Almanaque Raimundo Floriano
Fundado em 24.09.2016
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, dois genros e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas quinta, 14 de setembro de 2017

TEREZINHA FONSECA, MINHA PRIMA AMERICANA

TEREZINHA FONSECA, MINHA PRIMA AMERICANA

(Publicada no dia 09.11.2015)

Raimundo Floriano

 

 Terezinha Fonseca 

                        Esta linda história, a saga dos Albuquerque Fonseca, teve início com o raiar do século passado, no sertão sul-maranhense.

 

                        Em Balsas, oriundo de Loreto, velha povoação ali pertinho, morava o casal José Bezerra de Farias e Ana Isabel Albuquerque Bezerra, a Donana, com seus filhos, Maria de Albuquerque e Silva, a Maria Bezerra, minha saudosa mãezinha, nascida em Loreto, a 5 de janeiro de 1902, Alice, nascida em Balsas, a 3 de janeiro de 1910, João e Antônio, também balsenses, dos quais poucos dados se conhecem, pioneiros na colonização, pois a cidade seria emancipada apenas em 1918.

 

                        Naqueles árduos tempos, surgiu um novo Eldorado Brasileiro, o Centro-Oeste, para onde se dirigiam os que procuravam conquistar seu pedaço de terra para prover a subsistência da família e a educação dos filhos. Nessa ilusão, Donana convenceu José Bezerra a incorporar seu povo a uma caravana de seringueiros que partia rumo à conquista desse ideal.

 

                        Era em 1915, com Alice contando apenas 5 anos de idade. Maria Bezerra, então com 13, preferiu ficar em Balsas, ajudando sua tia Maria Angélica, irmã de Donana.

 

                        Não havia estradas. Como aos velhos marinheiros, apenas o Sol, de dia, e as Estrelas, à noite, indicavam à caravana o rumo a seguir. Com os adultos viajando a pé, e as crianças, nas costas de jumentos e muares, que carregavam também o vestuário, ferramentas, utensílios de cozinha e gêneros de primeira necessidade, a jornada histórica e épica levou alguns anos. Enfrentando índios, feras, intempéries e cruzando rios caudalosos, vivendo da caça e da pesca, os peregrinos, às vezes, paravam em algum local para cultivar, em pequenas roças, os gêneros alimentícios que lhes garantissem a matalotagem no inóspito percurso.

 

                        Para ter-se uma ideia da duração dessa aventura, basta saber que o quinto filho de José Bezerra e Donana, o José, o Cazuza, nasceu no Pará, a 19 de março de 1922, e Cidalina, a última, em Aruanã (GO), fronteira com Mato Grosso, a 15 de novembro de 1923.

 

                        Ainda naquele Estado, José Bezerra, nosso avô, aceitou o emprego de capataz numa fazenda, tendo Donana, nossa avó, se rebelado contra aquela mudança de planos, motivo pelo qual o abandoou e seguiu com os filhos para Goiás Velho, então capital do Estado, naquela época centro cultural, onde ela queria educá-los. Não existindo foto do casal, aqui vai a da Matriarca:

 

 Donana, nossa avó materna

 

                        Em Goiás Velho, negociando com couro, parte da família prosperou: Cidalina, mediante concurso publico, tomou posse no cargo de Fiscal Federal, e Cazuza, no de Funcionário da Receita Federal. João faleceu ainda jovem, e Antônio sumiu-se nos garimpos dos arredores, não dando mais notícia desde então.

 

                        Residindo ainda em Goiás Velho, Alice casou-se, em 1931, com José Garibaldi da Fonseca, telegrafista, nascido em Itaberaí (GO), a 21 de janeiro de 1910. Esse era um dos melhores empregos do Brasil. Em 1938, com o estrondoso progresso de Goiânia, inaugurada a 24 de outubro de 1933, o casal para lá se mudou, permanecendo Garibaldi como telegrafista e abrindo uma loja de confecções, a Exposição Goiana, na Avenida Anhanguera, coração da nova capital esmeraldina.

 

 Alice, Garibaldi e Willer, o primeiro filho 

                        Garibaldi e Alice tiveram 5 filhos: Willer, Engenheiro; Weles, Funcionário da UFG - Universidade Federal de Goiás; Terezinha, Professora, sobre quem adiante me alongarei; Wilton, Jornalista de O Século, e fundador do jornal O Sábado, em Portugal, com serviços prestados à ONU em Angola, Indonésia e Burundi; e Maria Alice, Psicóloga e especialista em Artes e Cultura.

 

 Willer, Terezinha e Weles 

                        Garibaldi viveu um lance muito interessante, que não pode passar em branco. Seu pai, telegrafista, ensinou aos filhos, ainda crianças, o Código Morse, de forma que a molecada vivia a se divertir, “falando” mal dos que estavam por perto, na maciota, digitando piadas ou sacanagens nos braços uns dos outros. Também pegavam eles no pesado, quando o pai, viciado em política, os deixava manipulando no Telégrafo, enquanto discutia a situação do País com os amigos.

 

                        Aos catorze anos, em 1925, certa madrugada, após levar uns tabefes, viu-se ele sequestrado, amarrado e conduzido por um tenente à Coluna Prestes, que necessitava de um telegrafista pelas cidades e vilas onde acampava – vejam só a delicadeza do recrutamento! O Chefe da Coluna gostou dele, ficou seu amigo, mas logo chegou o telegrafista efetivo, Garibadi foi dispensado, e o mesmo tenente, enciumado, pegou de uma espingarda e deu-lhe um tiro na perna esquerda, razão pela qual o menino ficou levemente mancando para sempre.

 

                        Outros filhos de Garibaldi e Alice:

 

 Wilton e Maria Alice 

                        No ano de 1954, Garibaldi foi designado para chefiar a Estação de Rádio do Arpoador, no Rio de Janeiro (RJ), de comunicação com navios, o que o fez encerrar as atividades comerciais em Goiânia e mudar-se com a família para a capital fluminense.

 

                        Nesta edificante história, houve um trágico acontecimento. Em 1975, Weles, funcionário da UFG, dirigia-se, com colegas de serviço para o trabalho, quando a kombi que os transportava parou num sinal vermelho, atrás dum caminhão-tanque, cheio de gasolina. Na frente dos dois veículos, um automóvel bateu no poste do semáforo, que caiu sobre o caminhão-tanque, o qual se incendiou e explodiu, tendo as chamas atingido a kombi, matando carbonizados todos os passageiros. Weles estava com menos de 40 anos.

 

                        Falemos agora da Terezinha, personagem principal desta crônica. Com a mudança da família para o Rio de Janeiro, completou, ali, sua formação universitária. Para não perder tempo com entretantos, aqui vai seu currículo.

 

                        Especializou-se em Literatura Inglesa, na Faculdade de Filosofia da Universidade do Brasil. Completou o Mestrado, com uma tese sobre as comédias de Shakespeare, na Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ, onde lecionou vários anos antes de sair do Brasil. Recebeu o Grau de Mestre da University of California (Berkley) e de Doutor, com distinção, da New York University (NYU), onde prosseguiu seus estudos de Literatura Inglesa do Período Elisabetano. Continuou sua carreira profissional na NYU (Queensborough Community College), onde se aposentou como Titular Emérita. Publicou, entre livros e ensaios, Literature Across Cultures (coautoria), introdução aos romances Mrs. Dalloway, de Virginia Woolf, e Persuasão, de Jane Austen, Pathways to College Writing e Love and Sexuality in Literature. Capa de um deles:

  

 

                        É mole, ou quer mais? 

                        Terezinha iniciou a carreia internacional em 1969, quando conheceu Richard Crumb, o Dick, funcionário do Bank of America, Sociólogo, que se encontrava no Brasil escrevendo sua Tese de Mestrado sobre nosso País. Casaram-se em 1970, moraram dez anos pela América Latina – Venezuela, Bolívia, Equador, Panamá –, e, em 1980, fixaram residência definitiva nos Estados Unidos. Hoje, o casal reside em Fort Lauderdale, Flórida.

 

 Richard Crumb, o Dick 

                        Terezinha é irmã consanguínea de Goiânia, 6 anos mais nova. Ambas cresceram juntas, compartilhando suas experiências, qualidades e segredos. E é com minúcias que Terezinha nos apresenta sua querida mana em seu mais recente livro, lançado em Goiânia, no ano passado, 2014, nas comemorações dos 80 anos do Willer:

 

 

 

                        O livro poderia se chamar À Moda de Casa, tal é a intimidade com que Terezinha fala da cidade onde nasceu. Nunca um escritor se dedicou tanto a estudar e contar as minúcias da vida cotidiana, dos costumes triviais de uma comunidade que se formou na primeira metade do século passado. Contos Goianos é, em suma, também, a história dos Albuquerque Fonseca.

 

                        Vejamos flagrantes de seu lançamento:

 

 Terezinha e sua Quitanda de Livros – Wilton, Maria Alice e Terezinha 

                        A glória não se detém por aí. Em setembro deste no, Terezinha participou do III Encontro Mundial de Escritores Brasileiros no Exterior, ocorrido no King Juan Carlos I of Spain Center, na New York University, como adiante vemos nas imagens da entrega dos certificados pelo Professor Domício Coutinho, Presidente de Biblioteca Brasileira de Nova York, e Professora Else Vieira, da Universidade de Londres, a ela e a Roseli Ximanyi, escritora alemã:

 

 Professor Coutinho, Terezinha e Professora Else – Coutinho, Roseli e Else 

                        Para finalizar esta saga dos Albuquerque Fonseca, aí vai a imagem dos brindes – o livro recém-lançado – na festa dos 80 anos do Willer, a quem À Moda da Casa - Contos Goianos é dedicado com este emocionante depoimento: “Existem irmãos verdadeiros – de sangue, de alma e de sentimentos. Você, Willer, é um deles. Sinto-me para sempre devedora na balança de amor e carinho que lhe dedico.”

  

                        Metendo minha colher de pau na conversa, apresento-lhes, para que vocês conheçam, o bonito Hino do Estado de Goiás, de Joaquim Thomas Jayme e José Mendonça Teles, composto em substituição ao anterior que, formado por 18 estrofes, ninguém conseguia decorar:

 

 

 


Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas quarta, 13 de setembro de 2017

NEOLOGISMOS DE SEU MUNDINHO

NEOLOGISMOS DE SEU MUNDINHO

(Publicada no dia 19.10.2015)

Raimundo Floriano

 

Charge inspiradora

 

                        A ilustração acima, de autoria do chargista paranaense Sponholz, colaborador assíduo Jornal da Besta Fubana, despertou em mim o desejo de falar sobre as palavras novas que tenho inventado para melhor fazer-me entender em meus escritos, diante da pobreza da Língua Portuguesa que, às vezes, exige três ou mais termos para definir o que poderia ser resumido num só.

 

                        Diante dessa minha produção neologista, fruto de minha embasbacante sapiência lexiológica, Chico Fogoió, meu Aspone piauiense, não conteve sua perplexidade e seu chaleirismo:

 

                        – Mundinho, tu podias te candidatar a uma vaga na Academia Brasileira de Letras! – Ao que respondi:

 

                        – Chico, ABL, não! Quem pode mais, pode menos! Se já sou Titular da Cadeira Número 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, como me sujeitaria a descer no nível de minha imponência para associar-me a um sodalício inferior importância? Para mim, só o Nobel de Literatura que, além de me projetar internacionalmente, trar-me-ia uns bons caraminguás, na casa do mi, em dólar, é bom dizer, o que magnifica, por demais, a importância de sábios que nem eu!

 

                        Falar nisso, quero deixar aqui consignados meu aplauso e agradecimento aos Imortais da ABL que, ao elaborarem o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, mantiveram os termos paraolimpíada e paraolímpico, desprezando os nefastos paralimpíada e parlímpico, macaquice tão em moda nos dias atuais.

 

                        Diante desse irrebatível argumento, Fogoió concordou comigo, mas instou que, para justificar minha pretensão, eu desse a público a relação do que tenho maquinado em prol da Língua Pátria. E, para o conhecimento e ilustração de todos os Países Lusófonos, assinantes do último Acordo Ortográfico, aí vai a enriquecedora produção com que tenho iluminado minhas páginas. São palavras que, até agora, não constam de dicionários, tratados de Direito ou de Medicina:

 

Apilodar - Estocar músicas em sites de busca.

Atricósico - O mesmo que glabro, alopécico, falacrosiano e careca.

Daunlodar - Baixar músicas de site de busca.

Bengalante - Aquele ou aquela que faz uso de bengala.

Binubês - Condição de quem, legalmente, se casou duas vezes.

Biquiaberto - Sentimento de estupefação vivenciado por pessoa bicuda.

Curyosidades - Fatos interessantes na vida de mau amigo Said Cury.

Falacrosiano - O mesmo que glabro, alopécico, atricósico e careca.

Fisicopedeuta - Educador Físico.

Fisioterapata - Paciente de Fisioterapia.

Flatófilo - Cheirador de bufa ou de peido.

Ginecófago - Aquele ou aquela que come – devora – a mulher.

Gupsósfago - Comedor de giz em salões de sinuca ou em salas de aula.

Hetairófilo - Raparigueiro.

Hidrossaponiterapia - Tratamento à base de água e sabão, eficaz em quase todo tipo de doença.

Hidroterapata - Paciente de Hidroterapia.

Homogamia - Casamento entre duas pessoas do mesmo sexo.

Inélido - Escritor não lido.

Precipúcio - Empreitada na qual o sujeito corre grande risco de ficar sem o prepúcio.

Repetivo - Que se repete uma vez.

Repetitivo - Que se repete duas vezes.

Repetititivo - Que se repete três vezes, e assim sucessivamente.

Terceiridoso - Pessoa pertencente ao grupo da melhor idade.

Trinubês - Condição de quem, legalmente, se casou três vezes, e assim sucessivamente.

Uroprestígio - Respeito, encanto ou sedução conseguido através das vias urinárias.

Urubucídio - Matança de urubu.

Urubusservação - Estudo sobre as aves ciconiiformes.

 

                        E, para terminar, a imagem que me inspirou esta crônica, aqui repetida para que fique bem gravada na mente de meus queridos leitores:

  

Pterofalo - Caralho de asas.

 

                        Devo, nesse processo de criação, os ensinamentos de meu saudoso colega e amigo Sebastião Corrêa Côrtes, filólogo, latinista, poliglota e helenista, um de meus espelhos na vida, cuja segura orientação nos assuntos etimológicos e semânticos agora muita falta me faz.

 

                        Mas nem eu, nem o Côrtes, jamais chegaríamos à perfeição nobelística do cara que, neste ano de 2015, criou um neologismo, o qual, de imediato, se incorporou ao linguajar jurídico e caiu na boca do povo de modo indelével, permanente, definitivo. Refiro-me ao iluminado inventor do vocábulo que, em si, já diz o que é, entendido até pela massa ignara, dispensando qualquer explicação: pixuleco!

 

                         Com ele, forçosa e reconhecidamente, dividirei a grana do Nobel!


Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas sábado, 09 de setembro de 2017

LOUVAÇÃO AO SUPERMAIA - CORDEL DO EDITOR DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO

LOUVAÇÃO AO SUPERMAIA DA QUADRA 508 SUL

(Publicada no dia 17.08.2015)

Raimundo Floriano

 

 

(Cordelzinho feito a pedido de um Aspone do SuperMaia da 508 Sul)

 

Sou Raimundo Floriano

Mão de onça, pé de pano

Do Maranhão natural

Trombonista brasileiro

Cordelista, presepeiro

Heterossexual

 

No Exército, Sargento

Trabalhei no Parlamento

A nobre missão cumpri

Com invejável memória

Em livros, conto a história

De Balsas, onde nasci

 

Bravatas não me consomem

Pois bicho que mata o homem

Mora é debaixo da saia

E digo, com garantia

Para fazer economia

Só compro no SuperMaia

 

Tem louça, conveniência

Itens pra subsistência

Açougue, pão e biscoito

Verdura, óleo de soja

Bebidas, tudo na loja

Lá da Quinhentos e Oito

 

Café e chá na entrada

Mordomia franqueada

Excelentes energéticos

Com açúcar e adoçante

Opções para o talante

Dos fregueses diabéticos

 

Seu pessoal, bem treinado

Competente e educado

Com satisfação no cenho

Me faz lembrar com prazer

E orgulhoso enaltecer

Os amigos que ali tenho

 

Começo por um Aspone

Que anuncia ao microfone

Promoções e o preço certo

Com cordura e gentileza

Sagacidade e nobreza

O nome dele é Roberto

 

No Caixa, com segurança

Quer no peso, ou na cobrança

Esperta, chega nem pisca

Tem a terna maranhense

Morango mangabeirense

Que atende por Francisca

 

As burrinhas arrastadas

Pesando até toneladas

Pra ele, que toma cálcio

É trabalho de menino

Refiro-me ao vascaíno

Batizado como Dálcio

 

Na frente, com galhardia

Ajudando a freguesia

Já conquistou nossa estima

Sempre muito atencioso

Devotado e prestimoso

Esse mancebo é o Lima

 

Aqui vou me retirando

Se não estou agradando

Pode falar quem quiser

Neste mundo colorido

Continuo convencido

Que bicho bom é mulher

 

 

Glossário:

Burrinhas - Plataformas com rodízios, usadas no transporte de mercadorias, dos caminhões para o interior da loja.

"


Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas sexta, 08 de setembro de 2017

SÃO LUÍS! 8 DE SETEMBRO! 405º ANIVERSÁRIO DE FUNDAÇÃO!

SÃO LUÍS, QUATROCENTOS ANOS

(Publicada no dia 08.09.2012)

Raimundo Floriano

 

Duas paisagens da Capital Quadrissecular do Maranhão

 

                        Hoje, 8 de setembro de 2012, comemoramos o Quadringentésimo Aniversário de São Luís, Capital do Estado do Maranhão, uma das três capitais brasileiras localizadas em ilhas. As outras são Vitória, no Espírito Santo, e Florianópolis, em Santa Catarina.

 

                        A Ilha de São Luís, lembrada hoje pelo enorme casario de arquitetura portuguesa, abrigava, no início, apenas ocas de madeira e palha e uma paisagem quase intocada. Ali, ficava a aldeia de Upaon-Açu, onde os índios tupinambás – cerca de 4.000, segundo cronistas franceses – subdivididos em 16 aldeamentos, viviam da agricultura de subsistência, com pequenas plantações de mandioca e batata doce, e das ofertas da natureza, caçando, pescando, coletando frutas.

 

                        Até o final do Século XVI, resultaram praticamente inúteis as tentativas portuguesas de estabelecer na ilha um núcleo de civilização. Não o conseguiram Aires da Cunha e Fernando Álvares de Andrade, associados ao historiador João de Barros, Donatário da Capitania do Maranhão. Partindo de Lisboa, em 1535, a Armada, sob o comando do primeiro, atingiu a Costa Maranhense, naufragando, porém, nos Baixios de Boqueirão, junto à Ilha do Medo. Os sobreviventes, em número reduzido, retiraram-se para o Reino em navios piratas que por ali passavam.

 

                        Igual sorte estava reservada, em 1554, a Luís de Melo e Silva, a quem Dom João III, por desistência do Donatário João de Barros, que permanecera em Portugal, doara a Capitania. A pequena frota com que para ela se dirigiu soçobrou, provavelmente nos Baixios da Coroa Grande, regressando Melo e Silva a Portugal numa caravela que escapara da catástrofe.

 

                        Essas duas catástrofes desanimaram os portugueses que acaso se interessavam pela conquista do Maranhão.

 

                        Os insucessos das Armas Lusas na África e a consequente passagem de Portugal para o domínio da Espanha deram ensejo aos franceses de se estabelecerem nas terras maranhenses. Com esse objetivo, foram equipadas três naus que, sob a chefia do Capitão Jacques Rifault, ali chegaram em 1594. O naufrágio do navio principal e a discórdia entre os componentes da tripulação decretaram o fracasso da empreitada.

 

                        Alguns elementos, por sua vez, não retornaram à França, preferindo o contato com os silvícolas, ao lado dos quais guerrearam, granjeando-lhes a simpatia. Entre eles, estava Charles Des Vaux que, voltando depois a seu país, expôs o que vira ao Rei Henrique IV. Interessando-se pelas notícias, o soberano ordenou a Daniel de La Touche, conhecido como Senhor de La Ravardière, que partisse para as novas terras, a fim de comprovar a veracidade das informações. Dessa viagem não decorreram, todavia, consequências de ordem prática, em vista da morte de Henrique IV.

 

                        Esse fato adiou outros empreendimentos, que só puderam ser levados a efeito em 1611, no reinado de Luis XIII. Por essa época, Daniel de La Touche organizou nova expedição com cerca de 500 homens vindos das cidades francesas de Cancale e Saint-Malo, partindo no dia 19 de março de 1612 no intuito de estabelecer no Brasil a França Equinocial – esforço dos franceses de colonização da América do Sul em torno da Linha do Equador. A 6 de agosto, chegou a seu destino.

 

                        Contando com a amizade dos aborígenes, os franceses procuraram organizar a defesa da nova colônia, certos de que os portugueses tentariam expulsá-los, logo que se tornassem conhecedores da situação. Em lugar alto e próximo ao ancoradouro, construíram um forte. Após o término das obras, a edificação recebeu o nome de Forte de São Luís, em memória eterna de Luís XIII, Rei de França e de Navarra. O ancoradouro foi denominado Porto de Santa Maria, não só em homenagem à Santíssima Virgem, como em atenção a Maria de Médicis, Rainha da França e mãe do Regente Luís XIII.

 

Rei Luís XIII e Busto de Daniel de La Touche

 

                        A 8 de setembro de 1612, tem lugar a implantação da Cruz na Ilha, procedendo-se sua bênção, sob a salva dos canhões do Forte e dos navios franceses, em sinal de regozijo. Esse ato, pela magnitude e excepcional solenidade de que se revestiu, é considerado como o verdadeiro Auto de Fundação da Cidade de São Luís.

 

                        A Capital Maranhense tem dois gentílicos: são-luisense e ludovicense, este derivado do Latim, Ludovicus, Ludovico em Português, ou Luís, mais uma homenagem ao Rei Luís XIII.

 

                        Tão logo se propalou a notícia do domínio do Maranhão pelos franceses, procuraram os portugueses eliminar a ameaça. Gaspar de Souza, Governador-Geral do Brasil, enviou, no início de 1614, pequena expedição, comandada por Jerônimo de Albuquerque, que fez o reconhecimento das posições francesas na Ilha de São Luís, sendo erigido, no lugar denominado Jericoaquara, hoje pertencente ao Ceará, pequeno forte de pau a pique, com o nome de Forte Nossa Senhora do Rosário, no qual foram deixados 40 homens.

 

                        Ainda no mesmo ano, Jerônimo, comandando nova expedição, penetrou, com seus navios, na Baía de Guaxenduba, hoje de São José, construindo em local próximo à Ilha de São Luís, o Forte Santa Maria. Em seguida a uma série de hostilidades, travou-se ferrenha peleja entre portugueses e franceses, até que a vitória se declarou a favor dos lusos. Suspensa a luta, foi concertado, a 27 de novembro, tratado de trégua por um ano, com apreciáveis concessões aos portugueses. Nessa época, Jerônimo de Albuquerque acrescentou Maranhão a seu nome.

 

                        Enquanto na França e na Espanha discutia-se a sorte das terras do Maranhão, vários reforços eram remetidos a Jerônimo, tanto de Portugal, quando da Bahia e de Pernambuco. A trégua foi rompida, e as forças portuguesas, comandadas por Alexandre de Moura, sitiaram os inimigos por mar e terra. A 3 de novembro de 1615, dava-se a capitulação, com Daniel de La Touche, entregando o Forte, rebatizado pelos vencedores como Forte São Felipe, em homenagem ao Rei, os quais conservaram o nome de São Luís para a cidade e consagraram à Senhora da Vitória a primeira Igreja Matriz.

 

                        Por seu destaque na luta para a expulsão dos franceses, Jerônimo de Albuquerque Maranhão, que também fundara a cidade de Natal, no Rio Grande do Norte, do qual fora Capitão-mor, a 15.12.1599, foi nomeado Capitão-mor da Capitania do Maranhão. Foi ele o tronco maranhense da Família Albuquerque do qual sou descendente direto.

                       

                        Nascido na cidade pernambucana de Olinda, em 1548, casado com Catharina Pinheiro Feio e falecido em 1624, Jerônimo era mameluco, filho de Jerônimo de Albuquerque, o primeiro dessa família chegado ao Brasil, e da índia tabajara Maria do Espírito Santo Arcoverde. Seu pai, a quem se atribui ter tido filhos com mais de 100 mulheres, veio acompanhando Duarte Coelho, Donatário da Capitania de Pernambuco e casado com Brites Albuquerque, sua irmã.

 

Jerônimo de Albuquerque Maranhão e Mapa de São Luís em 1629

 

                        Em 1621, quando o Brasil foi dividido em duas Unidades Administrativas – Estado do Maranhão e Estado do Brasil – São Luís foi a capital da primeira, sendo a outra Salvador, na Bahia.

 

                        O período de progresso vivido pela região foi interrompido em 1641, quando 18 navios holandeses, transportando 2.000 homens, comandados pelo Almirante Lichthardt, aportaram em São Luís, na Praia do Desterro, onde desembarcaram os invasores. Depois de renhidas batalhas, os holandeses deixaram São Luís em 1644, derrotados pelas tropas comandadas por Antônio Teixeira de Melo

 

                        A 16 de janeiro de 1653, chegou a São Luís o Padre Antônio Vieira, jesuíta, com a incumbência do Reino de dar execução às ordens de pôr em liberdade os índios escravos, o que gerou motivo para que o povo se amotinasse e pedisse a expulsão da Companhia de Jesus. A crise maranhense é agravada pela concessão do monopólio do comércio de todo o Estado do Maranhão e do Grão-Pará – o chamado estanco –, pelo espaço de 20 anos, a uma companhia de comércio, culminando com a eclosão de uma revolta conhecida pelo nome de seu principal chefe – Bequimão –, liderada pelos irmãos Manoel Beckman, o cabeça, e Tomás. Iniciada em 1684, foi dominada no ano seguinte, sendo Manoel Beckman enforcado em praça pública, declarando, no ato: – Pelo povo do Maranhão, morro contente!

 

                        A partir de então, a Capital Maranhense retomou a normalidade, não mais envolvida com invasores estrangeiros. Internamente, porém, São Luís conheceu diversos momentos de ebulição, como o que resultou na adesão à Independência do Brasil, realizada a 28 de julho de 1823, no Paço da Câmara Municipal, o que foi conseguido, sem qualquer perturbação da ordem pública, por Lord Cochrane – Thomas Alexandre Cochrane, almirante inglês, depois nomeado Marquês do Maranhão, que viera, a pedido do Império Brasileiro, ajudar na consolidação do movimento nativista de desligamento da Coroa Portuguesa.

 

                        Como se viu, a história de São Luís é recheada de invasões, resistências e entreveros. O próprio Hino Maranhense, nas três estrofes mais conhecidas e cantadas, com letra de Antônio Batista Barbosa de Godóis e música de Antônio dos Reis Raiol, dá uma noção da característica guerreira de seu heroico povo:

 

Entre o rumor das selvas seculares

Ouviste um dia no azul do céu vibrando

O troar das bombardas nos combates

E após um hino festival soando

 

Salve Pátria, Pátria amada

Maranhão, Maranhão, berço de heróis

Por divisa tens a glória

Por nume nossos avós

 

Reprimiste o flamengo aventureiro

E o forçaste a no mar buscar guarida

Dois séculos depois, disseste ao luso

A liberdade é o sol que nos dá vida

 

                        A miscigenação do aborígene, do português, do francês – também conhecido como flamengo – e do holandês resultou num fenômeno bem peculiar, o sotaque do ilhéu, fazendo com que São Luís seja considerada a cidade brasileira onde se fala melhor a Língua Portuguesa, independentemente do grau de instrução. São Luís também foi considerada a Atenas Brasileira, pelo número de intelectuais e artistas que ali habitavam. Detém, ainda, outros títulos: Ilha do Amor, Cidade dos Azulejos e, pela assimilação da música caribenha, devido até a sua localização geográfica, Jamaica Brasileira ou Capital Brasileira do Reggae.

 

                        Para divulgar a festa do Quarto Centenário de São Luís, a ECT lançou este selo comemorativo, que será peça valiosa nos álbuns de filatelistas do mundo inteiro:

  

                        Como toda cidade praieira, a orla marítima que circunda São Luís é plena de lendas mistérios, assombrações, religiosidade, música e muita alegria. A foto a seguir dá uma ideia de sua feição jovial e prazerosa:

 

Largo do Carmo ou Praça João Lisboa

 

                        A esfuziante atividade musical de São Luís está representada por três de seus mais característicos gêneros: o bumba meu boi, o samba e o reggae.

 

A Cara de São Luís: Bumba meu boi, Alcione e Djalma Chaves

 

                        Eis uma pequena amostra desse cenário artístico:

 

                        Ilha do Amor, bumba meu boi, de Maria Aparecida Lobato, com o canário Lobato do Boi Feliz.

 

                        Solo de Pistom, samba, de Totonho e Paulinho Resende, na voz da ludovicense Alcione.

 

                        Ilha, reggae, na interpretação do autor, Djalma Chaves, membro ilustre de nosso clã, eis que casado com uma de minhas sobrinhas.

 

 


Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas sexta, 08 de setembro de 2017

SÃO LUÍS! 8 DE SETEMBRO

SÃO LUÍS, QUATROCENTOS ANOS

(Publicada no dia 08.09.2012)

Raimundo Floriano

 

Duas paisagens da Capital Quadrissecular do Maranhão

 

                        Hoje, 8 de setembro de 2012, comemoramos o Quadringentésimo Aniversário de São Luís, Capital do Estado do Maranhão, uma das três capitais brasileiras localizadas em ilhas. As outras são Vitória, no Espírito Santo, e Florianópolis, em Santa Catarina.

 

                        A Ilha de São Luís, lembrada hoje pelo enorme casario de arquitetura portuguesa, abrigava, no início, apenas ocas de madeira e palha e uma paisagem quase intocada. Ali, ficava a aldeia de Upaon-Açu, onde os índios tupinambás – cerca de 4.000, segundo cronistas franceses – subdivididos em 16 aldeamentos, viviam da agricultura de subsistência, com pequenas plantações de mandioca e batata doce, e das ofertas da natureza, caçando, pescando, coletando frutas.

 

                        Até o final do Século XVI, resultaram praticamente inúteis as tentativas portuguesas de estabelecer na ilha um núcleo de civilização. Não o conseguiram Aires da Cunha e Fernando Álvares de Andrade, associados ao historiador João de Barros, Donatário da Capitania do Maranhão. Partindo de Lisboa, em 1535, a Armada, sob o comando do primeiro, atingiu a Costa Maranhense, naufragando, porém, nos Baixios de Boqueirão, junto à Ilha do Medo. Os sobreviventes, em número reduzido, retiraram-se para o Reino em navios piratas que por ali passavam.

 

                        Igual sorte estava reservada, em 1554, a Luís de Melo e Silva, a quem Dom João III, por desistência do Donatário João de Barros, que permanecera em Portugal, doara a Capitania. A pequena frota com que para ela se dirigiu soçobrou, provavelmente nos Baixios da Coroa Grande, regressando Melo e Silva a Portugal numa caravela que escapara da catástrofe.

 

                        Essas duas catástrofes desanimaram os portugueses que acaso se interessavam pela conquista do Maranhão.

 

                        Os insucessos das Armas Lusas na África e a consequente passagem de Portugal para o domínio da Espanha deram ensejo aos franceses de se estabelecerem nas terras maranhenses. Com esse objetivo, foram equipadas três naus que, sob a chefia do Capitão Jacques Rifault, ali chegaram em 1594. O naufrágio do navio principal e a discórdia entre os componentes da tripulação decretaram o fracasso da empreitada.

 

                        Alguns elementos, por sua vez, não retornaram à França, preferindo o contato com os silvícolas, ao lado dos quais guerrearam, granjeando-lhes a simpatia. Entre eles, estava Charles Des Vaux que, voltando depois a seu país, expôs o que vira ao Rei Henrique IV. Interessando-se pelas notícias, o soberano ordenou a Daniel de La Touche, conhecido como Senhor de La Ravardière, que partisse para as novas terras, a fim de comprovar a veracidade das informações. Dessa viagem não decorreram, todavia, consequências de ordem prática, em vista da morte de Henrique IV.

 

                        Esse fato adiou outros empreendimentos, que só puderam ser levados a efeito em 1611, no reinado de Luis XIII. Por essa época, Daniel de La Touche organizou nova expedição com cerca de 500 homens vindos das cidades francesas de Cancale e Saint-Malo, partindo no dia 19 de março de 1612 no intuito de estabelecer no Brasil a França Equinocial – esforço dos franceses de colonização da América do Sul em torno da Linha do Equador. A 6 de agosto, chegou a seu destino.

 

                        Contando com a amizade dos aborígenes, os franceses procuraram organizar a defesa da nova colônia, certos de que os portugueses tentariam expulsá-los, logo que se tornassem conhecedores da situação. Em lugar alto e próximo ao ancoradouro, construíram um forte. Após o término das obras, a edificação recebeu o nome de Forte de São Luís, em memória eterna de Luís XIII, Rei de França e de Navarra. O ancoradouro foi denominado Porto de Santa Maria, não só em homenagem à Santíssima Virgem, como em atenção a Maria de Médicis, Rainha da França e mãe do Regente Luís XIII.

 

Rei Luís XIII e Busto de Daniel de La Touche

 

                        A 8 de setembro de 1612, tem lugar a implantação da Cruz na Ilha, procedendo-se sua bênção, sob a salva dos canhões do Forte e dos navios franceses, em sinal de regozijo. Esse ato, pela magnitude e excepcional solenidade de que se revestiu, é considerado como o verdadeiro Auto de Fundação da Cidade de São Luís.

 

                        A Capital Maranhense tem dois gentílicos: são-luisense e ludovicense, este derivado do Latim, Ludovicus, Ludovico em Português, ou Luís, mais uma homenagem ao Rei Luís XIII.

 

                        Tão logo se propalou a notícia do domínio do Maranhão pelos franceses, procuraram os portugueses eliminar a ameaça. Gaspar de Souza, Governador-Geral do Brasil, enviou, no início de 1614, pequena expedição, comandada por Jerônimo de Albuquerque, que fez o reconhecimento das posições francesas na Ilha de São Luís, sendo erigido, no lugar denominado Jericoaquara, hoje pertencente ao Ceará, pequeno forte de pau a pique, com o nome de Forte Nossa Senhora do Rosário, no qual foram deixados 40 homens.

 

                        Ainda no mesmo ano, Jerônimo, comandando nova expedição, penetrou, com seus navios, na Baía de Guaxenduba, hoje de São José, construindo em local próximo à Ilha de São Luís, o Forte Santa Maria. Em seguida a uma série de hostilidades, travou-se ferrenha peleja entre portugueses e franceses, até que a vitória se declarou a favor dos lusos. Suspensa a luta, foi concertado, a 27 de novembro, tratado de trégua por um ano, com apreciáveis concessões aos portugueses. Nessa época, Jerônimo de Albuquerque acrescentou Maranhão a seu nome.

 

                        Enquanto na França e na Espanha discutia-se a sorte das terras do Maranhão, vários reforços eram remetidos a Jerônimo, tanto de Portugal, quando da Bahia e de Pernambuco. A trégua foi rompida, e as forças portuguesas, comandadas por Alexandre de Moura, sitiaram os inimigos por mar e terra. A 3 de novembro de 1615, dava-se a capitulação, com Daniel de La Touche, entregando o Forte, rebatizado pelos vencedores como Forte São Felipe, em homenagem ao Rei, os quais conservaram o nome de São Luís para a cidade e consagraram à Senhora da Vitória a primeira Igreja Matriz.

 

                        Por seu destaque na luta para a expulsão dos franceses, Jerônimo de Albuquerque Maranhão, que também fundara a cidade de Natal, no Rio Grande do Norte, do qual fora Capitão-mor, a 15.12.1599, foi nomeado Capitão-mor da Capitania do Maranhão. Foi ele o tronco maranhense da Família Albuquerque do qual sou descendente direto.

                       

                        Nascido na cidade pernambucana de Olinda, em 1548, casado com Catharina Pinheiro Feio e falecido em 1624, Jerônimo era mameluco, filho de Jerônimo de Albuquerque, o primeiro dessa família chegado ao Brasil, e da índia tabajara Maria do Espírito Santo Arcoverde. Seu pai, a quem se atribui ter tido filhos com mais de 100 mulheres, veio acompanhando Duarte Coelho, Donatário da Capitania de Pernambuco e casado com Brites Albuquerque, sua irmã.

 

Jerônimo de Albuquerque Maranhão e Mapa de São Luís em 1629

 

                        Em 1621, quando o Brasil foi dividido em duas Unidades Administrativas – Estado do Maranhão e Estado do Brasil – São Luís foi a capital da primeira, sendo a outra Salvador, na Bahia.

 

                        O período de progresso vivido pela região foi interrompido em 1641, quando 18 navios holandeses, transportando 2.000 homens, comandados pelo Almirante Lichthardt, aportaram em São Luís, na Praia do Desterro, onde desembarcaram os invasores. Depois de renhidas batalhas, os holandeses deixaram São Luís em 1644, derrotados pelas tropas comandadas por Antônio Teixeira de Melo

 

                        A 16 de janeiro de 1653, chegou a São Luís o Padre Antônio Vieira, jesuíta, com a incumbência do Reino de dar execução às ordens de pôr em liberdade os índios escravos, o que gerou motivo para que o povo se amotinasse e pedisse a expulsão da Companhia de Jesus. A crise maranhense é agravada pela concessão do monopólio do comércio de todo o Estado do Maranhão e do Grão-Pará – o chamado estanco –, pelo espaço de 20 anos, a uma companhia de comércio, culminando com a eclosão de uma revolta conhecida pelo nome de seu principal chefe – Bequimão –, liderada pelos irmãos Manoel Beckman, o cabeça, e Tomás. Iniciada em 1684, foi dominada no ano seguinte, sendo Manoel Beckman enforcado em praça pública, declarando, no ato: – Pelo povo do Maranhão, morro contente!

 

                        A partir de então, a Capital Maranhense retomou a normalidade, não mais envolvida com invasores estrangeiros. Internamente, porém, São Luís conheceu diversos momentos de ebulição, como o que resultou na adesão à Independência do Brasil, realizada a 28 de julho de 1823, no Paço da Câmara Municipal, o que foi conseguido, sem qualquer perturbação da ordem pública, por Lord Cochrane – Thomas Alexandre Cochrane, almirante inglês, depois nomeado Marquês do Maranhão, que viera, a pedido do Império Brasileiro, ajudar na consolidação do movimento nativista de desligamento da Coroa Portuguesa.

 

                        Como se viu, a história de São Luís é recheada de invasões, resistências e entreveros. O próprio Hino Maranhense, nas três estrofes mais conhecidas e cantadas, com letra de Antônio Batista Barbosa de Godóis e música de Antônio dos Reis Raiol, dá uma noção da característica guerreira de seu heroico povo:

 

Entre o rumor das selvas seculares

Ouviste um dia no azul do céu vibrando

O troar das bombardas nos combates

E após um hino festival soando

 

Salve Pátria, Pátria amada

Maranhão, Maranhão, berço de heróis

Por divisa tens a glória

Por nume nossos avós

 

Reprimiste o flamengo aventureiro

E o forçaste a no mar buscar guarida

Dois séculos depois, disseste ao luso

A liberdade é o sol que nos dá vida

 

                        A miscigenação do aborígene, do português, do francês – também conhecido como flamengo – e do holandês resultou num fenômeno bem peculiar, o sotaque do ilhéu, fazendo com que São Luís seja considerada a cidade brasileira onde se fala melhor a Língua Portuguesa, independentemente do grau de instrução. São Luís também foi considerada a Atenas Brasileira, pelo número de intelectuais e artistas que ali habitavam. Detém, ainda, outros títulos: Ilha do Amor, Cidade dos Azulejos e, pela assimilação da música caribenha, devido até a sua localização geográfica, Jamaica Brasileira ou Capital Brasileira do Reggae.

 

                        Para divulgar a festa do Quarto Centenário de São Luís, a ECT lançou este selo comemorativo, que será peça valiosa nos álbuns de filatelistas do mundo inteiro:

 

 

                        Como toda cidade praieira, a orla marítima que circunda São Luís é plena de lendas mistérios, assombrações, religiosidade, música e muita alegria. A foto a seguir dá uma ideia de sua feição jovial e prazerosa:

 

Largo do Carmo ou Praça João Lisboa

 

                        A esfuziante atividade musical de São Luís está representada por três de seus mais característicos gêneros: o bumba meu boi, o samba e o reggae.

 

A Cara de São Luís: Bumba meu boi, Alcione e Djalma Chaves

 

                        Eis uma pequena amostra desse cenário artístico:

 

                        Ilha do Amor, bumba meu boi, de Maria Aparecida Lobato, com o canário Lobato do Boi Feliz.

 

                        Solo de Pistom, samba, de Totonho e Paulinho Resende, na voz da ludovicense Alcione.

 

                        Ilha, reggae, na interpretação do autor, Djalma Chaves, membro ilustre de nosso clã, eis que casado com uma de minhas sobrinhas.

 

 


Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas quinta, 07 de setembro de 2017

LOUVAÇÃO A UMA DAMA DE ESCOL

LOUVAÇÃO A UMA DAMA DE ESCOL

(Publicada no dia 10.08.2015)

Raimundo Floriano

 

“Na alta sociedade, tudo se sabe”

 

(Cordelzinho feito a pedido de uma dama da alta sociedade, cujo nome aqui vai modificado, por motivos óbvios)

 

Sou Raimundo Floriano

Mão de Onça, Pé de Pano

Do Maranhão natural

Trombonista brasileiro

Cordelista, presepeiro

Heterossexual

 

No Exército, Sargento

Trabalhei no Parlamento

A nobre missão cumpri

Com invejável memória

Em livros, conto a história

De Balsas, onde nasci

 

E por ser muito acanhado

Só saio desse riscado

Pra matéria correlata

A pedido, como agora

Feito por gentil senhora

Colega hidroterapata

 

Refiro-me à Florinês

Viúva na binubês

Em ambas, provou do aço

Mas coisa estranha lhe ocorre

Sempre que o marido morre

Ela ganha outro c@b@ço

 

Florinês, a inesquecível

Possui um feitiço incrível

Que vem de eras remotas

Se um cabra se atrever

E a maçã dela comer

No outro dia bate as botas

 

Eu cá fico observando

E essas coisas anotando

Sem julgar, pois nada maldo

Só sei que ela é feliz

Pois Brasília inteira diz

Que ainda dá um bom caldo

 

Meio ano já se passa

E ela com jeitinho e graça

Deixa todo mundo in love

E se é que bem me lembro

A Flor vai até dezembro

Fazendo sessenta e nove

 

Nas colunas sociais

Ela é uma das dez mais

No jet set domina

E com sua hilaridade

Pra nossa felicidade

É a alegria da piscina

 

Essa mineira danada

Nasceu careca e pelada

Analfabeta e banguela

Mas, hoje, com seus encantos

Tem cabra pedindo, aos prantos

Pra morrer nos braços dela

 

Glossário:

Hidroterapata - Paciente de hidroterapia, neologismo por mim criado.

Binubês - Condição da mulher que se casou por duas vezes, outro neologismo que criei.


Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas terça, 05 de setembro de 2017

SEU MUNDINHO – OU VELHO FULÔ – AOS 79

SEU MUNDINHO – OU VELHO FULÔ – AOS 79

(Publicada no dia 20.07.2015)

Raimundo Floriano

 

                        Na verdade, os aniversariantes eram dois: Ana Alice, minha cobrinha digo, sobrinha e comadre, do dia 2, e eu, do dia 3. Sempre que possível, comemoramos juntos.

  

 

                        Nossa família, os Albuquerque e Silva e os Sousa Silva, ultrapassam, só aqui em Brasília, a casa das 200 pessoas. Como este ano foi apenas uma previa do que acontecerá no próximo, quando comemoraremos números redondos, Ana Alice, 60, e eu, 80, os convites foram restritos a um círculo bem íntimo de nossa laia. Mesmo assim, 83 compareceram à festa.

 

                        Família solidária, alegre e feliz. Pedíramos que, em vez de presentes, trouxessem cobertores ou agasalhos, para distribuirmos com entidades assistenciais, neste tempo de intenso frio brasiliense: arrecadamos mais de uma centena de peças.

 

                        O evento ocorreu no dia 4, sábado, das 12h às 18h, na ampla casa da Ana Alice, na Park Way, especialmente construída para a diversão desta nossa família, festeira por demais.

 

 Veroni, com a sobrinha Luciana 

                        Maior parte da administração da festa ficou a cargo da Veroni, minha mulher, que se desdobrou para que tudo saísse a contento, com perfeição, nos mínimos detalhes, como de fato ocorreu.

 

                        O cardápio constou de maria-isabel, paçoca vinda de Balsas, vatapá, ovo frito e banana-prata. Para sobremesa, tortas diversas, bombons, bolo de arroz e bolo de puba, preciosidades da cozinha de Dona Maria Bezerra, minha saudosa e santa mãezinha. Para beber, cerveja, refrigerantes, vinhos e cachaça.

 

                        A parte musical ficou a cargo de um sanfoneiro, um zabumbeiro, um violonista e uma cantora. Depois das tantas, a prata da casa também mostrou sua arte, e até eu me aventurei com minha gaita. Pena que os músicos tenham ficado, involuntariamente de nossa parte, escondidos pela folhagem do jardim.

 

 Elaine, cantora, Giane, violonista, Lico, sanfoneiro, e Raimundo 

                        Grata gentileza foram as presenças de Izaura Maria, minha prima e cunhada, casada com meu irmão Bergonsil, seus filhos Valéria e Maurício, este com Luciana, sua mulher, e as filhas Martinha e Mariana, que vieram de Niterói especialmente para nos prestigiar com seu carinho.

 

 Raimundo e Izaura Maria - Raimundo e Valéria 

 

Maurício, Luciana, Martinha e Mariana 

                        A seguir, outros flagrantes da festa:

 

 Meu filho Zezinho, com Paula, sua mulher, e Anna Paula, minha neta

 

 Minhas filhas Elba, com Fábio, seu marido, e Mara, com Vinícius, seu namorado 

 

Lara, sobrinha, com Rodrigo, seu marido - Sobrinas Ceres e Fernanda

  

**********

                        Alguns amigos, ao me encontrarem na rua, ficam muito preocupados com o tamanho de minha barriga e me recomendam dietas milagrosas. A última novidade é o livro Barriga de Trigo, do americano William Davis. Aos 79 anos, agora é que vou parar de comer pão? De que adiantaria isso nesta idade provecta? Eu, que fui criado comendo beiju, cacete e cuscuz? 

********** 

                        Causou-me espanto a quantidade de mensagens recebidas no Facebook, onde contabilizo 953 amigos: 194 postagens, entre parabéns e curtidas! A todos respondi, individualmente, com este cordelzinho: 

PELOS PODERES DE DEUS, AQUI CHEGUEI!

 

Sou Raimundo Floriano

Mão de Onça, Pé de Pano

Do Maranhão natural

Trombonista brasileiro

Cordelista, presepeiro

Heterossexual

*

No Exército, Sargento

Trabalhei no Parlamento

A nobre missão cumpri

Com invejável memória

Em livros, conto a história

De Balsas, onde nasci

*

Setenta e nove nos couros

Vida coberta de louros

Provei o gosto de tudo

Desfrutei do bom bocado

Mas fui até governado

Por um tal Sapo Barbudo

*

Da jumenta tomei leite

Do coco tirei azeite

Pro beiju amanteigar

E pra rimar com jumenta

Taí uma Presidenta

Ainda a nos governar

*

Meu medo é que certa hoste

Que elege qualquer poste

Fique a trocar as bolas

E venha com o xaveco

De balançar meu fuleco

E coçar meus caxirolas

*

Saiba, amigo ou amiga

Que é preciso que lhe diga

Com toda a sinceridade

Gosto muito de você

Por isso, que Deus lhe dê

Saúde e felicidade

*

Pra todos tiro o chapéu

Que vivam como num céu

De muita fartura e paz

Nesta vida tudo passa

Mas nunca vira fumaça

O bem que a gente faz

*

Você de mim se lembrou

E parabéns me enviou

No meu dia, 3 de julho

Por isso, quero que entenda

Valeu mais que qualquer prenda

Ou presente num embrulho


Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas segunda, 04 de setembro de 2017

THE MAN WHO SHOT LIBERTY VALANCE

THE MAN WHO SHOT LIBERTY VALANCE

(Publicada no dia 13.07.2015)

Raimundo Floriano

 

Desenho do artista Dió, índio paraguaio

 

                        Calma, queridos leitores! Don’t be cruel with this old seventy-niner! Please! O título acima, extraído do excelente western de 1962, dirigido por John Ford, com John Wayne, James Stewart, Lee Marvin, Vera Miles, Edmond O’Brien e Andy Devine nos principais papéis, é apenas uma alegoria. No texto abaixo, não há morte alguma, nem matada, nem morrida.

  

                        Quando preparava o lançamento de livro Do Jumento ao Parlamento, em Brasília, no ano de 2003, eu contava como certíssima a divulgação pela Rede Globo. Isso porque um amigo do peito, colega aposentado da Câmara dos Deputados, meu vizinho de Quadra, era Assessor Jurídico daquela emissora. Ao solicitar-lhe a deferência, ele não se fez de rogado e pediu-me que lhe levasse um exemplar do livro na sede da TV, o que foi feito. E o resultado disso? Até hoje!

 

                        Com tal insucesso, já fiquei sabendo que para ser notícia na mídia o buraco é mais embaixo. Precisa-se de algo mais.

 

                         Em 2010, ao lançar novo trabalho, De Balsas Para o Mundo, não perdi tempo, já escolado, com a mídia da Capital Federal. Mas imaginei que, na noite de autógrafos em Balsas, minha terra natal, tudo seria diferente, pois naquele sertão sul-maranhense quase nada acontece de novo, e um nativo da região, ao escrever um livro, seria notícia, pelo menos para os conterrâneos.

 

                        Assim pensando, e com o auxílio da Maria do Socorro Ferreira Vieira, minha Assessora Plenipotenciária balsense, foi contatada a TV Rio Balsas, afiliada da Rede Globo, cuja apresentadora é filha de um amigo meu de infância, e o apresentador Manoel Carvalho, da Rede TV, que me pôs no ar a partir de minha chegada em Balsas e ficou postando flashes sobre o lançamento na programação da emissora. Quanto à Globo, vou contar.

 

                        Com o evento marcado para a noite de 12 de junho, no Arraial do Festejo de Santo Antônio, nosso Padroeiro, tive um contato inicial na véspera com a apresentadora, para que ela conhecesse o livro e pudesse preparar a matéria a exibir. Ficou acertado, então, que, no dia seguinte, ao meio-dia, seríamos entrevistados por ela, eu e Comandante Puçá, um de meus personagens, marinheiro de 88 anos – hoje com 93 –, que passou maior parte e sua vida navegando de Balsas ao Oceano Atlântico, quase 1.700 km de água, rio abaixo, rio acima.

  

Comandante Puçá - Em 1940 e em 2010, com sua irmã Maria Rodrigues

                        Pois bem, às 9 horas da manhã do dia 12, recebemos um telefonema da TV Rio Balsas/Globo, informando que a entrevista fora cancelada. Desapontamento enorme para mim e para o Comandante, que já se achava todo paramentado, pronto para contar suas experiências de velho marinheiro.

 

                        À noite, o apresentador Manoel, da Rede TV, compareceu à festa, com sua equipe, colocando-me novamente no ar, em tempo integral:

  

                        E, no auge do acontecimento, aparece-me por lá uma equipe da TV Rio Balsas/Globo, solicitando uma entrevista. Ainda em off, argumentei que, àquelas alturas, isso de nada mais valeria, pois o que interessava era a divulgação antes do evento, como fizera a Rede TV. No entanto, assim mesmo, concedi-lhes o que me pediam:

 

                         Cinco anos se passaram. Em maio de deste ano, com novo livro, Memorial Balsense, já lançado em Brasília, procurei acautelar-me, para que os fatos relativos à Globo não se repetissem.

 

                        Como providência inicial, remeti um exemplar para a mesma apresentadora, agora na TV Mirante/Globo, que se mostrou muito receptiva e, desde então, por ser minha amiga no Facebook, curtia tudo o que eu ali postava referente ao livro. Minha Assessora fez com ela o contato telefônico, ficando acertado que combinaríamos o horário de entrevista tão logo eu chegasse a Balsas.

  

                        Porém, foi só eu chegar, os telefones da apresentadora entraram em pane, ficaram fora de área, ou não atendiam, tal situação permanecendo imutável até a hora dos autógrafos, como sempre, na noite de 12 de junho, no Arraial do Festejo de Santo Antônio.

 

                        Paralelamente, desde o início de junho, a Rádio e TV Boa Notícia, ligada à Igreja Católica, colocava meu Convite no ar, em flashes que se repetiram até o início do evento.

 

                        Já às 19h do dia 11, quando cheguei a Balsas, fui agraciado pela radialista Maria da Conceição, da Rádio Boa Notícia, com entrevista ao vivo, postada no Facebook, no ato, por minha filha Elba que, com meu genro Fábio, me acompanhou em todos os momentos:

  

                        No dia seguinte, 12, às 9h, o apresentador Francisco de Assis, da TV Boa Notícia, franqueou-me as câmeras em logo papo, ao vivo, sem limite de tempo:

  

                        Ao meio-dia, novamente na TV Boa Notícia, foi a vez do consagrado apresentador Cantidiano, o bam-bam-bam, o bom-de-sela, deixar-me à vontade, em longa entrevista:

  

                        Tudo isso resultou no retumbante sucesso que foi o lançamento. Quem já viveu isso sabe o que é autografar 85 exemplares, conversando com cada leitor, personalizando a dedicatória e posando com ele para a foto. Bote três horas, no mínimo. Durante esse tempo, novamente a TV Boa Notícia reportava tudo para seus telespectadores:

  

 

                        E, quando a festa atingia o ápice, o apogeu, a culminância, quem me aprece por lá? Exatamente isso que você pensou, querido leitor: uma equipe da TV Mirante/Globo, procurando entrevistar-me.

 

                        Eu não quis nem papo. Apenas perguntei: – É da TV Mirante? É da Globo? O Canal do Plim-Plim? Diante das respostas afirmativas, firmemente proclamei:

 

                        – Vocês fizeram cafajestada comigo durante todo o dia! Agora, que a mesa está posta, e satisfeitos os comensais, vocês me aparecem querendo as rebarbas? Nada feito!

 

                        Alguém a meu lado argumentou que a Globo transmite para todo o Estado do Maranhão, ao que eu respondi:

 

                        – Pode transmitir até para a Lua, para Marte, mas comigo, michou!

 

                        Lavei a alma!

 


Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas domingo, 03 de setembro de 2017

CASAMENTO ATRAPAIADO, BAIÃO, COM LUIZ GONZAGA - 1959

Casamento Atrapaiado, baião de Walter Levita e Renato Araújo, com Luiz Gonzaga - 1959:

 


Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas domingo, 03 de setembro de 2017

BALSAS, MA: DO FUTURO PARA O PASSADO

BALSAS, MA: DO FUTURO PARA O PASSADO

(Publicada no dia 15.06.2015)

Raimundo Floriano

 

 

                        Como já foi amplamente divulgado aqui no JBF, no Facebook, urbi et orbi, estarei autografando, com a Graça de Deus, na noite do dia 12 próximo, no Arraial do Festejo de Santo Antônio, meu último livro, Memorial Balsense. Trata-se do lançamento umbilical, eis que o nacional já ocorreu a 19 de março último, Dia de São José, no Restaurante Carpe Diem, aqui em Brasília, quando choveu a cântaros, o que é normal na data consagrada pelos nordestinos ao Padroeiro da Chuva.

 

                        Hoje, 9 de junho, quinta-feira, estou escrevendo esta matéria por antecipação, para ir ao ar no dia 15, segunda-feira próxima. Faço-o porque, de 10 a 15, estarei longe de casa e deste micro, dileto companheiro. Por isso, vou tentar aqui prever o futuro, levando em conta tudo o que já foi combinado e esperando que nada saia diferente do adredemente previsto.

 

O FUTURO

 

                        Dia 10 de junho, quarta-feira - Saímos de Brasília, de madrugada, eu, minha primogênita, seu marido e minha caçula, na Ford Ranger de meu genro. Minha mulher não nos acompanhou, devido ao período de provas na Faculdade onde estuda. Na bagagem, 250 exemplares do livro. Percurso total: 1.614 km de chão! Ao escurecer, paramos no primeiro hotel encontrado, onde pernoitamos.

 

                        Dia 11 de junho, quinta-feira - Reiniciamos a viagem, às 06h00, paramos em Carolina, para abraçarmos meu irmão Pedro Silva e, logo após, pegamos a estrada, chegando a Balsas no maio da tarde. À noite, entrevista na TV Boa Notícia, afiliada da Rede Vida, para irem ao ar no dia seguinte.

 

                        Dia 12 de junho - sexta-feira - Entrevista na TV Mirante, afiliada da Rede Globo, com a apresentadora Alzira Coelho, reza do Terço na Matriz de Santo Antônio, ao meio-dia, com retreta ao final. À noite, às 21h00, depois da Santa Missa, e com a apresentação a Professora Marlene Costa Garcez, Diretora da Escola Normal, autografei cerca de 50 exemplares – é a média. Os volumes restantes do livro serão entregues à amiga Maria do Socorro Ferreira Vieira, que os administrará. Tomando parte no Festejo, jantei, na barraca principal, comidas típicas balsenses: marizabel, vatapá, paçoca e banana, acompanhadas de refrigerante diet.

 

                        13 de junho, sábado - Dia de Santo Antônio, nosso Padroeiro. Participamos do encerramento do Festejo, com reza do Terço ao meio-dia, Procissão ao final da tarde, seguida pela Santa Missa, culminando com jantar da barraca e arremate de joias no leilão.

 

                        Dia 14 de junho, domingo - Saída de Balsas, às 06h00, fazendo o percurso inverso, com pernoite a 600 km de Brasília.

 

                        Dia 15 de junho, segunda-feira - Chegada a Brasília no meio da tarde. Nessas alturas, esta premonitória matéria já foi ao ar, mercê das gentilezas da equipe técnica do Jornal da Besta Fubana, que a recebera por antecipação.

           

O PASSADO

 

                        Em homenagem a meus conterrâneos, que tão bem nos receberam durante essa breve estada entre eles, tenho o prazer de apresentar-lhes uma foto rara, batida em 1940, pequena amostra da mocidade balsense daquele tempo, identificando cada personagem:

 

(Foto do acervo particular de Raimundo Floriano)

 

01 - Raymunda Pires, a Dica, filha de Álvaro e Marina Pires, depois casada com meu primo Pedro Maranhense Costa.

 

02 - Yolete Pires, filha de Alexandre e Justina Pires, depois casada com Jorge Clemenceau Kury.

 

03 - Conceição Borges, filha de Tunda Borges e Ester Barbosa, a Cotinha. Rainha do Festejo de 1946 e coroada na noite de 13 de junho, foi covardemente assassinada por seu namorado, a tiros, cinco dias depois.

 

04 - Terezinha Pereira, filha de João Batista da Silva Pereira e Nemézia Santiago Pereira, depois casada com Miguel Lima, o Miguelzinho.

 

05 - Nízia Crisólida Pires, filha de Alexandre e Justina Pires.

 

06 - Yolanda Borges, Filha de Tunda Borges e Cotinha, depois casada do meu primo Esmaragdo de Sousa e Silva.

 

07 - Terezinha Coelho, irmã de Absalão Coelho.

 

08 - Antonieta Barbosa, filha de Sadoc Barbosa.

 

09 - Raimunda Rocha, a Mundiquinha, filha de Zefinha Rocha, depois casada dom Gumercindo Tourinho.

 

10 - Ceci Pires, filha de Álvaro e Marina Pires.

 

11 - Rute Rocha, Diretora do Grupo Escolar Professor Luiz Rêgo e mulher do fotógrafo Rochinha, que registrou esse flagrante.

 

12 - Mary, Bandolinista, Mary é a na única na foto que não residia em Balsas. Estava por lá a passeio, mas deixou isso registrado, assim como esta pose com seu instrumento:

 

 

13 - Miriam Rocha, filha de Zefinha Rocha e irmã da Mundiquinha.

 

14 - Raimundinha Pires, depois casada com Pedro Pires e mãe do lendário Luiz Pires.

 

15 - Marica Rocha, filha da outra Zefinha Rocha e tia do Luiz Piauí, garoto muito levado.

 

16 - Maria Augusta Borges, filha de Tunda e Cotinha Borges, depois casada com Luiz Viana da Fonseca.

 

17 - Maria de Jesus Pires, filha de Alexandre e Justina Pires, depois casada com Moisés Coelho e Silva.

 

18 - Magnólia Pires, fila de Álvaro e Marina Pires, irmã de Ceci e Dica.

 

19 - Maria Isaura Albuquerque e Silva, minha irmã, depois casada com Pedro da Costa e Silva.

 

20 - Rosinha, irmã da Branca de Neve. Nada se conhece sobre seus genitores.

 

21 - Emerenciana Coelho, depois casada com Omar Ribeiro.

 

22 - Yolanda Coelho, filha de Parsondas e Wady Coelho, a Didi, depois casada com Tarquínio Noleto.

 

23 - Luíza Rocha, filha de Raimundo Rocha, o Mundico Rocha.

 

24 - Pedro Albuquerque e Silva, meu irmão, depois casado com Naide Noleto

 

25 - Luiz Pires, filho de Álvaro e Marina Pires, e irmão de Dica, Ceci e Magnólia.

 

26 - Miguel Borges, filho de Tunda e Cotinha Borges e irmão de Maria Augusta, Conceição e Yolanda.

 

27 - Adelman Pires, filho de Álvaro e Marina Pires e irmão de Dica, Ceci, Magnólia e Luiz Pires.

 

                        Para botar música na conversa, aqui vai o samba Balsas, Cidade Sorriso, de 1946, composto por Martinho Mendes, nosso saudoso e inesquecível saxofonista, com letra de um caixeiro viajante desconhecido, e gravado por Felipe Rodrigues, do Estúdio Verbo Vivo, de Brasília, em youtube produzido por Jorge Rocha, meu Assessor Performático.

 

 

 

 

 


Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas sábado, 02 de setembro de 2017

CHARGES ONLINE (AUTORES DIVERSOS)

 


Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas sexta, 01 de setembro de 2017

ESCRITOR: QUEM ME DERA SER!

ESCRITOR: QUEM ME DERA SER!

(Publicada no dia 04.05.2015)

Raimundo Floriano

 

                        A Revista do Correio publicou, mês passado, esta chamada, que muito me despertou a curiosidade:

  

                        Em seguida, o desdobramento da matéria:

  

                        Mais importante que ser escritor é ser lido. E ser lido em sua paróquia, em sua Quadra, no seio de sua família, no meio de seus colegas de trabalho é, simplesmente, a glória! 

                        Coincidentemente, a Voz Ativa de março de 2015, trouxe este incitante tópico.

  

                        Isso balançou mais ainda meu coreto, e positivamente, pois sou um leitor compulsivo. Meu amor à leitura data de 1946, quando, aos 10 anos de idade, fui presenteado por um irmão com meu primeiro livro extraclasse, lúdico, o romance A Volta e Tarzan, de Edgar Rice Burroughs. Desde então, foram mais de 1.500 obras lidas e anotadas.

 

                        Com o prazer da leitura, veio o gosto de escrever. Mas, vejam bem, não sou um escritor! Quem dera! Apenas adoro manchar a brancura do papel – ou da tela do micro – com o que estou pensando, e disso resultou um acervo de seis livros lançados. Com esse rasteiro cabedal, posso até ser considerado um plumitivo, um escrevinhador, um escriba.

 

                        Os livros dum escriba de meu porte só acontecem no lançamento. Felizmente, aqui em Brasília, onde se dá o Lançamento Nacional, e em Balsas, com o Lançamento Umbilical, o comparecimento vem-se revelando consagrador. Quem tem amigo na praça, tem dinheiro no caixa!

 

                        No último, o do Memorial Balsense, no Restaurante Carpe Diem – o de Balsas acontecerá a 12 de junho –, vivi a alegria da presença de mais de 200 pessoas, em que pese a forte chuva que caía. Depois, é um pinga-pinga vagaroso, e o esquecimento chega com muita rapidez.

 

                        Com meus quatro últimos rebentos, não deixei que tal acontecesse. Acabada a festa, passei a remeter exemplares para minha lista de endereços, aí compreendidos familiares, amigos, conhecidos e, principalmente, colegas aposentados da Câmara dos Deputados, sem consulta prévia, e solicitando-lhes pequena ajuda para cobrir as despesas de produção.

 

                        O retorno era mínino. Particularmente, no universo de meus colegas aposentados, a “rejeição” era superior a 80%. Mas eu ignorava o fato, fechava os olhos, pois o que me interessava mesmo era que me soubessem atuante, terem em sua casa o produto de minha teimosia intelectual.

 

                        O que nuca avaliei era o constrangimento que essa minha atitude causava na outra ponta, no lar do destinatário. Jamais avaliei a saia-justa que lhe provocava com meu impensado procedimento.

 

                        Até que, no dia 15 deste mês de abril, recebi, de uma colega aposentada, o Memorial Balsense que eu lhe remetera, devidamente intocado, dentro de outro envelope, acompanhado deste sucinto, mas decisivo ultimato:

  

                        Verdadeiro “simancol”! Preciso dizer mais? Quem toma um desses e não se sente, tem a cara de demente! 

                        Por isso, diletos amigos, familiares e colegas aposentados, assumo aqui o compromisso de não mais os perturbar. 

                        Meu próximo livro, Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, com os ansiosamente esperados Versos Sacânicos, a ser lançado em julho de 2016, nas comemorações de meus 80, será remetido apenas àqueles que manifestarem, expressamente, seu desejo de recebê-lo.

 

                        E me perdoem por todo esse aborrecimento, fruto de minha leviana inconsequência!

 

 

 

 


Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas quinta, 31 de agosto de 2017

É TORTORA

A advogada Guiomar Feitosa Mendes, mulher do ministro Gilmar Mendes, comparou o pedido de suspeição feito pela Procuradoria-Geral da República contra seu marido a um suplício. Em conversa com o blog, ela chegou mesmo a utilizar o vocábulo “tortura” ao comentar a acusação de que o seu “contato” constava da agenda do empresário de ônibus Jacob Barata Filho, preso na Lava Jato e libertado por Gilmar.

“Eu perguntei para o Gilmar: será que falei com esse homem, meu Deus? Será que ele ligou pra mim e não me lembro? É uma tortura! Depois, chego à conclusão de que, se os procuradores soltam a informação de que há o contato na agenda, é porque quebraram o sigilo telefônico do homem. E não tem nenhuma ligação minha. Não tem troca de ligações.”

Guiomar prosseguiu: “É tudo muito ridículo. Primeiro, o Ministério Público anunciou que meu contato estava na agenda do Jacob. Eu achei que era um telefone meu. Descubro agora, porque eles divulgaram, que é só o endereço. Ele queria mandar flores para nós. E desde quando flores enviadas em 2015, que nem me lembro se recebemos ou não, servem para fundamentar ou para reforçar um pedido de suspeição do Gilmar?”

Na companhia de Gilmar, em viagem oficial a Bucareste, Guiomar ecoa a pregação do marido, que acusa a Procuradoria de tentar intimidar o Judiciário. “Imagina qual é a leitura que os ministros do STJ fazem desse episódio todo. Eles pensam: se fazem isso com um ministro do Supremo, o que não farão com a gente se deferirmos algum habeas corpus?”

“Quem sai perdendo”, declarou Guiomar, “é o cidadão comum, porque o Ministério Público é o dono da ação penal. O juiz, na hora de analisar um pedido de habeas corpus, vai raciocinar: é melhor deixar preso, senão eles vêm pra cima de mim. Isso acaba afetando a própria independência do Judiciário. Esse é o perigo.”

Guiomar se associa ao marido também nas críticas ao procurador-geral Rodrigo Janot, signatário de dois pedidos de suspeição contra Gilmar Mendes. O primeiro referia-se ao caso de Eike Batista, defendido na área civil pela banca de Sérgio Bermudes, que tem Guiomar nos seus quadros.

“No caso do Eike, o processo foi distribuído no Supremo e o Janot ficou quieto”, relatou Guiomar. “O Gilmar indeferiu o primeiro pedido de habeas corpus. O Janot continuou quieto. Quando o Gilmar estendeu o habeas corpus ao Eike, porque tinha deferido para um outro acusado da mesma operação, o Janot arguiu a suspeição. Ora, por que não fez no princípio?”

“Nesse caso do Jacob Barata Filho”, prosseguiu a mulher de Gilmar, “o processo foi distribuído para o ministro Luiz Fux, que se deu por impedido. Então, o processo foi redistribuído para o Gilmar. Em 25 de julho, os procuradores do Rio arguíram a suspeição do Gilmar, porque já havia um estardalhaço em função de ele ter sido padrinho de casamento da filha do Jacob Barata. Na verdade, foi padrinho do meu sobrinho, que casou com a moça. Nessa época, o Janot ficou quieto. Deixou o Gilmar decidir. Quando foi deferido o habeas corpus, o Janot arguiu a suspeição. Quer dizer que, se tivesse indeferido, não seria suspeito?”

Na opinião de Guiomar, Janot “manipula os fatos”. E “a imprensa cai nas esparrelas do procurador-geral.” Ela lamenta: “A dona Maria e o seu João assistem ao Jornal Nacional e pensam: isso é tudo farinha do mesmo saco, o bandido mandou flores para o ministro e a mulher dele. Tudo isso macula, desacredita o magistrado. E gera insegurança dos demais, amedronta os outros. Quem perde é o cidadão.”


Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas quinta, 31 de agosto de 2017

TROMBONE NO FORRÓ BALSENSE

TROMBONE NO FORRÓ BALSENSE

(Publicada no dia 27.04.2015)

Raimundo Floriano

 

Domingos no triângulo, Raimundo Floriano no trombone, Mestre Riba na sanfona,

Coxa na bateria, Cabeludo no reco-reco e Félix no Pandeiro

 

                        Nas férias de julho de 1974, à noite, Balsas era igualzinho a um Parque da Disney, com atração pra todo lado. Ô povo que sabe se divertir pra valer!

 

                        No item jogatina, então, competia de igual para igual com Las Vegas. Havia o Bingo do Severino, atração internacional, onde procurei, inutilmente, ser um milionário sul-maranhense:

 

Raimundo Floriano tentando a sorte

 

Outros apostadores - A jovem à esquerda era carinhosamente conhecida como Periquita

 

                        Outra grande atração internacional era o Caipira do Surdo. Jogava-se 1 para ganhar 5:

 

Jogo Caipira: Quem menos bota, mais tira

 

                        No Clube Recreativo Balsense, todo final de semana, apresentava-se um conjunto musical de fora. Na época, a sensação era o carimbó, e a juventude dançava pra valer.

 

                        Tempo bom aquele em que os prazeres da vida eram dez: 1 - nascer chorando; 2 - comer gostando; 3 - dormir roncando; 4 - sonhar voando; 5 - jogar ganhando; 6 - pescar pegando; 7 - dançar colando; 8 - transar beijando; 9 - cagar fumando: e 10 - morrer peidando.

 

                        Dançar colando! Vocês se lembram disso? Coisa de meu tempo de rapaz!

 

Em 1974, dois saudosos amigos meus, em  imagens  que não me deixam mentir

 

                        Mas o que eu quero mesmo é falar do Forró que, toda noite, corria maneiro na Boate Popular. A foto que encabeça esta matéria é o registro de uma delas em que fui, com meu trombone, dar uma canja ao amigo Mestre Riba. As imagens dirão tudo. Apenas tarjei as frontais, por não saber identificar os personagens.

 

                        Naquelas férias, a minissaia era o hit, o fashion, no vestuário feminino. No masculino, a calça boca-de-sino.

 

Jovens bailarinas esperando a Boate Popular abrir

 

                        Aberta a Boate Popular, começou a dança no salão:

 

Esta bailarina era carinhosamente chamada de Gaivota

 

 

                        Lembrei-me até dum samba muito cantado lá pelos Anos 1940, cujo refrão dizia assim: Na Galeria Cruzeiro/Gastava todo o meu dinheiro/Mas eu sambava o ano inteiro/Ai, ai, ai/Meu tempo e rapaz solteiro.

 

                        Para relembrar mesmo aquele tempo feliz, nada melhor que ouvirmos o carimbó intitulado Sirimbó, sucesso absoluto no Norte/Nordeste, composição de Pinduca, com ele e Seu Conjunto.

  

 


Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas quarta, 30 de agosto de 2017

QUIBEBE - PRATO PARA A SEMANA SANTA

QUIBEBE - PRATO PARA A SEMANA SANTA

(Publicada em 30.03.2015)

Raimundo Floriano

 

Foto de Elba Albuquerque

 

INTRODUÇÃO

 

                        Há quase cinco anos, precisamente no dia 5.4.2010, publiquei aqui no JBF matéria com o título A Fábula do Ovo e do Pré-Sal, onde contava as agruras de Dona Chiquinha Comboieiro, boleira balsense, não dando conta dos 500 cacetes encomendados pela PETROBRAS – só conseguiu 300 –, para um café da manhã em que se comemoraria naquele sertão o jorro do petróleo na torre que, há muito tempo, perfurava o solo na Fazenda Testa Branca, o que não veio a acontecer, acabando aquela estatal por cimentar o poço, relegando-o, definitivamente, ao olvido.

 

                        No dia 8 de agosto de 2014, a leitora Sebastiana Rodrigues de Sousa postou um comentário no jornal, assim se expressando: “Gostei dos contos, mas quero a receita do bolo cacete”.

 

                        Assim instigado, mostro o cacete, digo, o pau, depois de macerar a cobra, esta representada, evidentemente, pelo teste, aqui em casa, de todas as receitas, para não dar chabu.

 

                        Quando não houver menção específica, o resgate delas foi uma gentileza da amiga Maria do Socorro Ferreira Vieira, minha Assessora Cultural e Plenipotenciária balsense.

 

                        No tempo de minha infância, Balsas ainda não contava com a existência de padaria. A dona de casa, assim, tinha de usar de muita criatividade, todas as manhãs, para botar na mesa o quebra-jejum da família, as mais das vezes com beiju, cuscuz, frito de carne, farofa de ovo mexido ou os bolos cujas receitas aqui apresento.

 

                        Havia famosas boleiras balsenses, como Dona Dolores Lima e Madrinha Ritinha Pereira. Outras, como Dona Febrônia Tourinho, Dona Chiquinha, Dona Úrsula, Dona Biloca Botelho e Dona Maria Bezerra, minha saudosa mãezinha, faziam-nos, não só para o consumo domiciliar, mas também para vender.

                       

                        E era aí que eu entrava na dança. Toda boca-de-noite, eu saía de casa, carregando na cabeça uma gamela cheia de bolos diversos, oferecendo-os de porta em porta, ou apregoando-os em alta voz.

 

                        Não preciso nem dizer a saia-justa que isso me causava, quando batia à porta de casa onde havia meninas colegas minhas do Grupo Escolar, principalmente na de Seu Jonas Bonfim, pai da Maria Núbia, menina de 8 anos, pela qual eu era perdidamente apaixonado. E esse acanhamento ficou maior, depois que passei a estudar em Floriano, pois nas férias, minha mãe me entregava a gamela, sem levar em consideração meu novo status de ginasiano.

 

                        Na Semana Santa balsense de minha infância, que ia de quarta a sexta-feira, quando se obedecia a rigorosa abstinência de carne, o prato mais comum nas mesas daquele sertão era o quibebe, cuja receita passo apresentar.

                       

QUIBEBE

 

Fotos de Elba Albuquerque

 

(Receita resgatada pela Comadre Maria Júlia, criada por minha mãe e residente em Anápolis)

 

Ingredientes:

 

Jerimum picado

Macaxeira picada

Maxixe picado

Batata doce em rodelas

Mandioquinha picada

(Todos em partes iguais)

Folhas de quiabo picadas (um molho)

 

01 garrafa de leite de coco

 

Modo de preparo: Após cozinhar os ingredientes, adicionar o leite de coco, sal, alho, cebolinha, coentro, e outros temperos, a gosto.

 

Tempo de duração: Melhor consumir no mesmo dia.

 

                        O ingrediente mais difícil de ser encontrado é a folha de quiabo. No ano passado, meu irmão Rosimar trouxe-as de São Luís de Montes Belos, sertão goiano, onde mora.

 

                        No último Natal, pedi a minha sobrinha e afilhada Lara, a qual não mede esforços para me agradar, que, como presente de natalino, plantasse no jardim de sua casa, na 714 Sul, um pé de quiabo, para que o ingrediente ficasse à mão com facilidade. Poderia ter pedido a outras sobrinhas queridas que têm quintal, mas aí morava o perigo, pois os cachorros que guardam casas adoram mijar nos canteiros de hortaliças.

 

                        Aí esta o resultado das providências da Lara:

 

Foto de Lara Maria

 

                        É bem verdade que lagartinhas andaram testando o alimento, mas não faz mal, lagarta é Natureza, se não morreram, é porque o produto é de qualidade.

 

                        Para os que não gostam de comer as folhas, mas adoram comer o fruto, proponho, quebrando a seriedade o assunto, que repitam, cem vezes, este trava-língua:

 

                        Eu como quiabo cru, eu como quiabo cru, eu como quiabo cru, eu como quiabo cru...

 

 

 


Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas terça, 29 de agosto de 2017

MEU NATAL FORA DE ÉPOCA, E DE CASA TAMBÉM

MEU NATAL FORA DE ÉPOCA, E DE CASA TAMBÉM

(Publicada em 23.02.2015)

Raimundo Floriano

 

Papai Noel da Academia RECOR 

                        Sim, amigos, existe isso também! Não é privilégio apenas das micaretas!

 

                        Aqui em Brasília, por exemplo, havia, no passado, a loja General Novilar, que lançou, durante muitos anos, a promoção PAPAI NOEL EM AGOSTO. Natal fora época, pelo menos nestas terras candangas, não é tão esquisito como se pode julgar.

 

                        Mas não vamos tão longe. No assunto em colação, refiro-me às festinhas de confraternização que acontecem, geralmente, no final de novembro, nas três comunidades das quais sou membro ativo: a Academia RECOR, A Drogaria Drogasil - São José e a Hidroterapia. Comecemos pela ordem.

 

                        Primeiramente, a Academia RECOR, especializada em Terceira Idade e Cardiopatas, onde malho há 13 anos. Qualidade de Vida é seu lema.

 

                        Em 2016, quando completarei 80 nos couros, incorporarei de vez as personalidades do que tenho sido por toda esta existência, Palhaço e Velho do Pastoril, ou seja, Mundinho Bico Doce e Velho Fulo, consagrando essa metamorfose no livro Caindo na Gandaia, totalmente ilustrado, já pronto e em fase de acabamento digital.

 

                        No dia em que não compareço à atividade, o que raramente acontece, todo o pessoal sente a falta de minha irreverência, de minhas piadas apimentada, de minhas cançonetas, de minhas charadas, enfim, de mina alegria.

 

                        Tudo isso faz com que eu encontre imenso prazer na malhação, assim como minora o padecer de todos nós que ali estamos por indicação médica.

 

                        Desse modo, nada mais natural e apropriado que eu inicie a festinha. Na última, comecei declamando a poesia A Flor do Maracujá, do maranhense Catulo de Paixão Cearense, e executando, na gaita de boca, a marchinha natalina Boas Festas, de Assis Valente. Aí vão os flagrantes desses dois momentos.

  

                        Registro, também, duas tomadas dos malhadores e professoras:

 

                        Dando prosseguimento à brincadeira, chegou a hora da revelação do amigo oculto e da distribuição dos presentes, antecipadamente escolhidos. Eu havia pedido uma lanterna de duas pilhas. Mas presente meu tem de ter uma gozação. E meu amigo oculto, o colega Rômulo, não perdeu a oportunidade. Vejam o que ele me aprontou:

 

Uma lamparina, com prazo de validade vencido 

                        Passado o efeito da pegadinha, ele me entregou o presente almejado:

                         Cabia-me, por sorteio, presentear minha amiga oculta, a colega Sônia. Inicialmente, dei-lhe um caixote contendo, apenas uma nota de 1 dólar. Depois, presenteei-a com a prenda escolhida, uma caixa de chocolate da Kopenhagen:

  

                        Feita a revelação de todos os amigos ocultos, passamos às comedorias, após o que se deu por encerrada a festança. 

                        Prossigamos com o Natal Fora de Época na Drogaria Drogasil - São José, da Rua das Farmácias, da qual sou cliente fiel desde há muito tempo. Não me restrinjo apenas a comprar medicamento, mas enriqueço meu cabedal humano fazendo de cada funcionário daquela filial um amigo. Esse proceder me trouxe inusitada surpresa, que me deixou muito feliz. Vou contar com foi.

 

                        Eu havia encomendado o medicamento Forxiga, em falta no mercado brasiliense. Certo dia, no final de novembro, telefonaram-me avisando que o pedido havia chegado e marcando hora para a entrega. Em lá adentrando, todo o corpo de funcionários me esperava e, com grande alegria, me brindou com esta linda caravela, quase toda confeccionada com palitos de picolé:

  

                        O terceiro Natal Fora da Época foi na Academia Consciência Corporal, em cuja piscina a Doutora Ayda Jamal e sua equipe ministra sessões de hidroterapia, o que, há 10 anos, me proporciona condições de me locomover e muita interação com os colegas hidroterapatas. Ali, um grande sentimento nos une em fraternal empatia: a dor!

                         Este ano, meu número de abertura já foi descrito acima: declamação de poesia e música na gaita de boca. A seguir, o grupo de Fisioterapeutas e Hidroterapatas:

  

                        O amigo oculto foi sorteado na hora. Ganhei uma garrafa térmica da colega Michelle e presenteei o colega Gustavo com uma caixa de chocolates da Kopenhagen:

  

                        Ao final da brincadeira, declamei A Flor do Maracujá e executei na gaita de boca a marchinha Boas Festas e a guarânia Meu Primeiro Amor, de Hermínio Gimenez, acompanhado ao violão pelo garoto César, filho da colega hidroterapata Edmeia, ambos neste flagrante:

  

                        O número musical foi registrado pela Doutora Ayda neste youtube:

 

 

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Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas segunda, 28 de agosto de 2017

OS LANDWEHR: DO HOLOCAUSTO AO PARAÍSO BRASILIENSE

OS LANDWEHR: DO HOLOCAUSTO AO PARAÍSO BRASILIENSE

(Publicada no dia 19.01.2015)

Raimundo Floriano

 

Mapa da Romênia

 

                        O Holocausto é tema deveras recorrente. Muitos livros já li e a muitos filmes tenho assistido sobre o tema, e isso é bom, para que não caia no esquecimento esse bárbaro crime que foi perpetrado contra o povo judeu na Segunda Grande Guerra. Ainda mais agora, quando vemos nossos últimos governantes acenando com simpatia para ditadores que o negam.

 

                        O conhecimento que tenho sobre o assunto me foi totalmente passado por escritores e diretores cinematográficos de países distantes. Por isso, venho falar de uma pessoa que o viveu, e que está aqui, praticamente a nosso lado, moradora num dos Condomínios de Brasília, fácil de ser contatada por um simples telefonema, ou mesmo ser encontrada na praça de alimentação de um shopping qualquer. Trata-se de Lulu Landwehr.

 

                        Lulu, judia como toda sua família, nasceu na Romênia, numa pequena aldeia chamada Peteneye, no dia 23 de maio de 1925. Era filha de Moritz Weiss e Eszter Katz Weiss. No próximo mês de maio, completará 90 anos, linda como sempre.

 

                        Devido a dificuldades financeiras, seu pai mudou-se com a família para próspera cidade de Oradea, capital do judet – distrito – de Bihor, onde passou a operar como pequeno agricultor.

 

                        Oradea, pela proximidade com a Hungria, ora era anexada àquele país, ora era devolvida, e vice-versa, de forma que muitos romenos dali achavam que eram húngaros, e muitos húngaros pesavam que fossem romenos. Toda a região é conhecida por Transilvânia, famosa na literatura como a terra dos vampiros.

 

                        Em 1944, a Hungria, com Oradea sob seu domínio, era simpática à causa alemã. E, em maio daquele ano, toda a família da Lulu, por ser judia, foi embarcada num vagão de gado rumo aos campos de concentração de Auschwitz, operados pelo Terceiro Reich, nas áreas polonesas anexadas pela Alemanha Nazista e maior símbolo do Holocausto.

 

                        Lulu estava com 19 anos!

 

                        O vivido, desde o embarque, em maio de 1944, até a libertação, pelos americanos, a 14 de abril de 1945, encontra-se narrado neste impressionante e contundente livro, editado pela Thesaurus Editora. Dos 85 que li em 2014, este é o de maior conteúdo, o de maior valor histórico:

 

 

 

                        Para dizer o mínimo, em Auschwitz, Lulu perdeu o pai, a mãe, as irmãs Erzsi e Iren e o irmão Sanyi, nos fornos crematórios. Com ela, sobreviveram Duci e os irmãos Miki e Ioska.

 

                        Ao retornar para Oradea, o ambiente já não era o mesmo entre seus concidadãos, onde reinava intenso preconceito contra os libertados. Vejam só, na própria pátria!

 

                        Foi quando Lulu começou a namorar o compatriota Dan, judeu, que teve participação ativa na Segunda Guerra Mundial, lutando como partisan ao lado de Charles de Gaulle até a libertação da França em 1944.

                        O romance começou em 1948. Logo em seguida, Lulu foi internada num sanatório, por ter contraído tuberculose, doença quase impossível de ser combatida na época. Foi quando Dan mostrou a ela o grande amor que lhe devotava, nunca lhe negando carinhos e beijos quando a visitava. Um ano depois, ou seja, em 1949, com Lulu totalmente curada, Dan buscou-a no sanatório e levou para a casa dos pais dele, em Paris, onde se casaram.

 

                        Tendo que lutar pela vida e contra a discriminação, o casal viveu em Paris, e Buenos Aires e, finalmente, chegou ao Brasil, em 1952, onde fixou residência definitiva, motivado pelo aspecto de que nosso país é o único onde não existe preconceito contra seu povo. Vejam bem no que desejam transforma o povo brasileiro agora, lançando olho castanho contra olho azul, cabelo escuro contra cabelo loiro, pobres contra ricos, nordestinos contra sulistas, apedeutas contra estudados e, para o cúmulo dos cúmulos, criando as famigeradas quotas raciais!

 

                        No Brasil, Lulu e Dan tiveram dois filhos, Roby e Vivi.

 

Lulu e Roby, em 1956 - São Paulo

 

Lulu, Vivi, Roby, Dan e Duci - Início de Brasília

 

                        Iniciando suas atividades, primeiramente em São Paulo, Dan logo se transferiu com mala e cuia para Brasília, onde chegou com a família, antes da Inauguração.

 

                        E o que os faz tão perto de nós, tão palpáveis, tão gente da gente? Vou lhes contar!

 

                        Dan vem a ser Bâzu Dan Landwehr, que montou em Brasília a primeira e maior fábrica de móveis de qualidade, a Mainline Móveis, fornecedora, mediante licitação, para todos os órgãos públicos da Nova Capital e exportadora em grande escala. Um meu primo, Pedro Ivo, foi Contador da empresa desde 1970, e mais adiante, um de seus sócios.

 

                        Paralelamente, Dan montou na Galeria do Hotel Nacional a loja DAN - Decorações a Artes Nacional, de alto nível, gerenciada por Lulu e freqüentada pela socialites da Corte.

 

                        Para ter-se uma ideia do nível de seus produtos, vou contar-lhes uma historinha. Em 1968, por ocasião da visita da Rainha Elizabeth II ao Brasil, o Congresso Nacional viu-se em palpos de aranha, por não dispor de dependências condignas para recebê-la. Aí Seu Dan entrou em ação: montou um gabinete com móveis, tapeçaria, decoração e tudo o mais, nada ficando a dever ao ambiente mais sofisticado do Palácio de Buckingham. No dia seguinte ao da partida da Rainha, retirou todo o material, fazendo tudo isso graciosamente! Bâzu Dan Landwehr sabia negociar!

 

                        Seu Dan faleceu ainda no vigor de sua produtividade, em 1982. Para perpetuação do clã, deixou-nos a filha Vivi e o filho Roby, do qual passo a falar.

 

                        Roberto Landwehr é meu colega na Hidroterapia, atividade a que comparecemos três vezes por semana. Nasceu em São Paulo, no ano de 1956, e veio morar em Brasília juntamente com os pais, em 1960. Iniciou seus estudos no Colégio Dom Bosco, como se vê a seguir:

  

                        Seu currículo é extenso e valioso: licenciatura em Educação Física pela Faculdade Dom Bosco de Brasília, DF; especialização em Fitness pelo Instituto de Pesquisas Aeróbicas, em Dallas, Texas, EUA; especialização em Ciência do Treinamento Desportivo pela Universidade Gama Filho, Rio de Janeiro, RJ; doutorado pela The University of New Mexico, Albuquerque, EUA; professor de Educação Física na Fundação Educacional do Distrito Federal; professor de matérias diversas, com ênfase em Treinamento Desportivo e Fisiologia do Exercício, nas Faculdades Dom Bosco de Educação Física, Santa Terezinha, Em Brasília, Anhanguera, em Brasília, na Universidade Católica, em Brasília...

                        Na maturidade, é a cópia xerocada do pai:

  

                        Com esse invejável cabedal, acaba de lançar, com parceiros, também por nossa Editora, a Thesaurus, este livro de bolso cuja qualidade já me fez comprar 10 exemplares para presentear meus professores de malhação e minha reumatóloga, e a cujo lançamento compareci, quando tive oportunidade de apertar a mão da Lulu:

 

 

 

                        Para avaliar-se o tamanho de sua aceitação, basta saber que, na noite de autógrafos, no Restaurante Carpe Diem, saíram 135! Recorde editorial brasiliense no ano de 2014!

 

                        Era o que tinha a declarar!

 

                        Os livros E Pilatos Lavou as Mãos e Pílulas do Dr. T encontram-se à disposição neste site de vendas: www.thesaurus.com.br.

 

                        Em homenagem ao amigo Roby e a sua família, aqui vai o Hino Nacional da Romênia:

 

 

 


Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas domingo, 27 de agosto de 2017

O SENHOR DAS ARMAS

O SENHOR DAS ARMAS

(Publicada no dia 2.01.2015)

Raimundo Floriano

 

                        Juvenal Antunes Pereira é meu amigo. Conhecemo-nos bem no começo do ano de 1961, eu, formado pela EsSA - Escola de Sargentos das Armas, Turma/1957, transferido do 12º RI, sediado em Belo Horizonte, e ele mais 8 colegas da Turma/1960 – Arnaldo, Bandeira, Coimbra, Dantas, Loiola, Montibeller, Pinheiro e Silva –, vindo diretamente para Brasília, onde formaríamos o embrião do que seria o BPEB - Batalhão de Polícia do Exército de Brasília.

 

                        Apesar desse reduzidíssimo efetivo de Sargentos – 10 ao todo – para dar conta da Administração e da Instrução da Unidade, além dos serviços de Adjunto, Sargento de Dia, Comandante da Guarda, Patrulha, Policiamento e Segurança a Autoridades, todos nós achamos tempos para estudar, cursar o Ensino Médio e, quando isso se tornou possível nos cursos noturnos, conquistar o Grau Superior. Juvenal foi muito mais além!

 

                        Concluiu o Curso de Técnico em Contabilidade no Elefante Branco e matriculou-se, após aprovação em vestibular, na Faculdade de Direito da Universidade Federal do Triângulo Mineiro, campus de Uberaba, que funcionava nos finais de semana. Sacrificando suas horas de lazer e o convívio familiar, Juvenal colou Grau em dezembro de 1969. Em setembro de 1970, deu baixa do Exército, para dedicar-se à Advocacia Criminal e preparar-se para concursos públicos.

 

                        Começava aí sua trajetória de sucesso na vida civil. Aprovado em concurso público de provas e títulos, tomou posse no cargo de Procurador do Distrito Federal, vindo aposentar-se, em 1996, no último cargo da carreira.

 

                        Paralelamente, integra a Secretaria-Geral do Gabinete do Grão-Mestre, como Assessor Jurídico, foi Venerável Ministro do Superior Tribunal Eleitoral Maçônico, por mais de 20 anos, e seu presidente por 10 anos consecutivos, é membro da Academia Maçônica de Letras do Distrito Federal, da Academia de Artes, Ciências e Letras do Grande Oriente do Brasil e da Academia Maçônica Internacional de Letras de Lisboa.

 

                        Autor de vários artigos e livros sobre temas diversos é também Membro da Academia de Letras de Brasília, a cuja posse compareci.  Para fechar com chave de ouro esse invejável currículo, é formado pela Escola Superior de Guerra.

 

                        Tendo eu deixado o Serviço Ativo do Exército há 47 aos, e ele, há 44, nem por isso se viram interrompidos nossos laços fraternais. Pelo menos uma vez por ano, os remanescentes daquele efetivo do BPEB, mais alguns seus colegas da Turma EsSA/1960, nos reunimos, com nossas famílias, na casa do Bandeira, por ser o espaço mais apropriado para esse tipo de grande evento, como aconteceu nas proximidades do último Natal. E, também, no Aniversario de nosso Batalhão, ali comparecemos, para desfilarmos no Pelotão da Saudade. A seguir, três flagrantes das comemorações do Jubileu de Ouro do BPEB, ocorrido em 2010:

 

No destaque, Juvenal

 No destaque, Floriano, Bandeira e Arnaldo

 Juvenal, Éden, Floriano e Macedo 

                        Uma vez PE, sempre PE! 

                        Os últimos anos do Juvenal no BPEB foram por demais espinhosos: Comandante do PIC - Pelotão de Investigações Criminais, tinha em seu mister diário o contato com terroristas, assaltantes de bancos, arrombadores de cofres, emboscadores, frios assassinos e guerrilheiros. Nesse contexto, Juvenal, cumpria seu dever como partícula do Exército que, com sua intervenção vigorosa, procurou estancar a ação deletéria que estava levando a Sociedade Brasileira a um confronto entre irmãos.

 

                        Havia um guerrilheiro codinome Juca, perigosíssimo, atuando na Região Centro-Oeste, que organizava uma grande investida contra a Ordem Constituída e para isso aliciou e plantou elementos diversos nos quartéis, para roubarem armas e munições. Por isso, ganhou o epíteto de O Senhor das Armas!

 

                        No BPEB, o aliciado, a que darei o nome de Assecla, tinha duas missões impostas por Juca: subtrair armas e assassinar o Juvenal!

 

                        Na primeira, teve êxito. Apoderando-se de chaves das Reservas, conseguiu surrupiar 6 metralhadoras INA, 8 pistolas Colt. 45, mais de 10 caixas de munição e umas 20 granadas, além de apetrechos de campanha privativos do Exército, tudo entregue ao guerrilheiro Juca.

 

                        Na segunda, deu azar. Havia uma combinação tácita de que quem fosse preso seria eliminado no xadrez por outro aliciado, para que não abrisse o bico. E o Assecla se deu mal. Preso na rua pela Patrulha, por uma transgressão qualquer, ao ser trancafiado, viu-se apossado de grande terror de ser ali assassinado, razão pela qual procurou o Juvenal e lhe contou tudo, não só o plano de Juca, mas sobre onde lhe entregara o armamento roubado, revelando seus esconderijos e disfarces.

 

                        A prisão de Juca se deu, logo depois, no final de julho de 1969, às 19h, num ponto de ônibus da 207 Sul, e é um dos lances mais emocionantes do livro cuja capa aí vai:

 

 

                        Feita a campana por vários dias, chegou o momento decisivo. No citado ponto de ônibus, Juvenal, encarando o terrorista guerrilheiro, olho no olho – pois era ali que o alvejaria, em caso de reação armada –, deu-lhe o veredicto:

 

                         – Acabou, Juca! Somos agentes do Pelotão de Investigações Criminas da Polícia do Exército! Você está preso! Ponha as mãos na cabeça, ajoelhe-se e não se mexa, porque senão, você morre!

 

                        Era um ou o outro! Até hoje, tanto tempo depois, Juvenal agradece a Juca por não ter reagido e assim salvado a própria vida e, igualmente, a dele Juvenal. Naquele momento, o perigoso guerrilheiro, O Senhor das Armas, o sanguinário, o brabo, o bom-de-sela, o trinca-ferro, preferiu, humildemente, ajoelhar-se e depor seu armamento no solo!

 

                        O tempo fluiu. A situação do País mudou. Juca, agora com seu nome verdadeiro, cuja menção aqui não interressa, passou a ocupar cargos importantes na ordem política nacional. Mas não ficou só nisso.

 

                        Juvenal, embora ocupando o alto cargo de Procurador do Distrito Federal, passou a carregar o estigma de ter sido militar. E cada posto direção a que era indicado, logo surgia uma denúncia de Juca para que fosse destituído.

 

                        Assim foi, em 1998, no Governo de Cristovam Buarque, quando chefiava a Procuradoria Jurídica do Detran.

 

                        E, a partir daí, sucessivamente!

 

                        Aconselho a todos a leitura desse livro, O Senhor das Armas, para que se saiba um pouco do outro lado da História do Brasil, agora que a Lei da Anistia só vale para um lado de seus atores – os derrotados em 1964.

 

                        Em homenagem a nosso passado na caserna, aí vão duas peças musicais que cantávamos e continuamos cantando em solenidades no pátio da Polícia do Exército.

 

                        Canção do Exército (Capitão Caçulo), de Teófilo Magalhães e Alberto Augusto Martins, com a Banda de Música da EsSA:

                         Canção do BPEB, de Paulo Roberto Yog de Miranda Uchôa, com a Banda de Música do BPEB:

 

 

 

 


Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas sábado, 26 de agosto de 2017

ANDERSON BRAGA HORTA E A RIMA QUE EU PROCURAVA

ANDERSON BRAGA HORTA E A RIMA QUE EU PROCURAVA

(Publicada no dia 23.06.2014)

Raimundo Floriano

 

 O gênio, no lançamento de Signo, em 4.8.2010, e este colunista 

                        Minha formação literária teve início, na prosa, com Monteiro Lobato, Edgar Rice Burroughs, Alexandre Dumas e muita revista em quadrinho, tendo estas exercido tanta influência sobre mim que hoje não sei elaborar um texto sem imagens. A poesia foi-me apresentada por Gonçalves Dias, Catulo da Paixão Cearense, Castro Alves e folhetos de cordel. Assim, desde cedo, deduzi que a poesia devia ser rimada, o que não é regra geral, como verifiquei muito depois.

 

                        Dentre os cordelistas, os que mais me influenciaram foram João Martins de Athayde, Manoel Pereira Sobrinho, Leandro Gomes de Barros e Firmino Teixeira Amaral, com estes romances que ainda guardo em minha coleção entre centenas de outros:

 

                        E durante muito tempo, eu achava que também era poeta, fazendo versos e até vencendo desafios com a meninada de meu sertão sul-maranhense. Até hoje, trago a rima na massa do sangue, mas sem aquele convencimento de outrora. O que me fez acabar com a marra aconteceu na quarta série ginasial.

 

                        Certa vez, em Teresina, no Colégio Diocesano, o Professor Arimateia Tito, em aula de versificação e métrica, mandou que cada aluno compusesse uma estrofe, o que fizemos. Ao ler a minha o professor balançou a cabeça e falou:

 

                        – Aqui só tem rima pobre. Janela com canela; oração com coração...

 

                        E explicou-nos que rima pobre era esse tipo da minha, que não requeria muita imaginação. Mais ou menos como esta de Florbela Espanca, em Velhinha, que eu mostro agora para vocês:

 

Não sei rir e cantar por mais que faça!

Ó minhas mãos talhadas em marfim,

Deixem esse fio de oiro que esvoaça!

Deixem correr a vida até ao fim!

 

                        Como exemplo de rima rica, o Professor Arimateia apresentava-nos este trecho do poema Meus Oito Anos, de Casemiro de Abreu:

 

Livre filho das montanhas,

Eu ia bem satisfeito,

De camisa aberta o peito,

– Pés descalços, braços nus

Correndo pelas campinas

À roda das cachoeiras,

Atrás das asas ligeiras

Das borboletas azuis!

 

                        Há muito tempo, procuro outra rima tão rica quanto essa. E a tarefa a cada dia que passa fica mais difícil, pois quase já não se faz poesia rimada. E também porque há rimas e rimas.

 

                        O Velho Faceta, cordelista de truz, vinha cantando os 25 bichos, numa boa, até que chegou o momento de encontrar rima para o tigre. Como aqui é diferente do jogo, não vale o que está escrito e sim a eufonia, ele deu uma guinada e se saiu com esta:

 

Eu ando devagarzinho

A mim ninguém persigue

Eu ando devagarzinho

A mim ninguém persigue

O 21 é touro

 E o 22 é tigre

 

                        Dizem que não existe rima para a palavra mãe. Pesquisando no Google, encontrei como única rima para mãe a palavra Oçãe, nome de orixá cuja epifania são as folhas e as ervas medicinais litúrgicas usadas no candomblé. Consultei o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, e lá esse termo não consta. Portanto, não existe em nosso idioma.

 

                        Quando eu estava na chefia do Gabinete da Deputada Ivete Vargas, então Líder do PTB, admirei-me com a correspondência dum eleitor que, ao cumprimentar a deputada pelo Dia das Mães, enaltecia o fato da maternidade ser tão importante, sublime, que não existia rima para a palavra mãe. Fazia, no entanto, uma ressalva, afirmando que os portugueses a rimam com também, que eles pronunciam tambãe. Olha a eufonia aí de novo!

 

                        Pois bem, depois de ler a carta, caiu-me a ficha! Lembrei-me de um hino trazido para o Brasil pela Corte Portuguesa, Dá-nos a Bênção, cujo refrão diz:

 

Dá-nos a bênção, ó Virgem Mãe

Penhor seguro do sumo bem

 

                        Um de meus colegas de trabalho na Diretoria do Patrimônio, da Câmara dos Deputados, era o falecido cantador, poeta e improvisador Tira-Teima que, certo dia, me procurou, agoniado, querendo uma rima para Corinthians. Eu quase que lhe falei o nome duma amiga minha, a Cyntia, mas, com medo de levar uma vaia, saltei de banda, tirei o corpo fora, e a poesia não se fez.

 

                        Falta de cultura minha. Ou coragem. Aos poetas, por falarem com o coração e, por isso mesmo, serem inimputáveis, tudo é permitido, tudo lhes é justificado, dentro de sua lei maior, a licença poética. E isso eu aprendi lendo este importante trabalho, verdadeiro tratado poético, que recomendo a toda Comunidade Fubânica:

 

 

                        Para não esquecer detalhe algum sobre a biografia do autor, aqui exibo as duas orelhas do livro:

 

                       

                        Com obra literária tão extensa, e sendo detentor de dezenas de prêmios, dentre eles o Jabuti, maior laurel da Literatura Brasileira, Anderson Braga Horta poderia deitar-se na cama e viver da fama. Mas não! De quando em vez, extasia-nos com novidades, como este Proclamações, lançado a 12.2.2014.

 

                        Sendo ele, na atualidade, o maior poeta vivo da Língua Portuguesa, a magnitude não lhe afetou a personalidade, o que constato ao vê-lo, com extrema benevolência, no autógrafo de seus livros, chamar-me de colega de trabalho e de letras.

 

                        Numa coisa, ele até que acerta. Somos colegas de trabalho. Anderson é filho de um casal de poetas, já falecidos, cujos lindos sonetos, tanto de seu pai quanto de sua mãe, vêm sendo publicado aqui no Jornal da Besta Fubana. Compõe uma prole de uma irmã e quatro irmãos. A irmã, Glória Braga Horta, focalizada em minha coluna no dia 16.6.14, na matéria Três Joelhos Musicais, é funcionária do Poder Executivo, escritora, poetisa, instrumentista e cantora, além de Madre Superiora diretamente subordinada a meu Cardinalato.

 

                        Os varões são meus colegas de serviço, todos funcionários da Câmara dos Deputados, nomeados mediante aprovação em concurso público de âmbito nacional: Flávio, que já se encontra junto ao Pai Celestial, Goiano, cujo trabalho consta de Três Joelhos, Arlyson, mais dedicado às atividades aeronáuticas, e Anderson, nosso Poeta Maior. A seguir, da família Braga Horta, em flagrante colhido no ano de 1942:

 

Maria Braga Horta, Anderson de Araújo Horta,

Arlyson, Goiano, Flávio, Glória e Anderson

 

                        Anderson domina todos os campos da Literatura. Nestes tempos de Copa do Mundo, podemos afirmar que, num time campeão, ele é o técnico e joga em qualquer das posições: poesia, conto, romance, biografia, ensaio, o que mais for. Adiante, capas de alguns de seus livros:

                       

 

                        Bom, desçamos do Olimpo! Voltemos à chapada, que é meu lugar, e de onde eu jamais deveria ter saído.

 

                        Chico Fogoió, meu amigo e Assessor para Assuntos Piauizeiros, metido a letrado e cordelista, vive me atormentando com uns versinhos de sua autoria, nos quais rima pai com papai, afora barbaridades várias. Eu dou-lhe broncas, dizendo-lhe que se esforce mais e não me venha com essas rimas paupérrimas, e sempre exemplifico o que é rima rica com esta quadrinha que decorei ainda nos Anos 1940, publicada no Almanaque Capivarol:

 

O padre da Abadia

Mandou comprar uma lâmpada

Para iluminar a estampa

Da Santa Virgem Maria

 

                        Aí ele rebate, dizendo que isso é verso de pé quebrado, são duas palavras que rimam apenas na eufonia. E nossa teima continua.

 

                        No dia 28 de maio passado, aconteceu minha vitória na pinimba! O Correio Braziliense, na Seção Tantas Palavras, dedicada aos poetas, vates, aedos e bardos, publicou esta joia de soneto, com riquíssima rima, da lavra da genialidade andersoniana:

 

 

                        – E agora, Fogoió? Sai dessa! 

 


Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas sexta, 25 de agosto de 2017

CHAME O PÉ DE CHUMBO

CHAME O PÉ DE CHUMBO

(Publicada no dia 15.12.2014)

Raimundo Floriano

 

Irmãos Metralha

 

                        Esta é uma parábola sobre Futebol e Política, assuntos sobre os quais sou completamente analfabeto, entendo porra nenhuma, como ficou provado neste ano de 2014, ora findante.

 

                        No Futebol, gramei, com meu Vascão as agruras da Segundona, e foi um sufoco para sairmos dela. Na Copa do Mundo, os 7 x 1 deixaram-me completamente engasgado. Na final, torci doidamente pela Argentina, e novo ferro levei.

 

                        Na política, naveguei na contramão da História. Apenas consegui eleger o Governador do Distrito Federal, e isso ajudado pelo eleitorado brasiliense que, cheio de brio, votou maciçamente no sentido de mudar o rumo das coisas. Votação inglória, mas Brasília deu exemplo para todo o Brasil. Se vier lixo federal para cá, culpa alguma nos cabe!

 

                        Isso dito, passemos à parábola.

 

                        No ano de 1958, quando eu servia como 3º Sargento no 12º Regimento de Infantaria, sediado em Belo Horizonte, a Companhia de Petrechos Pesados do 1º Batalhão - CPP-1, da qual eu era Furriel, estava nas semifinais do Campeonato Interno de Futebol. No jogo que a levaria ao final, estávamos perdendo de 2 x 0. Terminado o primeiro tempo, o Capitão Comandante da CPP-1 interpelou o Técnico, Sargento Dorgival, querendo saber o motivo daquele fracasso, vez que contávamos em nosso time com o artilheiro do certame. Deu-se este diálogo:

 

                        – Sargento Dorgival, cadê aquele índio nosso artilheiro? Por que não está jogando?

                        – Capitão, é o Pé de Chumbo. Não foi escalado porque está preso!

                        – Preso? Por quê?

                        – Capitão, o Pé de Chumbo, ontem à noite, deu a maior alteração na ZBM, e a Patrulha o recolheu ao xadrez!

 

                        Ouvindo isso, o Capitão falou:

                        – Vou soltar o Pé de Chumbo!

 

                        Usando de seu prestígio, conseguiu que o Pé de Chumbo fosse liberado para o jogo. E o resultado foi o que se esperava: o índio virou o jogo para 3 x 2. Saímos de campo vitoriosos, com o Pé de Chumbo carregado nos ombros da soldadesca e conduzido de volta ao Xadrez!

 

                        Falemos, agora, de Política, na atual conjuntura!

 

                        Ainda há pouco, um Advogado de Empreiteira declarou que, no Brasil, sem uma propinazinha por baixo do pano, não se coloca nem um paralelepípedo em qualquer empreendimento, seja federal, estadual ou municipal.

 

                        Um Ministro do Executivo, por sua vez, opinou que todos nós, vez quando, praticamos atos de corrupção, ativa ou passiva.

 

                        No Jornal da Besta Fubana, edição de 08.12.14, saiu esta matéria:

                       

“UM MAGISTRADO PERPLEXO

 

O juiz federal Sérgio Moro, que conduz as ações da Operação Lava Jato, considera que existem indícios de que os crimes de corrupção e propinas ‘transcenderam a Petrobras’.

 

Ele demonstra perplexidade com a planilha de dados sobre cerca de 750 obras públicas, ‘nos mais diversos setores de infraestrutura, que foi apreendida com Alberto Youssef’.

 

Doleiro e alvo central da Lava Jato, Youssef e o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa fizeram delação premiada e relataram a ação do cartel das empreiteiras na estatal petrolífera. A planilha que incomoda o juiz da Lava Jato foi apreendida no dia 15 de março, quando a operação saiu à caça dos investigados.

 

Na terça-feira, em Brasília, durante sessão da CPI mista da Petrobras, Costa afirmou que o esquema de propinas é generalizado no País. Funciona, segundo o delator, ‘nas rodovias, portos, ferrovias e aeroportos’.”

 

                        Quer dizer, tá tudo dominado!

 

                        Estamos no mato sem cachorro! E, com o objetivo de que o País não pare por completo, já que não podemos contratar empresas do Exterior, ou mesmo de outro Planeta, o jeito é entregarmos tudo para quem foi pego com as fuças na ratoeira. E, novamente, convocarmos o Pé de Chumbo. Esta matéria, publicada pelo Correio Braziliense no dia 30.11.14, é bom exemplo do que aqui se afirma:

 

  

                        Precisa-se dizer mais?

 

                        Pelo que vêm propalando certas autoridades, temos de concordar com o Cego João Mandioca, um de meus gurus, que afirmava:

 

                        – Mundinho, todo brasileiro tem calo! Quando não tem no pé, tem na consciência!

 

                        Dia 12.12.14, esta matéria já finalizada, deparei com a seguinte figura no Facebook, originada no MCC – Movimento Contra a Corrupção, postagem de meu amigo Roberto Oliveira:

  

                        Não dá pra segurar! Explode, coração brasileiro! Por isso, vamos relembrar o que diz o malandro Bezerra da Silva em seu inspirado Pega Ladrão, samba de sua autoria:

 

 

 


Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas quarta, 23 de agosto de 2017

O URANISTA

O URANISTA

(Publicada no dia 24.11.2014)

Raimundo Floriano

 

Símbolo do urânio

 

                        Outro dia, sem ter o que fazer – como sói acontecer a todo aposentado –, eu garrei a maginar como as coisas ocorreram, tão rapidamente, que quase não tô achando tempo nem pra me coçar. Com seis livros no acervo, mantendo, ininterruptamente, esta coluna semanal no Jornal da Besta Fubana, desde sua fundação, em 2008, prefaciando obras de amigos e com artigos publicados no Jornal da ANE – Associação Nacional de Escritores, de ampla circulação, posso dizer que tudo isso me espanta! A coisa começou, pra valer, da forma que adiante lhes conto.

 

                        Eu já andava escrevendo umas coisinhas aqui e ali, meu fraterno colega Vili até me abrira espaço na Voz Ativa, da ASA-CD, quando, no inicio de 1993, o amigo Gilberto Melo, nosso Giba, redator do jornal O Diário de Alagoas, de Maceió, propriedade do então Deputado Cleto Falcão, ora já falecido, me convidou para assinar ali uma página semanal. Com esse apoio moral, meti os peitos, criando a coluna Do Jumento ao Parlamento, título do livro que viria a lançar, em 2003, no Salão Nobre da Câmara dos Deputados.

 

                        E, relembrando aqueles bons tempos do Diário, vem-me à memória outro colunista do jornal, que também fazia parte de seu corpo editorial, tio do Giba, o grande escritor José Roberto de Melo, atualmente morando no Recife, dono de um texto saboroso e mordaz, com quem muito aprendi ao ler suas criações.

 

                        Uma delas, denominada “O Uranista”, nunca me saiu da lembrança. Como o Diário deixou, desde há muitos anos, de circular, não se tendo notícia de haver alguma coleção dele arquivada, vou tentar reproduzi-la, procurando, pelo menos, ser fiel ao espírito do tema.

 

                        No sertão alagoano – contava o Zé Roberto –, em cidade da qual não me recordo o nome, havia um fazendeiro, Seu Chicão Trombetas, pai de 18 filhos varões, que andava muito preocupado, contrariado, pode-se dizer, com o caçula, o Geribaldo. Na Fazenda Vão da Urucu, de sua propriedade, onde a rotina diária era amansar burro brabo, ferrar touro marrento, laçar boi mandingueiro e botar ferraduras nos cascos das montarias, dentre outros afazeres da lida no sertão bravio, o adolescente só queria saber era de ficar lendo revistas de fotonovelas, tirando mel de abelhas, assistindo a programas matinais de TV, fazendo renda na almofada, ajudando na cozinha, dormindo à tarde, brincando com a molecada do eito à noite, nada de pegar no pesado, solapando, assim, a rústica tradição da Família Trombetas.

 

                        À vista disso, Seu Chicão levou o rapazinho parra consultar um psicólogo e um urologista. Ambos os médicos, após examinarem o mancebo e nada encontrando de anormal, aconselharam o pai a mandá-lo para outras plagas, conhecer novas paragens, talvez a mudança de ambiente e de amizades o ajudasse a modificar seu comportamento.

 

                        O velho, mais que depressa, acatou a abalizada sugestão dos doutores, e até exagerou, mandando o jovem estudar nos Estados Unidos, onde lhe conseguiu uma bolsa para a Universidade do Texas, em Austin, sua capital, por ser aquele Estado famoso pelos caubóis, com exuberante indústria na área da agricultura, petroquímica, energia, informática, eletrônica, ciência biomédica e aeroespacial, aí incluindo os astronautas e as naves interplanetárias.

 

                        Com quatro anos, Geribaldo regressou para a Vão da Urucu assaz modificado, cheio de bossa, esperto, vistoso, queimadão de sol, falando Inglês e distribuindo a todos este cartão de visita:

 

 

                        Foi a glória! Para a Família Trombetas e para todo aquele sertão, que passava a contar com um cientista dentre seus habitantes, especializado em urânio, o que possibilitaria ao Brasil, se assim o quisesse, fabricar sua primeira bomba atômica!

 

                        Mas a bomba que estourou por lá foi bem outra! Certo dia, Geribaldo desapareceu! Procura daqui, procura dali, descobriram que o garoto fugira de Vão da Urucu com um caminhoneiro que puxava coco-da-baía para São Paulo.

 

 

                        Decepção geral!

 

                        – Mas ele não é uranista? – Perguntavam uns!

 

                        – Para isso é que estudou quatro anos na Universidade do Texas? – Indagavam outros.

 

                        E foi aí que um sertanejo metido a ladino, letrado, pegou o último volume do Grande Dicionário Brasileiro Melhoramentos Ilustrado, há muito tempo comendo poeira em sua estante, e desvendou o mistério, ao ler para os circunstantes os seguintes verbetes:

 

                        Uranismo: (S. m.) Homossexualidade, pederastia.

 

                        Uranista: (S. m. e f.) Pessoa que pratica o uranismo.

 


Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas terça, 22 de agosto de 2017

YOUTUBARAM O TENENTE FLORIANO

YOUTUBARAM O TENENTE FLORIANO

(Publicada no dia 01.12.2014)

Raimundo Floriano

 

                        Na vida, com 78 nos couros, pensam que nada mais é novidade? Pois bem!

 

                        Entrei para o Orkut no ano de 2005 e logo procurei inscrever-me como membro das Comunidades relacionadas às pesquisas fonográficas a que venho me dedicando desde há muito: a Música Militar, o Carnaval, o Forró e a Velha Guarda da MPB. De cara, e auxiliado por minhas filhas, que me orientaram nos passos iniciais, aderi às seguintes: SÓ DOBRADOS, MÚSICA MILITAR, SAMBA DE RAIZ, com mais de cem mil membros, MARCHINHAS DE CARNAVAL e JACKSON DO PANDEIRO.

 

                        A Só Dobrados ainda engatinhava, e seus membros não perfaziam uma centena. Chegamos a atingir a casa de 3.000! Qualidade era sua maior característica!

 

                        A Música Militar, com um milheiro membros, vinha crescendo aos poucos, em razão de que a Só Dobrados se tornou mais conhecida, talvez por causa da sua inspirada denominação, fazendo-a mais fácil de ser localizada.

 

                        Na Samba de Raiz, onde comecei postando meu vasto repertório de Noel Rosa, Pixinguinha, Sinhô, Donga, Ary Barroso e outros cobras, recebi esta premiação: fui expulso! Não era isso o que eles queriam.

 

                        Não foi diferente na Marchinhas de Carnaval. Meu estoque de mais de 12 mil músicas carnavalescas do passado não agradou àquela gente. Resultado: cartão vermelho! Depois, ela passou a ser administrada pela pesquisadora Patrícia Rodrigues, que extinguiu, de vez, o regime de expulsão.

 

                        Na Comunidade Jackson do Pandeiro, não havia interação. Apenas eu postava músicas, literatura referente ao Rei do Ritmo, homenagens, mas não obtinha qualquer tipo de retorno, crítica alguma, quer positiva, quer negativa. Saí por conta própria!

 

                        À vista disso, resolvi formar minha própria Comunidade, onde pudesse divulgar meu acervo sem qualquer perigo de exclusão ou interferência deletéria. Assim, nasceu a Comunidade DOBRADOS, CARNAVAL E FORRÓ, que chegou a contar com mais de 900 seletos membros. Era este seu ícone:

  

                        E foi em decorrência de meu trabalho de divulgação nessas Comunidades que me vieram os honrosos reconhecimentos sobre os quais adiante me estenderei.

 

                        NO CARNAVAL - Todas as manhãs de sábado, na Rádio Nacional do Rio de Janeiro FM, o veteraníssimo radialista Gerdal dos Santos apresenta, no programa Onde Canta o Sabiá, o quadro intitulado Alguém Muito Especial, assessorado pela Pesquisadora Patrícia Rodrigues, a das Marchinhas, enaltecendo vultos da Velha Guarda. Sempre que necessitam de alguma peça musical rara, difícil de se conseguir, é de meu acervo que se valem.

                       

                        No período carnavalesco, fico lotado de pedidos de partituras de marchinhas, sambas e frevos, a maioria solicitada por jovens músicos que assinaram contrato com algum clube, mas não conhecem os sucessos mais tocados e cantados pelos foliões de todo os tempos. Tais pedidos têm chegado também do Exterior, de países como Alemanha, França, Japão, Estados Unidos, Portugal, Uruguai, Finlândia, Argentina e muitos outros.

 

                        NO FORRÓ - Minha dedicação a esse gênero, abarcando todos seus compositores e intérpretes, me levaram a tomar posse, no Recife, na Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, tendo como Patrona a cantora Elba Ramalho. Não preciso dizer mais nada!

  

                        NO DOBRADO - Ao formar a Comunidade Dobrados, Carnaval e Forró, além de permanecer fiel à Só Dobrados, disponibilizei nesta grande parte de meu acervo de dobrados, hinos e canções, atendendo às constantes solicitações que me chegavam. Uma delas, os Hinos Estaduais, pesquisa que me tomara mais de três anos de persistência e teimosia. Outra, os Toques de Corneta. Existiam apenas 72 na Internet. Fui à luta. Coadjuvado por dois Cabos Corneteiros do BGP, gravei mais 218 e postei o total de 290 nas duas Comunidades. O Toque de Alvorada, hoje, contabiliza 15.433 downloads! Confiram aqui:

 

 

 

                        O que eu não sabia, nem desconfiava, era que olhos atentos observavam esse meu prazeroso trabalho. E laboravam na surdina, preparando-me uma homenagem que jamais imaginei merecer, mas que comoveu não só a mim, mas a toda minha família.

 

                        Essa deferência partiu do jovem que, na foto abaixo, está tocando seu bombardino. Chama-se ele Filipe Fonseca, reside no Rio de Janeiro e, na época do sucedido, tinha apenas 18 anos de idade!

 

Filipe Fonseca 

                        Pois esse moleque, sem me conhecer pessoalmente, sem ao menos ser meu amigo no Orkut, surpreendeu a todos, a mim e à totalidade da Só Dobrados, no dia 14 de dezembro de 2009, com inspirada composição sua, um belíssimo dobrado, ao qual deu o título de Tenente Raimundo Floriano. Surpreendeu-nos, não só pelo impacto da urdidura, feita em segredo, como pela beleza da linha melódica de sua criação, enriquecida pelos arranjos para 21 instrumentos, todos de sua lavra.

 

                        Minhas camaradas, meus camaradas, eu já me meti a compositor. Sentava-me num boteco com alguns amigos do ramo e danávamo-nos a fazer marchinhas, sambas, o escambau. Mas no caso em tela, o buraco é muito mais embaixo.

 

                        Pasmem! Um jovem de apenas 18 anos, tendo à disposição o vigor da idade e as maravilhosas e infindáveis alternativas de diversão da vida carioca, deixa tudo isso de lado para queimar as pestanas e elaborar uma peça musical dedicada a quem só conhece virtualmente! E o resultado taí: 4:31 de talento e criatividade! Sublime invenção!

 

                        É ou não é para sensibilizar qualquer coração empedernido?

 

                        A Fanfarra do 1º RCG - Regimento da Cavalaria de Guarda, da qual fui nomeado
AMIGO, esmerou-se na gravação desse tesouro musical, que coloco à disposição de meus queridos leitores.

Fanfarra do Primeiro Regimento da Cavalaria de Guarda 

Ouçam-no aqui:

  

 

                        Muito do que foi dito acima está hoje ultrapassado, com a extinção do Orkut. Venho compensando essa lacuna, postando as partituras em meu álbum de fotos do Facebook, onde já se encontram estes títulos: Marchinhas e Sambas Carnavalescos para os dois naipes – trombone e sax alto; e pistom, clarineta e sax tenor –, Chorinhos, Toques de Corneta e Toques de Clarim.

 

MAIS EMOÇÕES:

 

                        Há poucos dias, o amigo Jorge Rocha, meu Assessor Tecnológico, ex-baterista do Gera Samba, capturou, no Google, imagens diversas postadas por mim nas diversas matérias que venho publicando, e youtubou-me, ou seja, brindou-me com este vídeo, que tenho o prazer de colocar à disposição de todos vocês:

 

 

 


Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas domingo, 20 de agosto de 2017

DÓLAR, A CHAVE MÁGICA

DOLAR, A CHAVE MÁGICA

(Publicada no dia 10.111.2014)

Raimundo Floriano

 

 

Chave mágica de meus sonhos infantis 

                        Em 1986, um dia pós a chegada de Luiz Berto de sua gloriosa turnê cultural de 6 meses pelos Estados Unidos e Canadá, eu e Veroni, minha mulher, fomos visitá-lo, não só para lhe desejarmos boas-vindas, como também para sabermos das muitas novidades, pois ainda não conhecíamos país algum do estrangeiro.

 

                        Berto, de cara, foi logo me surpreendendo, mostrando que, lá na terra dos gringos, não se esquecera de mim. Pelo contrário, ao passar por Nova Orleans, comprou e trouxe-me de lembrança estas duas preciosidades do traditional jazz, o que mais curto da extraordinária música americana, atualmente transformadas em CD:

  

                        O papo corria solto quando, a certa altura, Berto levantou-se e dirigiu-se rumo ao quarto, dizendo: – Vou mostrar para vocês uma chave que abre todas as portas em qualquer país do mundo!

 

                        Eu pensei logo na chave mágica de meus sonhos de menino, de cuja existência tomara conhecimento nas histórias de trancoso. Mas, ao voltar, em vez de uma chave convencional, Berto nos exibiu uma nota de 1 dólar:

 

  

 

                        A partir daquele momento, passei a admirar a magnitude da força que esse dinheiro tem, o que vim a constatar in loco, quando visitei os Estados Unidos e o México, em 1998 e 2001. Lá, tanto naquele tempo como agora, se você comprar algo por U$l.99 e pagar com uma nota de dois dólares, recebe 1 centavo de troco. Enquanto que, aqui no Brasil, a moeda de 1 centavo há mito tempo foi abolida.

 

                        Aliás, enquanto o dólar permanece impávido, impertérrito, impoluto, portentoso, de 1986 para cá nosso padrão monetário sofreu estas metamorfoses: cruzeiro, cruzado, cruzado novo, cruzeiro novamente, URV, cruzeiro real e, finalmente, real.

 

                        A partir de então, resolvi presentear os jovens casais a cujo himeneu sou convidado, com, além de algo de utilidade no lar – geralmente eletrodoméstico ou móvel –, deterioável com o uso, um mimo perene, para toda a vida, configurado na cédula de 1 dólar.

 

                        Isso com a recomendação de que o noivo a use em sua carteira, junto às demais notas que possui, sem nunca dela se desfazer. E o faço com a garantia de que a vida do casal será sempre afortunada. Palavra de Cardeal da Igreja Sertaneja.

 

                        Explico o poder magnificente da nota de 1 dólar. Ela traz em seu verso a figura de uma pirâmide, símbolo da prosperidade, cujo vértice, seccionado, estampa um olho luminoso, símbolo da vigilância. Para que não se conectem esses dois símbolos à magia negra ou à macumba, é ali também impressa a frase IN GOD WE TRUST, que eu traduzo como CONFIAMOS EM DEUS!

 

                        Mas há um porém. Não adianta você comprar uma dessas notas e colocá-la em sua carteira. Ela tem que ser ganha. Quem me presenteou com a que carrego comigo desde então foi a amiga e colega Filó, em 1991, na época funcionária da Câmara dos Deputados e Chefe de Seção na Coordenação de Apoio Parlamentar, onde o Papa Berto I também exercia uma chefia. No mesmo momento, agraciei-a com igual dádiva. Detalhe curioso: Filó e eu somos gêmeos. Embora de pais e mães diferentes, nascemos ambos no dia 3 de julho!

 

                        E o resultado aí está. Filó, aposentada, é hoje fazendeira em Formosa (GO), onde fabrica seus queijinhos para vender aos domingos na feira semanal da cidade. E eu, jogador inveterado em loterias, vez em quando faço o terno da Quina, a quadra da Dupla Sena, a quina da MegaSena no Bolão, e livro o apostado na Loteria Federal. A qualquer momento, estouro a boca do balão!

 

                        Como tarefa a cumprir, de quando em quando, o portador do dólar tem de recitar esta quadrinha, tipo de mantra muito prafrentex:

 

DINHEIRO EM MEU BOLSO

É COMO FOLHA DE MANGABA

QUE É POUCO

MAS NÃO SE ACABA

 

                        Nos flagrantes a seguir, o momento em que, junto a minha Bênção Cardinalícia, presenteio jovens casais com o infalível e auspicioso talismã.

 

 Karina, minha hidroterapeuta e Márcio, vendo-se a hidroterapata Mariângela

 

 Maurício Melo, Elba, Raimundo, Veroni e o casal Janaina e Samuel

 

Mara, o casal Thiago e Milena, Veroni, Raimundo e Elba

 

 Carolina Leal, minha filha adotiva, Luiz Felipe e Raimundo

 

Raimundo, Rafael e Denize

 

Fábio, Elba, minha filha, e este Cardeal

 

(A Posteriori)

 

Sandra e Pedro Ivo

 

                        Em algumas celebrações, não havia fotógrafo por perto, o que motivou a ausência de muitos desses especiais momentos de sinceras e abençoadas alvíssaras.

 

                        Juntado os bons augúrios com o agradável, aqui vai pequena amostra do trabalho da Preservation Hall Jazz Band of New Orleans. Escolhi uma faixa do LP New Orleans’s Sweet Emma, de 1964, Just a Closer Walk With Thee, peça tradicional do jazz e gospel norte-americano e mundial, arranjo de Emma Barrett, a Sweet Emma, pianista e cantora, nascida a 23.03.1897, que a interpreta aos 67 anos de idade:

 

 

                        E, para sacramentar minhas Bênçãos Cardinalícias sobre tudo o que acima foi dito, aqui vai mais outra linda peça do tradicional jazz e gospel norte-americano e mundial, Amen, constante do LP, For Concert Sale Only, de 1977, na voz de Willie Humphrey, nascido a 29.11.1900:

 


Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas sábado, 19 de agosto de 2017

VELHO FULÔ, UM SINO BADALANDO NO DESERTO

VELHO FULÔ, UM SINO BADALANDO NO DESERTO

(Publicada no dia 21.09.2015)

Raimundo Floriano

 

Terceiridosos moucos

                         Meu isolamento veio acontecendo aos poucos. Começou assim, da forma que adiante lhes conto.

 

                        Em dezembro de 2006, em consulta com um médico otorrinolaringologista, a cada pergunta que ele fazia, eu pedia para repetir. A certa altura, ele já muito agastado, indagou:

 

                        – Seu Raimundo, por que o senhor não usa aparelho auditivo? – ao que respondi:

 

                        – Doutor, ninguém gosta de conversar com velho! – Aí, o doutor, diante de minha teimosia, retrucou gritando, aos berros:

 

                        – ENGANO SEU! NINGUÉM GOSTA DE CONVERSAR É COM SURDO!

 

                        Meti o rabo entre as pernas, saí de lá de fininho, e resisti um bom tempo até que, em fevereiro de 2014, convencido eu mesmo da necessidade de adaptar-me ao mundo e à socialização com meus familiares – há 10 anos, não ouvia a voz de minha mulher, precisando que minhas filhas a retransmitisse em altas vozes – rendi-me à inovação tecnológica e adquiri um par de amplificadores auriculares:

 

 

                        Foi um renascimento! Uma felicidade! Ao sair da Clínica Fonoaudiológica, comecei a ouvir uma sinfonia de pardais e outros avoantes na densa arborização brasiliense. Ao chegar em casa – fizera testes e demais procedimentos em segredo –, nem precisei falar nada. Meu comportamento à mesa, no almoço, já denotava essa minha nova fase de reintegração à vida. E foi uma festa junto aos demais parentes, amigos e até desconhecidos. Isso no sábado. No domingo, na Santa Missa, aconteceu algo inédito há mais de uma década: ouvi, por completo, sem perder uma palavra, a homilia do Frei Lisâneos.

 

                        Meus eternos agradecimentos à Doutora Caroline Daisy Mirhom, da Telex Soluções Auditivas, por ter-me reinserido no Maravilhoso Mundo do Som!

 

                        Mas aí, comecei a dar o troco aos macróbios renitentes, por conta do que até então vivera. Adotei este princípio: perto de meus 80, não mais converso com velho surdo ou que não tenha Internet! Quer dizer, com a totalidade dos terceiridosos, com 101 por cento do universo gagá. Recebendo, em contrapartida, o silêncio dos jovens que, hoje, com esse tal de WhatsApp, já não conversam mais com Seu Ninguém! Ou seja, nem lá nem cá! Por conta disso, virei o que intitula esta matéria: um sino badalando no deserto!

 

 

                        Todos os dias úteis, depois de deixar minha mulher na Faculdade, lá pelas 8 da manhã, dou uma passadinha na Av. W2, onde ficam os fundos e meu Banco. Ali, na escadaria da entrada, ou mesmo na sala das caixas eletrônica, posicionam-se alguns jovens funcionários que pegam cedo no batente, esperando as portas se abrirem para eles. E todos – eu disse todos –, cabisbaixos, digitando no WhatsApp, sem dar sequer uma palavra como colega lado. Comentar o momento político, o capítulo da novela, o jogo de futebol, problemas caseiros, nem pensar.

 

                        O fenômeno mundial é – por que não dizer? – fenomenal.

 

                        E já chegou à culminância de chamar a atenção da revista Veja, que estampou, na Edição 2442, de 9.9.2015, esta matéria:

 

                        A coisa começou no início da Década de 1990, quando demonstrava pertence a status superior a pessoa que possuísse um aparelho celular. Havia muitas que chegavam em restaurante badalado, ocupavam mesa bem visível e ficavam teclando, às vezes para si mesmas, apenas no intuito de mostrar sua prevalência ante a ralé.

 

                        Hoje, status mesmo, no duro, goza quem possui uma linha fixa, o que significa ter residência fixa, endereço certo, local para cair vivo.

 

                        Mas, como eu dizia, a coisa começou na última década do século XX. Para se possuir um aparelho celular era necessário, primeiro, comprar a geringonça, depois, inscrever-se em extensa lista e aguardar ser sorteado. Entrei nessa, adquirindo dois tijolões do modelo abaixo:

  

                        Dois anos depois, fui contemplado com duas linhas no sorteio, mas, quando compareci para a instalação, os dois mostrengos já estavam fora de linha, e eu tive que arcar com nova despesa para adaptar-me à modernidade da tecnologia.

 

                        Eu mesmo nunca quis carregar comigo tal equipamento, nem aprender a manuseá-lo, por motivo que adiante relatarei.

 

                        Voltando aos primórdios do celular, acho interessante este diálogo, constante do livro Número Zero, de Umberto Eco, ocorrido na fictícia redação de um jornal, a 21 de abril de 1992:

 

 

                        Como se enganaram os nobres jornalistas!

 

                        E, agora, vou dizer por que, desde o início, só desejo uma coisa do celular: distância! Fui criado no sistema antigo, quando não se interropia o diálogo de duas pessoas sem pedir licença. Pois o celular, penso eu, é o tipo do menino mal-educado, que se mete inopinadamente nas conversas dos outros, sem ao menos ficar com a cara vermelha de vergonha.

 

                        Ano retrasado, escritor amigo meu convidou-me para o lançamento de livro seu na maravilhosa mansão onde reside, no Setor Park Way. O evento era só uma desculpa para um ágape de primeira, boca-livre de comida e bebida. Compareceu a nata da intelectualidade candanga, inclusive nosso editor, de nacionalidade portuguesa.

 

                        Meu amigo, que cheio de criativas bolações, programara o hasteamento das Bandeiras de Portugal e do Brasil, ao meio-dia, sol a pino, calor saaral. Por deferência especial, a solenidade começou pelo Lábaro Lusitano.

 

                        Estávamos todos em frente aos mastros, e nosso editor deu início ao hasteamento de seu Pavilhão. Já chegara ao meio do processo, quando seu celular tocou. Aí, ele susteve o içamento, para atender. Como a conversa demorava, meu amigo resolveu antecipar-se e hastear nossa Bandeira. Pois não é que, no meio do ato, seu celular também tocou? Tratava-se de um convidado retardatário, pedindo instruções de como chegar até a mansão.

 

                        Foi a maior saia-justa! As Bandeiras a meio-pau, nós no solão de rachar, e os dois hasteantes no telefone a falar!

 

                        Mesmo eu sendo completamente reacionário quanto à nova moda que tomou de assalto todo o planeta, recebi uma Notificação de Trânsito, dia desses, por estar dirigindo falando ao celular.

 

                        E agora, como sair dessa sinuca de bico? A prova afirmativa é a maior moleza. Basta dizer fui eu mesmo, fi-lo porque qui-lo! E pronto! Mas a negativa, meus amigos, é diabólica! Antepõe sua honrada palavra contra a do resto do mundo. E, em se tratando de autoridade oficial, quem leva no fim?

 

                        Embora sabedor dessa circunstância toda, resolvi estrebuchar, espernear, como fazem os enforcados, recorrendo contra o Ato de Infração, que ainda não foi julgado, como segue:

 

                        1 - O Notificado é o único condutor da viatura em tela, eis que suas duas filhas possuem veículo próprio, e sua esposa não dirige, em virtude de jmais ter-se interessado por isso;

 

                        2 - Neste AI, foi reportado que o Notificado, às 3:52, dirigia a viatura utilizando-se de telefone celular;

 

                        3 - O Notificado não porta, nunca portou e jamais portará aparelho celular consigo, simplesmente por não saber usá-lo, recusar-se a aprender a manuseá-lo e não ter dele necessidade, vez que, aposentado, em nada o aparelho contribui para seu viver;

 

                        4 - A bem da verdade, o Notificado já possuiu uma linha celular em seu nome, a 9974-2523, sendo, por nunca usá-la, instado pela VIVO a destivá-la, pagando taxas e emolumentos (Documento 6);

 

                        5 - Diante de sua resistência ao aprendizado/uso do aparelho celular, o Notificado vem sofrendo bullying por parte de familiares, amigos e até desconhecidos, por ser o único brasileiro que, dentre os 282,5 milhões de linhas usadas por seus patrícios, não se adapta a essa modernidade;

 

                        6 - Assim, o Notificado deduz, salvo melhor juízo por parte de Vossa Senhoria, que houve um laposo no que se refere à pessoa e à viatura, no momento da anotação da infração;

 

                        7 - Se, com essa argumentação, tiver comprovado não ter sido ele o infrator, o Notificado requer a Vossa Senhoria que torne o Auto de Infração ora em exame insubsistente, no que estará praticando ato de interira JUSTIÇA.

 

                        Vemos aguardar!

 

                        Outra saia-justa em minha vida, é quando me telefonam – no fixo – em meu aniversário, dão os parabéns e ficam silentes, sem mais assunto! É de torrar o saco!

 

                        Eu, quando vou parabenizar – no fixo, sempre no fixo – alguém, preparo uma pauta antecipada, visando a termos assunto, para não ficarmos ambos com cara de paisagem.

 

                        E foi o que aconteceu no mês passado, ao tentava felicitar pessoa muito querida – com quem só falo nessa ocasião – pela passagem de seu aniversário. Com a pauta em mão, comecei abordando a má educação do celular, o hasteamento interrompido, a solidão que as pessoas a si mesmas impuseram, e já ia me referir à Notificação de Trânsito, quando ela me interrompeu e perguntou: – Você não está escutando?/ – O quê?/– Meu celular tocando? Não está ouvindo? Tenho que atender!

 

                        O jeito foi dar tchau e recolher-me à solidão, neste mundo velho sem porteira!

 

Velho Fulô

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Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas sexta, 18 de agosto de 2017

SÃO LUÍS GONZAGA, TERRA GAÚCHA QUE ME ADOTOU

SÃO LUIZ GONZAGA, TERRA GAÚCHA QUE ME ADOTOU

(Publicada em 13.10.2014)

Raimundo Floriano

 

                        Mês de julho passado, em concorrida reunião social, dileta amiga, muito influente no meio cultural brasileiro e europeu, sinalizou-me com a possibilidade de indicar-me para membro de diversas academias literárias a que pertence. Diplomaticamente, com muito jeitinho, declinei do convite, informando-lhe que já fazia parte da Academia Passa Disco da Música Nordestina, que tem tudo a ver com meu trabalho de pesquisa musical; da Associação Nacional de Escritores, que publica textos meus em seu jornal, de ampla circulação; além de assinar coluna semanal aqui no Jornal da Besta Fubana, que me exige quase dedicação integral, tudo isso fazendo com que não me sobre tempo para mais nada.

 

                        Naquele momento, esqueci-me de citar outro importante sodalício a que pertenço, como sócio-correspondente, o Instituto Histórico e Geográfico de São Luiz Gonzaga - IHG, no Rio Grande do Sul. Vou contar como isso se deu.

  

                        Cheguei a Brasília em dezembro de 1960, como 3º Sargento do Exército Brasileiro, para formar o embrião do que seria o Batalhão de Polícia do Exército de Brasília - BPEB, criado a 13 de maio daquele ano. Logo no começo de 1961, chegariam mais 9 Sargentos, estes egressos da Escola de Sargentos das Armas - EsSA.

 

                        Esse efetivo original, tantos anos depois, continua coeso, unido e, embora todos já reformados ou aposentados, com alguns membros residentes em outras cidades, reúne-se periodicamente, em locais diversos, tendo como principal encontro a Confraternização de Natal. Hoje, além dos pioneiros do BPEB, juntaram-se a nós alguns componentes da Turma EsSA/1960 residentes em Brasília, dentre eles o gaúcho Ariel dos Santos Peres.

 

                        Ariel, assim como eu, é leitor compulsivo e gosta dos textos que escrevo, já tendo comentado alguns aqui no JBF. Tal aprovação fez com que ele me falasse do IHG, do qual já era sócio, e pediu-me os exemplares de meus últimos trabalhos publicados para enviá-los a sua irmã, Lia Magda, outra sócia do Instituto. Iso feito, recebi, dias depois, uma ficha para minha competente inscrição. Tudo cumprido e sacramentado, gaúcho sou por adoção.

 

                        São Luiz Gonzaga, situada no noroeste do Rio Grande Sul, em região chamada Território das Missões, foi fundada em 1687, mas só obteve sua emancipação administrativa em 1880. Tendo uma população em torno de 35.000 habitantes, respira cultura por todos os poros.

 

                        Com meus livros Do Jumento ao Parlamento, De Balsas para o Mundo e Pétalas do Rosa incorporados ao acervo do IHG, recebi, em retribuição, os dois compêndios abaixo, que passo comentar.

  

                        Vultos e Fatos da História de São Luiz Gonzaga, de autoria de Anna Olívia do Nascimento, considerada a Matriarca do Instituto, e de Maria Ivone de Ávila Oliveira, esta irmã de Dorival Neves Ávila, meu colega da Turma EsSA/1957 – até as pedras se encontram –, é uma coletânea de textos de vários autores, focalizando ilustres personagens que fizeram a glória daquele município: Virgílio Gonçalves do Nascimento, Darwin Genro Pereira, João Belchior Loureiro, José Gattiboni Filho, José Grisolia, Justino Marques Oliveira, Monsenhor Estanislau Wolski, Paula de Miranda Garcia, Virgilino Martins Coimbra e o Grupo de Educadoras municipais, ressaltando seu trabalho e dedicação desde as primeiras escolas ao advento da universidade.

  

                        Praça da Matriz, também de Anna Olívia e Maria Ivone, é um conjunto de reminiscências contando a bela saga dessa Praça, centro de todas as atividades culturais e políticas da urbe.

 

                        São Luiz Gonzaga, que foi a mais exuberante das missões jesuíticas, enfrentou alguns revezes políticos, vendo seu esplendor esvair-se pouco a pouco, quase desaparecendo do mapa, situação que só veio a ser revertida em 1905, com a instalação na Praça da Matriz do 3º Regimento de Cavalaria, que trouxe novos fatores de progresso à população são-luizense.

 

                        Começaram os militares pela a arborização da Praça e com suas retretas, o que inspirou, tempos depois, a criação da Banda Municipal, a qual passou a fazer audições públicas vespertinas e em festas comunitárias, com este romântico efetivo inicial: Maestro Ernani Darci Kamphorst, sax tenor; Hermes da Silva Ávila, sax alto; José Orlando Liell, contrabaixo; Itamar Pimentel Vieira, surdo; Aristotelino Ferreira Machado, pratos; e João Luiz Jacques Terra, tarol.

 

Praça da Matriz: Paróquia São Luiz Gonzaga 

                        O povo gaúcho é, por natureza – observação minha –, guerreiro e patriótico, haja vista suas vestimentas tradicionais, que relembram os grandes feitos brasileiros nas batalhas de antanho. Impregnados desse sentimento, as famílias são-luizenses veem, com muito orgulho, seus filhos serem integrados ao Exército, sentindo-se, com isso, prestigiadas e valorizadas.

 

                        Como falei anteriormente, São Luiz Gonzaga respira cultura por todos os poros. Vejam bem, com população de apenas, repito, apenas 35 mil habitantes, publica, todas as quartas-feiras e sábados, o jornal A Notícia, fundado a 29 de julho 1934, ou seja, há 80 anos, com 26 páginas, trazendo um Segundo Caderno, com dicas de TV, música, cinema, sociedade, livros, moda, beleza, quadrinhos e entrevistas.

 

 

                        E foi nele que, em 04 de dezembro de 2013, também notícia fui:

 

 

                        A Cultura Nordestina também deu o ar de sua graça em São Luiz Gonzaga, com nosso ídolo maior animando a vida musical daquela cidade sua xará. Em março de 1953, Luiz Gonzaga, O Rei do Baião, lá se apresentou, em memorável show, no Cine Lux, numa promoção da Rádio São Luiz, sob com o patrocínio dos Laboratórios Mora Brasil e Orlando Rangel, com renda destinada ao Asilo dos Velhos, atual Lar do Idoso.

 

                        Não preciso dizer mais nada! Depois dessa louvação ao o povo de São Luiz Gonzaga, e em agradecimento aos intelectuais são-luizenses que me adotaram, é com imenso prazer que lhes ofereço, para sua degustação auditiva, o Hino Rio-grandense, composição de Joaquim José de Mendanha e Francisco Pinto de Fontoura, com a Banda da PM do Rio Grande do Sul e Coro. Vamos ouvi-lo:

 

 

 


Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas quinta, 17 de agosto de 2017

VERA BRANT, VERAZ ESTIRPE CANDANGA

VERA BRANT, VERAZ ESTIRPE CANDANGA

(Publicada no dia 06.10.2014)

Raimundo Floriano

 

Vera Brant: na adolescência e como sempre

 

                        As fotos acima representam dois momentos de Vera Brant. A primeira, na adolescência, ainda em sua terra natal. A segunda, em Brasília, espelho da fase em que a conheci. Nestes 45 anos, de 1969 a 2014, sua fisionomia permaneceu imutável, como parecendo haver descoberto para si o segredo da eterna juventude!

 

                        Ela nasceu em Diamantina (MG), há 87 anos, onde iniciou seus estudos, completados em Belo Horizonte, com especialidade no Magistério. Após obter o grau universitário, transferiu-se para o Rio de Janeiro, onde foi admitida no cargo de Inspetora de Ensino do Ministério da Educação.

 

                        Em 1960, a convite de seu amigo e conterrâneo Juscelino Kubitscheck, então Presidente da República, mudou-se para Brasília, com a finalidade de ajudar outro mineiro, Darcy Ribeiro, seu amigo de infância, a criar a Universidade Brasília, onde lecionou até 1964, quando foi demitida após a instauração do governo militar.

 

                        Vera e eu tivemos uma trajetória candanga bem semelhante. Também cheguei a Brasília em 1960, mas nossos caminhos só vieram a se cruzar no ano de 1969, numa simbiose bem providencial.

 

                        A demissão de Vera coincidiu com a cassação de vários amigos seus, que tiveram de se exilar no Exterior, deixando aqui no Brasil seus interesses entregues à sorte, ao léu, sem terem quem deles cuidasse, principalmente casas e apartamentos.

 

                        Também, naquele ano, outro mineiro, o deputado Simão da Cunha, seu amigo, fora cassado pelo Ato Institucional nº 5. Ambos, Vera e Simão, gozavam da plena confiança de todos os expatriados, razão pela qual foram por eles instados a que assumissem aqui as funções de seus procuradores, alugando seus imóveis.

 

Simão da Cunha em close e com Maria Beatriz, sua mulher 

                        O volume das operações chegou a tal magnitude que exigiu o registro da personalidade jurídica do empreendimento. E foi aí que nos conhecemos.

 

                        Funcionário da Câmara dos Deputados e com o Congresso Nacional fechado, vi-me obrigado, para manter meu padrão de vida, a exercer a profissão de Contador, para a qual era legalmente habilitado. Assim, com o Congresso funcionando apenas no turno vespertino, estabeleci meu Escritório Contábil no Edifício Casa de São Paulo, Setor Bancário Sul, onde Vera e Simão operavam.

 

                        Contratado por eles, concretizei o registro em todas as repartições distritais e federais da empresa, denominada Imobiliária Minas Gerais, passando a funcionar como seu Contador. Além disso, era sempre solicitado a acompanhar diplomatas estrangeiros, nas visitas a imóveis a serem alugados, servindo-lhes como intérprete com meu Inglês macarrônico, aprendido aqui mesmo no Brasil.

 

                        Vera e Simão pensavam grande. No lançamento de qualquer empreendimento de vulto, anunciavam-no apenas uma vez, no Jornal Nacional, o que era bastante para que, no dia seguinte, todas as unidades estivessem vendidas. E, quando o dinheiro era grosso, concediam, a cada funcionário, a título de abono, um mês de salário, inclusive ao Contador.

 

                        Em meados dos Anos 1970, a sociedade com Simão de Cunha se desfez, passando Vera Brant a atuar como sócia majoritária e diretora da Vera Empreendimentos Imobiliários Limitada. Nessa mesma época, com o Congresso Nacional já funcionando a pleno vapor, e com a implantação, na Câmara dos Deputados, do Plano de Classificação de Cargos, que exigia dedicação exclusiva, encerrei as atividades de meu Escritório.

 

                        Desde então, meu contato com Vera Brant, passou a ser apenas na área intelectual, eis que ambos iniciados na faina literária, de que adiante falarei.

 

                        Para Vera Brant, os amigos eram o que existia de mais valor, pouco importando serem figuras de destaque ou não. Durante os árduos anos, sua casa foi o refúgio dos cassados e perseguidos, como Juscelino que, proibido de visitar a cidade que criara, foi, inúmeras vezes, por Vera recebido e, na calada das noites, ciceroneado, quando lhe mostrava o progresso da Capital da Esperança.

 

                        Juscelino, nosso ídolo maior, mereceu dedicação especial no bem-querer de Vera, assim como os demais membros de sua família, que compunham a maravilhosa e fantástica Corte Brasiliense de outrora. Estas fotos confirmam tal empatia:

 

Vera e Juscelino, em três felizes momentos

 

Vera com a Primeira-Dama Sara e com as meninas Márcia e Maristela 

                        O álbum fotográfico de Vera diz muito da quantidade de sinceros amigos que amealhou durante toda sua existência. Isso sem bancar o “papagaio de pirata”, como se diz das pessoas que fazem de tudo para aparecerem ao lado de gente badalada. Quase cem por cento das imagens de seu álbum foram tomadas em sua aprazível e acolhedora residência, à QI 19 do Lago Sul.

 

                        Não custa lembrar os nomes de alguns personagens que fizeram a História do Brasil contemporâneo:

 

Afonso Arinos, Marcos Freire, Sepúlveda Pertence, Carlos Castelo Branco, Waldyr Pires, Glênio Bianchetti, Alfredo Ceschiatti, Afonso Heliodoro, Tônia Carrero, Athos Bulcão, Aloysio Campos da Paz, Gilberto Amaral, Lúcio Costa, Carlos Veloso, Ayres Britto, Arthur Virgílio, Artur da Távola, José Richa, Ivo Pitangui, Carlos Murilo, Ronaldo Costa Couto, Carlos Monforte, Celso Furtado, Gilmar Mendes, Cora Rónai, Millôr Fernandes, Danilo Caymmi, Dorival Caymmi, Ernesto Silva, Evandro Lins, Fernanda Montenegro, Fernando Henrique Cardoso, Francisco Rezek, Gustavo Capanema, Hildegard Angel, Jorge Amado, Zélia Gattai, José Aparecido, Lêda Nagle, Lúcia Flexa de Lima, Márcio Moreira Alves, Mário Covas, Mauro Santayana, Miguel Arraes, Milton Nascimento, Nelson Pereira dos Santos, Oscar Niemeyer, Roberto Freire, Severo Gomes, Tom Jobim, Vinícius de Moraes...

 

                        Paralelamente à atividade comercial e vida social intensa, Vera dedicou-se também, de corpo e alma, à Literatura, com obras de sucesso, publicadas no Brasil e no Exterior:

 

 

                        Compareci ao lançamento de seu primeiro livro, A Ciclotímica, no dia 12 de fevereiro de 1976, no qual ela já se apresenta como escritora feita e acabada, com humor irônico e cortante, não salvando a cara nem dos entes mais queridos, hipotéticos tios e primos.

 

                        Ciclotímica, como sempre foi, alternando momentos de euforia com outros de reflexão, Vera diz, nos últimos parágrafos desse livro: “Não pretendo ter filhos, porque não quero me fincar na vida, não quero compromisso com este mundo”. Mas se fincou. Embora não tenha se casado, criou três sobrinhos como filhos, que lhe deram netos e encheram sua casa de alegria.

 

                        Outro trecho: “Fico pensando: o que será que vai me entusiasmar neste mundo? Amor? Será? Pode ser. Mas se esta vida continuar nesta chatice, vou desertar aos quarenta anos. Não vou ficar velhinha numa cama, esperando a morte’.

 

                        E nisso estava certíssima. No dia 14 de setembro, Vera, aos 87 anos, encantou-se, deixou a vida terrena, aparentando não mais que 60 anos, com a eterna fisionomia, constante, que sempre a caracterizou na fase adulta.

 

                        O velório transcorreu em sua residência, e a Missa de Sétimo Dia, Missa da Redenção, à qual compareci, em seu quintal, à sombra do majestoso flamboyant que domina o local.

 

                        À solenidade, realizada às 17 horas, compareceram inúmeros amigos, mais de três centenas, em cerimônia simples, sem a mídia para documentar, mas onde prevaleceu a emoção dos presentes. Além de ternos depoimentos, na Liturgia da Palavra, as leituras ficaram a cargo de Gilberto Amaral, colunista social, e de Carlos Ayres Brito, ministro aposentado do STF, autor deste belíssimo poema laudatório:

  

                        Junto com o folheto para acompanharmos a celebração, foi distribuído este marca-páginas, com textos escritos por Vera:

 

  

                        Essa foi Vera Brant!

 

                        Relembrando a força que deu, nos momentos de dificuldades e sobressaltos, a seus fraternais, diletos e cordiais amigos, quero lembrar que, em momento algum, ela se achegou a terroristas, assaltantes de bancos, dilapidadores do Erário, salteadores, guerrilheiros, arrombadores de cofres, estelionatários, gente dessa espécie. Vera Brant esteve sempre, incondicionalmente, do lado do bem! De gente com vergonha na cara!

 

                        Fernando Brant, escritor e compositor, seu primo em segundo grau, parceiro mais constante de Milton Nascimento, assim a definiu:

 

                        – Certa vez, levei Gonzaguinha até a casa dela, no Lago Sul, eles bateram um longo papo. Vera convivia com os bons e se mantinha à distância dos canalhas!

 

 


Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas quarta, 16 de agosto de 2017

O POVO PARM

 

Passados quinhentos anos de sua descoberta pelos portugueses, o Brasil apresenta-se com um biótipo próprio de sua gente, que em nada se parece com o português colonizador, o índio que já habitava a terra e o negro trazido da África como escravo para aqui construir o país-continente dos nossos dias. 
 
“O brasileiro, como bem afirma Darci Ribeiro, tem a cara do povo brasileiro; ele não se parece nem com o português, nem com o índio, nem muito menos com o negro. Trata-se de um povo de identidade própria”.
 
Na verdade, um povo de mestiços, formado pelo cruzamento de várias raças, com influência de levas de colonizadores diversos, chegados em diferentes épocas, que transformaram o Brasil numa imensa democracia racial, com valores, usos e costumes diversos de quaisquer outros povos.

1. JERÔNIMO, O ADÃO PERNAMBUCANO
 
A mestiçagem de nossa gente, já registrada por Joaquim Nabuco, quando da publicação de O Abolicionismo  (Londres: 1883) – “Nós não somos um povo exclusivamente branco, e não devemos portanto admitir essa maldição da cor; pelo contrário, devemos tudo fazer para esquece-la” (p. 22) –  estabelece que, ao contrário de outros países, como nos Estados Unidos da América,  a condição de liberto não impedia ao ex-escravo galgar os patamares da pirâmide social, e esclarece na mesma obra:

No Brasil, ao contrário: a escravidão ainda que fundada sobre a diferença das duas raças, nunca desenvolveu a prevenção da cor, e nisso foi infinitamente mais hábil. Os  contatos entre aquelas, desde  a colonização primitiva dos donatários até hoje, produziram uma população mestiça, como já vimos, e os escravos ao receberem a sua carta de alforria, recebiam também a investidura de cidadão. Não há assim entre nós castas sociais perpétuas, não há mesmo divisão fixa de classes. O escravo, que como tal praticamente não existe para a sociedade, […] é no dia seguinte  à sua alforria um cidadão como outro qualquer, com todos os direitos políticos, e o mesmo grau de elegibilidade. Pode mesmo, ainda na penumbra do cativeiro, comprar escravos, talvez mesmo quem sabe? – algum filho do seu antigo senhor. Isso prova a confusão de classes e indivíduos , e a extensão ilimitada dos cruzamentos sociais entre escravos e livres, que fazem da maioria dos cidadãos brasileiros, se se pode assim dizer, mestiços políticos, nos quais se combatem as duas naturezas opostas: a do senhor de nascimento e a do escravo domesticado. (p. 174-75). 1

Isso porque, como bem observou recentemente Darci Ribeiro, “no Brasil a miscigenação nunca foi crime, nem pecado, daí o surgimento de um povo novo, o povo brasileiro, que em nada se parece com o português, o negro ou o índio”. 2

Em Pernambuco, um  aspecto que marcou a civilização duartina foi a mestiçagem que logo tomou conta da sociedade, encorajada pelo primeiro donatário como se depreende das cartas jesuíticas da época, denunciando a indiscriminada atividade sexual dos portugueses com os nativos; o que faz Francis Dutra concluir que “desde o filho mais novo do primeiro donatário aos mais insignificante degredado, os portugueses foram pais de gerações de mestiços”. Em depoimento prestado perante o inquisidor Heitor Furtado de Mendoça (sic.), datado de Olinda, 15 de novembro de 1593, Manuel Álvares, um criado de Dona Brites d’ Albuquerque, faz referência a “Manoel d’ Oliveira, mameluco que dizem ser filho bastardo de Jorge de Albuquerque e de uma índia mestiça deste Brasil”, in Primeira Visitação do Santo Ofício às partes do Brasil. Denunciações  de Pernambuco, 1593-1595. Recife: Fundarpe, 1984.  p. 74; havendo ainda referências a uma escrava, de nome Antônia, que Jorge de Albuquerque no seu retorno à Portugal, in Naufrágio que passou Jorge Dalbuquerque, cap. XIII.
 
Somente Jerônimo de Albuquerque (O Torto), cunhado do primeiro donatário, em seu testamento, firmado em Olinda, em 13 de novembro de 1584, reconhece como filhos onze concebidos de sua mulher legítima, Filipa de Melo; oito com a índia Maria do Espírito Santo; cinco com outras mulheres, uma das quais Apolônia pequena, mãe do seu filho Felipe de Albuquerque, citado expressamente no testamento, deixando dúvidas ainda sobre uma filha tida com uma de suas escrava, de nome Maria, e de uma outra, Jerônima, “que se criara em sua casa e que foi tida por sua filha, mas que Deus sabia a verdade do ocorrido”. Dos oito filhos com a índia, posteriormente legitimados pela Coroa, os dois mais notáveis foram Catarina de Albuquerque, que se casou com o florentino Felipe Cavalcanti, fundador do clã Cavalcanti de Albuquerque, e Jerônimo de Albuquerque que, como veremos, veio ganhar fama com a expulsão dos franceses do Maranhão no início do século XVII.


 
Da descendência de Jerônimo de Albuquerque originaram-se algumas das mais  tradicionais famílias pernambucanas, como Cavalcanti Albuquerque, Fragoso de Albuquerque, Albuquerque Maranhão, Siqueira Cavalcanti, Pessoa de Albuquerque, dentre outras, justificando assim o apelido de Adão Pernambucano ,  dado no decorrer dos séculos ao seu patriarca. 3


 
Como bem dizia na época Caspar van Baerle, “não existe pecado do lado de baixo do Equador”  e, nos nossos dias, Chico Buarque de Holanda acrescentou: “vamos fazer um pecado, rasgado, suado, a todo vapor…”.

2. PRESENÇA HOLANDESA

A essa democracia racial acrescente-se a contribuição dos que para aqui se transferiram quando da Dominação Holandesa (1630-1654), estabelecendo-se com suas famílias e/ou casando-se com mulheres da terra ou portuguesas. Eram holandeses, franceses, flamengos, italianos, belgas, alemães e uma infinidade de judeus, oriundos da Península Ibérica e do Norte da Europa, que para aqui vieram e deixaram os seus descendentes, lembranças ainda hoje presentes em tipos alvos, de cabelos louros e olhos claros, encontrados em comunidades do nosso interior. Demonstra José Antônio Gonsalves de Mello, in Tempos dos Flamengos, que tais uniões eram tão freqüentes que no artigo 5º da versão holandesa do documento de capitulação, assinado em 26 de janeiro de 1654, “consentia aos vassalos dos ditos Senhores Estados Gerais casados com mulheres portuguesas ou nascidas na terra, que fossem tratados como se fossem casados com holandesas”. Uma testemunha da época, procurador da Coroa e Fazenda Real, Antônio da Silva e Souza, assegura que “concedeu-se aos flamengos que quisessem ficar logrando suas fazendas as terão assim como as tinham de antes e como se foram portugueses, gozando de todos os privilégios que eles gozam”4. – E não foram poucos os que ficaram, visto estarem unidos a mulheres da terra, com famílias  e propriedades estabelecidas.
 
Escrevendo sobre esse período do século XVII, Gilberto Freyre diz que :

Nesse Recife que se diferenciou tanto das outras cidades da colônia pelo seu gênero de vida e pela sua população desigual de neerlandeses, franceses, alemães, judeus, católicos, protestantes, negros e caboclos, não só se falaram por trinta anos, quase todas as línguas vivas da Europa e várias da África, como estudou-se e escreveu-se nas sinagogas um hebreu diverso do manchado e gasto pela boca dos askenazim: o velho e aristocrático hebreu guardado em toda sua pureza pelos rabinos de barba preta e olhos tristes que a Congregação de Amsterdam mandara para Pernambuco. 5

Mas se a atitude dos portugueses era tolerante para com a união entre brancos, índios e negros, o mesmo não se pode dizer das autoridades holandesas que, a todo custo, procuravam impedir o contato sexual de brancos, “considerada como tal a descendência holandesa e a norte-européia em geral”, com toda população de cor; segundo informa José Antônio Gonsalves de Mello:

Parece-nos que aí está um dos aspectos menos fraternos entre as classes dos dominadores e dominados. Os que ainda hoje lamentam, no Brasil, a expulsão dos holandeses do Nordeste talvez não tenham reparado convenientemente para esse aspecto. As antigas colônias portuguesas eram bem uma mostra do que teríamos que suportar dos flamengos: uma minoria de louros explorando e dominando um proletariado de gente de cor, ao contrário do que nos legaram os portugueses: uma terra de brancos confraternizando-se com negros e índios.6

Os portugueses, ao contrário, como bem observa Gilberto Freyre, in Casa-grande & Senzala, “enfrentaram inteligentemente o problema, transigindo na ordem civil e na própria ortodoxia católica”. Lembra o mesmo autor, citado por Gonsalves de Mello em artigo publicado no Diario de Pernambuco  de 12 de maio de 1988, que “o preconceito de raça entre os brasileiros foi sempre, e continua a ser, mínimo quando comparado com as formas que se apresentam entre povos europeus e da América do Norte”.
 
O acidente da cor,  como designavam  os portugueses as pessoas não brancas, não era motivo bastante para a discriminação de qualquer espécie. Opina José Antônio Gonsalves de Mello, no artigo com o mesmo título, citado anteriormente, que a Coroa Portuguesa, quando provocada, sempre se manifestou contrária a qualquer comportamento discriminatório para com os de raça negra ou mestiços, relacionando para isso uma série de fatos comprobatórios.
 
Assim aconteceu com “os moços pardos da Bahia” que, segundo o padre Serafim Leite, depois de lhes serem negada matrícula no colégio dos jesuítas de Salvador, em 1688, recorreram para o Rei e este, depois de advertir o provincial da Companhia de Jesus na Bahia, determinou a matrícula dos reclamantes, a exemplo do que já acontecia nas escolas de Coimbra e Évora.
 
No mesmo sentido o Rei de Portugal determinou, em carta datada de 7 de outubro de 1700 dirigida à Câmara Municipal de Olinda, que a  Ordem de São Bento e  mais tarde os padres Terésios, bem como outras ordens religiosas sediadas em Pernambuco, recebessem os mestiços, filhos dos moradores da terra, em seus conventos.
 
No âmbito dos franciscanos há o exemplo, comovente, daquele antigo soldado do Terço de Henrique Dias que, após a vitória sobre as tropas holandesas, resolveu recolher-se ao convento de Nossa Senhora das Neves de Olinda. Conta frei Jaboatão, em seu Novo Orbe Seráfico Brasílico  (Rio: IHGB, 1858), que “depois de muitos anos no convento, vendo que não o admitiam ao sacerdócio, a que tanto aspirava, viajou  a Lisboa a queixar-se ao rei de Portugal, D. Pedro II, conhecido como um amante inveterado de mulheres “da mais baixa condição e em grande número de diferentes cores”,  o qual atendendo às boas informações que teve do reclamante, ordenou que o admitissem à profissão, o que finalmente se fez no seu convento olindense a 2 de agosto de 1689, “quando já contava com 80 anos de idade”, vindo a falecer “com opinião universal de virtude e fama de santidade a 25 de agosto de 1695”.

Exemplo significativo de preconceito racial de um governador de Pernambuco é o de Duarte Sodré Pereira, que se recusou dar posse no cargo de procurador da Coroa ao bacharel formado em Coimbra Antônio Ferreira de Castro, pelo fato de ser mulato. O rei em carta de 9 de maio de 1731 repreendeu o governador “tendo entendido que se não tivestes  justa  razão, porquanto o defeito que dizeis haver no dito provido, por ser pardo, lhe não obsta para esse ministério.

No meio militar há dois casos dignos de serem referidos. O primeiro é o do soldado do regimento dos Henriques do Recife, Manuel Pereira de Melo, “homem preto e livre”. Em memorial ao rei em 1700, queixou-se de que servia na tropa há 27 anos, sempre como soldado, tendo participado das lutas contra indígenas rebelados, mas ao longo desse tempo nunca tinha tido uma promoção e pedia que lhe fosse dado um posto de capitão no seu regimento.  O rei ordenou que o governador de Pernambuco o provesse em uma das patentes vagas, que ele pudesse preencher a contento. O outro caso é o relativo ao Mestre de Campo do regimento dos Henriques, Domingos Rodrigues Carneiro. Escreveu ele ao rei, em 1702, que os soldados brancos de guarda nos quartéis, quando ele passava por tais lugares, não lhe faziam a cortesia de pegar em armas, como deviam por sua patente militar, isto é, deixavam de fazer a saudação que era devida. A determinação régia foi que “os soldados que servirem de sentinela no corpo de guarda tomem as armas do Mestre de Campo Domingos Rodrigues Carneiro, por esse estilo praticado, segundo as regras militares.8

Quando das guerras contra a Holanda, no século XVII, o acidente da cor  não veio impedir que o mulato João Fernandes Vieira, o índio Antônio Felipe Camarão e o negro Henrique Dias recebessem, em épocas distintas, a comenda do Hábito da Ordem de Cristo, a mais cobiçada honraria outorgada pela coroa portuguesa aos seus fidalgos.

3. CIDADÃO BRASILEIRO

E dentro da permissividade que marcou a nossa sociedade colonial surgiram vários tipos de raças cruzadas:  mestiços de branco com índio, o caboclo ou mameluco; e o nosso mestiço por excelência, o mulato, para quem Gilberto Freyre dedica os capítulos finais do seu Sobrados e mucambos. Surge ele do  cruzamento de branco com negro, ou, como ensina George Marcgravi, “natus ex patre europeo et matre ethiopissa dicitur mulato” 9
 
O século XIX, chamado por muitos de “o século das luzes”, veio transformar radicalmente o panorama humano das cidades brasileiras. Transformação não somente no âmbito das novidades aqui chegadas após “a abertura dos portos a todas as nações amigas”, a partir de 1808, mas sobretudo no âmbito das idéias, com a proliferação dos doutores e bacharéis formados, inicialmente,  por Coimbra, Montpellier, Paris, Inglaterra e Alemanha, e posteriormente pelos cursos de direito do Recife e São Paulo, medicina da Bahia e Escola Politécnica do Rio de Janeiro. Foram eles os indutores das novas idéias liberais, postas em prática em 1817 e 1824 em Pernambuco, que vieram despertar a consciência nacional para o valor do mestiço nacional e emancipação do elemento escravo, bem como da sua importância na formação do produto nacional bruto.
 
Gilberto Freyre, em Sobrados e mucambos, chama a atenção para os versos de Alvarenga Peixoto, inconfidente nascido em c  de 1744 e falecido em Angola em 1793, que, já no século XVIII, faz exaltação em forma poética ao trabalho manual e, conseqüentemente, ao mestiço operário:

[…] homens de vários acidentes
pardos, pretos, tintos e tostados.
[…] os fortes braços feitos ao trabalho.10

No âmbito da população, as figuras do mameluco  e do mulato  vieram conquistar posições de relevância, principalmente quando se tornavam detentores de um título de doutor ou bacharel, ou ainda de uma patente do nosso exército; segundo bem observa Gilberto Freyre:

Às vezes eram rapazes de burguesia mais nova das cidades que se bacharelavam na Europa. Filhos e netos de “mascates”. Valorizados pela educação européia, voltavam socialmente iguais aos filhos das mais velhas e poderosas famílias de senhores de terra. Do mesmo modo que iguais a estes, muitas vezes seus superiores pela melhor assimilação de valores europeus e pelo encanto particular, aos olhos do outro sexo, que o híbrido, quando eugênico, parece possuir como nenhum indivíduo de raça pura, voltavam os mestiços ou os mulatos claros. Alguns deles filhos ilegítimos de grandes senhores brancos; e com a mão pequena, o pé bonito, às vezes os lábios  ou o nariz, dos pais fidalgos.

A ascensão do bacharel mestiço se fez rapidamente na sociedade brasileira, particularmente após 1827 com a criação dos cursos jurídicos de Olinda e São Paulo. Através do casamento com mulheres de famílias ricas e poderosas, vários deles ascenderam aos mais altos escalões do Império, como o nosso João Alfredo Correia de Oliveira, segundo Gilberto Freyre, um descendente  “de linda e agreste ameríndia que, na meninice, ganhara o apelido de Maria Salta Riacho. Apenas o neto da índia agreste tornou-se Ministro do Império aos vinte e tantos anos” 11
 
O mestiço de negros, por sua vez, foi mais prolífero , em que pese o “preconceito de branquidade, de sangue limpo”, retratados de forma humana pelo maranhense Aluísio de Azevedo (1857-1913) no seu romance O Mulato(1881), tornando-se mais presente na sociedade do século XIX. Nomes como José da Natividade Saldanha, Antônio Pedro de Figueiredo, Antônio Gonçalves Dias, Antônio de Castro Alves, André Rebouças, Tobias Barreto e centenas de outros servem de exemplo da influência do mulato na sociedade brasileira do século XIX.
 
O acidente da cor, do período colonial, foi cedendo lugar ao conceito de branquidade em razão do cargo,  lembrando Gilberto Freyre, a propósito de um fato narrado pelo inglês radicado em Pernambuco, Henry Koster, autor do livro Travels in Brazil,  publicado em Londres (1816), e traduzido para o português por Luiz da Câmara Cascudo, Viagens ao Nordeste do Brasil  (1941):

O título de Capitão-Mor arianizava os próprios mulatos escuros – poder mágico que não chegaram a ter tão grande as cartas de bacharel transformadas em cartas de branquidade; nem mesmo as coroas de visconde e de barão que Sua Majestade o Imperador colocaria sobre cabeças nem sempre revestidas  de macio cabelo louro ou mesmo castanho. Sobre cabeças cujas origens foram às vezes mais que plebéias. De um desses nobres chegou-se a dizer que nascera de mulher de cor, alcunhada – já o recordamos – Maria-você-me-mata, pela ardência em que, nos seus dias de moça, fizera os homens seus amantes se extremarem no gozo do sexo.12

Observava Henry Koster, a propósito da condição do mulato na sociedade de então, que se os papéis de um desses indivíduos o tiver como branco, “embora o seu todo demonstre plenamente o contrário”, ele pode ser nomeado para as ordens religiosas ou para a magistratura:

Conversando numa ocasião com um homem de cor que estava ao meu serviço, perguntei-lhe se certo Capitão-Mor era mulato. Respondeu-me: Era, porém já não é!   E como lhe pedisse explicação, concluiu: – Pois Senhor, um Capitão-Mor  pode ser Mulato?  13

Nos dias atuais, o acidente da cor,  como era denominado no período colonial, em nada interfere na pirâmide social. O mestiço é, como previra Joaquim Nabuco em 1883, não um afro-brasileiro, um colored como se diria nos Estados Unidos, mas um cidadão brasileiro.

_________________

Notas:

1 NABUCO, Joaquim. O Abolicionismo. Londres: Typographia de Abraham Kingdom, 1883.

2 RIBEIRO, Darcy. Entrevista à Rede Globo de Televisão, Globo Repórter do dia 8 de novembro de 1996.

3 FREYRE, Gilberto. Um brasileiro em terras portuguesas. Rio: José Olympio Editora, 1953. p. 26-29.

4 MELLO, José Antônio Gonsalves de. Tempo dos Flamengos – Influência da ocupação holandesa na vida e na cultura do norte do Brasil. Recife: FUNDAJ – Editora Massangana, 1987. p. 141-43.

5 FREYRE, Gilberto. Sobrados e Mucambos – Decadência do patriarcado rural e desenvolvimento urbano. Rio: José Olímpio Editora, 1981. p. 320.

6 MELLO, José Antônio Gonsalves de. op. cit. p. 190-91

7 MELLO, José Antônio Gonsalves de. “O acidente da cor”, Diario de Pernambuco. Recife: 12 de maio de 1988.

8 MARGRAVI, Georgi e PISO, Willem. Historiae rerum naturalium Brasilia etc. Amsterdam: Elzevirium, 1648.

9 ALVARENGA Peixoto. “Canto Genetlíaco” Obras poéticas de Inácio José de Alvarenga Peixoto. Rio de Janeiro, 1865.

10 FREYRE, Gilberto. op. cit. p.  574.

11 FREYRE, Gilberto . op. cit. p. 584.

12 FREYRE, Gilberto. op. cit. p. 587.

13 KOSTER, Henry. Viagens ao Nordeste do Brasil. Prefácio e tradução de Luiz da Câmara Cascudo. Recife: SEC, Departamento de Cultura, 1978. p 377 (Coleção pernambucana; 1 ª fase, v. 19).


Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas quarta, 16 de agosto de 2017

DUZINDA: O BRIO DO BRASILEIRO POBRE DE OUTRORA

DUZINDA: O BRIO DO BRASILEIRO POBRE DE OUTRORA

(Publicada no dia 22.09.2014)

Raimundo Floriano

 

 

                        Leitor compulsivo que sou, ultimamente tenho procurado conhecer trabalhos de autores contemporâneos, preferencialmente moradores no Distrito Federal e Entôrno – com acento, para não pensarem que estou derramando o Distrito –, pessoas facilmente encontráveis em shoppings, salas de espera, feiras, pontos de ônibus, restaurantes, enfim, aonde quer que se vá. Gente da gente!

 

                        Isso me é deveras facilitado pela Thesaurus, minha editora, cujas prateleiras concentram mais de noventa por cento da produção literária brasiliense e adjacente.

 

                        Quando o trabalho não me agrada, calo-me. Se gosto, dou um jeito de entrar em contado com o autor e expressar-lhe minha aprovação. No caso de embevecer-me por demais, não me contenho e faço tudo para apregoar isso aos os quatro cantos, como é o caso deste em evidência.

 

                        Vocês sabem qual é o melhor chá para o careca? É o chapéu! Para o veado? A chapada! Para a lavadeira? O chafariz! Para o fumante, charuto! Para o inglês, a chávena! Para o gaúcho? A chaleira! Para o caipira? A chácara! Para o ginecófago? A chavasca! Para o gatuno? A chave! Para o estudante? A chamada! Para o meliante? A chapuletada! Para a boazuda? O chanel! Para o fogueteiro? O chabu! Para o showman? A chacrete! Para o terrorista? A chacina! Para o gozador, a chacota! Para o barqueiro? A chalana! Para o hóspede? O chalé! Para a mulher? O chamego! Para o açougueiro? O charque! Para o enigmático? A charada! Para o antipático? A chatura! Para o escritor? O chá de cadeira na sala de espera das editoras!

 

                        E foi num desses chás que tive minha atenção voltada para a capa deste livro, exposto nas prateleiras da Thesaurus, pela fisionomia sofrida ostentada pela Duzinda, seu personagem-título. Imediatamente, dirigi-me ao setor competente e comprei um exemplar começando a leitura ali mesmo na espera. O que me foi muito gratificante, compensador.

 

                        Ele me fez relembrar o caráter da população pobre brasileira de um passado que vivi, quando os nordestinos desapercebidos, ao receberem donativos dos sulistas ou do governo, o faziam com acara no chão, morrendo de vexame, embora agradecidos pelo socorro. O brio de meus conterrâneos daquele tempo foi bem retratado por Luiz Gonzaga, o Rei do Baião, ao declarar, em Vozes da Seca “Mas doutô uma esmola a um homem qui é são/Ou lhe mata de vergonha ou vicia o cidadão”.

 

                        A população de Duzinda é toda constituída de pessoas carentes, sofridas, algumas famélicas, porém sem jamais pensar em entrar na mendicância ou se valer das benesses governamentais, que viciam, fazem o homem perder a vergonha, nessa compra de votos em que se transformaram as inúmeras bolsas ora distribuídas aos desvalidos deste país, sem que vislumbrem um mínimo de dignidade.

 

                        Duzinda, já na terceira edição, recebeu versões em Espanhol e Inglês, além de um lançamento em audiolivro, este contido em CD.

 

                        Suas contracapa e orelhas dizem muito de seu conteúdo e um tanto de sua autora:

 

 

                        A seguir, correspondência enviada à Clotilde Chaparro, com minha apreciação sobre seu livro, que recomendo a todos vocês.

 

                        Doutora Clotilde,

 

                        Peguei seu livro na Thesaurus. Sempre que dou as caras por lá, faço uma garimpada nos títulos de escritores de Brasília, eis que aspirante a plumitivo candango sou, além de viciado no mais gratificante prazer existente no Planeta Terra: a leitura.

 

                        Duzinda foi uma boa novidade. Chegando a seu final, ficou-me a vontade de conhecer outros textos da autora, motivo pelo qual a você me dirijo.

 

                        Eu gostara de, em algum dia no futuro, escrever assim, simples, sem circunlóquios, direto ao ponto, narrando o cotidiano de pessoas comuns, com tramas que fazem parte de nosso dia a dia, sem surpresas, tudo plausível, com final feliz para poucos, como na vida real.

 

                        Os personagens compõem que o universo de Duzinda, a maioria gente trabalhadora, seriam, hoje, fatalmente, clientela dependente do Bolsa-Família, acomodados com a esmola, jamais saindo dali um Vitório que, por seus méritos, progrediu na vida. Sucesso, na atualidade, é ofensa pessoal.

 

                        Em regimes onde a população se acostumou a depender das espórtulas dos governantes, como o de Cuba, só há duas espécies de indivíduos, tal qual bem ressaltou a revisa Veja, há duas semanas: os dirigentes e os indigentes.

 

                        É nisso que querem transformar o Brasil, desvirtuando o caráter da gente trabalhadora brasileira, como era, naqueles Anos 1930, a maioria do povo humilde do bairro do Tatuapé.

 

                        Iolanda era uma mulher instigante. Visualizei nela a figura da cantora Emilinha Borba, um de meus ídolos de MPB, que sempre usou uma pinta na bochecha, ora à esquerda, ora à direita, conforme lhe desse na veneta.

 

                        Não vou mais tomar seu tempo. Dou-lhe parabéns pelo excelente livro e digo-lhe que quero mais.

 

                        Atenciosamente,

 

                        Raimundo Floriano

                        Brasília - DF

 P. S. - Em meu último livro, tal qual farei nos próximos, fiz questão de apor este recorte na folha de rosto, num alerta àqueles que só veem em nosso trabalho motivos para a crítica negativa:

 

 

 

 


Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas terça, 15 de agosto de 2017

MEU FILHO GANHOU UM CACHORRO. E AGORA?

MEU FILHO GANHOU UM CACHORRO. E AGORA?

(Publicada no dia 18.08.2014)

Raimundo Floriano

 

 

                        Sou leitor compulsivo. No ano de 2013, devorei 95 peças. Neste 2014, mesmo com o pé no freio, já estou na quadragésima primeira!

 

                        Ultimamente, tenho procurado conhecer trabalhos de autores contemporâneos, preferencialmente moradores no Distrito Federal e Entôrno – com acento, para não pensarem que estou derramando o Distrito –, pessoas facilmente encontráveis em shoppings, salas de espera, feiras, pontos de ônibus, restaurantes, enfim, aonde quer que se vá. Gente da gente!

 

                        Isso me é deveras facilitado pela Thesaurus, minha editora, cujas prateleiras concentram mais de noventa por cento da produção literária brasiliense e adjacente.

 

                        Quando o trabalho não me agrada, calo-me. Se gosto, dou um jeito de entrar em contado com o autor e expressar-lhe minha aprovação. No caso de embevecer-me por demais, não me contenho e faço tudo para apregoar isso aos os quatro cantos, como é o caso deste em evidência, a cujo lançamento compareci, acompanhado da Veroni, minha mulher.

 

 Raimundo, Cristina e Veroni                       

                        Para não derrapar na digitação, aqui exibo a contracapa e as duas orelhas:

 

 

 

 

                        Satisfazendo o desejo do compartilhamento de minha satisfação com todos vocês, nada melhor do que me valer desta excepcional vitrine, o Jornal da Besta Fubana, maior movimento cultural brasileiro na atualidade, o que agora farei, tal qual meus fieis leitores, neste frio inverno, verão.

 

                        Em seu primeiro livro, Cristina Umpierre já vem arrebentando! Direta ao ponto, sem rebuscamento nem introspecção, dá o recado, diverte e instrui. Livre de consulta a dicionário, 103 páginas, li-o de uma lapada só. Além de ver nele qualidade no conteúdo, admirei sua correção gramatical. Num ponto, até temos algo em comum: evitar o uso de artigo definido antes de possessivos, a não ser para dar clareza ao enunciado.

 

                        Escrever é uma coceira. Quando começamos, não mais podemos parar. Em 2003, aos 67 de idade, lancei meu primeiro livro. Desde então, tomei gosto pela coisa e já estou no sexto, em fase de acabamento lá na Thesaurus. Mire-se Cristina em mim e mande brasa!

 

                        Porque ela tem talento, imaginação, bom humor, tudo, enfim, para conquistar o sucesso no mundo das letras.

 

                        Quando falo que seu livro instrui, refiro-me a meu caso pessoal, que passei, após sua leitura, a respeitar os cachorros e compreender seus donos. Pelo menos, tenho esse propósito, haja vista que, até agora, tinha – não sei se acabou mesmo – verdadeiro pavor de cachorro. Mais do que de alma do outro mundo ou de cobra cascavel. Quando chego à residência de alguém que o possui, vou logo cantando este refrão da axé-music: Segure o cão, amarre o cão, segure o cão, cão, cão, cão, cão!

 

                        Isso porque, aos 13 anos, fui mordido de cachorro, motivo que me fez proibir a entrada deles aqui em casa. Felizmente, minhas filhas nunca o desejaram. Doravante, com esse novo aprendizado, serei tolerante para com algum neto que, porventura, chegue aqui do colégio premiado com um exemplar.

 

                        Minha caçula, bióloga, possui uma tartaruga. Há dez anos, quando a ganhou, o bicho não passava de um palmo. Hoje, deve medir palmo e meio. Gosta de dormir enrolada nos fios do computador e periféricos, fazendo-nos supor que adora levar choque. É um tartarugo, macho. Durante o dia, fica na cozinha, apoiado no pé da empregada, se relando, denotando nisso algum apelo sexual. Esse tartarugo é uma compensação, uma transigência, em vista de meu veto a gatos, cachorros e assemelhados.

 

                        Curiosidade: por que é que os cachorros só andam de boca aberta? Não acho quem me explique esse fenômeno. A dupla Alvarenga e Ranchinho dizia que é para equilibrar o rabo. Sei não!

 

                        Para outras dúvidas, já consegui explicação nestes meus 78 anos de labuta. Por que é que o cachorro entra na igreja? Porque acha a porta aberta! Por que o cachorro sai da igreja? Porque entrou! Por que o cachorro corre atrás de automóveis e até de trens de ferro? Porque sua visão minimiza tudo o que enxerga, transformando o avistado numa escala menor que seu próprio tamanho! Assim falou Chico Fogió, meu Assessor em Assuntos Piauizeiros!

 

                        A autora refere-se à famosa “cheirada”! Isso não poderia faltar! É fenômeno internacional e até interplanetário. Não há cachorro no mundo, de qualquer raça, que, ao encontrar-se com outro, não lhe dê uma cheirada “naquele lugar”, e vice-versa. Conheço duas explicações.

 

                        A primeira: houve uma festa no céu para todos os cachorros do mundo. Na entrada, São Pedro, temendo a bagunça, determinou que eles retirassem os fiofós e os deixassem depositados na Portaria, para pegá-los ao término da função. Aconteceu que, de repente, surgiu uma briga entre a cachorrada, e todos debandaram em disparada, afobados, pegando qualquer fiofó na saída. Passado o susto, cada qual está até hoje conferindo para saber se o companheiro recém-avistado é o portador de sua peça anatômica trocada na festa.

 

                        A segunda: no tempo em que se amarrava cachorro com linguiça, houve uma desgraceira. Algum deles, às escondidas, comeu um dos laços linguiçais, de forma que, à noite, na hora da amarração, deu-se por falta da peça devorada pelo ladrão. Para descobrir o infrator e puni-lo, o Rei dos Cachorros determinou que todos os súditos cheirassem mutuamente o sub-rabo, costume que se mantém até hoje. E nada de identificar o guloso meliante!

 

                        Por que o cachorro, ao fazer xixi, levanta a perna? Porque, no início do Mundo, um cachorro foi mijar numa parede, que caiu por cima dele. Por precaução, eles agora seguram o apoio, antes da micção, seja parede, árvore, poste, carro, etc.

 

                        Na metade do livro, a autora narra a frustrada tentativa de acasalamento do vira-lata Bigu, herói da história, com uma cadela de sua laia, pertencente a um vizinho, a qual o rejeitou. Fiquei com peninha dele nesse malfadado lance, que só malogrou devido à fêmea não se encontrar no período propício à luxúria. Porque cachorra no cio dá até para bicicleta, velocípede e cano do tanque de lavar roupas.

 

                        No livro A Pedra do Reino, de Ariano Suassuna, há um episódio muito engraçado, faceto, hilariante, envolvendo um cachorro supostamente no cio. Vinha a mãe da Secretaria do Corregedor caminhando calmamente pela rua, quando foi assediada voluptuosamente por um cachorrão, que a enlaçou pela cintura, segurando-a com firmeza, e transou com suas pernas. No dizer popular, botou-lhe nas coxas!

 

                        Que a escritora Cristina Umpierre, assim como vocês, meus leitores, me desculpem o atrevimento e as saliências brincalhonas. O que eu quero dizer mesmo é que seu livro é Nota Dez, gostei muito dele, pois lúdico, inteligente, didático e educativo, merecendo a adoção nas escolas infantojuvenis, para a formação cívica de nossos estudantes.

 

                        À autora, meus parabéns! Que prossiga em sua trilha criativa, o que só engrandecerá a Literatura Brasileira! 

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Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas domingo, 13 de agosto de 2017

É SEM PRE O PAPAI

É SEMPRE O PAPAI

(Publicada em 09.08.2009)

Raimundo Floriano

 

Miguel Gustavo: jornalista, compositor e humorista

 

                        O Dia dos Pais foi criado nos Estados Unidos em 1909, por Sonora Louise Smart Dood, filha do veterano da Guerra Civil John Bruce Dood, para homenageá-lo. O Primeiro Dia dos Pais americano foi comemorado a 19 de junho de 1910. A data tornou-se festa nacional e foi oficializada pelo Presidente Richard Nixon em 1972. Atualmente, é comemorada por lá no terceiro domingo de julho.

                        No Brasil, a mania de macaquear tudo que é americano demorou um pouco, mas, em 1953, finalmente chegou!

                        Naquele ano, o publicitário Sylvio Bhering, deduzindo que, a exemplo Dia das Mães, a data se constituiria num bom apelo para o comércio faturar, teve a idéia de instituir o Dia dos Pais, escolhendo o 14 de agosto, uma sexta-feira, para a primeira comemoração, pois recaía no dia, àquela época, consagrado a São Joaquim, Patriarca da Família Sagrada, sendo pai de Maria, mãe de Jesus.

                        Atendendo aos interesses comerciais – sempre eles!  – a data foi definitivamente fixada para comemoração no segundo domingo de agosto, por ser mais propícia às compras no final da semana.

                        Tão logo foi anunciada a efeméride no Brasil, o jornalista, compositor e humorista Miguel Gustavo – o mesmo que se consagraria, em 1970, com a marcha Pra Frente, Brasil! –lançou na praça uma música de sua autoria, denominada É Sempre o Papai, que, imediatamente, fez notável sucesso e marcou o primeiro Dia dos Pais brasileiro, gravada por três grandes artistas do momento: Marlene e Zezé Gonzaga, em ritmo de baião, e Jorge Veiga, em ritmo de samba.

 

Jorge Veiga

 

                        E é com Jorge Veiga que vamos ouvir, neste youtube:

 

 

 

 


Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas sábado, 12 de agosto de 2017

O VELHO DO RESTELO

O VELHO DO RESTELO

(Publicada no dia 15.09.2014)

Raimundo Floriano

 

                        Leitor compulsivo que sou, ultimamente tenho procurado conhecer trabalhos de autores contemporâneos, preferencialmente moradores no Distrito Federal e Entôrno – com acento, para não pensarem que estou derramando o Distrito –, pessoas facilmente encontráveis em shoppings, salas de espera, feiras, pontos de ônibus, restaurantes, enfim, aonde quer que se vá. Gente da gente!

 

                        Isso me é deveras facilitado pela Thesaurus, minha editora, cujas prateleiras concentram mais de noventa por cento da produção literária brasiliense e adjacente.

 

                        Quando o produto não me agrada, calo-me. Se gosto, dou um jeito de entrar em contado com o autor e expressar-lhe minha aprovação. No caso de embevecer-me por demais, não me contenho e faço tudo para apregoar isso aos os quatro cantos, como é o caso deste em evidência.

 

                        Vocês sabem qual é o melhor chá para o careca? É o chapéu! Para o veado? A chapada! Para a lavadeira? O chafariz! Para o fumante? O charuto! Para o inglês, a chávena! Para o gaúcho? A chaleira! Para o caipira? A chácara! Para o ginecófago? A chavasca! Para o gatuno? A chave! Para o estudante? A chamada! Para o meliante? A chapuletada! Para a boazuda? O chanel! Para o fogueteiro? O chabu! Para o showman? A chacrete! Para o terrorista? A chacina! Para o gozador? A chacota! Para o barqueiro? A chalana! Para o turista? O chalé! Para o namorado? O chamego! Para o açougueiro? O charque! Para o decifrador? A charada! Para o antipático? A chatura! Para o escritor? O chá de cadeira na sala de espera das editoras!

 

                        E foi num desses chás que tive minha atenção voltada para a capa deste livro, exposto nas prateleiras da Thesaurus, apenas pela beleza de sua capa. Lendo a contracapa e as orelhas, interessei-me sobremaneira em conhecer o inteiro teor, razão pela qual me dirigi ao setor competente e comprei um exemplar, dando continuidade à leitura ali mesmo na espera.

 

                        Aficionado pelas águas, pelos oceanos, pelos rios, por tudo que diz respeito à navegação, mergulhei de ponta-cabeça, indo cada vez mais fundo. Em dois dias, cheguei à última página, num total de 182, completamente fascinado pela história de Camões.

 

                        Quem imagina esse grande poeta como intelectual sentado numa mesa e escrevendo sua obra-prima, a mãe da Língua Portuguesa, nem de leve supõe como sua vida foi agitada, recheada de trepidantes episódios. Vejamos um resumo desse arriscoso viver.

 

                        Aos 23 anos, alistou-se como soldado e foi mandado para Ceuta, no Marrocos, onde perdeu o olho direito num combate. De volta a Lisboa, foi preso, por ferir a espada um servidor do Rei. Perdoado, partiu para a Índia, onde participou de várias expedições militares. Viajou para a China, para exercer um cargo administrativo em Macau. Retornando à Índia, naufragou na foz do Rio Mekong, conseguindo salvar-se a nado, com parte dos manuscritos de Os Lusíadas. Após algum tempo de ostracismo, foi encontrado em Moçambique pelo historiados Diogo do Couto, que assim o descreveu: “tão pobre, que comia de amigos.” Regressando a Portugal, teve publicado Os Lusíadas, em 1572, por concessão do Rei Dom Sebastião, a quem dedicou o livro.

 

                        A Espada de Camões é toda essa saga romanceada, com belas mulheres, partícipes de lances amorosos dignos das mais picantes e imaginosas novelas. A contracapa e as orelhas da obra dizem um pouco de seu conteúdo.

Contracapa do livro 

Orelhas do livro

 

                        Terminada a leitura, em me encontrava tão fascinado pelo universo camoniano, que não contive o ímpeto de reler Os Lusíadas, agora com outra visão, bem diferente fase de análise lógica – hoje sintática – de meus tempos de colegial.

 

                        Ao saber disso, o português Victor Alegria, dono da Thesaurus, pôs-me em contato telefônico com Jarbas Junior, seu autor, a quem expressei meu desvalido aplauso, merecendo dele emocionados agradecimentos.

 

                        O livro narra, basicamente, a vitoriosa jornada de Vasco da Gama, que chefiou uma esquadra portuguesa na primeira viagem marítima da Europa para Índia. As quatro naus, denominadas São Gabriel, comandada por Vasco da Gama; São Rafael, sob o comando de Paulo da Gama, irmão de Vasco; São Miguel, tendo como capitão Gonçalo Nunes; e Bérrio, comandada por Nicolau Coelho, partiram da Praia do Restelo, em 8 de julho de 1497, dobraram o Cabo da Boa Esperança, no extremo sul da África – façanha já realizada dez anos antes por Bartolomeu Dias –, em expedição que durou dois anos, chegaram até Calicute, na Índia, onde foram estabelecidas relações comerciais com a Coroa Portuguesa, e retornaram à Foz do Rio Tejo sem perder sequer uma embarcação.

 

                        O ridículo dessa aventura é o que aconteceu bem no início, quando os homens embarcavam, fato que ficou para sempre conhecido como O Velho do Restelo, ficando esse personagem estigmatizado como o Arauto da Catástrofe!

 

                        A população de Lisboa comparecera em peso à Praia do Restelo para assistir à partida da esquadra, com a saudade e a tristeza estampadas em cada semblante. Os marinheiros caminhavam para o embarque acompanhados por uma procissão solene de religiosos. Mulheres choravam pelos maridos, pais choravam pelos filhos, enfim, todos temiam pela sorte dos entes queridos envolvidos na perigosa aventura. Tal como hoje acontece com os astronautas tripulando foguetes enviados ao espaço sideral.

 

                        Movido pela ira, quiçá inveja, um velho que estava na praia entre a multidão, meneou a cabeça três vezes e começou a falar, levantando a voz de tal forma a ser ouvidos pelos que estavam na faina das naus.

 

                        Maldizia a glória de mandar, a vã cobiça da vaidade chamada fama, o engano estimulado pelo que se conhece como honra. E falava em castigos, mortes, tormentas, perigos, desastres, crueldade, pecado, ferocidade, guerras com os mouros e acenando com o eterno castigo do Inferno. Vide, hoje, a Presidenta e o Senador Candidato apavorados diante da meteórica ascensão da Boia-Fria nas pesquisas eleitorais.

 

                        Era, na linguagem do povão, um autêntico boca de azar!

 

                        Enquanto o velho vociferava suas blasfêmias, os navegantes abriram as velas ao vento tranquilo e partiram rumo ao que seria mais um memorável feito da Pátria Lusitana!

 

 

 


Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas sexta, 11 de agosto de 2017

A ECT E EU: ENTRE BEIJOS E TAPAS

A ECT E EU: ENTRE BEIJOS E TAPAS

(Publicada no dia 01.09.2014)

Raimundo Floriano

 

Homenagem à FEB e ao 5º Exército Americano

 

                        Meu relacionamento com o DCT - Departamento de Correios e Telégrafos, depois renomeado ECT - Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos, começou em 1945, quando eu tinha 9 anos, ao dar início a minha coleção de selos, a partir dos que se veem acima, que quase todo menino brasileiro possuía, vez que refletiam o sentimento patriótico que vivíamos, com nossos pracinhas lutando na Europa durante a Segunda Guerra Mundial.

 

                        Decorridos quase 70 anos, parece-me que sou o único, dentre os conhecidos de meu tempo, a continuar com essa diversão, trazendo minha coleção de selos comemorativos brasileiros atualizada semestralmente, cujo acervo contabiliza desde o primeiro, lançado no início de 1900, em homenagem ao 4º Centenário do Descobrimento do Brasil, até as emissões atuais.

 

                        No ano de 1974, essa coleção ganhou o Prêmio Olho de Boi, ao concorrer, sob a representação de meu sobrinho Luís Fernando da Costa e Silva, por se tratar de certame dirigido aos adolescentes. Aí estão imagens da medalha:

 

Frente e verso da Medalha do Prêmio Olho de Boi

 

                        Encerrada a exposição, partes dessa coleção, que mereceu o prêmio levando-se em conta sua apresentação, foram emprestadas à ECT que, durante 6 meses, a exibiu a filatelistas nos Estados Brasileiros e no Exterior.

 

                        Pela proximidade de onde moro, e pela facilidade de estacionamento, escolhi a Agência da 508 Sul para realizar as diversas operações envolvidas em lançamentos de livros, envio de convites e objetos diversos, e também a emissão de selos personalizados. Como estes:

 

  

                        De tanto andar por lá, fiz amizade com todos os funcionários, e, a pedido deles, compus um cordelzinho, Louvação à ECT da 508 Sul, publicado aqui no JBF, como correspondência, no dia 22.12.2012.

 

                        No ano passado, fui presenteado pela Dorinea, gerente da agência, com esta folha de selos, comemorativa dos 350 Anos da ECT:

  

                        Chamou-me a atenção, dentre todos, este selo, por referir-se a um Centro de Serviço Pneumático, do qual eu nunca ouvira falar, por isso não sabia do que se tratava:

  

                        A folha veio acompanhada de um edital bilíngue, com informações sobre o lançamento, mas sem descer a detalhes sobre cada selo:

 

                         Como bom filatelista, procurei tirar minha dúvida, primeiramente no Google, onde nada encontrei, e, depois, na própria ECT, a quem fiz uma consulta, recebendo esta resposta: 

“No dia 5 de outubro de 1910, com uma carta do Diretor dos Telégrafos, Francisco Sá, do Edifício dos Telégrafos, no antigo Paço Imperial, ao Presidente da República Nilo Peçanha, no Palácio do Catete, era inaugurado, extraoficialmente, no Rio de Janeiro, o Serviço Pneumático, a cargo da Repartição-Geral dos Telégrafos. O sistema consistia de máquinas compressoras de ar e câmaras de vácuo, impulsionando ou sugando a correspondência, 20 a 30 cartas de cada vez, colocadas dentro de cursores – “balas” ou êmbolos em forma de projéteis, nos tubos de aço subterrâneos, de aproximadamente 70 mm de diâmetro, em velocidade de até 50 km/h, da origem ao destino.

 

“Criado pela Portaria nº 1.386, de 10 de novembro 1910, o nosso correio pneumático passou a fazer remessa expressa de cartas padronizadas e telegramas urbanos entre várias estações postais telegráficas da antiga Capital Federal. A rede subterrânea de tubos pneumáticos expandiu-se rapidamente pelo subsolo do Centro do Rio de Janeiro, a partir da Estação-Tronco, na Av. Rio Branco, possibilitando a troca de correspondências pneumáticas por duas linhas de tubos, entre a Estação Central da Praça XV, o Banco do Brasil, todos os ministérios, a Estação da Estrada de Ferro Central do Brasil, e vários bairros, como o Catete, Botafogo e Andaraí. As estações ou agências para a postagem de cartas pneumáticas chegaram a ser as seguintes: Largo do Machado, Lapa, Praça XV, Av. Rio Branco, Correio Central, Estação D. Pedro II, Estácio de Sá e São Cristóvão.”

 

                        Essa gentil e minuciosa explicação, veio acompanha desta imagem, para que se tenha uma ideia visual do que era o Serviço Pneumático:

  

                        Isso funcionou muito a contento no Brasil durante algum tempo, até que a tecnologia bolasse outros métodos mais eficientes e modernos. Mas reparem bem, se fosse num país recém-criado, um tal de Banânia, até os tubos seriam surrupiados, como, no passado, os índios faziam com os fios telegráficos.

 

                        Agora, que deixei bem claro minha relação amorosa com a ECT, vou, depois dessa assoprada amiga, dar minha mordida. Vinha cuidando dos beijos, passando, doravante, a falar dos tapas – de um, pelo menos.

 

                        A demora na entrega de correspondência pela ECT é motivo de críticas, às vezes injustas, outras merecidamente, o que faz a festa dos chargistas:

 

 

                        Desde que comecei a transacionar com a Agência da 508 Sul, calculo já ter postado ali, entre livros, convites, cartas e outros itens, mais de 10 mil objetos. Inteiramente satisfeito com os serviços prestados, é natural que, em algum momento, “de tanto o jarro ir à fonte”, acabe se quebrando. Foi o que ocorreu em 2010.

 

                        No dia 9 de agosto, enviei para meu sobrinho Cazuza Ribeiro, médico, o convite para o lançamento de meu livro De Balsas para o Mundo, conforme se vê no envelope carimbado abaixo. O consultório dele ficava na 716 Sul, quilômetro e meio da Quadra onde moro, a 215 Sul.

 

                        O tempo passou. Nem o Cazuza foi ao lançamento, pois dele não soube, nem o convite jamais chegou lá. Ficou zanzando por aí, dormiu em alguma gaveta e, em 2013, recebeu outra carimbada. Nova demora, e a informação “mudou-se”, esta sem data. Finalmente, no dia 21.02.2014, dois anos e seis meses depois de postada, a correspondência foi devolvida na portaria do Bloco onde resido.

 

                        

                        Preciso dizer mais?

 

                        É bonito isso?

 

ÚLTIMOS AFAGOS

 

                        O primeiro selo postal editado no mundo foi o Penny Black, na Inglaterra, em 1840. O Brasil foi o segundo país a editá-los, lançando, a 1º de agosto de 1843, o famoso Olho de Boi, com os valores de 30, 60 e 90 réis.

 

                        No dia 1º de agosto deste ano, em comemoração ao Dia do Selo Postal, uma equipe da TV Brasil, por indicação do Guichê Filatélico da ECT, compareceu aqui a meu apartamento, para fazer matéria sobre selos personalizados. O resultado é que vocês verão clicando neste link, ou colando-o em seu navegador:

http://tvbrasil.ebc.com.br/reporterbrasil/bloco/selo-personalizados-dao-toma-mais-pessoal-as-cartas 


Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas quinta, 10 de agosto de 2017

SUASSUNA, TEJO E O ORDÁLIO DAS MÃOS POSTAS

SUASSUNA, TEJO E O ORDÁLIO DAS MÃOS POSTAS

(Publicada no dia 11.08.2014)

Raimundo Floriano

 

                        Ordálio, como todos vocês tão cansos de saber, era prova judiciária sem combate, usada na Idade Média. No cenário nordestino, sertanejo, cordelista e armorial, constitui-se em debate de ideias entre atores envolvidos com a criação literária.

 

                        No começo da Década de 1980, eu pertencia a um grupinho em que os ordálios aconteciam diariamente, no Salão do Café da Câmara dos Deputados, antes do início do expediente matinal.

 

                        Havia Maurício Melo Junior, iniciando-se nas letras, que viria mais tarde a ser o escritor mais prolífero da Editora Bagaço, inclusive com o vigoroso Paranã-puca, e o Berço da Pátria; Celestino Alves, cordelista, com sua alentada denúncia O Nordeste e as Secas; Manoel Damasceno, jornalista, autor de O Jerimum de Chico Melão; Esmeraldo Braga, com Danação em Terra Quente; Orlando Tejo, parceiro de Esmeraldo Braga em A Hora e a Vez do Jumento, e Luiz Berto, contando com o recém-lançado A Prisão de São Benedito.

 

    

                        Éramos sete, todos nordestinos, todos dando os primeiros passos nessa coceira que é a arte de escrever, menos Orlando Tejo, Gigante de nossa Literatura, já consagrado em seu brilhante Zé Limeira, Poeta do Absurdo. Tejo era nosso guru, ali perto, ao vivo, extasiando-nos com suas histórias, seus versos, suas invenções, enquanto enchia ou pitava seu inseparável cachimbo. Eu pertencia ao grupo mais como ouvinte atento e extasiado, embora já contasse também com um folhetinho, normativo, lançado em 1977, Regras de Pontuação e Sinais de Revisão.

  

                        Respirávamos o realismo fantástico por todos os poros. Gabriel García Marquez acabara de ganhar, em 1982, o Nobel de Literatura, e esse galardão teve o mérito de trazer à baila duas obras-primas mundiais do gênero que se encontravam um tanto esquecidas: Cem Anos de Solidão, de Gabriel, e O Romance d’A Pedra do Reino de Ariano Suassuna. Altamente influenciado por esses dois monumentos, Luiz Berto que já contabilizava A Prisão de São Benedito, preparava os originais do que viria ser outra obra-prima nordestina e brasileira, O Romance da Besta Fubana.

  

                        Tejo era ouvido com respeito, e suas opiniões, acatadas sem restrições. Em certo dia, surgiu com uma novidade, dizendo haver encontrado um cochilo de Ariano em a Pedra do Reino. Era num episódio, à Página 44, em que o pai decepa o braço do filho, e a vítima, ajoelhada, bradava de mãos postas. Aí Tejo pegava no pé de Ariano, pois uma pessoa não poderia ter as mãos postas, se o braço fora decepado.

 

                        Até que, em evento literário em João Pessoa, esses dois gênios paraibanos, amigos fraternos, ícones da criatividade brasileira, foram personagens do ordálio esclarecedor dos fatos, que procurarei narrar da forma que me contaram.

 

 

                        Ariano abriu o livro na Página 31 e mostrou-lhe o texto adiante por mim escaneado.

  

                        Depois, explicou a Tejo que, assim como o subtítulo do livro era E o Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta, os episódios iam e voltavam, repetindo-se os já acontecidos nos futuros, com personagens diferentes. Ao escrever o lance evidenciado pelo Tejo, a redação original estava assim:

 

“Em seguida, José Vieira pega um filho de dez anos, coloca-o na Pedra dos Sacrifícios e decepa-lhe o braço do primeiro golpe. Na hora do sacrifício (grifo meu), a vítima, ajoelhando-se, bradava-lhe, de mãos postas...”

 

                        Prossegue Ariano:

 

                        – Um camarada meu ao ler os originais, chamou-me a atenção para esse trecho, no qual a palavra sacrifício tinha uma repetição muito próxima da primeira. Acatando-lhe a sugestão, e tendo em vista a anterioridade descrita na degolação à Página 31, cortei o eco “na hora do sacrifício”, e o resultado ficou como se vê à Página 44:

 

 

                        E continuou:

 

                        – Jamais pensei, Tejo, que algum leitor fosse ter dúvidas, até porque a fala do menino sacrificado, neste caso, dava a entender que acontecera antes do decepamento, em analepse, técnica literária que vocês hoje chamam de flashback.

 

                        Dizem que Tejo, convencido, mas cabreiro, não querendo dar o braço a torcer por completo, tentou esta saída honrosa:

 

                        – Mestre Ariano, depois dessa explicação, tenho de concordar plenamente, com você, mas uma coisa não ficou bem clara: qual foi “o” braço decepado, o direito ou o esquerdo?

 

                        Ao que Ariano respondeu:

 

                        – Sei não, Tejo! Só sei que foi assim!

 


Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas quarta, 09 de agosto de 2017

COPA 2014 - NUM FUI, MAS TAVA LÁ

COPA 2014: EU NUM FUI, MAS TAVA LÁ

(Publicada no dia 04.08.2014)

Raimundo Floriano

 

 

                        Ora, dirão vocês, como é que pode? Uma pessoa não ir e estar? Ao que respondo: para entender minha presença telepática, é necessário assimilar o sentido deste trava-língua sertanejo e os mistérios nele contidos:

 

Eu fui na casa de Tinga

Pensando que Tinga tava

Porém lá Tinga não tava

Mas sobrim de Tinga tava

E o sobrim de Tinga tando

É mesmo que Tinga tá

 

                        Perceberam? Nossos sobrinhos tando, é o mesmo que tá eu, é o mesmo que tá tu!

 

                        Isso tudo já exposto é para marcar minha presença na Copa das Copas. Para tanto, começo por mostrar-lhes matéria publicada na revista Encontro, distribuída como encarte pelo jornal Correio Brziliense no comecinho do mês de junho passado:

 

 

                        Vejamos a parte que me toca, na leitura da reportagem abaixo, que faço questão de postar com imagens, para não incorrer em erros de digitação:

 

Luís – com s, como foi batizado – Fernando e Ana Alice

 

                        Agora, tá na hora de eu entrar no esquema. Esses dois aí são filhos de minha saudosa irmã e madrinha Maria Isaura de Albuquerque e Silva e de Pedro da Costa e Silva, sendo Ana Alice nascida em Balsas e moradora em Brasília desde dezembro de 1958. A empresa A&C Eventos, em retribuição aos serviços não remunerados de revisão gramatical e ortográfica ali por mim prestados, e também levando em conta laços afetivos, promoveu, a custo zero, o lançamento de dois livros meus, Do Jumento ao Parlamento, em 27.08.3, no Salão Nobre da Câmara dos Deputados, e De Balsas para o Mundo, em 26.08.10, no Restaurante Carpe Diem, tudo aqui em Brasília.

 

                        Esses dois sobrinhos acham-se há muito tempo mais intimamente atrelados a nossos laços familiares: Luís Fernando é padrinho de batismo de minha primogênita Elba – na primeira foto a seguir, vemo-lo com outra cobrinha, digo sobrinha, Valéria, a madrinha, ante a pia batismal. Na segunda, Ana Alice, com minha caçula Mara, no dia em que a batizou. Os três, Luís Fernando, Valéria e Ana Alice são padrinhos de casamento da Elba, ou seja, compadres em dose dupla.

 

 

                        Convenceram-se, destarte, de minha presença na Copa das Copas? Não? Querem mais evidências? Então, lá vai tinta!

 

                        Maurício de Albuquerque e Silva é meu sobrinho, filho de meu irmão Bergonsil de Albuquerque e Silva e de nossa prima Izaura Maria de Sousa e Silva, residentes em Niterói. Bamba em eletrônica, informática e efeitos audiovisuais, Maurício é fervoroso botafoguense, curtidor das coisas boas da vida e verdadeiro golbetrotter quando o assunto é Copa do Mundo.

 

                        Pequena amostra disso foi na copa de 2006 na Alemanha, quando ele percorreu todo o país, assistindo a estas oito partidas: em Berlim, Brasil 1 x 0 Croácia; em Munique, Brasil 2 x 0 Austrália; em Dortmund, Brasil 4 x 1 Japão e Brasil 3 x 0 Gana; em Hamburgo, Costa Rica 0 x 3 Equador; em Gelsenkirchen, Argentina 6 x 0 Sérvia; em Kaiserlautern, Paraguai 2 x 0 Trinidad e Tobago; e, finalmente, em Leipzig, Irã x 1 Angola.

 

                        Se, no dia 2 de julho, a bruzacã entrou em campo, travestida como a bola teamgeist, e o Brasil foi eliminado pela França, não foi por falta de torcida brasileira, pois o Maurício tava lá!

 

                        Nesta Copa das Copas, veja o que ele aprontou. Mas, primeiro, conheçamos um pouco de seu perfil, publicado pela revista eletrônica Equipe, de circulação interna no BNDES, onde ele trabalha:

 

 

                        Essa imagem tem dimensões originais de 20,14 cm x 16,98 cm. Para sua leitura, é necessário usar o recurso copiar/salvar/ampliar. Facilitando e simplificando, aqui vai sua transcrição:

 

“A relação do analista de sistema Maurício de Albuquerque, gerente da GESAM (ATI/DESIS2), com o BNDES vem de longa data. Em 1977, quando ele tinha onze anos de idade, sua mãe, Izaura Maria de Sousa e Silva, entrou para o BNDES, através de concurso público, para a carreira de técnico de comunicação. Izaura, que se aposentou há sete anos, fez uma carreira de sucesso no Banco e cultivou muitos amigos, tornando-se uma pessoa muito querida e popular.

“– Até há pouco tempo, antes da renovação do quadro de funcionários do Banco, eu era conhecido pelos mais antigos como ‘o filho da Izaura’, enfatizou o niteroiense Maurício.

“O gosto pelo futebol vem mais ou menos da mesma época. Desde pequeno, ele gostava de jogar bola e herdou do pai a paixão pelo Botafogo de Futebol e Regatas. Amor que transmitiu para o filho Lucas, de 16 anos, que o acompanha pelos estádios da vida, principalmente se, em campo, estiver jogando o time da estrela solitária. Como ex-jogador, Maurício se define como um ‘esforçado’ zagueiro.

“Hoje, às vésperas da Copa do Mundo, Maurício orgulha-se de ter adquirido 18 ingressos – ele insiste em frisar, ‘pelas vias normais’ – para nove jogos, distribuídos por Rio de Janeiro (três, incluindo a cobiçada final), Salvador (dois), Brasília (um jogo das quartas de final), São Paulo (dois jogos, um da semifinal), e Porto Alegre (um). Lucas, seu fiel escudeiro, o acompanha em sete partidas. Luciana, sua esposa, em duas.

“Essa não é a primeira Copa do Mundo de que Maurício participa assistindo aos jogos nos estádios. Em 2006, na Alemanha, apesar de o Brasil não ter trazido o ‘caneco’, ele considerou a experiência fantástica:

“– Foram 20 dias percorrendo de trem cerca de cinco mil quilômetros. Conheci praticamente o país inteiro. Assisti a oito jogos em estádios (quatro do Brasil) e outros em ‘FIFA Fan Fest’ (eventos públicos organizados pela FIFA para exibição dos jogos ao vivo). – Interessante também foi o intercâmbio com as torcidas de outros países e ter encontrado, o que não causa nenhum espanto, benedenses por onde passou.

“Maurício, que se formou em engenharia eletrônica pela UFRJ em 1989, ingressou no Banco em dezembro de 1992, após ter passado em seleção pública para o cargo de analista de sistemas.

“– A linha em que me especializei em engenharia eletrônica é muito ligada a sistemas. Nos primeiros três anos, após a formatura, trabalhei no laboratório de projetos GEMD, na própria UFRJ, no desenvolvimento de projetos de eletrônica e sistemas. Minha primeira lotação no Banco foi na antiga GESIS, no Departamento de Sistemas. Naquela época, não existia ainda a área de TI, concluiu Maurício”

 

            Agora, vamos conhecer os estádios por onde o Maurício passou:

                       

13.06 - Salvador, Espanha x Holanda, e 18.06 - Rio de Janeiro, Espanha x Chile

 

22.06 - Porto Alegre, Argélia x Coreia, e 25.06 - Rio de Janeiro, França x Equador

 

26.06 - São Paulo, Bélgica x Coreia, e 01.07 - Salvador, Bélgica x EUA

 

05.07 - Brasília, Argentina x Bélgica, e 09.07 - São Paulo, Argentina x Holanda

 

13.07 - Rio de Janeiro, Alemanha x Argentina

 

                        Vocês notaram o sentido de organização de que é possuidor esse meu sobrinnho? Sim? Então, me digam: Para quem ele puxou?

 

                        E também me respondam: Dentro do espírito nepotelepático, eu tava ou num tava lá?

 

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Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas terça, 08 de agosto de 2017

COPA 2014 - AS AFRICANAS QUE A MÍDIA NÃO VIU

COPA 2014 - AS AFRICANAS QUE A MÍDIA NÃO VIU

(Publicada em 28.07.2014)

Raimundo Floriano

 

Mapas da Mãe África 

                        Se tem coisa que eu gosto pra caramba de ver é retrato de mulher. E nesse item, o Correio Braziliense, maior órgão da Imprensa da Capital Federal, do qual sou assinante há muitos anos, se esmerou Copa 2014, publicando, diariamente, sob o título A Musa do Dia, foto das gatas que compareceram às arenas.

 

                        Colecionei-as todas, na esperança de possuir, ao final da competição, boa amostra internacional das sublimes prendas de 32 diferentes países em disputa, que enfeitaram e alegraram nossos estádios, nossas ruas, nossos logradouros públicos, nossas vidas.

 

                        No dia 13.06, após a abertura da Copa, e no dia 14.06, foram estas as Musas clicadas pelos fotógrafos do Correio:

 

                         A seguir, as imagens das Musas publicadas nos dias 15 e 16 de junho:

 

                         E a rotina prosseguia nessa batida, até que chegou o dia em que a primeira Nação Africana estrearia em Brasília, 19.06, com o jogo Colômbia e Costa do Marfim, país este de etnia composta de negros puros, originais, retintos. Nos dias 20 e 21 de junho, eis as Musas flagradas pelas lentes do jornal:

 

                         Nesse ritmo, as Musas forem se sucedendo. No dia 23.06, nova Nação Africana se apresentava no Mané Garrincha, dessa vez no jogo Brasil x Camarões. No dia 24, um após o jogo, e no dia 25, eis as Musas fotografadas:

 

                         A 26 de junho, foi a vez de outra Nação Africana apresentar-se no Mané Garrincha, no jogo Portugal x Gana. E as fotos dos dois dias seguintes, 27 e 28, mantiveram a escrita:

 

                         Passou a fase de classificação, entramos na Oitavas de Final, e nada de aparecer a foto de uma nativa da África, embora 3 Nações Africanas tenham jogado em Brasília, encantando os torcedores e a população em geral.

 

                        Flutua no ar brasileiro um perigoso clima de apartheid, o que se nota, primeiramente, pelo sistema de cotas nos colégios e no serviço público, e, em segundo lugar, declarações como a da figura maior do partido político ora no poder, ao afirmar a existência, nas plateias que lotaram os estádios, de uma “elite branca”. Coisa nunca vista antes neste País!

 

                        Nas Oitavas de Final, outra Nação Africana, a Nigéria, veio a Brasília para, no dia 30, jogar contra a França. A seguir as imagens das Musas publicadas nos dias 1º e 2 de julho:

 

                         As duas últimas páginas retratando as Musas saíram nos dias 13 e 14 de julho. Aí estão elas:

 

                         Perceberam? Tal qual na canção do Chico, a africanas passaram por Brasília, só o Correio não viu!

 

                        E eu não entendo essa discriminação com a etnia negra, pois desconheço brasileiro legítimo que não traga nas veias gotas, copo e até mesmo litro de sangre indígena ou africano. Naquele continente, há mulheres tão bonitas quanto outras de qualquer Nação do Planeta. Digo isso de cadeira, pois sou, há 32 anos, casado com uma delas, que permanece linda como sempre. Justificando o que afirmo, vejam quatro representantes das Nações que a Mídia Brasileira ignorou:

 

 

 


Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas segunda, 07 de agosto de 2017

COPA 2014 - A COPA DAS COPAS

COPA 2014: A COPA DAS COPAS

(Publicada no dia 21.07.2014)

Raimundo Floriano

 

Nossa Presidenta entrega a taça ao Capitão Germânico

 

                        Sublime inspiração teve a pessoa que rotulou a Copa da Fifa 2014 como A Copa das Copas! Nada mais profético, nada mais premonitório!

 

                        Tal Copa jamais será esquecida por esta geração e pelas vindouras! A derrota pelo placar de 7 x 1 que sofremos diante dos alemães obnubilou, relegou ao olvido, obumbrou, trancou no fundo do baú do esquecimento um vice-campeonato, frente aos uruguaios, em 1950, no Maracanã, com a falha do goleiro Barbosa, e outro, frente aos franceses, em 1998, lá fora, com o piripaque do Fenômeno!

 

                        Há outros dados para fazê-la inesquecível: o primeiro gol da Copa foi perpetrado por um de nossos jogadores contra nossas próprias metas; nosso primeiro gol, e segundo da Copa, decorreu de um pênalti inexistente; em 1974 atropelados pela Holanda, ficamos em quarto lugar e a Alemanha foi campeã, o que se repetiu 40 anos depois, agora, quando fomos atropelados pela Holanda, ficamos em quarto lugar e a Alemanha foi campeã; perdemos nosso maior craque durante essa Copa, não havendo alguém para substituí-lo à altura; perdemos para a um alemão a artilharia de todas as Copas; nosso goleiro foi o mais vazado na Copa das Copas... O leitor completará essa extensa lista de fracassos que fizeram dessa Copa algo indelével em nossos corações.

 

                        E não foi por falta de aviso. No dia 02.06.2014, aqui no Jornal da Besta Fubana, eu já alertava para que todos nos aprecatássemos, na matéria sob o título “Cuspidores, Cuidado com a Bruzacã!”, explicando que a Brazuca, nome da bola nesta Copa, nada mais era que o anagrama da Bruzacã, besta fantástica citada por Ariano Suassuna, em A Pedra do Reino, e que tal assombração já aparecera na copa de 2006, na Alemanha, sob o nome de Teamgeist, e, em 2010, na África do Sul, sob o nome de Jabulani. No Brasil, para a Copa das Copas, apenas pegaram o nome da Bruzacã, trocaram a ordem das letras, tiram o til e o resultado já se viu: Brazuca! Deu no que deu!

 

A Bruzacã, em duas aparições, e a Brazuca

 

                        Não sou de misturar futebol com política, até mesmo porque de futebol entendo bulhufas e, por ser quase octogenário, da política fui alijado, eis que dispensado de votar. Mas não custa lembrar que a dupla Itamar/FHC ganhou duas Copas e foi vice em uma, enquanto a dupla Lula/Dilma, já perdeu as três que disputou.

 

                        Depois dos 7 x 1, assisti a um debate na TV, no qual o jogador Carlos Alberto, Capitão do Tri, afirmava que enquanto houver o clima de oba-oba, o Brasil jamais voltará a ser Campeão Mundial de Futebol.

 

                        E oba-oba foi o que mais se viu na Copa das Copas! Aqui em Brasília, o exemplo irretocável disso foi o Correio Braziliense, maior jornal da Capital Federal, cuja capa inteira do Caderno de Esportes da manhã do dia 8 de julho, quando o Brasil enfrentaria a Alemanha, trazia esta certeza de nossa vitória:

  

                        Tradução: QUERIDOS ALEMÃES, BRASÍLIA ESPERA POR VOCÊS!

 

                        Resultado desse oba-oba: 7x1, e, em vez dos Alemães, nós, os brasileiros, é que tivemos de virmos para Brasília com o rabo entre as pernas, disputar o terceiro lugar, que resultou na vergonhosa quarta colocação.

 

                        Em 1982, na Espanha, com uma Seleção Brasileira considerada por alguns como a melhor de todos os tempos, ocorreu o que se passou a denominar A Tragédia do Sarriá, referência ao estádio do mesmo nome. No dia 5 de julho, segunda-feira, aquele dito inexpugnável elenco, que batera a União Soviética por 2x1, a Escócia por 4x1, a Nova Zelândia por 4x0, e a Argentina por 3x1, foi surpreendido, quando lhe bastaria o empate, pela Esquadra Azurra, perdendo por 2x3, três gols do reserva Paolo Rossi.

 

                        Quase toda a Nação Brasileira caiu em pranto, e muitos dos torcedores mais exaltados, ou inspirados pelo álcool, rasgaram a camisa amarelinha e queimaram a bandeira brasileira. Isso eu vi, lá na Rua do Beirute.

 

                        Mais ou menos às 21h00 daquele dia, correu, como um estopim, por todo o País, a notícia de que a Fifa anularia o resultado e daria a vitória para o Brasil, devido a terem descoberto, no exame antidoping, que Paolo Rossi jogara dopado e, consequentemente, seus gols não seriam computados.

 

                        Imediatamente tratei de espalhar boa nova, ligando para minha inteira agenda e anunciando essa ressuscitada esperança. Mas foi só fogo de palha. Naquela mesma noite, a Rede Globo jogou água fria em nossas cucas, desmentindo o boato. Frustrado, fui dormir e, mais frustrado ainda, rumei na manhã seguinte para o trabalho.

 

                        Ao abrir o jornal Última Hora, deparo com esta carta, que guardei por todos esses anos, porque parecia endereçada a mim:

 

 

                        Embora não concorde no todo com essa carta, acho que, em muitos aspectos, José Benedito Assunção está coberto de acertos, cabendo-lhe pequeno alerta quanto ao final de sua missiva:

 

                        – Seu Zé Bendito, a coisa agora mudou! Nossos craques aprenderam a cantar o Hino Nacional Brasileiro e o fizeram a plenos pulmões, com ardor, com patriotismo! Se julgados por esse item, nesta Copa da Copas fomos os verdadeiros campeões!

 


Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas domingo, 06 de agosto de 2017

TEODORO SOBRAL, O GIGANTE DA CULTURA PIAUIENSE

TEODORO SOBRAL,

O GIGANTE DA CULTURA PIAUIENSE

(Publicada no dia 07.07.2014)

Raimundo Floriano

 Teodoro Ferreira Sobral Neto

                        Teodoro Sobral é único! Ao usar artigo definido para intitulá-lo como O Gigante da Cultura Piauiense, desejo determinar que, no meio empresarial do Piauí – quiçá do Brasil –, já não existe homem de tal porte, que dedique grande parte de seus lucros e de seu precioso tempo à divulgação de nossa cultura, de nossos valores, de nossa tradição, da vida de homens e mulheres que fizeram a pujança de nossa história.

 

                        Em passado um tanto distante, houve outro abnegado assim, Ranulpho Torres Ramoso, capitaneando o Almanaque da Parnaíba, alentada publicação anual de 350 páginas, que conseguiu manter-se em circulação de 1923 a 1980, ano em que teve sua edição interrompida, quem sabe devido a problemas financeiros. Nesse almanaque, aprendi, durantes os serões de Dona Maria Bezerra, minha saudosa mãe, a ler os primeiros textos sérios de minha vida, em voz alta, interpretando-os depois, para os demais. Aqui, três capas dessa preciosidade.

  

                        Hoje, a totalidade das crianças e dos adolescentes não sabe o que são almanaques e a alegria que eles traziam aos brasileiros de outrora, à disposição de qualquer um, grátis, nas farmácias e drogarias brasileiras. Valendo-me de minuciosa pesquisa do Teodoro, apresento-lhe a capa de alguns:

  

                        O mais famoso deles, Almanaque Capivarol, trazia, na última página, uma Carta Enigmática, a cujos decifradores prometia brindes especiais. Prometiam e cumpriam!

 

                        Teodoro Sobral parece ter assimilado a sabedoria de Ranulpho, seus benfazejos eflúvios, bem como a tradição do almanaque. É o que se pode facilmente deduzir com leitura deste seu primeiro trabalho no campo editorial:

  

                        Com 202 páginas, este compêndio, altamente iconográfico, contém informações sobre hotéis, bares e restaurantes, lojas, indústrias, prestação de serviços, teatro, museus, igrejas, escolas, casas de show, boates e danceterias, rádios, jornais e televisão, passeios ecológicos, políticos, juízes, times de futebol, clubes de serviços, cinquentenário da cidade, cinemas, blocos de Carnaval, associações de classe, misses, cabarés, hinos, principais ruas, curiosidades municipais, tipos populares, companhias aéreas, e muito mais, de hoje e de ontem, configurando-se, assim, em verdadeiro almanaque, nos moldes mais tradicionais.

 

                        Nele, é riquíssima a pesquisa de imagens. Como pequena amostra, disponibilizo a vocês duas de suas páginas, estampando propagandas comercias de antanho:

  

                        Vejamos, agora, um pouco da biografia desse admirável sonhador, cuja amizade por demais nos honra.

 

                        Teodoro Ferreira Sobral Neto é florianense, nascido em 26.6.1951, filho único de Amilcar Sobral e Jaci Guimarães Sobral. Casado com Maria do Socorro Carvalho Sobral, tem 4 filhos: Valéria, Igor e as gêmeas Paula e Sofia.

 

                        Seu avô, Theodoro Ferreira Sobral, nascido em Amarante (PI), no dia 7.1.1891, e radicado em Floriano, fundou, em 1911, sua Empresa Farmacêutica, embrião do Laboratório Sobral, do qual falarei mais adiante. Seu pai, Amilcar Ferreira Sobral, nascido em Floriano em 13.10.1917, inicialmente militar, depois médico, deu continuidade aos negócios da família e agilizou as operações da empresa, que passou a se denominar Laboratório Sobral.

 

                        Com os estudos iniciados no Piauí, o jovem Teodoro bacharelou-se em Economia pelo Centro Universitário de Brasília - UniCEUB, em 1973, vendeu um apartamento em Brasília, presente do pai e, com o dinheiro obtido, retornou a sua cidade natal, onde se entregou a dar novos rumos e modernizar o Laboratório Sobral. O sucesso não tardou – foi imediato. Hoje, é um empreendimento vitorioso, reconhecido e admirado nacionalmente.

 

                        O amor por Floriano fez de Teodoro um garimpeiro, pesquisando, ouvindo, anotando, juntando documentos, e dados que lhe dissessem respeito. Isso, mercê de seu espírito empreendedor e pertinaz, gerou maravilhosos frutos. Hoje, possui o maior e mais completo documentário fotográfico da região.

 

                        Nele, ressalto o museu iconográfico sobre as embarcações que singraram a Bacia do Parnaíba, transportando pessoas, mercadorias, o progresso, enfim, às cabeceiras de seus afluentes, do qual me vali, quando na elaboração de meu livro De Balsas para o Mundo.

 

                        Nossa amizade começou ali. Mas Teodoro não se ateve apenas a enviar-me imagens pela Internet. Mandou editar algumas e até compareceu a meu apartamento aqui em Brasília, por duas vezes, acompanhado de Cristóvão Augusto Soares de Araújo Costa, fiel escudeiro, para trocarmos figurinhas e informações. Devo mencionar também Luiz Paulo de Oliveira Lopes e Rosenilta de Carvalho Attem como eficazes colaboradores no Estado-Maior desse Gigante.

 

                        Em 2011, comemorando o Primeiro Centenário do Laboratório Sobral, presenteia-nos ele com novo almanaque, contendo 208 páginas:

  

                        Escolhi dele, aleatoriamente, algumas páginas, para que os leitores tenham pálida ideia das preciosidades que contêm, como propagandas dos produtos do Laboratório e sua foto:

 

                            Teodoro Sobral se fez tão grande, que essa magnitude ultrapassou os limites de sua paróquia, fez-se presente por todo o Piauí, transformando cada coestaduano em amigo íntimo, empatia essa traduzida pelo nome como é conhecido por todos: Teodorinho. E é como Teodorinho que passo a chamá-lo agora.

 

                        Teodorinho distribui, anualmente, para sua clientela, um bonito calendário. Alguém pode argumentar que a Caixa Econômica Federal o faz também, mas eu rebato, citando que a Caixa é financiada por recursos públicos, o meu, o seu dinheiro, enquanto Teodorinho age por seus próprios meios. E não é só isso. Para facilitar a vida das esferas mais carentes de seus conterrâneos, Teodorinho produz medicamentos genéricos de indicações as mais variadas. Vejam as capas de alguns calendários e os genéricos do Laboratório Sobral:

  

                        Teodorinho é incansável. Ele e seus colaboradores acima citados, com apoio da Fundação Floriano Clube, lançaram-se em novo empreendimento editorial. Com a denominação de Florianenses, o Volume 1, com 130 páginas, foi espécie de balão de ensaio, para testar sua aceitação. Com seu estrondoso sucesso, foi lançado o Volume 2, este com 320 páginas:

  

                        No ano passado, Teodorinho me enviou mensagem solicitando os perfis de Seu Rosa Ribeiro, meu pai, e de Tio Cazuza Ribeiro, dois florianenses que, no início do século passado, ainda adolescentes, navegaram a Bacia do Parnaíba, rios acima, para fixarem-se em Balsas, onde foram pioneiros da colonização e onde construíram uma prole que hoje ultrapassa a casa dos 200 componentes.

 

                        Meu Tio Cazuza constará do Volume 4, a sair no próximo ano. Meu pai, mesmo em plagas longínquas, nunca parou de amar sua terra natal, deixando isso bem patente ao batizar-me com seu nome – Raimundo Floriano –, o que me fez também venerá-la com ardor. Seu perfil encontra-se no Volume 3, lançado inicialmente em Floriano, no dia 5 de julho, sábado passado, nas comemorações do aniversário da cidade, que ocorrerá amanhã, dia 8, como se vê no convite abaixo. Posteriormente, haverá mais dois lançamentos, um em Teresina, capital piauiense, e outro aqui em Brasília.

  

                        Tudo isso é almanaque, tudo isso é Teodoro Sobral, o Teodorinho, o gigante, inexpugnável baluarte na defesa e preservação de nossos valores culturais!

 

                        Salve Teodorinho Sobral, orgulho da gente piauiense!

 

                        Salve Teodorinho Sobral, honra e glória da Filha do Sol do Equador!

 

 

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Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas sábado, 05 de agosto de 2017

CINQUENTENÁRIO DA REVOLUÇÃO DE 31.03.1964

CINQUENTANÁRIO DA REVOLUÇÃO DE 31.03. 1964

(Publicada em 31.03.2014)

Raimundo Floriano

 

 

                        Com a ilustração acima, foi publicada na Internet, no dia 15.03.14, esta matéria assinada:

 

“DILMA PROÍBE AS FORÇAS ARMADAS DE COMEMORAREM OS 50 ANOS DA REVOLUÇÃO DE 64

 

                        José Carlos Werneck

 

                        A presidente Dilma Rousseff determinou, sexta-feira, que não quer celebrações dos militares da ativa em comemoração aos 50 anos do Movimento Militar de 31 de março de 1964. Ela comunicou sua decisão ao ministro da Defesa, Celso Amorim, que já conversou sobre o assunto, com os comandantes militares.

 

                        Os Chefes das Forças Armadas orientaram a tropa para que se evitem comemorações em 31 de março, interna ou externamente.

 

                        A maior preocupação é com os militares da reserva.

 

                        Os chefes militares já haviam aproveitado as reuniões, antes do Carnaval, de seus Altos Comandos, que trataram, também, das promoções do final do mês, para comunicar aos comandados que se abstivessem de qualquer tipo de polêmica sobre o assunto, para evitar choques com o Planalto. Os comandantes das forças já haviam comunicado a determinação aos seus subordinados a ordem de não serem feitas comemorações dentro e fora dos quartéis.

 

                        A data, no entanto, não será ignorada pelas Forças Armadas. No Exército, o tema será abordado com palestra e divulgação de informações para a tropa apenas para que “as novas gerações” não se esqueçam do que chamam de “fato histórico”, contextualizado à época da guerra fria.

 

                        O clima na ativa das Forças Armadas, até agora, é de total distensionamento. Não há movimentações para promover atos para exaltar a data, embora existam insatisfações em relação à condução dos trabalhos da Comissão da Verdade. Grande parte dos militares reconhece que houve avanços nos investimentos das Forças durante os governos Lula e Dilma.

 

                        Ainda há grande preocupação com o pessoal da reserva. Ainda não se sabe exatamente o que eles poderão promover para comemorar os 50 anos do Movimento de 31 de março. Para evitar problemas com os colegas que já estão fora dos quartéis, mas que, quando querem, fazem manifestações, os comandos das Forças Armadas fizeram contatos com os presidentes dos Clubes Militares do Exército, da Marinha e da Aeronáutica pedindo moderação nas manifestações. Mas vários militares que já estão reformados, porém, atuam de forma independente e não costumam atender às solicitações dos comandantes.

 

                        Quem está na Ativa não pode se manifestar, por força do Regulamento Militar. Os da Reserva não têm tantas restrições, mas, também, estão sujeitos a algumas regras e podem ser punidos, inclusive, com prisão por declarações que forem consideradas ofensivas à presidente da República.”

 

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                        Sem querer entrar no mérito de tão complexo assunto, restrinjo-me a reproduzir esta figura, também obtida na Internet:

 

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                        Para vocês, a Canção do Exército – antiga Capitão Caçulo –, composição de Teófilo Magalhães e Alberto Augusto Martins, interpretada pela Banda de Música e Coral da EsSA - Escola de Sargentos das Armas.

 

 


Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas sexta, 04 de agosto de 2017

LEITURAS DIVERSAS: DEL NERO E XICO BIZERRA

LEITURAS DIVERSAS: DEL NERO E XICO BIZERRA

(Publicada no dia 16.12.13)

Raimundo Floriano

 

                        Noite de 20 para 21 de novembro de 2013. Na TV, o jogo entre Atlético do Paraná e Flamengo pela Copa do Brasil, no qual eu não tinha interesse algum, eis que vascaíno já eliminado. Enquanto a bola corria, aproveitei para continuar a leitura deste livro, de autoria do General Agnaldo Del Nero Augusto, formado em Ciências Econômicas, cuja última função na ativa foi a de Subsecretário de Economia e Finanças do Comando do Exército:

  

                        Um pouco depois da virada da meia-noite, eu acabara de virar a última das 478 páginas desse tratado, que discorre sobre as três tentativas de tomada do poder pelos comunistas no Brasil.

 

                        A primeira, Intentona Comunista de 1935, encabeçada pelo chefe do Partido Comunista do Brasil, Luís Carlos Prestes, sob a inspiração dos ensinamentos recebidos em Moscou, quando militares brasileiros chegaram a assassinar, friamente, colegas de farda ainda dormindo: a Democracia venceu! A segunda, com desfecho em 1964, liderada pelo Presidente João Goulart e Leonel Brizola, seu cunhado, caracterizada pela sublevação nos quartéis, gerando a indisciplina e jogando sargentos, cabos e soldados contra os oficiais: a Democracia venceu! A terceira, a partir de 1964 até meados dos Anos 1970, configurada em ações de militantes treinados em Moscou, na China e em Cuba, notadamente com atos terroristas, assassinatos de adversários, de pessoas inocentes e justiçamentos de companheiros seus, guerrilhas, assaltos a quartéis, bancos, empresas e residências: a Democracia venceu!

 

                        O título do livro, A Grande Mentira, é justificado no epílogo pelo fato de que todos os autores derrotados nas citadas tentativas, desde há algum tempo, são considerados, Heróis da Pátria, recebendo homenagens, indenizações e nomeando monumentos oficiais.

 

                        Como o livro foi lançado em 2001, fui dormir com a curiosidade em saber como o autor classificaria o período a partir de então até os dias atuais, com a corrupção galopando adoidado, e culminando, neste final do ano de 2013, com a prisão dos denominados mensaleiros, recém-condenados pelo Supremo Tribunal Federal, após demorado processo, no qual lhes foi concedido o amplo exercício de defesa *.

 

                        Ao acordar no dia 21, recebo o Correio Braziliense, maior jornal da Capital da República, e sou surpreendido com a notícia de que o Plano de Preservação do Conjunto Urbanístico de Brasília - PPCub prevê a criação do Memorial João Goulart, no Eixo Monumental, entre a Praça do Cruzeiro e a Catedral Rainha da Paz, análogo ao Memorial JK, erigido em homenagem ao fundador da Capital Federal. O que se vê confirmado na edição de 23.11.13, com esta nota na primeira página:

  

                        Volto à manhã do dia 21. Ao sair para a habitual sessão de fisioterapia, recebo um pacote com este valioso presente a mim enviado pelo amigo Xico Bizerra:

 

                        Levei o livro comigo. Enquanto a doutora realizava os procedimentos iniciais, comecei a leitura. Mais ou menos lá pela vigésima página, ela deu uma sacada no livro e me perguntou quem era Xico Bizerra. Aí eu falei tudo o que eu sabia do Xico, tudinho mesmo, e, para ilustrar, contei-lhe a historinha a seguir.

 

                        No batente da entrada do Banco do Brasil da 406 Sul, costuma arrecadar adjutórios de almas caridosas um cego com quem gosto de conversar quando vou por lá. E foi um custo da bixiga saber como era seu nome, pois sua dicção, prejudicada pela idade e pela ausência de muitos elementos mastigantes em sua arcada dentária fazia com que eu entendesse que ele se chama “A Mĩa Esquerda”. Por mais que ele repetisse, a surdez que me assola fazia com que não escutasse nada mais do que isso: A Mĩa Esquerda. Até que um dia, uma senhora que saía do banco se interessou em nosso diálogo, o que me fez solicitar-lhe a tradução do nome desse amigo. Ao ouvi-lo, ela falou: “Acho quem é Aminstêran!” E aí, a ficha caiu para mim. O nome do moço é Amsterdam, que ele pronuncia Amstêrdam!

 

                        Pois bem – falei para a doutora –, na talentosa arte do Xico Bizerra, isso daria uma crônica recheada de amor, ternura, sensibilidade e muita saudade. Porque saudade é a tônica dominante desse comovente livro com que ora brinda nosso coração. Luiz Berto, em genial prefácio, também reconhece o quanto de saudade está impregnado nas 130 crônicas componentes do lindo Breviário Lírico desse poeta em prosa, que também esbanja extasiante capacidade de síntese, ao propiciar-nos crônicas as mais diversas contidas cada qual numa única página de reminiscências e profusão, repito, de muita saudade.

 

                        Saudade que me transportou ao Crato da infância do Xico e de minha mocidade em fevereiro de 1957, “quando eu vinha do sertão sul-maranhense para conquistar o mundo, trazendo a coragem e a cara, viajando num pau-de-arara”, e passei ali uma noite. Tempo bom aquele, da estrada piçarrada, mas cuja poeira me fez desejar tomar um banho e, mas na pensão do pernoite não havia água, para isso.

 

                        Acasos bem-vindos – pasmem-se vocês! – acontecem, podem crer. Estava eu sentado na calçada da pensão, agoniado de calor, pó até no olho do fiofó, quando ia passando o balsense Sebastião, meu amigo de infância, filho de Seu Salustiano Rodrigues, vulgo Lampião, e de Dona Rosalina. Ao reconhecê-lo, chamei-o, e foi muita alegria aquele reencontro. Disse-lhe da minha vontade de banhar-me, e ele me falou que uma de usas irmãs, a Maria da Glória – a Maria Lampião – compunha o elenco de garotas que alegravam a doce vida dos cratenses numa boate ali perto, onde havia um poço. Foi mão na roda! Tomei um banho caprichado, troquei de roupa e fiquei por lá, apreciando o movimento, de onde só saí de madrugada, na hora de embarcar no pau-de-arara.

 

                        A parte musical da boate ficava a cargo de um conjunto com pistom, saxofone, sanfona, banjo, pandeiro e bateria. Em dado momento, foi executado o frevo de rua Esquenta-Mulher Isquenta-Muié –, de Nélson Ferreira, e aí quem esquentou foi o salão.  Minto, pegou fogo!

 

                        Aquele frevo, lançado no ano de 1955, e que ali eu ouvia pela vez primeira, e a cidade do Crato ficaram arraigados em meu gosto musical, em minha memória nordestina, e todas as vezes que o ouço é do Crato que me lembro. E com razão. A introdução faz referência ao Juazeiro de Luiz Gonzaga e também ao Juazeiro do Padim Ciço e, em decorrência, aos cangaceiros de Lampião, ao Cariri, ao Crato de Xico Bizerra.

 

                        Agora, vocês hão de me perguntar: – E o que o Breviário Lírico, do Xico Bizerra, tem a ver com A Grande Mentira, de Agnaldo Del Nero? E eu respondo: – Muito, mas muito mesmo. Vejam esta nota publicada aqui em Brasília no Jornal da Comunidade, edição de 23/29.11.13:

 

                         E leiam esta crônica de Xico Bizerra, publicada no Breviário, na qual ele remonta a um tempo nem tão distante, mas que também já virou saudade:

 

                         Concordando com o Xico, só me resta exclamar:

 

                        – Reaje, Brasil!

 

* Estou aguardando a chegada nas livrarias do livro Década Perdida: Dez Anos de PT no Poder, de Marco Antonio Villa, já resenhado na Veja de 17.11.13. Vamos ver no que vai dar.

 


Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas quinta, 03 de agosto de 2017

LULU RABELO: O BAMBA MARAJOARA

LULU RABELO: O BAMBA MARAJOARA

(Publicada em 16.09.2013)

Raimundo Floriano

 

Joaquim Rabelo Júnior, o Lulu 

 

                        Joaquim Rabelo Júnior, o Lulu Rabelo, filho de Joaquim Lourenço Rabelo e Dona Margarida da Silva Rabelo, nasceu no dia 9 de janeiro de 1912, em Cachoeira, Ilha do Marajó, Estado do Pará.

 

                        Conheceu “muita gente, de toda espécie, branca e preta, pobre e rica; ali tudo era farto, tanto de fruta como de comida; peixe, então, nem se fala, de todas as espécies e a toda hora; se tivesse boa disposição, a pessoa se dirigia até a beira do rio, com seu caniço ou tarrafa e defendia o seu almoço, sem problema algum. Carne de gado, porco e outras carnes como de aves eram de abundância no Mercado Municipal; pirarucu, tambaqui, jacaré, marreca, jaburu, jabuti tinha demais, e na rua não faltavam pessoas com cambadas cheias de peixes. Nada faltava, com a graça de Deus, Jesus Cristo e dos Santos.”

 

                        Vivendo nesse Paraíso Terrestre, Lulu Rabelo tinha todas as ferramentas para ser um preguiçoso, um indolente e, se vivesse nos dias de hoje, sério candidato à Bolsa Família e outras esmolas eleitoreiras distribuídas pelos atuais governantes.

 

                        Mas não! Com Lulu Rabelo, o buraco era mais embaixo. Durante seus 71 trepidantes anos de vida, transcorridos entre a Ilha de Marajó, a cidade de Belém e rios da Bacia Amazônica, ele foi pau pra toda obra, provendo seus meios de subsistência no exercício destas profissões: cortador de lenha; apanhador de frutas no mato; pescador; cavador de poço; canoeiro; vendedor de galinhas, porcos e patos; soldado do Exército; jogador de futebol; santeiro, encarnador de santo; fotógrafo, sapateiro; agente de Polícia; piloto de embarcação; mestre de obras; carpinteiro; pintor de paredes; estilista de moda; capinador de rua; tarrafeador; dentista prático; pintor de tecidos; fazendeiro; segurança; senhorio; caixeiro de farmácia; agente de fiscalização de Rios e Portos; pedreiro; empreiteiro de obras; capataz de turma; vigilante; mergulhador; enfermeiro; eletricista; soldador; manipulador de farmácia; marreteiro; encanador; fabricante de farinha; colhedor de açaí...

 

                        Com todo esse currículo, Lulu Rabelo nunca se descuidou do lazer, dum furdunço, duma patuscada. Paquerador juramentado, era tido como o melhor sambador da Ilha: tinha festa em que as moças só queriam dançar com ele. Além do mais, era o melhor organizador e brincante de cordões e blocos de mascarados, bumba-meu-boi, etc.

 

                        A seguir, flagrantes de sua passagem pelo Cachoeirense Sport Club, time que chegou a ganhar do Paysandu por 2x0, em jogo amistoso:

 

 

                        Lulu casou-se no dia 30 de junho de 1938, aos 26 anos de idade, com Maria Edwiges Paraense, “morena clara, pobre igual a mim; muito bem-educada e Professora, muito prendada, que não era de muita camaradagem e de ser muito namoradeira, com amizade da alta sociedade e Diretora da Irmandade Santa Maria de Belém, lá de Cachoeira.”

 

                        Esse casamento durou apenas 5 anos. Maria Edwiges veio a falecer de parto no dia 28.08.1943, ao dar à luz, em gravidez de sete meses, o prematuro João Batista, que nasceu morto. Deixou-lhe dois filhos, Francisco de Paula Paraense Rabelo, nascido a 02.04.1939, e Maria Margarida Paraense Rabelo, nascida a 01.09.1942, que viria a falecer no dia 27.11.1950, aos 8 anos de idade. Sobreviveu-lhe, portando um único filho, do qual agora passo a falar.

 

                        Francisco, órfão de mãe aos 4 anos de idade e com o pai se virando em múltiplas atividades para ganhar o sustento de sua gente, foi criado por sua tia Dalila Paraense. Naquele sertão bravio, as condições eram de que ficasse por ali, sem ocupação definida, não fosse a educação esmerada recebida de Dalila – a Tia Didi, como ele a chamava – que, o alfabetizou.

 

                        Cursou o Grupo Escolar Estadual Professor Francisco Delgado Leão, onde concluiu o Primário, em 1952. Em seguida, ingressou na Escola Industrial de Belém, depois, no Colégio Estadual Paes de Carvalho e, mais tarde, no Instituto Paraense - Escola Técnica de Comércio. Paralelamente, preparava-se, à noite, com colegas, para o concurso de admissão à EsSA - Escola de Sargentos das Armas, no qual foi aprovado em 1956. Foi lá, no ano de 1957, em Três Corações (MG), na Arma de Infantaria, que fizemos esta bela amizade, duradoura desde então.

 

                        Promovido a 3º Sargento, Francisco serviu em várias Unidades do Exército, formou-se em Contabilidade e Administração, conquistou o posto de Primeiro Tenente e, em 1983, lotado como Adido na Embaixada do Brasil em Montevidéu, Uruguai, recebeu a notícia de seu pai agonizava no Hospital São Marcos, em Belém do Pará, não resistindo a uma cirurgia na próstata.

 

                        Imediatamente, Francisco embarcou num avião para Porto Alegre, onde tomou outro para o Rio de Janeiro e, finalmente, mais um para Belém, chegando a tempo de assistir aos últimos momentos do pai.

 

                        Lulu Rabelo e meu pai, Seu Rosa Ribeiro, tinham muitas afinidades: ambos estudaram apenas o necessário para ler, escrever e fazer conta, orgulhavam-se de terem um filho Sargento do Exército e, em segredo, nas poucas horas vagas, molhando o bico da pena no tinteiro, deixaram contadas suas experiências na Terra.

 

Lulu Rabelo com Francisco ainda jovem - Francisco em 2007

 

                        Assim, foi para grande surpresa de Francisco que Lulu Rabelo, antes de exalar o derradeiro suspiro, a 27.08.1983, ainda teve ânimo para lhe recomendar: – Não se esqueça do meu livro!

 

                        Só então, Francisco tomou conhecimento da existência dos manuscritos do pai. E, posteriormente, atendendo a seu último desejo, providenciou a edição desta preciosidade, com 234 páginas e ilustrações, do qual extraí os trechos acima aspeados:

 

 

                        Para ser fiel ao estilo de Lulu Rabelo, transcreverei passagens hilariantes desse livro da forma como ele as deixou.

 

RABELO SAPATEIRO

 

 

“Quando vêm se aproximando as festas em Cachoeira, é movimento por toda a parte, gente chegando de todos os lados, vem de Belém, Abaetetuba, Ponta de Pedras, Santana, Santa Isabel, Pau Cu, Gurupá, Mutá, Retiro Grande, Urubuguará, Santa Maria, Jenipapo, Santa Cruz, Anajás-Mirim, Anajás-Grande, Camará, afinal, de muitos lugares.

 

Eu ficava muito feliz, porque tinha muitos fregueses, tanto de santos, como de sapatos; tinha muita encomenda, como sapatos velhos, santos quebrados, sem dente, sem olhos, tudo para entrega no fim das festas; sapatos para consertar, pintar, mudar de cor.

 

Recebia muitos presentes que ‘davam da cara’: linguiças, carne de sol, carne fresca, leite, muçuãs, frangos, pintos, perus, patos, peixes. Em casa, era uma fartura, porém eu não sossegava um só momento, nem de dia, nem de noite. Era santo com face do outro, com face pra trás, sapato trocado ou pintado com fumaça de lamparina, gente saindo satisfeita, outros chorando de raiva, outros aborrecidos, outros dançando de alegria, outros descontentes por não levarem o que buscavam.

 

Certa noite, após terminada a transladação do Círio, chegou lá em casa um vaqueiro da Fazenda do Lobato Miranda, por nome Otávio, que foi me dizendo:

 

                        – Olá, Seu Rabelo, aqui está um saco com carne e umas linguiças que eu trouxe pro senhor. E se o senhor tiver um par de sapatos que queira me vender ou alugar por esta noite para eu ir dar uma dançada no Três A, eu quero.

 

Dei uma olhada nos pés do amigo e mandei que se sentasse, que eu ia engraxar um par. Peguei um lado do sapato de Seu Ramos, que estava lá dando sopa, era quarenta e oito o lado que estava bom, peguei um outro do Ramiro e passei a escová-los às pressas. Depois levei-os, calcei-os nos pés do vaqueiro, tudo no escuro mesmo, para que ele nada notasse.  Dei-lhe umas lapadas de cachaça e disse assim: – Pode mandar brasa, mano, que a festa já está começando! Olhe o som da música!

 

Aí, ele se animou, perguntou quanto custava o aluguel, eu disse que não era nada, que fosse brincar, mas, mesmo assim ele, já meio vesgo de cana, me deu Cr$5,00, muito dinheiro naquela época.

 

No outro dia, por volta das seis da manhã, lá vinha o vaqueiro Otávio descalço, com os sapatos na mão. Estava tão banzeiro de cana que me entregou os calçados, me agradeceu, disse até logo e foi-se embora, sem perceber que os sapatos eram ambos do pé esquerdo e, além de tudo, um preto e o outro marrom!”

 

RABELO SANTEIRO

 

“Outra vez, me aparece ame casa o Capitão Cândido, da Fazenda Caratateu, trazendo debaixo do braço um embrulho de palha de sororoca e, dentro de um paneiro, uma galinha. Após presentear-me com a galinha, abriu o embrulho e me exibiu um santo, dizendo:

 

                        – Seu Rabelo, este santo de minha mulher é para o senhor consertar e pintar. É o São Raimundo. Ela fez promessa quando estava grávida e agora quer mandar fazer uma ladainha. Quando posso vir buscá-lo?

 

Atendi-o com a maior presteza e, três dias depois, entreguei-lhe a encomenda, que ele pagou, muito satisfeito com meus serviços.

 

Quando vai se aproximando o mês de junho, lá vem de novo o amigo Cândido, trazendo uma caixinha e, dentro dela, enrolado numa toalha, o São Raimundo, com essa proposta:

 

                        – Será que o senhor poderia transformar este São Raimundo em Santo Antônio? É que nós queríamos rezar no dia 12 de junho e dar uma festinha em casa. Depois, eu volto e o senhor faz ele virar São Raimundo de novo. Eu disse que sim e lancei mãos à obra. Mudei a pintura do santo, fiz-lhe uma careca e coloquei o Menino em seus braços.

 

Santeiro e sua arte

 

E assim, por vários anos, eu ia ganhando, em cada festa, minhas pratinhas, leitões, galinhas, pedaços de porco salgado, até que um dia a casa caiu: a família armou a maior briga, ao descobrir o troca-troca dos santos só para o Capitão Cândido fazer as festas, razão pela qual o santo não quis mais fazer milagres.

 

Daí, nosso amigo parou de festejar, e Seu Rabelo deixou de ganhar aquela gaitinha certa.”

 

RABELO DENTISTA

 

 

“Quando eu e o Comissário Moura trabalhávamos para a Polícia, encontramos numa casa abandonada uma caixa com diversos objetos dentro, inclusive umas dentaduras. Guardamos, pois pensávamos que pertenciam a algum dentista que ali as havia esquecido.

 

Uma noite, dando ronda pela cidade, vimos um Guarda Noturno, por nome Raimundão, que falava fanhoso, por não ter dentes e não poder compra uma dentadura. Disse-lhe, então, que ele tinha sorte, pois eu dispunha de umas dentaduras que um amigo meu dentista me dera para negociar em prestações e, se alguma dela lhe servisse, o problema estava resolvido. Mais que depressa, o Raimundão não deixou nem que eu terminasse e foi logo dizendo:

 

                        – Traz logo amanhã, às 9 horas da noite, que eu te espero aqui mesmo!

 

Na noite seguinte, levei a dentuda, e não é que deu certo na boca do Raimundão?! – Galhos quebrados! – Disse ele. Ficamos certos de receber no final do mês vinte cruzeiros, sendo dez para mim e dez para o Comissário Mourito.”

 

RABELO COBAIA PARA A CIÊNCIA

  

“Houve uma época em que eu estava adoentado de impaludismo, e meu amigo Joaquim Leão, vendo o meu estado de doença, quis me ajudar a ficar bom e deu-me uns comprimidos de Atebrina, para eu tomar dois por dia. Acontece que eu confundi e tomei dois comprimidos de duas em duas horas; resultado, eu ia ficando doido. Tive de viajar para Belém com minha mulher, à procura de um médico, com uma carta de recomendação do meu cunhado Adaltino Paraense.

 

Após examinado por duas vezes, o médico admirou-se de eu não ter ficado completamente doido, mas disse que se eu fosse feliz de encontrar os medicamentos que ele passou, tinha certeza de que eu iria ficar bom, e assim aconteceu. Comprei todos os remédios e quase fiquei bom. De acordo com o tempo, voltava a aparecer o mal em minha cabeça.

 

Tempos depois, contei sobre meu sofrimento ao meu amigo Dr. Olavo e, num certo dia, quando o tal mal voltara, fui procurá-lo. Ele, imediatamente, se comunicou, por telefone, com o Dr. Guaraciaba Quaresma Gama, da Santa Casa de Belém, que me mandou dirigir-me para aquele nosocômio.

 

Lá chegando, o Dr. Guaraciaba deu-me alguns remédios, que melhorei. Mais tarde, tive que voltar lá para fazer tratamentos. Tirei várias chapas da cabeça, mas nunca tive o resultado, pois o médico que me atendeu viajou para São Paulo, e o laudo nunca ficava pronto.

 

                        Eu fui me aborrecendo e não fiz mais procuração, até que o Dr. Olavo, conversando com o Dr. Guaraciaba, este me disse para eu não me ausentar de Belém, pois meu cadáver já estava vendido para a Medicina.”

 

Lulu Rabelo viveu mais de 30 anos depois disso!

 

 

 


Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas quarta, 02 de agosto de 2017

CÍCERO NOVO FORNARI, UM HOMEM DE BRIO

CÍCERO NOVO FORNARI, UM HOMEM DE BRIO

(Publicada no dia 01.07.2013) Raimundo Floriano

 

Cícero Novo Fornari: em 1981 e em 2013

 

                        Na sala de espera da maternidade, dois macróbios, cabelos grisalhos, ansiosos ante o limiar de um grande acontecimento em suas vidas. Eu, 77 anos, na expectativa do nascimento de meu quinto filho; ele, cinco anos mais velho, aguardando o primeiro. Unidos pelos mesmos sentimentos paternais, acabamos fazendo conhecimento, quiçá amizade, e prometendo presentear-nos mutuamente com um clone de nossos rebentos, tão logo nos fossem entregues.

 

                        Explico: a maternidade era a Thesaurus Editora, nos preparativos finais da edição dos livros que acabáramos de escrever: Pétala do Rosa, o meu, e Apresentar Armas, o dele, sobre o qual discorrerei mais adiante. Apenas quem já passou por essa experiência, pode avaliar a emoção que se sente ao ver sua produção literária sair do prelo, fresquinha, pronta a enfrentar o julgamento dos leitores, as cacetadas dos críticos e, também, a partir dali, enriquecer o currículo de seu autor.

 

                        Minhas recentes leituras têm-me proporcionado a ocasião de conhecer variados textos de veteranos do Exército Brasileiro contando suas experiências durante o serviço ativo:

 

 

                        Pequena Grande Unidade, do Sargento Amador Arimathéa, relata-nos, com ilustrações e a legislação pertinente, todo o desenrolar das operações que culminaram com a instalação da primeira tropa verde-oliva em Brasília, a 21 de maio de 1958; Cavando Trincheiras, de Paulo Irineu Barreto Fernandes, Conscrito de 1985/1986 no BPEB, brinda-nos com episódios vividos pelo autor na caserna durante aquele período; Memórias do Soldado Rodrigues, de Luiz Alberto Rodrigues, Conscrito de 1969/1970, também no BPEB, dá-nos uma ideia do que foi uma dura fase daqueles tempos de combate aos assaltantes de bancos, à ladroagem, aos corruptos, aos guerrilheiros e terroristas; Terceiro Batalhão - O Lapa Azul, de Agostinho José Rodrigues, contém a experiência do autor no front, durante a Segunda Guerra Mundial.

 

                        Nesses quatro livros, afloram o amor ao Brasil e a reafirmação do juramento feito diante de Bandeira Brasileira, ao prometerem dedicarem-se inteiramente ao Serviço da Pátria, cuja honra, integridade e instituições defenderiam com o sacrifício da própria vida.

 

                        Cícero Novo Fornari, o autor de Apresentar Armas, é Coronel da Reserva do Exército Brasileiro. Durante os 40 anos de atividade, serviu nas seguintes Organizações Militares: Escola Preparatória de São Paulo; AMAM; 1º Batalhão de Polícia do Exército; 1º Batalhão de Fronteira; 1º Batalhão de Carros de Combate Leves; AMAM, como Instrutor, 12º Regimento de Infantaria; Escola Preparatória de Campinas; EsAO; 4º Regimento de Infantaria; Escola de Comando e Estado-Maior do Exército; QG do Comando Militar da Amazônia; Centro de Operações na Selva; Estado-Maior do Exército; Gabinete do Ministro do Exército; Escola Nacional de Informação; 28º Batalhão de Infantaria Blindado, como Comandante; Escola Preparatória de Cadetes do Exército, como Subcomandante; Colégio Militar de Curitiba, como Comandante; e Adido Militar junto à Embaixada do Brasil na Venezuela.

 

                        Carreira rica, com episódios variados, exposta, passo a passo, neste importante livro com o qual nos presenteou:

 

 

                        Cícero Fornari foi um militar de atitudes firmes, cuja palavra dada não conhecia meia-volta, e jamais atribuiu a subordinados a responsabilidade dos atos que praticou. E continua assim na Reserva, arriscando-se até, como é mostrado no livro, a ser ameaçado de punição, nestes tempos modernos, por opiniões que expendeu, reiterou e assinou embaixo. Em poucas palavras, é um homem de vergonha na cara!

 

                        A seguir, vou pinçar alguns trechos de seu emocionante livro, pelo muito que me tocaram com o modo desse veterano expressar seu pensamento.

 

                        Primeiramente, quero dizer que o Brasil avermelhou, especialmente Brasília. Logo após o Balão do Aeroporto, o Portal de Boas-Vindas ou Feliz Viagem é dominado pelo tom vermelho. Entrando-se na cidade todas as placas de obras governamentais ostentam o vermelho, assim como as cadeiras do Estádio Nacional Manoel Garrincha, construído com o rico dinheirinho de todos os brasileiros, não importando a opção religiosa, política ou sexual. Detalhe: as cores oficiais do Distrito Federal são o branco, o verde e o amarelo.

 

                        Faço essa introdução para transcrever um trecho do Apresentar Armas:

 

SIMBOLISMO DAS CORES

Reserva

 

                               Sou leitor assíduo da Resenha do Centro de Comunicação Social do Exército. No dia 13 de novembro de 2009, chamou minha atenção a notícia sobe a Operação Laçador, que seria realizada na área do nosso antigo III Exército.

 

                               O pouco que a notícia me transmitiu, fez reviver em meu pensamento os tempos de aluno da ECEME, com três anos de exercícios na carta e no terreno. Era a eterna luta do Bem contra o Mal, dos Azuis contra os Vermelhos. Nós éramos sempre os Azuis e, no final, os Vermelhos acabavam fragorosamente derrotados. Hurra! Hurra! Hurra!

 

                               Lembro-me também de que, naquela Escola, eram estudados dois tipos de inimigo:

                               – o Invasor, oriundo do nosso continente; e

                               – o Agressor, para as guerras, principalmente na Europa.

 

                               Os alunos, com seus espíritos brincalhões, criaram mais um inimigo:

                               – o Instrutor, e eu, por motivos óbvios, não vou me alongar em explicações sobre ele.

 

                               Na Operação Laçador, não encontrei a luta entre o Bem e o Mal com os nomes de Azuis e Vermelhos, mas, surpreendentemente para mim, a guerra era entre o país Verde (o nosso) e o país Amarelo (o inimigo).

 

                               O Verde e o Amarelo são nossas cores nacionais!!!

 

                               A luta entre as nossas cores nacionais, isto é, entre brasileiros, pode, mas contra os Vermelhos não pode.

 

                               Vejo aí o ranço de um grande preconceito político que chegou a interferir até na montagem do tema de uma manobra do Exército.

 

                               Diante desse caleidoscópio colorido, acabei dando o nome para um quarto inimigo, que merece ser estudado em todas as nossas Escolas Militares:

 

O Impostor

 

                               Pelos nossos melhores dicionários, o Aurélio e o Houaiss, a palavra Impostor significa: embusteiro; mentiroso; hipócrita; soberbo; vaidoso; enganador; trapaceiro; fraudador; falso; dissimulado.

 

                               Esse é o pior inimigo que temos na atualidade. Ele se infiltrou no governo e lançou seus tentáculos em todas as direções. Passou a ser o dono da verdade em assuntos militares, sem nunca ter sido militar. Pensa que entende de estratégia militar; pensa que entende de tráfego aéreo. Pensa que entende de aviação de caça, de submarinos, de blindados, de instrução militar, de logística militar, de currículo das escolas militares, sem nunca resolver nenhum dos problemas existentes nessas áreas.

 

                               Quem entende desses assuntos são os militares e a eles deve caber a direção do Ministério da Defesa. Sem essa solução, não há salvação.

 

                        Outro trecho que escolhi, transcrito logo mais abaixo, atesta o quanto esse nobre escritor é dotado de brio, de vergonha na cara.

 

                        No ano de 2005, estourara o Escândalo do Mensalão e, no mês de agosto, seria conferida a Medalha do Pacificador a várias personalidades, dentre elas José Sarney Costa, do Brasil, Efraín Velasco Lugo, da República Bolivariana da Venezuela, Arnaldo Jabor, do Brasil, Nelson Azevedo Jobim, do Brasil, dentre outros.

 

                        A seguir, crônica de Emerson, Rogério de Oliveira, do jornal O Sul, de Porto Alegre, publicada no dia 4 de outubro de 2008 e constante do livro Apresentar Armas:

 

ATITUDES DIGNAS

 

                               Relembro um fato inédito que chamou a atenção dos presentes à cerimônia de entrega de medalhas, realizada a 25 de agosto de 2005, por ocasião das comemorações do Dia do Soldado, em Brasília. Com a presença de Ministros de Estado, Comandantes das Forças Armadas, convidados e familiares, foi entregue a Medalha do Pacificador. Depois do dispositivo pronto, um senhor idoso, apoiado em uma bengala, vestindo roupas escuras e gravata preta, portando em seu peito a Medalha do Pacificador, atravessou toda a frente do dispositivo até o local onde estava a espada do Duque de Caxias.

 

Medalha do Pacificador

 

                               Com lágrimas nos olhos, retirou a medalha do peito, elevou-a ao alto, à frente, à esquerda e à direita. Depois de beijá-la, colocou-a no seu antigo estojo e a depositou aos pés da coluna onde estava a espada de Caxias. Voltou, passou silenciosamente pela frente do dispositivo, indo sentar-se na arquibancada de cimento, diante do palanque.

 

                               Perguntado por que devolveu a medalha, respondeu que ela havia sido desonrada e desprezada, em flagrante desrespeito à figura do insigne Patrono do Exército, o Duque de Caxias, por já ter sido distribuída a pessoas que não mereciam tal honra. Disse mais, que, se a recebeu num ato solene, seria justo devolvê-la num ato solene.

 

                               Esse senhor idoso é o coronel de Infantaria Reformado/Inválido Cícero Novo Fornari, na época 74 anos, desses, 43 de serviços prestados ao Exército e à Pátria.

 

                        Preciso dizer mais?

 

                        Leitores, Sentido! Em continência ao Exército Brasileiro! Apresentar Armas! É assim que esse nobre veterano conclama-nos a todos, homens de bem, de brio, de vergonha na cara, a estarmos sempre do Lado Bom do Brasil, honrando suas Instituições Civis, suas Forças Armadas, Seu Exército.

 

                        Para reavivar em todos nós os sentimentos cívicos e patrióticos, apresento a Canção do Exército (originalmente Capitão Caçulo), de Theófilo de Magalhães e Alberto Augusto Martins, na interpretação da Banda de Música do BPEB - Batalhão de Polícia do Exército de Brasília.

 

 

 


Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas terça, 01 de agosto de 2017

ROSA RIBEIRO E A MUSA NEIDA SANTOS

ROSA RIBEIRO E A MUSA NEIDE SANTOS

(Publicada em 17.06.2013)

 

Raimundo Floriano 

 

                        Estão vendo essa linda Pétala Negra, sorriso radiante, dentes ebúrneos, lábios grossos e sensuais, parecendo próprios para serem beijados, como de fato o são, como de fato ela o deseja, anel de brilhante, brincos de ouro e pérolas?

 

                        Essa joia preciosa é a Cleneide Maria Ramos dos Santos, mais conhecida no meio forrozeiro como Neide, a Madre Superiora Neide do Convento da Igreja Sertaneja do Recife, nomeada diretamente pelo Papa Berto, em cujo Palácio Pontifício exerce sua missão clerical.

 

                        Madre Neide é a maior agitadora cultural pernambucana e está entrosada com os grandes astros nordestinos no âmbito literomusical, fazendo-se presente em todos os acontecimentos artísticos por eles estrelados, com os quais registra o momento para a posteridade:

 

Com Júnior Vieira, Santanna, O Cantador, Chico César e Irah Caldeira

 

Com Jessier Quirino, Maciel Melo, Xico Bizerra e Dominguinhos

 

Com Elba Ramalho, Fábio Passa Disco, Papa Berto e Capa da revista Cabras

 

                        O que mais caracteriza a Neide é esse sorriso esfuziante e avassalador, aliado a uma simpatia conquistadora de corações e mentes.

 

                        Conheci-a na festa de minha posse na Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, no Recife, tendo como Patrona a cantora Elba Ramalho que, no ato, deu show grátis de hora e meia. A mim apresentada pelo amigo escritor Papa Berto, editor do Jornal da Besta Fubana, que hoje preside a Academia, Neide logo se familiarizou comigo, Veroni, minha mulher, e Mara, nossa caçula, auxiliando no desencadear da solenidade e pondo-nos em contato com os muitos artistas, músicos e compositores que enriqueceram aquela inesquecível noite.

 

                        Essa amizade com a Neide só trouxe proveitos para mim. Desde então, tenho-me valido dela para completar minha coleção discográfica de Forró, principalmente no que se refere aos inúmeros cantores que conheci em minha posse. Ela os procura pessoalmente, pede, compra, copia, enfim, faz de tudo para atender-me, jamais me cobrando um centavo sequer.

 

                        Pois agora, essa Pétala Negra de primeira grandeza, apeia-se de seu altíssimo pedestal, produz-se com esmero e posta sua fotografia com as Pétalas do Rosa no Facebook, em divulgação espontânea, isso tudo sem me pedir a remuneração, o cachê pelo serviço prestado! Não é a glória para Seu Rosa Ribeiro, meu pai? Seus 15 minutos de fama?

 

                        O livrinho, com 104 páginas, e fartamente ilustrado, nasceu de uma vontade minha de homenagear meu pai nos 40 anos de seu falecimento, ocorrido a 28 de maio de 1973. Antes de fixar a quantidade de exemplares da edição, procurei contabilizar a reduzida clientela para a qual se destinaria, eis que seu assunto não era de interesse geral, como em meus trabalhos anteriores.

 

                        Fiz um lançamento diferente, indo, sem aviso prévio, à casa de cada leitor escolhido. Primeiramente, selecionei, dentre entre os 850 endereços que tenho cadastrados, 353, todos de parentes, demais amigos, 24 confrades fubânicos e pessoas bem chegadas a nosso círculo familiar, quase esgotando a edição, que estabeleci em 400 unidades.

 

                        Aos escritores e artistas que sempre me agraciaram com seus trabalhos, os exemplares seguiram como cortesia. Aos fiéis leitores que, ao longo do tempo, me vêm prestigiando em minhas ousadias literárias, e a meus familiares, solicitei pequena ajuda para recuperar os gastos de produção, conforme papeleta anexada ao livro, fixando o quantum e indicando meus dados bancários para depósito.

 

                        Do total despendido com a gráfica a remessa, R$7.500,00, salvei R$3.600,00. Houve prejuízo? – Alguns perguntarão. E eu respondo que não. A diferença a menor de R$3.900,00 compensa minha satisfação de ter mais um livro em meu currículo. E só quem já experimentou a sensação de lançar um livro pode avaliar a extensão de sua magnitude.

 

                        No domingo passado, fui convidado por membro ANE - Diretoria da Associação Nacional de Escritores a nela filiar-me. Se, com 5 livros publicados, sou reconhecido como merecedor de pertencer àquela coletividade, meus amigos, parentes e conterrâneos poderão, agora, enfunar o peito e dizer: – O Raimundo Floriano é um escritor brasileiro!

 

                        A experiência também teve seus réditos, ao orientar-me no lançamento dos próximos, Memorial Balsense, Caindo na Gandaia e Albuquerques do Sul do Maranhão, no quais estou trabalhando com afinco, devendo sair o primeiro, com a Graça de Deus, dentro de, no máximo, dois anos, quando você se cansarem das Pétalas.

 

                        Mas deixemos de leriado e voltemos a falar em nossa Pétala Negra, que tanto cartaz deu a meu livrinho, proporcionando a meu pai, Seu Rosa Ribeiro, os decantados 15 minutos de fama, e isso pelas ondas internáuticas.

 

A Pétala Negra em relaxamento

 

                        Como se viu na foto acima, Madre Neide é mais ela! É autêntica! É íntegra! Há poucos dias, um facebookiano a chamou de morena. Pra quê? Ela quase soltou os cachorros em cima dele: – Dobre a língua, sou negra! Que papo é esse?

 

                        Também no Facebook, de brincadeira, Fábio Passa Disco afirmou que, se ficasse algum dia sem mulher, se amigaria com a Neide. Imediatamente, eu rebati informando-lhe: – Essa nêga já tem dono! E ela retrucou, na lata: – Dono, não! Sou escrava de vários “Senhores”.

 

                        Pronto! Eis a chave do mistério! Disse pouco e disse tudo! Sua afirmação tem o significado de que vários “senhores” cativaram seu coração. Essa cabroeira, constituída por todos nós, colunistas, leitores e comentarista fubânicos, tem, igualmente, seus corações cativados por nossa querida Musa.

 

                        Prova disso é que eu, não muito desinteressadamente, já me atrelei a tão rara preciosidade de ser humano, o que se comprova nestes dois mais belos sorrisos de toda a Nação Nordestina e Forrozeira:

 

Cardeal Raimundo Floriano e Madre Superiora Neide

 

                        Como diziam os comediantes de antigamente, vamos botar música na conversa. Em homenagem a essa joia lapidada, aqui vai o samba Ninguém Tasca (O Gavião), de Mário Pereira e João Quadrado, gravação de Marinho da Muda para o Carnaval de 1973.

 

 


Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas segunda, 31 de julho de 2017

SARGENTOS CASTELLO BRANCO E AGAPENOR

SARGENTOS CASTELLO BRANCO E AGAPENOR

(Publicada no dia 03.06.2013)

Raimundo Floriano

 

Pelotão da Saudade/2013: Acervo veterano Paulo Irineu

 

                        A foto acima registra o Pelotão da Saudade, formado por veteranos do BPEB - Batalhão de Polícia do Exército de Brasília, do qual sou um dos fundadores, nas comemorações de seu 53º Aniversário, ocorrido a 13 de maio, com a festa antecipada para as 20h00 do dia 9.

 

                        Compareceram veteranos de São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Triângulo Mineiro, além dos residentes aqui em Brasília e entorno. Formamos um contingente de aproximadamente 150 elementos, oriundos de turmas diferentes, mas irmanados todos no sentimento que nos une, como se todos nos conhecêssemos uns aos outros, dentro do espírito que nos norteia desde quando pela vez primeira pusemos o pé no pátio daquele quartel: Uma vez PE, sempre PE.

 

                        Nas reminiscências, duas figuras notáveis se faziam presentes nas lembranças da maioria, os Sargentos Castello Branco e Agapenor, que não é de meu tempo. Deve ter incorporado ou vindo de outra unidade após minha baixa, ocorrida em 1967. Já o Castello é meu velho conhecido, veio transferido da PE do Rio de Janeiro e hoje faz parte de meu círculo de amizades, não só pessoal, como no Orkut e no Facebook.

 

                        Desde 1967, eu perdera o contato com o Castello Branco, e só a maravilha da Internet nos colocou novamente em sintonia.

 

                        No ano de 2010, quando o Batalhão comemorou o 50º Aniversário, consegui formar um Pelotão de cerca de 50 amigos veteranos, vindos de diversas partes do Brasil, no meio deles, acompanhado de uma filha, o Castello, residente na cidade paraense de Itaituba. E foi então que pude avaliar sua personalidade, pois mal nos cruzávamos no serviço ativo, ele numa Companhia de Polícia, e eu na Companhia de Comando e Serviços.

 

                        É um prefeito cavalheiro, de educação esmerada, fino no trato, uma moça, como se costuma dizer ao elogiarem-se as lhanas qualidades de alguém. Mostrou que, no cumprimento do dever, seguia os regulamentos disciplinares e cumpria as atribuições pertinentes a sua graduação de Sargento do Exército Brasileiro. Por outro lado, como cidadão, exibe no presente a formação que recebeu de seus pais, confirmando aquilo que aprendemos no labutar com os recrutas ao se incorporarem ao Exército Brasileiro: o bom filho sempre será um bom soldado!

                        No dia 20 de maio, publiquei aqui em minha coluna a matéria Veteranos da 6ª Companhia de Guarda, quando fiz menção a três livros escritos alguns deles, dentre os quais este, que volto a focalizar:

 

 

                        Seu autor, Luiz Alberto Rodrigues, goiano de Morrinhos, serviu no BPEB na Incorporação 1969/1970, concluiu o ginasial durante o serviço ativo, foi Cabo e, após a baixa, formou-se em Engenharia, pela Universidade Federal de Uberlândia. Entre as diversas funções públicas e cargos eletivos que exerceu, foi Deputado Federal Constituinte, eleito em 1986. Além disso tudo, traz o BPEB, o Exército e a Nação Brasileira bem incrustados no fundo do coração.

 

                        Nesse livro, além de fazer-nos relembrar os primeiros tempos da rotina da caserna, ele traça dois irretocáveis perfis dos militares que mais povoam as lembranças da maioria dos veteranos, ambos acima citados. Com sua autorização e também a do Castello – não consegui comunicar-me com o Agapenor –, aqui vou transcrevê-los, considerando os textos um primor de homenagem a esses velhos camaradas.

 

Castello Branco: Acervo Facebook

 

SARGENTO CASTELLO BRANCO

 

                        O Sargento Castello Branco, segundo ele proveniente de tronco genealógico diferente dos Casello Branco do general-presidente, era branco, pele alva, cabelos lisos pretos, penteados com apoio de brilhantina. No visual, demonstrava dificuldade para manter o peso. Tinha cintura arredondada e o corpo volumetricamente desproporcional às pernas, que eram voltadas para dentro, daquelas cujos joelhos se roçam quando a pessoa caminha. Era especialmente vaidoso e andava sempre bem arrumado e janotinha. Apresentava elegância formal de pessoa bem-educada... Falavam na Companhia que ele era especialista em explosivos.

 

                        Conversava em voz baixa, em diálogos com interlocutor próximo e, para comandar, elevava a forçava o tom de voz, destacando, então, a clara dificuldade que ele tinha de pronunciar as consoantes, por ser portador de asafia acentuada. Seu comando para o Pelotão assumir a clássica posição de sentido soava exatamente assim: – Elotão... entiiidooo! O comando de meia-volta volver! Saía como se segue: – Elotão... eia olllltaaa... ollveerr...

 

                        Era, deliberadamente, mau, dentro das regras do jogo, e não alisava ninguém. Nunca perdia a chance de fazer ironia com quem marcava bobeira. Tinha agudo senso de observação, sabendo notar quem estava viajando nos fins de semana sem a indispensável Guia de Licença, o documento oficial assinado pelo Comandante do Batalhão, fixando o período e autorizando a viagem. O Sargento Castello cobrava pessoalmente informações desses soldados espertos e, diante de contradições, avisava:

 

                        – Superior não erra. Superior eventualmente se engana. Tome muito cuidado, soldado, pois estou de olho em você!

 

                        Com o Pelotão em forma, na sua maneira característica de emitir os fonemas, dava instruções de como usar o chuveiro, onde os soldados tomavam banho em grupo:

 

                        – Eu filho, e o abonete air no anheiro, uidado ara egar ele no chão. Agacha com a unda unto da arede, se não a truta oadora ode aparecer e... né?

 

                        Nas noites em que estava de Sargento de Dia, gostava de jogar xadrez. Era jogador de nível apenas razoável. O melhor jogador da Companhia, com quem eu de vez em quando disputava e perdia partidas, era o Soldado Godoy, que era muito magro, tinha o rosto levemente encovado, queixo proeminente e apresentava rugas precoces na face. Seu apelido era “Velho”.

 

                        Godoy fez o CFC – Curso de Formação de Cabos –, tendo sido aprovado e, por ser conhecida sua inteligência e habilidade no jogo de xadrez, era convidado como voluntário para jogar com o Sargento Castello Branco. Lembro-me de certa vez em que eu estava assistindo a uma partida entre os dois, na sala do Sargenteante, pouco antes do Pernoite. Godoy, brilhantemente, montou uma situação para dar o xeque-mate, momento a partir do qual começou a mover as peças de maneira bisonha. O Sargento, que tinha percebido a própria dificuldade anterior, não se fez de rogado, ganhando as posições gentilmente oferecidas pelo Godoy, enquanto dizia:

 

                        – Ão é a elhor ogada! As e ocê er assim... udo bem!

 

                        Terminado o jogo, longe, do Sargento, perguntei ao Godoy por que ele tinha entregado a partida. Ele respondeu sorrido:

 

                        – Rodrigues, eu conheço o Sargento Castello Branco. Se eu ganhasse esse jogo, ele ia arranjar uma maneira de me sacanear. E eu não sou bobo. Ele me convida para jogar é para eu perder!

 

Agapenor: Arte de Juarez Leite

 

A FERA: SARGENTO AGAPENOR

 

                                    Na Primeira Companhia de Polícia, o Sargento Agapenor era personalidade marcante e, a seu modo, carismática. Era pardavasco, tinha cabelos crespos e bigode grande descendo pelos lados da boca, quase tipo mexicano, mas aparado embaixo. Sua altura era em torno de um metro e noventa centímetros. Era muito forte. Tinha braços e peitorais estruturados, embora não possuísse corpo modelado de atleta. Estava um pouco para gordo, mas nas instruções demonstrava ótimo preparo físico. Tinha ombros largos, barriga forçando um pouco a jaqueta da farda, levemente alta por inteiro, administrada à custa de muita ginástica abdominal, por um lado, e de vodca com peppermint e ração de tira-gosto por outro. Adorava comer bem e muito. Era exigente com os companheiros de cozinha e garçons. Em operações militares pela Cia Tar no Norte do País, sugeria cardápios aos responsáveis pelo fornecimento da refeição para a Tropa, além de comparecer ao local reservado onde era servida a melhor cachaça disponível em Araguaína, da qual ele bebia dose generosa antes de “avançar rancho”.

 

                        Quando no início da incorporação, na apresentação inicial dos Sargentos feita pelo Capitão aos conscritos, o Sargento Agapenor foi indicado sobriamente como um bom instrutor. Assim que o Capitão lhe passou o comando e se retirou, iniciamos o Período de Adaptação, com a fala introdutória feita no seu vozeirão de barítono, que ecoava longe e impunha respeito. Iniciou sua autoapresentação com uma definição pessoal que foi comprovada ao longo do ano inteiro que se seguiu. Eis o que disse, começando a conversa:

 

                        – Eu sou a fera... Sargento Agapenor! E continuou: – Podem perguntar a meu respeito para aqueles Soldados que ajudei a formar. Eu sou inesquecível!

 

                        O Sargento Agapenor não só era forte: parecia muito forte. Quando comandava Patrulha em Brasília, era uma figura aterradora para os soldados alterados. Parecia ter três metros de altura por dois de largura. Vestia-se no modelo alinhado da PE. Farda bem passada e cortada justa, perna da calça virada acima do coturno, pistola Colt 45, que usava no estilo caubói, deixando o coldre descer ao lado da perna, por colocar o cinto meio folgado, em posição diagonal na cintura, mais alto do lado esquerdo do corpo e mais baixo do lado direito. Na parte final do coldre, duas tiras de couro fino amarravam-no à perna, logo acima do joelho.

 

                        Parecia pronto para um duelo cinematográfico no estilo Velho Oeste norte-americano e usava o capacete com o emblema da PE na testa, seguro justo no queixo pela barbela, dando destaque para o seu olhar de homem mau. Nessas situações, caminhava com os braços meio abertos, levemente afastados do corpo, posição natural das pessoas que fazem muito exercício físico e ficam com as asas das costas bastante definidas, como os halterofilistas. Presenciá-lo liderando uma Patrulha urbana era um acontecimento único; estar com ele numa dessas tarefas, um risco permanente.

 

                        Devo dizer, no entanto, que, com esse jeito meio fanfarrão e ameaçadoramente truculento, o Sargento Agapenor ia aos poucos conquistando a simpatia de alguns soldados, enquanto provocava fúria em outros. Na contagem final, porém, havia mais adeptos que opositores.

 

                        Ele era valente e contava prosa. Instrutor duro, fazia questão de mostrar isso todo dia. Não tinha perdão: exercício comandado por ele era de lascar. Adorava puxar treinamento simulando ataque ao inimigo, com os soldados sendo obrigados a correr pequena distância e em seguida dar um mergulho no chão, independentemente do tipo de vegetação do campo. Chamava esse treino de corre-e-deita. O avanço do treinamento seguia com a repetição do exercício e o Sargento Agapenor comandando:

 

                        – Soldados, de pé, avançar... Deitados, rastejando, rápido... De pé, correndo... Deitados, rastejando, cabeça baixa, bem junto ao chão... De pé, correndo, correndo... Deitados, rastejando...

 

                        Se algum soldado tentava embromar, não se deitando e rastejando direito, logo o Sargento estava por perto e, sem mais nem menos, pisava nos costas do enrolador, colocando no pisão todo o peso do seu corpanzil e gritando:

 

                        – Eu estou dizendo deitadoooo! Assim bem junto ao chão! Tá vendo! Não é agachado, não! É deitadoooo e rastejando... Se for preciso, eu venho te ensinar outra vez! Entendido?

 

                        Quando aplicava o corre-e-deita, o Sargento Agapenor, sem saber, recebia insultos extensivos à Senhora Sua Mãe. Era xingado em voz baixa, muito baixa, quase num sussurro, evidentemente.

 

                        Ao referir-me aqui às mães dos sargentos, quero esclarecer que nós, soldados da PE, sempre consideramos os sargentos idênticos aos juízes de futebol, quando em campo: têm duas progenitoras, a primeira, a santa e respeitável mãe verdadeira, e a outra, uma “mãe de reserva”, para ser xingada. Portanto, não havia nenhuma intenção de ofensa pessoal nos xingamentos, que eram, digamos, institucionais e silenciosos.

 

                        O Soldado Righi, natural de Belo Horizonte, era magro e legítimo descendente de italianos no nome, no tipo físico e no temperamento irritadiço. Bom companheiro, Righi ficava revoltado com esse tipo de treinamento e, como gostava de xingar para desabafar, o fazia entre dentes, sussurrando e cuspindo raiva. Quando eu estava rastejando a seu lado, não conseguia deixar de rir das referências ao Sargento. Certa vez, Agapenor percebeu minha alegria e perguntou alto:

 

                        – Ô Rodrigues, tá rindo de quê? Tem algum palhaço por aqui? Tá achando pouco?

 

                        Fiquei sério e respondi, para não piorar a situação:

 

                        – É que nós caímos de mau jeito, e achei graça, sargento!

 

                        Nas Patrulhas rotineiras, era utilizado o cassetete antidistúrbio, um porrete de setenta e oito centímetros de comprimento e cinco de diâmetro, confeccionado com o cerne maciço da popular madeira de lei chamada jacarandá. O cassetete tinha excelente empunhadura e um laço de corda fina para envolver o pulso e evitar sua queda, aumentando o alcance quando necessário. O giro em velocidade ara feito soltando o cassetete preso ao pulso pela alça e batendo no oponente em fuga. Servia para caçar soldados desordeiros. Nas incertas, o Sargento Agapenor dizia:

 

                        – Cassetete não é santo, mas faz milagres! Se for preciso, senta o jacarandá neles!

 

********************

 

                        Esta matéria será lida por muitos veteranos, o que me leva postar aqui o escudo do BPEB e sua canção. Inicialmente, o escudo:

  

                        A Canção do BPEB foi composta pelo então Tenente Paulo Roberto Yog de Miranda Uchôa, hoje General da Reserva, que participou da Festa do 53º Aniversário, aqui interpretada pela Banda de Música daquele Batalhão:

  

****** 

Depois que esta matéria foi ao ar, em 2013, uma neta do Sargento Agapenor dela tomou conhecimento e nos enviou esta foto de seu avô, quando ainda era Cabo e servindo no 6º BC, verdadeira relíquia:

 

 


Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas domingo, 30 de julho de 2017

TRÊS SANFONEIROS BALSENSES: MESTRE RIBA, EDWALDO E ANTISTA

TRÊS SANFONEIROS BALSENSES: MESTRE RIBA, EDWALDO E ANTISTA

Raimundo Floriano 

 

Na realidade, a lista de sanfoneiros balsenses é extensa. Saló, com sua 8 baixos; Padre Chofer; Velho do Riba; Chico Deodato, o Chico Bode, e seu irmão Raimundo Deodato, também nos 8 baixos; Olavo; Passarinho, seu fole e seu gogó de ouro, que se ouvia, nas madrugadas, a quilômetros de distância; Raimundo Leite, já nos 120 baixos... Nem todos eram naturais do município, mas foi ali que exerceram essa nobre profissão.

 

Em 2003, a saudosa amiga Edilza Virgínia, agitadora cultural de Balsas, organizou o famoso encontro dos 10 sanfoneiros balsenses então em atividade, o que ficou registrado nesta foto:

 

De pé: Marciano, Luiz Fininho, Pé de Ferro, Sebastião Lapa e Estevam

Sentados: Raimundo Flores, Zé Baixinho, Mestre Riba, Pedro Baixinho e Evangelista

 

Escolhi os três acima citados, por terem deixado pequena amostra de seu trabalho registrada em disco. Para a obtenção de seus raríssimos dados biográficos, contei com o auxílio da amiga Maria do Socorro Vieira Ferreira, minha Assessora Cultural em Balsas.

 

MESTRE RIBA DO ACORDEON

  

 

José de Ribamar Pereira de Sá, o Mestre Riba do Acordeon, também conhecido como Riba do Velho, nasceu no Loreto (MA), no dia 21 de maio de 1951. Era filho do sanfoneiro Jacinto Pereira Rocha, o Velho, e Maria de Lourdes Pereira de Sá. Foi casado com Magnólia Ribeiro, com quem teve o filho Vilson Ribeiro de Sá. E, em segundas núpcias, com Sônia Maria dos Santos Araújo, com quem teve os filhos Marilourdes do Santos Araújo Sá, Cleidemar dos Santos Araújo Sá, José de Ribamar dos Santos Araújo Sá e Lidiamar dos Santos Araújo Sá. Faleceu em Balsas, no dia 7 de julho de 2016.

 

Em Balsas, exerceu a profissão de sanfoneiro individualmente ou participando de conjuntos como a Banda FM, do Félix Mathias, com quem tocamos muitos carnavais no Clube Recreativo Balsense. Nos últimos anos, era que quem animava as retretas na Matriz de Santo Antônio, após o Terço.

 

A seguir, um flagrante colhido na Boate Popular, ZBM de nosso querido Balsas:

 

 Mestre Riba deixou, para a posteridade, este CD, do qual extraí uma faixa, que será apresentada mais adiante:

 

 

EDWALDO, O MOLEQUE DO ACORDEON

  

Edwaldo Gerônimo da Silva, o Moleque do Acordeon, cognome que lhe foi dado pelo Mestre Leonizard Braúna, nasceu em Pernambuco, em dia e ano não sabidos, vindo para Balsas em meados dos Anos 1970, para trabalhar na Companhia de Mecanização Agrícola do Maranhão - CIMEC/MA. Foi casado com uma filha do popular Pedro Doguinha, tendo falecido em São Domingos do Azeitão (MA), em data também ignorada.

 

Participou também da Banda FM, do Félix Mathias. A seguir, um flagrante nosso, no Carnaval de 1975, juntamente do o Mestre Leonizard:

 

 

Edvaldo participou da coletânea Leonizard/Augusto Braúna, da qual extraí a faixa que será mostrada ao final:

 

 

 

ANTISTA DO ACORDEON

  

Waldemar Moura de Carvalho, o Antista do Acordeon, nasceu em Cristino Castro (PI), no dia 20 de abril de 1949, filho de João Teixeira de Carvalho e Anália de Moura Ferreira. É casado com Eva Maria de Sousa Carvalho, sendo seus filhos João Francisco, Antístenes, Milena e Gladson. Tem exercido a profissão de sanfoneiro nos Estados do Maranhão, Piauí, Goiás e Tocantins.

 

Grande amigo de Augusto Braúna, residente em Serrinha (BA), vez em quando aparece lá, como neste flagrante, nas comemorações dos 60 anos do Augusto, em 2007:

  

Antista também registrou seu trabalho em disco, do qual pincei a faixa que lhes apresento a seguir.

 

 

Conforme prometido, aqui vai pequena amostra do trabalho desses grandes artistas:

 

O Canto da Ema, rojão de João do Vale, Alventino Cavalcante e Ayres Viana, com Mestre Riba do Acordeon e seu Trio Toque de Fole:

 

Esquentando os Dedos, samba de Edwaldo, o Moleque do Acordeon, que o interpreta:

 

Aproveita, Gente, arrasta-pé de Onildo de Almeida, com Antista, no acordeon e no vocal:

 

 


Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas sábado, 29 de julho de 2017

FUTEBOL CANDANGO

FUTEBOL CANDANGO

Publicada em 08.04.2013)

Raimundo Floriano

 

Estádio Nacional Mané Garrincha: a maquete e como se encontrava no dia 28.02.13

 

                        O Estádio Nacional Mané Garrincha será inaugurado no próximo dia 21 de abril, data em que se comemorará o 53º Aniversário de Brasília. Trazendo dois times do Rio ou de São Paulo, a festa será de casa cheia. Ainda neste ano, haverá a Copa das Confederações e, em 2014, a Copa do Mundo, o que garante presença maciça de público.

 

                        Mas, e depois? Segundo o Estadão, a obra consumirá 1,5 bilhão de reais, tudo saído dos cofres públicos. E tudo isso para que se transforme, apagadas a luzes desses eventos, num gigantesco mausoléu. Mausoléu vazio, sem despojos dentro, é bom que se diga.

 

                         A carta acima foi publicada na edição de 04.02.2013 do Correio Braziliense, o maior jornal da Capital da República. A opinião do leitor Cezar Mariano coincide com a de todos os que verdadeiramente amam o esporte desta cidade. É um sonho pois, se assim procederem as autoridades governamentais, correrão o risco de verem as arquibancadas no jogo de estreia entregue às moscas. E isso por culpa única e exclusiva delas próprias que, nestes anos todos, nada fizeram para o fortalecimento do Futebol Brasiliense.

 

                        No diz 7 de fevereiro passado, realizou-se o primeiro clássico do ano no Distrito Federal. Jogaram os dois times candangos de maior visibilidade: Gama, na 3ª Divisão e Brasiliense na 2ª Divisão do Brasileirão. O embate foi amplamente divulgado pela imprensa, louvado, badalado, mas o público a comparecer ao Bezerrão se revelou decepcionante, frustrante: 9.489 pagantes. Em população acima de 2 e meio milhões de habitantes, isso é pingo d’água no mar.

 

                        Imaginem como seria bem diferente o cenário hoje se, por exemplo, a Caixa Econômica Federal viesse patrocinando o Gama, como faz com o Corinthians; e a Petrobrás, por sua vez, patrocinando o Brasiliense, com faz o Flamengo!!! Tendo recursos suficientes para contratar bons jogadores – e não aqueles famosos já pendurando as chuteiras –, é claro que nossos estádios viveriam tempos de capacidade superlotada.

 

                        Em passado recente, isso até acontecia, nas Satélites, quando o Gama disputava a Primeirona e recebia grandes times de fora: público lotando os estádios para torcer contra o time da casa, contra o próprio lar. Assim, não dá!

 

                        Para demonstrar o descaso com que é tratado o Futebol Candango, vou reproduzir a seguir relato que escrevi em maio de 2004.

 

                        “Domingo último, 16.05.04, reservei boa parte da manhã para assistir, na TV, ao clássico brasiliense Sobradinho x Ceilândia. Por dois motivos: prestigiar a Record, emissora que o transmitia, e apreciar a atuação do goleiro ceilandense, o famoso Serjão.

 

                        Para quem não o conhece, esclareço que esse goleiro-cartola – é o dono do time – tem o mesmo porte atlético do ator Fúlvio Estefanini, aquele que fez o prefeito na novela Chocolate com Pimenta, necessitando, urgentemente, de uma cirurgia que lhe reduza o perímetro – abdominal, claro!

 

Serjão: 153 kg de garra e eficiência

 

                        Fui parcialmente recompensado. O Serjão é um show. Realizou defesas espetaculares e, numa delas, ao voar no canto para interceptar perigosíssima bola, foi seriamente contundido, mas nem por isso seu rendimento diminuiu. O Sobradinho saiu na frente, mas o Ceilândia empatou e, logo em seguida, virou o placar: 2x1.

 

                        Minutos depois, um jogador ceilandensde foi expulso, dando ao Sobradinho a chance de, com um homem a mais, igualar a contagem. Nos instantes finais do combate, o Serjão, ao cometer uma falta e receber cartão amarelo, não se conteve nem se conformou, dando um bico na bola, mandando-a para as arquibancadas. Cartão vermelho!

 

                        E, devido à confusão que se formou, mais dois minutos de acréscimo! O jogo ficou eletrizante, mesmo para quem, como eu, não torcia por qualquer dos dois times. Será que o Ceilândia, com dois homens a menos e um goleiro improvisado, resistiria à pressão do Sobradinho? Será que o Sobradinho iria se aproveitar dessa vantagem para reagir e modificar o resultado adverso?

 

                        Aí, aconteceu o inesperado: a emissora, sem qualquer explicação, cortou a imagem e passou a transmitir o segundo tempo de Ceará x Bahia. E nós, os coitados telespectadores, ficamos ali, inertes, com cara de tacho, como popularmente se diz. Salvou-nos o Correio Braziliense que, na segunda-feira, comentou a partida e confirmou a vitória do Ceilândia.”

 

                        Houve um tempo em que tínhamos um time que nos representava e disputava pau a pau com qualquer outro no Campeonato Brasileiro. Era financiado pelo CEUB, Centro Universitário de Brasília, do qual herdara o nome: CEUB Esporte Clube. Criado em 1968, teve suas atividades encerradas em 1976, deixando-nos boas recordações e muitas saudades.

 

                        Para relembrá-lo um pouco, aqui vai um recorte de jornal de seus tempos áureos:

  

                        Outro flagrante do CEUB, mostrando o total apoio do público nas arquibancadas:

  

                        Para completar essas lembranças, ouçamos o Hino do CEUB (Avante CEUB), de Ilber Mangla e Álvaro Guergolet, na interpretação Nivaldo Santos, gravado no ano de 1974:

 

 

 


Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas sexta, 28 de julho de 2017

MEUS SUBTENENTES: UM DELES CHEGOU LÁ!

MEUS SUBTENENTES: UM DELES CHEGOU LÁ!

(Publicada em 01.04.2013)

Raimundo Floriano

 

Subtenente: Arte de Juarez Leite

 

(O assunto é palpitante! De repente, não mais que de repente, sobressai, no Cenário Internacional, um Subtenente! Motivo pelo qual, repito esta matéria, com o acréscimo pertinente).

 

                        As piadas da caserna se repetem a cada ano, podendo ser adaptadas a qualquer tempo, espaço, posto ou graduação. O que vou fazer aqui não é contar mais uma, e sim lembrar grandes amigos dos velhos tempos, de quem não tenho notícia há mais de quatro décadas, desde que fui licenciado.

 

                         O Subtenente é militar escolado, traquejado, disciplinado e competente, qualidades sem as quais jamais alcançaria a mais alta graduação no âmbito das praças. Se o Capitão Comandante de Subunidade representa o pai da dos recrutas, o Subtenente, por ser mais vivido e mais experiente, poderia ser o avô, aquele sujeito bacana, compreensivo, que quebra qualquer galho. Nos três anos em que atuei como Furriel, Sargento que cuida da folha de pagamento dos praças, exerci minhas funções na Reserva – sala de trabalho do Subtenente e Almoxarifado da Companhia, cujo material emprestado só sai dali mediante cautela, uma espécie de recibo –, onde convivi com três excepcionais chefes, todos mineiros.

 

                        Na Companhia de Petrechos Pesados - 1, do 12º Regimento de Infantaria, em Belo Horizonte, MG, comecei, recém-saído da EsSA, com o Subtenente Bertucci – só me recordo do seu nome de guerra –, um ex-combatente, que atuou no Teatro de Operações na Itália. Logo em seguida, após sua promoção a 2º Tenente e transferência para outra Unidade, veio o Subtenente Assis Dias Brasil, Saco B – militar que, convocado para a guerra, chegou até a embarcar, mas, antes de chegar a destino, o conflito acabou –, que muito me ensinou para o bom desempenho de minhas atribuições profissionais e contribuiu sobremaneira na minha formação moral.

                       

                        Vou contar um caso envolvendo o Subtenente Bertucci. Foi no ano de 1958, quando o 12º Regimento de Infantaria, o Doze de Ouro, passava do sistema hipomóvel para o motorizado.

 

                         Vocês não avaliam o rebu que tocou nas Reservas dos Subtenentes, em especial nas Companhias de Petrechos Pesados - CPP, cujos morteiros e metralhadoras eram transportados nos lombos dos muares.

 

                        Na Reserva da CPP-1, não tínhamos tempo para dizer arroz. Deveríamos recolher, em curto espaço de tempo, todo o material a substituir, como carroças, reboques, cozinhas portáteis, selas, cangalhas, brides, cabrestos, rédeas, focinheiras, antolhos e o escambau, além dos mencionados muares. Tudo isso registrado minuciosamente, no Livro-Carga, ficando toda a operação sob o comando e a responsabilidade do Subtenente da Companhia, ou seja, do Subtenente Bertucci.

 

                        Esse, assoberbado com tantos afazeres, era constantemente interrompido por algum dos envolvidos na operação, trazendo-lhe problemas os mais diversos. Por isso, tomou uma atitude assaz acertada. Toda a vez que lhe aparecia qualquer desses enrolados, ele sustinha sua lengalenga, dando-lhe a terrível ordem: “TRAGA ISSO POR ESCRITO!” Não falhava, o sujeito saía, encontrava uma solução para o caso e nunca mais voltava à Reserva com mais outro.

                        Mas essa tática não funcionou com o Cabo Rufino, que labutava com os muares lá nas baias. Certo dia, ele chegou nervoso na Reserva e começou um interminável blablablá, interminável não, porque o Sub o cortou com a ordem: “ESCREVA ISSO!” O Cabo Rufino retirou-se, mas não demorou. Em pouco tempo, estava ele de volta com seu relato:

 

                        “PARTICIPO-VOS QUE O BURRO 45, VULGO BONIFÁCIO, ENTROU ALOPRADO NO NOSSO DORMITÓRIO, LÁ NAS CAVALARIÇAS, ZURRANDO E ESCOICEANDO, O QUE RESULTOU NA QUEBRA DE UM POTE DE BARRO E DE UMA MORINGA DO REFERIDO METAL.”

 

Pote e moringa

 

                        O Subtenente Brasil muito me orientou para o Exército e para a Vida. Era um estudioso da Língua Portuguesa, o que me fez também tomar gosto pela boa leitura e até a comprar o meu primeiro dicionário, um Aurélio, que me acompanhou de 1958 até janeiro de 1972, quando a Reforma Ortográfica acabou com o acento diferencial, tornando-o obsoleto.

 

                        A nossa Reserva era, portanto, uma sala de estudo, pois estávamos constantemente tirando as nossas dúvidas e as dos colegas que nos procuravam.  Dispúnhamos, para fornecimento ao pessoal escalado para serviço externo, de dois tipos de armas de cano curto: o revólver SMITH & WESSON e a pistola COLT, ambos de calibre 45.

 

                        Pois bem, eis que, senão quando, aparece-nos o Terceiro Sargento Baldomero, Ferrador, com esta preciosidade de cautela: “RESSEBÍ DA REZERVA DA CPP-1, PARA O SERVISSO DE PATRULHA NA ZBM, UM REVOLVER CIMITE OESSE, CALIBRE 45”.

 

                        Ao ler o documento, o Subtenente Brasil não conteve sua perplexidade e chamou o Sargento no saco:

 

                        – Sargento Baldomero, esta cautela está eivada de erros!

 

                        O Sargento tirou o corpo fora:

 

                        – Seu Sub, a culpa não é minha. Quem datilografou isso foi o Cabo Laurentino, eu só fiz assinar!

 

                        O Subtenente insistiu:

 

                        – Mas como é que você assina um documento sem ler antes? Os outros erros até que dão pra passar, mas este CIMITE está demais da conta!

 

                        Baldomero não se deu por achado:

 

                        – Pois é, Seu Sub, na hora eu até falei para o Laurentino: “Cabo Velho, esse CIMITE é com C cedilhado!”

 

Revólver Smith & Wesson, calibre 45

 

                        O terceiro foi o Subtenente Haroldo Batista, já na Polícia do Exército de Brasília. Um espelho para todos nós. Natural de Patos de Minas, bem mais novo que os já citados, atualizado, culto e bem-humorado, participava – sem perder a autoridade, nem quebrar a liturgia do cargo – de todas as brincadeiras e jogos no Alojamento e no Cassino dos Sargentos, quando estávamos aquartelados, de prontidão – e isso, no início dos anos 60 era mais comum que o período de normalidade. Árduos tempos.

 

                        Como os que prestaram o serviço militar devem saber, todo Cabo é “Cabo Velho” e todo Subtenente é “Seu Sub”. Na Aeronáutica, por exemplo, os Suboficiais são assim nomeados: Sub Bessa, Sub Pereira, Sub Martins, etc. Pois bem, o Subtenente Haroldo, que topava qualquer parada, qualquer contratempo, jamais admitiu que o chamassem de Sub. Não tenho notícia de outro que assim procedesse. E a exceção era para todos, do Comandante ao Corneteiro.

 

                        Se um subordinado desatento o chamasse de Sub, imediatamente ele o enquadrava: “Tome a posição de sentido para falar comigo.” E, em seguida, dava-lhe uma mijada daquelas. Se fosse um superior seu, aí sim, ele é que tomava a posição de sentido, se apresentava e inquiria: “Sub o quê, Meu Senhor? Subsolo, submarino, sub-raça? Eu Sou é Subtenente do Exército, de acordo com a lei!”

 

                        Desarmava qualquer cristão! 

 ACONTECEU NA EsSA

  

                        Para os que não serviram, vai ser difícil captar a sutileza do lance que ora narro. Por isso, achei de bom alvitre dar uma pequena explicação, antes de enfiar a cara no sucedido.

                         De acordo com os regulamentos militares, a tropa também faz continência ao deslocar-se, olhando à direita ou à esquerda, conforme o local em que esteja o oficial, quer seja Tenente ou Marechal. Deu pra entender? Então, prossigamos.

 

                        Na EsSA - Escola de Sargentos das Armas, a quantidade de oficiais transitando por suas ruas – ruas sim, porque a Escola é uma pequena cidade – é deveras marcante. E o aluno tem que ficar atento para prestar as honras, sob o risco de ter uma anotação desabonadora na sua ficha ou, no mínimo, levar uma mijada.

 

                        Certa manhã primaveril, lá ia o Aluno Abdala, na função de Chefe da Turma B-8, conduzindo a mencionada para a sala de aula. De repente, não mais que de repente, surge-lhe um superioríssimo, caminhando em sentido contrário. Então, o nosso herói emitiu o comando:

 

                        – Turma, sentido! Olhar à esqueeeeeerdá!

 

                        E já ia levar a mão à pala – só o que comanda é que faz a continência –, quando percebe ser a autoridade apenas um Subtenente. Mas o Abdala era esperto, sabia se virar, não acusou o golpe. Daí, lascou em alta voz:

 

                        – Turma, ultima foooooorma! Subtenente não tem direeeeeeitô!

 

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                        Bom, tudo o que relatei até agora se refere a Subtenentes Combatentes que, na carreira militar, após conquistar e graduação de 3º Sargento e fazer o Curso de Aperfeiçoamento, pode esperar sentado, calmamente, que as outras promoções virão somo sem falta: Segundo Sargento, Primeiro Sargent e Subtenente. Para isso, basta ter comportamento. No Quadro de Músicos, o buraco é mais embaixo, como se diz, por isso, estou vibrando com a seguinte notícia publicada no Estadão:

 

 

                        Pra começo de conversa, considero todo Músico um intelectual. Mais ainda, quando se trata de um Músico Militar, que precisa ralar muito, queimar as pestanas, estudar pra valer, visando a transpor cada degrau. De Soldado, estuda para sair Cabo; De Cabo, para 3º Sargento; de 3º Sargento, para 2º Sargento; de 2º Sargento, para 1º Sargento; de 1º Sargento, para Subtenente. Ao ser promovido a essa graduação – classificada como de Praça Especial –, o Música já é um Maestro perfeito e acabado, podendo reger orquestras em qualquer País do Globo Terrestre!

 

                        Sim, porque a Música é Linguagem Universal. Um Subtenente Musico brasileiro está apto a reger orquestra no Japão, Malásia ou Rússia, de primeira, sem conhecer os instrumentistas, que o obedecerão de imediato, se submeterão a sua regência, dada a Universalidade da Música.

 

                        Sem um poliglota, um multilíngue, nada mais apropriado que designar um Subtenente Músico para compor qualquer comissão internacional. No caso em exame, acho que o Subtenente epigrafado, era mais globe-trotter idiomático de toda a equipe. A Partitura, ou Notação Musical, é cosmopolita, e a Música é Arma Poderosa, que transpõe qualquer barreira, conquista o mais empederni coração, um Esperanto que deu certo, eis que, no Século XXI, é linguagem falada em todo o Planeta Terra.

 

                        Parabéns para esse valoroso Subtenente que, além de competente conquistador, mostrou garra, se esforçou, e ora vê recompensada toda sua dedicação ao estudo e ao saber!

 

 


Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas quinta, 27 de julho de 2017

MILLÔR FERNANDES E EU

MILLÔR FERNANDES E EU

(Publicada no dia 23.07.2012)

Raimundo Floriano

 

Millôr Fernandes

(Rio de Janeiro, 16.08.1923 – 27.03.2012)

 

                        Um dia, Millôr Fernandes me fez mundialmente famoso. Vou contar como é que foi.

 

                        Já tive oportunidade de narrar a história de meu cartão de visitas e dos motivos que me levaram a criá-lo. Como ele até hoje continua causando furor e espanto onde é exibido, não me acanho em, de quando em vez, voltar a mencionar o enorme sucesso obtido desde sua primeira edição em 1985.

 

                        A treze de junho de 1988, o humorista Millôr Fernandes agraciou-me com a publicação acima em sua coluna – abstraído o que não interessa ao aqui relatado – no Jornal do Brasil:

 

                        Em que pese a honrosa homenagem prestada pelo grande mestre e guru, não posso deixar de relembrar o verdadeiro festival de badalação em que se transformou aquele dia: as linhas telefônicas de minha área completamente congestionadas; chamadas do país e do exterior afrontando os fusos horários; a imprensa escrita, falada e televisada implorando-me a esmola de uma entrevista.

 

                        Dois dias depois, o Jornal do Brasil repetia a dose:

 

O rapsodo Raimundo

Funcionário fica famoso

por causa de cartão

Ricardo Miranda Filho

 

BRASÍLIAUm contador de 52 anos, funcionário da liderança do PTB na Câmara dos Deputados, saiu esta semana do anonimato para ser conhecido nacionalmente. É o maranhense Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, que vem recebendo telefonemas em sua residência, na Superquadra Sul 416, “de pessoas de todo o Brasil”, não por gostar de briga de galos, mas por ter tido o seu incomum cartão de apresentação publicado na coluna do Millôr, no JORNAL DO BRASIL.

 

                        Em seu cartão, Raimundo se apresenta como “Amanuense, Cinesíforo, Alectoromaquista, Melômano, Banjoísta, Propedeuta, Íncubo, Rapsodo, Diascevasta, Partenomante, Cruciverbista, Parafrasta, Pessarista, Calemburista, Fescenino e Decifrador”, além de “Compadre de Dona Carmem”. “Não pude escrever um livro, escrevi um cartão”, é a justificativa de Raimundo para a sua iniciativa de mandar imprimir os cartões. O cartão “já foi parar até nas mãos do presidente José Sarney”, lembra com orgulho a esposa Veroni Albuquerque e Silva, depois de explicar que “Sarney foi amigo de infância de José Albuquerque, irmão de Raimundo”.

                        Brincadeiras com amigos – Raimundo contou que a idéia de fazer os cartões surgiu há dois anos como forma de “gozar com os amigos”. Na primeira impressão durante a época de ouro do Plano Cruzado, ele, por ser maranhense, de Balsas, se apresentava como “conterrâneo do homem”. “Naquele tempo ficava bem, mas aí houve um revertério na política econômica e então resolvi tirar a frase, pouco apropriada depois da queda da popularidade do presidente”, explicou o “Compadre de Dona Carmem.”

                        O maranhense faz questão de explicar que a frase “compadre de dona Carmem” se deve a uma comadre baiana da família, moradora da cidade satélite de Taguatinga, no Distrito Federal, e não à mulher do presidente da Assembléia Legislativa da Bahia durante o governo João Durval, “que se tornou conhecida quando o Diário Oficial do Estado publicou, inadvertidamente, seu nome como madrinha das contratações”, conforme explicou Veroni, esposa de Raimundo.

                        “O Millôr provocou uma reação na minha casa que ele não imagina”, contava o “amanuense” ontem, depois da publicação do cartão com endereço e telefone. O aparelho não parava de tocar, com várias pessoas curiosas e interessadas em conferir a existência do maranhense misterioso.

                        Em seu cartão, Raimundo se apresenta, enumerando 16 vocábulos pouco usados e escolhidos “a dedo”. Ele se intitula, por exemplo, um melômano (quem tem paixão por música); calemburista (aquele que faz trocadilho); partenomante (arte de adivinhar se a mulher é virgem ou não); cruciverbista (aquele que faz palavras cruzadas); cinesíforo (motorista); amanuense (escrivão) e alectoromaquista (quem gosta de briga de galo). Além dessas qualificações, ele ainda afirma ser colecionador de discos e também que gosta de tocar trombone.

 

                        Na madrugada seguinte, sou acordado por minha filha Elba, de cinco anos, a secretária eletrônica lá de casa:

                        – Pai, tem um homem falando esquisito no telefone!

 

                        Atendi. Era da Bielorrússia. O cabra do outro lado do mundo se esforçava, esbravejava, gaguejava, gemia, berrava que nem porco na faca. Tentei estabelecer uma conversação em Inglês, mas o indivíduo não morou no assunto e ficou ainda mais nervoso. Passados uns quinze minutos sem entendimento, sem que eu pescasse palavra sequer daquele babélico interlocutor, a ligação foi interrompida.

 

                        Quando narro esse episódio, sempre aparece algum incrédulo para duvidar:

                        – Raimundo, tu entendes alguma coisa do idioma bielorruso?

                        – Nem um pingo!

                        – Então, como é que tu sabes que o sujeito era de lá?

                        – Só vim a saber bem mais tarde, ao me ser enviada a conta da Telebrasília. O telefonema do comunista tinha sido a cobrar!

 

 


Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas terça, 25 de julho de 2017

WALTER BAUTISTA, MEU AMIGO CIENTISTA QUE SE FOI

WALTER BAUTISTA, MEU AMIGO CIENTISTA QUE SE FOI

(Publicada em 03.06.2013)

Raimundo Floriano

José Walter Bautista Vidal

 

                        Dois de março de 2012! Dia de festa na Hidroterapia! Por dois motivos.

 

                        Hoje, 2 de março, quando estas maltraçadas lhes escrevo, faz 7 anos que me iniciei na atividade hidroterápica, à qual, por motivos ortopédicos e males da idade, me incorporei por todo o decorrer do restante de minha vida e por isso tenho que dela tirar o máximo de prazer, transformando todas as sessões em motivo de alegria e satisfação. E ontem, 01.03, foi aniversário da oriental Dra. Ayda Jamal Daud, a Hidroterapeuta-chefe, mais uma razão para comemorarmos em grande estilo a data e demonstramos nosso contentamento em tê-la como zelosa cuidadora de todos nós, os hidroterapatas – neologismo que criei –, assegurando-nos o bem-estar físico e moral.

 

Dra. Ayda, a Favorita do Sultão

 

                        A Dra, Ayda comanda uma grande equipe de fisioterapeutas, que nos atende em sua clinica particular, a REABILIT - ESPAÇO SAÚDE, na 910 Sul, em todos os fundamentos de sua especialidade – Fisioterapia, Pilates, Acupuntura, Massagem, RPG, Nutrição, Saúde do Idoso – e nas piscinas, onde praticamos os exercícios e alongamentos necessários a nossa recuperação. Sem falar nas massagens, que, às vezes, quando acertam nos nódulos, se assemelham a ferroadas de maribondos enlouquecidos. Mas depois, que alívio! Que celestial sensação de bem-estar!

 

                        Há 7 anos, quando me via impedido de caminhar, devido à imobilidade de minha perna esquerda, fui encaminhado a essa maravilhosa equipe, sob a proteção da qual me encontro até o presente momento e, acho, por toda a vida, eis que agora enfrentando os supraditos males da idade, para a cura dos quais ainda não foram descobertos medicamentos eficazes.

 

                        Quando cheguei à Hidroterapia, fui recebido pela Dra. Karina Ribeiro e pela Dra. Bárbara Priscila. Sendo Karina loura e Bárbara morena, passei a chamá-las de Feiticeira e Tiazinha. Essa dupla foi reforçada com a inclusão da japinha Luciana Kato e da chinesinha Hoa (pronuncia-se Roá).

 

Dras. Karina, a Feiticeira, Bárbara, a Tiazinha, Luciana, a japinha, e a chinesinha Hoa

 

                        No início, as sessões eram realizadas na Academia BOCA, na 906 Sul. Como esta entrou em reforma, mudamo-nos, em novembro do ano passado, para a Academia Consciência Corporal, situada na EQL 06/08 do Lago Sul, ao lado da Paróquia Nossa Senhora do Perpétuo Socorro.

 

Dra. Ayda fotografou: nossa piscina em dia de pouco movimento, comigo de touca vermelha

 

                        Nesses benéficos 7 anos, fiz conhecimento com centenas de colegas, incluindo os que vieram, os que ficaram por pouco ou muito tempo, e os que até hoje permanecem na atividade hidroterápica. Um dos mais antigos é o Walter Bautista – José Walter Bautista Vidal –, meu protagonista desta matéria.

 

                        Quando chegou, com seu roupão atoalhado e a touca marrom, fui batendo o olho nele e achando-o perecidíssimo com Papa João Paulo II, vivo na época. Por isso, dei-lhe logo o cognome de Papa Walter, com o qual até hoje o trato.

 

                        A Wikipédia diz pouco de sua biografia: “é um físico brasileiro, ex-professor da Universidade de Brasília que, juntamente com Urbano Ernesto Stumpf (1916-1998), foi o idealizador do motor a álcool”. Na Internet, o que mais se encontram são entrevistas e palestras que ele deu em ocasiões diversas, no Brasil e no Exterior.

 

                        Em nossas conversas, descobri que ele nasceu em Salvador (BA), a 12.12.1934. É, portanto o primeiro baiano fogoió que vim a conhecer.

 

                        Mas ele não gosta de falar de si próprio. Fica difícil, assim, traçar um seu perfil completo. Por este trecho extraído da Internet, obtém-se um pouco mais de sua história: “Foi Secretário de Desenvolvimento de Política Industrial do Ministério do Desenvolvimento, da Indústria e Comércio dos Governos Geisel (1974-1978) e Sarney (1985-1988), sendo o responsável pela implantação do Programa Nacional do Álcool (Proálcool).

 

                        Papa Walter retém na memória todos os fatos do passado, mas rapidamente, se esquece das coisas do presente. Gosto de brincar com ele, ensinando-lhe os nomes dos Cabras de Lampião. Às vezes, eu o vejo sorrindo e pergunto o motivo, ele responde que estava lembrando o nome dos cabras, mas só consegue falar o de Zé Maria. Aí, eu volto a ensinar: Zé do Cá, Zé do Ké, Zé o Ki, Zé do Có e Zé Maria. Com isso, ele sai repetindo os nomes, para não mais os esquecer. Por ora.

 

                        Mesmo assim é com os nomes das mulheres do Bando de Lampião: Maria Pata, Maria Peta, Paria Pita, Maria Pota e Maria Xuxa. Outro motivo de descontração para o amigo Papa Walter.

 

                        Embora desligadão da atualidade – Alzheimer na área –, brinda-nos com práticas de sua juventude, como a natação, em todos os gêneros olímpicos, demonstrando-nos que, em seu tempo de rapaz, foi um verdadeiro campeão. E isso também se lhe constitui em excelente terapia.

 

                        Ao focalizar a pessoa do amigo cientista Walter Bautista Vidal, presto sincera homenagem a todos os colegas hidroterapatas que continuam persistindo nessa atividade e agradeço a todas as hidroterapeutas que se esmeram na minoração do problema maior que nos reúne naquele quadrilátero aquático: a dor!

 

Detalhe de nossa Confraternização Natalina/2011

 

*******************

                        Esta matéria foi publicada aqui no Jornal da Besta Fubana no dia 5 de março de 2012. A partir de então, várias entidades de classe, como Clubes de Engenharia, sociedades científicas, universidades e pesquisadores individuais passaram a tê-la como ponto de partida, dirigindo-se a seu Editor, que a mim repassava todas as mensagens recebidas. A todos orientei, informando os contatos telefônico e internáutico de uma das filhas do cientista.

 

                        Há coisa de um ano, o amigo Walter começou a definhar fisicamente, o que nos privou de sua companhia na piscina. Desde então, passou receber atendimento fisioterápico individual em casa, contando com a gentil dedicação da Dra. Ayda, que sempre nos dava notícias dele, ultimamente muito desanimadoras.

 

                        Sábado último, 01.06.2013, eu estava aqui no computador quando minha filha Elba saiu de seu quarto e me falou: – Pai, aquele seu amigo faleceu. Aquele que criou o carro a álcool. Acaba de dar no Jornal Nacional!

 

                        Como o noticiário já estava em outro bloco de assunto, entrei mais tarde no Google e pesquisei. Era mesmo o Walter Bautista, a quem a TV Globo dedicara 19 preciosos segundos. E só!

 

                        No dia seguinte, domingo, ao receber o Correio Braziliense, do qual sou assinante, nada encontrei sobre o cientista, a não ser esta matéria paga:

 

 

                        Dezenove segundos na Globo e sequer uma linha no noticiário do Correio Braziliense! Agora, imaginem vocês a hipótese de o impasse ter ocorrido com outro importante vulto nacional, tipo Michel Teló! Já pensaram no pampeiro que a mídia faria?

 

                        Aliás, tem-se escamoteado tudo de bom que os governos passados fizeram em prol do Brasil, país que começou a existir a partir de 2003, quando o petismo se instalou no Palácio do Planalto. Vocês tiveram notícia de algum telegrama da Presidenta lamentando essa grande perda?

 

                        Também, pudera! Eu até justifico esse olvido! No domingo, a prioridade era bem outra e envolvia quase todos os corações e metes da Brasileira Nação: o jogo da Seleção Canarinha e, logo após, a partida de Neymar para Barcelona. Era desmantelo demais para um dia só!

 

                        Como sei que os pesquisadores continuarão a buscar informações sobre o agora saudoso amigo Walter Bautista, republico esta matéria, com os devidos acréscimos, fornecendo mais dados para essa preciosa fonte de consulta em que se está transformando o Jornal da Besta Fubana.

 

                        Amigo Walter, segure na mão de Deus e vá! 

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Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas domingo, 23 de julho de 2017

MINHA COLEÇÃO DE SELOS BRASILEIROS – PAREI COM ELA!

MINHA COLEÇÃO DE SELOS BRASILEIROS

PAREI COM ELA!

 

MOTIVO: A APARENTE PERDA DAS ESTRIBEIRAS POR PARTE DA  ECT – EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELÉGRAFOS EM ASSUNTOS FILATÉLICOS 

 

Comecei a colecionar selos comemorativos brasileiros em 1945, aos 9 anos de idade. Naquele tempo, uma das poucas diversões culturais dos meninos balsenses, no longínquo sertão sul-maranhense. É com orgulho que exibo meus primeiros exemplares, homenagem à FEB, – Força Expedicionária Brasileira:

  

Ainda que de muito longe, vivenciávamos o ambiente da 2ª Guerra Mundial, quando a FEB, na Itália, se incorporara ao 5º Exército Americano, daí o A 5. A cobra fumando é o símbolo que identificava nossos soldados, também conhecidos como pracinhas.

 

Coleciono apenas selos comemorativos brasileiros. Possuo desde o primeiro, lançado em 1900, na série dedicada aos 400 Anos do Descobrimento do Brasil, até o último, lançado em dezembro de 2016, acondicionados em 7 álbuns, como adiante se veem:

 

No primeiro álbum, 96 páginas, 68 anos – No último, 120 página, apenas 5 anos 

No começo, guardava meus selos em caixas de fósforos vazias. Depois, passei a pregá-los – vejam que pecado! – em cadernos. Posteriormente, orientado por amigos filatelistas mais experientes, passei a utilizar-me das tiras protetoras maximaphil, também conhecidas como hawid, apondo as peças em folhas de álbuns japoneses autocolantes.

  

E foi com essa nova modalidade que, em 1976, em certame no qual me vi representado por meu sobrinho Luís Fernando da Costa e Silva, obtive o cobiçado Prêmio Olho de Boi, concedido pela ECT que, em seguida, me pediu por empréstimo parte da coleção e a levou para expô-la no Rio de Janeiro e em diversos Estados Brasileiros por mais de seis meses. Meu acervo era semelhante ao dos demais concorrentes. O que o diferenciou foi – modéstia à parte – a esmerada apresentação.

 

 

A revista COFI – Correio Filatélico, em sua edição nº 194, referente aos meses de abril/junho de 2004, chegou a publicar matéria focalizando minha pessoa:

 

 Agora, vem a parte desagradável da história e razão pela qual interrompo o exercício de um passatempo que muito prazer me proporcionou nesses 71 anos de atenta dedicação.

 

Há alguns anos, a ECT dá a impressão de que perdeu completamente a noção do que é a filatelia, do dia a dia do filatelista, e, com o número cada vez mais crescente de emissões anuais, parece que se dirige a um público regiamente remunerado financeiramente, ou o faz simplesmente para inglês ver.

 

Os filatelistas de minha faixa etária, de meu tempo, começaram pondo envelopes de molho, para retirar os selos. Quantas vezes ficávamos nas agências dos Correios, para assistir à abertura das malas postais, e, depois, acompanhávamos os carteiros aos destinatários, no intuito de lhes pedir o envelope aberto!

 

Atualmente, quase já não se escrevem mais cartas, e, quando se o faz, o envelope recebe selos ordinários, pois os comemorativos, em geral, apenas se encontram nas Agências ou Guichês Filatélicos, só existentes em grandes cidades.

 

No ano de 2016, a ECT produziu 25 Editais de Lançamento, resultando 146 peças filatélicas que, somente referentes a 2016, ocuparam 28 folhas de meu 7º álbum. No 1º álbum, 28 folhas comportaram 42 anos de emissões filatélicas. E o custo dessas 146 peças ultrapassa os quinhentos reais, pois nem todas são encontráveis nas Agências ou nos Guichês, tendo-se de recorrer às empresas filatélicas comerciais, para completar a coleção.

  

Vejam o exemplo a seguir. A folha/bloco Borboletas Brasileiras, que acima se vê, contém 16 selos de 1º porte para carta comercial, com o valor facial unitário de R$1,80, ou seja, com o valor total de R$28,80, se adquirida na Agência Filatélica. Eu precisava de 2, para fechar o ano de 2016. Como a peça estava esgotada, recorri à Filatélica Brasília, de Limeira (SP), que me fez a remessa ao preço de R$50,00 x 2, mais R$12,00 de frete, totalizando R$112,00, quando eu poderia tê-las comprado por apenas R$57,60.

 

E tem mais! Essa emissão ocupa três páginas do álbum: uma, com a folha na íntegra, mais duas, cada qual com 8 das unidades que a compõem

 

Diante disso, eu pergunto: qual é o garoto que, iniciando sua coleção, nestes tempos modernos, dispõe de tal quantia? E qual é o estímulo para que se dedique a passatempo cultural tão gostoso, mas agora quase proibitivo, diante dos impedimentos financeiros?

 

Outro exemplo da suposta da perda da régua e do compasso por parte da ECT. A folha/bloco As Bonecas da Mestra Dona Izabel Mendes, é deveras emblemática. Além de ser maior que a folha do álbum, devendo ser dobrada, ou cortada, ocupa 2 páginas, a primeira, com a peça inteira – dobrada, ou cortada, repito – e a outra com as peças desmembradas:

  

Acresçam-se a esse presumível despautério alguns selos adesivos, que também viraram peças filatélicas comemorativas! É o fim da picada!

 

Vou parar por aqui! Não vale a pena ficar a discorrer sobre algo que muito me entristece. Estas páginas ficarão arquivadas no final de meu último álbum filatélico, o 7º, para que minha prole atual e as gerações vindouras tomem conhecimento da causa da interrupção desta atividade cultural, que tanto prazer me proporcionou e à qual, no decurso de 71 amos, imenso carinho dediquei.

 

FUI!

******

Como peça final, cole este link em seu navegador, para assistir a um vídeo sobre selos personalizados:

 

http://tvbrasil.ebc.com.br/reporterbrasil/bloco/selo-personalizados-dao-toma-mais-pessoal-as-cartas

 


Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas sábado, 22 de julho de 2017

PEARL HARBOR - 70 ANOS

PEARL HARBOR - 70 ANOS

(Publicada a 05.12.2011)

Raimundo Floriano

 

Base americana de Pearl Harbor, no Havaí, antes e durante o ataque

 

                        Na quarta-feira próxima, 7 de dezembro, faz 70 anos que a base americana de Pearl Harbor, na Ilha de Oahu, no Havaí, foi traiçoeiramente atacada pela Marinha Imperial Japonesa, em investida aérea que danificou 11 navios e 188 aviões, produziu grande prejuízo material, causou a morte de 2.403 militares americanos e 68 civis e determinou a entrada dos Estados Unidos da América do Norte na Segunda Guerra Mundial.

 

                        Naquele dia, eu tinha 5 anos meio de idade.

 

                        Hoje, quando me perguntam o motivo pelo qual a Música Militar é uma de minhas predileções, eu encontro a explicação nos fatos históricos de âmbito mundial desde o dia em que vim ao mundo, fatos esses narrados pelas ondas radiofônicas e ouvidos todas as noites pela população de minha terra, nas varandas das residências que possuíam um aparelho de radio.

 

                        Todas essas transmissões eram precedidas, entremeadas e finalizadas pelos dobrados nacionais e estrangeiros, que davam o aspecto marcial às notícias bélicas que nos chegavam naquele longínquo sertão sul-maranhense.

 

                        No ano de 1936, quando nasci, toda a atenção mundial se concentrava na sangrenta Guerra Civil Espanhola, que durou até 1939, ano em que, a 1º de setembro, a Alemanha Nazista invadiu a Polônia, dando início à Segunda Guerra Mundial, com a entrada, com o já foi dito, dos Estados Unidos, em 7 de dezembro de 1941, e do Brasil – tendo em vista o afundamento 14 navios da Marinha Mercante Brasileira por submarinos alemães –, em 31 de agosto de 1942, conflito que se estendeu até o dia 8 de maio de 1945, consagrado como o Dia da Vitória.

                       

                        O Brasil lutava do lado bem, o dos Aliados, sob o comando dos Estados Unidos. Cada vitória nossa era comemora naquele sertão com passeatas, sessões solenes e peças teatrais nas quais eram narrados os feitos de nossos soldados nos campos de batalha.

 

                        Hinos, canções, sambas patrióticos e marchinhas carnavalescas enalteciam os feitos de nossos pracinhas e forjavam na população um sentimento de brasilidade, de amor à Pária, de confiança, fé e esperança no futuro Brasileira Nação. Um dos símbolos a incrementarem esse sentimento foi a série filatélica lançada em 1943, relativa à FEB - Força Expedicionária Brasileira e ao 5º Exército Americano, no qual se engajara nossa tropa.

 

Série que iniciou minha coleção de selos

 

                        A cobra fumando era o símbolo dos pracinhas, significando que o pau cantava pro lago do inimigo toda a vez que os brasileiros os enfrentavam com suas metralhas, com seus fuzis. Verdadeiro pega pra capar!

 

                        Ouvindo, à noite, as notícias do front, e comentando, durante o dia todos os assuntos da conflagração, assombrado com o risco de Balsas ser envolvia em batalhas – até um meu primo, Pedro de Alcântara, combateu na Itália –, posso afirmar que já nasci ouvindo dobrados e canções patrióticas, que já nasci embrulhado com a Bandeira do Brasil.

 

                        Muito tempo depois, já vivendo em outras cidades, assisti a grandes e memoráveis filmes que nos mostraram na tela, com relativa precisão, as imagens que criáramos em nossa imaginação. Os mais importantes deles foi From Here to Enternity - A Um Passo da Eternidade, de 1953, com a visão americana de ataque a Pearl Harbor, e Tora!Tora! Tora!, de 1970, dirigido por americanos e japoneses, dando-nos a real dimensão do que foi aquele fatídico episódio.

 

                        Um dos dobrados que mais se ouviam naquele tempo era o National Emblem - Emblema Nacional, composto em 1906 por Edwin Eugene Bagley – Craftsbury, Vermont, 29.05.1867 - Keene, New Hampshire, 29.02.1922 –, que até hoje é dos mais executados no Brasil e no exterior e dos mais pedidos na Internet.

 

                        National Emblem - Emblema Nacional foi tocado, dentre muitos outros, nos filmes americanos The Dirty Dozen - Os Doze Condenados, de 1967, que, vez em quando, passa no Canal 91, assim como Tora! Tora! Tora!, e Moon Over Parador - Luar Sobre Parador, este com a brasileira Sônia Braga como protagonista.

 

                        E é ele que vocês agora ouvirão, com a Banda de Música da 10ª Região Militar.

   National Emblem - Emblema Nacional :

 

 


Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas sexta, 21 de julho de 2017

PELAGENS EQUÍDEAS (AS CORES DOS CAVALOS)

PELAGENS EQUÍDEAS

(Publicada a 28.11.2011)

Raimundo Floriano

 

Pernell Roberts, Michael Landon, Dan Blocker e Lorne Greene

 

                        A BBC Londrina, Maior Potência Radiofônica, Transmite Tudo Verdadeiro. Deu pra entender? Não? Mais adiante, explicarei.

 

                        Nos anos 1960, eu era viciado em assistir ao seriado Bonanza, na TV, curtição a que agora me entrego, com suas reprises no Canal 91, de segunda a sexta, às 9 da noite, prestando atenção num detalhe: a qualidade dos cavalos que ali aparecem, cada qual mais bonito, possante e bem tratado.

 

                        E, a cada episódio, me alembro de meu Período de Adaptação na EsSA - Escola de Sargentos das Armas, em Três Corações (MG), no ano de 1957, antes de ser designado para a Arma de Infantaria, quando me vi lotado no Esquadrão de Cavalaria, onde ocorreu o lance que a seguir lhes conto.

 

                        Íamos receber as primeiras noções de Hipologia, ou seja, fazer a limpeza do cavalo, começando pela ponta da orelha até a extremidade do rabo, passando pelo fiofó e pelo pingolim. A aula estava a cargo do Cabo Traquéia – pronuncia-se trakéia –, gaúcho da fronteira.

 

                        (Abro aqui este parêntese para dar-lhes uma pequena aula de Ortografia e Ortofonia. Conforme o Novo Acordo Ortográfico, traqueia – tubo condutor goela a dentro – não tem mais acento. Acontece que existe a palavra traqueia – pronuncia-se trakêia –, 3ª pessoa do indicativo do verbo traquear, o mesmo que traquejar. Portanto, se eu falar “O Cabo Traqueia traqueia o cavalo”, não fica esquisito?)

 

                        Éramos um pelotão de 30 alunos recrutas, e o Cabo Traqueia falou para o grupo:

 

                        – Cara qual escolhe um cavalo, pra começar a instrução!

 

                        Eu, que já fora cabo no 25º Batalhão de Caçadores, em Teresina (PI), tentei fazer tomar chegada:

 

                        – Cabo Velho...

 

                        – Cabo Velho é a porra! Meu nome é Cabo Traqueia, tá entendendo? Traquéia! – Gritou o cabo, cavalarianamente. Voltei a falar:

 

                        – Seu Cabo Traqueia, eu posso começar com aquele pampo?

 

                        Outro esporro:

 

                        – Pampo é o cacete! Aquele cavalo e tobiano, arataca beiçudo!

 

                        Depois, percebendo ele a ignorância de todos, ensinou-nos as cores, ou pelagens, dos cavalos, e deu-nos um macete para as sabermos na ordem de numeração. Para isso, fez-nos decorar a frase que encabeça este relato, que se constitui num processo mnemônico – fortalecedor da memória – muito eficiente, avisando-nos que, durante o curso, isso seria constantemente cobrado, além de ser matéria de prova.

 

                        Usando-se as iniciais de cada palavra acima, ficava fácil enunciar as cores: 1 - alazão; 2 - baio; 3 - branco; 4 - castanho; 5- lobuno; 6 - mouro; 7 - preto; 8 - rosilho; 9 - tobiano; 10 - tordilho; 11 - vermelho.

 

                        Aí vão as imagens para que vocês percebam as diferenças, às vezes muito sutis:

 

01 - Alazão - cor de canela, amarelo-amermelhada

 

02 - Baio - castanho-amarelo tirante a castanho

  

03 - Branco - literalmente, da cor branca

 

04 - Castanho - da cor da casca da castanha-do-pará

 

05 - Lobuno - escuro acinzentado, tirante ao lobo

 

06 - Mouro - preto salpicado de branco, tirante a pedrês

 

7 - Preto - literalmente preto, como a Bola 7 da sinuca

 

8 - Rosilho - avermelhado e branco, tirante a rosado

 

9 - Tobiano - manchas brancas em fundo escuro ou vermelho

 

10 - Tordilho - negro com manchas brancas, tirante a plumagem do tordo ou do sabiá

 

11 - Vermelho - tirante a vermelho

 

                        Antes que me esqueça, vale a pena lembrar-lhes: cavalo é Brasil, é Nordeste, é Cultura e é Sertão.

 

                        Voltando ao Bonanza, podemos agora afirmar que o cavalo de Lorne Greene/Ben Cartwright, o patriarca, é rosilho; o de Pernell Roberts/Adam, o primogênito, é vermelho; o de Dan Blocker/Hoss, o filho grandalhão, é preto; e o de Michael Landon/Little Joe, o caçula, é tobiano.

 

                        Para terminar, e aproveitando a fonte que me inspirou a escrever esta matéria, ofereço-lhes, para que recordem, o bonito e nostálgico tema do seriado, composição de Jay Livingstone e Ray Evans.

 


Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas quinta, 20 de julho de 2017

BARBOSINHA, UM AMANTE DA BOA MÚSICA

BARBOSINHA, UM AMANTE DA BOA MÚSICA

(Publicada a 01.08.2014)

 

Raimundo Floriano

 

Barbosinha: 05.05.1934 – 20.07.2014

 

                        Cesário Barbosa Bonfim, o Barbosinha, filho de Jonas Ferreira Bonfim e Maria Aracy Barbosa Bonfim, nasceu em Independência (CE), no dia 5.5.1934.

 

                        Em janeiro de 1944, quando eu estava com 7 anos e meio, a Família Bonfim mudou-se para Balsas, trazendo o Barbosinha, filho mais velho, e duas lindas meninas, a do meio, Leonor, e a mais novinha, Maria Núbia, regulando minha idade, pela qual, à primeira vista, fiquei perdidamente apaixonado, demonstrando meu amor com beliscões, tapas e puxões de cabelo. Esse romance unilateral durou só até o fim da Segunda Guerra Mundial, quando ficamos para sempre intrigados.

 

                        Em Balsas, Barbosinha estudou no Grupo Escolar Professor Luiz Rêgo, concluindo o Primário em dezembro de 1947, após o que embarcou numa balsa, rumo a Floriano, para cursar o Ginásio, daí partindo para outras plagas até formar-se em Direito e conquistar, mediante aprovação em concurso público, o cobiçado cargo de Fiscal de Tributos do Estado de Goiás e do Tocantins. De Balsas para o Mundo, como soía acontecer com todo garoto pobre que desejasse progredir na vida.

 

                        Arguto obeservador, de tanto viajar nas balsas, escreveu bela crônica sobre essa rústica embarcação, da qual me vali, com sua autorização, para ilustrar meu texto sobre a navegação fluvial de Balsas para o Oceano Atlântico.

 

                        Em Balsas, Seu Jonas exerceu as atividades de Promotor de Justiça e Agente da Companhia Serviços Aéreos Cruzeiro do Sul.

 

                        A Agência da Cruzeiro foi um dos locais mais paquerados da cidade naquele tempo. Era onde se compravam passagens, e onde se despachavam as bagagens a embarcar e se recebiam as encomendas que chegavam, além dos carretéis com os filmes a serem exibidos no Cine Santo Antônio, a cargo do projecionista Zé Farias. Diante da algazarra que os curiosos e desocupados faziam, Seu Jonas não teve outro jeito senão afixar estas duas placas na parede atrás de seu birô:

  

                        Os Bonfim eram grandes consumidores de palmas, roscas, cacetes, brevidades e biscoitos que Dona Maria Bezerra, minha saudosa mãezinha, fazia e me mandava vender na rua, deixando-me na maior saia-justa quando chegava na casa daquela família, morrendo de vergonha das duas meninas.

 

                        Em meados do século passado, surgiu riquíssimo Eldorado na região norte-goiana, hoje norte-tocantina, com terras devolutas, água farta, chovendo no tempo certo, atraindo nordestinos da periferia, que para ali acorreram na busca de vida melhor para si e suas famílias. Assim, em 1952, Seu Jonas e Dona Aracy mudaram-se em definitivo para Itacajá, onde ele assumiu o cargo de Administrador do Serviço de Proteção aos Índios - SPI, atual FUNAI.

 

                        Enquanto as meninas permaneceram em Balsas, para darem continuidade aos estudos, Barbosinha pontificava por aí, alhures e algures, na busca da conquista de seu espaço no mercado de trabalho.

 

                        Em 1956, ele foi visitar os pais em Itacajá, pretendendo ficar poucos dias, o que não conseguiu. Ali, enraizou-se e constituiu família, casando-se, em 25.7.1962, com a itacajaense Dulce Soares Bonfim, com quem teve os filhos Jonas, Sandra, Cláudia, Flávio, Stella e Cesário.

 

Barbosinha e Dulce 

                        Nas horas vagas, atuava como locutor da amplificadora Voz do Sertão, difundindo a Música Popular Brasileira em algo grau, pois os sons de seus alto-falantes alcançavam todos os recantos da cidade. De sua cabeça, saiu o nome do futuro município de Itapiratins, combinação de Ita, primeira sílaba de Itacajá, e piratins, parte final de Tupiratins, cidade vizinha.

 

                        Sua cartada genial veio em 1968, quando ele, Coletor Estadual, e João Pinheiro, Fiscal Arrecadador do Estado, juntamente com próceres da cidade, fundaram o Ginásio Progresso de Itacajá - GPI, possibilitando aos filhos daqueles colonos o estudo sem terem de buscá-lo em outros centros mais adiantados. Iniciado o primeiro ano letivo, Barbosinha tornou-se professor de História e OSPB.

 

                        Mas não parou aí a devoção de Barbosinha por Itacajá. Em 2011, ele a homenageou com este preciosíssimo documento:

  

                        O livro conta a história de Itacajá, desde o início do povoamento, por volta de 1900, com nomes dos primeiros moradores, passando pela emancipação administrativa municipal, em novembro de 1953, e instalação em janeiro de 1954, consignando os nomes de todos os prefeitos desde então, e das primeiras-damas, com suas principais realizações. A importância desse trabalho é tamanha, que foi logo consagrado pela juventude da cidade, como demonstra a foto abaixo:

 

                        Pelo conjunto da obra, a Câmara Municipal de Itacajá deveria já ter outorgado ao Barbosinha o título de Cidadão Itacajaense. Se ainda não o fez, viajou na maionese!

 

                        Minha amizade com o Barbosinha perdura desde sempre. Começou em Balsas, quando ainda éramos crianças, continuou em Floriano, ao cursarmos o Ginásio, notadamente no ano de 1949, nas férias de julho, ao viajarmos para Balsas, ele, meus primos Pedro Ivo e João Ribeiro e eu, na carroceria do caminhão do Pedro Duarte – dois dias de poeira –, e fortificou-se mais ainda, tempos depois, com o casamento do Pedro Ivo com sua irmã Leonor. Fraternos laços de família.

 

                        Baseado nesses laços, ele me enviou, em agosto de 2012, uma solicitação deveras instigante. Sabedor que detenho um acervo fonográfico superior a 100 mil títulos, pediu-me que gravasse para ele a trilha sonora dos principais momentos de sua vida, 296 peças, com esta justificativa:

 

“Desde muito cedo na vida, passei a apreciar a boa música, em todas as suas modalidades, variantes e formas. Creio que isso teve início, com as canções maternas que me embalaram nos primeiros sonos. Mais tarde, com as mudanças de idade e gostos, fui sentindo que cada etapa, se fazia acompanhar por uma trilha musical, sempre presente, nos devaneios e fantasias, como expressão máxima de meus sentimentos, embelezando cada momento de minha maneira de ser e de viver.

 

“Senti, desde que tomei conhecimento de alguma das melhores coisas da vida, que, a determinadas pessoas, a natureza concedeu dons especiais, justificando-se, dessa forma, a existência dos artistas, músicos, poetas, escritores, compositores e intérpretes, capazes de levar, aos demais viventes menos dotados, a beleza de suas artes e, especialmente, dos sons que, associados à poesia das letras, envolvem a nós outros, apreciadores, conduzindo-nos à importante tarefa de aplaudi-los e transformá-los meritoriamente em nossos ídolos. Foi assim que nasceu a figura do “fã”, provavelmente derivada da palavra fanático.

 

“São grupos distintos, porém integrados entre si. Um depende do outro. Que seria do artista se não tivesse ninguém que apreciasse o que faz? Roberto Carlos resume isso numa estrofe, quando se apresenta ao seu público: ‘Quando eu estou aqui eu vivo esse momento lindo’. Esse momento é dividido com todos aqueles que gostam dele e de sua música.

 

“Nisso tudo, o peso de nosso valor de ouvinte é incomensurável, pois somos uma imensa maioria e, sem o nosso apoio e aplauso, não tinha significado a existência dos artistas. Quem não gostaria de ser privilegiado com um desses dons que parecem até divinos? Contudo, satisfazemo-nos em aplaudir quem os possui, fazendo de seus sucessos o nosso próprio sucesso, levitando às suas sombras. Talvez seja por isso, que Ruy Barbosa tenha dito, como uma grande vantagem: ‘Não canto nem pinto, mas revejo e recordo’.

 

“Pertenço a esse imenso grupo. E foi justamente pensando assim que resolvi juntar minhas preferências musicais, através dos tempos, sem contar com os clássicos que, por falta de audiência, apenas aprecio aqueles mais divulgados e popularizados. Minha trilha musical, como creio que cada apreciador de música deve ter a sua, é essa que segue e que constantemente gosto de ouvir, para sentir-me vivo.

 

“Foi assim que selecionei as mais queridas, convertidas no que chamo de trilha musical, inserida nas diversas fases de minha vida, ocorridas, no Ceará, Maranhão, Piauí, Goiás e Tocantins, locais por onde passei, nas andanças da vida. E, como na vida tudo também passa com rapidez incrível, só as boas recordações ficam, e a música é uma delas, por estar geralmente associada a esses bons e inesquecíveis momentos.”

 

                        A Trilha Musical do Barbosinha, como ele bem frisou, contempla todas as localidades por onde passou, amarrando os períodos em que ali viveu, constituindo-se na história de sua vida: Independência (CE), 1939/1943; Balsas (MA), 1944/1947; Floriano (PI), 1948/1951; Fortaleza (CE), 1952/1954; Kraolândia (GO), 1956/1961; Apinagés (GO) 1962/1965; Itacajá (GO-TO), 1966/1972; Luziânia, 1973/1976; Goiânia (GO), 1977/1991; Palmas (TO), 1993/2004; e Velhos Carnavais.

 

                        Na lista, veio o samba Balsas Cidade Sorriso, de 1946, composição de Martinho Mendes e Caixeiro Viajante Desconhecido, do qual eu só possuía a letra e a partitura. Não querendo faltar com o amigo, mesmo que fosse em um só item, contratei um estúdio aqui de Brasília e concretizei a gravação. Depois de tudo providenciado, salvei as 296 faixas num pen-drive e o remeti para ele, o que foi muito de seu agrado.

 

                        Barbosinha, aos 80 anos, completados em maio passado, era um cara atualizado, por dentro, atuante, em dia com a tecnologia, com perfil no Facebook, na qual fazia postagens quase que diárias.

 

                        Além disso, era meu leitor fiel, adquirindo todos os livros que escrevi, bem como curtindo e elogiando as matérias por mim postadas semanalmente em minha coluna aqui no Jornal da Besta Fubana.

 

                        O Destino, em suas deliberações, é implacável: no dia 20 de julho passado, em Goiânia, uma embolia pulmonar fulminante levou o Barbosinha para o Plano Superior.

 

                        Para marcar musicalmente esta saudosa homenagem, escolhi duas faixas de seu pedido:

 

                        Adeus, foxe de Roberto Martins e Mário Rossi, na voz de Gilberto Alves, em 1941;

 

                        e Balsas, Cidade Sorriso, cujos créditos se encontram neste Youtube:

 

 

 


Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas quarta, 19 de julho de 2017

SINHÁ A MEMÓRIA VIVA DO FORRÓ

SINHÁ, A MEMÓRIA VIVA DO FORRÓ

(Publicada em 14.11.2011)

Raimundo Floriano

 

                        Maria Auxiliadora de Lima, a Sinhá, nasceu em Viçosa (MG), no dia 25.04.1937, e passou a residir aqui em Brasília desde o final de 1959, acompanhando o marido, o percursionista Miudinho, pertencente ao elenco da Rádio Nacional, que para cá se transferira do Rio de Janeiro.

 

                        Miudinho – zabumba – foi, juntamente com Dominguinhos – sanfona e voz – e Zito Borborema – triângulo e voz –, o fundador do primeiro Trio Nordestino que se conhece, isso no começo de 1957, denominação dada por Luiz Gonzaga, inspirado por Helena, sua mulher. Na esteira deles, logo surgiram outros, como os trios Baiano, formado por Lindu Cobrinha e Coroné, e Paulista, formado por Xavier, Heleno e Toninho. O pioneirismo frutificou. Hoje, há centenas de conjuntos nordestinos com esta clássica formação: sanfona, zabumba, triângulo e voz.

 

                        Conheci o casal em 2004, um ano antes da morte de Miudinho, a 24.03.2005, aos 74 anos de idade, vítima de enfarte. Desfazia-se, um enlace harmonioso que durou quase 51 anos. Miudinho, então aposentado do Senado Federal, era um sujeito tranquilo, de bem com a vida, residia em bela casa no Guará II, carro zerado na garagem. Seu falecimento chocou a classe artística brasileira e foi matéria de página inteira no Correio Braziliense.

 

                        Durante o tempo em que o casal morou no Rio de Janeiro e também aqui em Brasília, sua residência vivia cheia de artistas, não só os famosos, como também os que procuravam um lugar ao sol no cenário forrozeiro. E tudo eles registraram em fotos. Marinês, Anastácia, Luiz Gonzaga, Zito Borborema, Sivuca, só pra citar alguns deles. Dominguinhos, por exemplo, quando vem a Brasília, não deixa de ir ao Guará II, para que Dona Sinhá o abençoe.

 

Primeiro Trio Nordestino - Conjunto de Zé Gonzaga 

                        Depois da morte de Miudinho, comecei a dar o golpe no baú de Dona Sinhá. Todas as fotos inéditas que já postei em minhas matérias aqui no JBF saíram de lá. Como a do Primeiro Trio Nordestino e a do Conjunto de Zé Gonzaga, com o triangueiro Passinho, quando Miudinho ainda era conhecido como Zé Minhoca, conforme acima vocês viram

 

                        Dona Sinhá sabe de tudo e de todos do Forró. Desde seu nascedouro e crescimento até o estagio atual, fases muito bem documentadas com preciosas imagens e sua privilegiada memória. E está à disposição de quem quer a procure, muito fácil de ser localizada: é a Maria Auxiliadora no Orkut. Para saberem seu e-mail, é só entrarem em contato comigo.

 

                        No passado, aos 73 anos, Dona Sinhá foi um botão que desabrochou, resultando nessa bela flor no canteiro da poesia. Quando muitos pensam em parar, ela está apenas começando.

 

                        Dona Sinhá casou-se muito cedo, logo se tornou mãe de muitos filhos, por isso, na mocidade, nenhum tempo lhe restou para perceber seu espírito cheio de inspiração poética – mercê de Deus, acredita ela, pessoa muito religiosa e cumpridora dos deveres para com sua Igreja.

 

                        Pétalas do Céu é o primeiro trabalho literário de Dona Sinhá, de outros já prometidos. Uma das pétalas, que foi antecipadamente retirada dessa flor, mas pétala do bem-me-quer, é o saudoso Miudinho, a quem são dedicados vários poemas de amor, especialmente os denominados A Partida e Homenagem.

 

                        O livro contém muito de amor, sensibilidade, carinho e preito à amizade, como em O Grande Amigo, no qual patenteia a ternura por uma de suas queridas crias, o já citado Dominguinhos. 

OUTRAS INÉDITAS PRECIOSIDADES DO BAÚ DE DONA SINHÁ:

Miudinho tocando para a dança de Ademilde, Elizeth e Jamelão – Com Zé Gonzaga

 

Zito Borborema, Miudinho e Gonzagão – Zito, Miudinho, Gonzagão, Wilson e Manga-Rosa

 

Marinês, Zito, Abdias, Gonzagão, Miudinho e Manga-Rosa – Marinês e Miudinho

 

Sinhá e Miudinho - Foto de 2005

                        E é Dominguinhos quem aqui comparece, com seu Chorinho Pro Miudinho, delicada melodia lançada em 1979, no LP Apôs Tá Certo.

 

 

 


Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas terça, 18 de julho de 2017

HOTEL BARBOSA, A MORTE DE UM PIONEIRO

HOTEL BARBOSA, A MORTE DUM PIONEIRO

(Publicada em 07.11.2011)

Raimundo Floriano

 

Hotel Barbosa, pioneiro na hotelaria candanga

 

                        No início dos Anos 1960, quem desejasse hospedar-se no Plano Piloto da Capital Federal, recém-inaugurada, só tinha estas opções: o Brasília Palace Hotel, de bancado pelo governo, e o Hotel Nacional, gerido pela iniciativa privada.

 

                        Era no Nacional que se hospedavam reis, rainhas, princesas, artistas de renome internacional, grandes empresários, enfim, gente de alto poder aquisitivo, que pagava os olhos da cara por uma diária com direito apenas ao café da manhã. E foi lá, certo dia, que apareceu um fazendeiro, Seu Barbosa, aparentemente simples goiano do pé-rachado. Assim é contado pela tradição oral de quem viveu na cidade naquela época.

 

                        Devido a suas vestes comuns ao homem do campo, e suas bagagens nada ostentando a riqueza dos que procuravam aquele luxuoso hotel, de preços proibitivos, o fazendeiro não foi aceito, sendo humilhantemente recomendado a procurar uma pensão qualquer na Cidade Livre, como era chamado o atual Núcleo Bandeirante.

 

                        Seu Barbosa, desprezado, porém não vencido, tomou suas imediatas providências. Comprou um caríssimo terreno no início da Avenida W/3 Sul e ali mandou construir um hotel para concorrer com aquele que o humilhara, dando-lhe o próprio nome: Hotel Barbosa.

 

                        A desforra de Seu Barbosa, em parte durou pouco. Autoridades governamentais segundo contam, não assimilaram aquela denominação para um estabelecimento hoteleiro de tamanho porte, que não condizia com a nomenclatura adotada para todos os logradouros e prédios públicos brasilienses. Daí a mudança do nome para Hotel das Nações.

 

Hotel Barbosa, fundos, sob nova denominação

 

                        Adquirido, mais tarde, pela empresa JC Gontijo, o antigo Hotel Barbosa sobreviveu até este ano de 2011. Mas ontem, 02.11, Dia de Finados, premido pelas circunstâncias, principalmente pela proximidade de outros edifícios com nova fachada e detalhes arquitetônicos revolucionários, o velho Hotel Barbosa veio abaixo, com 12 andares e 130 apartamentos, para dar lugar a novo projeto de 17 andares e 264 apartamentos. Com ele também sumiu do mapa o Alvorada Hotel, seu vizinho, construído 10 anos depois.

 

                        É um pouco de nossa história candanga que se vai, quase toda ela narrada de boca em boca, como esta do Hotel Barbosa, jamais escrita e que só agora vai a conhecimento do grande público, eis que contada nas páginas do Jornal da Best Fubana e, ato contínuo, absorvida pelo Google, que a disponibilizará para todos os navegantes internautas.

 

                        Alguns amigos meus hospedaram-se no velho hotel. No ano passado, esteve lá o Padre Valter Azevedo, recifense e clérigo deste meu Cardinalato, em desobriga na Capital da República.

O velho Hotel Barbosa virando escombros

 

                        É a modernidade, são os novos tempos. Dentro em breve, ao passarmos por ali em companhia de algum turista que visitam Brasília pela primeira vez, não mais nos virá à lembrança a história desse marco de nossa cidade.

 

                        Dizem que, no local dos dois velhos hotéis implodidos, surgirão novos edifícios para atender a demanda de turistas durante a Copa das Confederações, em 2013, e a Copa do Mundo, em 2014. É o futebol comandando os novos empreendimentos imobiliários.

 

                        Muitos apostavam que a dupla implosão redundaria em malogro total, com ocorreu este ano, também em Brasília, na do Estádio Mané Garricha, desafortunadamente renomeado como Estádio Nacional. Foi, igualmente, a demolição, dum grande ídolo brasileiro, do qual, daqui apouco tempo, já ninguém se lembrará.

 

                        No Mané Garrincha, detonaram a primeira implosão, e nada! Botaram mais dinamite e sapecaram a segunda, e o Mané nem se mexeu! As autoridades governamentais, então, resolveram levar a demolição a efeito a troco de picareta – não sei se 300! Já o Hotel Barbosa, por seu turno, veio ao chão em 10 segundos!

 

                        E sabem por que, no primeiro caso, a implosão foi estrondoso fracasso, e, no segundo, estrondoso sucesso? Porque, no Mané Garricha, a verba era governamental, e, no Hotel Barbosa, o dinheiro provinha da iniciativa privada.

 

                        É o que se deduz!

"


Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas segunda, 17 de julho de 2017

ALENCAR SETE CORDAS FEZ BRASÍLIA CHORAR

ALENCAR SETE CORDAS FEZ BRASÍLIA CHORAR

(Publicada em 17.09.11)

Raimundo Floriano

 

Alencar Sete Cordas 

                        Literalmente, fez-nos chorar!  Alencar Sete Cordas foi fundador do Clube do Choro de Brasília, do grupo Choro Livre e o primeiro Professor da Escola Brasileira de Choro Raphael Rabello. É de sua autoria um método de ensino revolucionário, sem necessidade de cifra, que facilita a vida de quem pretende aprender a tocar violão e outros instrumentos de corda. Sendo uma rara unanimidade no meio musical brasiliense, foi responsável pela formação de violonistas de diferentes gerações.

 

                        O Correio Braziliense de ontem, 16.09.2011, trouxe-nos dolorosa notícia: faleceu o Alencar, esse grande músico, cuja amizade tive a honra de privar.

 

                        José Alencar Soares nasceu em Ipu (CE) no dia 17.07.1951 e chegou a Brasília no ano de 1971, como servidor do INSS. Aqui, logo se enturmou com os músicos que participavam das rodas de choro no apartamento da flautista Odete Ernest Dias, onde foi criado o Clube do Choro. Quase todos os discos gravados por chorões de brasilienses contaram com sua participação.

 

                        No mês de julho passado, Alencar comemorou seus 60 anos em grande estilo, com uma grande festa, cercado de familiares, colegas, discípulos e demais amigos.

 

                        Esse exímio violonista era grande amigo de meu irmão José, o Carioquinha, a quem acompanhava em suas cantorias pelas serestas brasilienses, advindo daí nossa amizade. Quando comemorei meus 60, a 3 de julho de 1996, prestigiou-me com sua presença e sua arte. Umas 70 pessoas abarrotaram meu apartamento naquela festança íntima apenas para minha família e pessoas mais chegadas, como Luiz Berto e Maurício Melo Júnior e suas respectivas proles, estes membros da incipiente Comunidade Fubânica e convidados levando em conta nossa intensa ligação fraterna.

 

Carioquinha, Expedito e Alencar 

                        Na foto acima, o registro desse evento. O cantor é meu citado irmão. O vascaíno é o Professor Expedito Dantas, outro cobra no violão; sentado, o Alencar que, naquele dia, me acompanhou em irresistível esforço meu para executar na gaita de boca o choro Brasileirinho, de Waldir Azevedo.

 

                        Na noite de quarta-feira, dia 14, Alencar participou duma audição do pianista Antônio Carlos Bigonha, no Clube do Choro. Estava tranquilo e feliz. Ao descer do palco, começou a sentir-se mal e encaminhou-se para seu carro. Ao saber disso, Reco do Bandolim, Presidente do Clube do Choro, levou-o para o Hospital de Base onde, embora a equipe médica tentasse reanimá-lo, foram debalde seus esforços. À 00h15 de quinta-feira, um infarto fulminante levou de vez.

 

                        Alencar sempre teve essa cara de menino levado, não apresentava histórico de cardiopatia e fazia cainhadas diárias, como vezes incontáveis presenciei nas imediações de minha quadra residencial. Sua morte, portanto, constituiu-se em inexplicável fatalidade.

 

                        Ontem mesmo, Reco anunciou que a Sala nº 1 da Escola Brasileira de Choro Raphael Rabelo passará a denominar-se Alencar Sete Cordas. Alencar foi sepultado hoje, às 11h00, no Cemitério Campo da Esperança, ao som de chorinhos, ultima homenagem que lhe prestaram seus colegas do Clube do Choro. Deixou ele, nessa prematura partida, mulher e três filhos.

 

                        O ano de 2011 tem sido um tanto funesto para o choro brasiliense. No dia 9 de julho, faleceu, aos 87 anos, Inácio Pinheiro Sobrinho, o Pernambuco do Pandeiro, outro fundador do Clube do Choro que, no início dos Anos 1970, juntamente com o Alencar, atuou nas gravações do programa de Waldir Azevedo, na Rádio Nacional de Brasília, às quais eu estive sempre presente. Pernambuco era meu companheiro no Clube dos Ornitólogos de Brasília, viciados que éramos – hoje, não sou mais – na criação, autorizada pelo então IBDF, atual IBAMA, de curiós e bicudos.

 

Pernambuco do Pandeiro 

                        Anúncio publicado ontem neste Jornal da Besta Fubana compensa-nos um pouco da perda desses grandes artistas, compositores e instrumentistas, figuras exponenciais da Música Popular Brasileira. Mostra que o trabalho desses Mestres frutificou de norte a sul do País. Realiza-se amanhã, dia 18, o I Encontro do Choro de Pernambuco. Ser não me enganei na contagem, serão 25 músicos das novas gerações a demonstrar que a brava gente pernambucana está firme na preservação de nossos mais legítimos valores culturais.

 

                        Espero que, nessa grande festa, alguém da Comunidade Fubânica envolvido em sua organização – ainda está em tempo – se lembre de mencionar, em justíssima homenagem, os nomes destes dois grandes chorões Brasileiros: Alencar Sete Cordas e Pernambuco do Pandeiro!

 


Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas domingo, 16 de julho de 2017

TRÊS DE MAIO, O DOBRADO

TRÊS DE MAIO, O DOBRADO

(Publicada em 05.09.2011)

Raimundo Floriano

Descobrimeno do Brasil 

 

                        Há muito tempo, os internautas de todo o Brasil vêm solicitando a postagem do dobrado Três de Maio, que ninguém os possuía em seu acervo. Por isso, encarei mais este desfio: conseguir suas partituras e arranjar uma Banda que se dispusesse a realizar a gravação.

 

                        De tanto procurar, de tanto cavar, de tanto futucar, ditas partituras chegaram-me às mãos a 16 de maio deste ano. No dia seguinte, eu compareceria à Fanfarra do 1º Regimento de Cavalaria de Guarda - 1º RCG, para assistir à primeira passagem dos dobrados Padre Cícero e Tenente Raimundo Floriano. Ao seguir para lá, levei o Três de Maio debaixo do braço.

 

                        Terminada a audição, o Subtenente João Ribeiro, Contramestre, me explicou que iriam dar mais umas ensaiadas, pra depois levar as duas peças para o estúdio. Nesse momento, saquei o Três de Maio de debaixo do braço e perguntei: – Será da dava pra gravar este também? O Tenente Almeida, Regente, que se encontrava ali no momento, perguntou-me qual o episódio histórico ocorrido a três de maio. Fiquei numa bananosa que não tinha mais tamanho. Prometi-lhe pesquisar. E encontrei explicação aceitável em matéria publicada no jornal Folha da Manhã, datada de 03 de maio de 1928, do qual extraio alguns trechos, mantida a ortografia original:

 

“FAZ ANNOS HOJE QUE FOI ACHADO O BRASIL

 

Como elles chegaram aqui - monte compromettedor - devemos commemorar o 3 de maio?

 

Foi a 21 de Abril.

Foi a 3 de Maio?

 

"Não ha cabal certeza" diria o sr. Pero Vaz de Caminha reporter do "Furo" orgam sensacional da imprensa lisboeta, que adherira á caravana descobridora do almirante Pedro Saccadura Cabral.

Faz tanto tempo...

Foi a 1500. Dizem os historiadores, e o dizem com o testemunho dos nativos encontrados na terra descoberta, entre os quaes se destacavam o poeta Freitas Valle e o já então desembargador Ataulpho de Paiva, que o caso teve logar no dia 21 de Abril.

Mas, fizeram uma revisão nas folhinhas e transferiram o 21 de Abril de 1500 para 3 de Maio, o que apenas vem provar que aquella gente arrojada e navegadora, intrepida e aventureira, andava atrazada apenas de 12 dias...

 

Que laranjas!...

Certa ou não, authentica ou adulterada, hygienisada ou com agua, a data do hoje, 3 de Maio é a officialmente consagrada á commemoração desse para nós, irremediavel golpe de azar, que foi o descobrimento da terra de "Santa Cruz".

A terra de "Santa Cruz" é isto que foi depois rebaptisado com o nome de Brasil. Brasil nome nacionalista oriundo de um páu vermelho e que ainda hoje não se sabe se deve ser escripto com s ou z ...

Trata-se de uma authentica estylização nacional.”

 

                        A data 21 de abril, e não 22, como agora nos é ensinado e aceito, deve-se ao fato de que não só Pero Vaz de Caminha, mas muitos outros da Esquadra de Cabral, mandaram correspondência para Portugal, noticiando, como também Caminha o fez, que os primeiros sinais de terra apareceram no dia 21 de abril.

 

                        Dada a mencionada reviravolta no calendário, como ressalta a Folha da Manhã, Por muito tempo foi ensinado nas escolas que a data do Descobrimento do Brasil era 3 de maio. Quando entrei para o grupo escolar, aprendi assim.

 

                         As partituras do dobrado Três de Maio foram escrita no início do século passado. Nela, não há o nome do compositor. Trazem apenas o carimbo da Banda de Música do 22º Batalhão de Caçadores, sediado em João Pessoa (PB).

 

                        Exibo-as para vocês como curiosidade, vez que, manuscritas, trazem a grafia também do século passado, como, por exemplo, clarineta – ou clarinete – com esta forma: clarinêtta.

  

                        É um belo dobrado. Para baixá-lo ou salvá-lo, cliquem aqui:

 

http://www.4shared.com/folder/-8Hfzx_0/DOBRADOS_NOVOS.html

 

                        Agradecendo o apoio da Equipe Técnica do Jornal da Besta Fubana, aí vai ele para sua audição, com a Fanfarra do 1º Regimento de Cavalaria de Guarda.

 

Para facilitar, aqui vai sua versão no formado mp3:

 

 

 


Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas quinta, 13 de julho de 2017

MARTINHO MUSICO E SUA MÚSICA MILITAR

MARTINHO MÚSICO E SUA MÚSICA MILITAR

(Publicado em 18.07.2011)

Raimundo Floriano

 

Martinho e seu sax

 

 Martinho e Seu Conjunto, rumo à Festa do Coco da Aparecida

 

                        Hoje, 12 de novembro de 2016, é o aniversário do Marinho Mendes, nosso Martim Musgo. Se vivo fosse, completaria 99 anos!

 

                        Martinho Mendes, Marinho Músico ou Martim Musgo foi a alegria musical de minha infância, adolescência e mocidade, quando vividas em Balsas.

 

                        Desde meus tempos de criança, nas vesperais, nos bailes, nas horas de artes, nos dramas, nas alvoradas, nas retretas, nas passeatas, nas solenidades cívicas, era sempre o Martinho quem estava presente com seu saxofone.

 

                        Em janeiro de 1961, em alvorada-passeata comemorativa da posse de Seu Alexandre Pires, novo Prefeito, ouvi-o tocar certa marcha de guerra muito conhecida por todos os balsenses, pois desfiláramos com ela inúmeras vezes em nossas paradas sertanejas. Naquele tempo, eu já era Sargento do Exército e jamais a ouvira tocada por Banda Militar. Perguntei-lhe o nome da marcha, e ele me informou que era Padre Cícero, de sua autoria.

 

                        Guardei para sempre aquela melodia em minha memória. Há pouco tempo, assobiei-a para a Professora Silvana Teixeira, minha Assessora Musical aqui em Brasília, que a colocou na pauta. Depois disso, dois jovens orkutianos, Ewerton Luiz, de Uiraúna (PB), e Ronald Filho, de Porto Seguro (BA), em trabalho conjunto interestadual, elaboraram-lhe primoroso arranjo para 21 instrumentos.

 

                        A Fanfarra do 1º RCG - Regimento de Cavalaria de Guarda, sediada em Brasília, encarregou-se da gravação.

 

                        Em meu último livro, De Balsas Para o Mundo, tracei o perfil desse saudoso músico sertanejo, falecido em maio de 1980, aos 63 anos de idade, vítima de infarto que o derribou quando tocava a rumba Siboney, no episódio Martinho Mendes, Meu Tipo Inesquecível. Nesse perfil, uma carta escrita pelo Dr. Paulo Fonseca, na época Procurador de Justiça do Estado do Maranhão, para seu amigo, conterrâneo e contemporâneo Miguel Borges, residente em Carolina, fortemente emocionado ao retornar de seu velório do Martinho, abaixo transcrita:

 

“Caro Miguel.

 

            “A notícia que tenho para lhe dar é a da morte do Martinho. Não é outro, o Martinho Músico, dono do sopro inconfundível daquele seu inseparável saxofone, que desde a nossa infância acostumamos a ouvir nas vesperais dos domingos alegres, nos bailes tradicionais, e, sobretudo, nas retretas das noitadas de Santo Antônio...

 

            “Morreu o Martinho, músico cristalino, boêmio solitário, companheiro fiel das noites enluaradas de nossa cidade, ao tempo das serenatas – poesia musical, que cada um escutava sem perder uma nota, docemente, como eflúvios naturais da vida simplória do sertão. Suas músicas, seus solfejos característicos, por serem simples, inconfundíveis, maravilhosos aos nossos ouvidos, eternos em nossos corações. Lembram-me sempre os chorinhos gostosos, trejeitados. Aquelas marchinhas animadas, com sabor de virgindade, suas valsas melódicas e penetrantes, tocadas com pedaços de nossas almas. Miguel, no Martinho tudo é lembrança...

 

            “Fui à casa dele, ao seu velório. Lá estava ele, deitado, todo de preto, na sala da frente de seu casebre, que já é quase o meio da rua. Não parecia morto. Estava dormindo. Rosto sereno. Tranquilo. Nenhuma sombra de angústia sofrida. Sabe, Miguel, até parecia mais jovem, mais recuperado, impecável. Nunca um morto. Isso não parecia. Parecia estar a sonhar um sonho de criança. Parecia diante da vitória conquistada, ele, o herói da grande batalha.

 

            “Morreu o Martinho... Nosso velho Martinho... Figura singular. Alma inofensiva. Artista feito de arte dada por Deus, arte que nunca perdeu, que nunca negociou...

 

            “Miguel, você sabe o quanto o Martinho foi grande para a nossa cidade. Criou, na sua música, quantas gerações, quantas? O Martinho é um pedaço de Balsas, insubstituível, está na lembrança de todos nós. Morreu como um gigante, no campo de honra, abraçado com o seu inseparável companheiro, o velho saxofone, que dele em vida recebeu, como prêmio, seu último sopro. Balsas está chorando a partida do Martinho, seu grande amigo, retrato de sua alma, o maravilhoso artista do povo, que pobre e simples se impôs às gerações que o conheceram como um autêntico campeão.

 

            “Caro Miguel, amigo e companheiro, essa a notícia que esta carta lhe leva. Guardemos com carinho em nossas lembranças a figura do Martinho. Ele é digno de todos os balsenses. Merece o reconhecimento de nossa cidade que tanto amou. Rezemos por ele, que teve entre nós a imagem de um justo.

 

            “Um abraço. (a) Paulo Fonseca”

                       

                        Para os internautas, Martim Musgo não morreu. Agora, seu nome é internacional. Seu dobrado Padre Cícero já está consagrado no 4Shared e no Google. Para baixá-lo e salvá-lo, clique no neste link, ou copie-o e cole-o em seu navegador:

 

http://www.4shared.com/folder/-8Hfzx_0/DOBRADOS_NOVOS.html

 

                        Para facilitar, disponibilizo-lhes aqui o Dobrado Padre Cícero, com a Fanfarra do 1º RCG. Ouçam-no, e depois me digam o que acharam!

 

 


Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas quarta, 12 de julho de 2017

UM CASCUDO ME SALVOU DA ESCURIDÃO

UM CASCUDO ME SALVOU DA ESCURIDÃO

(Publicada em 16.05.2011)

Raimundo Floriano

 

Primeira Edição, 05/1992 - 44 páginas

 

                        Isso aconteceu em 1992, conforme adiante relatarei.

 

                        Lulu Santos, o grande músico, cantor e compositor, lançou, há alguns anos, seu Método Para Guitarra, cuja propaganda na TV mostrava um garotão espancando o instrumento, na maior barulheira, quando Lulu interrompia a execução e perguntava ao jovem roqueiro se gostava de tocar. O garotão, com a maior cara de convencimento, respondia que sim, e Lulu questionava:

 

                        – Por que não aprende?

 

                        A Música e a Literatura são as duas principais Artes inventadas pelo homem, estas sob inspiração divina. Em meu entender.  Absorto na leitura e ao som de boa música, não há assunto televisivo que me desvie a atenção, seja breguice matinal, programa de auditório, filme, novela, baixaria vespertina ou futebol.

 

                        No ano passado, li 85 livros! Considerando-se que, nesse período, lancei De Balsas Para o Mundo, mantive minha coluna semanal no Jornal da Besta Fubana, li o jornal diário Correio Braziliense e, aos domingos, a revista Veja, além de atender pedidos de música, partituras e informações outras que me chegam de todo o Brasil e até do Exterior, esse número constitui-se em memorável recorde, que jamais será batido. De janeiro até agora, por exemplo, só consegui ler 19.

 

                        Como vocês podem acertadamente deduzir, escritor, comigo nada na maré mansa, com casa, comida, roupa lavado e generoso estipêndio de mesada.

 

                        A partir de janeiro de 1980, passei a anotar numa agenda os títulos que lia. Até este momento, somaram 591. Em 31 anos, a média foi de 19, mais de um e meio por mês. Leve-se em conta que em grande parte desse período eu ainda me encontrava em atividade funcional.

 

                        Esse meu afinco na leitura tinha dois objetivos: primeiro, a diversão pura e simples; segundo, a esperança de que com tantos estilos, criações e ensinamentos absorvidos, também pudesse eu, algum dia, aventurar-me, no mundo da escrita, como neste momento. E aqui me vem a imagem de Lulu Santos:

 

                        – Por que não aprendeu!

 

                        Pois é!

 

                        Ao rever a velha agenda de anotações, levei o maior susto: em 1992, eu lera apenas 1 (um) livro, ou seja, aquele ano chegou perto de se constituir em completa escuridão literária, se não fosse o bem-vindo Cascudo Mauriciano, para me salvar daquela cegueira.

 

                        Para que vocês compreendam melhor essa minha inércia na leitura, passo a explicar-lhes um pouco os motivos que a causaram.

 

                        Ao aposentar-me, em fevereiro de 1991, eu já tinha todo um projeto para o aproveitamento da ociosidade, o de colocar em ordem o imenso acervo musical que amealhara por mais de três décadas, cerca de 2.400 elepês e 900 fitas cassete. Inativo, abracei integralmente a empreitada, colossal pedreira, tudo feito em fichas, com enormes arquivos metálicos ocupando o que ainda sobrava de espaço em meu espremido apartamentucho. Na era do computador, tudo isso caberia, folgado, num disquete.

 

                        Ainda nem engrenara, e tive de voltar à atividade, atendendo a insistente pedido de amigo para chefiar o Gabinete Parlamentar de filho seu, recém-eleito Deputado Federal.  Multipliquei-me por dez, para dar conta dos recados.

 

                        Agora, cabe a vocês questionarem-me. Como foi que ainda achei tempo para a leitura de A Revolta do Cascudo, infanto-juvenil que trata da vitoriosa revolução dos peixes do Rio Una, para salvá-lo da poluição causada pelo vinhoto despejado em suas águas? Mistério! Tchan-tchan-tchan-tchan!

 

                        Satisfarei a curiosidade de todos.

 

                        No dia 08.04.11, no JBF, o autor, Maurício Melo Junior, em sua coluna Canto do Arribado, publicou matéria com o título Aventuras de Um Quase Sacerdote Voluntário, da qual pincei o que adiante transcrevo:

 

Por esta época conheci Luiz Berto, que ainda não era Papa – vejam como essa história é antiga. A verdade é que desandamos a falar de literatura e até hoje este é o nosso assunto. Ele, junto com um bando de outros irresponsáveis (Orlando Tejo entre eles), apadrinhou meu casamento com a morena que ficou encantada com a minha conversa sobre o colombiano.”

 

                        A época referida por Maurício gira em torno de 1984, quando ele, Orlando Tejo, Luiz Berto e eu formávamos uma quase inseparável quadrilha, uns encambados nos outros. Viamo-nos todos os dias no Congresso Nacional e, nos finais de semana, reuníamo-nos na casa, ora de um, ora de outro, em regabofes tocados a comida, cerveja, refrigerante, cachaça e muita conversa furada.

 

                        E por que o Maurício não me citou, mesmo entre parênteses? – inquirirão vocês novamente. Mistério! Tchan-tchan-tchan-tchan!

 

                        Foi num tempo em que estávamos mergulhados na Literatura, na Cultura em geral, de ponta-cabeça. Orlando Tejo, nacionalmente consagrado com sua obra-prima, Zé Limeira, o Poeta do Absurdo, era nosso guru; Luiz Berto, já firme no mercado editorial, lançava o depois premiadíssimo O Romance da Besta Fubana, que lhe proporcionou até viagens aos Estados Unidos e ao Canadá; Maurício, o mais novo de nós, iniciava sua gloriosa carreira como escritor, cronista e crítico literário. E eu, quem era? E eu quem era? Pois bem, ou lhes direi. Andava com eles porque os admirada, e, devido a carregar sempre um livro comigo e usar óculos, o trio achou-me alguma parecença com um intelectual qualquer e me deu a função de revisar seus trabalhos. Sendo assim, eu não contava. Literalmente, porque não escrevia porra alguma, e numericamente, porque revisor, eruditamente falando, é gente de segunda classe, de casta inferior, come na cozinha, das panelas, jamais na sala, das terrinas dos maiorais.

 

                        E como foi, então, que você encontrou uma brechinha de tempo para ler o Cascudo? E qual o argumento usado pelo Maurício para conseguir tal exceção? Hão de perguntar-me! Sem piscar, respondo-lhes! Prevaleceu no fragor dos acontecimentos, um componente maior, por vezes já não muito valorizado nos dias atuais: a amizade!

 

                        Estávamos em 1992. Maurício procurou-me no meu Gabinete do Anexo IV da Câmara dos Deputados para dar uma vasculhada nos originais do Cascudo. Não se configurava isso em revisão, pois ele, já escritor famoso, produzia para editora fixa, a Bagaço, cujos funcionários se encarregariam do texto para colocá-lo em condições de ir ao prelo. Por conseguinte, meu nome nem saiu nos créditos, conforme acontecera em livros anteriores de Maurício nos anos 1980.

 

                        Afortunadamente, o Cascudo me salvou de duas escuridões, a literária, porque não passei o ano de 1992 na cegueira absoluta, e a intelectual, eis que, ao terminar a vasculhada, descobri-me incapaz de revisar qualquer tipo de texto, por menor que fosse, um selo sequer. E danei-me a estudar Gramática, particularmente a análise sintática, e, nesta, o período composto, no qual eu me considerava em extrema penúria. Pronto, lá vem o Lulu Santos de novo, pra cortar meu barato:

 

                        – E por que não aprendeu?

 


Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas terça, 11 de julho de 2017

MEUS PRIMEIROS ROMANCES

MEUS PRIMEIROS ROMANCES

(Publicado em 09.05.211)

Raimundo Floriano

 

                        Em 1946, quando eu tinha 10 anos de idade, o mundo se abriu para mim, conforme vocês já viram e continuarão vendo em meus escritos. Acabara-se a Guerra, e o Brasil, especialmente o meu sertão sul-maranhense, foi inundado por imensa quantidade de itens modernos e para nós totalmente desconhecidos.

 

                        Eu cursava o 3º Ano Primário, e os livros que conhecia eram, além da Carta de ABC, a Cartilha, a Tabuada e os Livros de Leitura, das séries anteriores, a Gramática Expositiva, da Companhia Editora Nacional, a Aritmética Progressiva, de Antônio Trajano, os Livros de História, Geografia, da Editora FTD, e a antologia Boa Linguagem. Além dos gigantescos calhamaços do Cartório do 2º Ofício, cujo Tabelião era Seu Rosa Ribeiro, meu saudoso pai. Ironicamente, tais volumosos documentos são minhas principais fontes de consulta na atualidade, quando quero focalizar algum vulto histórico de Balsas, minha cidade natal.

 

                        Nas férias daquele ano, meu irmão Bergonsil, o Chilim, estudante e Carteiro em Floriano (PI), trouxe-me de presente algo completamente impensável, pelo menos em meu caso: um romance, A Volta de Tarzan, Edição de 1933, esse cuja capa vocês veem acima, que abriu as portas do mundo fantástico da ficção para este menino matuto, que só lera, até então, fora dos livros escolares, os folhetos de cordel, vendidos na quitanda de Seu Enoc Miranda, conhecidos também como “romanços”, até hoje uma de suas paixões.

 

                        Foi mesmo a descoberta de um desconhecido universo de sonhos e fantasias. Tarzan, herói do qual eu jamais ouvira falar, foi-me apresentado pelo Chilim, que me falou de sua origem, de Jane, sua mulher, dos filmes com suas façanhas, e até me mostrou um pedaço de fita com a imagem de Boy, o filho co casal. Eram duas as voltas. A primeira, quando Tarzan retornou à Selva Africana, e a segunda, ao regressar à Civilização, casado com Jane. Na última linha do livro, o herói lasca-lhe um beijo, sabem onde? Bem nos lábios!!! Tempos depois, já adulto, li o primeiro volume da série, Tarzan dos Macacos.

 

                        Em 1947, Chilim, sabendo que me agradara bastante com o presente anterior, trouxe-me, além de vários gibis, Memórias da Emília, de Monteiro Lobato, Edição de 1945.

 

Capa e contracapa 

                        Dessa vez, eu passaria a viver as inverossímeis peripécias do pessoal do Sítio do Pica-pau Amarelo. Nas Memórias, até um anjinho de asa quebrada foi parar por lá, causando alvoroço nos quatro cantos da Terra. Mediante sorteio, as primeiras mil crianças a visitarem o Sítio vieram da Inglaterra, no navio Wonderland, comandado pelo Almirante Brown, no qual embarcaram, clandestinamente, o Marinheiro Popeye e o Capitão Gancho. No meio da meninada, vieram Peter Pan e Alice do País das Maravilhas. Depois de adulto, li toda a obra de Monteiro Lobato, inclusive O Presidente Negro, obra premonitória escrita em 1926.

 

                        E por que tomo o tempo de vocês estampando a capa desses dois livros? Respondo: porque consegui, graças ao milagre da Internet, adquirir essas duas edições para comporem minha estante de relíquias. Com os erros de ortografia em consonância com os acordos ortográficos vigentes no tempo que foram impressos. Papel amarelado, de terceiríssima qualidade, cheio de manchas, o Tarzan quase apodrecido, a Emília muito rabiscada, mas ambos me levando ao inesquecível tempo da infância.

 

                        Ainda em 1947, Dona Nelsa Farias, vizinha nossa, vendo-me com meus troféus, ficou espantada e perguntou-me se eu gostara da leitura. Respondi que sim, e ela, dias depois, apareceu-me com este tesouro lá do fundo de seu baú: Os Três Mosqueteiros, de Alexandre Dumas. Emprestado, claro! Foi ventura demais para este menino sertanejo! Engrossou o caldo de vez!

 

                        Esses três romances tiveram a virtude primordial de me encaminhar para o caráter lúdico dos livros, para o imensurável entretenimento proporcionado pela Literatura.

 

                        Quando comecei a ganhar meu dinheirinho fixo, paralelamente à compra de discos, reencetei a leitura dos grandes escritores, nacionais e estrangeiros, começando por toda a obra de José Lins do Rego, meu ídolo até hoje. Aí, não parei mais!

 

                        E, com tanta informação adquirida, ora até me atrevo, mal e porcamente, a intrometer-me nessa perigosa arte da escrevinhação e na arriscosa ousadia na rima e na métrica do cordel.

 


Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas segunda, 10 de julho de 2017

PIONEIRO INTITULADO E VERBETE

PIONEIRO INTITULADO E VERBETE

(Publicada em 25.04.2011)

Raimundo Floriano

 

                        Hoje, 21 de abril, quando lhes escrevo estas maltraçadas, Brasília completa 51 anos de sua fundação, e é com imensurável alegria que me dano a relembrar as gloriosas passagens aqui por mim vividas, as quais não posso deixar de compartilhar com todos vocês.

  

                        Quando fui receber meu Diploma e a Medalha de Honra ao Mérito de Pioneiro, Chico Fogoió, meu Assessor e Marqueteiro, quis saber se a solenidade seria transmitida pela TV. Ao inteirar-se de que sim, orientou-me:

 

                        – Mundinho, na hora do recebimento, fala assim: “Dizem por aí que eu não sou diplomado, mas meu primeiro diploma é logo o de Pioneiro de Brasília”, e cai em comovido pranto.

 

                        Ao que eu retruquei:

 

                        – Chico, isso será uma deslavada mentira, pois já sou diplomado em Ciências Contábeis pela AEUDF!

 

                        Chico Fogoió insistiu:

 

                        – Mundinho, o que vale é o momento, o que fica na memória do povo. Lembra-te de que o Presidente Lula, ao ser diplomado pelo TSE, no ano passado, falou do mesmo jeitinho: “Dizem que eu não sou diplomado, mas meu primeiro Diploma é o de Presidente da República do Brasil”, e abriu o rabo a chorar, emocionando o País inteiro, numa cena que até hoje é rememorada com ternura por todos os brasileiros. Mas, na realidade, seu primeiro Diploma foi o de Deputado Federal, expedido em 1982 pelo TSE de São Paulo.

 

                        Para reforçar seus argumentos, Chico me exibiu esta carta que fora publicada no dia seguinte àquela cena, no Correio Braziliense:

 

Correio Braziliense - 17.12.2002

                       

                        Contrariamente à orientação desse meu zeloso Marqueteiro, fiz foi engalanar-me, caprichar nos detalhes, para que o importante e glamouroso momento se revestisse de toda a solenidade requerida.

 

Com Roosevelt Beltrão, Presidente do Clube dos Pioneiros, e Veroni, minha mulher

 

                        Não poderia faltar esta foto, demonstrativa do quanto de bom aquela diplomação representou aqui em nosso lar:

 

Com Veroni e Elba e Mara, nossas filhas

 

                        A festa aconteceu num sábado. A ela deveriam comparecer várias personalidades coroadas da República. Das programadas, confirmadas e esperadas, só faltou mesmo o Senador José Sarney, então – e hoje também! – Presidente do Senado da República. Em compensação, estava lá, sem aparato algum, o músico pistonista e Ministro Maurício Corrêa, então Presidente do Supremo Tribunal Federal, que curtiu a festa, dialogou com seus amigos, dançou, comeu, bebeu, enfim, se portou como legítimo pioneiro que é.

 

                        Passada a festa, o dia seguinte seria só de ressaca e descanso para nós aqui em casa, e para todos os que lá estavam, não fosse uma desagradável notícia: falecera há uma semana, o marido de uma grande amiga da Veroni, humilde contínuo do Judiciário, e a Missa de Sétimo Dia seria celebrada às 19h00, na Paróquia de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, no Lago Sul. Comparecemos.

 

                        Na hora das condolências à família enlutada, olha quem está na fila: o Ministro Maurício Corrêa!!! Não me contive. Ao passar por ele, mesmo sem conhecê-lo pessoalmente, dirigi-lhe um gracejo, expressando minha admiração por vê-lo ali:

 

                        – Ministro, em menos de 24 horas, é a segunda vez que nos encontramos!

 

                        E ele:

 

                        – Pois é, e ontem, lá na festa, eu fiquei o tempo todo encucado com aquela sua estrela de Xerife!

 

                        O tempo passou, mas novas festas vieram!

 

                        No ano passado, comemoramos, em grande estilo, o Cinquentanário de Brasília! Como decorreram rápido esses anos! Aquele dezembro de 1960 parece que foi ontem, quando desembarquei na Estação Rodoviária, esperançoso de que, na Capital Federal, iria realizar as grandes conquistas de minha vida. Éramos Deus e eu!

 

                        Ainda em 2009, a agradável surpresa: eu seria um dos verbetes do livro Brasília 50 Anos, e a Editora me solicitava o envio de meus dados biográficos, foto e uma frase definidora da ilustre Cinquentenariante.

 

                        Eis o livro, com meu perfil na Página 220:

 

 

                        Acompanhando-o, veio este certificado:

 

 

                        E, em meu verbete, esta declaração:

 

“Balsas é ternura umbilical; Floriano foi paixão de infância; Teresina foi xodó da adolescência; Brasília foi o amor à primeira vista, desde que aqui cheguei, em dezembro de 1960, terra onde fixei residência definitiva, escolhendo-a para nela constituir família e nela plantar as sementes de minha descendência.”

 

                        Faltou acrescentar: “Em que pese os trambiqueiros adventícios, que teimam em fazer-nos passar vergonha!”.


Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas domingo, 09 de julho de 2017

CHARGES ONLINE (AUTORES DIVERSOS)

 


Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas domingo, 09 de julho de 2017

CELECINO E ULISSES NA MANSÃO CELESTIAL

 

CELECINO E ULISSES NA MANSÃO CELESTIAL

(Publicada em 14.02.11)

Raimundo Floriano

  

                        A imagem acima evoca-nos Vidas Secas, livro de Graciliano Ramos, lançado em 1938. A cena, entretanto, é bem mais antiga, de 1923, e retrata a arribada de Raimundo dos Anjos Vila Nova e Firmina Maria da Conceição, acompanhados dos cinco filhos, fugindo da seca, da fome e da miséria. Saíam de São João do Piauí para Canto do Buriti, também no árido sertão piauiense. Em termos econômico-financeiros, iam do nada para lugar nenhum. O menino à direita, conduzindo uma cabritinha, presente do avô, é Celecino, aos 6 anos de idade.

 

                        Celestino – assim foi batizado –, o Celé, nasceu no dia 6 de abril de 1917. Ainda menino, o mulato são-joanense, já residente em Canto do Buriti, resolveu trocar de nome, por causa de um desordeiro daquela cidade, homônimo seu. Falou com o padre da paróquia, que concedeu em modificar seu nome de batismo para Celecino. Ficou órfão de pai muito cedo, por isso assinava-se Celecino Carlos Pereira, sobrenome herdado de Balbino, o padrasto, a quem chamava de pai.

 

                        Tendo estudado pouco, apenas o suficiente para ler e fazer contas, chegou sua vez, ainda na adolescência, de também emigrar daquele paupérrimo sertão. Mas não o fez como a maioria dos retirantes, procurando o sul-maravilha, onde, nos versos de Patativa do Assaré, cumpriria sua sina de nortista: “... tão forte, tão bravo, viver como escravo no Norte e no Sul”. Ao contrário, trilhou o caminho inverso. Depois de idas e vindas, lançou suas âncoras em outro Sul, o sertão sul-maranhense, fixando-se em Carolina, que dominava aquela região, comercial e culturalmente. Ali, encontrou tudo o de que precisava na boa e dadivosa Natureza.

 

                        No ano de 1948, casou-se com “Dona Maria”, assim por ele chamada, moça “de boa raça”, ele com 31 e ela com 21 anos de idade, advindo dessa união cinco filhos.

 

                        Em Carolina, ou em suas redondezas, foi pau pra toda obra: lavrador, carpinteiro, marceneiro, passarinheiro, tropeiro, caçador, comboieiro, vaqueiro, servente, pedreiro, pescador, garimpeiro, comerciário, boiadeiro, marinheiro, soldado, aeroportuário... Pense numa honesta profissão, e Celecino a exerceu. Essa luta pela sobrevivência tinha um intuito maior que era proporcionar aos filhos aquilo que os pais não puderam lhe oferecer: a instrução que “é dote que não se gasta, direito que não se perde, liberdade que não se limita”, como ensinava o escritor maranhense Coelho Neto.

 

                        E hoje vemos os sadios frutos refletidos nos cinco filhos que deixou: Renilson é Brigadeiro-do-Ar; Railda é funcionária do Banco do Brasil; Remilda, também do Banco do Brasil, é professora; Railma é médica; e Remilton é Chefe da Infraero em Carolina.

 

                        Celecino também tomou parte ativa na vida político-administrativa carolinense. Foi fundador do Centro Operário de Carolina, que chegou a presidir, e elegeu-se vereador por 6 legislaturas consecutivas, tendo galgado também o cargo de Vice-Prefeito.

 

                        Para contar a história desse grande lutador, verdadeiro Herói do Sertão, com todos os lances, peripécias e presepadas, era necessário o desprendimento de um homem dedicado aos fatos e às coisas simples do nosso povo, e esse homem se fez presente na pessoa do carolinense Ulisses de Azevedo Braga, advogado e jornalista, meu colega na Câmara dos Deputados, onde se aposentou como Taquígrafo-Revisor.

 

                        Ulisses, nascido a 30 de julho de 1930, defendeu perseguidos durante o governo militar e foi Secretário e Vice-Presidente da OAB-DF. De volta ao Maranhão, dedicou-se, durante muito tempo, à luta corajosa pela Cidadania e liderou o movimento que ficou conhecido como “Revolução de Janeiro”, em Imperatriz (MA), cidade onde exerceu intensamente o jornalismo e o radialismo e se firmou como articulista, cronista, poeta e escritor, sendo membro da Academia Imperatrizense de Letras - AIL.

 

                        Para escrever a biografia de Celecino, Ulisses deparou-se com dois obstáculos inicias: a recusa do protagonista em aceitar a homenagem, achando que sua vida simples não daria um livro, e a falta de documentos escritos para orientar sua pesquisa. A primeira barreira foi vencida, depois de muita conversa, e a segunda foi um tanto facilitada pelo herói da trama, verdadeiro arquivo humano de sua história, privilegiadíssima memória.  O produto final se ressente da carência das datas inerentes aos fatos relatados, e isso se explica porque, naquela época, quando não havia contas a pagar no final de cada mês, como na vida moderna, o calendário cronológico caracterizava-se por outros itens para assinalar o tempo: anteontem, ontem, hoje, amanhã, depois. Entre depoimentos, revisões e releituras, foram 3 anos de intenso labor.

 

                        Assim, Celecino - Se Não Estamos Sós..., com 348 páginas e caprichadas ilustrações de Altenir Alves, chegou ao mercado editorial, consagrando o nome e a vida desse nordestino vencedor, em primorosa apresentação:

  

                        No dia 13 de setembro de 2007, Ulisses veio procurar-me em minha casa, pedindo-me ajuda. Como se encontrava há mais de vinte anos morando longe de Brasília, perdendo seus contatos aqui, solicitou-me que eu, com minha experiência e conhecimentos, o orientasse para que o lançamento de Celecino na Capital Federal se constituísse em acontecimento de grande impacto, de arromba.

 

                        Imediatamente, abracei a ideia, e partimos para a luta. Levei-o à Secretaria da ASA-CD - Associação dos Servidores Aposentados da Câmara dos Deputados, onde conseguimos uma relação com os endereços de todos os colegas. De minha agenda pessoal, elaborei-lhe extensa lista com os nomes de todos os meus parentes, conterrâneos e demais amigos residentes em Brasília. Na Casa do Maranhão, agendamos o espaço e contratamos o bufê. Com meu irmão Carioquinha, cantor e seresteiro, ficou a parte musical e a sonorização, coadjuvado pelo amigo Expedito Dantas, o maior violonista de Brasília. Participei, ainda de duas reuniões preparatórias com outros carolinenses que se engajaram no projeto, e tudo ficou acertado para a não ocorrência de falhas e surpresas de última hora.

 

                        O lançamento, a 19 de outubro, foi o retumbante sucesso almejado, tanto de venda quanto de público. Anderson Braga Horta, poeta e escritor, nosso colega na Câmara, fez a apresentação. Carolinenses, balsenses e sul-maranhenses fizeram-se presentes, além de vários outros convidados, assim como notáveis personalidades: o Governador do Maranhão, representado por um seu irmão, o Brigadeiro Renilson, primogênito de Celecino, acompanhado de diversos colegas seus da Aeronáutica, e Manoel Augusto Campelo Neto, o lendário Capitão Asa. A festa prolongou-se madrugada adentro, com muita comida, bebida, música e alegria.

 

                        Celecino faleceu no dia 24 de abril de 2008, aos 91 anos de idade.

 

                        Em agosto de 2010, ao lançar meu novo livro, mandei um convite para o Ulisses, mas não recebi dele resposta alguma. Creditei isso a talvez achar-se ele ocupadíssimo com seus afazeres de jornalista. Anteontem, dia dois de fevereiro, ao ler o Correio Braziliense, vi um aviso comunicando seu falecimento, ocorrido no dia 30 de janeiro, aos 80 anos de idade. Liguei para o Waldir Braga, seu irmão, editor em Carolina da Folha do Maranhão do Sul, o qual me informou que Ulisses já vinha sofrendo de grave enfermidade há mais de um ano.

 

                        No Plano Superior, portanto, segurando na mão de Deus, encontram-se hoje a personagem e o autor, Celecino e Ulisses, papeando, jogando conversa fora, e, quem sabe, inspirando alguém aqui na Terra para que conte outra edificante aventura sertaneja.

                       

                        Ulisses dizia que “Celecino é uma história que parece transcorrer sempre entre o céu e a terra, sobre um ser humano especial, uma cidade com alguns sinais fortes de predestinação e a saga de toda uma região, de que ela foi e de certo modo ainda é um centro civilizador”.

 

                        E mais: “Valeu a pena ser humilde. Valeu a pena respeitar e ser respeitado. Valeu a pena não viver apenas para si mesmo. Valeu a pena ter fé no Bem e na Justiça Divina. Valeu a pena, acima de tudo, crer em Deus. Pensando e sendo dessa forma, valeu e vale a pena VIVER”.

 

                        Valeu, Celecino!!!

 

                        Valeu, Ulisses!!!

 

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Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas sábado, 08 de julho de 2017

A CADEIRINHA TRASEIRA E O TRASEIRO CANINO

 

A CADEIRINHA TRASEIRA E O TRASEIRO CADELINO

(Publicada em 06.09.10)

Raimundo Floriano

 A cadeirinha obrigatória e o detetive canino

 

                        Até o mês de julho passado, era-me possível esta cena acontecer: meu neto de quatro anos pegar o telefone e ligar para mim – garoto esperto, com essa pouca idade, já sabe telefonar – e gritar a todo pulmão:

 

                        – VÔ, NÓS TAMOS DE FÉRIAS! VEM PEGAR A GENTE PRA PASSEAR NO SHOPPING!

 

                        Isso porque, com o pai e a mãe trabalhando, aquele casarão onde eles moram no Lago Sul mais se assemelha a uma prisão com grades e sem pátio, onde as crianças se sentem sufocadas no gozo das férias.

 

                        Pra que é que serve o avô? É pra isso mesmo, ou, talvez, somente pra isso!

 

                        E eu, todo feliz, todo ancho, todo prosa, ia lá, pegava meu neto e a irmãzinha dele, um pouco mais velha, e cumpria aquele extenso programa infantil que vocês muito bem conhecem.

 

                        Agora, isso não é mais possível. Nem para esse pequeno agrado o vô serve nos dias atuais. Com a obrigatoriedade da cadeirinha traseira, ou deixo de atendê-los, ou tenho de instalar duas delas no meu carro, se quiser ficar bem na foto com meus queridos netos. E, mesmo assim, se, na hora de buscá-los, eles estiverem com um amiguinho da mesma idade? Pronto, mixou o papo! São os percalços que ora enfrentamos nós, os avós, tios e tias, padrinhos e madrinhas, amigos e amigas.

 

                        Eu falava tudo isso pra meu assessor piauiense, Chico Fogoió, dando minha opinião de que essa obrigatoriedade só veio mesmo para beneficiar as indústrias fabricantes de cadeirinhas, assim como aconteceu com o estojo de pronto-socorro, hoje completamente em desuso, ao que ele me retrucou:

 

                        – Mundinho Fulô, tu tás sendo muito radical. Tu precisas te adaptar aos avanços da tecnologia. Se o governo manda usar, é porque foi dedicado muito tempo de estudo para que tomasse essa decisão.

 

                        Eu argumentei que tudo bem, mas, quanto à bendita cadeirinha, até agora, que eu saiba, nunca houve um acidente em que seu uso fosse fundamental, e ele me contestou:

 

                        – Tu é que pensas, Mundinho! No ano passado houve um desastre automobilístico lá no Kafiristão, Leste Europeu, no qual uma criança foi salva porque, sendo sequestrada, estava amarrada ao banco traseiro do carro. Presumo que, por isso, as autoridades brasileiras chegaram à conclusão de que é benéfica essa imposição da qual ora tu tás a reclamar.

 

                        Aí, eu não aguentei:

 

                        – Chico, por causa de UMA pessoa, lá além do horizonte, todos nós vamos ter de suportar o ônus dessa obrigatoriedade? Não seria melhor que a adaptação fosse compulsória, ficasse ao talante de cada dono de carro?

 

                        Mas ele me esclarece:

 

                        – Mundinho, isso é assim mesmo, desde os primórdios da humanidade. Por causa de UM erro cometido por Adão e Eva, todos nós nascemos com o pecado original. E tem mais, nas leis naturais, até com os animais sucede que UMA coisa acontecida com UM seu ancestral se torne consuetudinária para todos os de sua espécie, isso em caráter universal.

 

                        – Por exemplo?

 

                        – Os cachorros que só urinam com a pata traseira direita levantada – continuou Chico Fogoió –, isso em qualquer parte do Planeta Terra.

 

                        – E qual é a sua explicação, Chico?

 

                        – Minha não, Mundinho! A explicação está no folclore. Há milênios, o Rei dos Cachorros foi fazer xixi à sombra dum muro, e o muro caiu por cima dele. A partir daí, por determinação expressa do acidentado Rei, todos os cachorros, nacionais ou internacionais, sempre que vão mijar, seguram primeiramente o muro, a parede, a árvore, até a perna de seu dono, para que não lhe caiam por riba do lombo. E a coisa é assim porque UM cachorro, antepassadíssimo dos caninos, não soubera se precatar.

 

                        – É, dá pra pensar! – admiti.

 

                        – E tem mais, Mundinho. Tu sabes por que é que todo cachorro, seja da raça vira-lata, pitbull, rottweiler ou pequinês, em qualquer país do Mundo, quando se encontra com outro vai logo cheirando-lhe o fiofó?

 

                        – Engraçado, é isso mesmo! – admiti.

 

                        O fenômeno tem também origem no folclore cachorral, e vem do tempo em que se amarrava cachorro com linguiça. Repare bem nesta figura com dois cachorros de dupla nacionalidade, australiana e americana, e constate que o costume é planetário, mas não espontâneo, e, sim em obediência a ditame governamental da espécie.

  

                        Aconteceu que, no primeiro Reino Cadelino, havia muita fartura, os cachorros dormiam, à noite, cada qual atrelado à sua corda-linguiça amarrada a uma das milhares de argolas existentes na grande muralha que cercava o domínio real. Isso era tão natural, tão rotineiro, que os cães nem desconfiavam do valor palatável e saboroso daquele utensílio que os aprisionava. Até que, um dia, como sói acontecer, UM deles, muito curioso, viu-se vítima de incontinência degustatória e, sorrateiramente, escondido de todos, devorou uma das cordas-linguiças. Na hora em que o bedel canino foi amarrá-los, deu por falta da dita cuja. Quem foi? Quem não foi? O infrator não se acusou, e o caldo entornou. O Rei dos Cachorros, então, baixou um decreto nomeando detetives todos os seus súditos, com a missão específica de cheirar o furico de cada qual dos seus semelhantes, assim que o encontrassem, visando a descobrir qual fora o indivíduo que praticara tão repulsivo crime.

 

                        – Tá bem, Chico – conformei-me –, mas por causa de UM, todo o mundo vai pagar o pato?

 

                        Minha vontade, porém, foi a de pegar um potente microfone e gritar para que todo o universo me escutasse, dando uma de Waldick Soriano:

 

                        – EU NÃO SOU CACHORRO NÃO!

 

+*+*+*+*+*+

 

Pesquisando no Google CACHORRO CHEIRANDO BUNDA, encontrei uma postagem de pessoa que se assina Larinha, a qual transcrevo fielmente:

 

“Por que cachorro cheira bunda?

A pergunta é simples e acho q a resposta nem tanto, Pq sempre q vou na casa da minha amiga o cachorro dela fica cheirando entre as minhas pernas (sic)??? Isso é tão constrangedor.”

 

 


Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas sexta, 07 de julho de 2017

FUI NOTÍCIA NA CAPITAL LUDOVICENSE

FUI NOTÍCIA NA CAPITAL LUDOVICENSE

Raimundo Floriano

 

 

                        Nasci em Balsas, sertão sul-maranhense, limítrofe com o então Estado de Goiás, hoje Tocantins, no ano de 1936, mas só em 1973, por acaso, vim a conhecer São Luís, a Capital Ludovicense – assim denominada pelos franceses ao fundarem-na, em 1612, homenageando Luís XIII, o Justo, Rei da França. Para os franceses, Ludovico e Luís é tudo a lesma lerda. Para os franceses, eu disse!

 

                        Vou explicar a razão dessa demora e o motivo desse acaso.

 

                        Nos Anos 30/40, não havia estrada carroçável de Balsas para São Luís, distante 818 quilômetros em linha reta. Para os balsenses chegarem àquela cidade, no litoral, navegavam pelo Rio Balsas até Uruçuí, Piauí, acessando o Rio Parnaíba, e dali até Teresina, perfazendo um trajeto 1.080 km de meandros aquáticos. Faltando ainda 458 km para o destino – total da aventura: 1.538 km e 10 dias de viagem, no mínimo –, o jeito era desembarcar e seguir por terra, cumprindo o célebre roteiro imortalizado por Luiz Gonzaga, o Rei do Baião:

 

                        “Peguei o trem, em Teresina, pra São Luís do Maranhão

                        Atravessei o Parnaíba, ai, ai, que dor no coração!”

                       

                        Éramos, portanto, devido à distância e à carência dos meios de acesso, ignorados, completamente marginalizados pelo governo estadual, e nossos centros comerciais e culturais mais próximos eram Floriano e Teresina, acessíveis por água, via Rios Balsas e Parnaíba, e Belém do Pará, também acessível por água, via Rio Tocantins.

 

                        Estudei em Floriano, depois em Teresina, e, de lá rumei para o sul-maravilha, no intuito de conquistar o mundo. Quando isso consegui, sempre voltei a Balsas, para gozar férias junto a minha família, jamais pensando em conhecer a Capital.

 

                        E o tempo foi passando!

 

                        Em dezembro de 1973, fui passar o Natal em Balsas. No dia 22 de dezembro, um sábado, embarquei num Avro (DC-4) da Varig, em Brasília – verdade, há 40 anos, isso era possível –, e a viagem ia muito bem até as cercanias do campo de aviação balsense, quando se iniciaram os procedimentos para o pouso. Já quase tocando o chão, o Comandante verificou que a pista era um aguaceiro só, completamente inundada, o que o fez arremeter a aeronave e seguir em frente. Dessa forma, aos 37 anos de idade, por acaso, conheci São Luís!

 

(Nota explicativa: hoje, 04 de março de 2013, para ir-se de Brasília a Balsas, sem estrada carroçável que se apresente em razoáveis condições ou não destruam as viaturas utilizadas, pega-se um avião até Imperatriz, 2 horas de viagem, e, depois, utiliza-se de van ou de micro-ônibus, levando mais de 7 horas para vencer um percurso de 387 quilômetros de buraqueira, calor, poeira e ausência de um mínimo de condições higiênicas nas privadas que se encontram pelo caminho.)

 

                        Lá, por conta da Varig, fiquei hospedado no Hotel Central. No dia seguinte, 23, um domingo, aproveitei para conhecer os pontos turísticos mais famosos da cidade. Na segunda-feira, dia 24, o mesmo avião, retornando de Fortaleza, me levou ao meu destino, desta vez, felizmente, com a pista seca.

 

                        E o tempo foi passando!

 

                        Em julho de 2010, 37 anos depois – joguem no bicho, é a dezena do coelho! –, voltei a São Luís, em viagem programada e ansiada, para assistir ao casamento dum sobrinho. Embarquei no dia 2 de julho, sexta-feira, assisti ao casamento no sábado, cujas festividades se prolongaram no domingo, e retornei no dia 5, segunda-feira. O que aconteceu no voo e seu desdobramento são o motivo desta matéria.

 

                        Fomos eu e Veroni, minha mulher. Ainda na Sala de Embarque do Aeroporto de Brasília, apinhada de passageiros para todos os destinos, visualizamos uma jovem morena, dos seus 40 anos, irrequieta, andando dum lado para o outro, agarrada ao celular, transmitindo e recebendo. Era o tipo da mulher brasileira, estatura mediana, corpo exuberante mas não chamativo, traje elegante, uma linda mulher.

 

                        Na primeira viagem do ônibus leva-e-traz, fomos conduzidos à aeronave. Ocupamos nossos lugares, eu, como sempre, perto da janela, Veroni ao meu lado, à direita, ficando o terceiro assento desocupado. Na segunda pernada do ônibus, a morena veio e o ocupou. Ao contínuo, puxou conversa com Veroni, começando ali uma boa amizade.

 

                        Nem bem o avião levantara o rabo da pista, e Veroni me pediu que desse meu cartão de visita à morena. Depois disso, a conversa passou a ser comigo, até desembarcarmos em São Luís, quando lhe entreguei também o convite – que estava na bagagem – para o lançamento de meu novo livro, De Balsas Para o Mundo.

 

                        A morena se chama Paulinha Lobão, é filha do jornalista Expedito Quintas, meu colega aposentado da Câmara dos Deputados, e tem um programa de variedades na TV Difusora do Maranhão, afiliada ao SBT, o Algo Mais, nos sábados, a partir do meio-dia, que, em julho passado, completou 10 anos, o mais visto em toda a Capital Timbira e arredores. Detalhe: é ao vivaço, conforme ela faz questão de ressaltar.

 

                        A mulher é um show: apresenta, noticia, comenta, canta, dança, rebola, domina, contagia, agrada e encanta.

 

                        Ao nos despedirmos no Aeroporto do Tirical, em São Luís, ela prometeu-nos fazer-me uma homenagem em seu programa no dia seguinte, 3 de julho, quando eu comemoraria meus setenta e quatro anos de doce vidinha.

 

                        O resultado está aí neste vídeo de quase 6 minutos, com que ora lhes presenteio, agradecendo o apoio técnico da seção de recursos audiovisuais do JBF.

 

                        Resumo de tudo: fui profeta em minha terra!

 Confiram neste youtube:

 

 

 

 


Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas quinta, 06 de julho de 2017

O PRECIPÚCIO

PRECIPÚCIO

Raimundo Floriano

 

Tubaroa do Mestre Túlio, na visão das quengas

 

                        Precipício é sinônimo de grave perigo. Prepúcio é a pele que cobre a glande do pênis, ou seja, o popular couro de p*c@. Precipúcio, neologismo que acabo de inventar, vem a ser a empreitada em que o sujeito corre grande risco de ficar sem o prepúcio ou, até mesmo, de perder a própria p*c@, conforme adiante relatarei.

 

                        Aconteceu em meados dos Anos 50, em Teresina, Meu Xodó, terra de moças bonitas e piauizeiros cheios de presepadas.

 

                        Naquela época, havia por lá um mestre de obras muito caprichoso e requisitado, o Mestre Túlio, mulato manemolente, famoso na ZBM - Zona do Baixo Meretrício pelo desproporcional tamanho de seu possuído. Nos cabarés da Rua Paissandu e adjacências, era disputado a tapa pelas meninas que ali exerciam sua alegre profissão e enfeitavam as mil e uma noites da doce vida teresinense.  Sua fama de bem-dotado correu mundo, inspirando os calemburistas a fazerem este trocadilho: não confundam a obra do mestre Picasso, com a p*c@ de aço do mestre de obras!

 

                        Fugindo um pouco do tema a que ora me proponho, contarei engraçado lance em que ele foi personagem. Havia na ZBM um gayzinho assumido, o Valbino, que prestava serviços no Quitandinha, na Raimundinha Leite e no Sete Tabacos, cabarés afamados. Sua figura não o ajudava. Feio, baixinho, corcunda, em muito se assemelhava ao famoso Quasímodo, o de Notre Dame. Um dia, ao defrontar-se com Mestre Túlio, falou:

 

                        – Vem cá, moreno, deita-te comigo, e eu te darei uma maravilhosa noite de amor!

 

                        Mestre Túlio se enfezou!

 

                        – Tu é besta, cabra safado, vê lá se eu me rebaixo a comer viado!

 

                        E o pobre do Valbino, humilde, entristecido, ficou a lamentar-se:

 

                        – Infeliz da mulher que tem a b*ceta nas costas!

 

                        Mas voltemos ao que interessa.

 

                        Chegou à capital piauiense a notícia de um negão etíope que estava fazendo furor em todas as cidades brasileiras por onde passava. Empautado com o capeta – assim diziam, ou o próprio tinhoso, como supunham alguns –, o negão, conhecido por Kudiferro, vinha desfiando todos os homens tidos como ajumentados a tentarem penetrar-lhe rabo adentro, no que ganhava muito dinheiro com as apostas, pois permanecia virgem como nascera. Ninguém jamais o conseguira!

 

                        Era inevitável que Kudiferro, com sua fama de cabaçudo, e Metre Túlio, com a de rompedor, não tardassem a cruza os bigodes para protagonizarem memorável tira-teima.

 

                        Isso aconteceu no Salão Cairu, ali na Rua da Glória – atual Lisandro Nogueira –, a um quarteirão do Mercado Municipal, administrado por João Molinho, que marcava o tempo no jogo de sinuca e tirava o barato – porcentagem ou parte das apostas que fica para o estabelecimento, no caso da sinuca, o dinheiro depositado na caçapa de 4 em 4 jogos.

 

                        Esse apelido era bem apropriado. João Molinho era um negro manhoso, andava maneiro, quase arrastando os pés, sempre com um cigarro no bico, com um detalhe: não tragava, e o cigarro permanecia com a cinza íntegra, queimando até o fim, sem ela cair, por artes de certa mágica que ele não ensinava por dinheiro algum.

 

                        O Salão Cairu ficou abarrotado de torcedores. O prêmio para o vencedor era o apurado nos ingressos, depois de retirado o barato, e também o apostado pelos contendores. João Molinho foi o juiz.

 

                        Começou o embate, os dois lutadores completamente pelados, com Kudiferro de quatro e, logo atrás dele, ajoelhado, Mestre Túlio, com a maçaroca envernizada, quase triscando no anel de couro do etíope. João Molinho, então, com toda a autoridade, comandou:

 

                        – Atenção, Mestre Túlio! Empurre o fumo!

                       

                        Silêncio sepulcral!

 

                        Mestre Túlio cuspiu na mão, lubrificou a cabeça da mandureba e procedeu à estocada. O cacete envergou, mas não entrou. Mestre Túlio tentou novamente, com mais força, concentrado, e o resultado foi o mesmo. Cada tentativa chegava quase a produzir faísca, sem sucesso algum. Decorrida meia hora, Mestre Túlio suava às bicas, com a vara toda assada de tanto resvalar.

 

                        Foi quando João Molinho, o juiz, falou pro etíope:

 

                        – Seu Kudiferro, dê um peido na cabeça do cacete do Mestre Túlio, que é pra humilhar!

 

                        Kudiferro assim procedeu! E foi sua desgraça! No exato momento em que o peido estourou, Mestre Túlio agarrou-o pelas virilhas e enfiou o porrete! Entrou até a mata dos pentelhos, só ficando de fora os quibas! Kudiferro deu um berro tão estrondoso, que foi ouvido do Oiapoque ao Chuí. E gritou pra Mestre Túlio:

 

                        – Tira! Tira! Tira!

 

                        Mestre Túlio fez foi arrolhar mais ainda, ao que o negão ameaçou:

 

                        – Tira, senão eu me dano a botar fogo por tudo quanto é de buraco!

 

                        Ao que Mestre Túlio, vitorioso, retrucou:

 

                        – Você pode botar fogo pelos ouvidos, pelos olhos, pelo nariz, pela boca, pela piroca, mas aqui pelo c* não sai nem fumaça!

 

                        Mesmo assim, o empautado não se deu por vencido e exclamou, vingativo:

 

                        – Piauizeiro desgraçado, tu ganhou a aposta, mas perdeu o pau!

 

                        E arrochou o esfíncter!

 

                        O urro de Mestre Túlio reboou das Barrancas do Rio Parnaíba até os Mares do Caribe! Kudiferro acabara de decepar seu porrete, torando-o bem na marca da pentelhada! Acabou-se a disputa! Foi preciso um saca-rolha para extrair a p*c@ de mestre Túlio do fiofó de Kudiferro.

 

 

                        Depois disso, Mestre Túlio passou a urinar agachado. Quando o fazia em pé, era com o auxílio de um canudinho, pra não mijar nas calças.

 

                        Quanto a Kudiferro, sabe-se que voltou para a África e que, depois de deflorado, descabaçado no Piauí, e tendo gostado da coisa, passou a travestir-se e a atender vasta clientela na ZBM de lá, onde ficou conhecido por sua nova alcunha: Kudiouro!

 

 


Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas terça, 04 de julho de 2017

MOSTRANDO O PAU, DIGO, A COBRA, OPA! O CACETE

 

MOSTRANDO O PAU, DIGO, A COBRA, OPA! O CACETE

(Matéria escrita em 21.06.2009)

 

 

É, na falação da sacanagem, pau, cobra e cacete não são os nomes do mesmo animal? Mas, tá bem, é mostrando o pau mesmo!

 

Há algum tempo, foi publicada, no JBF, a foto abaixo desafiando os leitores a identificarem os seis primeiros personagens, já que Genival e Lacerda e Jackson do Pandeiro, os dois últimos à direita, não deixavam sombra de dúvidas. Levei um bom tempo nesse mister.

 

Dona Sinhá, viúva do zabumbeiro Miudinho, reconheceu apenas Zé Calixto, o da sanfona de oito baixos. Ontem, numa festa junina, à qual compareci apenas para desenrolar esse assunto, meu amigo Torres do Rojão, líder do Trio Siridó, que conviveu com todos os personagens no tempo eu que a foto foi tirada, me ajudou a concluir a empreitada.

 

Devemos levar em conta que o ambiente não estava bem iluminado e que o Torres, sempre chupando na rabada dum cigarro pra lá de forte e fedorento, poderia ter as vistas prejudicadas pela escuridão-ambiente, pela fumaça maldita e pelo fato de se encontrar com o rabo cheio de cana.

 

Portanto, aceitarei todas as correções e até aconselho que os duvidosos mostrem a minha conclusão ao João Silva ou ao Genival Lacerda, o que muito útil nos será (ou ser-nos-á, só para chatear Caetano, que odeia a mesóclise).

 

 

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Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas terça, 04 de julho de 2017

AGRADECIMENTO PELOS PARABÉNS A MIM ENVIADOS

Tentei agradecer a todos, individualmente, mas o Facebook brecou alguns – muitos deles – posts, por motivos não muito claros para mim.

 

Por isso, aqui vai este agradecimento geral e público, na esperança de que, em 2018, e nos anos vindouros, Deus nos conceda a graça de novamente festejarmos meu aniversário, com saúde e paz.

 

PELOS PODERES DE DEUS, AQUI CHEGUEI!

 

Sou Raimundo Floriano

Mão de Onça, Pé de Pano

Do Maranhão natural

Trombonista brasileiro

Cordelista, presepeiro

Heterossexual

 

No Exército, Sargento

Trabalhei no Parlamento

A nobre missão cumpri

Com invejável memória

Em livros, conto a história

De Balsas, onde nasci

 

Oitenta e um nos couros

Vida coberta de louros

Provei o gosto de tudo

Desfrutei do bom bocado

Mas fui até governado

Por um tal Sapo Barbudo

 

Da jumenta tomei leite

Do coco tirei azeite

Pro beiju amanteigar

E pra rimar com jumenta

Houve uma Presidenta

No Brasil a governar

 

Meu medo é de certa hoste

Que elege qualquer poste

Fique a trocar as bolas

E venha com o xaveco

De balançar meu fuleco

E coçar meus caxirolas

 

Saiba, amigo ou amiga

Que é preciso que lhe diga

Com toda a sinceridade

Gosto muito de você

Por isso, que Deus lhe dê

Saúde e felicidade

 

Pra todos tiro o chapéu

Que vivam como num céu

De muita fartura e paz

Nesta vida tudo passa

Mas nunca vira fumaça

O bem que a gente faz

 

Você de mim se lembrou

E parabéns me enviou

No meu dia, 3 de julho

Por isso, quero que entenda

Valeu mais que qualquer prenda

Ou presente num embrulho

 

E para botar música na conversa, aqui vai o rojão Eu Sou o Forró, de Petrúcio Amorim, na voz de Cristina Amaral, rumbeira do Circo Imaginário do Velho Fulô, num youtube que me foi presenteado pelo amigo Jorge Rocha:

 

 

 

 

 

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Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas quinta, 29 de junho de 2017

PEDRO MARANHENSE, MEU PRIMO GUABIRABA

PEDRO MARANHENSE, MEU PRIMO GUABIRABA

(29.06.1925 – 10.12.2012)

Raimundo Floriano

 

Pedro Maranhense: no alto, à direita, a Fazenda Santa Rosa

 

                        O cavaleiro montado nesse ginete tobiano – ou pampo – raceado é meu primo Pedro Maranhense, homem do campo, das matas, dos rios, das lagoas, dos riachos, dos pastos, dos currais, do gado, de tudo que é ligado à Natureza silvestre, enfim, um telúrico.

 

                        Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja, disse Jesus Cristo a São Pedro, o pescador de almas. E esse meu primo já nasceu consinado, como se diz no sertão. Com a sina de ser Pedro e pedra lapidada, pedra-alicerce de toda uma família que ajudou nos difíceis momentos da vida. Ajuda material e, mais que isso, suporte espiritual.

 

                        Nosso avô, Capitão Pedro José da Silva, com prole de 17 filhos, criou-a na Fazenda Brejo, sertão piauiense, onde lhe ensinou o duro labutar na lavoura e na pecuária, tirando da terra as dádivas necessárias à subsistência e à aquisição de bens industrializados, estes, nas mais das vezes, obtidos na base do escambo.

 

                        Naquela fazenda, nasceu Tia Evarista. A maioria dos filhos nominou também os seus em honra ao Patriarca. Assim, tivemos Pedro de Alcântara, do Tio Mundico; Pedro Silva Neto, do Tio João Ribeiro; Pedro Del Pretes, do Tio Fructo; Pedro Apóstolo, da Tia Ondina; Pedro Silva, do Rosa Ribeiro, meu pai; Pedro Ivo, do Tio Cazuza; e Pedro Maranhense, da Tia Evarista, com um detalhe: nasceu no dia 29 de junho, Dia de São Pedro. Não fugindo à tentação de fazer um trocadilho, ouso afirmar que esse nosso primo já nasceu pedrestinado.

 

                        Sua ascendência é inteiramente sertaneja: bisavós paternos, Raimundo Alves Costa e Anna Alves Ferreira Sant’Iago, Belchior de Souza Britto e Maria Bandeira de Mello, do sertão sul-maranhense; e maternos, Fructuoso José Messias da Silva e Evarista Messias da Silva, Honorato José de Souza e Lucialina Maria de Freitas Sousa, do sertão piauiense. Avós paternos, Luiz Alves Costa e Albertina de Souza Britto Costa, do sertão sul-maranhense, e maternos, Pedro José da Silva e Isaura Maria de Sousa e Silva, do sertão piauiense.

 

                        Pedro Maranhense Costa nasceu em Balsas (MA), no Bairro Tresidela, a 29 de junho de 1925, e faleceu em Brasília (DF) no dia 10 de dezembro de 2012. Era filho de Manoel Maranhense Costa, o Né Costa, nascido em Pastos Bons (MA), a 5 de julho de 1898, e falecido em Caxias (MA), no ano de 1932, e de Evarista de Sousa e Silva, nascida em Floriano (PI), na Fazenda Brejo, no dia 20 de abril de 1896, e falecida na mesma cidade, no dia 25 de abril de 1928.

 

                        Pedro Maranhense era, portanto, guabiraba, termo com que são carinhosamente chamados, no Maranhão, os nascidos na Tresidela, bairro de cidades ribeirinhas, na margem oposta do rio.

 

                        Tio Né Costa levava uma vida nômade, como se deduz pelas datas de nascimento dos filhos: Maria Albertina da Silva Costa nasceu em Pedro Afonso (GO), hoje Tocantins, a 18.09.1923; Pedro, em Balsas, a 29.06.1925; e Maria Flory, em Floriano, a 27.10.1926.

 

                        Tia Evarista sofria de problemas pulmonares. No começo do ano de 1928, sentindo aproximar-se o fim de seus dias, e prevendo que Tio Né Costa, com seu espírito cigano, não teria condições de arcar com as três crianças que deixava, entregou-as para seus pais e meus avós, Pedro José da Silva e Isaura Maria de Sousa e Silva. Falecendo ele em 1933, Albertina e Pedro passaram à tutela de Tia Maria Isaura de Sousa e Silva, que os criou como filhos. Flory, por sua vez, foi entregue à Tia Ondina de Sousa e Silva. Isso aconteceu em 1928, ano em que o inglês Sir Alexander Fleming descobria a penicilina, o santo medicamento para debelar o mal de que ela sofria.

 

Pedro José da Silva, Isaura Maria e Maria Isaura, seus pais de criação

 

                        Tia Maria Isaura, alta funcionária dos Correios e Telegráficos, nunca se casou e foi um esteio em nossa família, ajudando nos estudos da maioria dos sobrinhos sertanejos, assim como eu, que se hospedaram em sua casa para cursar o ginásio. Moravam com Tia Maria Isaura sua irmã Júlia de Sousa e Silva, a Tia Julinha, e seus três filhos, Antônio Luiz, Magnólia e Nílton, que foram para o Pedro verdadeiros irmãos de criação.

 

Antônio Luiz, Magnólia e Nílton

 

                        Que Pedro se lembrasse, só viu seu pai uma vez, isso aos 6 anos de idade, quando Tio Né Costa, tendo já constituído outra família em Caxias (MA), passou por Floriano. Ambos, na presença um do outro, ficaram muito encabulados, sem saber o que falar. No ano seguinte, Tio Né Costa faleceu, e Tia Maria Isaura, ao consolar o menino, entregou-lhe um presente, única herança que o pai lhe deixara, uma tesourinha, da qual falarei mais adiante.

 

                        Pedro sempre foi um vencedor. Com a ajuda da Tia Maria Isaura e sua determinação de vencer obstáculos, conquistou seu espaço no mercado de trabalho do único modo que impulsiona o pobre que deseja crescer social e financeiramente: o estudo!

 

                        Com o Segundo Grau completo, foi admitido como funcionário da Sul América Capitalização S.A., mediante aprovação em concurso público, com exercício na Capital Piauiense, onde já desempenhava o cargo de Professor do Curso Primário.

 

                        Em outubro de 1949, casou-se com a balsense Raymunda Pires Maranhense Costa, a Dica, nascida a 8 de julho de 1926 e residente em Teresina, filha do negociante Álvaro Pires e sua mulher, Marina de Souza Coelho.

 

Pedro Maranhense e Dica

 

                        Pedro jamais pôs seu chapéu onde não pudesse alcançar. Assim foi que, ao casar-se, em vez de endividar-se e viajar para cidades mais adiantadas, hospedando-se em hotéis caríssimos, preferiu gozar sua lua-de-mel em Floriano, na casa onde fora criado.

 

Casa da Família em Floriano

 

                        Tia Maria Isaura preparou a alcova nupcial no quarto de duas janelas à esquerda da casa, nada ficando a dever a qualquer hotel de luxo. Acontece que as paredes do solar não iam até o teto. Com a casa cheia de moradores, adultos e estudantes, havia o inconveniente de que qualquer pequeno ruído e qualquer sussurro naquela camarinha seriam ouvidos lá na cozinha ou lá no imenso quintal. Nessas circunstâncias, a primeira noite transcorreu.

 

                        Na manhã seguinte, Pedro desencavou uma espingarda velha de cano de cabo de guarda-chuva, do tempo de menino, que lá deixara, foi ao comércio, comprou espoletas, pólvora, chumbo e bucha e chamou a Dica para caçarem rolinha fogo-pagou à beira dum riacho distante dali uma légua, rua acima. Saíam pela manhã e só voltavam à noitinha. Repetindo essa caçada todos os dias da lua-de-mel, nunca os vi trazerem ave abatida, mas o certo é que, ao retornarem para Teresina, uma das três Marias que compõem a prole do casal já estava encomendada.

 

 

                        Agora, vou falar-lhes da tesourinha, único dote que o Tio Né Costa deixou para o filho. Dica possuía Segundo Grau completo, o que muito lhe valeu na educação das filhas. Moça altamente prendada, como todas as balsenses daquele tempo, era perita em artes manuais.  Estando ela um dia, com sua irmã Magnólia Pires, sentadas no sofá da sala, a executar um bordado, como esse da foto, e usando a famosa tesourinha para os arremates, ocorreu de esta escapulir para uma brecha entre o assento e o braço do móvel, tornando-se impossível resgatá-la. Cada vez que e tentavam puxá-la, mais ela sumia. Como o sofá não era desmontável, ela ficou por lá mesmo. Mais tarde, ao ser vendido o móvel para comprar um mais moderno, a tesourinha foi junto.

 

                        Como eu disse anteriormente, Pedro fez do estudo seu modo de crescer na vida. No ano de 1952, foi aprovado em concurso público para o Banco do Brasil, tomando posse, em 1953, na Agência de Santarém (PA), após o que, conquistou o Grau Superior de Contador, vindo a aposentar-se, na Década de 1980, no cargo de Assessor da Vice-Presidência.

 

Fazenda Santa Rosa: entrada e sede

 

                        No inicio da Década de 1960, Pedro transferiu-se com a família para Brasília, onde fixou residência definitiva. Tão logo aqui chegou, adquiriu um pedaço de terra no Município de Santo Antônio do Descoberto (GO), dando início a sua vida de sertanejo, honrando a tradição de nosso avô, com a Fazenda Santa Rosa, onde passou a criar gado leiteiro e a produzir laticínios diversos. Com o terreno recentemente inundado pela Barragem do Descoberto, recebeu a merecida indenização, empregada toda ela na construção de nova sede, que se vê na foto acima, à esquerda das Sete Curvas e às margens do lago que se formou.

 

                        A Dica sempre o auxiliou na administração do lar e na rotina da fazenda, enfrentando qualquer tipo de serviço, sendo companheira exemplar e devotada até o dia de seu falecimento, ocorrido a 24 de julho de 1984, com apenas 58 anos de idade.

 

                        Nesse período de imensa dor, Pedro encontrou guarida no seio da família e nos companheiros rotarianos. Sendo um dos mais antigos sócios do Rotary Brasília Leste, adorava comparecer às reuniões nas terças-feiras, indo ao encontro dos amigos e, ao entrar no clube, logo dava uma chegada à cozinha para cumprimentar a turma do labor quando, muitas vezes, cantarolava algo e depois seguia para a sala de reunião.

 

                        Cantar era uma de suas curtições preferidas. Sempre bem-humorado, orgulhava-se de saber de cor mais de 100 canções e chegava a rir dos que não conseguiam decorar, às vezes, música alguma.

 

                        A 19 de julho de 1988, quase quatro anos após a viuvez, ele vivenciou um relacionamento amoroso e fugaz que lhe deu a alegria de ter um filho homem, o Everton. Pedro sempre considerou a instrução como o maior bem da vida e educou seus filhos norteado por esse pensamento, orientando-os e dando-lhes as condições necessárias à conquista do Grau Universitário e muito mais.

 

                        Pedro sempre foi caracterizado pela capacidade de perdoar, pelo modo de ver em todas as pessoas o lado bom a ser ressaltado, pela felicidade que trazia em seu semblante e pela alegria com que encarava a vida. A Fazenda Santa Rosa era uma espécie de clube sertanejo da família e dos amigos, onde realizávamos festas inesquecíveis, para as quais só nós daqui de casa arregimentávamos convidados que lotavam dois ônibus.

 

                        Um dos sonhos do Pedro era construir uma pequena orada na fazenda, em homenagem a São Pedro, também Padroeiro de Floriano, e na qual se entronizariam também as imagens de Nossa Senhora, a Mãe de Jesus, Santo Antônio, o Padroeiro de Balsas, e São Francisco de Assis, o Santo da Natureza, o que realizou no ano de 2011, aos 86 anos de idade:

 

Capelinha de São Pedro na Missa de Inauguração

 

                        Pedro não teve irmãos do sexo masculino, por isso considerava todos os primos como verdadeiros irmãos de sangue, e assim todos nós o tínhamos em nosso bem-querer. Essa fraternidade não se resumia apenas ao aspecto afetivo, pois a muitos ajudou materialmente, financeiramente, inclusive a mim. No ano de 1956, quando me encontrava desempregado em Teresina, ele me socorreu, não me dando o peixe, mas me ensinando a pescar: custeou-me um Curso de Datilografia, o qual muito me valeu para ser promovido a Sargento do Exército Brasileiro e, mais tarde, conseguir a aprovação em concurso público para a Câmara dos Deputados. A seguir, imagens colhidas na fazenda no ano de 2010:

 

Os primos Benu, Raimundo, Manoel, Oswaldo e Pedro - Pedro soltando a voz

 

                        Ao falecer, Pedro deixou uma linda família, constituída de três filhas, um filho, dois genros e quatro netos.

 

                        A Fogueira de São Pedro era uma tradição em nosso clã, começada pelo Capitão Pedro José da Silva, nosso avô, na Fazenda Brejo, mantida pela Tia Maria Isaura, em Floriano, e preservada pelo Pedro na Fazenda Santa Rosa. Com um detalhe: como sua irmã Maria Albertina falecera no dia 29 de junho de 1950, ele jamais comemorava seu aniversário e a Noite de São Pedro na mesma data. A festa seria antes ou depois.

 

                        Esse valoroso guabiraba, amabilíssimo primo e inesquecível irmão deixou-nos no dia 10 de dezembro de 2012, indo residir no Paraíso Celestial. Dois meses antes, esteve aqui em casa, cheio de vitalidade e esperança, combinando a grande fogueira que faríamos em seu aniversário.

 

                        Na Fazenda Santa Rosa, este ano, a Fogueira de São Pedro não será acesa. Estará, porém, vívida, intensa em nossos corações, onde as lembranças de Pedro Maranhense jamais se apagarão.

 

 

                        Em intenção do Chaveiro do Céu, do Pescador de Almas, e honrando a devoção dos Pedros de nossa família, vamos ouvir o balanço Viva São Pedro, de Jorge Ben, que o interpreta:

 

 

 


Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas quarta, 17 de maio de 2017

BOLA DE SEBO

BOLA DE SEBO

Raimundo Floriano

(Matéria publicada em 18 de maio de 2015)

 

 

                        Será que leem meus escritos?

 

                        Tenho cá minhas dúvidas!

 

                        No Facebook, quase certeza de que sou pouco lido. Embora conte já com 1008 amigos, a página Raimundo Floriano - Escritor, crida há quase um ano, onde posto matérias semanalmente, mereceu, até hoje, 293 curtidas.

 

                        Aqui no Jornal da Besta Fubana, médio, a coisa anda a meia-trave. No dia 13.4.15, postei a matéria NEIDE SANTOS - DESAFIO AOS CORDELISTAS FUBÂNICOS, esperando que a turma apresentasse seus reptos ao cordel de minha autoria enaltecendo nossa Madre Superiora, mas ninguém se pronunciou, retorno algum mereci.

 

                        Teimoso que sou, retomo o assunto aqui postado no dia 4.5.15, sob o título ESCRITOR: QUEM ME DERA SER!

 

                        E recomeço pinçando fragmento de notícia publicada na Revista do Correio, sobre profissões mais paqueradas:

  

                        No dia 4, falei sobre o escritor. Agora, tecerei algumas considerações sobre a carreira de bibliotecário, a segunda mais desejada no Império Britânico.

 

                        Quando tomei possa na Câmara dos Deputados, em março de 1967, falaram-me que aquele prédio parecendo um caixote, no Anexo II, era a Biblioteca, superlotada de bibliotecárias cada qual a mais linda. Aliás, em matéria de beleza feminina, já naquele tempo só era feia quem optasse por isso. Todas as porteiras das fazendas, na estrada de Brasília para Goiânia, traziam esta mensagem publicitária: “Mulher bonita usa perfume Liz Taylor”. Hoje, com o domínio da TV, sabemos que “não existe mulher feia; existe mulher que não conhece os produtos da Jequiti”.

 

                        Mas retomemos o assunto do qual, com esta digressão, quase me perdi.

 

                        Nove anos depois de entrar na Câmara dos Deputados, fui lotado na Biblioteca, com exercício na Seção de Publicações. E, ai, conheci a verdadeira natureza do trabalho das bibliotecárias.

 

                        Claro que, no item boniteza, elas continuavam imbatíveis – não existe mulher feia. Porém havia mais, muito mais.

 

                        A etimologia de seu nome já indica a que vieram: do grego biblion = livro.

 

                        Se o escritor é o pai, a bibliotecária é a mãe do livro. E que mãe carinhosa e dedicada! Com que prazer ela manuseia um exemplar, classifica-o, assume sua guarda!

 

                        A bibliotecária conhece cada volume que passa por suas mãos. Sabe sua história e tem ciência de seu conteúdo. Basta que alguém informe vagamente o tema sobre o qual pesquisa, para que ela vá direta e rapidamente ao ponto. Tudo isso porque é leitora fiel e atenta.

 

                        Falar em leitor fiel, outro dia, uma bibliotecária amiga me chamou a atenção sobre o conto-título do livro de que encabeça esta matéria, escrito pelo francês Guy de Maupassant no ano de 1880. Eu falei 1880!

 

                        Instigado pela amiga, aproveito o ensejo para testar a atenção de meus leitores, no sentido de que eles procurem detectar a semelhança do conto Bola de Sebo, com algo lido ou ouvido mais recentemente, na segunda metade do século passado.

 

                        A trama se passa em dezembro de 1880, sob o governo de Luís Napoleão Bonaparte – que assumira o título de Napoleão III, Imperador dos Franceses. Num conflito que durou poucas semanas, o Exército Prussiano dominava a França. Alguns comerciantes de Ruão tinham grandes transações no Havre, cidade ainda ocupada pelo Exército Francês e buscavam alcançar aquele Porto, indo por terra até Diepe, onde tomariam um barco. Valendo-se eles da influência de oficiais alemães com os quais haviam travado conhecimento, obtiveram do Comandante local autorização para viajar.

 

                        Uma grande diligência foi reservada para a viagem, devendo sair na madrugada duma terça-feira, para evitar ajuntamento. Às 4 horas da manhã, partiram. Eram dez passageiros: a Sra. e o Sr. Loiseau, negociante de vinho por atacado; o Sr. Carré-Lamadon, proprietário de tecelagens de algodão, portador da Legião de Honra e membro do Conselho Geral, e a Sra. Carré-Lamadon, consolo dos Oficiais de boa família que iam servir em Ruão; o Conde e a Condessa Hubert, ele também membro do Conselho Geral; duas Freiras, uma velha, marcada pela varíola, e a outra, fraquinha, de cara bonita e doentia; O Sr. Cornudet, o democrata, herdeiro do pai, antigo confeiteiro; e, por último, uma mulher dessas chamadas “de vida fácil”, ou puta, famosa por sua gordura, o que lhe valera o apelido de Bola de Sebo.

 

                        Baixinha, redonda, banhuda, com os dedos rechonchudos, pele brilhante e esticada, uma peitaria avolumada, ela continuava apetitosa e atraente. O rosto era uma maçã, de onde saltavam dois magníficos olhos negros. A boca era encantadora, própria para o beijo, com dentes brilhantes e microscópicos. Diziam que era dotada de qualidades fora de série.

 

                        Logo que a reconheceram, correu entre as mulheres um murmúrio com as palavras “prostituta”, “vergonha pública”, ao que Bola de Sebo ergueu a cabeça, passeando um olhar atrevido e desafiador pela vizinhança. A presença da rapariga tornava as damas de bem subitamente amigas, quase íntimas, pois compunham um buquê de esposas dignas diante daquela descarada, pois sempre o amor legal trata do alto seu companheiro livre.

 

                        A carruagem seguia lentamente. Às dez horas da manhã, ainda não tinha percorrido quatro léguas. A fome começou a aperrear as mentes e barrigas de todos. Os homens, procuravam, comida nos sítios na beira da estrada, mas em vão.

 

                        Às três horas da tarde, com todos esfomeados, Bola de Sebo puxou lá debaixo do banco um grande cesto coberto por uma toalha, cheio de todo tipo de comida, bebida e frutas, que prepara para uma viagem de três dias. Delicadamente, começou a comer uma asa de frango com um pãozinho. Todos a olhavam com inveja. O desprezo das damas pela rapariga tornou-se feroz, uma vontade de matá-la, atirá-la para fora, ela, as garrafas de vinho, o cesto de mantimentos.

 

                        Mas Bola de Sebo, magnânima, ofereceu a comida para todos, repartiu o que trazia com as damas e os senhores ricaços para os quais, naquele momento, o estômago falava mais alto que o orgulho.

 

                        A viagem prosseguiu. À noite, chegaram a uma vila, parando diante do Hotel do Comércio, onde pernoitariam. Ali, foram recebidos por soldados alemães que os acolheram e agasalharem na estalagem. Na hora da ceia, o dono do albergue perguntou:

 

                        – Quem é a Senhorita Elizabeth Rousset? Bola de Sebo respondeu:

                        – Sou eu!

                        – Senhorita, o Oficial prussiano quer falar-lhe imediatamente!

                        – Comigo?

                        – É, se a senhorita for Elizabeth Rousset.

 

                        Bola de Sebo ficou meio confusa, refletiu um instante, depois declarou petulantemente:

 

                        – É possível, mas não irei!

 

                        Para encurtar a história, o Comandante prussiano queria que Bola de Sebo fosse servi-lo na cama, dormir com ele.

 

                        As senhoras de bem ficaram injuriadas, por não ter sido uma delas a escolhida para transar com o Comandante. Bola de Sebo, cheia de brios, endureceu o jogo: com ele não se deitaria!

 

                        De seu lado, o Comandante prussiano também tesou: se ela não lhe proporcionasse uma noite de amor, a carruagem não daria continuidade à viagem. Os passageiros tentaram convencer Bola de Sebo com estes argumentos:

 

                        – Vai com ele, vai, Bolinha! Você dá para todo mundo! É só mais um!

 

                        Mas a rapariga mantinha-se inflexível.

 

                        Diante do impasse, todos passaram a tratar Bola de Sebo com carinho e simpatia, chamando-a de Madame Rousset, Senhora Rousset, Senhorita Rousset, até de queridinha. E ela, tô nem aí!

 

                        E o tempo foi passando. Até que um dia, condoída pela situação dos demais companheiros de viagem, Bola de Sebo tomou uma decisão:

 

                        – Hoje à noite, eu vou! Só faço isso por todos, exclusivamente!

 

                        Naquela noite, houve festa na estalagem, com muita bebida, champanhe, música, dança e cantoria, enquanto Bola de Sebo se submetia ao sacrifício pelo bem de todos.

 

                        Na manhã seguinte, com a carruagem já liberada, todos só esperando a chagada de Bola de Sebo, de repente ela apareceu, um pouco sem jeito, meio envergonhada. Com timidez, caminhou em direção aos outros, que, num movimento único, lhe viraram as costas, como se nunca a tivessem visto.

 

Todos lhe viraram as costas

 

                        Dessa vez, Bola de Sebo não prepara seu farnel para a viagem. E, durante o resto do percurso, os companheiros, providos de alimento e vinho, fartavam-se nas refeições, mas sem nada oferecer àquela que os salvara. Nem ao menos a palavra lhe dirigiam.

 

                        E Bola de Sebo, vez em quando, sem conseguir conter as lágrimas, chorava baixinho, provocando este comentário das senhoras de bem:

 

                        – Está chorando de vergonha! Bem feito!

 

************

                        Querido leitor, se você me suportou até aqui, sou-lhe eternamente grato. E é a você, dileto amigo, que tenho a curiosidade de perguntar: já ouviu ou leu essa história, contada por outro autor, em algum momento de sua vida? 


Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas quarta, 22 de março de 2017

ANIVERSÁRIO DE BALSAS! 22 DE MARÇO! 99 ANOS!

BASLSAS QUERIDA

BALSAS, CIDADE SORRISO,

HINO DE BALSAS, COMPOSIÇÃO DE EDILZA VIRGÍLIA PEREIRA,

GRAVAÇÃO COM O CORAL DO COLÉGIO SÃO PIO X:

 

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Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas sábado, 31 de dezembro de 2016

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Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas terça, 13 de dezembro de 2016

DIA DO PALHAÇO! - 10 DE DEZEMBRO!

DIA DO PALHAÇO!

Raimundo Floriano

 

Palhaço Seu Mundinho e Velho Fulô

 

                        10 de dezembro! Dia do Palhaço!

 

                        É o dia deste palhaçote que, 80 anos completados, continua fazendo-se de engraçado e na maior frustração por nunca ter conseguido montar seu próprio circo ou ser, ao menos, um velho de pastoril.

 

                        Experiência não me faltou!

 

                        Lá em Teresina, Piauí, no ano de 1956, eu andava numa pindaíba que fazia dó! Aos vinte anos, essa prontidão era de lascar, doía fundo.

 

                        Certo dia, deparei, na Praça Rio Branco, com ex-companheiro de farda, o Adriano, ou melhor, o Jatobá, palhaço e acrobata de circo, cuja trupe se encontrava em exibição no bairro Piçarra. Conversa vai, conversa vem, contei-lhe minha desventura monetária, e ele, penalizado, prontamente me acenou com uma viração lá no circo, não era coisa muita, apenas para garantir o vício tabagista.

 

                        Ante meus argumentos de que nada entendia do traçado, Jatobá até me animou, dizendo que aquilo seria moleza, e que eu iria mesmo era resolver um problema deles, pois necessitavam de um substituto para o ajudante de palhaço, que adoecera. Nessa função, também chamada de escada – explicou-me –, eu contracenaria com ele, preparando a piada e sempre levando a pior no seu final. Comecei no dia seguinte!

 

                        O Cometa do Norte não tinha cobertura nem camarotes, só a arquibancada acomodava o respeitável público. Seu proprietário, Mister Kapa, era trapezista, mágico e hipnotizador. Jatobá, além de palhaço e trapezista, apresentava-se também nas argolas. Havia outros artistas, cujos nomes não me ocorrem, e a rumbeira Francisquinha, que dançava seminua, rebolando e cantando paródias com letras bem apimentadas, constituindo-se na segunda atração da companhia. A primeira, o grande sucesso daquele mambembe, era a peça teatral que, com chave de ouro, fechava cada noite de espetáculo.

 

                        Acumulei o ofício de escada com o de relações públicas, fazendo propaganda pelas ruas do bairro. Não havia televisão e, ademais, o circo não dispunha de recursos sequer para anúncio no rádio ou no jornal. A publicidade era feita no gogó mesmo, na forma usual em todos os circos de igual porte. Como eu não sabia andar de pernas de pau, utilizava outro meio, também muito conhecido: um jumento alugado. Às tardes, montado nele, de costas para a frente, ou de frente para o rabo, como preferirem, cara pintada, eu apregoava o evento de logo mais, seguido por ensaiado pelotão de meninos que, após a passeata, eram marcados com uma cruz na testa, o que lhes garantia a entrada grátis no show.

 

 

 

                        Muita água rolou por debaixo da ponte, de 1956 a 1990, quando eu, para relembrar o passado, procurei deixar na memória de meus parentes e amigos esse pregão encantador. Sempre que me é era dada a oportunidade, em festinhas infantis de aniversário, fazia empenho em repeti-lo, com minhas filhas Elba, 7 anos, e Mara, 5 anos, no papel da molecada, caprichando nas respostas. E, com enorme contentamento, posso dizer que essa malhação não foi em ferro frio.

 

                        A seguir, vídeo artesanal realizado em VHS por meu sobrinho Maurício Albuquerque, em julho de 1991, depois precariamente convertido para DVD,  e, agora, em youtube.

 

Respeitável público, a seguir, o espetáculo

 

É PALHAÇADA

Estrelando

RAIMUNDO FLORIANO E SUAS FILHAS

 

 

 

                        Neste ano de 2016, ao completar 80, incorporei definitivamente as personalidades do Palhaço Seu Mundinho e do Velho Fulô, o que foi documentado nesta paródia ao Pastoril do Velho Faceta, no Arraial da Academia VitalRecor/2016, tendo a Doutora Cristina Calegaro, proprietária do pedaço, fazendo o papel de Filha do Velho. A Professora Olga tudo filmou.

 

CASAMENTO NO ARRAIÁ

Estrelando

VELHO FULÔ E SEVERINA RAIMUNDA

 

 

 

 

 


Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas terça, 13 de dezembro de 2016

COMANDANTE PUÇÁ - ÚLTIMA HOMENAGEM!

                        Encantou-se! Neste 10 de dezembro de 2016, aos 94 anos de uma bela, digna, rica e feliz existência, o Comandante Puçá, cumprida sua missão na Terra, na Paz de Deus se encantou! Foi residir na Morada Celestial! 

                        Para que todos se recordem desse grande amigo, aqui vai a primeira homenagem que lhe fiz:

 

DO LIVRO DE BALSAS PARA O MUNDO

COMANDANTE PUÇÁ

(Raimundo Floriano)

 

José Rodrigues dos Santos, o Puçá

 

            A foto que ilustra este capítulo foi-me enviada pelo personagem-título, assim como sua rica biografia, em seis laudas manuscritas.

 

            José Rodrigues dos Santos, o Puçá, nasceu em Floriano, no dia 08.05.1922, filho de Laurentino Rodrigues dos Santos e Cezária Maria da Conceição. O apelido, que ele adotou e que o identifica até hoje, vem da fruta silvestre do mesmo nome, de cor azeviche, saborosa e rara.

 

            Aos 10 anos de idade, ficou órfão de pai e mãe. Dona Cezária morreu em decorrência de males oriundos de sua intensa exposição ao calor nas bocas dos fornos das olarias onde trabalhava. Seu Laurentino, vítima de infecção no calcanhar, provocada pela mordida dum gato, no rabo do qual pisara.

 

            Seu irmão mais velho, de um total de sete, Fernando, já casado e com três filhos, residente em Uruçuí, sabendo os demais irmãos desamparados, foi buscá-los. A viagem de volta, num percurso de 208 km, foi feita a pé, levando seis dias na caminhada. Um dos pousos foi a Fazenda Brejo, antiga propriedade do meu avô paterno, Capitão Pedro José da Silva, hoje em poder do meu primo Airton, médico residente em Teresina, filho do Comandante João Clímaco, meu Tio Joãozinho, também personagem deste livro.

 

            A família do Puçá está, desde o início dos anos 50, intimamente ligada à minha. Fernando é o pai da Maria Júlia, que foi morar conosco em 1951, ainda menina, sendo, praticamente, criada por Maria Bezerra, minha mãe. Seguiu ela com minha irmã Maria Alice para Engenheiro Dolabela-MG, quando esta se casou, acompanhando-a nas mudanças para Brotas-SP, Anápolis-GO, e, finalmente, Balsas. Em 1974, veio cuidar de minha residência aqui em Brasília. Mais tarde, casou-se com Odílio Silva, antigo craque da Seleção Balsense de Futebol, com o qual teve um filho, o Reinaldo, meu afilhado, engenheiro da computação, todos residentes em Anápolis, ela aposentada pelo INSS. Maria Rodrigues, irmã do Puçá, veio a ser um forte esteio para a minha gente em Balsas, nas ocasiões mais delicadas. Fechou os olhos de minha mãe, quando do seu último suspiro, tendo-a velado como se parente fosse. Igualmente, esteve à cabeceira de Rosa Ribeiro, meu pai, até que expirasse. Desde 1966, constituiu-se em amiga, conselheira, companheira, praticamente mãe de minha irmã Maria Alice, falecida de mal súbito em 2002. Hoje, Maria Rodrigues, funcionária estadual aposentada, reside em Balsas, na aconchegante casinha com que Maria Alice a presenteou.

 

Puçá e Maria Rodrigues, em foto recente

 

            Puçá, chegando a Uruçuí, começou, ainda menino, a trabalhar em olarias. Dois dos seus irmãos, Adelino e Cezário, entraram para a Marinha Mercante e ganharam o mundo, viajando sem parar. Devido ao fato de não se dar bem com a cunhada, Puçá, em 1937, aos 15 anos de idade, fugiu com boiadeiros que iam comprar gado em Goiás. Levaram eles, a pé, 30 dias de Uruçuí a Porangatu que, na época, se chamava Descoberto.

 

            Ali, compraram 350 bois e rumaram para o Peixe, à margem esquerda do Rio Tocantins, onde compraram mais 350, tocando a boiada rumo à Paraíba, em viagem que durou nove meses. Chegaram ao destino com o desfalque de 50 bois: alguns serviram de alimento para os boiadeiros, outros morreram envenenados por ervas daninhas ou picadas de cobras, e houve os que cansaram na longa caminhada ou sumiram mato adentro. A boiada foi vendida ao Coronel Sizenando, na Fazenda Canto do Feijão, perto do Litoral Paraibano, por um valor sete vezes superior ao pago em Goiás. Todos os da comitiva regressaram de pau de arara para Uruçuí.

 

            Naquela cidade, foi morar com o Dr. Auzônio Del Século Carneiro da Câmara, Juiz de Direito da Comarca, que o acolheu como se seu filho fosse. Em 1940, aos 18 anos, dele obteve permissão para ingressar na Marinha Mercante.

 

            Embarcou na lancha Nazira, mais tarde renomeada Rosicler, sob as ordens do Comandante Antônio Fernandes.

 

            Prosseguindo na Marinha Mercante, iniciou sua carreira como taifeiro – espécie de criado de bordo – nos vapores 15 de Novembro e Joaquim Cruz, então propriedades do armador Petrônio Oliveira, no vapor Afonso Nogueira e na já mencionada lancha Rosicler, ambos propriedades do armador Afonso Macedo Nogueira.

            O empresário Afonso Nogueira era um idealista empreendedor e arrojado. Natural do Ceará, com atividade comercial diversificada, montou seu próprio estaleiro em Floriano e ali construiu o vapor que levou seu nome e a lancha Nazira, por encomenda do árabe Amado Bucar, residente em Balsas, depois batizada Rosicler ao mudar de dono. Apenas as máquinas vieram da Inglaterra, de onde foi também importada a maioria das embarcações a vapor da época.

 

Vapor Afonso Nogueira - Acervo Teodoro Sobral Neto

 

            Puçá serviu em várias delas sob o comando do Prático João Sambaíba, que o elevou da categoria de taifeiro à de moço de convés – marinheiro raso. Mais tarde, Sambaíba o promoveu a mestre de convés – que chefia e orienta os moços de convés. Com o passar do tempo, Puçá aprendeu a pilotar.

 

            Querendo vê-lo progredir na carreira, Sambaíba o liberou para um curso na Capitania dos Portos de Parnaíba, do qual Puçá se saiu com brilhantismo, obtendo a Carta de Praticante de Prático.

 

            Com essa credencial, serviu em várias embarcações pelo período de um ano, após o que seus irmãos Adelino e Cezário, que já trabalhavam na FRONAPE – Frota Nacional de Petroleiros –, de passagem por Floriano, o orientaram a fazer o Curso de Aperfeiçoamento. Dessa forma, Puçá rumou com os irmãos para o Rio de Janeiro, de onde, já como aluno, embarcou num dos navios da FRONAPE, na rota Rio de Janeiro – Belém – Rio de Janeiro. De volta ao Rio, terminado o curso, os dois irmãos lá o deixaram e seguiram para a Inglaterra. Não querendo acompanhá-los, Puçá voltou para Floriano, onde recomeçou a navegar em embarcações de água doce.

 

            De posse da Carta de Prático, expedida pela Capitania dos Portos de Parnaíba, Puçá exerceu sua profissão pilotando e comandando no trecho Balsas-Parnaíba, e em outros pontos, como adiante se verá.

 

            No dia 25 de dezembro de 1951, casou-se com Adelina Souza Dourado, tendo como padrinhos o Comandante Luiz Barbosa e sua esposa, Maria Correia de Albuquerque, a Donamaria, em cerimônia civil realizada na residência do Sr. Olindo Solino e presidida pelo Juiz Suplente Gabriel Miranda, tendo Emigdio Rosa e Silva, o Rosa Ribeiro, meu pai, como escrivão. No religioso, a celebração ficou a cargo do Padre Clóvis Vidigal, na Igreja Matriz de Santo Antônio de Balsas.

 

            Desse casamento, nasceram-lhes os filhos José Filho, Laurentino Neto, Gregória e Mária de Fátima, dos quais Laurentino, policial, é o único sobrevivente.

            Na linha Balsas-Parnaíba, navegou nas embarcações abaixo relacionadas.

 

            Vapores: Joaquim Cruz, 15 de Novembro, Afonso Nogueira e Rio Balsas, este propriedade de Félix Pessoa, residente em Teresina.

 

Vapor Rio Balsas

 

            Lanchas: Palmira, Rosicler, Rio Poty e Marabá, esta pertencente ao Comandante Wenceslau Ribeiro.

 

Lancha Palmira

 

            Motores: João Fernandes, propriedade de João Clímaco da Silva; Cidade de Balsas, propriedade de Hélio Fonseca e José Lima Filho, o Seu Lima; Princesa Isabel, propriedade de Alexandre Pires e Jacques Pinheiro Costa; Boa Esperança, propriedade de Dejard Queiroz; Pedro Ivo, propriedade de Cazuza Ribeiro, e Ubirajara, propriedade de Cazuza Ribeiro e Luiz Barbosa, que foi a pique em fevereiro de 1957, em naufrágio no qual morreram cinco pessoas por afogamento e marcou o encerramento de sua carreira náutica naquelas paragens.

 

Motor Ubirajara e Barca Macapá, na rampa de Balsas

Acervo do autor

 

Motor Princesa Isabel

 

            Por essa época, era também o começo do fim da intensa navegação fluvial na Bacia do Parnaíba, posto que, em 1959, já se cogitava da construção da Barragem de Boa Esperança.

 

            Em meados de 1957, na busca por outro meio de vida, Puçá mudou-se com a família para Goiânia e, em 1958, para Brasília, ainda em construção. Tão logo aqui chegou, foi convidado pelo empresário Boli Pierre de Santana, para se aventurarem pelas águas da Região Amazônica. Convite aceito, Boli comprou o motor Cisne Branco, no qual Puçá navegou pilotando e comandando. Houve também o vapor Barão de Cametá, na linha Belém-Cametá, no Baixo Amazonas, propriedade de um certo Sr. Kalil, residente em Belém. Após cinco anos navegando naquela Região, Puçá retornou para Brasília, onde fixou residência definitiva.

 

            Na Capital Federal, com o conhecimento e a amizade adquiridos durante sua longa vida de navegante, foi-lhe fácil conseguir colocação. Primeiramente, no Clube do Congresso e, posteriormente, na FUNAI – Fundação Nacional do Índio –, onde se aposentou.

 

            Mas não pensem que o velho marinheiro se contentou com o sedentarismo proporcionado pela inatividade bem-remunerada. Longe disso!

 

            Constantemente, é ele convocado pela companheirada para se embrenharem nas matas e rios dos Estados de Goiás, Tocantins e Mato Grosso, em pescarias e caçadas que chegam a durar semanas.

 

            Em Brasília, Puçá mantém vasto círculo de relacionamento afetivo com todos os que vieram das plagas por onde navegou, principalmente com os balsenses, sendo presença infalível em todas as festas que realizamos.

 

            Sou parte integrante de um pouco dessa bonita história. Minha primeira viagem na vida foi feita no motor Pedro Ivo, com destino a Floriano, em fevereiro de 1949, no qual Puçá, aos 27 anos, já era um dos importantes marinheiros. Novamente, em dezembro de 1951, no mesmo motor, subi de Teresina a Balsas, em animadíssima jornada, conhecida na época como a viagem dos estudantes em férias.

 

Motor Pedro Ivo

 

            Puçá é um preciosíssimo arquivo da memória do nosso saudoso tempo de estudante e de menino matuto do sertão sul-maranhense.

 

                        E como última homenagem, o foxe Adeus, de Felisberto Martins e Henrique Mesquita, na voz de Gilberto Alves:

 

 

 

 

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Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas sábado, 03 de dezembro de 2016

TIO ARTUR, UM DELEGADO MUITO DO PORRETA

TIO ARTUR, UM DELEGADO MUITO DO PORRETA

Raimundo Floriano

  

                        Antônio Carlos Dib de Sousa e Silva, A. C. Dib, autor de Frutuoso & O Velho Monge de Barbas Brancas, é o primogênito de meu primo Bernardino de Sousa e Silva, o Benu, filho de Frutuoso José da Silva, o Tio Fruto, irmão de Rosa Ribeiro, meu saudoso pai.

 

                        (Velho Monge de Barbas Brancas é uma referência ao Rio Parnaíba, assim chamado no poema Saudade, de Da Costa e Silva, o maior poeta da Filha do Sol do Equador.)

 

                        Tio Fruto era um grande contador de histórias – todas verídicas –, e Benu foi o maior depositário desse maravilhoso repertório, repassado ao filho que, agora, o perpetua, nesse instigante livro, digno de habitar as bibliotecas e estantes de todos os sul-piauienses ávidos por conhecerem um muito de seu passado, de suas origens.

 

Frutuoso José da Silva 

                        Tio Fruto, quando jovem, era carne e unha com um primo, Artur Passos, o Tio Artur, de sua idade, em companhia do qual viveu grandes aventuras, a principal delas como Soldados da Borracha, na Amazônia, de onde regressaram ao Piauí ricos, com os bolsos atafulhados de libras esterlinas.

 

                        Homens viajados e letrados, logo tiveram papel de destaque na Administração Pública do Sul do Piauí. Frutuoso foi um dos fundadores da cidade de Guadalupe, sendo seu primeiro Prefeito.

 

                       Artur Passos, por seu turno, intelectual e grande escritor, deixou-nos este tratado sociológico também imprescindível em qualquer biblioteca piauiense que se preze. Lendas e Fatos - Crônicas do Rio Gurgueia está para o Piauí assim como Os Sertões de Euclides da Cunha esta para o Brasil.

 

                         Naquele início do século XX, Tio Artur, exercia, na Administração Pública Piauiense, o cargo de Delegado de Polícia de Jeromenha (PI), sua terra natal. E é sobre ele, no exercício de tão alto Cargo Municipal, que Tio Fruto contou a história a seguir, narrada no livro de A. C. Dib, que, por sua hilaridade, passo a transcrever, para regozijo de meus leitores:

 

“PRIMEIRO DA FILA

 

                        Artur Passos era Delegado de Polícia em Jeromenha. Príapo, teve vinte e seis filhos com sua legítima mulher, Dona Mariquinha. De dia, era palmatória dos vidas-tortas do lugar, mas, ao nascer da Lua, metamorfoseava-se em boêmio, namorador e homem da noite.

 

                        Certa feita, sua Delegacia se viu tomada por considerável número de queixosos. À frente, uma jovem desonrada, triste, cabisbaixa, mesmo ‘ensimesmada’, como diria Guimarães. Foi o suposto sedutor conduzido sob vara e na mira de bacamartes, para desposar, na marra, e em plena Delegacia de Polícia, a desgraçada moça. O casório na Delegacia não era incomum por aquela época. Os sedutores viam-se obrigados, pela Autoridade Policial, a assumir suas responsabilidades e a cumprir com seus deveres para com as moças enganadas.

 

                        Iniciada a disquisição, o jovem Casanova, forçado, se defendeu, dizendo:

 

                        – Doutor Delegado, não posso me casar, pois não fui o primeiro homem na vida dela!

 

                        Assim dito, o combativo policial se pôs a investigar, inquirindo a moça sobre a identidade do primeiro:

 

                        – Minha filha – disse o inquisidor – quem foi o primeiro? Foi Chico Taveira?

 

                        A menina, vermelha como um pimentão, arrebentando-se de vergonha, disse com a voz embargada e quase inaudível:

 

                        – Foi não, Seu Artur!

 

                       –  Pois foi Tião Silva? – indagou o combativo policial –, enumerando os mais conhecidos encrenqueiros do lugar.

 

                        – Foi não, Seu Artur!

 

                        – Foi Zé Quati?

 

                        – Foi não, Seu Artur – balbuciou a jovem incauta.

 

                        – Foi Silveirinha?

 

                        – Foi não, Seu Artur!

 

                        – Mas, afinal, diga-nos de uma vez por todas: quem foi o primeiro, minha filha? – Sentenciou o investigador, já impaciente.

 

                        A pobre moça, quase a desfalecer, olhos colados ao chão, corada da cabeça aos pés, apenas sussurrou:

 

                        – Foi o senhor, Seu Artur!

 

                        O Delegado, num primeiro momento, arregalou os olhos, tomado de susto e boquiaberto. Eram tantas as conquistas – tantas e tão banais –, que terminava por se esquecer. Não se lembrava, sequer, se já havia cruzado com a rapariga.

 

                        A seguir, colérico e irado, expulsou a todos da Delegacia, aos berros, ameaçando-os de prisão.”

 

(Meus agradecimentos ao Tio Fruto, por ter repassado essa cômica aventura a seus contemporâneos; ao Tio Artur, por tê-la protagonizado; ao primo Benu, hoje Procurador de Justiça aposentado, pelo resgate do fato; e, finalmente, ao sobrinho A. C. Dib, Procurador concursado da Câmara Legislativa do Distrito Federal, pelo registro em livro, do qual pirateei esta crônica, sem a devida autorização.)

 

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Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas quinta, 01 de dezembro de 2016

LEONIZARD BRAÚNA, O BEETHOVEN DO SERTÃO SUL-MARANHENSE

LEONIZARD BRAÚNA,

O BEETHOVEN DO SERTÃO SUL-MARANHENSE

Raimundo Floriano

 

 

                        Leonizard Braúna, filho de Augusto Brahuna e Maria Câmara Brahuna, nasceu em Mirador (MA), no dia 20.4.1925, e faleceu em Serrinha (BA), no dia 5.7.2005, aos 80 anos de idade. Era casado com Creuza Arraes Braúna, filha de Belarmino Arraes e Maria Café Arraes, nascida em Fortaleza dos Nogueiras (MA), no dia 24.6.1924, e também falecida em Serrinha, no dia 22.10.2011, aos 87 anos de idade. Esta é a única foto de que disponho do casal: 

 

                        Casados desde 10.8.1946, tiveram 10 filhos, pela ordem de nascimento: Augusto Agripino Braúna, Ana Lúcia Braúna Alencar de Arruda, Marlene Braúna Santos, Jorge Luís Wagner Arraes Braúna, Lea Maria Arraes Braúna, Afonso Ernani Arraes Braúna, Eurilo Cleantes Arraes Braúna, Raimunda das Luzes Arraes Braúna – a Dica –, Carlos Weber do Brasil Braúna e Mário César Nabantino Braúna, que lhes legaram uma prole de 19 netos e 9 bisnetos, até agora.

(Esses dados biográficos foram-me gentilmente fornecidos pelo amigo Jorge, barbudão)

 

                        Na foto abaixo, obtida em dezembro de 2007, nos 60 anos do Augusto, em Serrinha, falta a Marlene, que não pôde comparecer à festa, por motivo de força maior:

Dica, Augusto, Mário, Ana Lúcia, Eurilo, Léa,

Dona Creuza, Carlos, Jorge e Ernani 

                        Leonizard foi uma das mais preciosas amizades que tive na vida. Exemplo de homem e de músico, muito me orientou como proceder, tanto na atividade carnavalesca, como no modo de me conduzir na família, no civismo e no amor a Deus.

 

                        Na Música, ele teve um grande Mestre, o Padre Constantino, de Pastos Bons, que lhe ensinou todos os segredos da pauta e instrumentais, deixando-o no ponto de escrever partituras com mestria e executar, com virtuosidade, estes instrumentos: trombone, clarineta, saxofone, pistom e gaita de boca.

 

                        Todas as vezes em que eu chegava de férias a Balsas, ele já me presenteava com um litro da melhora cachaça fabricada na região – até eu descobrir que era diabético, isso em agosto de 1990, era minha única bebida alcoólica, pois jamais bebi cerveja. E, quando eu comparecia a sua residência, ele, imediatamente, me ofertava um cálice da branquinha, ao mesmo tempo que Dona Creuza, lá na cozinha, já providenciava o tira-gosto.

 

                        Em Balsas, tocamos no Clube, na Liga, na Zona, em residências e, principalmente, nas ruas, em verdadeiros blocos de sujo, onde o povão brincava pra valer.

Edwaldo, Leonizard e Raimundo, no Clube Recreativo Balsense

 

Raimundo Leonizard, Dumingau e Gemi, na ZBM de Balsas

 

                        Houve um grande momento vivido por nós dois, que faço questão de registrar.

 

                        No ano de 1978, tive grande surpresa e decepção, chegando a Balsas para tocar o Carnaval, ao saber que Lenizard pegara um contrato e estava de partida para o Riachão, onde tocaria os 4 dias, no Clube de lá. Aquilo arruinou meu ânimo, acabou com minha alegria foliona. E, do sábado à segunda-feira gorda, fiquei no CRB, ajudando a Banda FM, do Félix, tocando sem entusiasmo e imaginando: o que será de meu amigo a essas horas? O Félix dispõe de poderosa parafernália eletrônica, potentes amplificadores, guitarras, baixo, Riba no teclado, Gemi na bateria, Edwaldo na sanfona, Edinho e Martinho nos sax e Zé Raimundo – do Riachão, vejam só – no pistom. Enquanto isso, meu amigo está lá no Riachão, sem amplificador, caixas de som, coadjuvado apenas pela bateria do Dumingau e seus batuqueiros, arrebentando-se sozinho, revezando-se nos instrumentos de sopro!

 

                        Na madrugada da terça-feira, não aguentei mais. Ao sair do CRB, peguei meu fusquinha e rumei para o Riachão. Cheguei lá ainda em tempo de alcançar o café da manhã. Leonizard, ao me ver, deu – literalmente –, pulos de alegria. E programou logo um desfile, que se constituiu no Primeiro Carnaval de Rua do Riachão, com a Didi, Tabeliã, na frente, como porta-estandarte.

 

                        E, à noite, no Clube, com meu trombone de vara botando pra derreter nas introduções, tive que cantar, umas vinte vezes, o sucesso do ano, ali ainda desconhecido, Ai, Que Vontade, samba de Oswaldo Nunes, cujo início malicioso assim dizia: “Ai que vontade de meter a cara no mundo”. Foi tremenda apoteose!

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                        Esse artista, felizmente, não foi esquecido pelas pessoas que verdadeiramente o amaram enquanto viveu. Em Serrinha, seu filho Augusto Braúna, médico e músico,  naugurou o Espaço Lenonizard Braúna, anexo a sua residência, onde, semanalmente, se reúnem a nata da intelectuais, instrumentistas, compositores e vocalistas da cidade, em saraus que varam as madrugadas:

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                        Quando ouço alguém a enaltecer os dotes musicais de pessoa que toca mais de dez instrumentos, e os especifica: surdo, repenique, tarol, cavaquinho, banjo, violão, bandolim, sanfona, piano, órgão, clarineta, saxofone e outros mais, todos de percussão, corda, teclado e palheta, não resisto à tentação de especular:

 

                        – E quantos de bocal?

                        – Bom, de bocal, nenhum – é a resposta.

 

                        Porque, meus camaradinhas, com instrumento de bocal é preciso estudo, é essencial força no bico, é imprescindível a firmeza no lábio superior, a trombada é federal. Conheci, durante todo esse tempo em que tenho convivido com a iluminada classe, um único músico que, num baile, ficava a se revezar no trombone – bocal –, no saxofone – palheta –, na clarineta – palheta – e no pistom – bocal –, por cinco, seis horas, sem jamais quebrar as embocaduras, as notas mais cristalinas e redondas à medida em que a função se prolongava.

 

                        Não bastasse tudo isso, era um virtuoso na gaita de boca. Refiro-me ao Maestro, arranjador, compositor, instrumentista, autodidata, o fora de série, que atendia pelo nome de Leonizard Braúna, esse mesmo de quem lhes falo, para mim o Beethoven do sertão sul-maranhense. De um mortal comum, o instrumento de bocal requer muito esforço, dedicação e persistência.

 

                        E é em homenagem a esse inesquecível amigão que lhes trago uma amostra nos instrumentos supracitados. Leve-se em conta que os registros se deram, em 1974, na varanda de sua casa, utilizando-se pequeno gravador de fita cassete. Participaram Edwaldo, na sanfona, Waltinho Queiroz, no violão, e Dumingau, no pandeiro.

 

 

SOLO DE CLARINETA

            Lágrimas de Namorados, chorinho de Saraiva:

 

SOLO DE PISTOM

            Dolores Sierra, samba-canção de Wilson Batista e Jorge de Castro:

 

SOLO DE TROMBONE

            Clementina, samba de João Nogueira:

 

SOLO DE SAXOFONE 

            Capricho Cigano, tango de Mário Zan, e Entre Espumas, tango de Roberto Muller:

 

SOLO DE GAITA DE BOCA 

            Sempre no Meu Coração, bolero de Ernesto Lecuona. (Gravação feita em Serrinha, com a participação do conjunto de Augusto Braúna.

 


Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas terça, 22 de novembro de 2016

AUGUSTO BRAÚNA, MÉDICO, MÚSICO E COMPOSITOR

AUGUSTO BRAÚNA, MÉDICO, MÚSICO E COMPOSITOR

Raimundo Floriano

 

Augusto Braúna e sua gaita

 

(Matéria escrita em 20 de dezembro de 2010)

 

                        Augusto Agripino Braúna nasceu em Fortaleza dos Nogueiras, MA, a 04.12.1947, filho de Leonizard Braúna e Dona Creuza, tendo vivido em Balsas desde a tenra infância, onde concluiu os estudos iniciais, daí partindo para centros culturalmente mais avançados, em busca da conquista do Mundo, o que conseguiu com pleno êxito. Formou-se em Medicina! Seu pai, meu mestre na Música e na vida, foi o melhor músico de sopro que conheci. Tocava com perfeição saxofone, pistom, trombone, clarineta e gaita de boca, além de ser perito em arranjos musicais.

 

                        Apesar de nossa diferença de idade, 11 anos, desde logo surgiu entre nós sólida amizade da qual hoje se pode dizer que é forte até debaixo d’água, por dentro que nem talo de jaca. E isso se construiu pela amizade e admiração que eu já devotava a seu pai, o que faço questão de ressaltar em muitos dos meus escritos, notadamente em meus dois últimos livros, e também pela maneira como o Augusto soube me conquistar a simpatia, com seu modo de ser e com sua intensa vivência numa arte que nos domina e embevece: a Divina Música.

 

                        Comecei a prestar atenção em seu trabalho no Réveillon de 1974, em Balsas, quando tomei conhecimento de uma composição sua, a marchinha ou marcha-rancho Balsas, Querida, da qual gostei à primeira vista, ou melhor, da primeira oitiva, passando a tocá-la imediata e reiteradamente naquela festa, atendendo a renitentes pedidos. Com esse trabalho de divulgação, a que dei continuidade dali pra frente, sinto-me hoje como um dos responsáveis para que ela “pegasse”. Considerada como o hino extraoficial de Balsas, é peça obrigatória nas festas de quaisquer balsenses que se encontram distantes de sua terra natal.

 

                        Agora, cabe aos leitores me perguntarem: – Por que só em 2010 você vem fazer esta homenagem ao Augusto, atrasada, se seu aniversário foi no dia 4, e já estamos no dia 20? E eu lhes respondo: – Porque é Natal! E, neste tempo de comemorações, eu me dano a recordar os momentos felizes com os quais minha vida tem sido agraciada, abrindo o rabo a querer compartilhar tais instantes de ventura com todos os que me rodeiam, vocês, meus atentos leitores!

 

                        E, também, porque o Augusto fez o meu Natal mais feliz. Em 2005, em inspirada veia renovadora, gravou, com sua gaita de boca, instrumento em que é um virtuoso, o CD cuja capa encabeça esta matéria, com oito músicas natalinas em ritmo de samba, dando-lhes uma roupagem muito ao gosto do mais exigente ouvido e propiciando a nós todos a opção de fugirmos das tão manjadas harpas natalinas e outros arranjos que tais existentes por aí.

 

                                                Depois de formado, Augusto fincou suas raízes na Bahia, exercendo seu sacerdócio médico em duas cidades, Salvador e Serrinha, esta a uns 180 quilômetros do Aeroporto da Capital. Embora possua residências em ambas, é em Serrinha que ele exercita sua arte de músico e compositor. Nada mais acertado. Serrinha, pequena cidade, com população em redor de 75 mil habitantes, possui uma Filarmônica! É um pedacinho de Balsas incrustado no coração da Bahia, como vocês verão.

 

                        Em sua bela e aprazível mansão, cercada de árvores frutíferas tropicais, Augusto construiu um anexo, a que deu o nome de Espaço Leonizard Braúna, homenagem a seu falecido pai, onde reúne, todas as sextas-feiras, seus amigos músicos ou apreciadores da MPB de raiz, com saraus que vão até o dia seguinte. Abaixo, a capa CD Augusto Braúna e Amigos, cujo título já diz tudo. 

 

                        Augusto e Célia, sua mulher, têm 4 filhos: Ciara, Bira, Iara e Lorena, esta casada com Daniel, um cabra muito do porreta, que lhes deu a neta Larinha, a gata mais fofa do pedaço, que tem feito do amigo Augusto um avô muito do coruja. Com suas bases preponderando mais em Serrinha, ali moram Dona Creuza, sua mãe, e alguns dos irmãos com as respectivas famílias. É Braúna vazando pelo ladrão!

 

                        Em 2006, em meu Forrozão/70, o Augusto me surpreendeu e me mostrou provas da solidez de nossa amizade, comparecendo com a mulher e uma das filhas e dando uma canja na parte musical, ocasião em que, é claro, todos os balsenses cantaram Balsas Querida, emocionando-o com esse gesto.

 

Ciara, Augusto, Raimundo e Célia, no Forrozão/70 

                        Em dezembro de 2007, chegou a vez de retribuirmos a gentileza. Seu Sessentão seria comemorado no dia 22, sexta-feira, em Serrinha, no salão de festas da Churrascaria e Hotel Shalon. No dia 21, eu e Veroni, minha mulher, pegamos um avião até Salvador, onde, no Aeroporto, Célia nos esperara para conduzir-nos até lá.

 

                        Tão logo chegamos à mansão dos Braúnas, véspera ainda da festa principal, o pampeiro já começou. Aos poucos, iam aparecendo seus amigos acima mencionados, tomando assento no Espaço Leonizard Braúna e dando início à parte musical. Mais tarde, mas não tanto, chegou o ansiosamente esperado: o sanfoneiro Antista, que veio de Balsas, com sua turma, abrilhantar a festa. Quase se amanheceu o dia nessa pré-estreia.

 

                        Estiveram presentes nessa noite muitos convidados e penetras. Tive o imenso prazer, não só de conhecer muitos membros dessa tradicional família, como o de rever estes meus conterrâneos: Dona Creuza, seus filhos Ana Lúcia, Jorge, Léa, Mário, Ernani, Eurilo, Carlos e Dica. Dos 9 irmãos do Augusto, apenas Marlene, residente em Salvador, não compareceu, devido a problemas de saúde.

 

                        Grande emoção foi reencontrar Violeta Braúna, tia do Augusto, minha colega no curso primário balsense e paixão não correspondida de infância. Não nos víamos havia 59 anos. Hoje, bem-casada, reside em Salvador, é aposentada do Banco do Brasil e tem um filho também chamado Augusto Braúna, presente à festa.

 

                        Fez parte do esplendor desse Forrozão/60 o Sanfoneiro Vado, figura de proa no cenário musical de Salvador, que deu verdadeiro show com sua sanfona, acompanhado pela turma do Antista.

 

                        No dia seguinte, 22, a festa foi no Hotel Shalon, acima citado. Começou ao meio-dia e terminou na manhã do dia 23, forrozão pesado, pé-de-serra, com bebida e comida típica do sertão baiano, coisa pra nunca mais ser esquecida. Tudo boca-livre, se querem saber. O comparecimento das classes mais representativas da cidade deu cabal amostra do tanto que o Augusto é querido por sua população.

 

                        Na manhã do dia 23, tomamos café com frito, ovos mexidos, beiju, cuscuz, etc. e tal, e, logo em seguida, a Dica nos trouxe de volta até o Aeroporto de Salvador, onde embarcamos no avião para Brasília. Aqui, desfeitas as malas, demos continuidade as características festivas do momento, comemorando, à meia-noite do dia 24, o Divino Advento de Cristo e desejando Feliz Natal para toda a Humanidade.

 

                        A seguir, fotos da inesquecível festa serrinhense:

 

Augusto e Raimundo: entre ambos, só boas ausências

 

Dica, Augusto, Mário, Ana Lúcia, Eurilo, Léa,

Dona Creuza, Carlos, Jorge e Ernani

 

Bira, Iara, Ciara, Augusto, Célia e Lorena

 

Raimundo e Violeta Braúna, relembrando a infância

 

Antista e seus forrozeiros sul-maranhenses 

 

 Sanfoneiro Vado prestigiando o Forrozão/60

 

Célia e Augusto no maior remelexo

 

 

Espaço Leonizard Braúna - Detalhe

Na parede à direita, retrato do Patriarca

 

Antista, Augusto, Raimundo e Veroni

No alto, a igreja de Nossa Senhora de Santana 

                        Para mostrar um pouco do talento desse grande amigo, aqui vai esta seleção: 

                        Balsas Querida, marcha-rancho de sua autoria, na voz do balsense Deusamar Santos:

 

DO CD NATAL BEM BRASLEIRO, MÚSCAS EM RITMO DE SAMBA 

                        Boas Festas, composição de Assis Valente:

 

                        Noite Feliz, composição de Joseph Mhor:

 

                        Bate o Sino (Jingle Bells), composição de James Lord Pierpont:

 

                        Natal das Crianças, composição de Blecaute:

 

                        O Velhinho, composição de Octávio Filho:

 

DO CD AUGUSTO BRAÚNA E AMIGOS 

                        De Conversa em Conversa, samba de Lúcio Alves e Haroldo Barbosa:

 

                        Chamego Proibido, rojão de Jorge de Altinho e Lindolfo Barbosa:

 

                        Saxofone, Por Que Choras, choro de Ratinho:

 

                        Esperando na Janela, xote de Targino Gondim, Manuca e Raimundinho do Acordeon:

 

                        Forró do ABC, rojão de Moraes Moreira:

 

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Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas sábado, 19 de novembro de 2016

CACARECO, O PALHAÇO CANDANGO

CACARECO, O PALHAÇO CANDANGO

Raimundo Floriano

 

Palhaço Cacareco 

                              10 de dezembro: Dia do Palhaço!

 

                        O objetivo desta matéria é homenagear o Palhaço Cacareco, alegria da criançada brasiliense até o início de 1992, ano de seu falecimento. Mas começo aproveitando a oportunidade para dar-lhes pequena aula de Sintaxe Consuetudinária, necessária para o prosseguimento daquilo a que me proponho.

 

                        Eu fico tiririca – no bom sentido –, abespinhado mesmo, quando órgãos governamentais teimam na mania de enfiar-nos goela adentro certos estrangeirismos e modismos que não nos soam bem, agridem nossas oiças. Recentemente, lançaram aqui o Projeto Limpa Brasília - Let’s Do It e, há algum tempo, teimam em impingir-nos as expressões de Ceilândia, em Ceilândia, ao referirem-se àquela simpática Cidade Satélite da Capital Federal.

 

                        Ora, nós, os que estamos aqui desde primórdios da colonização, chegamos a conhecer a Sapolândia – acampamento perto duma lagoa, que abrigava muitos sapos seresteiros –, a Sacolânia – acampamento cujos barracos de madeira eram cobertos por sacos de cimento –, e a Candangolândia, que hoje é também uma Satélite de Brasília. O sufixo lândia, com o significando terra de, complementando o substantivo que o antecede. A propósito, minha amada mulher, índia pretinha baiana, nasceu na Brejolândia.

 

                        Falemos um pouco da História do Distrito Federal.

 

                        Em 1967, foi iniciada a construção da Cidade Satélite do Guará, para absorver o contingente populacional oriundo de várias invasões e núcleos habitacionais provisórios. As primeiras residências foram construídas, através do sistema de mutirão, pelos funcionários da NOVACAP - Companhia Urbanizadora da Nova Capital, que nelas iriam morar. A inauguração se deu a 21 de abril de 1969, ano em que a NOVACAP e a SHIS - Secretaria de Habitação de Interesse Social prosseguiram com a urbanização, do segundo trecho, o Guará II, inaugurado a 2 de março de 1972, para abrigar funcionários do Governo Federal. Em pouco tempo, o Guará transformou-se num bairro preferido pela classe média alta.

 

                        Paralelamente ao Guará e perto dali, confrontando com a Candangolândia e com a Cidade Livre – atual Núcleo Bandeirante –, crescia em ritmo geométrico e desordenadamente a invasão denominada Morro do Urubu. Carente de qualquer tipo de saneamento básico, e sem luz elétrica, o Morro era preferido por traficantes e desordeiros, para ali se esconderem, perturbando a vida da maioria de seus moradores, pessoas pacatas e de boa índole. Nas madrugadas, era comum ouvirem-se tiroteios, e balas perdidas zuniam dali pra todo lado. Por isso, o Governo do Distrito resolveu urbanizar uma nova área para transferir toda aquela população, dando-lhe dignas condições de moradia e desarraigando, de vez, a sofrida invasão.

 

                        Para isso, foi criada, em 27 de março de 1971, a CEI - Campanha de Erradicação de Invasões. O local, para onde a população do Morro do Urubu foi trasladada, distante quase 30 quilômetros do Plano Piloto, foi logo denominada Ceilândia, ou seja, terra da CEI. Ao reportarem-se ao novo local de suas residências, seus habitantes diziam: moro na Ceilândia, vim da Ceilândia, vou para a Ceilândia, etc., etc. Não sei por que cargas-dágua, as autoridades adventícias vêm agora com essa novidade: em Ceilândia, de Ceilândia, para Ceilândia, e o escambau. Mas está virando moda! Em crônica publicada na Revista do Correio de 20.11.11, a atriz-escritora Maria Paula diz: “foi o lançamento do meu livro Liberdade Crônica, na Feira Literária Internacional de Pernambuco, em Recife.” É no Recife, Dona Paula, é no Recife!

 

                        Embora a Ceilândia fosse provida de todo o saneamento básico, luz elétrica, ruas asfaltadas e coisa e tal, os novos moradores, no início, reagiram negativamente à mudança, e isso por um motivo à vista de todos: enquanto a Ceilândia era muito distante, o Morro do Urubu, ao lado do Guará, ficava bem pertinho do Plano Piloto.  Tal sentimento foi muito bem exposto pelo Palhaço Cacareco, na marchinha Sei Lá – alusão a CEI-lá ou Ceilândia –, de Alfredo Ribeiro e Nestor Cavalcante, composta em 1972 e lançada no Carnaval de 1973:

 

Onde é que você mora, bem?

Sei lá!

Me disseram que ficou muito bem!

Sei lá?

Para ver onde é que eu moro,

É só indo lá, é só indo lá!

 

Eu fui levado pra morar lá fora!

Por Nossa Senhora,

Nem parece que é lugar!

Mas se eu ganhar

O bolão desta semana

E for a grana,

Vou de muda pro Guará!

Quá-quá-quá-quá!

 

                        No engatinhar da TV Brasília, o Palhaço Cacareco comandava o Carrossel, programa infantil campeão de audiência, quando o gênero ainda não era dominado pelo batalhão de loiras que, depois dele, viriam a surgir. Além disso, com sua trupe, animava aniversários e se apresentava em circos e teatros. Embora tenha sido a alegria da criançada brasiliense até o início dos Anos 1990, quase nada ficou escrito sobre ele. Foi uma passagem completamente esquecida pela mídia.

 

                        Seus atores principais, além do Palhaço Cacareco, o protagonista, eram a Bruxa Danadinha, os Palhaços Linguiça, Folia, Purpurina, Carranquinha e Zé Gatão e as repórteres-mirins Renata e Tânia Cury.

 

                        Pesquisando na Internet, constatei que até as imagens abaixo foram postadas por admiradores seus daquele tempo, que também registraram alguns depoimentos, disponíeis no Gooogle.

 

Imagens postadas por fãs na Internet                       

                        José Alves Oliveira, o Cacareco, nascido a 25 de outubro de 1931, em Igarapava (SP), partiu desta vida no dia 15 de maio de 1993, no Hospital Geral Ortopédico de Brasília, pobre e esquecido pelos Poderes Públicos. Era casado com Jussineia Delevedove Oliveira, com quem tinha os filhos Diego e Douglas, que nos forneceram esses dados biográficos.

 

                        Para custear as despesas com os funerais, foi aberta uma conta bancária, na qual seus admiradores, dentre os quais me incluo, acorreram com generosas contribuições, na última homenagem a esse grande artista.

 

                        Além, da música já citada, tenho com ele em meu acervo o samba Engrena Agora, dos mesmos autores, também gravado para o Carnaval de 1973.

 

                        Com vocês, para conhecerem um pouco de seu trabalho fonográfico, a marchinha Sei lá.

 

                        E, também, o samba Engrena Agora:

 


Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas terça, 15 de novembro de 2016

MÁRIO PALMÉRIO, ROMANCISTA E COMPOSITOR

MÁRIO PALMÉRIO, ROMANCISTA E COMPOSITOR

Raimundo Floriano

  

                        Mário Palmério é ilustre habitante de minhas estantes literárias e musicais e protagonista de um sonho que não consegui realizar na vida por extremo comodismo, como adiante os amigos verão. É com imenso prazer que o trago a suas presenças, nestes dias em que raramente ainda se fala em seu nome.

 

                        Mário de Ascenção Palmério nasceu em Monte Carmelo (MG), a 01.03.1916, e faleceu em Uberaba (MG), a 24.09.1996, com 80 anos de extensa produção cultural, tanto na Literatura, no Magistério e na Música, além de atuação na Política. Casado com Cecília Arantes Palmério, teve com ela dois filhos, Marcelo e Marília. Era filho de Francisco Palmério e Maria da Glória Palmério. Seu pai foi engenheiro civil e advogado, tendo exercido o cargo de Juiz de Direito em várias comarcas mineiras.

 

                        Mário Palmério fez seus estudos secundários no Colégio Diocesano de Uberaba e no Colégio Regina Pacis, de Araguari, concluídos em 1933. Em 1935, matriculou-se na Escola Militar de Realengo, no Rio de Janeiro, de onde se desligou, no ano seguinte, por motivos de saúde. Em 1936, ingressou no Banco Hipotecário e Agrícola de Minas Gerais, sendo designado para servir na sucursal de São Paulo.

 

                        Na capital paulista, iniciou-se no Magistério Secundário, como Professor de Matemática no Colégio Pan-Americano, Passando a lecionar em outros estabelecimentos pouco tempo depois, dedicando-se exclusivamente ao Magistério. Na primeira metade dos anos 1940, cursou a Seção de Matemática da Faculdade de Filosofia da Universidade de São Paulo, época em que passou a lecionar também no Colégio Universitário da Escola Politécnica, por nomeação do governo daquele Estado.

 

                        Seu destino seria, entretanto, realizar obra educacional de maiores proporções e, atraído pelo extraordinário progresso que alcançava Uberaba e toda a região triangulina, em virtude do desenvolvimento de sua pecuária de gado indiano, Mário Palmério deixou São Paulo para abrir naquela cidade mineira o Liceu do Triângulo Mineiro.

 

                        Em 1945, construiu imponente conjunto de edifícios, na cidade de Uberaba, para sede do Colégio do Triângulo Mineiro e da Escola Técnica de Comércio do Triângulo Mineiro, já visando a criação da primeira escola superior a instalar-se na região. Em 1947, o governo federal autorizou o funcionamento da Faculdade de Odontologia do Triângulo Mineiro, por ele fundada, primeiro passo para a transformação de Uberaba em Cidade Universitária.

 

                        No Triângulo Mineiro, fundou, em 1950, a Faculdade de Direito e, em 1953, a Faculdade de Medicina. No mesmo ano, elegeu-se deputado federal por Minas Gerais, reelegendo-se em 1954 e 1958, sempre na legenda do Partido Trabalhista Brasileiro. Suas atividades desdobraram-se, assim, em dois setores importantes, o educacional e o da representação parlamentar. O exercício de seu mandato e suas outras atividades no Rio de Janeiro não impediram, entretanto, seu trabalho educacional em Uberaba: Em 1956, fundou em Uberaba, a Escola de Engenharia do Triângulo Mineiro.

 

                        A exemplo de Graciliano Ramos, estreia na vida literária não propriamente tarde, mas a meio caminho: só aos 40 anos aparece seu primeiro livro, fruto quarentão de aventura intelectual cujo propósito era bem outro, isto é, a política. Vila dos Confins, publicado em 1956, “nasceu relatório, cresceu crônica e acabou romance...", segundo confessou. Mais tarde, em 1965, lançaria Chapadão do Bugre, que até virou minissérie na TV Globo, tendo Edson Celulari como protagonista. Sempre releio esses dois livros e, cada vez mais, aprendo sobre o sertão e a natureza humana com sua volubilidade, principalmente a dos políticos, como ele soube muito bem observar por própria experiência, vivendo no meio deles.

 

Duas obras-primas da Literatura Brasileira 

                        Educador, político, literato, todo o trabalho nesses três largos campos de atividade ele realizou inspirado pelo amor à sua terra e à sua gente. A mesma inspiração levou-o a prosseguir, a tentar novas e fecundas iniciativas. Construiu, em Uberaba, a Cidade Universitária, em terreno de área superior a 300 mil metros quadrados, e o Hospital Mário Palmério, da Associação de Combate ao Câncer do Brasil Central, maior nosocômio em todo o Interior do Brasil.

 

                        Em 1962, com reeleição garantida no Triângulo Mineiro, afastou-se, voluntariamente, da carreira política, sendo nomeado pelo Presidente João Goulart para o cargo de Embaixador do Brasil junto ao Governo do Paraguai, posto que assumiu em outubro do mesmo ano.

 

                        Permaneceu nessa missão até abril de 1964. Sua passagem pela Nação Paraguaia, na condição de embaixador do Brasil, foi marcada por intenso trabalho, destacando-se a reforma e reinstalação do edifício da Embaixada, a conclusão das obras do Colégio Experimental – doado ao Paraguai pelo governo brasileiro – e da Ponte Internacional de Foz do Iguaçu, e a instalação, em novo edifício, amplo e central, do Serviço de Expansão e Propaganda, da Missão Cultural e do Consulado.

 

                        Dando ênfase às atividades culturais e artísticas, Mário Palmério integrou-se admiravelmente no seio da intelectualidade paraguaia, estreitando-se assim, mais ainda e de forma duradoura, os laços de compreensão e amizade entre os dois países. Neste campo, deixou lá sua marca. Compôs as guarânias Saudade/Soledad, No Digas No, Vanidosa, Llámame, Canción e Mi Niñez e Noche de Assunción, que ficaram registradas em LP.

 

No Paraguai: LP com suas músicas e pose com o Presidente Alfredo Stroessner 

                        De regresso ao Brasil, Mário Palmério reencetou suas atividades literárias. Isolando-se em fazenda de sua propriedade, no sertão sudoeste de Mato Grosso – a Fazenda São José do Cangalha –, escreveu o já citado Chapadão do Bugre, romance para o qual vinha colhendo, desde o êxito de Vila dos Confins, abundante material linguístico e de costumes regionais.

 

                        E aqui entra a história do sonho que eu mantive por muito tempo de minha juventude e nunca realizei, por extrema comodidade e notória preguiça: ao aposentar-me, viver num barco, viajando a partir do Rio Balsas até o Oceano Atlântico e aportando em todas as cidades ribeirinhas da Bacia do Rio Parnaíba.

 

                        Pois Mário Palmério, durante vários anos, morou num barco, singrando as águas do Rio Amazonas e seus afluentes, levantando dados sobre a realidade física, social e cultural da Região Amazônica. Em 1987, deixou de vez o Amazonas e voltou a residir em Uberaba, como Presidente das Faculdades Integradas daquela cidade.

 

                        Em 1988, recebeu a Medalha Santos Dumont, conferida pelo Ministério da Aeronáutica, ano em criou a Universidade de Uberaba, que atualmente conta com quarenta cursos superiores. A Faculdade de Monte Carmelo, sua terra natal, leva o seu nome, como forma de homenageá-lo: Fundação Carmelitana Mário Palmério. Oferecendo diversos cursos – Administração, Pedagogia, Letras, Ciência Biológicas –, vem-se destacando pela qualidade do ensino.

 

                        Em abril de 1968, foi eleito para a Cadeira Número 2 da Academia Brasileira de Letras, sucedendo a Guimarães Rosa, com posse no dia 22 de novembro do mesmo ano.

 

Gregório Barrios (31.01.1911 – 17.12.1978) 

                        Sua obra, portanto, aí está, insuperável, perene e inesquecível, configurada, não só nas realizações palpáveis que deixou – escolas e livros –, como também na área musical, talvez até ignorada para alguns no Brasil, mas eterna no coração do povo paraguaio.

 

                        Numa pequena amostra de seu talento quase desconhecido de compositor, apresento-lhes a guarânia Soledad/Saudade, interpretação cantor espanhol Gregorio Barrios, acompanhado por Luis Bordon e Seu Conjunto:

 

 


Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas sábado, 12 de novembro de 2016

MARTINHO MÚSICO, 99 ANOS

MARTINHO MÚSICO, 99 ANOS

Raimundo Floriano

 

Martinho e seu sax 

                        Hoje, 12 de novembro de 2016, é o aniversário do Marinho Mendes, nosso Martim Musgo. Se vivo fosse, completaria 99 anos!

 

                        Martinho Mendes, Marinho Músico ou Martim Musgo foi a alegria musical de minha infância, adolescência e mocidade, quando vividas em Balsas.

 

                        Desde meus tempos de criança, nas vesperais, nos bailes, nas horas de artes, nos dramas, nas alvoradas, nas retretas, nas passeatas, nas solenidades cívicas, era sempre o Martinho quem estava presente com seu saxofone.

 

                        Em janeiro de 1961, em alvorada-passeata comemorativa da posse de Seu Alexandre Pires, novo Prefeito, ouvi-o tocar certa marcha de guerra muito conhecida por todos os balsenses, pois desfiláramos com ela inúmeras vezes em nossas paradas sertanejas. Naquele tempo, eu já era Sargento do Exército e jamais a ouvira tocada por Banda Militar. Perguntei-lhe o nome da marcha, e ele me informou que era Padre Cícero, de sua autoria.

 

                        Guardei para sempre aquela melodia em minha memória. Há pouco tempo, assobiei-a para a Professora Silvana Teixeira, minha Assessora Musical aqui em Brasília, que a colocou na pauta. Depois disso, dois jovens orkutianos, Ewerton Luiz, de Uiraúna (PB), e Ronald Filho, de Porto Seguro (BA), em trabalho conjunto interestadual, elaboraram-lhe primoroso arranjo para 21 instrumentos.

 

                        A Fanfarra do 1º RCG - Regimento de Cavalaria de Guarda, sediada em Brasília, encarregou-se da gravação.

 

                        Em meu último livro, De Balsas Para o Mundo, tracei o perfil desse saudoso músico sertanejo, falecido em maio de 1980, aos 63 anos de idade, vítima de infarto que o derribou quando tocava a rumba Siboney, no episódio Martinho Mendes, Meu Tipo Inesquecível. Nesse perfil, uma carta escrita pelo Dr. Paulo Fonseca, na época Procurador de Justiça do Estado do Maranhão, para seu amigo, conterrâneo e contemporâneo Miguel Borges, residente em Carolina, fortemente emocionado ao retornar de seu velório do Martinho, abaixo transcrita:

 

“Caro Miguel.

 

            “A notícia que tenho para lhe dar é a da morte do Martinho. Não é outro, o Martinho Músico, dono do sopro inconfundível daquele seu inseparável saxofone, que desde a nossa infância acostumamos a ouvir nas vesperais dos domingos alegres, nos bailes tradicionais, e, sobretudo, nas retretas das noitadas de Santo Antônio...

 

            “Morreu o Martinho, músico cristalino, boêmio solitário, companheiro fiel das noites enluaradas de nossa cidade, ao tempo das serenatas – poesia musical, que cada um escutava sem perder uma nota, docemente, como eflúvios naturais da vida simplória do sertão. Suas músicas, seus solfejos característicos, por serem simples, inconfundíveis, maravilhosos aos nossos ouvidos, eternos em nossos corações. Lembram-me sempre os chorinhos gostosos, trejeitados. Aquelas marchinhas animadas, com sabor de virgindade, suas valsas melódicas e penetrantes, tocadas com pedaços de nossas almas. Miguel, no Martinho tudo é lembrança...

 

            “Fui à casa dele, ao seu velório. Lá estava ele, deitado, todo de preto, na sala da frente de seu casebre, que já é quase o meio da rua. Não parecia morto. Estava dormindo. Rosto sereno. Tranquilo. Nenhuma sombra de angústia sofrida. Sabe, Miguel, até parecia mais jovem, mais recuperado, impecável. Nunca um morto. Isso não parecia. Parecia estar a sonhar um sonho de criança. Parecia diante da vitória conquistada, ele, o herói da grande batalha.

 

            “Morreu o Martinho... Nosso velho Martinho... Figura singular. Alma inofensiva. Artista feito de arte dada por Deus, arte que nunca perdeu, que nunca negociou...

 

            “Miguel, você sabe o quanto o Martinho foi grande para a nossa cidade. Criou, na sua música, quantas gerações, quantas? O Martinho é um pedaço de Balsas, insubstituível, está na lembrança de todos nós. Morreu como um gigante, no campo de honra, abraçado com o seu inseparável companheiro, o velho saxofone, que dele em vida recebeu, como prêmio, seu último sopro. Balsas está chorando a partida do Martinho, seu grande amigo, retrato de sua alma, o maravilhoso artista do povo, que pobre e simples se impôs às gerações que o conheceram como um autêntico campeão.

 

            “Caro Miguel, amigo e companheiro, essa a notícia que esta carta lhe leva. Guardemos com carinho em nossas lembranças a figura do Martinho. Ele é digno de todos os balsenses. Merece o reconhecimento de nossa cidade que tanto amou. Rezemos por ele, que teve entre nós a imagem de um justo.

 

            “Um abraço. (a) Paulo Fonseca”

                       

                        Para os internautas, Martim Musgo não morreu. Agora, seu nome é internacional. Seu dobrado Padre Cícero já está consagrado no 4Shared e no Google. Adiante, um youtube que mandei fazer, para perpetuá-lo.

 

DOBRADO PADRE CÍCERO

 

                        A genialidade do Martinho não ficou só nisso, como veremos.

 

                        Acabada a Segunda Guerra Mundial, o Brasil vivia momento de grande esperança e ufanismo, com marchinhas patrióticas e sambas-exaltação pipocando pra todo lado. E foi nesse clima de ardoroso civismo que Martinho Mendes, o saxofonista de minha infância, e um caixeiro viajante desconhecido resolveram, em serenata regada a cerveja, cachaça e outras quentes, compor um samba, a que denominaram Balsas, Cidade Sorriso, homenageando nosso pequeno rincão, desde há tantos anos esquecido no sertão sul-maranhense.

  

                        A música se deu ao conhecimento do público num drama – assim chamados os espetáculos teatrais e literomusicais da cidade, organizados pela Professora Maria Isaura, minha saudosa irmã – levado a efeito no Salão Paroquial, e foi interpretada, com muita graça e faceirice, pela adolescente Maria da Conceição, também em meu último livro De Balsas Para o Mundo, no episódio Moreninha, a Rainha do Festejo. Obtendo sucesso imediato, a população balsense passou a cantá-la como se fosse nosso o verdadeiro Hino Municipal.

 

                        Quando saí de Balsas para estudar, primeiramente em Floriano, depois em Teresina, era com orgulho que entoava o samba, principalmente porque tais cidades não possuíam musiquinha alguma que as louvasse. E a reação vinha fervendo, sob o argumento de que essa letra valia para qualquer lugar, bastando que se lhe trocasse o nome. Dor-de-cotovelo é assim, de lascar!

 

                        O tempo foi-se passando, muita água rolou por baixo da ponte, e o fato é que em Balsas, hoje, bem poucas pessoas ainda se lembram do samba. Foi visando a preservá-lo que, em meu penúltimo livro, Do Jumento ao Parlamento, no episódio Todos Cantam Sua Terra, deixei-o para sempre impresso, valendo-me da preciosa ajuda de duas pessoas: minha prima Violeta Kury, que me ajudou a resgatar a letra em sua íntegra, e a Professora Silvana Teixeira, de Brasília, que elaborou a partitura.

 

                               Desde então, mais de dez anos se passaram. Recentemente, avaliando os conhecimentos e amizade que fiz como Membro da Academia Passa Disco da Música Nordestina, Colunista do Jornal da Besta Fubana e Cardeal da Igreja Sertaneja, resolvi dar um passo à frente na recuperação da memória balsense, maior objetivo meu nos livros que escrevo. E a ideia de gravar o samba começou a fazer-se possível.

 

                        Depois de muita pesquisa, optei pelo Verbo Vivo, estúdio de Brasília, que efetuou a gravação, tendo como intérprete o jovem Felipe Rodrigues. Para a montagem do youtube, socorri-me dos préstimos de meu amigo Jorge Rocha, Assessor Tecnológico deste Cardinalato e pau-pra-toda-obra, que caprichou nos detalhes. Vejamos como ficou. 

BALSAS, CIDADE SORRISO

 

 


Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas sexta, 07 de outubro de 2016

MEIRA FILHO, A VOZ DO BRASIL

MEIRA FILHO, A VOZ DO BRASIL

Raimundo Floriano

 Almanaque Raimundo Floriano

João Assis Meira Filho

(Taperoá, PB, 24.10.1922 – Brasília, DF, 08.06.2008)

 

                        Sempre fui amarrado num som, pouco ou nada representando para mim a imagem, especialmente a televisiva. Quer ver-me puto dendascalças, com cara de quem recebe presente de grego, amarelo de sem-jeitismo, então me oferte um DVD. Nem que seja de sacanagem, nem que seja de mulher pelada.

 

                        Quando comecei a ganhar meu dinheirinho, isso no início de 1958, lá em Belo Horizonte, tratei logo de comprar uma radiola – mistura de rádio com vitrola – e iniciei a hoje respeitável e propalada coleção de registros sonoros. Ao chegar a Brasília, em dezembro de 1960, morando no alojamento do meu quartel, adquiri um radinho de pilha, do tamanho duma rapadura, da marca Hitachi, valente pra baralho, que pegava todas as estações locais de dia, e muitas do resto do país e do exterior à noite.

 

                        E foi aí que conheci o Meira Filho.

 

                        Ele tinha um programa na Rádio Nacional de Brasília, que ia das 5 às 9 horas da manhã, denominado O DIA COMEÇA COM MÚSICA, cobrindo todo o território nacional e ouvido igualmente em diversas partes do mundo. Seu prefixo, que também entremeava sua fala e os comerciais, era um samba forrozado instrumental pra lá de arretado que, pelo fato de representar muito bem a Capital recém-nascida, foi batizado e consagrado pelo povo nordestino com o nome de Nacional de Brasília.

 

                        Diariamente, eu tinha duas oportunidades de ouvir o Meira: pela manhã, em seu programa campeão de audiência, e, à noite, às 19 horas, no A HORA DO BRASIL, hoje A VOZ DO BRASIL, da qual ele foi, durante 35 anos, um dos mais atuantes locutores, sendo também o locutor oficial da Presidência da República.

 

                        O DIA COMEÇA COM MÚSICA era, em sua essência, um programa de recados, funcionando como o telefone de que dispunham os nordestinos que vieram construir a Nova Capital e suas famílias distantes, para se comunicarem. Recebeu mais de 6 milhões de cartas, a maioria das quais era respondida no ar. Houve até o caso de um fazendeiro abonado que, um dia, chegou de motorista particular à casa do Meira, lhe beijou as mãos e se ajoelhou aos seus pés, agradecendo-lhe por ter localizado sua filha que, desmemoriada, se achava perdida em Brasília.

                        Até meados dos Anos 60, Meira Filho animava as tardes de sábado candangas com um programa de auditório ao vivo, na TV Nacional, repleto de variedades, com imenso sucesso. Em escala menor – pelo menos em criatividade –, seria hoje o Domingão do Faustão. Tanto no rádio quanto na televisão, Meira foi o primeiro animador a fazer o emprego de uma buzina, no que foi imitado mais tarde pelo famoso Chacrinha.

 

                        Quando comecei a sair pelas ruas com o meu trombone de vara, tocando para alegrar o povão, tive no Meira Filho um grande incentivador, que me colocava no ar onde quer que me encontrasse, e deixava que eu falasse à vontade nas entrevistas.

 

                        Ele trabalhou em quase todas as emissoras de rádio da Capital. O PROGRAMA DO MEIRA, na Rádio Planalto, já nos anos oitenta, detinha espetacular audiência. Severino, taxista amigo meu, falou-me que, certa vez, na fila do Aeroporto, contou pra mais de 30 táxis todos sintonizados nele.

 

                        Por isso mesmo, Meira Filho foi o primeiro Senador eleito pelo Distrito Federal, com votação esmagadora, sem fazer campanha e sem gastar um tostão sequer em propaganda eleitoral. Não sendo, porém, a política sua praia, e dela desiludido, deixou de concorrer à reeleição – que seria garantida – no final do mandato.

 

                        Meira faleceu a 8 de junho de 2008. Deixou 5 filhos, 12 netos e 2 bisnetos. Compareci à sua Missa de Sétimo Dia, onde pude constatar que ele deixou, não apenas essa bela família, mas milhares de brasileiros anônimos, agradecidos por terem sido de alguma forma, em algum momento, por ele ajudados.

 

                        Tendo ele dedicado todo tempo profissional de sua vida à atividade radiofônica, posso afirmar, sem medo de errar, que o Rádio Brasileiro teve na pessoa de Meira Filho a sua perfeita tradução.

 

                        Ouçam a música Nacional Brasília, com o Sanfoneiro Kariri, para relembrarem aquela época pioneira e esse grande comunicador:

 

                       

 

Nacional Brasíla, em vídeo

 


Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas terça, 04 de outubro de 2016

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