Pedro Vilela (Alagoas) e Vanderlei Macris (São Paulo), e Cláudio Cajado (DEM – Bahia), passaram cinco dias em Paris num congresso de aviação. José Nunes (PSD-Bahia) e Paulo Azi (DEM-Bahia) foram a Orlando “para um encontro com diretores da Disney”. E todos nós nos responsabilizamos pela conta e pelas diárias.

Dúvida pertinente

Se o caro leitor emitir um cheque de R$ 5 mil, o banco é legalmente obrigado a encaminhá-lo às autoridades, para que cruzem as informações e vejam se não há irregularidades e se sua declaração de imposto de renda o capacita a pagar esse valor. Mas a JBS pagou R$ 248 bilhões a políticos e ninguém percebeu nada, nem no Governo do PT, nem no do PMDB?

Duvidar sempre

Luciano Coutinho, presidente do BNDES de 2007 a 2016, disse que os negócios do banco deram lucro, comprovando seu acerto. Coutinho é um economista renomado, conhece o ramo. Mas agora sabemos como é que a JBS obteve seus lucros. E há casos curiosos – por exemplo, uma produtora de pás eólicas, a Tecsis, que recebeu US$ 460 milhões do BNDES e, três anos depois, demitiu sete mil de seus oito mil empregados, fechou sua maior fábrica e enfrenta diversos pedidos de falência.


Carlos Brickmann - Chumbo Gordo domingo, 01 de outubro de 2017

AÉCIO: MISTURANDO BEM, FICA LIVRE

É tudo muito simples: os petistas agora têm de falar mal de Palocci, falar bem de Maluf e defender Aécio. Os parlamentares do Centrão têm de falar bem de Temer e Aécio, dizer que não existe Quadrilhão, esquecer Maluf (as alas que hoje comandam o PP operaram sozinhas no Mensalão) e ignorar Palocci. Os tucanos falam bem e mal de Temer, esquecem Maluf, ignoram Palocci e defendem Aécio, que foi seu candidato à Presidência. Mas nem todos defendem Aécio: Alckmin, Serra, Fernando Henrique e Tasso Jereissati, os caciques do partido, mantêm-se em estrondoso silêncio.

Todos, petistas, tucanos das mais diversas alas (há aproximadamente uma ala por parlamentar), a turma do Quadrilhão, se aliaram em defesa da democracia deles, especialmente das normas que dificultam prisões. Onde já se viu, punir senadores só porque fizeram o que não deviam? E até onde isso vai, considerando-se que metade dos senadores está sendo investigada?

Suas Excelências descobriram que gritar “Fulano na cadeia” para fins eleitorais virou algo perigoso: o grito vira eco, vai e volta. Querem mudar. Só falta combinar com o Supremo. Mas aí tudo é mais suave: o julgamento da Ação Direta de Inconstitucionalidade, que os partidos propuseram em defesa dos parlamentares atingidos por decisões do Supremo, está marcado para breve, 11 de outubro. E a presidente do Supremo, ministra Carmen Lúcia, já disse que Supremo e Senado “estão na boa”. Estão na boa, pois.

O objetivo final

Como presidente do Supremo, Carmen Lúcia tem papel da maior importância. Frase sua: “O fim do Direito é a paz, a finalidade do Direito é a paz. Nós construímos a paz”. A paz, portanto, será construída.

Nem burros…

Há muitos anos, a deputada estadual paulista Conceição da Costa Neves, a temida rainha da Assembleia, dizendo a este repórter que os deputados eram o retrato do povo, exemplificou: “Na Assembleia há honestos e ladrões, estudiosos e ignorantes, preguiçosos e trabalhadores. Só não tem burro nem bobo, porque burro e bobo não conseguem chegar aqui”.

Todo esse comportamento de Suas Excelências, que nós consideramos esquisito, eles sabem que é mesmo esquisito. Burro e bobo não chegam ao Congresso. Eles têm motivo para agir assim; na verdade, motivos. Alguns querem livrar-se de problemas futuros com grades e tornozeleiras; outros só se preocupam em manter o padrão de vida, sem devoluções, sem multas.

…nem bobos

O fato é que não há partido importante livre de escândalos. Quem parece lutar por Aécio está é salvando Lula; quem diz que Lula não deveria passar por tantos problemas está lutando por Aécio – e todos, inclusive Renan Calheiros, que fez discursos oposicionistas, por Michel Temer, que sabe o que fazem aliados e adversários quando ninguém está olhando. Em cada caso, seguem a regra básica de sobrevivência congressual: “no meu, não”.

Do chão não passa

Michel Temer está a ponto de bater um recorde mundial: daqui a pouco, seu índice de aprovação poderá ser divulgado com nome por nome dos que o apoiam. Na última pesquisa Ibope, Temer está com 3%, menos da metade de Dilma na sua pior fase. E 77% acham seu Governo ruim ou péssimo.

 

 

Aliados já querem botar a culpa no pessoal de Comunicação, já que os bons resultados econômicos – um pouco menos de desemprego, uma leve alta no consumo, a tendência ao retorno do crescimento econômico, a forte baixa nos juros, a inflação em queda – não têm contribuído para evitar a má imagem de Temer e do Governo. O problema é que, no momento, os resultados econômicos teriam de ser fenomenais para elevar a popularidade do presidente. Na hora em que cada prisão é saudada antes que se saiba seu motivo, esperava-se que Temer limpasse a área, cortando despesas, combatendo privilégios, implantando austeridade. E ele assumiu com Jucá, Padilha, Moreira Franco, e apareceu conversando com Joesley – aquele que não resistiu e caguetou a si mesmo. Não há popularidade que aguente.

As tropas-ioiô

O ministro da Defesa, Raul Jungmann, e o governador do Rio, Luiz Fernando Pezão, anunciaram a retirada das tropas que cercaram a Rocinha. Ambos dizem que houve significativos avanços para a paz na favela e que, “se necessário”, os militares podem voltar. Lembremos: o traficante-chefe da favela, Rogério 157, escapou do cerco. Como não será aceito em outros morros (cada um já tem seu traficante-chefe), nem se converterá a alguma religião contemplativa, tem mesmo é de voltar para a Rocinha. O chefão anterior, Nem, que comanda a guerra contra 157, tem seu quartel-general num presidio federal de segurança máxima, a milhares de quilômetros do Rio. Mas agora querem prendê-lo no Rio mesmo, pertinho da favela. Sairia mais barato manter as tropas na Rocinha, em vez de fazê-las ir e voltar.


Carlos Brickmann - Chumbo Gordo domingo, 24 de setembro de 2017

RIO SEM LEI

Bandidos descem a pé da favela onde estão aquartelados, no Rio, carregando nas mãos, sem disfarce, armas de grande potência. Estão indo para invadir a favela ao lado, onde pretendem estabelecer nova base de fornecimento de drogas. Não que a favela que pretendem conquistar não tenha seus próprios traficantes armados, que fornecem todos os tipos de droga a quem quer que tenha dinheiro para comprá-la; o que os invasores querem é se apropriar do tráfico dos vizinhos, embolsando novos lucros.

Na luta pela conquista de novas áreas, as balas às vezes atingem seus alvos, às vezes matam seus inimigos. Mas boa parte das balas atinge casas de consumidores, ou de cidadãos que não têm nada a ver com o tráfico mas se transformam em vítimas. Algumas balas matam e ferem crianças, atingem mulheres grávidas, fazem vítimas que tiveram a má sorte de estar no lugar errado, na hora errada. Os bandidos não se preocupam com isso: o problema é das vítimas, da família das vítimas, do governo que tem de atendê-las e isso num momento em que o Rio está totalmente sem verbas.

Há Polícia nas ruas, há Forças Armadas nas ruas. Os bandidos os ignoram. Sabem que são mais fortes; que dirigentes das Forças Armadas e da Polícia brigam entre si para ver quem manda mais. Parecem não perceber que quem manda mais são os bandidos. A propósito, a favela que tenta invadir as outras é a Rocinha. Bem em frente ao belo Hotel Nacional.

 

 

As ações oficiais

Mas ninguém imagine que o Governo (federal, estadual, municipal, seja qual for) esteja inerte. Não! Os governos mudaram o nome das “favelas” para “comunidades”, politicamente mais correto. Claro que “comunidade” não é a mesma coisa que “favela”: qualquer condomínio fechado, por mais chique que seja, é também uma comunidade. Mas vá lá: daqui a pouco poderão dizer que o número de favelas se reduziu, já que várias já favelas não são, mas comunidades. Os governos investiram também em unidades de polícia pacificadora, UPP; mas não é só de polícia que a favela precisa. Cadê os postos de saúde, as escolas, as quadras esportivas? Se a presença do Estado nas favelas se limitar à Polícia, à pura e simples repressão ao crime, não há como impedir os bandidos de comandar os homens de bem.

Dúvida pertinente

Há alguns anos, o repórter Gilberto Dimenstein perguntou que é que faríamos se a Argentina tomasse um pedaço do Brasil. Haveria protestos, conclamações à guerra, tudo o que fosse necessário para reaver o território ocupado. Perguntava: os bandidos tomaram uma parte de nosso país, na qual não permitem nem a entrada da Polícia. E completava: em que é que os traficantes, que ninguém incomoda, são melhores que os argentinos?

Mar mineiro

O deputado Jair Bolsonaro disse que, se for eleito presidente da República, o Brasil vai explorar suas riquezas – “quem sabe até abrindo uma saída para o mar para Minas Gerais”. Para que? Minas exporta minério de ferro em grandes quantidades, já exportou ouro até provocar inflação em Portugal, exporta manganês. Não tem saída própria para o mar, mas utiliza os portos de outros Estados, sem precisar cavar um rio salgado para chamar de seu. Bolsonaro acha que pode ganhar. Pretende levar os militares de volta ao poder, com eleições. Mas, se tentar construir um mar interior, não haverá no país quem não fique de olho nas concorrências públicas.

Os outros

João Dória e Geraldo Alckmin, um dos dois sai pelo PSDB. Lula não deve sair, mas não se sabe quem é o poste que escolherá para substituí-lo. Álvaro Dias é candidato pelo Podemos, novo nome do PTN. Joaquim Barbosa é disputado por vários partidos, já que, imagina-se, tem bom potencial eleitoral. Henrique Meirelles é do PSD; se sua política econômica continuar dando certo, pode ser o candidato do Governo (ele ou Paulo Rabello de Castro, presidente do BNDES). Ciro Gomes gostaria de ser o candidato de Lula, mas é difícil. Carlos Ayres Britto, ex-presidente do Supremo, não tem partido nem voto. Mas traria respeitabilidade à eleição.

As chances?

Ainda não dá para saber nem quem será candidato, quanto mais as possibilidades de vitória de cada um: falta um ano para as eleições.

Atrapalhado

Há políticos capazes de atravessar a rua para escorregar numa casca de banana na calçada oposta. Michel Temer, por exemplo, resolveu colocar em estudos o fim do horário de verão. Num país que paga contas de energia mais altas porque é preciso ligar as termelétricas, Temer acha razoável desperdiçar a economia de eletricidade trazida pelo horário de verão. Vale pelas piadas: por exemplo, Temer não quer que o por do Sol ocorra uma hora mais tarde porque, com sua aparência de vampiro, tem de evitar o Sol.


Carlos Brickmann - Chumbo Gordo segunda, 18 de setembro de 2017

CADA CRIME COM SEU NOME

Vamos falar claro: nenhum empresário deu propina a políticos, nenhum político recebeu propina. A palavra propina é sinônimo de “gratificação”, ou “gorjeta”, agradecimento livre e espontâneo pela prestação de bons serviços. Não é crime. “Gorjeta” deriva de “gorja”, garganta – algo como “tome uma dose”. Equivale ao francês “pour boire” – para beber. O que esses empresários fizeram foi “suborno”; Suas Excelências foram “subornados”. Todos os envolvidos no suborno cometeram crime.

Os “malfeitos” de que falava Dilma chamam-se crimes. A delação premiada foi essencial para desmascarar esse tipo de práticas. Mas deixemos de lado os eufemismos: aproveitemos as revelações da delação e desprezemos os delatores. São “caguetas”, “dedos-duros”, “alcaguetes”, “X9” – seres desprezíveis, que jogam cúmplices no fogo para salvar os próprios rabos sujos. Seres que não se envergonham de ostentar, perante filhos e família, a pena reduzida, o símbolo da traição. Visitar o cúmplice para gravá-lo? São traidores. Que tenham tido tantos privilégios para fazer coisas tão feias mostra o nível de bandalheira a que chegou a moral do país.

Na zona não há santos. Os ingleses diziam que um cavalheiro não ouve a conversa dos outros (diziam, mas ouvem; dizer era a homenagem que o vício presta à virtude). No Brasil do vale-tudo, em que milícias de policiais disputam com bandidos o controle da bandidagem, nem se faz, nem se diz.

A novilíngua

Todo esse esforço para amenizar o nome tradicional dos crimes lembra um romance clássico de George Orwell, 1984. Num Estado totalitário, em que os habitantes são permanentemente monitorados por câmeras, em que até o sexo tem de ser autorizado, tenta-se mudar o idioma para uma tal Novilíngua, em que certos conceitos desapareceriam, na falta de palavras para designá-los. “Liberdade”, por exemplo, era uma palavra politicamente incorreta. Aqui, em vez de cuidar da urbanização, saneamento, transporte, passa-se a chamar favela de “comunidade”, como se isso mudasse alguma coisa. A máfia de larápios que se entupiu de dinheiro para trair eleitores vira um grupo que “recebeu propina”. Queremos clareza: ladrão é ladrão.

 

 

E, veja, é médico!

Muita gente aqui tem amigos que de vez em quando viram inimigos mas logo voltam a ser amigos. Lula sempre tratou Antônio Palocci, coordenador de sua campanha vitoriosa à Presidência, seu ministro da Fazenda, indicado por ele para coordenar a campanha de Dilma, imposto por ele para a Casa Civil da nova presidente, como amigo de fé e irmão camarada, daqueles de se guardar do lado esquerdo do peito (lado do coração e da carteira). Agora, caguetado, eis o que disse do amigo Palocci, que pelo jeito agora é inimigo, para Sérgio Moro: “É médico, frio, calculista, simulador”. Que é que significa, na frase, “médico?” Um dia Lula diz “Conheço o Palocci bem. Ele é tão esperto que é capaz de simular uma mentira mais verdadeira que a verdade”. “Ele espertamente diz ‘não é que sou santo’, e pau no Lula”.

Amigos, amigos…

Do lado do procurador-geral Rodrigo Janot, a surpresa veio de onde ele menos esperava: de seu colega mais próximo, o procurador Marcelo Miller. Miller, um dos coordenadores da caguetagem dos dois Batista, demitiu-se da Procuradoria e começou a trabalhar no escritório de advocacia que defende os irmãos que dedaram Michel Temer. Não é comum, mas a lei permite – só que surgiram suspeitas de que Miller já orientava a defesa dos dois alcaguetes enquanto estava na Procuradoria. A Polícia Federal tem certeza de que as suspeitas são verdadeiras. Janot obteve a prisão de Miller.

…negócios à parte

Enquanto cuida da frente interna, Janot aproveitou seus últimos dias como procurador-geral (a partir desta semana, o cargo é de Raquel Dodge) para apresentar nova denúncia ao Supremo contra o presidente Michel Temer e o Quadrilhão do PMDB; Segundo a denúncia, o grupo, chefiado por Temer, incluía os ministros Eliseu Padilha e Moreira Franco, mais Eduardo Cunha, Rodrigo Rocha Loures, Geddel Vieira Lima, Henrique Eduardo Alves – estes quatro já presos. As fraudes em contratos da Caixa, Furnas, Petrobras, ministérios da Agricultura e da Integração, Secretaria da Aviação Civil e Câmara dos Deputados atingiriam R$ 587 milhões.

Calma no Brasil

A denúncia será agora examinada no Supremo. Se aceita, vai à Câmara, que terá de autorizar a abertura de inquérito. Não é fácil: se 172 deputados votarem contra, ou simplesmente não aparecerem, o pedido é rejeitado.

A festa do caqui

Joesley foi preso com um terço nas mãos (os outros dois terços não apareceram). Geddel chorou (e explicou: teme ser estuprado). Wesley, irmão de Joesley, diz que seu crime foi virar delator. Foi mesmo. Feio, né?


Carlos Brickmann - Chumbo Gordo quarta, 13 de setembro de 2017

O MAIS LONGO DOS DIAS

É hoje: Lula, acusado de chefiar o esquema de corrupção na Petrobras, depõe ao juiz Sérgio Moro, em Curitiba. Esperam-se perguntas sobre o Pacto de Sangue entre a Odebrecht e Lula, citado por Antônio Palocci.

Nesta mesma Super-Quarta, o Supremo deve decidir se as provas constantes da delação de Joesley Batista devem ser anuladas. Se forem, quase dois mil políticos nela citados ficarão mais tranquilos, ao menos por algum tempo – pois, embora não possam ser processados pelas acusações de Joesley, eleitor e Polícia saberão o que eles fizeram no verão passado.

O Supremo decide também se o procurador-geral Janot é suspeito para apresentar nova denúncia contra o presidente Michel Temer. Caso não seja, Janot tem a denúncia pronta, por chefiar organização criminosa, o Quadrilhão do PMDB, que envolve, além de Temer, seus auxiliares mais próximos. Na denúncia, deve ser citada a delação do doleiro Lúcio Funaro. O inquérito em que se baseia a nova denúncia foi concluído nesta segunda pela Polícia Federal. Atinge Temer, os ex-ministros Geddel Vieira Lima (o das malas de dinheiro) e Henrique Alves, os ministros Moreira Franco e Eliseu Padilha, e Eduardo Cunha, ex-presidente da Câmara. Todos devem ser denunciados por corrupção ativa, corrupção passiva, lavagem de dinheiro, formação de quadrilha, evasão de divisas e fraude em licitações. Destes, só Eliseu Padilha, Moreira Franco e Michel Temer estão soltos.

Tem mais, tem mais…

A Super-Quarta é o mais longo dos dias por ter começado na terça. No Congresso, foi instalada a CPMI do BNDES – M de mista, por englobar Senado e Câmara. Os dois membros petistas, o senador Lindbergh Farias e o deputado Paulo Rocha, chegaram atrasados – mas a tempo de reclamar que Lula, o ex-ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o ex-presidente do BNDES, Luciano Coutinho, já tinham sido convocados para depor. O caro leitor tem uma chance de adivinhar os termos do protesto de Lindbergh. Claro: ele exclamou várias vezes “é golpe, é golpe”.

 

 

…e tem mais

Ainda na quarta, o Tribunal Regional Federal 4, em Porto Alegre, deve decidir se aceita o recurso de José Dirceu, que está em prisão domiciliar.

Maldade

Dizem que, terminado o mandato de procurador-geral, e após a confusão de ter um assessor próximo acusado de atuar dos dois lados do balcão, Janot fará cinema. Ocupará o lugar de Peter Sellers, o Inspetor Clouseau, na refilmagem de A Pantera Cor-de-Rosa. Fará o papel de Inspetor Janot.

De um bolso para outro

A Pilgrim’s Pride, maior produtora americana de carne de frango, acaba de comprar a irlandesa Moy Park, fornecedora de 25% do frango consumido na Europa, por US$ 1,3 bilhão. “A compra nos dá acesso aos atraentes mercados do Reino Unido e da Europa, atendendo nossa estratégia de diversificação do portfolio”, anunciou Bill Lovette, presidente executivo da Pilgrim’s Pride. Um detalhe: a Pilgrim’s é controlada pela JBS e a Moy Park é integralmente pertencente à JBS. Alô, Rolf Kuntz! Alô, Alexandre Schwartsman! Não é a mesma coisa que tirar dinheiro da carteira e botá-lo no bolso? Sabendo que quem comprou e quem vendeu foi a JBS, de Joesley Batista, será que não existe nada esquisito nisso? Tomara que este colunista esteja errado: será a prova de que nem sempre o que acontece é aquilo de que a gente comum, como eu, desconfia.

Meu pai-pai

Flávio Bolsonaro, deputado estadual (PSC-Rio), prova viva de que sobrenome ajuda em eleição, estreia em nova área profissional: biógrafo. Bolsonaro preparou um livro com passagens da vida de seu pai, o deputado federal (e candidato à Presidência) Jair Bolsonaro. O lançamento do livro deve ocorrer neste mês, a tempo de transformar-se em possível presente de Natal. Deve haver uma grande noite de autógrafos, com a presença do pai, Bolsonaro, e dos dois filhos deputados, Bolsonaro e Bolsonaro.

Recordando ACM

O principal cacique político da Bahia, Antônio Carlos Magalhães, volta a ser lembrado por escrito a partir de amanhã, às sete da noite: é o horário previsto para o lançamento de ACM em Cena, livro de crônicas sobre os tempos em que ele comandava a Bahia (diga-se, com mão de ferro). São, em textos que quem viveu esta época, “depoimentos e cenas de uma grande história de amor pela Bahia”. Preço do livro: uma lata de leite em pó. Este colunista, que jamais morreu de amores por ACM, mas reconhece seu papel dominante na história recente da Bahia, já encomendou o livro à amiga (e autora de uma das crônicas) Rose Vitaly. Junto com o lançamento do livro, no Cine-Teatro Gláuber Rocha, praça Castro Alves, deve ser apresentado ACM, Tempo e Espaço, documentário de Oscar Santana. Vale.

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Carlos Brickmann - Chumbo Gordo domingo, 10 de setembro de 2017

A VERDADE VOS CONDENARÁ

Há gente, sem a qual uma ladroeira desse porte seria inviável, festejando a liberdade. Estão enganados: o tesouro em dinheiro vivo encontrado no apartamento do amigo de Geddel traz o “Abre-te Sésamo” de investigações que poderão chegar a resultados espetaculares. Esqueçamos os dólares e euros: nossa moeda (e nosso tema) é o Real. Os quase 43 milhões de reais.

Imaginemos que o caro leitor tenha fundos para sacar R$ 30 mil de sua conta no banco. Não basta dirigir-se ao caixa: é preciso ligar antes, marcar hora, porque o banco não armazena grandes quantias. Sua transação será comunicada às autoridades e pode entrar nos cruzamentos de informações do seu Imposto de Renda. Aliás, essa comunicação às autoridades é feita a partir de retiradas, cheques ou remessas de R$ 5 mil em diante.

Como ensinou Deep Throat, o delator que ajudou os repórteres Carl Bernstein e Bob Woodward a decifrar o escândalo de Watergate, que derrubou o presidente americano Richard Nixon, siga o caminho do dinheiro. Como é que Geddel pôde juntar R$ 43 milhões sem explicações?

 

 

Ou os bancos não informaram as autoridades ou as autoridades fecharam os olhos. Nos dois casos, a falha é suspeita. Não se diga que os corruptores já mandaram as propinas em dinheiro vivo: grandes empresas fazem transferência bancária, pagam em cheque, emitem boletos. Esta é a hora de seguir o caminho do dinheiro. Chegarão aos bancos, ao Governo, a ambos?

Os puros

No quadro de investigações e denúncias da Lava Jato e conexos, brilham os bancos pela ausência. Devemos imaginar que nenhum banco nacional ou estrangeiro concordou em dar apoio a campanhas eleitorais, em nome, claro, da democracia? Nenhum terá oferecido um pixuleco a quem poderia ajeitar alguma situação desconfortável? Nem o BNDES, fonte inesgotável de empréstimos a juros baixíssimos, subsidiados por nós, a empresas como a J&F, de Joesley, controladora de JBS, Friboi e outras? É difícil acreditar que justo quem trabalha com dinheiro nunca tenha sido procurado.

Os impolutos

Há casos que mostram bom relacionamento entre bancos e governantes. Um ocorreu quando uma analista de investimentos fez previsões sombrias, e o próprio Lula exigiu sua demissão (lembra? “Essa moça que falou não entende porra nenhuma de Brasil e não entende nada de governo Dilma. Manter uma mulher dessas num cargo de chefia… Pode mandar embora e dar o bônus dela para mim que eu sei como é que falo”). O banco demitiu a analista imediatamente. Ninguém terá recebido o tal bônus, como agrado?

O demolidor

Não nos esqueçamos de que o ex-ministro Antônio Palocci fez um depoimento devastador por conta própria, sem delação premiada. Ele, antes de qualquer outro petista, estabeleceu contato com os bancos. Sabe o que o sistema financeiro fez no verão passado. Sua delação premiada promete.

O autogolpe

“Quando a esperteza é muita”, ensinava o sábio político mineiro Tancredo Neves, “vira bicho e come o dono”. Joesley Batista pensava ser esperto, depois que gravou uma conversa comprometedora com Michel Temer, para entregá-la à Procuradoria, em troca de pagar uma multinha, ficar livre e se mudar com a família, o dinheiro e as empresas para os EUA.

O mundo real

Não era tão esperto assim. Numa gravação que entregou à Procuradoria, havia uma conversa com assessores diretos em que diz grosserias sobre a presidente do Supremo, usa frases que lançam suspeitas sobre as relações com um procurador que o investigava (e logo se demitiu, mudando de lado, para trabalhar com seus advogados), insinua ter sob controle vários ministros do STF. Há duas versões sobre o áudio que gravou e entregou:

a) Não conhecia direito o gravador, que se liga sozinho quando há som. Ao apagar a gravação, não sabia que ela fica fora do alcance, mas um perito a recupera. Só é mesmo apagada quando algo for gravado em cima.

b) Queria vincular seus assessores à delação, para evitar traições. Em qualquer caso, agiu como amador. E a Polícia Federal é profissional.

Sonho impossível

Joesley tinha um sonho: fazer a delação premiada antes de ser preso, ficar livre, levar suas empresas para os Estados Unidos (talvez a holding J&F para a Irlanda, onde a tributação é mais civilizada), viver no Primeiro Mundo. Acontece que o acordo da delação prevê a perda dos benefícios em caso de omissões ou falsidades. Seus bens podem ficar indisponíveis. Ele e as empresas podem ser acusados de lavagem de dinheiro e formação de quadrilha. As ações podem ser leiloadas para cobrir multas e prejuízos. O segundo maior acionista do grupo, o BNDES, passaria a controlador). Temer não perderia a chance de se vingar. Quem tudo quis nada vai ter.


Carlos Brickmann - Chumbo Gordo quarta, 06 de setembro de 2017

AFASTA DE MIM ESSE CÁLICE

Um sábio político mineiro, Magalhães Pinto, dizia que política é como nuvem: você olha, está de um jeito, olha de novo, está de outro. Ladroeira também. Há surpresas todos os dias; e nunca é para mostrar que alguém foi injustamente acusado de ser ladrão. Pior é que nem sempre é só ladrão.

Comecemos pelo Ministério Público, o implacável (flexível só no caso da JBS): o procurador da República Marcello Miller, braço direito de Janot, deixou a Procuradoria e nos dias seguintes trabalhava com os advogados de Joesley Batista. Já é estranho; mas surgiu uma gravação em que ele analisa a defesa quando ainda deveria estar no ataque, na Procuradoria.

Vamos para Joesley. Há fortes suspeitas de que sua delação premiada tenha sido sob medida: esqueceu alguns crimes e valorizou outros. Caso sua delação seja falha, perde os privilégios que obteve e pode ser julgado, como réu confesso, pelas bandalheiras que revelou ter patrocinado.

Que gravação é essa que surgiu de repente? Provavelmente foi feita por engano. Mas ficaria enrustida se a Polícia Federal não tivesse obtido o áudio por outras fontes. Só foi entregue, então, para que Joesley pudesse dizer que não havia escondido nada. Mas mesmo assim é dinamite.

E a Polícia Federal descobriu, no flat de um amigo de Geddel Vieira Lima, quatro caixas e oito malas de dinheiro que aparentemente são dele.

Até escrever sobre essas coisas faz mal. Há ladrões em cada canto.

Verdade

Cada nova revelação transforma a ladroeira antiga em dinheiro de troco.

O cenário

Caso as falhas na delação levem ao fim dos fabulosos privilégios dos Batista, ou de pelo menos parte deles, que acontece com os denunciados? Há duas correntes: uma, seguindo a Teoria da Árvore Envenenada (cujos frutos são imprestáveis), suspenderia todas as ações iniciadas com base nas denúncias; outra (à qual Janot se filia), acha que os maus delatores podem ser punidos sem que suas revelações se percam. A imprensa tem noticiado, erradamente, que esta ala defende o uso das provas trazidas pela delação. Mas não há provas: há denúncias que devem ser verificadas e confirmadas.

Por que, Janot?

Por que o Ministério Público deixou a Polícia Federal fora do caso Joesley? Sem a Federal, a investigação foi falha – tanto que de repente surge um áudio de quatro horas que tira tudo do lugar. Por que Janot não iniciou processo contra o presidente Michel Temer, quando sugeriu que poderia estar envolvido com Joesley e Marcello Miller – e insinuou que o perdão aos irmãos Batista foi generoso demais? Por que aceitou, sem reação, que Gilmar Mendes o chamasse de desqualificado? Por que aceitou premiar a delação de Joesley, quando a lei diz que chefe de quadrilha não pode ser beneficiado? Joesley admitiu ter subornado 1.820 políticos, mais procuradores, ministros e juízes Só pode ser chefe, jamais subalterno.

Cavalheiro, gentleman

Frase de Joesley, na tal gravação, em conversa com seu diretor Ricardo Saud, referindo-se a uma senhora que participava das negociações entre o grupo e o MP: “Já falei para o Francisco (de Assis Silva, diretor jurídico da JBS), você tem até domingo para comer a (nome da senhora). Se não, eu é que vou comer. Francisco, é trabalho! Vou te dar até domingo que vem. Ou eu é que vou fazer o serviço. Um de nós tem de botar ela na cama”.

Geddel vai às compras

Quando Antônio Carlos Magalhães era presidente do Senado, mandou preparar um vídeo, “Geddel vai às compras”, mostrando o crescimento dos bens do deputado. Mais tarde, ACM se referiu a Geddel como “agatunado”. ACM era autoritário, muito controvertido, mas conhecia tudo de política.

Geddel é acusado de desviar R$ 20 bilhões do FI-FGTS – dinheiro de assalariados, que o Governo usava para emprestar a empresas que criassem empregos. Tirar do FI-FGTS é atingir a poupança popular dos dois lados.

Titular absoluto

O presidente Itamar Franco chamava Geddel de “carrapato de gabinete”. Ele, efetivamente, está sempre num bom gabinete: foi ministro de Lula e Temer, e vice-presidente de Pessoa Jurídica da Caixa com Dilma.

Mãe Dinah? Não, Gilmar

O ministro Gilmar Mendes, do STF, acertou a primeira previsão: de que o MP poderia ter problemas quando alguns de seus membros enfrentassem “uma montanha de dinheiro”. Cita dois problemas: Ângelo Vieira (que foi preso) e Marcello Miller. Agora, em suas palavras, faz mais duas “previsões oraculares”: haverá inconsistências em outras delações, como as de Delcídio do Amaral e de Sérgio Machado (da Transpetro); e Janot vai terminar como Protógenes Queiroz – que, por ilegalidades cometidas na Operação Satiagraha, foi condenado pela Justiça e escapou para a Suíça.


Carlos Brickmann - Chumbo Gordo domingo, 03 de setembro de 2017

O LIVRO DOS NOMES

anto o eleitor reclamou dos mesmos de sempre que foi atendido: nosso presidente da República, na viagem de Temer, é Rodrigo Maia, presidente da Câmara. Já não é um dos mesmos, embora seja filho do fluminense César Maia. No lugar de Maia, a presidência da Câmara, um político novo em folha: André Fufuca. Se o caro leitor não sabe quem é, vai continuar não sabendo. Cá entre nós, não faz falta. Deixando o cargo, Fufuca volta ao limbo, ao lado de deputados como Cabuçu, Petecão, Carimbão, Salame, Chapadinha, Junior Marreca e Kaio Maniçoba. Todos bem pagos por nós.

 

Temer, Fufuca, Maia

Os novos não são problema: se não têm o que mostrar, são baixo clero para sempre. O problema é que os mais antigos e experientes, bem mais conhecidos, têm muito o que mostrar. Dois dos ministros de Temer, Geddel Vieira Lima e Henrique Alves, estão presos. Outro ex-ministro, Romero Jucá, é alvo de 14 inquéritos no Supremo. Oito ministros têm desempenho inferior: Blairo Maggi, Bruno Araújo, Aloysio Nunes, Moreira Franco, Helder Barbalho, Eliseu Padilha, Marcos Pereira e Gilberto Kassab estão sob investigação no Supremo. Seu assessor e amigo próximo Rocha Loures está em prisão domiciliar. Seu ex-assessor Tadeu Filippelli está solto, mas em maio passou alguns preso. Todos foram amplamente citados em delações premiadas. E o próprio Temer só não corre – agora – o risco de impeachment porque a Câmara negou autorização para investigá-lo.

Tá faltando um

Há ainda um político não tão próximo de Temer, mas seu aliado, que também enfrenta dificuldades: Eduardo Cunha, preso em Curitiba.

Questão de título

O problema é que, seja experiente, seja novo, seja cabeça-branca ou cabeça-preta (e onde é que localizariam o deputado catarinense Esperidião Amin?), parece que o político, para conquistar notoriedade e poder, não precisa ter currículo: basta exibir o prontuário.

Vai, volta…

Temer assumiu a Presidência da República, há pouco mais de um ano, prometendo colocar em ordem as contas, reduzir o número de ministérios, eliminar gastos. O que fez: deu generosíssimos aumentos a servidores já bem pagos, elevou a meta do déficit fiscal, mandou alugar um Boeing, maior que o AeroLula, para suas viagens, não dispensa nem a hospedagem no hotel mais caro de cada país que visita. Anunciou o fim do Ministério da Cultura, o Ministério da Cultura continua firme e forte. Mandou adaptar o Palácio da Alvorada, a residência oficial, para a segurança de uma criança, seu filho Michelzinho, e em seguida decidiu não se mudar para lá.

… adia

A última iniciativa dessas foi mudar o tipo de uso da Renca, reserva na Amazônia para mineração de cobre. A Renca era herança do regime militar: 47 mil km², do tamanho do Espírito Santo, reservados desde 1984 à pesquisa de minérios e mineração. Como deveria ser tocado por estatais, o projeto encruou. Temer o abriu para a iniciativa privada. Como de hábito, a comunicação oficial falhou. Passou para o público que Temer tinha liquidado uma reserva ambiental, para ajudar mineradores estrangeiros a lucrar com a devastação. Não era, mas Temer ainda deu dois recuos: 1) trocando o decreto por outro mais claro; 2) criando prazo de 120 dias para estudar o assunto. Daqui a quatro meses, quem vai se lembrar disso?

Dez vezes Joaquim Barbosa

Depois de longo silêncio, o ministro aposentado do Supremo Joaquim Barbosa volta a tratar de temas nacionais. Disse ao jornal Valor:

1 – Em nenhum país do mundo o presidente continuaria no cargo depois das acusações que Temer sofreu.

2 – Temer deveria ter a honradez de deixar a Presidência.

3 – É favorável às reformas propostas pelo Governo Temer, mas acha grave que sejam conduzidas por um Governo não respaldado pelo voto.

4 – Defende campanhas eleitorais mais curtas, com financiamento público “moderado”.

5 – Lula não deveria ser candidato. “Vai rachar o país ainda mais”.

6 – Não é candidato, mas percebe seu potencial. “Por onde vou as pessoas me abordam. Há potencial, mas não incentivo isso”.

7 – A denúncia contra Michel Temer é muito mais grave que as que levaram ao impeachment da presidente Dilma Rousseff.

8 – Um político que elogiou: Paulo Hartung, PMDB, governador do Espírito Santo. “Se eu entrasse nisso (política), iria chamá-lo.

9 – O país foi sequestrado por um bando de políticos inescrupulosos que reduziram as instituições a frangalhos.

10 – Parlamentarismo é, para esses políticos, a maneira de perpetuar-se no poder e se proteger. E já foi rejeitado duas vezes pela população.


Carlos Brickmann - Chumbo Gordo quarta, 30 de agosto de 2017

MATA, QUE É POLÍCIA!

Há poucos dias, 26 de agosto, foi morto o centésimo PM do Rio em 2017. São 13 assassínios de policiais por mês. E o silêncio que se faz é atordoante, como se nada houvesse, como se PM não fosse gente. Imagine se matassem cem juízes, cem garis, cem religiosos. Haveria este silêncio?

 

 

Há 130 anos, em onze meses, Jack, o Estripador, matou cinco prostitutas em Londres, cortando-lhes a garganta. O assassino jamais foi identificado, mas a Inglaterra se mobilizou para localizá-lo. E, 130 anos depois, seu nome ainda é lembrado. Aqui, em oito meses morrem cem PMs – e não há qualquer comoção, excetuando-se a das famílias e a de quem é consciente.

Polícia é essencial em qualquer parte do mundo. Na Dinamarca, onde há educação de qualidade para todos, onde a desigualdade social é minúscula, há polícia, e eficiente. Só no Brasil se imagina que a Polícia, executora do monopólio estatal da força, pode ser desprezada. Após a ditadura militar, em que a Polícia aceitou gostosamente a permissão de atuar fora da lei, surgiu a crença de que os policiais foram os culpados pela violência, pelas torturas. Foram; mas houve também promotores que sabiam de tudo e se calaram, juízes coniventes, jornalistas cúmplices. Só os policiais pagam? E nem são mais os mesmos (que, dos velhos tempos, muitos passaram de vez para a vida fora da lei, trabalhando como bicheiros ou milicianos ferozes).

Quando nossa vida corre risco, quem é que chamamos? O ladrão?

Detalhes

O seguro de vida para o policial que expõe sua vida foi criado há pouco mais de 20 anos, pelo governador Mário Covas. Antes, não existia. Colete à prova de balas? Existe, mas não para todos. Um policial tem de esperar a volta do colega para pegar o colete dele, sem tempo sequer para arejá-lo. E, para enfrentar o poder de fogo dos bandidos, só armas nacionais, pequenas.

Como era, como é

Em 1983, ou 84, houve uma onda de assaltos a passageiros de ônibus. O governador paulista Franco Montoro determinou que PM fardado não pagasse passagem. A presença do policial no ônibus afastou os bandidos. Na época, tinham medo. Hoje, o policial esconde a farda fora do horário de trabalho. Não carrega seu crachá, pois os criminosos o matam se souberem que é policial. Os bandidos perderam o respeito. Não têm o que temer.

O crime e a pena

Lembra de Henrique Pizzolato, que foi diretor do Banco do Brasil, fugiu para a Itália usando documentos falsos com o nome do irmão falecido e foi condenado a 12 anos e 7 meses de prisão por corrupção passiva, peculato e lavagem de dinheiro? Ele começou a cumprir a pena em fevereiro de 2014, quando foi preso na Itália (veio para o Brasil em outubro de 2015). Faça as contas: 2014 mais 12 anos=2026, certo? Errado: Pizzolato já está no regime semiaberto, que lhe foi concedido pelo ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo. Dorme na cadeia. De dia, vai trabalhar na rádio OK FM, como assistente de programação, algo que jamais fez na vida. O salário é de R$ 1.800,00 mensais. Mas que fazer? A lei exige um emprego! A rádio pertence a seu companheiro de cela, Luiz Estêvão, hoje também seu patrão.

Exclusividade

Não estranhe o caso de Pizzolato. Num país onde Suzane Richthofen teve folga da prisão no Dia das Mães, que é que se pode esperar?

Sexo é ciúme

A delação mais esperada no país, hoje, é de um tipo diferente: tem, além da ladroeira, sexo, ciúmes, chifres, brigas federais. O que se sabe: um captador de recursos teve um caso com uma parlamentar federal casada. Houve belos hotéis, brigas com arranhões, ciúmes ferozes, erros (o marido entendeu que o casamento agora era aberto, e também andou escapulindo; a esposa não quis saber, e por pouco não se cria uma crise – o Chifrudão).

Sexo é cultura

Nomes? Imagine! Este colunista adora continuar vivo. Mas pitadas de cultura e pesquisa ajudam a chegar lá. Comece por Jacques Offenbach, compositor de sucesso, francês nascido na Alemanha, rei do can-can. E vá para Shakespeare, Julio Cesar, no monumental discurso de Marco Antônio nos funerais de Cesar. Termina aqui a parte cultural: o restante é briga feia de casal. Se a chefia não enquadra marido e esposa, a coisa iria longe. O fato é que os chifres doeram, mas pior seria perder os excelentes empregos.

E calou-se o sabiá

Recife, Praça N.S. do Carmo. Dia 25, a caravana de Lula parou ali para um ato público. Mas, no lugar em que queriam botar o palanque, havia uma palmeira imperial grande, de mais de 20 anos. Simples, não? Só montar o palanque ao lado. Mas o PT não perdoou: cortou a árvore. Os sabiás que entrem no MST.

 

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Carlos Brickmann - Chumbo Gordo segunda, 28 de agosto de 2017

O PAÍS DO AGORA, VAI

Gente de sucesso, profissionais mundialmente reconhecidos, deve disputar as eleições de 2018. Um deles, duas vezes escolhido o Melhor do Mundo, é Ronaldinho Gaúcho, do Podemos (ex-PTN) em Brasília. Pode tentar o Senado, onde ficará ao lado de seu companheiro de partido, Romário; ou buscar a deputança. No Rio, o fantástico Bernardinho, craque do vôlei e vitorioso técnico da Seleção, tem tudo para disputar o Governo, talvez enfrentando Eduardo Paes, o prefeito das Olimpíadas. E há Tiririca – que talvez desista, por achar que o Congresso não é lá essas coisas.

As demais articulações são semi-secretas (os envolvidos desmentem, mas um deles vaza a notícia). Aécio e Tasso se unem para evitar que Alckmin chegue agora ao comando nacional do PSDB. Mas Tasso garante que Alckmin deve ser o próximo presidente do partido, no fim do ano. E diz que Aécio, presidente licenciado, não volta ao comando: ele, Tasso, o presidente interino, é, em suas palavras, “o único presidente do PSDB”. Dória diz que não é candidato a presidente da República, Geraldo Alckmin diz que gostaria de ser candidato – o que não é novidade, porque já foi uma vez, perdeu, e hoje não trata de outro tema. Dória o apoia, mas corre o país em campanha. Fernando Henrique falou mal de Dória, mas se reuniram e tudo bem. Qual a verdade? No caso do PSDB, não creia em alianças. Mas acredite em notícia de briga de tucanos. Eles detestam uns aos outros.

Palpite distante

Falta mais de um ano para as eleições, e em política isso é muito tempo. Já é possível, porém, fazer uma primeira avaliação: Alckmin está na frente no PSDB. Deve apresentar-se como líder tranquilo, experiente, maduro, capaz de acalmar o país. Dória só sai se o eleitorado quiser alguém mais agressivo, capaz de enfrentar o embate com o Lulinha ex-paz e amor. Seu destino mais provável é o Governo do Estado. Deixar a Prefeitura no inicio do mandato? O vice é Bruno Covas, e isso ajuda: seu avô, também Covas, que foi prefeito e governador, deixou bom nome na política paulista.

Amizade é para sempre

O colunista Cláudio Humberto informa: nesta semana, ninguém achou em Brasília o senador Renan Calheiros. Renan foi a Alagoas para receber, na quarta-feira, os amigos da caravana de Lula, e depois ficou por lá. Aliás, a palavra “amigos” não é irônica: Renan apoiou Collor, Fernando Henrique, Lula e Dilma, e apoia Temer, embora às vezes dê uma falhada. É um dos políticos mais coerentes do país: o Governo pode mudar, mas Renan não muda. Está sempre com ele

 

Renan, Lula e Renanzinho

Muda sem mudança

A história de reformar a política sem definir qual a reforma que está sendo proposta não deu muito certo: o próprio presidente da Câmara, Rodrigo Maia, diz que o sistema eleitoral e o financiamento de campanhas devem continuar como estão. “É provável que a Câmara aprove apenas o fim das coligações para eleição proporcional e a cláusula de barreira” (que reduz drasticamente o repasse de recursos a partidos que não obtenham certo número de votos). É difícil acreditar que Suas Excelências desistam do financiamento público, mas todos sabem que usar dinheiro do Tesouro em campanhas é muito impopular. Financiamento público, diz-se nas ruas, é pagar para escolher aqueles que vão querer beneficiar-se cada vez mais.

Notícia triste

Não pode passar batida a impressionante notícia de um aluno de 15 anos agredindo a socos a professora Márcia Friggi, 52 anos, deixando-a com o rosto inchado e coberto de sangue. Este colunista é do tempo em que o aluno reconhecia a autoridade do mestre. Minha mãe era professora primária, severa; deu aulas em lugares difíceis – num deles, descia do ônibus e atravessava uma trilha de seus 200 metros na mata fechada. Difícil era, mas não perigoso. Ninguém imaginava que no futuro poderia haver agressões assim. Pior foi a desculpa do rapaz: que perdeu a cabeça depois de ser insultado, insulto que ninguém na sala ouviu. Napoleão Bonaparte dizia que a educação de uma criança começa cem anos antes de seu nascimento. Aqui, pelo jeito, ainda nem começou.

Boa notícia

Ainda é pouca coisa, mas já configura uma tendência: de acordo com a Federação do Comércio, o número de empregos cresce há três meses no setor atacadista. Só neste? Não: o atacado compra dos produtores. Se contrata mais empregados é porque a produção aumentou; e vende ao varejo, que se compra mais é porque tem mais clientes. É a primeira vez desde 2013 que há mais admissões do que demissões no mês de junho. A alta é de 0,1%, levíssima, mas consistente, repetindo-se mês a mês. O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, baseando-se em dados de outras fontes, afirma que o emprego e o produto interno bruto crescerão em 2018.


Carlos Brickmann - Chumbo Gordo quarta, 23 de agosto de 2017

LOBO E CORDEIRO, AGORA AMIGOS

Surpreenda-se (ou não): Lula disse nesta segunda, numa entrevista em Sergipe, que Michel Temer não fez nada de errado para conseguir derrotar na Câmara, logo no início, seu processo de impeachment: “Eu acho que o Temer fez o que qualquer presidente faria, buscar maioria para evitar que ele fosse cassado”. Veja o vídeo clicando aqui 

 

 

Lula, bom político, sabe que o pau que bate em Chico bate em Francisco e que os problemas de um são os mesmos do outro. Talvez variem em grau, mas bastam para encerrar carreiras políticas e colocar em risco o gozo, em liberdade, das aposentadorias pelas quais tudo fizeram. Lula sabe que, do outro lado, também há bons políticos, que preferem desfrutar as delícias do poder (ou da oposição) a evitar que seus adversários as desfrutem.

Fernando Henrique, por exemplo, já disse que buscar doações para o acervo de ex-presidentes (como a que o Instituto Lula obteve da OAS, mais de R$ 1 milhão) é absolutamente normal. Em depoimento ao juiz Sérgio Moro, lembrou que ex-presidentes são obrigados legalmente a manter o acervo presidencial, mas não há destinação de recursos nem de locais para isso. E Lula disse que Aécio jamais pediu algum cargo em seu Governo – com isso, livrou-o da acusação de ter cobrado propinas no período lulista.

Quem é lobo, quem é cordeiro? Tanto faz – ora um é um, ora é outro.

Time articulado

A direção nacional do PMDB promete punir os políticos do partido que se mostram mais amigos de Lula do que seria conveniente. O governador sergipano Jackson Barreto e seus seguidores seriam os primeiros, pelo calor da recepção a Lula, ora peregrinando pelo Nordeste. Outro alvo podem ser os Renans de Alagoas – o senador Renan Calheiros e seu filho Renanzinho, governador. Mas não é bem assim: o PMDB não vai perder governos cheios de bons cargos só para manter a coerência. E, a propósito, que coerência? Temer foi vice de Dilma. Romero Jucá, Renan e Padilha, até mesmo Gabriel Chalita, todos trabalharam juntinhos com o PT até que ficar com Dilma se mostrou inviável. O governador paranaense Roberto Requião é ainda tão pró-PT que até apoia Nicolás Maduro. Os dirigentes nacionais do PMDB fazem cara de bravos. Bem conversados são muito mais suaves.

Jogo profissional

Mas essa história de brigar no palco e acertar-se nos bastidores não é para todos: só para os profissionais. A senadora Kátia Abreu, por exemplo, que se transformou de líder ruralista em amiga de infância de Dilma, pode ser punida. Ela poderia até parecer muito amiga, mas só de mentirinha.

O mundo gira

No mundo real, a Lava Jato fez estragos de verdade: mesmo que grandes alvos escapem da prisão, imagens e popularidade foram prejudicadas. Um exemplo: em Miguel Leão, município de 1.474 eleitores no interior do Piauí, o prefeito foi cassado pelo TRE por abuso de poder político e houve eleições para substituí-lo. O Piauí é governado por um petista, Wellington Dias (que, segundo Lula, é um gênio da política). Em 2006, Lula teve 87% dos votos em Miguel Leão. O candidato de Wellington Dias e de Lula foi Jaílson de Souza, do PT. Lula gravou vídeo de 30 segundos, enviado aos celulares dos eleitores, dizendo: “O Jaílson é do PT, e você sabe que o PT sabe governar o Brasil, sabe governar Miguel Leão. Por isso, no domingo não esqueça, vote em Jaílson”. Mas quem ganhou, com 51,48% dos votos, e tomou posse nesta segunda, foi Roberto César, Robertinho, do PR. “O eleitor”, disse Robertinho, “sabe que Lula não é o santo que imaginava”.

 

 

A semana Lava Jato

Suas Excelências trabalham contra, mas a popularidade da Lava Jato se mantém em alta. Nesta semana, saem dois livros sobre caça a corruptos. O do procurador Rodrigo Chemim, do Ministério Público, Mãos Limpas e Lava Jato: a corrupção se olha no espelho (Citadel Editora), compara a Lava Jato à italiana Mãos Limpas e sugere mudanças para que nossa investigação vá ainda mais longe. Já à venda, R$ 40,00. E o do jornalista Carlos Graieb, PF – a lei é para todos, Editora Record. Primeira edição, 10 mil exemplares, já vendida. Também estreia um filme com o mesmo nome.

Fofoca da quente

Nota do ótimo portal jurídico Espaço Vital:

“Adultério arranhado – A rádio-corredor da OAB do Paraná aqueceu o frio curitibano, ontem (dia 21), com pitadas calientes sobre uma das muitas delações premiadas ainda mantidas em sigilo oficial pelos procuradores da Lava Jato. Trata-se do caso de um operador de propinas que confirmou seu romance com uma parlamentar federal que é… casada.

“As viagens ao exterior eram bancadas com recursos públicos, ou do propinoduto. O oblíquo casal temporário teve também brigas e arranhões causados por recíproco ciúme doentio.”


Carlos Brickmann - Chumbo Gordo domingo, 20 de agosto de 2017

NOVES FORA, ZERO, ZERO, ZERO

Lula está disposto a tudo para ser candidato – e, ao menos por algum tempo, livrar-se de Curitiba. E, para mostrar a seus adeptos que fora ele não há salvação, admitiu na Bahia a possibilidade de ser impedido de disputar a Presidência (é a primeira vez que fala em público sobre esta hipótese). Seu substituto, disse a Mário Kertesz, da Rádio Metrópole, seria escolhido entre os governadores Fernando Pimentel (Minas), Rui Costa (Bahia), Camilo Santana (Ceará), Wellington Dias (Piauí), e o ex-governador baiano Jaques Wagner. Fernando Haddad, que tenta viabilizar-se como candidato, não é citado: claro, perdeu a reeleição por ampla margem, e no primeiro turno.

Nas palavras de Lula, “o golpe (o impeachment de Dilma) não fecha” se ele não for judicialmente impedido de se candidatar. O risco é alto: Lula já foi condenado em primeira instância, por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, a nove anos e meio de prisão, e se seu recurso for recusado pelo Tribunal Regional Federal cai na Lei da Ficha Limpa. O problema é que, apesar da alta rejeição (que dificultaria sua vitória no segundo turno), ele é o primeiro colocado nas pesquisas. Os nomes que sugere como substitutos nem foram lembrados pelos pesquisadores. E, depois de Dilma e Haddad, a era dos postes, que só existiam por seu apoio, parece ter chegado ao fim.

Lula está em campanha – oficialmente, “caravana”, porque campanha antecipada é ilegal – por nove Estados do Nordeste. Visita 25 cidades.

“Caravana” de Lula na Bahia

 

…com quem andas

A comitiva de Lula na campanha – quer dizer, “caravana” – inclui Gleisi Hoffmann, presidente nacional do PT, acusada de crime eleitoral, lavagem de dinheiro e corrupção passiva, José Sérgio Gabrielli, ex-presidente da Petrobras, acusado de improbidade administrativa, e o ex-governador baiano e ministro Jaques Wagner – contra quem o Supremo determinou a abertura de processo, acusado de participação no esquema Odebrecht

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A bainha dos tucanos

O PT pode ter candidatos de menos, mas todos farão o que Lula mandar. Já o PSDB tem candidatos demais, três deles já derrotados pelo PT, outro derrotado dentro do partido quando quis se candidatar; e um que aparece bem, mas que por isso mesmo vem sendo sabotado pelos outros. No PSDB todos são amigos desde os bancos escolares, mas ainda acham que as costas uns dos outros são a bainha para seus punhais. Geraldo Alckmin e Aécio Neves, ambos já derrotados por Lula, vêm conversando sobre como anular João Dória Jr., com prestígio em alta (e com o dobro das intenções de voto de Alckmin, nas pesquisas). José Serra, surrado por Lula e Dilma, quer ser lembrado como candidato e não fala mal de Dória; mas seu aliado José Aníbal fala mal por ele. Tasso Jereissati, atropelado por Serra no PSDB quando quis se candidatar, é o presidente do partido – e mandou sozinho no programa de TV, criticado pelos demais tucanos (entre outras coisas, o programa atacou o Governo, em que o PSDB tem quatro ministérios dos bons). Todos querem derrubar Tasso; aceitam até Aécio de volta.

Ao mestre, com carinho

Mas Aécio teve de se licenciar da Presidência do PSDB quando foi alvo das gravações de Joesley Batista, a quem pediu R$ 2 milhões. Joesley diz que era suborno, Aécio diz que era empréstimo. E o Supremo, a pedido do procurador Janot, analisa a possibilidade de mandar prender o senador.

Outra possibilidade é antecipar para outubro a convenção nacional, que escolherá o presidente. E, inicialmente, antecipar as convenções estaduais. No caso, o favorito para presidente é o governador goiano Marconi Perillo.

O PSDB, como sempre, decidiu não decidir. Vão consultar Fernando Henrique, que não é candidato nem quer ser, para que decida por todos.

Quem parte e reparte…

Todos querem votar depressa a reforma política, mas só para garantir a mamata dos R$ 3,6 bilhões de financiamento público de campanha. Como fica a eleição (distrital, distrital misto, distritão, proporcional), não importa muito. Mas, sem decidir esses detalhes, como garantir já a dinheirama? Os parlamentares estudam qual o sistema que melhor lhes facilite a reeleição.

…fica com a melhor parte…

Na terça, promete o presidente do Senado, Eunício Oliveira, entra na pauta o pedido de urgência para extinguir o sigilo dos empréstimos do BNDES. O projeto é do senador Lasier Martins, do PSD gaúcho; e o PT é totalmente contra, com certeza por motivos técnicos e patrióticos. Lasier Martins cita casos em que o fim do sigilo permitirá que se entenda tudo: o porto de Mariel, em Cuba, empréstimo de US$ 682 milhões; o metrô do Panamá, US$ 1 bilhão. As empreiteiras são as de sempre.

…e conhece a arte

Do portal Quanto Custa o Brasil: lista de deputados federais e senadores em débito com a União.


Carlos Brickmann - Chumbo Gordo quarta, 16 de agosto de 2017

O CONGRESSO É FINGIDOR

Os assuntos em debate são da maior importância para o futuro de todos nós: reforma política, reforma da Previdência, reforma trabalhista. Mas, para quem os debate, o futuro de todos nós não tem a menor importância: Suas Excelências só querem saber o que é bom para suas carreiras. Até que acertem o deles, fingem que debatem o que precisaria ser debatido a sério.

A reforma política deve buscar um sistema de governo que funcione, uma campanha eleitoral mais barata, uma representação mais autêntica. Para que o Governo funcione, é preciso ter menos partidos – mas enquanto houver abundância de dinheiro público à disposição, mais partidos serão criados. Fala-se numa campanha eleitoral mais barata, única maneira de evitar que os candidatos sejam reféns de seus doadores de campanha; e se imagina o tal “distritão”, que exigirá campanhas mais caras que as atuais, já que os políticos de agora entram na disputa com tremenda vantagem. E nem se pensa em representação mais autêntica – nada que dificulte a vida, por exemplo, de um exibicionista que tatua nos ombros seu puxa-saquismo.

A reforma da Previdência não levou em conta, até hoje, sua capacidade de pagamento. Não dá para usar metade do dinheiro pagando aposentadoria integral a 10% dos aposentados, e a outra metade pagando pouco a 90%. Falta dinheiro, o Tesouro cobre; e quando acabar o dinheiro do Tesouro? A reforma vai gerar chiadeira. Mas que se há de fazer, se falta o dinheiro?

O custo da campanha

Imaginemos que o caro leitor queira se candidatar a deputado por Minas. É honesto, competente, mas não famoso, como Tiririca; e não tem um reduto próprio, como o sindicalista Paulinho da Força. Terá de fazer campanha em 853 municípios, montar uma frota (cada carro com quatro funcionários, dois motoristas e dois pregadores de cartazes, em dois turnos), pagando pneus, combustível, seguro, consertos, alimentação e hospedagem de toda a equipe. Terá de imprimir cartazes anunciando a candidatura. Precisará de cabos eleitorais, sempre pagos. Pense no custo. O voto distrital reduziria os gastos. Claro que o desenho dos distritos vai gerar chiadeira. Quem foi eleito pelo atual sistema não quer outro que possa lhe causar problemas. Mas ou muda o sistema ou cada candidato dependerá de doadores incapazes de decepcioná-lo – e bem capazes de cobrar por isso.

A festa do dinheiro

A próxima campanha já tem, garantidos, R$ 5 bilhões e 400 milhões de recursos públicos – o seu, o meu, o nosso dinheiro. Há 3,6 bilhões a dividir pelos partidos; há R$ 1,8 bilhão gastos no pagamento das emissoras pelo horário “gratuito”. Há ainda o Fundo Partidário: perto de R$ 1 bilhão por ano, pingando mês a mês no caixa dos partidos. Há poucos anos, quando o fundo era de pouco mais de um terço do atual, o presidente de um partido obscuro se queixava de receber “a merreca de R$ 100 mil mensais”. Se há dinheiro sobrando, haverá partidos sobrando. Por que não criar um partido para receber o Fundo Partidário, alugar seu horário gratuito na TV, oferecer a legenda para algum candidato correto – ou seja, que pague em dia – se tudo está disponível para isso? Com dinheiro se faz até uma aliança sincera.

Quem é quem

E, esquecendo todos os fatos acima, é bom lembrar quem é que discute a reforma política. O maior partido, o PMDB, é dirigido por Romero Jucá; o PT, por Gleisi Hoffmann; o PP, por Ciro Nogueira – por coincidência, os três com problemas no Mensalão. Quem preside o PSDB é Aécio Neves, que acaba de se livrar do inquérito de Furnas. O PTB é controlado por Roberto Jefferson, que já cumpriu pena por seu papel no Mensalão, e o PR segue Valdemar Costa Neto, que há pouco deixou a prisão. Difícil, não?

 

 

Nuvens passageiras

Política, ensinava o mineiro Magalhães Pinto, é como nuvem: você olha e ela está de um jeito, olha de novo e ela já mudou. Não vale a pena, pois, especular, faltando mais de um ano, sobre o candidato do PSDB às eleições de 2018. Mas pode-se dizer que a guerra Dória x Alckmin existe mais na torcida de quem não gosta de um ou de outro do que na vida real. Alckmin e Dória, aparentemente, repetem a dança (que deu certo) da escolha do primeiro presidente civil da República, após a ditadura militar: Tancredo e Ulysses posicionados, Franco Montoro à espera, e o que estivesse em melhor posição no momento da escolha sairia candidato com o apoio dos demais. Saiu Tancredo e se elegeu com apoio de Montoro e Ulysses.

A vida como ela é

Diversão garantida hoje, na Câmara dos Deputados: está marcada para hoje a sessão em que representantes da empresa argentina Pampa Energía serão ouvidos sobre a compra da Petrobras argentina por US$ 892 milhões, no último dia do Governo Dilma, e efetivada pelo presidente da empresa, Aldemir Bendine, hoje preso. O PSDB considera que o preço foi baixo.


Carlos Brickmann - Chumbo Gordo domingo, 13 de agosto de 2017

GANHAM TUDO E MAIS UM POUCO

A monarquia balançava, mas e daí? Em 9 de novembro de 1889, na Ilha Fiscal, Rio, houve luxuoso baile em homenagem aos tripulantes do navio chileno Almirante Cochrane. Ali se gastou 10% do orçamento anual da província do Rio. Seis dias depois, caiu o imperador e veio a República.

Michel Temer balança, é uma pinguela, como disse Fernando Henrique, mas e daí? O Governo enfrenta um buraco de R$ 139 bilhões; não sabe onde buscar mais R$ 20 bilhões para chegar até o fim do ano; e a Câmara destina R$ 3,6 bilhões de dinheiro público para pagar a campanha eleitoral. O leitor (não o chamo de “caro leitor” porque caro é o deputado) quer pagar a campanha de alguém? Pois terá de fazê-lo. E, se os R$ 3,6 bilhões são a maior fatia do bolo, não são o bolo inteiro: há o Fundo Partidário e o horário gratuito, mais uns R$ 2 bilhões. Ainda temos a troca de carros do Senado, 83 Nissan Sentra novos para o conforto das senatoriais bundas.

O Rio do Baile da Ilha Fiscal não paga o salário dos servidores há três meses. Mas o governador Pezão licita o aluguel de um jatinho para seu uso, gastando R$ 2,5 milhões por ano – assim viaja na hora que escolher.

Mas não culpe apenas os governantes descontrolados e os parlamentares pelo delírio. O Tribunal Regional do Trabalho da 5ª Região, Salvador, licita empresa “para assessorar magistrados e servidores em aulas de corrida e caminhada”. Enfim, querem tudo! Não percebem que a paciência acabou?

Um limite, enfim

Carmen Lúcia, presidente do Supremo Tribunal Federal, decidiu não pedir elevação do orçamento. O aumento dos ministros é de 3%, e ponto final. Com isso, sufocou a reivindicação do Ministério Público, que queria quase 17%. O salário dos ministros do Supremo é, por lei, o máximo que o Estado pode pagar a qualquer servidor (na prática, há inúmeras brechas legais, e há quem ganhe o triplo dos vencimentos de um ministro).

Lavando…

A informação publicada na coluna anterior, a respeito da grande união para estancar as investigações da Lava Jato e congêneres, cada vez mais se confirma: a Polícia Federal enviou ao Supremo o resultado da investigação sobre Aécio Neves, informando que não há motivo para pedir que ele seja processado. Um dos pontos-chave da conclusão da PF foi o depoimento de Lula, seu adversário político, segundo o qual Aécio “não pediu nenhum cargo em nenhum de seus mandatos”. Lula disse ainda que não acredita que Aécio “possa ter pedido qualquer cargo a algum de seus ministros”.

…a Lava Jato

Antes disso, Fernando Henrique já tinha dito ao juiz Sérgio Moro que a posse de presentes recebidos como presidente e a busca da doação de recursos para mantê-los e armazená-los é prática normal. Por lei, os objetos são de interesse público, e portanto o governante não pode larga-los no depósito do palácio. Tem de levá-los; o transporte, segurança e manutenção são caros, e por isso há a procura de doadores que enfrentem as despesas. E o Governo ainda não tem meios para receber os presentes, catalogá-los e distribuí-los por seus museus. Fernando Henrique disse que, a seu ver, se o ex-presidente quiser pode até vender os presentes, depois de oferecê-los ao Tesouro, mas que ele não o fez e que Lula também não o havia feito. Com isso, Fernando Henrique praticamente matou um dos processos contra Lula.

Foice e martelo, mas de grife

socialite Roberta Luchsinger, membro da família que controla o banco Credit Suisse e ex-mulher do delegado Protógenes Queiroz (hoje foragido, com sentença de prisão transitada em julgado), decidiu doar dinheiro e objetos a Lula, no valor de R$ 500 mil, para que ele não fique sem recursos, já que o juiz Sérgio Moro mandou bloquear pouco mais de R$ 9 milhões de suas contas. Roberta Luchsinger ofereceu a Lula um cheque de perto de € 30 mil (mais de cem mil reais) e objetos como sapatos Louboutin, relógio Rolex e vestido Chanel; e pediu aos admiradores de Lula que também façam doações, em dinheiro ou objetos que possam ser vendidos para gerar mais recursos. Roberta não é petista, mas está próxima do partido: quer ser candidata a deputada pelo PCdoB.

As armas turcas

A PM paulista promoveu licitação internacional para comprar cinco mil pistolas .40. Até agora, a Taurus era a fornecedora obrigatória, por ser a única nacional; mas não pôde participar porque vendeu à PM armas com problemas. Primeira surpresa: fabricantes como Colt, Jericho, Sig Sauer, Glock, H-K, Smith & Wesson, Uzi, Walther não entraram na concorrência, que ficou restrita a duas marcas: Beretta, italiana, e Girsan, turca. Segunda surpresa; a Girsan, pouco conhecida no Brasil, venceu a Beretta. O preço foi mais baixo e a arma deve ser boa, já que obedece aos padrões da OTAN; mas por que outros fabricantes decidiram não entrar?


Carlos Brickmann - Chumbo Gordo quarta, 09 de agosto de 2017

ATRÁS DA PORTA

O PT, liderando a esquerda, quer se vingar de Temer, derrubando-o. Os partidos adversários querem botar Lula na cadeia e destruir o PT. Temer está disposto a ser impopular para reformar o Brasil. E a Mula sem Cabeça expele fogo pelo nariz – que, como os bens de certos políticos, não é dela.

Para acreditar numa dessas lendas, melhor acreditar na da Mula sem Cabeça. Vai decepcionar-se menos. Os fatos: o PT gostaria de se vingar de Temer, muita gente quer botar Lula na cadeia, e Temer, que já é impopular mesmo, sabe que ou há reformas, e rápido, ou o Brasil quebra. Quem perder essas brigas ficará com menos poder, menos mordomias. É chato, mas tolerável. Já o adversário real, Sérgio Moro (e outros juízes, e promotores), põe em risco boa parte da fortuna, todo o poder e a liberdade dos políticos da esquerda à direita. Para o poderoso, como tolerar a cadeia?

Neste momento, os inimigos entre si negociam como se amigos fossem, para neutralizar a Lava Jato e outras iniciativas semelhantes. Há manobras subterrâneas, como a redução das verbas, a redistribuição dos inquéritos; e há manobras abertas, de denúncia de questões reais de chefes das ações anticorrupção – procuradores e juízes com penduricalhos salariais que ganham acima do teto constitucional, longas prisões sem julgamento, bons acordos, muito bons, para delatores. Afinal, ninguém imaginaria que o Poder se entregasse sem usar todos os recursos – até mesmo os legais.

A raiz da luta

Aliás, a guerra entre Gilmar Mendes (STF) e Janot faz parte da questão.

 

 

A lei anda!

Há um projeto de lei na Câmara, o PL 6726/2016, que está parado desde o último 15 de dezembro. Agora, um deputado do PPS do Paraná, Rubens Bueno, decidiu cuidar do caso: está coletando assinaturas para colocar o projeto em votação, em regime de urgência. Uma coincidência: o PPS faz parte do bloco governista, e o PL 6726 fecha as brechas para salários superiores ao teto constitucional de servidores públicos, atingindo grande número de magistrados e promotores. Auxílio-moradia, auxílio-educação, vencimentos, tudo terá de caber no teto constitucional de R$ 33.763,00, equivalente aos vencimentos de ministros do Supremo. Só em São Paulo, 718 magistrados recebem mais que o teto constitucional.

Inimigos amigos

E que ninguém estranhe a aliança de inimigos tradicionais diante de um inimigo comum mais perigoso. Faz parte do jogo. Quando a Alemanha nazista invadiu a União Soviética, o dirigente britânico Winston Churchill se aliou formalmente ao líder soviético Yossef Stalin, a quem sempre atacara com dureza. Quando lhe cobraram a mudança de posição, Churchill explicou: “Se Hitler invadisse o Inferno, eu faria pelo menos uma referência favorável ao Sr. Demônio na Câmara dos Deputados”.

Por falar em benefícios

A petroquímica Braskem, joia do grupo Odebrecht, estuda a mudança de sua sede para os Estados Unidos. Lá está investindo US$ 2,2 bilhões numa nova unidade. Segundo o presidente da empresa, Fernando Musa, “nos próximos cinco ou dez anos”, a Braskem vai investir fora do Brasil. Aqui, pouca coisa, “sem um salto relevante”. A Braskem nasceu poucos meses antes do início do Governo Lula, e se transformou rapidamente numa gigante mundial. A Odebrecht tem 38,25% do capital; a Petrobras, 32,15%. A Odebrecht, controladora da Braskem, fez acordo de delação premiada para que seu presidente, Marcelo Odebrecht, já condenado, pudesse cumprir a pena em casa, a partir do dia 19 de dezembro.

A união dividida

Quanto à esquerda, foi-se o tempo em que o PT comandava um bloco unido. Quando a Câmara apreciou a denúncia contra o presidente Temer, o PT, que queria evitar a votação, sugeriu que os deputados de esquerda não dessem número para a sessão na qual a denúncia seria rejeitada; e Temer continuaria exposto ao desgaste da luta para sobreviver. O PCdoB quis marcar posição, compareceu, votou em bloco contra Temer. Outra divisão: o governador do Maranhão, Flávio Dino, do PCdoB, candidato à reeleição, avisou os aliados de que Roseana Sarney, PMDB, que andava meio sumida, voltou com força total e, no comando do poderoso esquema Sarney, pode retornar ao poder. O PT ainda não se mexeu (há até quem esteja com Roseana) para salvar Dino, o aliado candidato à reeleição

Fora do tom

E há um caso curioso, o de Agnaldo Timóteo, que passou por vários partidos, entre eles o PDT, parte da aliança de esquerda. Ele cometeu o imperdoável pecado de falar mal de Leonel Brizola, fundador e ídolo do partido. Falar mal de Brizola, para o PDT, é como, para o PT, falar mal de Lula: uma heresia. Timóteo está entrando no PT. O PDT já resmunga.


Carlos Brickmann - Chumbo Gordo domingo, 06 de agosto de 2017

CAMINHOS CRUZADOS

Vencido o primeiro obstáculo à sua permanência no poder (o procurador Rodrigo Janot pretende propor outros), Michel Temer ganha fôlego para mudar a imagem ruim do Governo: até o fim do ano, aprovar a reforma tributária e da Previdência. É provável que já tenha votos para isso: os 263 que se expuseram e o apoiaram na impopular rejeição da denúncia contra ele (e são maioria absoluta), mais alguns dos 62 que aceitaram a denúncia mas apoiam as reformas e integram partidos da base governista. Se conquistar 45 votos, terá os 2/3 necessários para emendas à Constituição.

Não haverá represálias, portanto, contra os que, embora governistas, não o apoiaram. Primeiro, porque precisa deles para chegar à maioria de 2/3; e porque não é seu estilo. Temer perdoa – mas não esquece quem perdoou.

A luta pelas reformas, acredita o Governo, pode tirar o foco da opinião pública dos políticos de quem é próximo, e que, para usar uma frase gentil, não chegam a representar uma renovação. De velhas raposas espertas, que passam de um governo a outro, o país se cansou. O foco do eleitorado seria transferido para a Economia, para a inflação em baixa e, apesar da crise, para a leve tendência de melhora no nível de emprego e nos investimentos.

O Congresso já não debate a luta Temer X Janot. Só se preocupa com o dinheiro público na campanha eleitoral. Uns R$ 4 bilhões – e quem quer debater outro assunto? Talvez só você, caro leitor, que vai pagar a conta.

Tem mais, tem mais

Não pense que a conta vá parar nos R$ 4 bilhões para a campanha. Ainda há R$ 1,5 bilhão anual do Fundo Partidário. Não é coisa nova, mas cerca de três anos atrás a conta era de aproximadamente R$ 300 milhões.

Agilidade total

O Congresso tem pressa de votar o financiamento público de campanha, ou “bolsa-eleição”, para os íntimos. A votação, na Comissão de Reforma Politica da Câmara, deve começar na terça, dia 8, e terminar na quinta, dia 10. Imediatamente depois, vai para votação em plenário, na Câmara e no Senado. Estará aprovado em setembro, sem falta, para vigorar em 2018.

O voto e o candidato

Deve ser também reformado o sistema de escolha dos parlamentares. Hoje vigora o voto proporcional: a votação de todos os candidatos de um partido é somada e verifica-se quantos lugares o partido conquistou. Os candidatos mais votados vão ocupando as cadeiras. O problema do voto proporcional é que o eleitor vota num candidato e elege outro; e os partidos procuram pessoas populares, mesmo sem noção do que é política, para “puxar votação”. Tiririca levou para a Câmara um bom grupo de parlamentares puxados por seus votos. A mudança mais provável é o “distritão”: os mais votados de cada Estado ocupam as cadeiras. Parece mais democrático; mas os partidos perdem importância porque o candidato não depende mais do voto dos companheiros (e o Governo é obrigado a negociar com um por um, o que sai muito mais caro): e a tendência é que se elejam os candidatos mais conhecidos, o que reduz a renovação. Sendo o Congresso é o que é, imagine-se com renovação mais lenta!

Apenas um retrato…

O país sofre hoje de pesquisite aguda: um ano e meio antes das eleições, antes que se saiba quem serão os candidatos, sem que se saiba quais os temas em debate, já há pesquisas até sobre segundo turno. Para dar uma ideia de quão longo é esse tempo, no final de 1991 o senador Fernando Henrique Cardoso achava difícil se reeleger (foi o que disse a este colunista e ao hoje editor de livros Luiz Fernando Emediato, numa conversa em San Francisco, EUA). Achava difícil até ser eleito deputado federal e pensava em voltar para a vida acadêmica. Pouco mais de dois anos depois, elegia-se presidente da República no primeiro turno, derrotando Lula.

…e como dói

A pesquisa, hoje, mostra que 5% dos eleitores apoiam Temer – ou seja, consideram seu Governo “ótimo” ou “bom”. Mas, como nota o excelente colunista gaúcho Fernando Albrecht, há algo como 20% dos pesquisados que consideram seu Governo “regular”. Ou seja, não o acham lá essas coisas, mas o aceitam com tranquilidade. Somando tudo, dá um quarto do eleitorado. Impopular, sim; mas não se pode dizer que Michel Temer não tenha um bom contingente a seu lado.

A reforma como ela é

Chega de achismos, chega de análises de quem não leu a lei da reforma trabalhista mas opina, contra ou a favor, com base no apoio ou oposição ao Governo. O advogado trabalhista Sérgio Schwartsman, bom profissional, leu a lei e mostra os pontos em que mudou, favorecendo assalariados ou empregadores. Schwartsman foi escolhido pela Globonews para explicar a lei. E põe cláusula por cláusula, por escrito. Confira clicando aqui.


Carlos Brickmann - Chumbo Gordo quarta, 02 de agosto de 2017

FICA COMBINADO ASSIM

Aldemir Bendine, na Polícia Federal, disse que entrou no Banco do Brasil como office-boy. Saiu de lá como presidente, para assumir a Presidência da Petrobras. Está preso como suspeito de corrupção no Banco do Brasil e na Petrobras. Bendine disse também que é um homem honrado.

O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, recebeu R$ 217 milhões da JBS, segundo disse, como pagamento por trabalho realizado quatro anos antes. Talvez, claro, tenha esquecido de fazer a cobrança; e, é claro, a JBS é que deve tê-lo lembrado do caso, pois fazia questão de não ficar devendo.

Michel Temer divulgou nota, segunda-feira, chamando seu delator de “o bandido Joesley Batista”, chefe de quadrilha e “meliante da Friboi”. E pensar que Temer, talvez por não ter informações sobre ele, o considerava tão boa gente que o recebia em casa, sozinho, para prosear, trocar ideias!

Já Joesley publicou artigo se queixando de que, de uma hora para outra, deixou de ser tratado como “maior produtor de proteína animal do mundo” e passou a “bandido confesso”, entre outras “expressões desrespeitosas”. E só porque confessou ter comprado políticos e autoridades para favorecê-lo.

Nesta terça, saiu a medida provisória que perdoa a dívida dos produtores rurais com a Previdência. Mas, claro, isso não tem nada a ver com os votos da bancada ruralista, hoje, no processo contra Temer. Pura coincidência.

Orson Welles filmou, no Brasil, É tudo verdade. Não concluiu o filme.

 

 

Então, tá

As pesquisas de terça-feira revelaram que ainda havia muitos indecisos: votar contra Temer ou não? Por exemplo, no DEM, partido aliado a Temer, 21 deputados de uma bancada de 29 se declaravam indecisos. Eles não iriam mentir, não é? Não conseguiam chegar a uma conclusão, na véspera da votação, depois de três meses de debates sobre o tema. É que, até a hora de votar, ainda podiam ser convencidos a apoiar um presidente com a caneta cheia de tinta, pronta para assinar medidas favoráveis á população.

Olhando o futuro

Embora no Brasil o passado seja imprevisível, o futuro pode ser visto com alguma facilidade. Por exemplo, nesta noite de quarta não haverá uma derrota de Temer. Quem quiser autorizar a abertura de inquérito pelo STF a respeito do presidente precisará reunir 342 votos. Menos do que isso, pode ser até 341 a zero, o pedido será rejeitado. O que pode acontecer: conforme garantiu o presidente da Câmara, a sessão só será aberta se 342 deputados estiverem presentes. Se não houver esse número, a questão será decidida em outra data. Temer terá empatado. Aberta a sessão, Temer terá ganho o jogo. Pode ser um número pequeno, mas a autorização estará negada. E uma grande vantagem, além de negar o pedido, será uma demonstração de força política de Temer: se, só com 5% dos eleitores a seu lado, ele tem essa maioria, imagine se fizer as reformas e reduzir mesmo as despesas.

Do avesso

Há algumas verdades em que é difícil acreditar. E algumas verdades consolidadas, em que todos acreditam, nem sempre são tão verdadeiras. Por exemplo, aquela clássica, de que a educação resolve todos os problemas.

O ótimo site jurídico Espaço Vital levantou uma pérola: a de que há algo em comum entre Emílio Odebrecht, Marcelo Odebrecht, César Mata Pires (OAS), Antônio Carlos Mata Pires (OAS), Ricardo Pessoa (UTC), o marqueteiro João Santana, Geddel Vieira Lima. Todos– alguns em épocas variadas, outros simultaneamente – foram alunos de uma das escolas mais conceituadas de Salvador, o Colégio Marista. Os Irmãos Maristas (ordem católica fundada por São Marcelino Champagnat) são reconhecidos em todo o Brasil como criadores de grandes escolas.

Lugar certo

Bolsonaro escolhe o PEN, Partido Ecológico Nacional, para disputar a Presidência da República em 2018. Não estranhem a escolha: Bolsonaro há muito tempo é ecológico. Adora o verde. O verde-oliva das fardas.

Banditismo escancarado

Um site de nome inocente publica na Internet notas favoráveis ao PCC, Primeiro Comando da Capital, uma das maiores facções do crime organizado do país. Publica também documentos do PCC, louva suas ações, destaca a disciplina que impõe, faz pouco do combate oficial ao crime organizado – e está agora sob investigação do Ministério Público, informa o repórter Cláudio Tognolli, em bela reportagem, documentadíssima. E preocupante: aonde vamos parar?

O literato

Lula, em entrevista à Rádio Tiradentes, de Manaus, Amazonas, disse:

“A palavra propina foi inventada por empresários e pelo Ministério Público para tentar culpar os políticos”.

Muitos dos quais gostaram da palavra e não querem viver sem ela.


Carlos Brickmann - Chumbo Gordo domingo, 30 de julho de 2017

OS MUDOS FALANTES

Um dos sintomas universais de crise é a epidemia de discursos de quem tem por obrigação manter-se calado. Juiz, ensina a tradição de nosso Direito, deve falar apenas nos autos. Aqui todos seguem este princípio: falam nos autos sempre que os repórteres enfiam os microfones pela janela, e só param de falar quando o motorista enfim pisa no acelerador. Generais devem falar nas ordens do dia, e até isso muitas vezes é perigoso; aqui, estão dando entrevista. E, como o general Sérgio Etchegoyen, de primoroso currículo, respeitado dentro e fora do Exército, falam da participação militar na segurança pública. Com um detalhe: ele sentado e o ministro da Defesa atrás, de pé, na condição de papagaio de pirata.

Vazamentos de informação de documentos usados como prova na Justiça têm fontes conhecidas: promotores interessados em punir futuros réus destruindo sua imagem pública, antes mesmo que sejam levados a julgamento. A técnica (a propósito, fora do bom procedimento legal) foi usada na Itália, na Operação Mãos Limpas. E é usada há muito tempo no Brasil, alegando-se informalmente que se não for assim os acusados, “que têm dinheiro para contratar bons advogados”, escaparão ilesos após cometer ilegalidades. Elogia-se quem contrata um bom médico, um bom arquiteto, mas quem contrata um bom advogado – hummmm, aí tem!

Mudos estão falando. E quando os mudos falam a democracia se cala.

Primeiro os meus…

Cá entre nós, essa história do Ministério Público pedir aumento de 16% não pode passar despercebida. Tem de pegar mal. Para padrões brasileiros, um promotor ganha bem: algo como R$ 30 mil. Mas não fica por aí: com o vale-alimentação, o auxílio-moradia, o auxílio-livro, as duas férias por ano, as diárias, há promotores em São Paulo que ganham R$ 130 mil mensais (a cifra, espantosa mas de fonte oficial, foi levantada pela Agência Públicacom base na Lei de Acesso à Informação). Boa parte dos promotores paulistas ganha mais que o teto salarial previsto na Constituição, o salário de ministros do STF. São Paulo gasta com o Ministério Público a soma das verbas destinadas a Habitação e Agricultura. E, considerando-se a ótima (e normalmente merecida) imagem pública dos promotores, que exemplo dão à população neste momento de crise, exigindo mais salários de um Tesouro exaurido?

…e os meus também

Mas não se critique um único grupo. O Senado decidiu alugar 85 carros para Suas Excelências, gastando R$ 8,3 milhões em 30 meses. São 83 Nissan Sentra para 80 senadores, e dois Hyundai Azera para o presidente da Casa – embora não haja nos anais menção a um presidente com duas bundas. O Azera este colunista não dirigiu; o Sentra é ótimo, macio, uma tentação. Mas sempre resta uma pergunta: por que temos de pagar carro aos parlamentares? Carro, casa, passagens – não é meio muito? E o motorista, também pago por nós, mas na conta do gabinete de cada parlamentar?

Busquemos um bom exemplo: nos Estados Unidos, há três carros oficiais de representação, um para o presidente de cada poder. Digamos que um juiz do Alasca seja convidado para a Suprema Corte: ele deve viver com seu salário, sem carro oficial, sem apartamento funcional. Ponto final.

…e os nossos?

Tadinho do Governo Federal, que deve manter o enorme buraco do Orçamento do tamanho em que está, sem aumento? Calma: a verba de publicidade de 2017 foi de R$ 153 milhões, uns 30% mais que em 2016.

Um dia, talvez

Dentro de poucos dias, 2 de agosto, a Câmara decide se dá autorização para que o Supremo investigue a denúncia apresentada pelo procurador Rodrigo Janot contra o presidente Michel Temer. Temer deve ganhar de lavada: fez o que podia e o que não podia para garantir que entre 250 e 300 parlamentares o livrem da chateação. Miro Teixeira, político experiente, a favor da investigação, jogou a toalha: não há condições de ganhar a parada.

Talvez, quem sabe

Quanto à lenda de que quem votar por Temer perderá votos, continua sendo uma lenda. Temer tem só 5% de aprovação – o menor índice desde o tempo da TV a lenha. O deputado Bonifácio Andrada, velho conhecedor do jogo, diz que basta uma discreta melhora na economia para absolver quem apoiar um presidente tão mal avaliado. A leve melhora até que está acontecendo: a taxa básica de juros caiu um ponto e deve diminuir de ponto em ponto a cada reunião do Conselho de Política Monetária, a inflação continua abaixo da previsão, há uma levíssima redução no desemprego. Mas os juros do cartão de crédito continuam perto de 500% ao ano. Bonifácio Andrada diz que o eleitor é fraco de memória e, diante de uma pequena melhora, esquece o que está errado. Mas cadê a pequena melhor?


Carlos Brickmann - Chumbo Gordo quarta, 26 de julho de 2017

VOTE EM – EM QUEM MESMO?

Lula candidato? Difícil: pode cair na Lei da Ficha Limpa, caso seja condenado em segunda instância. Mas também pode cair por outro motivo: foi condenado em primeira instância e é réu em outras ações. Da mesma maneira que Renan Calheiros foi mantido na Presidência do Senado, mas proibido de assumir a Presidência da República (era o segundo da fila) por ser réu, Lula não poderia ser candidato. Marco Aurélio, ministro do STF, diz que não é bem assim: o presidente não pode ser processado por fatos ocorridos fora de seu mandato. Mas a disputa judicial será longa. E envolve também Jair Bolsonaro, réu no Supremo. A lei é a mesma para ambos.

Lula, segundo pesquisa do Ipsos, tem 29% de intenções de voto. Um bom número – mas é o quarto entre os nomes pesquisados. Antes dele vêm Sérgio Moro (64%), Luciano Huck (45%), Joaquim Barbosa (44%). E a presidente do STF, Carmen Lúcia, está em seus calcanhares (28%). Só que nenhum destes nomes mais populares admite ser candidato.

Michel Temer? Política é como nuvem, muda de forma. Mas é difícil reverter sua rejeição recorde de 94%; e 95% dos pesquisados acham que o Brasil está no rumo errado. O PMDB é o maior partido do país, mas não tem candidato viável. O PSDB pode desistir de Aécio (rejeição de 90%), Serra (de 75%) e Alckmin (67%). Bolsonaro, fora eventuais problemas judiciais, tem rejeição de 53%. É hora de renovação: quem se apresenta?

O candidato

Lula se apresenta e no PT não tem contestação. Se não puder sair, seu candidato à Presidência é Fernando Haddad, mal avaliado como prefeito de São Paulo e derrotado no primeiro turno ao tentar a reeleição.

Frase notável 1

De Lula: “Sou o maior interessado na verdade“. Um estadista que sabia das coisas, Churchill, líder inglês na guerra ao nazismo, disse que a verdade é tão preciosa que deve ser protegida por uma muralha de mentiras.

 

Frase notável 2

Lula disse – disse mesmo, está gravado – que “a palavra propina foi inventada pelos empresários para tentar culpar os políticos – ou pelo Ministério Público (…) agora transformaram as doações em propina, então ficou tudo criminoso”. Parece incrível, mas Lula não deixa de ter razão.

Quando era sindicalista e denunciava essas coisas que na época só os outros faziam, não lhes dava o nome de propinas. Eram maracutaias.

A posição dos procuradores

Os jovens, bem preparados e corajosos procuradores estão preocupados: na reunião do Conselho Nacional do Ministério Público, no início desta semana, dedicaram boa parte do tempo à discussão de maneiras de evitar as restrições orçamentárias e conceder-se um sólido aumento de 16,7% (que naturalmente não se chamará “aumento”, mas “reajuste”). A reivindicação está para ser votada no Congresso. O problema é que, com o aumento – quer dizer, reajuste – os procuradores podem ganhar mais que os ministros do Supremo, que por lei têm os vencimentos mais altos dos servidores públicos. Outro problema: o aumento (desculpe, reajuste) não está previsto na proposta de orçamento para 2018. E vem mais: a subprocuradora-geral Maria Hilda diz que o aumento (a palavra escapou: é REAJUSTE) já está defasado, porque cobre perdas de 2014 a 2015. Falta reajustar dois anos.

Um empresário…

O empresário Domingo Alzugaray, 84 anos, proprietário da Editora Três e da revista IstoÉ, morreu nesta segunda-feira. Seu corpo foi cremado na terça. Alzugaray, modelo fotográfico na Argentina, mudou-se para o Brasil na década de 1950, a convite da Editora Abril, para trabalhar nas então populares revistas de fotonovelas. Cresceu dentro da Editora, da qual se tornou diretor. Mais tarde, em companhia de um notável jornalista, Luís Carta, e do empresário Fabrizio Fasano, montou a Editora Três.

 

…que faz falta

Montar uma editora de revistas para concorrer com Abril e Rio Gráfica (hoje Globo) demonstra ousadia; sobreviver à disputa, a competência. Este colunista se tornou seu admirador incondicional por um episódio que nada tem a ver com ousadia e competência, mas com caráter. Durante o regime militar, na mesma operação que prendeu o jornalista Vladimir Herzog, que seria assassinado, policiais foram à Editora Três para prender um de seus funcionários, Fernando Morais – hoje escritor de sucesso. Domingo Alzugaray e Luís Carta informaram aos policiais que o jornalista ainda não tinha chegado, e os levaram à sala da diretoria, com cafezinho, água gelada, uma bela recepção. A horas tantas, um dos dois saiu para ir ao banheiro e foi à mesa de Fernando Morais: “Cai fora que a polícia está atrás de você”.

Morais saiu, escondeu-se e sobreviveu. Carta e Alzugaray se arriscaram para salvá-lo, quando salvar alguém era perigoso. Devemos isso a eles.


Carlos Brickmann - Chumbo Gordo domingo, 23 de julho de 2017

VOA, DINHEIRO! E O DINHEIRO VOA!

 

Um presidente da República, na opinião de seus aliados, não pode se submeter à humilhação de um voo com escalas. Foi isso que Lula alegou para não usar um excelente jato da Embraer, que até serviria de propaganda para a indústria brasileira, e preferiu o Airbus conhecido como AeroLula. E Temer alega o mesmo motivo para alugar um Boeing 767: pode fazer viagens 2.500 km mais longas sem o incômodo de pousar para reabastecer.

No Interior de São Paulo, onde nasceram este colunista e Michel Temer, dir-se-ia: “Que frescura!” Ou, no caso de Lula e de Temer, talvez não seja frescura. Afinal, quem paga não são eles, somos nós. Eles só desfrutam.

Esquisitice: o AeroTemer é alugado de uma empresa, a Colt Transportes Aéreos, proibida de voar. Seu Certificado de Empresa de Transporte Aéreo foi suspenso há nove meses, pelo mesmo Governo que alugou o avião, entre outros motivos “por deficiência (…) de execução de tarefas de manutenção”. Outra empresa do grupo, a Colt Táxi Aéreo, teve a licença cassada pelo Governo por, segundo o jornalista Igor Gielow, da Folha de S.Paulo, que descobriu o caso, “problemas técnicos e trabalhistas”. Mas alguém no Governo tem bons motivos para confiar neles.

A Colt ganhou a licitação para alugar o Boeing até 2019 por US$ 19,77 milhões; o preço inclui manutenção e logística (o que a FAB poderia fazer com perícia) e seguro. No pagamento estão incluídos nossos impostos.

Pague, pague

O presidente dos Estados Unidos tem 377 pessoas trabalhando a seu lado. O presidente do Brasil tem 3.800, segundo levantamento do jornalista Cláudio Humberto. A Justiça americana tem um carro de representação: o de uso do presidente da Suprema Corte. Os demais magistrados americanos não têm carro de representação. No Brasil, a partir da segunda instância, os magistrados (800, aproximadamente) têm carro de representação, com motorista, combustível, tudo por conta do Tesouro – ou, falando claro, por nossa conta. Os EUA, com população 50% maior que a do Brasil, têm 78 deputados federais a menos. E, com 50 Estados, têm cem senadores. O Brasil, com 27 Estados, tem 81 senadores.

 

Pague mais, pague mais

Os magistrados americanos têm salário parecido com o dos brasileiros. Mas não têm os penduricalhos, como auxílio-moradia, auxílio-escola e gratificações diversas. Por lei, nenhum servidor público brasileiro pode ganhar mais que um ministro do Supremo, uns R$ 34 mil mensais. Mas há desembargadores com subsídios mensais de R$ 200 mil. Em média, segundo levantamento de O Estado de S.Paulo, em 2016 o desembargador mineiro ganhava pouco mais de R$ 56 mil mensais; o paulista, cerca de R$ 52 mil. Parlamentares brasileiros ganham mais que os canadenses, ingleses, japoneses, alemães, noruegueses, israelenses, suecos, franceses. Ainda têm plano ilimitado de saúde, apartamentos funcionais, auxílios diversos. E têm algo de valor inestimável: pagadores de impostos que sustentam tudo isso.

Fingindo, fingindo

Agora vai: o presidente Michel Temer decidiu enviar 800 homens da Força Nacional de Segurança para melhorar a segurança pública no Rio. Com isso, o Rio terá um total de mil homens do Governo Federal na área.

O Rio tem 46 mil soldados na Polícia Militar. Mais mil não são um reforço considerável. O Rio, por lei, deveria ter 60.471 PMs; e não tem. No Brasil, há um policial para 473 habitantes, diz o IBGE; parâmetros internacionais recomendam um policial para 250 habitantes. E, de preferência, bem armados, bem protegidos, bem pagos. Não devem precisar aguardar o colega para usar o mesmo colete à prova de balas. Nem devem morar na favela, submetendo-se às ordens de traficantes ou morrendo.

Terror, terror

Quando o presidente Michel Temer anunciou o envio de mais 800 soldados ao Rio, a Linha Vermelha, que liga o centro da cidade à Zona Sul e à Baixada Fluminense, foi interditada pela 15ª vez neste ano (na média, mais de duas vezes por mês), porque havia tiroteios na região. Quando o trânsito para, há arrastões. Enquanto isso, assaltantes pesadamente armados tomaram tudo de pacientes na fila do Instituto Estadual de Diabetes. E que faziam eles na fila? Aguardavam – o laboratório não estava funcionando.

De novo, de novo

O juiz Sérgio Moro marcou o interrogatório de Lula (em outro processo, o do sítio de Atibaia) para 13 de setembro. Não, Lula não terá de explicar os R$ 9 milhões que tinha aplicado num plano de previdência privada (a menos que o interrogatório se desvie da rota normal). Será, provavelmente, replay do interrogatório sobre o apartamento triplex na praia do Guarujá.

Mais interessantes serão as preliminares: Marcelo Odebrecht, no dia 4, e Antônio Palocci, no dia 6. Palocci, especialmente, pode trazer surpresas.


Carlos Brickmann - Chumbo Gordo quinta, 20 de julho de 2017

COMO ESTÁ, FICA

Não, caro leitor, o presidente Michel Temer não vai chutar o PSDB para fora do Governo. No máximo, pode reduzir um pouco a presença tucana (hoje são quatro ministros e sabe-se lá quantos ocupantes de cargos de confiança). Num momento difícil, Temer não pode dispensar apoios.

Não, caro leitor, Lula não vai ficar quieto, embora tenha sido condenado e esteja prestes a ser julgado de novo, agora pelo sítio de Atibaia. E seu alvo principal continua sendo o juiz Sérgio Moro, que irá julgá-lo. Lula não acredita que possa ser absolvido na primeira instância; só acredita que a Justiça, habitualmente lenta, não irá condená-lo em segunda instância antes de 15 de agosto de 2018, quando sua candidatura à Presidência já estará registrada. Se condenado em segunda instância, vira ficha-suja, sem poder se candidatar; mas, se já for candidato, terá como brigar. Não é uma tese pacífica: há quem diga que, no momento em que um candidato é condenado em segunda instância, a Justiça pode cancelar o registro. Mas dá margem para argumentar que só foi condenado para tirá-lo da eleição. E promete ser combativo, não permitindo que sua história seja maculada.

Não, caro leitor, nesta hora de definições, o Congresso não está funcionando. Senado e Câmara estão de férias. Voltam a se reunir no dia 2, e a pauta é a autorização ao Supremo para instaurar inquérito contra Temer.

Não, caro leitor, não reclame. Se o Governo parou, talvez o país ande.

PSDB total

A votação da denúncia contra Temer deve trazer surpresas. Em todos os partidos da base governista há gente disposta a votar contra o presidente a quem apoia – e, por tabela, contra seus próprios partidos, que têm cargos e portanto partilham a política oficial. Até no próprio partido de Temer, o PMDB, há dissidentes. Um, o deputado Jarbas Vasconcelos, acha que qualquer denúncia de corrupção tem de ser investigada. Outro, Osmar Serraglio, foi ministro da Justiça de Temer e não engoliu seu afastamento. Um é ligado ao ex-governador fluminense Sérgio Cabral e não tem qualquer apreço pelo presidente. Há quatro outros dizendo que ainda não decidiram (aliás, os críticos de Temer na base governista também usam a desculpa da indecisão). Em resumo, todos são PSDB. Em cima do muro.

Temer, vitória provável

O presidente tem excelentes probabilidades de vencer na Câmara. Seus adversários, para mandar investigar a denúncia, precisam de 342 votos. Até agora não conseguiram sequer 342 deputados, votem como votarem, para abrir a sessão. A oposição pode adiar a votação o quanto quiser, mas enquanto isso a pauta fica trancada. Quanto tempo os deputados resistem sem votar nada do interesse de seus eleitores e doadores de campanha?

O grande acordo

E, o que todos os envolvidos desmentem, há uma tentativa de acordo entre Governo e oposição para proteger-se mutuamente. Por enquanto a articulação é subterrânea, mas logo terá de aparecer em leis que limitem os poderes do Ministério Público e da Justiça. O interesse é de todos: um terço do Congresso está sob investigação. Será preciso rever a delação premiada, evitando acordos como o da JBS, reduzindo a vantagem legal do corruptor sobre os corruptos; endurecer as exigências para a ordem de condução coercitiva; punir os vazamentos de informações; limitar o prazo em que o suspeito pode ficar preso sem qualquer julgamento. Em suma, Sérgio Moro nunca mais. Na hora de votar essas medidas que beneficiam a eles todos, quem aceitará que fiquem trancadas por uma denúncia contra Temer?

Tucano x tucano

Aliás, o PSDB é um partido completo: ele mesmo escolhe seus líderes, ele mesmo fala mal deles, ele mesmo tenta destruí-los. Aécio não apoiou Serra nem Alckmin; nem Serra nem Alckmin apoiaram Aécio; nem Serra nem Aécio aceitam a candidatura de Alckmin. Os tucanos só se unem para lamentar a derrota do candidato que não apoiaram. A história se repete: Lula, embora lidere as pesquisas, tem rejeição gigantesca, e os tucanos unidos poderiam batê-lo. Mas o PSDB ainda é um partido de amigos em que todos são inimigos. O prefeito paulistano João Dória Jr. ganhou alcance nacional por seu bom trabalho em São Paulo. Aí surge seu colega tucano José Aníbal para acusá-lo de ser um péssimo prefeito, em cuja administração a cidade só piora. Dória tem 62% de aprovação na cidade.

A notícia agradável

E, saindo dessas coisas chatas, uma bela notícia: duas rádios públicas, a Rádio MEC (EBC, federal) e a Rádio Cultura (FPA, paulista), lançaram um programa de boa música brasileira, comandado por um conhecedor do assunto (e bom papo), Ruy Castro. Aos domingos, às 20h30, na Cultura FM (103,3 MHz) e na MEC FM (99,3 MHz) e AM (800 kHz). Vale pelas ótimas músicas, em gravações raras, preciosas; vale pelo ótimo Ruy Castro.


Carlos Brickmann - Chumbo Gordo domingo, 16 de julho de 2017

LULA CONDENADO, E DAÍ?

Além de nove anos e meio de prisão, a pena de Lula o proíbe de ocupar cargo ou função pública. Mas Lula não vai para a prisão; e a proibição do exercício de cargo ou função pública só passa a valer se for confirmada pelo Tribunal Federal de Recursos, TRF-4, em Porto Alegre. Mesmo se a apelação for negada, Lula ainda poderá ser candidato à Presidência, desde que a sentença não seja dada antes do fim do prazo de registro de sua candidatura. Resumindo: em termos penais e de lei eleitoral, não mudou nada. Com sentença ou sem sentença, Lula continua solto e é candidato.

A questão já não envolve o juiz Sérgio Moro. Tudo depende do eleitor. Se a condenação afetar o prestígio de Lula, a ponto de reduzir a tradicional fatia fiel de 25 a 30% do eleitorado, o PT, longe do poder, deve demorar para recuperar-se. Caso a prisão não afete o prestígio de Lula, o PT vai se recuperar da estrondosa derrota das últimas eleições. Com a anulação da pena, será candidato à Presidência e se apresentará como injustiçado, perseguido por querer reduzir a desigualdade social. E, se for preso, ficará como vítima e tentará eleger algum poste para presidente. Quem elegeu Dilma é capaz de tudo – embora, dessa vez, sem estar no Governo. Comenta-se que pensa em dois nomes: Fernando Haddad, ex-prefeito de São Paulo, e Guilherme Boulos, dos sem-teto. Ciro Gomes seria mais forte, mas não é do PT. E Lula jamais aceitou alianças sem o PT no comando.

 

 

Limpeza de ficha

A proibição de exercício de cargo ou função pública, mesmo confirmada pelo TRF-4, só entra em vigor após a confirmação (ou agravamento) da sentença, em Brasília, sabe-se lá quando. Mas existe a Lei da Ficha Limpa, que impede que condenados em segunda instância se candidatem. Lula, mantida ou ampliada a sentença, estará inelegível como ficha suja.

Caneta pesada

Agravamento da sentença? Sim: até agora, os três desembargadores da Oitava Turma do TRF-4, encarregados de julgar as apelações dos processos da Lava Jato, têm sido mais duros que Sérgio Moro. Em 23 apelações, libertaram cinco réus (incluindo João Vaccari Neto) e aumentaram as penas em 16 casos. De 365 pedidos de habeas corpus, concederam quatro.

Quem contra quem?

O PT tem candidato, Lula (ou quem Lula mandar). Ciro Gomes é candidato pelo PDT, correndo na mesma faixa do escolhido de Lula (se Lula se lançar, Ciro pode se aliar a ele). O PSDB oscila entre Alckmin, Serra e, apesar de tudo, Aécio; e pode lançar João Dória Jr., que subiu nas pesquisas pelo bom desempenho na Prefeitura de São Paulo. Em qualquer caso, sai desunido, como sempre. PSB e Rede, de Marina Silva, tentam convencer o ex-ministro do STF Joaquim Barbosa (lembra-se dele?) a entrar. Sem Barbosa, a Rede lança Marina. Há quem pense em Sérgio Moro. Há espaço para alguém sem passado político. Há Jair Bolsonaro, PSC, crescendo: busca o voto de quem tem saudades do regime militar.

Revivendo – a economia

Parafraseando um grande jornalista, Pedro Cavalcanti, a melhor coisa da ditadura militar é que todos tínhamos uns 40 anos a menos. Houve também, em parte do tempo, excelentes índices de crescimento (porém o mais duro dos ditadores, general Emílio Médici, em cujo governo o país cresceu mais aceleradamente, disse: “a economia vai bem, mas o povo vai mal”). E, apesar dos plenos poderes, o regime militar se encerrou com a inflação a mais de 240% ao ano. Houve estatizações em massa, para os escolhidos o BNDE financiou até a produção de goiabada em lata, ruínas de obras monumentais, iniciadas e abandonadas, demonstram que já havia pouco caso com o dinheiro público. Exemplo: na Rio-Santos projetada, iniciada e abandonada, há até túneis sem o tradicional morro em cima. Acabou-se construindo outra Rio-Santos, mais simples, em cima das estradas velhas.

Revivendo – a barbárie

E houve a grande mancha da tortura. Houve o delegado Sérgio Fleury, cuja esplêndida biografia, Autópsia do Medo, feita pelo repórter Percival de Souza, mostra um assassino que tinha prazer em matar, um torturador que tinha prazer em torturar. Vários torturadores, depois da ditadura, migraram para o crime: tomaram a bala os pontos de bicheiros. E passaram a viver da contravenção. Segurança nas ruas? Besteira: este colunista viveu a época em que, em São Paulo, os assaltantes eram conhecidos pelo nome, de tão poucos. E viu a segurança se deteriorar nos tempos da ditadura.

Qualquer ditadura é indefensável, e a brasileira exagerou na barbárie. Se é isso que Jair Bolsonaro elogia, é preciso pensar muito antes de votar nele.

Vale a pena ver o que diz o advogado José Paulo Cavalcanti Filho, insuspeito de esquerdismo, estudioso da ditadura militar, num artigo brilhante, que dá gosto de ler: clique aqui.

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Carlos Brickmann - Chumbo Gordo quarta, 12 de julho de 2017

EM NOME DO FILHO

 

Para a Rede Globo e muitos políticos, Michel Temer já caiu: só falta avisá-lo de que seu mandato acabou. Para grande parte da imprensa, mesmo que Temer sobreviva a esta primeira denúncia, não resistirá à seguinte (e, se sobreviver, ainda haverá uma terceira). Para o deputado Rodrigo Maia, presidente da Câmara, primeiro na lista de sucessão, nem é preciso esforçar-se para chegar ao Planalto: o poder cairá no seu colo.

Para este colunista, a previsão (nome chique que o pessoal citado acima dá ao palpite), é de que Temer tem boas probabilidades de resistir. A fonte principal da coluna lembra que uma conceituada consultoria internacional de análise de risco político, Eurasia Group, dá a Temer maiores chances de terminar o mandato do que de cair: no dia 11, de 60% a 40%. Deve ser uma análise séria, já que os clientes da Eurasia a utilizam em suas decisões de investimento. Mas a fonte do colunista acha que a probabilidade de Temer sobreviver é maior do que a calculada pela Eurasia. E lembra que, se o grupo contrário a Temer tivesse a certeza de derrotá-lo, iria acelerar a votação, em vez de retardá-la com depoimentos e recursos ao STJ.

Qual é a fonte em quem tanto confia este colunista? A fonte é um bom analista, César Maia. Mais do que bom analista, é pai do deputado Rodrigo Maia. Se o pai prevê, publica e assina  que o filho não chega agora à Presidência, quem pode dizer o contrário?

A arma do presidente

Ao menos neste momento, Temer tem o apoio do baixo clero, nome do grupo de parlamentares que têm pouca importância política e que em geral são ignorados pelos líderes políticos – mas cujo voto vale tanto quanto o dos caciques. Temer foi três vezes presidente da Câmara e sabe conversar com esses deputados, dando-lhes a importância que não têm; e, presidente da República, tem condições de oferecer-lhes mais importância e algo mais. Admitir o pedido de autorização para a abertura de inquérito sobre Temer exige 342 votos. Se 172 deputados faltarem à votação, ou votarem contra, o número mínimo não será atingido e a autorização estará rejeitada.

Olha o nível!

Dia de votar a reforma das leis trabalhistas no Senado. O PT é contra (bem como sindicatos e centrais sindicais, que perdem a grande boquinha do Imposto Sindical). Início da sessão: 11 horas. O presidente da Casa, senador Eunício Oliveira, chega no horário e descobre que quatro senadoras, três do PT e uma do PSB, estão ocupando a Mesa. Recusam-se a sair de lá. Eunício encerra a sessão e manda apagar a luz. As senadoras continuam no mesmo lugar. Na hora do almoço, chegam as marmitas para as quatro. Mais tarde, vêm à Mesa mais duas senadoras. Perto da Mesa, circulam outras parlamentares, como Benedita da Silva, PT, esquerdista histórica, e Kátia Abreu, PMDB, que passou de líder ruralista a militante de esquerda. E Lindbergh Farias fica ali, como camarada orientador. Discutir o projeto para que? Fazer arruaça infanto-juvenil rende mais tempo na TV.

A Mesa foi desocupada às 18h45. Quem negociou com as senadoras? Um peemedebista que tem bom diálogo com elas, Jader Barbalho, PMDB.

Os nomes, os nomes

As primeiras ocupantes da Mesa foram Lídice da Mata (PSB), Gleisi Hoffmann (presidente nacional do PT), Fátima Bezerra e Regina Souza, ambas do PT. Juntou-se a elas, mais tarde, Vanessa Grazziotin (PCdoB).

Todos juntos

O Imposto Sindical, um dia do ordenado de cada um dos assalariados do país, estimula a criação de mais sindicatos, por ser uma bela fonte de renda, e faz com que os sindicatos não precisem trabalhar, pois tenham ou não associados sua receita está garantida. Resultado, temos mais de 17 mil sindicatos no país, que funcionam do jeito que se sabe. E é importante lembrar que sindicatos patronais, que representam quase 1/3 deste número, também se beneficiam do Imposto Sindical e querem mantê-lo. O setor empresarial tem ainda outro benefício: o Sistema S (Sesc, Senac, Sesi, Senai) recebe dinheiro do Governo, via federações patronais.

Dia quente

Hoje, ao meio-dia, outra sessão movimentada: a sabatina de Raquel Dodge, indicada pelo presidente Temer para procuradora-geral da República. No foco, o que pretende Raquel Dodge fazer com a Lava Jato. Entende-se: em público, todos querem que a Lava Jato seja prioritária. Mas querem mesmo que a Lava Jato morra de inanição e que o juiz Sérgio Moro seja promovido a desembargador. Aí será mais um, não mais o único.

Rompendo o sigilo

Nesta semana, notícias não faltarão: o BNDES deve apresentar o Livro Verde, com as principais operações realizadas de 2001 a 2016. Por exemplo, o caso JBS, de Joesley Batista.


Carlos Brickmann - Chumbo Gordo segunda, 10 de julho de 2017

COMO SERÁ O AMANHÃ

 

No Brasil, ensinava um lúcido ministro da Fazenda, Pedro Malan, até o passado é imprevisível. O que Malan não disse é que o futuro, esse sim, é previsível: seja qual for o resultado da campanha contra Michel Temer, o Brasil continuará sendo governado pelo PMDB. E continuará discutindo Renan, Geddel, Romero Jucá, Eunício e outros luminares da polítca.

O PMDB esteve no governo de Fernando Henrique, teve presença maior com Lula, cresceu com Dilma, é dominante com Temer: tem o presidente, os ministros mais importantes, e comanda até a oposição, com Jarbas Vasconcelos, em nome da ética, e Requião, muito próximo do PT. Tem os articuladores do Fica, Temer, como Moreira Franco e Eliseu Padilha, e os articuladores do Fora, Temer, como Renan e Sérgio Zveiter, relator da aceitação ou não da denúncia. Tem intimidade com o poder. Renan vem da época de Collor, e só não participou do governo Itamar. Geddel foi ministro de Lula, vice-presidente da Caixa com Dilma, ministro com Temer. Jucá, como o patriarca do partido, Sarney, é cria do regime militar.

E o presidente? Temer já mostrou o que é: a Economia ficou com os especialistas e a Política com fregueses de investigações. Rodrigo Maia é citado em inquérito da Lava Jato. Pouco se sabe o que pensa: é DEM, mas poderia ser PMDB. E é um homem de família: começou na política por ser filho de César Maia, DEM, e subiu como genro de Moreira Franco, PMDB.

As diferenças

Há diferenças importantes entre Temer e Maia. Temer foi três vezes presidente da Câmara Federal e sempre fez parte da elite da Casa. Fez carreira no Direito e tem ótima fama como constitucionalista. Maia estudou Economia mas não concluiu o curso e, desde os 26 anos, sua vida é a política. Faz parte do baixo clero da Câmara – os deputados com menor destaque, raramente ouvidos. O baixo clero é maioria na Câmara, mas só elegeu três presidentes: Severino Cavalcanti (perdeu o mandato, acusado de cobrar mesada do dono do restaurante da Casa e de outros concessionários de serviços); Eduardo Cunha, que, acusado de corrupção, perdeu o mandato e está hoje preso, condenado a 15 anos; e Rodrigo Maia.

A semelhança

Ambos, Temer e Rodrigo Maia, jamais foram campeões de votos. Michel Temer sempre se elegeu, mas com dificuldades; numa das eleições, foi o último colocado entre os eleitos por São Paulo. Maia tentou ser prefeito do Rio e teve 3% dos votos, apesar do apoio do pai.

Como está, fica

Traduzindo: fique Temer ou caia Temer, não há o menor risco de que a algo se modifique. Do jeito que a coisa vai, não mudam nem as moscas.

Quem sabe, sabe

Um fato deve ser destacado nessa guerra política de Brasília; a defesa de Temer, elaborada pelo advogado Antônio Cláudio Mariz de Oliveira. É de primeira linha, competentíssima. Como a questão é política, não jurídica, boa parte dos parlamentares não se preocupa com a acusação nem com a defesa: já tem o voto na cabeça, ou segue a posição de seus líderes. Mas a defesa é um trabalho exemplar, não só nos argumentos como no texto claro e compreensível. Independentemente de posição política, vale a pena ler.

Meio cheio…

Estranhíssima a decisão da Polícia Federal de incorporar a equipe da Lava Jato à Delecor, Delegacia de Combate à Corrupção e Desvio de Verbas Públicas. A PF informa que a medida fortalece a Lava Jato, pois facilita a participação de mais delegados nas investigações. Por que, então, não fazer o anúncio ao contrário, incorporando a Delecor à Lava Jato? No clima atual, em que tanta gente tenta melar as investigações, é óbvio que qualquer mexida na Lava Jato, exceto seu reforço, provoca a suspeita de que uma operação tão popular esteja sendo neutralizada pelos investigados.

…meio vazio

Há quem pense que a divulgação foi deliberadamente alarmista, como protesto pela restrição de verbas à Polícia Federal. É que o caso Lava Jato é uma das três medidas impopulares anunciadas pela PF: a suspensão do fornecimento de passaportes e a redução dos serviços nas rodovias são as outras duas. Os federais suspeitam da restrição de verbas. Acreditam que, a um tempo, serve para vingar-se das investigações e forçar a Polícia Federal a, sem dinheiro, reduzir as atividades que lançam luz sobre a corrupção.

Delata e paga

Surpresa no caso Joesley. O Tribunal de Contas da União decidiu incluí-lo num processo que apura desvios em financiamentos do BNDES à JBS. Acusam o grupo de ter cobrado do BNDES um ágio de R$ 2,50 por ação na compra da Swift – total, cerca de R$ 70 milhões. Em sua delação, Joesley não tocou no assunto. E pode por isso perder os privilégios que teve.


Carlos Brickmann - Chumbo Gordo quarta, 05 de julho de 2017

DUELO DE TANTÃS

De um lado, com a caneta nas mãos, podendo nomear aliados e liberar verbas parlamentares, o presidente Michel Temer; de outro, com o arco e flecha nas mãos, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot. Ambos lutam contra o tempo. Temer precisa resistir no cargo, até 17 de setembro, às investidas de Janot – nesse dia, termina o mandato do procurador-geral. Janot precisa derrubar Temer até 17 de setembro, quando terá de abandonar o comando da cruzada. No dia 18, ambos terão encontrado seu destino: Janot festejando a glória de derrubar um presidente ou amargando a lembrança dos dias em que seu poder era temido; Temer, lutando pela sobrevivência, talvez afastado do cargo enquanto o Supremo o investiga, ou livre para governar – espera-se que com ministros menos alvejáveis.

Livrando-se da tragédia que ele mesmo semeou, ao assumir o Governo ao lado de tipos discutíveis, Temer poderá ancorar sua estabilidade na economia. A inflação está abaixo da meta prevista, as exportações deram um salto, a Petrobras recupera produção e rentabilidade, as estatais deram R$ 10,5 bilhões de lucro nos primeiros três meses do ano. Mas, para se livrar, reduziu as reformas ao mínimo possível. Uma oportunidade perdida. Janot transformou a denúncia contra Temer num jogo tático, dividindo-a, para, se perder uma, ter outra a atrapalhá-lo. Nenhum dos dois, obcecados pela vitória, pensou no país. Para ambos, o Brasil é apenas um detalhe.

 

 

Dia D

Temer é acusado de corrupção passiva: seria o destinatário dos R$ 500 mil entregues pelos delatores premiados da JBS ao então deputado Rocha Loures. A entrega da mala de dinheiro foi filmada, e as imagens de Loures correndo com ela até seu carro são inesquecíveis. Temer pretende defender-se dizendo que não era o destinatário da rica mala e desafiando os acusadores a provar que era. A defesa de Temer deve ser entregue à Comissão de Constituição e Justiça ainda hoje. O presidente quer que o plenário decida antes de 17 de julho, quando começa o recesso parlamentar.

Questão de placar

Temer passou ontem algo como 14 horas recebendo parlamentares. Ele precisa de 34 votos na Comissão de 66 deputados para que a denúncia não seja aceita, e tem hoje, calcula-se, entre 25 e 35. Mesmo que tenha 35, a margem é pequena e ele corre risco. Deputados detestam apoiar quem esteja perdendo. Por isso, mesmo tendo na Comissão 44 integrantes de partidos aliados, que indicaram ministros e ganharam cargos, luta para se salvar. No plenário, que votará em julho, salvo imprevisto, o acusador é que tem de conquistar a maioria: são 342 votos. Se o número não for alcançado, a denúncia estará rejeitada. Neste momento, Temer tem folga. Até a votação final, entretanto, há inúmeras possibilidades de mudança.

Firula

O presidente da Câmara Federal, Rodrigo Maia, diz que, em nome da transparência, exigirá que cada deputado anuncie seu voto no microfone. É jogo para a torcida: os deputados favoráveis a rejeitar a denúncia não precisam votar contra (podem abster-se, ou nem comparecer à sessão). Se 172 parlamentares não comparecerem, todos os demais podem votar contra Temer que não atingirão o número de 342, e a denúncia será rejeitada.

Jogo bruto

Os acusadores têm ainda, entretanto, muitas armas: se o acordo de delação premiada do doleiro Lúcio Funaro for homologado, não se sabe o que poderá dizer sobre Michel Temer e seus aliados mais próximos. Há mais: Geddel Vieira Lima, preso nesta semana, estará disposto a delatar? E Lula? Quais modificações no cenário político pode causar sua condenação ou absolvição pelo juiz Sérgio Moro?

Reforma que reforma

Esta é uma semana movimentada no Congresso: enquanto a Câmara recebe a defesa de Temer, o Senado estará iniciando a votação da reforma trabalhista. É esta reforma que levou dirigentes sindicais à oposição: nela é abolido o Imposto Sindical, grande fonte de receita dos sindicatos e suas centrais. O Imposto Sindical é um dia de salário de cada trabalhador do país, seja ou não filiado a algum sindicato. E sua existência: a) desobriga os sindicatos de representar adequadamente a categoria, já que, com ou sem associados, tem uma bela verba à disposição: b) torna a abertura de novos sindicatos um excelente negócio.

Hoje, temos 15 mil sindicatos no país.

Reforma que não reforma

E é em torno desta reforma que se trama um jogo sujo: há quem diga que o presidente Temer se comprometeu com os sindicalistas a vetar o fim do Imposto Sindical; ou aprovar a reforma e, em seguida, distribuir um agrado permanente aos sindicatos e suas centrais, de maneira a compensar a perda do Imposto Sindical. Pelego de bolso cheio é muito mais dócil.

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Carlos Brickmann - Chumbo Gordo domingo, 02 de julho de 2017

SIGA O CAMINHO DO DINHEIRO

Tudo bem, houve greve geral. Só que não foi geral: tirando alguns congestionamentos chatos em algumas cidades, o país funcionou como de costume. Também não foi greve: até os congestionamentos chatos, seu símbolo maior, ocorreram por manifestações com pouca gente, em locais estratégicos, para dificultar o trânsito. Trabalhou-se como de costume.

Guilherme Boulos, líder do MTST, movimento dos sem-teto, um dos organizadores da greve, atribuiu o fracasso ao desemprego. “As pessoas estão com medo de ser demitidas, achacadas por patrões”. A explicação tem lógica, mas não é verdadeira. O objetivo da greve geral era impedir um ponto da reforma trabalhista: o que prevê o fim do imposto sindical. Este imposto, um dia de trabalho de cada assalariado do país, é a grande fonte de renda das centrais sindicais (e dos sindicatos, que ficam desobrigados de trabalhar em favor de seus associados, porque eles não lhes fazem falta: o dinheiro do imposto sindical continua irrigando seus cofres com fartura).

O problema era esse? Michel Temer o resolveu: o Imposto Sindical será abolido e, em seu lugar, surgirá uma nova fonte de financiamento para a pelegada. Em outras palavras, o imposto sindical só muda de nome. Paulinho, presidente da Força Sindical, confirma a manobra: resolvido o problema do dinheiro (R$ 3,5 bilhões por ano), a reforma passa a ser boa.

As centrais ameaçaram, Temer acertou tudo, e o caro leitor paga a conta.

 

 

Os senadores Lindbergh Farias (PT-RJ) e Gleisi Hoffmann (PT-PR) e o coordenador nacional do MTST, Guilherme Boulos, em passeata na avenida Faria Lima, em São Paulo

Dinheiro entra…

Um dia de salário de todos os empregados com carteira assinada (pouco mais de 41 milhões de pessoas) representa uns R$ 3,5 bilhões por ano. Desse dinheiro, pela CLT, Consolidação das Leis do Trabalho, 60% vão para 15.315 sindicatos, para muitos deles a principal receita; 15% às federações; 5% às confederações; 20% ao Ministério do Trabalho, para financiar programas como o FAT, Fundo de Amparo ao Trabalhador, que sustenta o seguro-desemprego e o PIS. Da verba repassada ao FAT, 10% vão para as centrais, livres de prestar de contas. Por isso há tantas centrais sindicais e tantos sindicatos: há muito dinheiro sem precisar trabalhar.

…dinheiro sai

A Assembleia Legislativa de São Paulo planeja licitação para contratar uma agência de publicidade. A agência terá verba inicialmente calculada em R$ 35 milhões por ano (podendo chegar a R$ 50 milhões). Pergunta que vale milhões: que é que a Assembleia paulista pretende anunciar? A Assembleia faz aniversário e quem ganha o presente é você? Assembleia, sempre a seu dispor? Assembleia, novas obras, agora ainda mais bonita?

Para que publicidade da Assembleia? Alguém lhe faz concorrência? Há alguma disputa de mercado? Não: é pura vontade de gastar cada vez mais.

Direito na prática

Depois de quatro sessões, o Supremo Tribunal Federal decidiu como tratar os acordos para obter delações premiadas. Os acordos de delação não poderão ser revistos, exceto em dois casos: quando houver uma ilegalidade afrontosa ou quando o delator não cumprir o que prometeu. Em outras palavras, os acordos legais deverão ser mantidos. E os ilegais, cancelados.

Temer, o poeta do futuro

Nos tempos do Império Romano, acreditava-se que os poetas recebiam dos deuses a capacidade de prever o futuro. Poeta, em latim, é “vate”; daí vem a palavra “vaticínio”, previsão. E, quem diria, nos dias atuais há quem preveja o futuro em seus poemas. O presidente Michel Temer publicou em 2012, pela Topbooks, o livro de poesias Anônima Intimidade. Cinco anos depois, é cada vez mais atual. Quem descobriu essa pedra preciosa foi o jornalista Augusto Nunes:

SABER: “Eu não sabia./ Eu juro que não sabia!”
TRAJETÓRIA: “Se eu pudesse,/ Não continuaria”.
FUGA: “Está/ Cada vez mais difícil/ Fugir de mim!”
RADICALISMO: “Não. Nunca mais!”
EU: “Deificado./ Demonizado./ Decuplicado.”/
“Desfigurado./ Desencantado./ Desanimado.”/
“Desconstruído./ Derruído./ Destruído”.
COMPREENSÃO TARDIA: “Se eu soubesse que a vida era assim,/ Não teria vindo ao mundo.”

Justiça petista

Frase do ex-presidente Lula (PT), que aguarda sentença de Sérgio Moro: “Se tiver uma decisão que não seja a minha absolvição, quero dizer que não vale a pena ser honesto neste país”.

 

 

Pimenta no ar

Rádio Jovem Pan de São Paulo, a partir desta terça, dia 3: voltam os Pingos nos Is, com Felipe Moura Brasil, Joice Hasselmann, Fernando Martins, mais o ótimo repórter Cláudio Tognolli. Metralhadora giratória.

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Carlos Brickmann - Chumbo Gordo quarta, 28 de junho de 2017

CHEGOU A HORA DA FOGUEIRA

Como no futebol, há juízes para decidir cada lance. Como no futebol, a derrota pode derrubar o time. Como no futebol, há quem se rebele contra o juiz. Como no futebol, muita gente levou uma bolada. Mas não se trata de futebol: trata-se de um país e de seu futuro. Futuro? Como no futebol, cada um pensa no próprio futuro, e os outros que, digamos, se danem.

O presidente Temer e o ex-presidente Lula buscam desmoralizar seus acusadores. Ataca-se o procurador-geral Janot, que denunciou Temer, e o Ministério Público, que, segundo Temer, não investigou procuradores cujo comportamento considera duvidoso. Ataca-se o juiz Moro, que Lula acusa de parcialidade, e procuradores da Lava Jato, porque fazem palestras pagas. Tanto Temer quanto Lula suspeitam que os acusadores tenham forçado delações “a la carte”, dando substanciais reduções de pena a quem atingisse determinado acusado. O embate nos tribunais mais parece uma guerra.

O juiz Sérgio Moro pode, a qualquer momento, emitir a sentença de Lula. A presidente nacional do PT, senadora Gleisi Hoffmann, diz que só é aceitável a sentença que o absolva integralmente. O presidente do PT do Rio, Washington Quaquá, defende “o confronto popular aberto nas ruas” se Lula for condenado. Temer acena com o êxito da política econômica (a inflação ficou abaixo da meta, as exportações cresceram) que, indica, só será mantida caso fique no cargo. E o Brasil? O Brasil é apenas um detalhe.

Dois lados, uma defesa

Temer e Lula são hoje adversários ferozes, mas sua defesa é a mesma: há uma conspiração dos inimigos contra eles, e não há provas de nada. Mas cada um tem um antídoto diferente para a peçonha dos adversários. Lula, a ameaça de convulsão social, com apoio do PT, de partidos como PSOL e PSTU, de centrais sindicais como a CUT; Temer, a blindagem parlamentar, já que é preciso que 342 deputados (em 513) autorizem o processo contra ele. Só que Lula já ameaçou colocar nas ruas “o exército de Stedile” (o MST) e não deu certo. E Temer, em seu duro discurso de ontem, apareceu na TV ao lado de políticos de menor expressão. Os caciques se pouparam.

É o que temos

Outra arma de Temer é a falta de um bom nome para sucedê-lo, caso seja afastado. Mesmo que surja alguém, será eleito por um Congresso em que o presidente do Senado, Eunício Oliveira, e o da Câmara, Rodrigo Maia, são investigados por corrupção passiva e lavagem de dinheiro.

Caso Temer seja afastado, Rodrigo Maia é o favorito para sucedê-lo.

O Temer…

Um fato está intrigando os meios políticos: este Temer não é o Temer a que todos se acostumaram. Temer sempre foi discreto, afável, racional, cauteloso, frio e duro – foi quem assumiu com êxito a Secretaria de Segurança de São Paulo logo depois do massacre do Carandiru. O Temer presidente não tem como ser discreto. Mas anda ríspido, irritado, reagindo emocionalmente à pressão que sofre. O político cauteloso, que antes de falar “boa noite” pensava muito para não ser mal interpretado, referiu-se duas vezes aos russos como “soviéticos” – o que não são há 27 anos; e, em visita oficial à Noruega, confundiu o rei da Noruega com o da Suécia.

…que não é o Temer

O duro Temer levou um pito da primeira-ministra norueguesa sobre desmatamento na Amazônia e calou a boca. O sempre bem-informado Temer nem lembrou, ou nem sabia, que uma empresa controlada pelo Governo da Noruega está desmatando quase cinco mil hectares da floresta amazônica para extrair bauxita, o minério básico do alumínio; e que um país tão interessado no meio-ambiente talvez devesse repensar a poluente extração de petróleo no Mar do Norte e a autorização para a caça às baleias.

O cauteloso Temer ainda recebe Joesley Batista nos porões do Jaburu.

O dia da caça

Os procuradores da República elegem hoje três candidatos à Procuradoria-Geral, na sucessão de Janot. Mas o presidente Temer nomeia quem quiser, esteja ou não na lista tríplice. Uma escolha acertada pode fazer com que Janot se enfraqueça até deixar o cargo, em 17 de setembro. Temer acredita que, saindo Janot, se reduzam as pressões contra ele. Mas nem sempre é assim: o novo procurador-geral pode querer provar que não está lá para acochambrar, e que é tão duro quanto o antecessor.

Gravando lá e cá

O ex-ministro da Fazenda, Guido Mantega, reuniu a família para dizer que ninguém deve se preocupar com delações premiadas em que é citado. Informou que, durante todo seu período como ministro, gravou todas as conversas que manteve em seu gabinete. São oito anos de gravações.


Carlos Brickmann - Chumbo Gordo quarta, 21 de junho de 2017

SÃO TANTAS COISINHAS MIÚDAS

Num dia, tarde da noite, o bandido notório de maior sucesso na história do país telefonou ao líder da maior e mais perigosa organização criminosa do Brasil para marcar uma visita. Ótimo: marcou-se a conversa para a mesma noite. O bandido notório combinou com o líder da quadrilha que usaria nome falso e a visita não entraria na agenda. Se a opinião de um sobre o outro era a que depois declararam, por que um pediu a reunião, por que o outro a aceitou? A história da reunião, da gravação e da entrevista é marcada por pequenos mistérios. Esquisitices – como entendê-las?

No início da conversa gravada de ambos, o líder da quadrilha comenta com seu convidado que há tempos não o via. O bandido notório lembrou um evento em que se encontraram. Mas, na entrevista, o bandido notório diz que o líder quadrilheiro vivia atrás dele para pedir dinheiro. Onde está a verdade? Se o bandido notório mentiu na delação, diz a regra do jogo, perde as vantagens – e que vantagens! Terá corrido o risco? E os 500 mil por semana, durante 20 anos? Terminado o mandato do capo da quadrilha, ele não vai ver um centavo a mais. Sem poder, sem dinheiro. Os dois sabem disso. Não seriam idiotas de propor ou aceitar essa bobagem.

Como compôs Gonzaguinha, e Maria Bethânia interpretou com brilho, essas coisinhas miúdas, tantas delas, vão “roendo, comendo, arrasando aos poucos com o nosso ideal”. Historinhas, “já não dá mais para engolir”.

 

 

Grito de alerta

Michel Temer é inocente ou culpado? Isso o Supremo irá decidir. E, no Brasil, só o Capitão Gancho põe a mão no fogo pela inocência de um figurão. Já Joesley confessou; se disse tudo, ou apenas parte, caberá ao Supremo julgar. Mas é estranho que, tendo multiplicado seus negócios nos 14 anos de Governo petista e neles transformado suas empresas nas maiores do mundo em proteína animal, concentre a maior parte da delação e acusações nos dez meses de Temer. E que, além de delatar, procure dar a maior repercussão possível às acusações, sem que isso lhe renda qualquer vantagem. Passou semanas negociando sua entrevista, com diversos veículos, até escolher quem a publicaria. Por que esse trabalho todo?

 

 

Amanhã ou depois

Com a entrega das alegações finais dos advogados de Lula, o juiz Sérgio Moro pode, a qualquer momento, emitir a sentença. Em caso de condenação, dificilmente Lula será preso: há a possibilidade de defender-se em liberdade até o julgamento da apelação pelo Tribunal Regional Federal. A sentença pode até sair hoje, mas, embora Moro seja conhecido pela rapidez das decisões, o normal é que demore mais de uma semana.

O que é, o que é

Além deste, Lula tem dois outros processos penais na 14ª Vara de Curitiba, do juiz Sérgio Moro. Mas o mais problemático é este que aguarda sentença. Se Lula for condenado, e sua apelação for negada, estará automaticamente proibido de concorrer a qualquer eleição – e, portanto, não poderá disputar a Presidência em 2018. Nos outros dois processos, não há tempo para que seja condenado em segunda instância.

É

No episódio da perseguição ao jornalista Alexandre Garcia no aeroporto de Brasília, noticiou-se que o responsável pelo assédio foi Rodrigo Grassi Cademartori, conhecido pelo apelido de Pilha. O que passou quase despercebido foi o passado do cavalheiro: Pilha (que filmou a perseguição a Alexandre Garcia e a colocou na Internet) já ofendeu o então senador Aloysio Nunes e foi detido por isso, sendo rapidamente solto, hostilizou a blogueira cubana Yoani Sánchez, tentando impedir suas palestras, e comandou a perseguição na rua ao ministro Joaquim Barbosa, do Supremo Tribunal Federal. Na época, era assessor da deputada petista Erica Kokay.

Não é

Esta coluna errou ao dizer que Mário Covas, quando se opôs duramente à entrada do PSDB no Governo de Fernando Collor, dispunha do poder de governador de São Paulo. Na verdade, Covas dispunha apenas de seu prestígio e boa reputação: ainda não tinha sido eleito governador.

Sangrando

Lula, líder de um dos maiores partidos do país, sob ameaça de condenação. O PSDB, um dos maiores partidos do país, enfrenta problemas internos com grupos que querem afastá-lo do Governo. O PMDB, um dos maiores partidos do país, ocupante da Presidência da República, luta para manter o mandato ameaçado de Temer. Pois nada disso afeta nossos parlamentares: depois da semana folgada com desculpa do feriado de Corpus Christi, nesta semana o expediente termina mais cedo, por causa das festas juninas. Nesta quarta, o expediente termina às 15h, para que Suas Excelências possam pegar um voo mais cedo. Folgam até a terça que vem.


Carlos Brickmann - Chumbo Gordo domingo, 18 de junho de 2017

TIRA, PÕE, DEIXA FICAR

Tira: Fernando Henrique, em notável artigo, pôs gasolina na fogueira: sugeriu que o seu PSDB deixe o Governo e que o presidente Michel Temer proponha eleições diretas antecipadas para a sucessão.

Põe: mas Temer já estava preparado para neutralizar a proposta. Seus emissários no Congresso lembraram que mais de 150 deputados enfrentam ações penais ou inquéritos; o mesmo ocorre com cerca de 30 senadores. Quem vai querer que o precedente seja aberto, justo com Temer?

Tira: Joesley Batista, em depoimento à Polícia Federal, reafirmou que entregou uma mala com R$ 500 mil ao então deputado Rocha Loures, da estrita confiança de Temer e por ele indicado para receber o dinheiro, uma propina para retribuir ao presidente benefícios recebidos do Governo. Seria mais uma bomba num Governo cuja base política se derrete.

Põe: mas Temer liberou R$ 50 bilhões do velho e bom BNDES para os Estados. Os governadores, encalacrados em dívidas, sabem que, se Temer cair, caem junto suas promessas. Trabalharão por ele (e, a propósito, agora já se sabe por que Maria Sílvia deixou o comando do BNDES).

Deixa ficar: para que a Câmara autorize uma ação penal contra Temer (investigado por organização criminosa, corrupção passiva e obstrução da Justiça), são necessários 342 votos. Se 341 deputados votarem contra Temer, a ação não poderá ser proposta. Se 172 deputados não comparecerem à sessão, Temer estará salvo. Quem tem de se esforçar para reunir votos, portanto, não é Temer: é o procurador-geral Rodrigo Janot.

Vida que segue

Agora, para Temer, o importante é mostrar que o Governo continua vivo. Escreveu um artigo sobre sua próxima viagem à Noruega e à Rússia, articula a aprovação das reformas trabalhista e da Previdência, ou do que sobrou delas depois da negociação política. A menos que haja manifestações de rua ou delações que o atinjam diretamente, vai conseguir aprová-las. Os sindicatos tentam ir às ruas, não para garantir direitos, mas manter de pé o imposto sindical que os financia.

Palavras ao vento

A propósito, Fernando Henrique sabe que, a menos que o improvável aconteça, sua proposta não é realizável. Sabe que reformar a Constituição para convocar eleições diretas exige mais tempo do que o disponível até o fim do mandato de Temer. Sabe que conseguir 2/3 dos votos é difícil. E, apesar de seu prestigio, Aécio Neves e outros parlamentares de seu partido têm um compromisso maior do que com ele: com a própria sobrevivência.

 

 

Passando a limpo

Enquanto a Lava Jato e outras investigações atingiram um dos lados do espectro político, receberam apoio do outro lado. Enquanto atingiram, fora do alvo principal, pessoas dificilmente defensáveis, tudo bem. Mas agora, que estão em risco políticos das mais diversas tendências e empresários, há uma união contra as investigações. Oficialmente, todos são favoráveis à Lava Jato e congêneres, “aguardando serenamente a decisão a Justiça”. Na prática, é guerra: quando mais de 1/3 dos deputados e senadores estão ameaçados, não apenas politicamente, mas até de prisão, eles vão reagir.

A primeira iniciativa é suspender as ações penais contra senadores e deputados federais, medida prevista no artigo 53 da Constituição. Para que esta prerrogativa seja exercida, deve ser aprovada por maioria absoluta de deputados e senadores. Os parlamentares já atingidos, 1/3, são votos certos; quem não foi atingido mas sabe que pode ser deve votar também a favor.

Guerra total

A medida é impopular, todos sabem, mas é melhor se arriscar a perder uma eleição do que passar algum tempo hospedado em Curitiba. Ficar sem mandato a partir de 2019 é ruim, mas pelo menos será em liberdade, A medida, em princípio, só não entrará na pauta em duas circunstâncias:

1 – Se houver possibilidade de derrota. Nesse caso, os parlamentares que votassem a favor perderiam a popularidade sem vantagem alguma;

2 – Se surgir outra ideia eficiente, de menor custo político. Porque todos sabem que a grande maioria dos eleitores se revoltará com a sujeirada.

A voz do Planalto

Os articuladores da Presidência estão trabalhando para garantir mais votos contra as investigações. O jornalista Josias de Souza, em seu bom blog, conta que testemunhou o telefonema de um ministro de Temer a um parlamentar do PP, partido com 21 deputados atingidos pela Lava Jato. Cita: “Se a Procuradoria e o Supremo querem derrubar o presidente da República, imagine o que não farão com os parlamentares!” É a batalha dos mandatos contra as togas.

As investigações

Atenção ao depoimento de Antônio Palocci. Tem novidades explosivas.

 


Carlos Brickmann - Chumbo Gordo quarta, 14 de junho de 2017

VELHAS NOVIDADES

O veterano Repórter Esso, que marcou época no rádio e na TV, tinha como lema “o primeiro a dar as últimas”. Os noticiários do Brasil, hoje, são os de sempre, divulgando o de sempre. Novidades? Preferem velhidades. Para todos nós, resta a impressão de que só há notícias bem antigas.

O PSDB fica no Governo, como ficou sempre que pôde. Claro, dizem que é para garantir a governabilidade e a estabilidade do país e os avanços na economia. Nada a ver com cargos e verbas, claro. Puro patriotismo.

Lula diz que o PT tem muito a ensinar aos outros partidos. Não é bem assim: com Mensalão, Petrolão, empreiteiras amigas, açougueiros amigos, propriedades que não são dele, nunca antes na História desse país partido nenhum girou tanto dinheiro. Mas o PMDB é mais competente: participou da farra petista e continuou no poder quando o PT caiu. O PT, na busca de pixulecos, perdeu gente de nível, como Hélio Bicudo, Paulo de Tarso Venceslau (que, além de sair, fez as primeiras denúncias de malfeitos petistas), Erundina. O PMDB fez igual e não perdeu ninguém. O PSDB, este tem a aprender. Não é questão de ética: há muito tucano, incluindo seu candidato à Presidência, em listas de denunciados. Nem de caráter: a ala jovem tucana, que era contra ficar no Governo, resmunga mas ficou. Miguel Reale Jr., 73, foi quem saiu do partido. Pergunta que os líderes tucanos não fizeram: se o PSDB é igual aos outros, por que ficar lá?

 

 

Alto nível

O PSDB promoveu uma reunião de altíssimo nível para decidir o que fazer. Havia quatro governadores, Geraldo Alckmin, de São Paulo, Beto Richa, do Paraná, Marconi Perillo, de Goiás, e Simão Jatene, do Pará, quatro ministros, Bruno Araújo, Aloysio Nunes, Antônio Imbassahy e Luislinda Valois, dois prefeitos de capitais, Arthur Virgílio Neto, Manaus, e João Dória, São Paulo, mais um carro Gol lotado com a ala jovem tucana. Decidiram que ficar no Governo é melhor do que na oposição.

Exemplo partidário

O PMDB é coerente: está sempre com o Governo. O Governo muda, o PMDB fica. Ninguém desvia o PMDB de seus ideais.

De um lado a outro

Quando os fundadores do PSDB resolveram tomar rumo próprio, eram classificados como “a consciência do PMDB”. Tinham deixado o partido por não concordar com seus rumos. Mas, se os tucanos deixaram o PMDB, o PMDB não deixou os tucanos. O PSDB esteve em todos os governos, exceto o de Collor – e só porque Mário Covas, governador de São Paulo, impediu a adesão (Collor queria Serra e Fernando Henrique no Ministério). Mas há uma diferença entre Reale Jr. e Covas: Reale Jr. tem prestígio, caráter, e Covas tinha o Governo paulista.

A força da palavra

Miguel Reale Jr. tem também o dom da palavra. E está indignado:

“É difícil sair de um partido do qual fui vice-presidente em São Paulo, amigo de todos os dirigentes, em que compartilhei ideais e esperanças. Mas desisti diante de tantas vacilações e fragilidades. Não se pode ser fraco diante da afronta à ética.” E, referindo-se à fama tucana de sempre ficar em cima do muro, previu o futuro do PSDB: “Espero que o partido encontre um muro suficientemente grande que possa servir de túmulo”.

O TSE é só nosso

Do repórter Cláudio Tognolli: “Só no Brasil o juiz Napoleão cita o Alcorão, pede guilhotina para os jornalistas e fica tudo por isso mesmo”.

O voto do TSE…

Houve quem aprovasse e quem criticasse a decisão do Tribunal Superior Eleitoral. Os dois lados têm leis para citar (e citam só a parte da legislação que melhor atenda às suas preferências políticas). O fato é que as leis devem ser interpretadas, e quem decide é a Justiça. Ponto final.

Decisão judicial se cumpre, mas pode-se (e deve-se) discuti-la. A posição de um dos procuradores da Lava Jato contra a decisão, porém, não pode ser aceita: primeiro, porque os procuradores têm o direito de propor, mas não de decidir; quem decide são os juízes, ouvidos obrigatoriamente os advogados que defendem os réus. Insultar os juízes, faltando-lhes com o respeito, e classificando o voto dos que não concordam com os promotores de “verdadeiro cúmulo do cinismo”, é um excesso que também deve ser discutido. E os próprios procuradores devem, entre si, iniciar a discussão.

…e suas consequências

A senadora Kátia Abreu, antiga líder dos ruralistas, ex-DEM, ex-PSD, hoje PMDB, que era ferozmente antipetista e virou amiga de infância de Dilma, quer vê-la candidata ao Senado ou à Câmara pelo Tocantins. Dilma sairia pelo PT e Kátia a apoiaria pelo PMDB. Mas já há reações: no Estado, entidades antipetistas estão organizando o movimento “Aqui, não!”


Carlos Brickmann - Chumbo Gordo domingo, 11 de junho de 2017

A TERRA EM QUE NASCESTE

Vamos esquecer um pouco a bandidagem de colarinho branco, a insegurança nas ruas, os delatores premiados: trocando uns ou outros nomes, o jornal do dia é igual ao da véspera, os telejornais apresentam há um tempão as mesmas cenas, variando apenas os personagens. E todos negam com veemência aquilo que todos sabem que é verdade, e aguardam com serenidade o decorrer dos processos – enquanto esperneiam para que todos eles virem de cabeça para baixo. Esperneiam, mas nem disso sabiam.

Vamos à raiz de tudo: o tumulto da estrutura legal do país. Há poucos dias, o Congresso promulgou a Emenda Constitucional 96, que autoriza as vaquejadas em todo o país. “Práticas esportivas” e “manifestações culturais” com bichos deixam de ser tidas como cruéis, e a vaquejada passa a ser “bem de natureza imaterial”. Há quem ache que puxar um boi pelo rabo, obrigando-o a correr entre dois cavalos, até que alguém o derrube numa área demarcada, é cruel. Mas não entremos no mérito da questão. O que aqui se discute é a introdução da vaquejada na Constituição.

Tratar-se-á, perguntaria o presidente Temer, de tema constitucional? E por que não o futebol, praticado por mais gente, em mais lugares? Se tudo cabe na Constituição, por que não substituí-la por uma lista telefônica, ou uma Wikitituição, em que cada um vai botando aquilo que acha sobre tudo que quiser? Sai mais barato e o resultado é o mesmo: não funciona.

Nosso exemplo

Originalmente, a Constituição republicana brasileira foi baseada na americana. A Constituição americana nasceu em 1789 com sete artigos, definindo os Três Poderes (Executivo, Legislativo, Judiciário), os direitos e responsabilidades dos Estados. De lá para cá houve 27 emendas, sendo as dez primeiras conhecidas pelo nome de Bill of Rights, em tradução livre Lista de Direitos. No Brasil, a Constituição de 1988 tem 250 artigos, que sofreram de lá para cá cento e poucas emendas. A Constituição americana tem 228 anos; a brasileira, de 1988, é a sexta da República para cá. Mais uma vez sem entrar no mérito, a deles parece mais durável que as nossas.

Vai, dinheiro!

O ótimo portal jurídico Espaço Vital traz uma informação interessantíssima sobre a ladroeira (que todos sabiam que existia mas que agora vem sendo mais bem conhecida). O economista Cláudio Frischtak, da consultoria Inter.B, estudioso da infraestrutura brasileira, levantou o custo da corrupção em obras públicas no país, nos últimos 45 anos. Em valores corrigidos para a moeda atual, mas sem juros, a ladroeira atingiu algo como R$ 2,1 trilhões de 1970 até 2015. Um número de 16 algarismos, observa o portal.

Uma comparação: o Impostômetro da Associação Comercial de São Paulo, que marca a quantidade de impostos municipais, estaduais e federais pagos a cada instante em todo o Brasil, marcava até 9 de junho, às 19h06, muito menos da metade da quantia roubada nos últimos 45 anos.

Voa, dinheiro

Há um motivo pelo qual a Operação Lava Jato está tão interessada na delação premiada do ex-ministro Antônio Palocci, e que não envolve nem bancos nem outras grandes empresas: é, isso sim, levantar o processo de liberação de aproximadamente R$ 8 bilhões do BNDES para a J&F, dona do JBS, Friboi, Swift, Seara, Vigor, São Paulo Alpargatas, Osklen e outras, entre 2007 e 2015. Todo o processo de obtenção e liberação de verbas do BNDES, acreditam os investigadores, passou pelas mãos de Palocci.

O mundo gira

Há dois anos, o J&F pensou em entrar no setor da iluminação pública em São Paulo. Hoje tenta vender a Vigor e a Alpargatas para fazer caixa.

Humor no TSE

Primeiro, um momento de descontração: o pessoal das redes sociais descobriu que o ministro Hermann Benjamin, relator do processo de cassação da chapa Dilma-Temer, é parecidíssimo com duas personalidades nacionais: a deputada Luiza Erundina e o maestro Tom Jobim. Outra semelhança parece ter passado despercebida até agora: Benjamin é a cara da senhora que aparece no logotipo da franquia Casa do Pão de Queijo.

 

Guerra no TSE

Algumas frases dos duelos travados no TSE, durante o julgamento:

Hermann Benjamin: “Só os índios não contactados da Amazônia não sabiam que a Odebrecht havia feito colaboração premiada”.

Gilmar Mendes: “Um Barusco corresponde a US$ 100 milhões nesta corruptocracia”.

Hermann Benjamin: “Vossa Excelência, senhor presidente Gilmar Mendes, tem de pedir desculpas a si mesmo, pelas suas contradições”.


Carlos Brickmann - Chumbo Gordo quarta, 07 de junho de 2017

SUICÍDIO COM PUNHAL NAS COSTAS

Em Brasília, todos são gente do ramo, hábeis, espertíssimos. Mas…

1 – O PSDB voltou ao poder aliando-se a Temer. Porém, ao perder a eleição, processou os vitoriosos “só para encher o saco do PT”, como Aécio agora admitiu. Esta ação, revanche infanto-juvenil, se não derrubar Temer, o enfraquece. O PSDB encheu o saco do PT. E perde junto.

2 – A queda de Dilma se acelerou porque o PT queria vingar-se de Eduardo Cunha. Cunha avisou que, se o PT o deixasse em paz, ele não poria o impeachment em pauta. O PT pôs Cunha em julgamento, Cunha pôs Dilma em julgamento, deu no que deu: Cunha preso e Dilma fora.

3 – Hoje o grande problema de Temer é seu amigo Rocha Loures. Loures era suplente. Assumiu a deputança (e o foro especial) quando Temer nomeou o inacreditável Osmar Serraglio para ministro da Justiça. Serraglio não deu certo, Temer resolveu trocá-lo de Ministério, sem se dar ao trabalho de conversar com ele – justo Temer, sempre tão educado! Serraglio recusou a troca e reassumiu o mandato, deixando Loures sem foro especial. Temer podia ter mantido Loures na Câmara nomeando outro deputado do Paraná. Não o fez. Rocha Loures, sem foro, foi preso. E ele era da tchurma, sabe o que todos fizeram no verão passado. Numa delação, pode acelerar a queda de Temer e até mesmo ameaçar sua liberdade.

Quando a esperteza é muita, dizia Tancredo, vira bicho: come o esperto.

O PSDB

Aécio foi secretário de seu avô, Tancredo Neves, e teve a oportunidade de, bem jovem, acompanhar a costura política que destruiu por dentro o bloco governista e lhe permitiu derrotar Paulo Maluf. Tancredo jamais “encheu o saco” dos adversários. Mantinha com eles um diálogo urbano, que lhe permitiu, por exemplo, aceitar José Sarney como vice e com ele devolver o poder aos civis. Pensava-se que Aécio seria o herdeiro do talento de Tancredo. Quem imaginaria que herdasse apenas o sobrenome?

O PT

Apesar do bombardeio que vem sofrendo, e da derrota eleitoral em 2016, o PT lidera as pesquisas para 2018, com Lula. Então entra em campo, recém-saído da cadeia, aquele que Lula já chamou de “capitão do time”, José Dirceu, e propõe controles bolivarianos sobre quase tudo, mas em especial a imprensa. Em seguida, na mesma cerimônia petista, Benedita da Silva diz que só se pode reformar o país com derramamento de sangue. No Rio, que Benedita já governou, há muito derramamento de sangue. E, como mostrou Cabral, reformas não houve. Junte-se a corrupção a essas duas propostas e Lula, se puder concorrer, terá muito trabalho. Ainda mais precisando explicar por que disse que não conhecia vários delatores, esquecendo que esta é a época dos celulares: todos tinham fotos com ele.

Dinheiro sai

Derrotada a dinastia Sarney, o comunista Flávio Dino, PCdoB, assumiu o Governo com promessas de mudança. Já começou a mudar: em vez de pendurar o pessoal do Sarney nas tetas do Estado, está pendurando o seu.

O Procon do Maranhão tem 76 funcionários. O governador Flávio Dino nomeou, para chefiá-los, 347 novos chefes, todos sem concurso. São mais de quatro chefes por funcionário. Mas Dino tem um problema no Supremo: o ministro Alexandre de Moraes pede explicações sobre a violação da lei que criou o Procon, que exige o preenchimento dos cargos por concurso.

Dinheiro voa

Lembra de Carlos Gabas, ministro da Previdência de Dilma, que levava a chefe na garupa em passeios de moto? Não se preocupe com ele: já está bem empregado. Ganhou um cargo do senador Lindbergh Farias (PT-Rio) no gabinete da liderança da minoria. Salário (bruto): R$ 20.950 mensais. Lindbergh Farias foi também quem contratou Gilberto Carvalho, que foi ministro de Lula e Dilma. Gilbertinho ganha R$ 15.700. Nenhum dos dois precisará assinar o ponto ou comprovar presença. Você, caro leitor, paga.

Pra que dinheiro?

De acordo com o Tribunal de Contas da União, o prejuízo da Petrobras pela compra da refinaria de Pasadena, no Texas, foi de US$ 800 milhões. A refinaria era conhecida como Ruivinha, por estar inteirinha enferrujada.

Mas o maior prejuízo brasileiro em refinarias não foi culpa da Petrobras. Em 2006, por ordem do presidente Evo Morales, o Exército boliviano ocupou duas refinarias da Petrobras, e passou-as ao controle de La Paz. Foi uma ação sem reação, já que o Governo brasileiro silenciou sobre o caso. Mais tarde, a Bolívia decidiu pagar US$ 112 milhões pela “desapropriação” das duas refinarias, cujo valor estimado era de US$ 1 bilhão.

Mais um

Renato Duque, ex-diretor da Petrobras condenado a 40 anos de prisão pelo desvio de R$ 650 milhões, se ofereceu para ser delator. Sabe muito.


Carlos Brickmann - Chumbo Gordo segunda, 05 de junho de 2017

SURUBA, TROCA-TROCA, VALE TUDO

Um político que está no poder faz tanto tempo sabe das coisas. E foi o senador Romero Jucá (PMDB-Roraima), que deu o nome à festa: suruba. É suruba, mas também pode chamar de troca-troca. Todos com todos, todos amigos. Afinal, as turmas de Dilma e Temer são as mesmas.

 

Na terça, entra em julgamento a chapa Dilma-Temer, por abuso de poder na campanha presidencial. Dilma e Temer são adversários. Mas, se a Justiça cassar a chapa, é ruim para Dilma (impedida de sair para o Senado em 2018); para Temer, que perde o mandato; para o PSDB, que fez a denúncia, porque Aécio depende dos dois para salvar-se das delações. Uma mão lava a outra, as duas lavam a cara e cada uma pega o que pode.

A Comissão de Ética da Presidência livrou o petista Aloízio Mercadante da acusação de tentar impedir a delação de Delcídio do Amaral.

Rede e PSOL pediram a cassação de Aécio. O PT não assinou o pedido.

Temer e Lula, delatados por Joesley do JBS, defendem-se da mesma maneira, desacreditando a investigação e acusando o delator. Para Lula, a Lava Jato “é uma palhaçada” e Joesley é “canalha” e “bandido”. Temer chama Joesley de “o menino, o grampeador”. E, sobre uma possível delação de seu amigo Rocha Loures, diz que só crê numa hipótese: “Nunca posso prever se ele tiver um problema maior, e as pessoas disserem para ele: ‘olha, você terá as vantagens tais e tais se disser isso e aquilo’”.

Jogo duro

Ambos dizem, com palavras diferentes, que a delação ganharia valor (e os benefício da Joesley e seu irmão Wesley seriam prova disso) se fossem eles os delatados. Sem as acusações contra eles, teriam tantos benefícios?

Fala a defesa

O respeitado advogado José Roberto Batocchio, que defende Lula e Dirceu, vem há tempos criticando (muito antes da Lava Jato) o instituto da delação premiada. Batocchio sustenta a tese de que a delação premiada abre caminho para a “delação a la carte”: o acusado não precisa contar a verdade inteira, mas apenas a parte que interessa à acusação, para obter os benefícios oferecidos – como a liberdade, apesar dos crimes cometidos

Voto…

A decisão do Tribunal Superior Eleitoral deve ser apertada, para um lado ou outro. PT e Temer jogam juntos – primeiro, na possibilidade de um dos ministros pedir vistas do processo por 30 dias, o que, graças às peculiaridades do sistema jurídico nacional, fará com que o julgamento demore tanto que o mandato de Temer já esteja encerrado, ou se encerrando (e, ao mesmo tempo, que a possível candidatura de Dilma ao Senado, pelo Rio Grande do Sul, já esteja consolidada). E 30 dias são apenas o começo: frequentemente algum ministro demora mais tempo com o processo em suas mãos – prazo que pode ultrapassar um ano.

…a voto

Se nenhum ministro pedir vistas, há um pedido do PT que pode mexer na votação: o pedido para que as delações da Odebrecht e dos marqueteiros João Santana e Mônica Moura sejam retirados do processo, que deve limitar-se à denúncia formulada pelo PSDB no final de 2014. Esta é uma questão que os ministros devem decidir antes de iniciar o julgamento. Se a tese for aceita, o relator Herman Benjamin terá de retirar de seu voto tudo o que se refira à delação – que deve ser a parte mais contundente. Dilma é a mais beneficiada, porque a delação dos marqueteiros não atinge Temer. Mas a da Odebrecht atinge. De qualquer forma, para Temer é boa qualquer solução que adie e tumultue o processo, o que o beneficiará indiretamente.

Chegando junto

E se o Tribunal Superior Eleitoral decidir cassar a chapa Dilma-Temer, levando a novas eleições (indiretas) para a Presidência? Existe um grupo de trabalho cuidando disso na Câmara Federal: Orlando Silva, do PCdoB, que foi ministro de Lula, Andrés Sanchez, do PT, ex-presidente do Corinthians, e Vicente Cândido, do PT, representam a esquerda na negociação com Rodrigo Maia, presidente da Câmara, do DEM fluminense. O objetivo é colocar Maia na Presidência da República, tendo Aldo Rebelo, do PCdoB, ex-ministro de Lula, como vice. DEM, PT e PCdoB – hoje, tudo a ver.

Diretas, mas não já

O PT faz campanha pela convocação de eleições diretas, caso Temer seja afastado? Faz, no grande palco público, e desfaz no mundo real. Fora a negociação com o DEM, fora a luta para adiar o voto do TSE que poderia derrubar Temer, há uma atitude simbólica de grande efeito: mudou as normas internas do partido, trocando a eleição direta por indireta para presidente da sigla. Isso leva ao comando do PT a senadora Gleisi Hoffmann, do Paraná, que foi ministra de Dilma e é investigada, com autorização do Supremo, por desvio de recursos da Petrobras.

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Carlos Brickmann - Chumbo Gordo quarta, 31 de maio de 2017

PALAVRÕES AO VENTO

Quem achava que Osmar Serraglio, como ministro da Justiça, não passava de uma nulidade, equivocou-se: passava, sim. Comprovou que, também em questão de caráter, tinha plenas condições de equiparar-se a outros ministros de Temer e Dilma. Seu desempenho na Justiça só não conseguiu reprovação unânime porque foi elogiado por Roberto Requião – ou seja, era pior ainda. E terminou o serviço abandonando Temer, com quem tinha tramado a estratégia para manter o mandato de seu suplente, Rocha Loures, evitando que caísse nas mãos de Sérgio Moro. Gente fina.

Serraglio virou ministro para que Loures (aquele da mala de dinheiro), assumisse sua cadeira de deputado, com foro privilegiado. Talvez Temer achasse que, se até José Eduardo Cardozo foi ministro da Justiça, por que não Serraglio? Temer logo viu o engano. Então resolveu levar Torquato Jardim, bem avaliado, bem relacionado, para a Justiça. E, para garantir o foro de Loures, Serraglio continuaria ministro, agora na Transparência.

Serraglio concordou, deixou que o Governo anunciasse a troca, e recuou, pondo Loures na linha de tiro dos juízes da primeira instância. Aécio Neves, hoje aliado de Temer, definiu-o com palavrões diversos (tranquilize-se: esta coluna é de família, não irá transcrevê-los). Serraglio bem poderia ter assumido: em Brasília, Ministério da Transparência não pode fazer nada. E o ministro seria tão transparente que ninguém o veria.

Perdas, não: ganhos

Com a desistência de Serraglio, Temer nada perdeu: o ministro do STF Édson Fachin decidiu manter o processo de Loures unido ao dele. Temer tem foro privilegiado e Loures fica junto. Só perdeu outra preocupação: um afilhado político de Serraglio, Daniel Gonçalves Filho, ex-superintendente do Ministério da Agricultura no Paraná, está no alvo da Operação Carne Fraca. Dizem que está disposto a uma delação premiada, atingindo Serraglio. Seria muito ruim para Temer ter outro ministro sob suspeita.

Palavras ao vento

Desde a delação premiada de Joesley Batista, surgiram grandes frases. Quem acompanha a vida de alguns políticos as achará ainda melhores.

Joesley: “Eu dava essa grana toda, mas ficava muito constrangido“.

Renan Calheiros: “Se falar de propina comigo, mando prender“.

Rocha Loures: “Eu não sabia o que tinha na mala”.

Lula: “O PT pode ensinar a combater a corrupção”.

Dilma: “Olha o que eles fizeram com o Brasil“

Aécio Neves: “Lamento minha ingenuidade”.

 

Escuta seu lamento

Quando governador de Minas, Tancredo Neves, avô de Aécio, deu longa entrevista a este repórter. No final, perguntei-lhe qual o melhor telefone para esclarecer alguma dúvida. Tancredo disse que não falava ao telefone.

Por que? “Eu fui ministro da Justiça e sei como são essas coisas”.

Tancredo foi ministro da Justiça até agosto de 1954 – há quase 63 anos. Não havia celulares que gravam e fotografam. Mas ele sabia como eram essas coisas. Seu neto Aécio, hoje, quando gravações e interceptações progrediram um pouco, fala tudo ao telefone. Pelo jeito, herdou do avô aquele belo apartamento no Rio, alguns imóveis e o sobrenome. Só.

Tem motivos para lamentar-se.

As diferenças

Mais uma frase, desta vez do jurista Ives Gandra Martins, sobre o comportamento da Ordem dos Advogados do Brasil:

“A OAB levou dez meses, depois do meu parecer, para pedir o impeachment de Dilma, e 24 horas com uma fita com trechos individuais nos pontos comprometedores, para pedir o impeachment de Michel Temer, no momento em que o Brasil começava a sair do caos petista”.

Ajuste governamental

O novo ministro da Justiça, Torquato Jardim, em entrevista ao Correio Braziliense, já se mostrou mais adequado ao cargo e ao Governo Temer do que seus antecessores. Tem, por exemplo, uma versão mais palatável do soturno encontro nos porões do Palácio do Jaburu entre o presidente da República e Joesley Batista, que vinha gravá-lo para enriquecer sua delação premiada. Afinal, por que Temer permitiu conversas tão inconvenientes e tolerou, sem reagir, confissões de crimes que o interlocutor lhe narrava?

“O presidente é parlamentar faz 24 anos”, disse Jardim, “e tem a conduta de informalidade própria de quem é do Congresso. Ele tem uma descontração ao encontrar as pessoas, doadores de campanha, empresários… Nesse âmbito é que eu compreendo ele ter recebido o empresário.” Explicar, no caso, é melhor do que negar, ou, como Aécio, lamentar a própria ingenuidade. Acreditar na explicação é outra tarefa.


Carlos Brickmann - Chumbo Gordo domingo, 28 de maio de 2017

COMO MENTEM ESSAS VERDADES!

Joesley Batista deu pistas do que iria fazer: por exemplo, batizou seu iate (modelo Leonardo, cem pés, ou 30 metros, de comprimento, três andares, o mais caro do estaleiro italiano Azimut) com nome em inglês, Why Not?, e mandou transportá-lo para Miami. O iate vale uns nove, dez milhões de dólares, mas os organismos oficiais que cuidam de exportações não o perceberam, ou não acharam necessário relatar nada, ou a relataram e, como no Governo ninguém conhece Joesley, tudo passou despercebido.

 

Joesley teve sorte de ser pouco conhecido. Isso lhe permitiu, embora com ordem do presidente Temer, algo difícil: atravessar numa boa as cercas eletrônicas do Palácio do Jaburu, livre de câmeras indiscretas, sem sequer um guarda para pedir-lhe que deixasse na portaria objetos que não deveria levar para uma conversa com o presidente, como celular ou um gravador (que usou para gravar e delatar o amigo). Dá para controlá-los de longe, Joesley sabe. Já comprou em Nova York um vibrador com wi-fi. Ou poderia ter uma arma. Amigo? Tiro de amigo é igual a tiro de inimigo. Uma pistola moderna é leve, silenciosa e faz um tremendo estrago.

Joesley é corajoso: encontrou-se com Temer altas horas da noite, nos porões do palácio. Este colunista só iria a uma reunião assim com alho no bolso. Pense em encontrar Temer no porão, à noite, de terno escuro.

Achou graça nesses absurdos? Não deveria: eles acabam de acontecer.

Verdade é…

Sindicalistas vociferantes, e seus amigos desordeiros mascarados, atacam ministérios, depredam o que podem, incendeiam um deles, fazem o que querem com equipamentos eletrônicos que armazenam a rotina de todo o país. Talvez haja algum serviço interno de combate a incêndios, mas na TV não apareceu. Seguranças? Procure nos orçamentos ministeriais, está lá: empresas terceirizadas de prestação de serviços de segurança (e portaria, e limpeza, etc.). Procure na porta, nos filmes dos tumultos em Brasília, e não encontrará ninguém. O jornalista Luis Mir, em seu livro Guerra Civil – Estado e Trauma, mostra os dados oficiais: proporcionalmente ao número de habitantes, Brasília tem o triplo dos policiais de Berlim. Mas, diante dos vândalos comandados por pelegos, é preciso chamar o Exército.

…a mentira…

A Polícia Militar não sabia de nada. Deveria saber: a data estava marcada. Na véspera das manifestações, a PM interceptou vários ônibus fretados, revistou-os e encontrou armas brancas, porretes, socos ingleses. Parlamentares do PT pediram ao governador de Brasília que as revistas fossem suspensas. O pedido foi negado.

 

Mesmo assim, surgiram na manifestação bombas caseiras, escudos, muito material de ataque. Como o PT e as centrais sindicais garantiram, depois do tumulto e dos prejuízos, que nada tinham a ver com os vândalos, por que os parlamentares pediram que os ônibus – eram 900, que levaram de 35 a 40 mil pessoas à manifestação – não fossem revistados, isso num momento em que já se sabia que transportavam material para o quebra-quebra?

…que aconteceu

Para o leitor que não está entendendo nada do que acontece (o que é muito justo, já que é complicado mesmo), aqui vai um pequeno resumo:

O Brasil estava indo muito bem, com crescimento sustentável, terra para quem quisesse plantar, terrenos à vontade, bem situados, para construir moradias; agricultura forte, preservação ambiental, qualidade de vida, habitantes orgulhosos do povo e do país.

Então, uma caravela atracou em Porto Seguro e tudo desandou.

Culpa…

A Associação Brasileira de Imprensa acusou a Procuradoria Geral da República por violação do segredo da fonte. Pelo artigo 5º da Constituição, a fonte do jornalista é sigilosa. Se houver processo, ele é que responde. Pois o ministro Edson Facchin liberou o sigilo da delação premiada que atingiu Andréa, irmã do senador Aécio Neves, PSDB. Legalmente, o material que não se referisse ao caso teria de ser destruído. Mas não foi: alguém separou das horas de grampo do telefone de Andréa o trecho em que conversava com o jornalista Reinaldo Azevedo, de Veja e da Rádio Jovem Pan. Justo ele, que vinha criticando a forma das investigações!

…sem culpados

Tanto a PGR quanto a PF concordam: houve quebra do sigilo. Ambas negam ser culpadas. Mas bem que poderiam contar a verdade, mesmo que seja difícil de acreditar. As gravações referentes a Reinaldo Azevedo são espertíssimas e saíram sozinhas do material a ser destruído. Enviaram-se a jornalistas, fingindo que a remessa era de alguma autoridade. Foi assim que tudo aconteceu: ninguém é culpado pela ilegalidade, nem mesmo as gravações desobedientes – pois quem vai julgar a culpa de uma gravação?


Carlos Brickmann - Chumbo Gordo quarta, 24 de maio de 2017

TEMER LUTA NA GUERRA ERRADA


Quando Bill Clinton desafiava o prestigiado presidente George Bush (o pai), amplamente vitorioso na guerra contra o Iraque, seu marqueteiro James Carville repetiu até ser ouvido: “É a economia estúpido”. Bush era popular, mas o desemprego era grande e a economia americana ia mal das pernas. Clinton espalhou pelo país seu slogan: “Saddam Hussein manteve o emprego. E você?” Ganhou – e garantiu ao país oito anos de crescimento.

Temer tenta usar o mesmo argumento no Brasil: enquanto se discutem problemas políticos e criminais, a economia volta lentamente a crescer, a inflação caiu abaixo dos 4,5% anuais fixados pelo Governo, as exportações voltam a superar as importações. Mas, como lembrava o primeiro-ministro francês na época da 1ª Guerra Mundial, Georges Clemenceau, o principal erro dos comandantes é lutar numa guerra com as táticas que deram certo na guerra anterior, e já estão superadas. Temer acha que vai ganhar a guerra apresentando bom desempenho econômico. Não vai: nesta luta pelo poder, a guerra não é econômica e o slogan é outro. “É a política, estúpido”.

Temer perdeu um partido médio, o PSB. Seu PMDB está rachado, e a Renan Calheiros o quer com uma estaca de madeira cravada no peito. PSDB e DEM balançam, embora prometam apoio (o presidente nacional tucano, Tasso Jereissati, tem até o nome de seu ministro da Fazenda caso vá para o lugar de Temer: em vez de Meirelles, Armínio Fraga. É o jogo.

Prósperas…

Delação premiada não significa perdão total aos dedos-duros. Nem é feita para atingir um só alvo. Na delação premiada, o delator confessa os crimes que cometeu e indica, com provas, seus companheiros de malfeitos. Vale para todos, não apenas para um dos times. Joesley disse a Temer na gravação, que tinha boas relações com a imprensa e por isso estava livre do noticiário dos avanços da Lava Jato. O fato é que um dos delatores da JBS acusou o jornalista Cláudio Humberto de ter extorquido da empresa R$ 18 mil mensais, para poupá-la em suas publicações. Cláudio Humberto informou que tem um contrato de publicidade com a JBS, neste valor, assinado, registrado e com os impostos devidamente recolhidos. OK, que se investigue o caso (embora sem o foguetório que os inimigos de Cláudio Humberto vêm fazendo). E se investigue também como é que um jornalista, que fazia campanha pública contra Lula na TV, de repente mudou de lado e, sempre na TV, passou a defensor radical de Lula, Dilma e do PT). Como é que outro jornalista enriqueceu ao criar uma espécie de Diário Oficial do PT na Internet. Tem mais, e tem dos dois lados.

…notícias

Um dos empresários mais competentes que este colunista conheceu costumava dizer, quando lhe diziam que alguém enriqueceu honestamente, que “ninguém enriquece honestamente”. Em seguida, ria muito. Ele era empresário, tinha enriquecido e sabia direitinho como o mundo funcionava. E acreditaria menos ainda se lhe dissessem que um grupo empresarial enriquecera honesta e rapidamente, tendo acesso a gordos cofres públicos.

Religião atacada

Aonde vai a barbárie: uma linda canção cristã, Amazing Grace, de John Newton, é espalhada na Internet com uma letra falsa, de Marcos Borkowski, louvando guerras e combates e terminando com um apelo à intervenção constitucional no Brasil, seja lá isso o que for. (Clique aqui para ler)

Ninguém é santo

Comentário de Sérgio Fadul, diretor da Sucursal de O Globo em Brasília: “Joesley preparou uma armadilha e Temer caiu. Não há inocentes nessa conversa. Ali, quem falou sabia o que estava falando, para quem estava falando e por que estava falando. Joesley não queria Justiça, queria arrumar um cúmplice e conseguiu. Para o presidente, político experiente e profundo conhecedor das normas legais, o tom de informalismo que tenta dar ao encontro não combina com a imagem que construiu de homem público cioso dos protocolos de postura. Ali, na conversa, ficam expostos os ‘usos e costumes’ que comandam a política e alguns empresários.”

Não dá vontade de ter assinado este comentário?

 

Ponto final?

Um dos alvos mais resistentes do Ministério Público sofreu dura derrota: Paulo Maluf foi condenado pela Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal, por 4×1, por lavagem de dinheiro. Pena: 7 anos, 9 meses e dez dias de prisão em regime fechado. O único a votar contra foi Marco Aurélio Mello, para quem o crime atribuído a Maluf prescreveu. Maluf foi acusado de lavar dinheiro desviado da Prefeitura de SP entre 1993 e 1996.


Carlos Brickmann - Chumbo Gordo quarta, 17 de maio de 2017

DE CURITIBA A BRASÍLIA


A sentença de Lula deve ser anunciada até o início de julho, se o juiz Sérgio Moro mantiver seu rápido ritmo de decisão. Caso seja condenado, Lula irá recorrer ao Tribunal Regional Federal de Porto Alegre, que costuma decidir em um ano. Se condenado, Lula irá para a cadeia? Talvez não: um condenado em segunda instância pode ser preso, mas isso não é obrigatório. A Justiça pode aplicar a pena só após o trânsito em julgado, no Superior Tribunal de Justiça. Aliás, isso não tem muita importância. Ninguém, exceto os mais ferozes inimigos do PT (e boa parte da opinião pública), quer ver Lula em Curitiba. O que não se quer é vê-lo em Brasília.

O nome do jogo é outro: se Lula conseguirá ou não ser candidato à Presidência da República. Condenado em segunda instância, não poderá concorrer. Mas a condenação, para evitar que ele apareça como vítima, deve ocorrer antes que se inicie o prazo legal para registro de candidaturas, em agosto de 2018. Os prazos, portanto, são a chave da história.

Se Lula for candidato, terá dificuldades para se eleger. Lidera com folga as pesquisas de opinião, mas não o suficiente para ganhar no primeiro turno. E metade do eleitorado o rejeita, o que pode ser decisivo num eventual segundo turno. Mas quem conseguiu eleger até Dilma e Haddad pode dar a vitória a um candidato mais competitivo – ele mesmo. Pelo sim, pelo não, os adversários de Lula preferem que ele fique longe das urnas.

O abecedário petista

Se Lula não for candidato, quem sairá pelo PT? O partido nega que esteja pensando nisso. Mas tenta um Plano B, sim: o nome mais citado, por incrível que pareça, é o de Fernando Haddad, que deixou a Prefeitura paulistana com rejeição recorde e não conseguiu a reeleição. Há quem sugira o ex-governador baiano Jaques Wagner, houve quem pensasse no governador mineiro Fernando Pimentel. Mas Wagner tem ampla troca de mensagens com Leo Pinheiro, então presidente da OAS, sobre liberação de pagamentos; e Fernando Pimentel é alvo de delações premiadas.

O abecedário tucano

O PSDB, que desde o fim dos mandatos de Fernando Henrique manteve três candidatos à Presidência da República, uns abandonando os outros e sendo alternadamente surrados nas eleições, enfim pensa num Plano B: sem Aécio, nome constante de delações premiadas, e sem Serra, também delatado e com problemas de coluna (que, segundo disse, o levaram a renunciar ao Itamaraty), dos TCS (Três Candidatos de Sempre) só restou Geraldo Alckmin. Mas Alckmin não desperta grandes entusiasmos desde que, nas eleições de 2006, teve menos votos no segundo turno do que no primeiro. O Plano B dos tucanos é João Dória Jr., que vem tendo forte aprovação popular como prefeito de São Paulo. Dória foi lançado por Alckmin para disputar a Prefeitura, e já disse muitas vezes que Alckmin é seu nome para a Presidência. Mas, se continuar crescendo, pode ser candidato. Dória não tem esquema montado no partido, porém já disse que o melhor candidato para os tucanos é o que tiver melhores condições de vencer. Em política, o cheiro da vitória é o mais atraente que existe.

O abecedário dos outros

Tirando PT e PSDB, nenhum partido mostrou musculatura suficiente para disputar bem a Presidência. O PMDB é forte, mas não tem candidato (e Michel Temer, hoje com baixa popularidade, dificilmente se arriscaria a sair). Ciro Gomes sonha com a candidatura, pelo seu PDT, ou algum outro; Jair Bolsonaro quer ser candidato pelo PSC (embora brigado com a cúpula partidária). Há candidatos nanicos, como sempre. Há outras possibilidades, mas só nos sonhos de alguma legenda, sem nada articulado, como Sérgio Moro, Joaquim Barboza, ministra Carmen Lúcia ou Luciano Huck.

Firmes…

Um fator novo é a cada vez mais possível delação de Antônio Palocci. Palocci é gente de dentro; conhece hábitos, costumes, manias, vícios do pessoal do PT, do Governo e dos aliados; sabe quem doou e quem levou, como o dinheiro foi ganho e foi gasto. Mônica Moura e João Santana, os marqueteiros de Lula e Dilma, íntimos dos hábitos eleitorais do Planalto, fizeram delações devastadoras. Palocci, além de íntimo, foi coordenador de campanha, foi ministro da Fazenda, foi a conexão entre o PT e os grandes empresários. Ele sabe o que todos fizeram no verão passado.

…como geleia

E tudo depende, enfim, de investigações e de decisões judiciais. Nos dias 6, 7 e 8 de junho, o Tribunal Superior Eleitoral decide se cassa ou não o registro da chapa Dilma-Temer por abuso de poder político e econômico nas eleições de 2014. Se o registro for cassado, Temer perde o cargo e o Congresso elege quem completará seu mandato. Quem? O TSE levará em conta que o Congresso está cheio de parlamentares sob investigação?


Carlos Brickmann - Chumbo Gordo domingo, 14 de maio de 2017

ESTÁ CHEGANDO A HORA (DE LULA)

 

Lula finalmente prestou depoimento a Sérgio Moro. Encontraram-se em pessoa, falaram olhos nos olhos. Nada aconteceu de espetacular. Não houve briga de torcidas em Curitiba, nem troca de ofensas entre depoente, juiz e promotores. Quem achava que Lula é culpado continua achando, quem achava que Lula é inocente não mudou de ideia. Assunto encerrado.

Encerrado, pois a disputa hoje é menos no campo jurídico do que no eleitoral. É difícil acreditar que tantos delatores diferentes façam descrições tão parecidas do método petista de redistribuir a renda dos outros se algo não for verdade – e sabendo que, se mentirem, perderão as vantagens que já obtiveram e ficarão na cadeia. Lula, no depoimento, vacilou algumas vezes: garantiu que não tem influência no PT, nem no Instituto Lula, e que sua esposa decidia negócios de centenas de milhares de reais sem consultá-lo. Moro, um juiz duro, certamente esteve atento a esse tipo de detalhe.

A sentença de Moro, com possível condenação, deve sair em junho. Lula terá uns 13 meses até que o PT o lance candidato à Presidência da República. Mas, nesse período, se o Tribunal Regional Federal confirmar uma eventual condenação, Lula vira ficha suja e fica inelegível. Os magistrados poderão até permitir que se defenda em liberdade até o processo transitar em julgado, mas ele não poderá ser candidato. E, com o número de processos que sofre, eleger-se presidente é sua única boa saída.

Nus, em segurança

Detalhe saboroso da delação do marqueteiro João Santana e de sua esposa, Mônica Moura: o líder do PT no Senado, Delcídio do Amaral, exigiu que parte das contribuições de empreiteiras à sua campanha fosse depositada em conta clandestina no Exterior. A negociação foi feita na sauna da casa de Delcídio, em Campo Grande, Mato Grosso do Sul. Justo: na sauna, nenhum negociador teria como ocultar gravadores ou câmeras.

Vantagem extra

E ninguém teria como botar a mão no bolso dos outros.

Odebrecht? Café pequeno

Marcelo Odebrecht e seus 77 diretores fizeram uma radiografia notável da circulação de dinheiro não só em campanhas eleitorais, mas também como retribuição a atitudes amigáveis dos poderosos da época. Mas nada foi tão espetacular como a delação premiada de João Santana e Mônica Moura: enquanto a Odebrecht se aproximava dos cofres públicos de maneira protocolar – heterodoxa, sim, mas protocolar – João Santana e Mônica Moura é como se fossem da família, conheciam tudo por dentro. Surgiram então as bombas: a narrativa de Mônica segundo a qual o ministro da Justiça de Dilma, José Eduardo Cardozo, contava à presidente tudo que conseguia saber – e não deveria saber, quanto mais espalhar – sobre as ações da Polícia Federal na Lava Jato; e como Dilma, operando um e-mail falso, passava as informações sigilosas aos marqueteiros. Nas duas delações, ambos garantiram que Lula e Dilma sabiam tudo sobre as doações premiadas, e que Lula era o comandante-chefe do esquema – “a instância final”, como o chamavam. E que Dilma, quando tinha uma informação sigilosa a passar-lhes, sem risco de ser interceptada, levava Mônica para passear numa varanda ou nos jardins do palácio.

Detalhes saborosos

Algumas despesas que, conforme Mônica Moura, Dilma Rousseff lhe pediu para pagar: ao cabeleireiro, R$ 40 mil; a uma dama de companhia, R$ 4 mil mensais durante quase um ano; a um operador de teleprompter, (aquele vídeo em que corre o texto para quem fala na TV) R$ 95 mil. A Secretaria de Comunicações tem operadores de teleprompter, a EBC tem operadores de teleprompter, mas Dilma só aceitava um, e pagava por fora.

Carne queimando

A Operação Bullish (referência ao nome em inglês de manobras para elevar o preço de ações em bolsa) atinge a J&F, dona do JBS, maior produtor mundial de carne bovina. Mas a Polícia Federal investiga principalmente como é que o BNDES Participações entrou com mais de R$ 8 bilhões para financiar o crescimento do grupo. É operação para ir longe.

Sem fantasia

O programa de TV do PSDB foi muito interessante: insistiu na ética. Um dos políticos que mais destaque obtiveram foi o presidente nacional do partido, senador Aécio Neves, atingido por delações premiadas. E, segundo depoimento de Renato Duque, ex-diretor da Petrobras, foi apontado por José Dirceu como responsável pela nomeação de uma pessoa de sua confiança numa diretoria da empresa. Aécio não falou sobre isso. O partido, ao que se saiba, ainda não buscou apurar como um dos principais dirigentes da oposição conseguiu nomear gente sua num Governo petista. A troco de que? A propósito, quem é que Aécio teria indicado?


Carlos Brickmann - Chumbo Gordo quarta, 10 de maio de 2017

O ENCONTRO MARCADO

Hoje é o dia que o ex-presidente Lula tanto lutou para adiar: chegou a hora da jararaca beber água. Rejeitado pelo Tribunal Regional Federal o pedido para que houvesse novo adiamento do encontro marcado, o juiz Sérgio Moro recebe o depoimento de Lula sobre seu relacionamento com a empreiteira OAS, o apartamento tríplex do Guarujá e o sítio de Atibaia.

Há um Carnaval fora de época em Curitiba. Segundo a Polícia Federal, 60 ônibus de petistas chegaram à cidade. Há também o pessoal do MST de Foz do Iguaçu, que foi chegando aos poucos. E os parlamentares: metade da bancada de deputados federais (cerca de 30 em 58), nove senadores de um total de 11. Não se sabe exatamente quem pagou os ônibus, as refeições dos militantes, seus símbolos de luta (facões e foices em quantidade foram apreendidos pela Polícia curitibana). Já sobre o pagamento de passagens aéreas, hospedagem e alimentação dos dirigentes petistas não há qualquer dúvida: quem paga os caríssimos parlamentares é nosso caro leitor.

Gleisi Hoffmann em Curitiba

Gilberto Carvalho, que fez parte dos governos de Lula e Dilma, diz que a militância petista está em Curitiba apenas para manifestar solidariedade a Lula, e que não haverá qualquer tumulto. Mas há gravações do dirigente de um partido de ultraesquerda a respeito da boa oportunidade de iniciar uma rebelião popular em Curitiba. E o senador Tião Viana sugeriu a Lula que desacate Sérgio Moro, para ser preso e politizar de vez o julgamento.

Dia D…

Lula enfrenta uma situação difícil no depoimento: os empresários Emílio Odebrecht, Marcelo Odebrecht, José Carlos Bumlai e Léo Pinheiro, da OAS, mais o marqueteiro João Santana e sua esposa Mônica Moura, fizeram delações que o deixam mal. Delação não é prova; é apenas uma pista para facilitar as investigações. Mas, se as delações forem mentirosas, seus autores estarão sujeitos a pesadas penas, das quais só estariam livres se tivessem contado a verdade. Por isso, boa parte dos petistas recomendou que se tentasse transferir a discussão jurídica para o lado político, em que Lula se apresentasse como candidato à Presidência perseguido pelas elites. É o que vem sendo feito: Lula e seus defensores conseguiram até, algumas vezes, irritar o juiz Sérgio Moro, para caracterizá-lo como inimigo.

…Hora H

Do ponto de vista da defesa, a politização do caso é correta, até porque Lula tem insistido num único argumento para defender-se: o de que nada do que usufrui é de sua propriedade, pertence a amigos que o convidam. Mas há um obstáculo: se condenado na primeira instância pelo juiz Sérgio Moro, num julgamento que pode ocorrer rapidamente (o depoimento de hoje é um dos últimos do processo), e tiver a sentença confirmada pelo Tribunal Regional Federal, em segunda instância, poderá ser preso imediatamente; e, de qualquer forma, como “ficha suja”, será inelegível. A defesa de Lula apostou nos adiamentos, para que a candidatura seja oficialmente lançada antes do julgamento do recurso. Ficaria difícil, politicamente, condená-lo: pareceria que a condenação só teria como objetivo impedir que ele se candidatasse. Mas, se a condenação em segunda instância for mais rápida, seria impossível sacramentar a candidatura.

Relembrando

O colunista Ricardo Noblat, repórter que há muitos anos acompanha a movimentação política em Brasília, conta a seguinte história: “Em dezembro de 1989, poucos dias após a eleição do presidente Fernando Collor de Melo, o deputado Ulysses Guimarães (PMDB-SP), ex-condestável do novo regime, almoçava no restaurante Piantella, em Brasília, quando entrou a cantora Fafá de Belém, amiga de Lula. ‘Como vai Lula?’, perguntou Ulysses. Fafá passara ao lado dele o domingo da sua derrota para Collor. E contou: ‘Lula ficou muito chateado, mas começamos a beber e a comer, os meninos foram para a piscina e ele acabou relaxando’. Ulysses quis saber: ‘Tem piscina na casa de Lula?’ Fafá explicou: ‘Tem, mas a casa é de um compadre dele, o advogado Roberto Teixeira’. Ulysses calou-se. Depois comentou com amigos: ‘O mal de Lula é que ele parece gostar de viver de obséquios’. Na mosca!”

Roberto Teixeira e Lula: bons amigos

Só Lula? E Aécio?

Renato Duque, ex-diretor da Petrobras, citou em sua delação premiada uma série de histórias altamente desfavoráveis a Lula. Mas não falou só de Lula: disse que ganhou o cargo (no qual comandou alentado esquema de propinas, pixulecos e acarajés) após uma disputa que foi resolvida pelo então chefe da Casa Civil e homem-forte do Governo Lula, José Dirceu.

Segundo Duque, Dirceu disse que o candidato que concorria com Duque não poderia ser nomeado, porque era uma indicação de Aécio Neves, do PSDB. E Aécio já tinha conseguido dele, Dirceu, a nomeação de um aliado na Petrobras, então não levaria outro cargo. Aécio Neves. Pois é.


Carlos Brickmann - Chumbo Gordo domingo, 07 de maio de 2017

AS PROVAS DE FOGO

A libertação de José Dirceu, certa ou errada, gera um debate de curta duração: dentro de pouco tempo o Tribunal Regional Federal do Paraná julgará o apelo de Dirceu. Se o absolver, Dirceu continua em liberdade, inocentado neste caso, esperando o julgamento de outros processos. Se o condenar, Dirceu volta à prisão para cumprir pena de quase 21 anos, menos o que já foi cumprido e os abatimentos legais. Ele pode fazer as proclamações revolucionárias que quiser que isso não muda sua situação.

Mas a luta dos alvos da Lava Jato com a Justiça continua quentíssima. Lula deve prestar depoimento a Sérgio Moro nesta quarta.. Tema: o apartamento no Guarujá e o sítio em Atibaia. A suspeita é de que os imóveis sejam parte de uma propina. Há manifestações organizadas dos dois lados, e a Polícia quer mantê-las separadas: pró-Lula, na rua 15 de Novembro; contra, no Centro Cívico. Haverá bloqueios a 150 metros da Justiça Federal de Curitiba. Só entra quem tiver relação com o depoimento.

Antônio Palocci, que talvez opte pela delação premiada, deve ser ouvido sete vezes por Moro: nos dias 8, 9, 22, 24 e 26 de maio, 5 e 7 de junho. Palocci, ministro de Lula e Dilma, é acusado de receber quase R$ 50 milhões em propinas do Petrolão, disfarçadas de serviços de consultoria.

Há ainda as novas revelações de Renato Duque e outros empresários querendo entrar na lista de delatores. Há dias muito quentes pela frente.

É tudo política

Tanto Dirceu quanto boa parte do PT (há alas petistas que abandonaram Dirceu quando foi preso e ainda não se reaproximaram dele) acreditam que sua melhor defesa é politizar o julgamento – antes ser preso com imagem de revolucionário do que como corrupto. Dirceu saiu da prisão propondo que o PT faça agora o que não fez em 13 anos de Governo: “Nada será como antes e não voltaremos a repetir os erros. Voltaremos com um giro à esquerda para fazer as reformas que não fizemos na renda, riqueza, poder, a tributária, a bancária, a urbana e a política. Não se iludam vocês e os nossos. Não há caminho de volta. Quem rompeu o pacto que assuma as consequências”. Gilberto Carvalho, do núcleo duro de Lula e Dilma, ameaça: “Se vierem para atacar, disseminando o ódio, vamos acionar a nossa militância”. Uma dúvida: que pacto é esse de que fala Dirceu? Que é que foi pactuado, e com quem? Exceto, claro, as empreiteiras?

Dilma em risco 1

Mônica Moura, esposa de João Santana, o marqueteiro de Dilma, colocou-a numa situação perigosa: em sua delação premiada, disse que Dilma e ela tinham um meio seguro de comunicação (uma conta de e-mail, com nome falso, da qual só as duas tinham a senha. O e-mail, escrito como rascunho, não era enviado. Quem tinha a senha o abria, lia e assumia o compromisso de apagá-lo). Segundo Mônica, Dilma a avisou de que ela e o marido estavam na mira da Operação Lava Jato. A presidente teria também uma linha desse tipo com o empreiteiro Marcelo Odebrecht, usando-a para informá-lo dos avanços da Lava Jato; e, muitas vezes, teria usado o notebook de Mônica para enviar mensagens ao empreiteiro. O notebook foi entregue por Mônica Moura à Polícia Federal, para perícia.

Esta parte da delação é fácil de confirmar: o notebook guarda registros de mensagens apagadas. O computador abre o local da mensagem para outras gravações, mas só a apaga quando vem nova gravação por cima.

Se isso for verdade, Dilma pode ser acusada de obstrução da Justiça.

Dilma em perigo 2

Pior será se a ex-presidente utilizou computadores do Governo para trocar esse tipo de mensagens. É agravante.

Governos em risco

1 – O Tribunal Superior Eleitoral cassou o mandato do governador do Amazonas, José Melo (PROS), e do vice Henrique Oliveira, por compra de votos nas eleições de 2014. Foram convocadas novas eleições.

2 – A Procuradoria Geral da República pediu ao TSE a cassação do governador da Paraíba, Ricardo Coutinho (PSB), e da vice Lígia Feliciano (PDT), por abuso de poder político. Segundo o procurador Nicolao Dino, o governador concedeu reajustes de R$ 7,2 milhões, pouco antes das eleições de 2014, a aposentados e pensionistas, via PBPrev. Foi pedida também a condenação do superintendente da PBPrev na época, Severino Ramalho Leite. Coutinho já tinha sido julgado e absolvido pelo TRE da Paraíba.

3 – A Procuradoria Regional Eleitoral do Rio pediu ao TSE que seja mantida a cassação do governador Pezão (PMDB) e do vice Francisco Dornelles (PP), condenados pelo TRE por abuso de poder econômico: concessão de benefícios a empresas em troca de doações posteriores.

4 – O Supremo autorizou processos contra 12 governadores. Outro já foi cassado. É quase metade do número de governadores do país.


Carlos Brickmann - Chumbo Gordo domingo, 30 de abril de 2017

AJUSTE-SE À JUSTA JUSTIÇA

Este colunista discorda de uma das principais reivindicações da oposição: a que rejeita modificações na Previdência e exige uma aposentadoria mais justa. Aposentadoria mais justa, acha o colunista, seria uma pensão equivalente ao último salário recebido na ativa, mais uma porcentagem que compense o aumento inevitável de gastos dos idosos.

O problema é que não há dinheiro para isso. A questão sai da esfera da justiça e passa ao setor a que efetivamente pertence, o econômico. Há dois tipos de aposentadoria: o que usamos, de repartição simples (quem trabalha paga, e os aposentados recebem. Cada geração paga a aposentadoria da anterior); e o de capitalização (o desconto de cada assalariado vai para uma conta em seu nome e é investido. Como num fundo de pensão, os rendimentos são somados ao capital. Na aposentadoria, o cidadão passa a receber parcelas de seus investimentos). Cada sistema tem virtudes e defeitos. Ambos são limitados pelo comportamento da economia. Ambos podem ser bem ou mal geridos. Na capitalização, os aposentados recebem mais, ou menos, conforme a gestão. No nosso caso, quem cobre os buracos é o Tesouro, e surgem as reformas para que a Previdência sobreviva. No Governo Fernando Henrique, houve o fator previdenciário; agora, é o aumento do tempo de contribuição para se aposentar. Nos dois casos, não se fala em justiça. Nos dois casos, a correia sai do couro. Do aposentado.

Inúmeros números

As centrais sindicais dizem que 40 milhões de brasileiros cruzaram os braços em adesão à greve geral. O Governo, extraoficialmente, fala em meia dúzia de gatos pingados, que bloqueou os transportes para impedir que a população chegasse ao trabalho. Ambos os lados têm sua parcela de razão: houve sindicatos que fizeram greve, muitas escolas de classe média alta que aderiram; houve agressões a quem queria trabalhar (no aeroporto de Santos Dumont, no Rio, por exemplo), e ações de combate urbano na tentativa (quase sempre fracassada) de bloquear o trânsito. Em boa parte dos casos, não houve greve, mas violência para bloquear não grevistas.

 

Greve de cima

 

O mais curioso na greve foi a adesão, disfarçada ou não, de entidades de Estado. Os tribunais regionais do trabalho de Minas, Bahia e Rio Grande do Sul suspenderam o expediente, liberaram servidores, adiaram os prazos que venceriam na sexta para o primeiro dia útil seguinte (terça-feira). O TRT baiano suspendeu o expediente em todo o Estado, “por segurança institucional de magistrados, servidores, advogados e cidadãos”. Desobedeceram à ordem expressa do presidente do Tribunal Superior do Trabalho, Ives Gandra, para que os TRTs funcionassem normalmente. O TRT gaúcho foi além: explicou sua decisão de não funcionar “levando em conta as manifestações de entidades que expressaram repúdio às reformas”.

Maldade

Mas a participação na greve nada tem a ver, com certeza, com o feriadão que vai até amanhã, 1º de Maio. Com a greve, o feriadão acabou virando um superferiado, com quatro dias de duração.

Cuidado com a festa

O foro privilegiado, alvo de tantas queixas nos últimos tempos, sofreu duro golpe nesta última semana: foi derrubado no Senado, em primeira votação, mantendo-se apenas para os chefes dos três poderes. Mas ainda não é hora de festejar: eliminado o foro privilegiado, quem está sendo processado em tribunais superiores será enviado aos juízes de primeira instância. Pode ser bom para os processados, com reabertura de prazos, etc., e a possibilidade de recorrer à segunda instância e, eventualmente, de chegar ao Supremo de novo, passados alguns anos. Há outros problemas, de hierarquia: pode um ministro do Superior Tribunal de Justiça ser processado por um juiz hierarquicamente inferior? Talvez essas questões atrapalhem o bom andamento da Justiça ainda mais que o foro privilegiado – e talvez esse tipo de problema seja levado ao Supremo.

Quem cai com a Odebrecht

A situação financeira do grupo Odebrecht vem sendo discretamente acompanhada e discutida pela área econômica do Governo. A preocupação não é exatamente com a Odebrecht, mas com sua dívida superior a R$ 100 bilhões. Se a empresa não conseguir pagar esses débitos, vai atingir pesadamente o balanço dos bancos que lhe fizeram empréstimos. E as despesas continuam altas: os 77 executivos que concordaram em fazer delações premiadas receberam, em troca de seu afastamento da empresa, a promessa de indenizações substanciais. Enfrentando problemas e multas no Brasil e no Exterior, onde irá a Odebrecht buscar mais dinheiro?

Não é no BNDES, que já deu R$ 100 bilhões de subsídios, nos últimos nove anos, às empresas “campeãs nacionais” escolhidas pelo Governo.


Carlos Brickmann - Chumbo Gordo quinta, 27 de abril de 2017

RATOEIRA DESPOVOADA

Diziam os políticos que, quando o poder chega ao fim, até o cafezinho, quando vem, vem frio. As coisas mudaram: hoje, quando se acaba a capacidade de ofertar agrados, nem há para quem servir o café. E o pessoal tem bom faro – percebe com antecedência a hora de abandonar o navio.

Dia 21: o governador mineiro Fernando Pimentel, o último seguidor de Dilma, faria farta distribuição de Medalhas da Inconfidência. Faria: os governadores do Maranhão, Flávio Dino; do Acre, Tião Viana; e da Bahia, Rui Costa, não apareceram. Marieta Severo, Wagner Moura, Camila Pitanga e Gregório Duvivier, artistas petistas ativistas, não apareceram. Lula faltou à cerimônia. São amigos, mas sabem o que lhes convém.

Dia 24: a Procuradoria Geral da República pediu ao Superior Tribunal de Justiça que abrisse inquérito sobre Fernando Pimentel, em consequência das delações premiadas do pessoal da Odebrecht. Pouco depois, a Polícia Federal indiciou a jornalista Carolina Pimentel, esposa do governador, por participação em lavagem de dinheiro e crime eleitoral. O indiciamento teve base na Operação Acrônimo, que desde maio de 2015 investiga a possibilidade de tráfico de influência na liberação de empréstimos do BNDES e esquemas de lavagem de dinheiro em campanhas eleitorais.

E pensar que, não faz muito tempo, quando jorravam as benesses, o navio mal se aguentava com o peso de tantos obscuros habitantes do porão!

Há quem queira

É maldade dizer, entretanto, que todos os políticos condecorados por Fernando Pimentel se esquivaram da homenagem. Os petistas e o comunista Dino, sim. Mas Renan Calheiros Filho pegou sua condecoração.

Bola com Dilma

A ex-presidente Dilma Rousseff sempre disse que nada tinha a ver com a corrupção, e que tudo aquilo não era de seu conhecimento. Mas a delação premiada de seu marqueteiro, João Santana, e de sua esposa e sócia, Mônica Moura, é clara: ambos afirmam que Dilma, em 2014, sabia dos pagamentos ilícitos para sua campanha. Santana diz que conversou com Dilma, em maio de 2014, sobre repasses de verbas na caixa dois; Mônica Moura diz que atrasos nos pagamentos foram tratados, por ordem de Dilma, com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o tesoureiro da campanha, Edinho Silva. Em conversa, completa Mônica, Dilma até quis saber se era seguro utilizar uma conta no Exterior.

Com a delação premiada de Santana e Mônica Moura, o problema de lavagem de dinheiro, caixa 2 e pagamento de propina como doação de campanha cai no colo da ex-presidente.

Lula x Moro

Por que a Polícia Federal e a Secretaria da Segurança do Paraná teriam pedido que o depoimento de Lula perante o juiz Sérgio Moro fosse adiado? A versão inicial, de que seria necessário mais tempo para organizar a segurança, não é verossímil: o depoimento foi marcado por Moro com 60 dias de antecedência. Quem não conseguiu planejar a segurança de um depoimento em dois meses, de quantos precisará a mais para organizar-se?

Talvez a delação premiada do empresário Léo Pinheiro, da OAS, exija investigações complementares. Talvez. Mas Léo Pinheiro já tinha feito uma delação premiada, que o procurador Rodrigo Janot suspendeu, irritado com um vazamento. Será que, dela, ninguém tivesse investigado nada até hoje?

A única hipótese aceitável seria a de que alguma nova prova, sólida e substancial, esteja a ponto de ser concluída. Porque, se aceitarmos a tese de que o objetivo do adiamento é impedir que petistas de todo o Brasil se reúnam em Curitiba e tumultuem o julgamento, isso significará que o Estado brasileiro não tem poder sequer para garantir a Justiça. É mau.

Palocci e sua hora

O jornalista Marco Piva, da ala pensante petista, discorda da nota desta coluna sobre o depoimento do ex-ministro Antônio Palocci. Na íntegra:

“Alô, Carlinhos! Anota aí: Palocci não traiu o PT. Não vai fazer delação, premiada nem sem prêmio, contra o partido, que já está bastante chamuscado. Publicamente, ele preparou as condições para ampliar o foco da operação em cima de outras empresas e instituições, no caso os bancos e alguns membros da Justiça, que estavam na moita até agora. Ele tem arquivado muito mais coisa que os 77 delatores da Odebrecht juntos.

“Nesse sentido, deu um trucaço no Moro, obrigando-o publicamente a ir atrás das informações. Se não fizer isso, o juiz será visto como alguém que está protegendo outros envolvidos na Lava Jato, cujos nomes ele e a PGR já sabiam faz tempo, mas ainda não haviam investigado (por qual motivo, não faço a menor ideia). Portanto, novos lances da operação.

“Prepare a coluna para tempos calientes. Muito chumbo gordo pela frente”.


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